POLÍTICA 3 CURITIBA, TERÇA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2012 polí[email protected] LÍDER GOVERNISTA VENCE eleição na Câmara Municipal João do Suco admite mudanças pontuais na Casa, mas defende que crise deve ser deixada para trás Franklin de Freitas Ivan Santos O vereador João Luiz Cordeiro, o João do Suco (PSDB), foi eleito ontem presidente da Câmara Municipal de Curitiba. Ele substitui João Cláudio Derosso (PSDB), que renunciou na semana passada depois de quinze anos no cargo, acuado por denúncias de irregularidades em gastos com publicidade da Casa. Líder da bancada de apoio ao prefeito Luciano Ducci (PSB), João do Suco venceu o candidato da oposição, vereador Paulo Salamuni (PV), por 25 votos a 11. Os vereadores Caíque Ferrante (PRP) e Juliano Borguetti (PP), que também se lançaram na disputa, desistiram da candidatura e se abstiveram na votação. O vereador Professor Galdino (PSDB) também desistiu, alegando ter que obedecer a decisão da bancada de seu partido, que optou pela candidatura de João do Suco. “Fui voto vencido”, disse. A eleição foi apontada pelos parlamentares como uma oportunidade para o Legislativo da Capital “virar a página” e superar a maior crise política da história recente da Casa. A julgar pelo discurso do vencedor, porém, as mudanças, se ocorrerem, serão pontuais. “O que ficou, ficou. Temos que produzir melhor daqui para frente”, defendeu, no discurso em que pediu o voto dos colegas. Ao contrário do candidato de oposição, que prometeu mudanças radicais na administração da Casa, João do Suco foi cauteloso, chegando a elogiar seus antecessores. “A Casa já tem transparência. Os presidentes eleitos cumpriram seu PLACAR Veja como votou cada vereador: JOÃO DO SUCO Aldemir Manfron PP Beto Moraes PSDB Celso Torquato PSD Denilson Pires DEM Dirceu Moreira PSL Dona Lurdes PSB Emerson Prado PSDB Luiz F. B. Côrtes PSDB Fernando Garcez PSDB Jair César PSDB Jairo Marcelino PSD João C. Derosso PSDB João do Suco PSDB Jorge Yamawaki PSDB Julieta Reis DEM Odilon Volkmann PSDB Paulo Frote PSDB Neli Almeida PSDB Professor Galdino PSDB Roberto Hinça PDT Sabino Picolo DEM Serginho do Posto PSDB Tico Kuzma PSB Valdemir Soares PRP Zezinho do Sabará PSB PAULO SALAMUNI Aladim Luciano PV Algaci Tulio PMDB Jonny Stica PT Noêmia Rocha PMDB Julião Sobota PSC Paulo Salamuni PV Pedro Paulo PT Professora Josete PT Renata Bueno PPS Tito Zeglin PDT Zé Maria PPS ABSTENÇÃO Caíque Ferrante PRP Juliano Borguetti PP O vereador João do Suco (PSDB): “Casa já tem transparência” papel”, afirmou ele, observado atentamente por Derosso, que acompanhou a sessão. Mais tarde, já eleito, o tucano admitiu mudanças, mas não deu detalhes de seus planos. “Nós vemos sim a necessidade (de mudanças). A Casa vem num desgaste muito grande”, reconheceu, apontando entre suas prioridades uma “maior interação com a população”. O novo presidente afirmou ainda que a Câmara precisa “melhorar um pouquinho” questões envolvendo a divulgação de gastos com contratos e compras. Antes do líder governista, o primeiro a discursar foi o vereador Caíque Ferrante. Ele chegou a registrar oficialmente sua candidatura, tentando atrair o voto dos parlamentares ditos “independentes”. Mas renunciou à disputa apontando suposta ação de um “rolo compressor” da base de situação em favor de João do Suco. “A Casa não pode ser um balcão de negócios. O momento não é de orgulho, nem de euforia, mas de tristeza”, disse. O mesmo Ferrante, porém, afirmou que as administrações anteriores não poderiam ser “condenadas antecipadamente”, pois “muita coisa boa aconteceu”. Em seguida, o candidato de oposição, Paulo Salamuni, apelou para a pressão popular na esperança de angariar apoio. “O povo de Curitiba quer que a Câmara Municipal mude”, afirmou. Salamuni lembrou que a bancada oposicionista e os ve- readores “independentes” teria atuado juntos no processo que resultou na renúncia de Derosso. E apresentou entre suas propostas, o fim da verba de publicidade – que originou a crise – a instalação de um painel eletrônico para controle de presença dos vereadores às sessões. Salamuni defendeu ainda a realização de uma auditoria nas contas do Legislativo, e a criação de uma Comissão Permanente de Controle Interno e Fiscalização. Na votação, João do Suco teve o apoio maciço da bancada do PSDB, a maior da Casa, com treze parlamentares; além de outros partidos da base governista, como DEM, PSB, PRP, e PSD. Já Salamuni, além dos votos do PMDB, PT e do próprio partido, angariou ainda apoios do PPS, PDT e PSC. Mandato - João do Suco tomou posse ontem mesmo e fica no cargo até fevereiro do ano que vem, quando tomam assumem os novos vereadores eleitos em outubro. A bancada de apoio ao prefeito Ducci deve se reunir esta semana para escolher o novo líder. Derosso renunciou na segunda-feira da semana passada, para evitar a abertura de processo de cassação. O pedido, apresentado pela oposição, recebeu as assinaturas de 32 dos 38 vereadores, a maior parte da base governista, deixando evidente que ele tinha perdido o apoio dos colegas que até então o defendiam. Os vereadores temiam que a con- tinuidade de Derosso no cargo, mesmo que licenciado, poderia aumentar o desgaste e prejudicá-los nas eleições de outubro próximo. Histórico - A crise na Câmara começou em julho do ano passado quando veio à tona relatório do Tribunal de Contas levantando suspeitas sobre os gastos da Casa com publicidade. Derosso foi acusado de ter contratado a Oficina da Notícia, empresa de propriedade de sua atual esposa, a jornalista Cláudia Queiroz, por R$ 5,1 milhões, para serviços de divulgação entre 2006 e 2011. Na época da licitação, ela ocupava cargo em comissão no Legislativo. O tucano se defendeu alegando que na ocasião eles não mantinham relacionamento. Com o apoio da base governista, conseguiu sobreviver a uma Comissão Parlamentar de Inquérito e a uma série de processos no Conselho de Ética da Casa, que confirmaram a existência de irregularidades, mas arquivaram as acusações alegando não terem encontrado provas contra ele. No final de 2011, porém, o Ministério Público pediu à Justiça a condenação de Derosso por improbidade administrativa, apontando que a lei proíbe servidores públicos de participarem de licitações em órgãos aonde eles atuam. O MP pediu ainda o afastamento do vereador da presidência da Câmara e o bloqueio de seus bens. Pressionado, o tucano então pediu licença de 90 dias do cargo. Em fevereiro, pediu mais 90 dias, levando a oposição a protocolar novo pedido para que ele fosse afastado definitivamente. TC ASSEMBLEIA Salário de vereador não pode ser vinculado Rossoni defende filho que teve mandato cassado A remuneração dos vereadores dos 399 municípios paranaenses não pode ser fixada em percentual sobre o que recebem os deputados estaduais. A vinculação é ilegal, de acordo com o Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCEPR). Segundo o TCE, a Lei Federal nº. 15.433/07, que faculta às Assembleias Legislativas usar o subsídio de deputado federal como parâmetro do teto salarial, não se aplicaria às Câmaras de Vereadores. Atualmente, muitas Câmaras usam essa norma como base para fixação dos salários dos vereadores. Por conta disso, eles estipulam como limite de remuneração dos parlamentares municipais o percentual de até 70% do que recebem os deputados estaduais, o que representa hoje R$ 15 mil mensais. Ao responder Consulta da Câmara de Maringá (Região Norte), o Pleno do TCE afirmou ser competência dos vereadores estipular o valor a ser recebido em cada mandato. “O ato fixador dos subsídios deve ser aprovado e publicado na legislatura anterior e antes das eleições”, orienta o conselheiro Artagão de Mattos Leão, em trecho da decisão que julgou a matéria. Segundo dados do TCE, dos 399 câmaras municipais paranaenses, 275 concederam reajustes salarias a seus vereadores em 2011, boa parte deles acima dos índices de inflação do período. Franklin de Freitas Da Redação O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdir Rossoni (PSDB), utilizou ontem a tribuna da Casa para defender o filho, Rodrigo Rossoni (PSDB), que teve o mandato de prefeito de Bituruna (região Sul do Estado), pela Justiça eleitoral sob a acusação de abuso de poder econômico na campanha. O tucano afirmou não entender os motivos que levaram a Justiça a cassar seu filho, negando as acusações. Rodrigo Rossoni e seu vice, João Vitório Nhoatto foram eleitos em julho do ano passado, para substituir o exprefeito Remi Ranssolin (PTB), também cassado pela Justiça eleitoral. O Ministério Público apontou que a coligação que sustentou a candidatura dos dois declarou ter gasto mais de R$ 321 mil na prestação de contas de campanha, o que de acordo com a acusação, representaria quase o triplo da arre- Rossoni: “Justiça não limitou contratação de cabos eleitorais” cadação tributária mensal do município ou aproximadamente 25% da receita tributária anual da cidade, que conta com 12 mil eleitores. Segundo o MP, foram contratados 528 cabos eleitorais, o equivalente a 11,44% dos 4.614 votos que receberam ou a 5,45% do total de votos válidos computados, que foram 9.682. Somente com essas contratações os candidatos teriam sido gastos mais de R$ 163 mil. O juiz Irajá Pigatto Ribeiro apontou na decisão que teria sido constatada “a indevida, gravíssima e inegável influência que o excessivo volume de recursos gastos em propaganda e em especial na contratação de trabalhadores em favor da candidatura dos impugnados”, e que isso teve efeito n”a vontade do eleitor, viciando-a - e, naqueles de menor consciência política ou resistência moral, aniquilando-a -, e, de corolário e necessariamente, no resultado da eleição, afinal decidida em favor dos impugnados por diferença de apenas 64 votos”. Com a decisão, assumiu interinamente o presidente da Câmara, Pedro Padilha. O segundo colocado na eleição, Carlos Roberto Oliveira Silveira (PPS), o Robertinho deve tomar posse nos próximos dias. O presidente da Assembleia rebateu as acusações contra seu filho. “A Justiça nunca limitou o número de contratações possíveis”, afirmou Valdir Rossoni. O deputado argumentou ainda que prestação de contas da campanha de Rodrigo foi apresentada com transparência, sem omissão de despesas. “O custo da campanha foi estimado em R$ 600 mil e foram gastos R$ 320 mil. Onde está o abuso se foi gasto um valor muito aquém do previsto?”, questionou Rossoni, ressaltando que as contas da campanha foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. Rossoni rebateu ainda a alegação de que foram gastos 25% da receita anual do município com a campanha de Rodrigo, conforme foi erroneamente divulgado por alguns veículos de comunicação. “A receita do município é de R$ 42 milhões. Foi gasto menos de 1% desse total. Mais uma vez a alegação de abuso de poder econômico não se sustenta”, justificou. O presidente da Assembleia disse estranhar ainda o “excesso de autoridade” da juíza de União da Vitória em relação ao caso. “O processo contra o Rodrigo foi julgado com uma rapidez absurda, enquanto que o processo contra o ex-prefeito cassado está parado”, observou. Valdir Rossoni criticou a forma “arbitrária” com que o processo foi julgado. “Ele tinha prazos regimentais para assumir a prefeitura. Tinha acabado de ser notificado. Será que os juízes estão acima da lei?”, questionou. SENADO Líder do PSDB propõe CPI para a área de Saúde Contrariando o que pregava o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDBAM), o PSDB ressuscitou ontem a ideia de criar uma CPI para investigar irregularidades na área da Saúde. O líder tucano, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), defendeu a iniciativa no plenário, lembrando que em abril do ano passado foram coletadas assinaturas para instalar a CPI mista para tratar do tema. A iniciativa da coleta de assinaturas ocorreu após o Tribunal de Contas da União (TCU) divulgar auditoria mostrando que entre 2007 e 2009 houve um desvio de mais de R$ 600 milhões em apenas 2,5% dos recursos repassados pela União aos Estados e municípios. “Imaginem em 100% desses repasses. Como não instalar uma CPI? Como ficar apenas assistindo a esse espetáculo da corrupção?”, questionou. Dias lembrou ainda da reportagem exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, em que fornecedores foram gravados negociando o valor da pro- pina nos contratos com um hospital público. Dias lembrou das outras CPI inviabilizadas pelo governo - a dos Transportes e da Corrupção - mas argumentou que combater a corrupção na área da Saúde é uma tarefa “a favor do povo brasileiro”. “Não é uma CPI da oposição, não é contra o governo, não é uma CPI deste ou daquele partido, é suprapartidária, porque os serviços de Saúde pública são de responsabilidade da União, dos Estados e dos municípios”, alegou. O líder informou que, em abril, foram obtidas as 27 assinaturas no Senado, o suficiente para criar a comissão, mas apenas 100 das 171 necessárias na Câmara dos Deputados.