PLAN B ‘ILL MANORS’ É fácil se distrair do sample de cordas no estilo dos Keystone Cops por causa de toda a polêmica envolvendo Plan B e ficar com a impressão de que isso é um simples loop. Entretanto, pelo contrário, na verdade é uma notável técnica bastante criativa no arsenal do produtor: acionar os mesmos trechos nos contextos on-beat e off-beat. O exemplo mais óbvio provavelmente pode ser ouvido no início do refrão, onde as sete primeiras notas semicolcheias do sample (supondo um ritmo de 67bpm) são acionadas novamente na oitava e depois mais uma vez na 15a. Entretanto, os versos também são repletos de reinterpretações rítmicas similares em menor escala devido à repetida figura de Mi bemol - Ré - Mi bemol, que muda constantemente entre a primeira nota e última nota. De maneira interessante, brincadeiras rítmicas similares também estão presentes em todo o rap principal, de tal maneira que você nunca tem muita certeza se ele vai começar um verso on ou off-beat. Mas o melhor de tudo é a maneira em que o “Brincadeiras rítmicas similares também estão presentes em todo o rap principal, de tal maneira que você nunca tem muita certeza se ele vai começar um verso on ou off-beat.” gancho do refrão finca seu primeiro “Oi!” exatamente na segunda nota semínima do compasso, mas depois muda para o off-beat da quarta nota semínima, para o “I said oi!” seguinte. A maneira em que esta repetição amplifica a intenção já seria ótima sozinha, mas, em minha opinião, aproveitar para confundir o ouvinte ritmicamente a torna uma façanha extremamente engenhosa. Mais poder para a caneta desse homem! Mike Senior CHRIS BROWN ‘DON’T WAKE ME UP’ O refrão desta canção é um eufórico trance bastante MIXAGEM CLÁSSICA ABBA ‘MONEY, MONEY, MONEY’ (1976) Atendendo a vários pedidos dos leitores da SOS, resolvemos completar as nossas avaliações de atuais lançamentos das paradas com discussões sobre alguns tracks clássicos - e eu vou começar tirando o pó de um dos meus arranjos preferidos de todos os tempos, ‘Money, Money, Money’ do ABBA, lançado em 1976. Existe bastante coisa para apreciar aqui, mas a parte que provavelmente mais se sobressai para mim é o baixo. Além de contribuir para a assinatura da canção ao duplicar corajosamente a primeira metade da melodia vocal do refrão, ele também enche a canção com divertidos artifícios - por exemplo, o preenchimento antes de “ain’t it sad” em 1:28 e a contramelodia mais longa sob “aah... all the things I could do” em 2:12-2:18. As ligações entre as seções também são excelentes. Pegue a introdução do refrão em 0:42, que cria uma forte tensão rítmica ao repetir sua frase melódica de sete batidas de tal maneira que os padrões tônicos da segunda repetição ficam fora de sincronia com a métrica 4/4 básica. Embora seja nitidamente projetado para enganar o ouvinte até certo ponto, isso continua sendo bem fácil de assimilar (e de lembrar como um gancho!) por causa da repetição interna. Além disso, a eventual ressincronização dos padrões na convencional, mas o segundo verso (1:372:07) é tão bem criado que vale a pena examinar mesmo se este subgênero não for a sua preferência. A adorável sequência de sintetizador e a palma apenas na oitava batida colocam um ótimo aspecto novo no padrão de bumbo four-to-the-floor básico aqui, mas ainda deixa bastante espaço para as virtudes dos detalhes de delay de voz/ guitarra serem plenamente apreciadas. Depois você tem o efeito de transição de violão em 1:35 que inicialmente anuncia a seção, o piano entrando em 1:52 como um bem-vindo aumento à textura depois de oito compassos e, finalmente, a explosão de pad do sintetizador filtrado que oferece um preenchimento de um compasso no pré-refrão. Os dois primeiros compassos do último refrão também merecem ser mencionados por causa do última batida antes do refrão aumenta bastante a importância subjetiva deste upbeat - suportado pelo ‘boom’ da bateria divertidamente teatral, é claro! A ligação de piano que abre a canção também é impressionante. Embora o contorno de sua progressão harmônica seja simples (basicamente I-VI-IV-V-I), dois detalhinhos fazem toda diferença. O primeiro é o ótimo acorde dominante de quinta aumentada da cadência, uma qualidade injustamente menosprezada em boa parte da música de hoje em dia, enquanto o segundo é a linha cromática decrescente de Mi para Ré durante os três primeiros acordes. O que é tão impressionante no segundo é que ele aproveita o Mi bemol do acorde de F7 (uma nota que raramente aparece muito em Lá menor), assim preparando o terreno para uma forte cadência V-I na mudança de tom de Si bemol menor em 2:28. Assim, um dos mais batidos clichês de modulação existentes soa muito menos forçado do que tem qualquer direito de soar. Respeito! Mike Senior único Foley de explosão que domina a mixagem, abarrotando a região abaixo de 300Hz, mascarando a maior parte dos detalhes de frequências altas, atenuando a força de frequências graves do bumbo e indefinindo a aparente afinação da linha do baixo. Embora explosões de efeitos sonoros sejam constantemente usadas neste estilo, elas normalmente são mixadas mais moderadas e com menos graves, para reduzir parte destes efeitos colaterais. Eu preciso dizer que gostei muito deste exemplo porque seu completo valor de choque distrai o meu ouvido do dano colateral até o som normal recomeçar, alguns compassos depois. Como qualquer ilusionista confirmará, você pode fazer praticamente qualquer coisa enquanto a plateia está prestando atenção em algo diferente. Mike Senior Visite o fórum da SOS para ler mais comentários sobre os tracks mencionados na Avaliação de Mixagens deste mês: www.soundonsound.com/mixreview w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Março 2013 123