FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL APRESENTADO POR VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE Março 2009 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS PROFESSORA ORIENTADORA DOUTORA ANGELA MARIA DE CASTRO GOMES PROFESSORA CO-ORIENTADORA DOUTORA VÂNIA LEITE FRÓES VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais. Rio de Janeiro, Março 2009 Faillace, Vera Lúcia Miranda. Catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil/ Vera Lúcia Miranda Faillace. Rio de Janeiro: FGV, 2009. 99 p. Orientadora: Angela Maria de Castro Gomes Dissertação – Mestrado Profissional em Bens Culturais Projetos Sociais (Fundação Getulio Vargas – CPDOC) 1.Biblioteca Nacional (Brasil) - Catálogos 2. Livros de Horas – Bibliografia - Catálogos 3. Iluminuras de Livros e Manuscritos I. Gomes, Angela Maria de Castro II. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais III. Título. CDD - 091 2 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO POR VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE E APROVADO EM 19/03/2009 PELA BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Profa. Drª Angela Maria de Castro Gomes (Orientadora) ________________________________________________________ Profa. Drª Vânia Leite Fróes (Co-Orientadora) _________________________________________________________ Prof. Dr. Vitor Manoel Marques da Fonseca _________________________________________________________ Profa. Drª Letícia Borges Nedel (Suplente) AGRADECIMENTOS À professora Angela Maria de Castro Gomes, minha orientadora, que aceitou o desafio de se aventurar, junto comigo, num trabalho de tema tão complexo. Agradeço por ter acreditado no projeto, pelo carinho, compreensão e firmeza na orientação. À professora Vânia Leite Fróes, minha co-orientadora, que me acolheu e me indicou caminhos que tornaram o tema “tão complexo” uma pesquisa agradável e prazerosa. À ex-diretora do Centro de Referência e Difusão da Fundação Biblioteca Nacional, Carmen Tereza Coelho Moreno, que muito me apoiou e me permitiu o acesso aos cofres da área de Manuscritos. À amiga e companheira de trabalho Marta Ramos, pelo carinho, pela força e formatação desse catálogo, sem a sua prestimosa colaboração, este trabalho não existiria. À equipe de Manuscritos pela compreensão na ausência ao trabalho, pela leitura do trabalho, pela força, paciência e incentivo nos momentos de desânimo. Aos colegas Vera Lúcia Garcia Menezes, Cláudio Xavier e Hélio Jorge Garcia da Conceição, da Coordenadoria de Microrreprodução, responsáveis pelas imagens desse trabalho. Aos professores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, pela colaboração no abstract; Robson Duarte, pela leitura e revisão do texto; e Vitor Manoel Marques da Fonseca, pelas idéias e palavras de incentivo na banca de qualificação. À minha turma do mestrado da FGV com a qual dividi idéias, angústias, tristezas e alegrias. Ao frei Damião Berge (In memorian), cujo trabalho tornou-se a base desse catálogo. Aos meus pais Enedina de Moraes Mendes, minha eterna gratidão pela compreensão, dedicação e apoio durante o processo de realização desse trabalho e por toda minha vida, e Oscar Pereira de Miranda (In memorian), amor eterno. Aos colegas da Biblioteca Nacional, Sérgio Apelian, pela ajuda na classificação e Rosimeri Rocha da Silva, pela encadernação; e a Marco Dreer, da Fundação Getulio Vargas, pela impressão dos CD-ROMs. À Fundação Biblioteca Nacional pelo apoio financeiro para a realização deste curso. “Livros, mercadoria espiritual, tem como grande virtude desafiar os séculos, trazendo-nos não apenas o seu conteúdo, mas a sua concretude de CIVILIZAÇÃO”. (Pina Martins) livro [...] DOCUMENTO DE UMA SUMÁRIO I NTRODUÇÃO 7 I – PARTE: Apresentação 12 1- Os livros de horas na Idade Média 12 1.1 Livro de horas: liturgia e espiritualidade 14 1.2 Tipologia e estrutura 17 1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas 22 2- O acervo da Biblioteca Nacional 25 2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação do seu acervo 26 2.2 A área de Manuscritos 34 2.3 A coleção dos manuscritos iluminados e os livros de horas 37 3- A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional 39 3.1 Tipologia dos catálogos 39 3.2 Catálogo de manuscritos 40 3.3 O catálogo dos livros de horas 43 II – PARTE: Catálogo dos Livros de Horas 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85 GLOSSÁRIO 93 RESUMO O presente trabalho objetivou identificar a coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil, com vistas a produzir um catálogo. A coleção abrange nove livros manuscritos iluminados; neste trabalho, porém, foram identificados apenas os oito livros produzidos na segunda metade do século XV. Quatro desses livros são provenientes da Real Biblioteca – Casa do Infantado, que veio para o Brasil em 1808 com a família real portuguesa, tornando-se o núcleo inicial da Biblioteca Nacional brasileira. Na primeira parte apresentamos as considerações teóricas situando o período no qual o livro de horas se inscreve, destacando a sua importância, tanto na sociedade quanto no desenvolvimento da piedade do homem na cristandade medieval. Apresentamos também um breve histórico da Biblioteca Nacional, depositária da coleção dos livros de horas e, concluindo a primeira parte, os dados referentes à construção do catálogo. A segunda parte é o catálogo propriamente dito, onde os livros estão descritos obedecendo às normas internacionais vigentes, viabilizando o acesso, a divulgação e o intercâmbio de informações, promovendo assim a valorização e a preservação desses bens culturais e patrimoniais. Palavras-Chave: Livros de Horas; Manuscritos Iluminados; Manuscritos Medievais; Biblioteca Nacional (Brasil) – Catálogos; Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal). ABSTRACT The objective of the present monograph is to identify the books of hours pertaining to the National Library of Brazil, aiming at the production of a catalogue. The collection comprises nine illuminated manuscript books; however, only the items produced in the second half of the 15th century are identified in this work. The provenance of four of these books is the Portuguese Royal Library – Casa do Infantado, which was transferred to Brazil in 1808, together with Portugal’s Royal family, thus becoming the core of the Brazilian National Library. The first part of the monograph includes theoretical considerations and situates the period in which the books were created, also putting in relief their importance, both to medieval society and to the evolution of devotions. A brief history of the National Library and information related of the catalogue’s construction are also presented. The second part of the monograph presents the catalogue itself, where the books are described according to intenational rules, enabling access, diffusion and data interchanging, thus valuing and promoting the preservation of these cultural and patrimonial assets. Key-words: Books of Hours; Illuminated Manuscripts; Medieval Manuscripts; National Library (Brazil) – Catalogues; Royal Library – Casa do Infantado (Portugal). 7 INTRODUÇÃO Na década de 1990 discutiu-se muito o suposto desaparecimento do livro. O texto eletrônico seria uma ameaça ao livro no seu formato tradicional? Muitas são ainda as dúvidas e não podemos assegurar, precisamente, que futuro o livro terá face ao frenético desenvolvimento tecnológico que nos oferece uma multiplicidade de novos meios de comunicação e de difusão do conhecimento, em diferentes formas de linguagem midiáticas. Segundo os historiadores do livro e da leitura, esta seria mais uma revolução na estrutura material da cultura escrita – a tipografia de Gutenberg foi considerada a maior revolução tecnológica do milênio – que estaria acrescentando um novo modo de inscrição e uma nova maneira de ler. Porém, esses mesmos historiadores, são unânimes em afirmar que a chegada desses novos dispositivos tecnológicos não tornaria obsoletos os antigos, do mesmo modo que esses formatos podem perfeitamente coexistir. Por isso, segundo Chartier, a biblioteca do futuro deverá ser, também, o lugar onde poderão ser mantidos o conhecimento e a compreensão da cultura escrita nas formas que foram, e que ainda são, majoritariamente as suas. A representação eletrônica de todos os textos cuja existência não começa com a informática não deve, em absoluto, significar o abandono, o esquecimento, ou pior, a destruição de objetos que foram os seus suportes. Mais do que nunca, talvez, uma das tarefas essenciais das grandes bibliotecas é de coletar, proteger, recensear - por exemplo, sob a forma de catálogos [...] - e, também, tornar acessível a ordem dos livros que ainda é a nossa, e que foi a de homens e mulheres que lêem desde os primeiros séculos da era cristã. Apenas preservando a inteligência da cultura do códice podemos gozar a “felicidade extravagante” prometida pela tela. 1 Não estamos aqui interessados em discutir o futuro do livro ou como será o livro do futuro. O que nos preocupa no momento, nesta era da globalização e do mundo digital, é a preservação e a disseminação de um formato original, de um objeto de arte que foi testemunho de uma sociedade, de uma cultura, de um determinado período da história. Queremos registrar aqui a trajetória desses textos manuscritos medievais, denominados livros de horas, para que possamos entender no presente o que foram o livro e a leitura em seus primórdios. 1 CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p. 107 8 Em 2008, teve início no Brasil e em Portugal uma grande comemoração para celebrar o bicentenário da viagem da família real portuguesa ao Brasil. Para isso, foi criada, pelo Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro e Prefeitura de Petrópolis, a Comissão Organizadora das Comemorações pelos 200 anos da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil. Dois anos depois, em 2010, pois foi em 1810 que aqui chegaram os pertences da Família Real, dentre eles a Real Biblioteca, festejar-se-a o bicentenário da Biblioteca Nacional do Brasil.2 A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, deu à colônia um novo significado, criando uma nova infra-estrutura para abrigar, no Rio de Janeiro, a Corte do império português. Neste contexto, inúmeras instituições foram fundadas: a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica (uma das primeiras escolas de ensino superior), a Academia Real Militar, o Real Horto, o Museu Real, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e a Biblioteca Nacional, entre outras. Para compreender melhor a importância do momento, transcrevemos aqui o comentário, feito em 1835, por um ilustre viajante alemão chamado João Maurício Rugendas: É em 1808 que começa realmente a história do Brasil e do Rio de Janeiro; e se desde então não houve grandes acontecimentos, vitórias ou derrocadas sangrentas, suscetíveis de atrair para o país a atenção de observadores superficiais, as modificações que ocorreram no estado intelectual e material da antiga colônia, e principalmente da capital, são da mais relevante importância (Viagem Pitoresca através do Brasil, p. 200). Em novembro de 1807, quando o príncipe Regente d. João, a rainha d. Maria I e toda a família real, diante da invasão de Portugal pelas tropas francesas napoleônicas, deixaram Lisboa com destino ao Brasil, trouxeram a Real Biblioteca, com cerca de 60.000 peças, entre livros, manuscritos, estampas, mapas, moedas e medalhas. Veio também a Livraria chamada do Infantado. A Casa do Infantado, criada em 1654 por d. João IV,3 era uma organização patrimonial dos segundos filhos dos monarcas portugueses, ou seja, do príncipe que não seria o herdeiro da coroa. Este infante possuía o título de Senhor da Casa do Infantado, instituição que existiu por 180 anos e foi extinta pelo decreto de 18/03/1834, de d. Pedro IV4, sendo seus manuscritos e impressos incorporados à Real Biblioteca. Apenas para se dimensionar a riqueza desse acervo, 2 A Biblioteca Nacional está localizada na Avenida Rio Branco nº 219, no centro da cidade do Rio de Janeiro. D. João IV, conhecido como O Restaurador, foi rei de Portugal no período de 1640 a 1656. 4 Foi o 27º rei de Portugal (1831-1834) e Pedro I, no Brasil (1822-1831). 3 9 vale observar que nele estava, provavelmente, o mais antigo livro de horas português de que se tem notícia, O livro de horas de d. Fernando, rei de Portugal,5 que o teria encomendado ao artista italiano Spinello Spinelli, no ano de 1378. A coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira é o tema de nosso trabalho. O termo livro de horas é utilizado para designar um livro na forma de um códice manuscrito, que tem o pergaminho como um dos suportes mais utilizados Segundo Houaiss: 6 “é uma outra determinação do livro com finalidade temática”. Os livros de horas da Biblioteca Nacional, ainda pouco estudados, integram a coleção7 dos manuscritos iluminados da área de Manuscritos. Como observa Herkenhoff (1996: 23), “a coleção de manuscritos europeus iluminados da Biblioteca Nacional é peculiar na América Latina. São algumas dezenas de códices e folhas de pergaminho esparsas da Idade Média e do Renascimento, além de alguns posteriores [...]”. O acervo abrange nove livros de horas, mas devido às características e estrutura identificamos, neste trabalho, apenas àqueles produzidos na segunda metade do século XV. Quatro são provenientes da Casa do Infantado – Real Biblioteca e os outros cinco foram adquiridos pela Biblioteca Nacional, por meio de compras e doações. Eles figuram, parcialmente identificados, no catálogo da exposição Manuscritos séc. XII-XVIII, pergaminhos iluminados e documentos preciosos, organizado por Darcy Damasceno, ocorrida no ano de 1973, na Biblioteca Nacional. Antes, porém, encontramos alguns deles arrolados no Catálogo da Exposição Permanente dos Cimélios da Bibliotheca Nacional, de 1885 (ver também Anais da Biblioteca Nacional, v. 11, 1883/4), descritos pelo antigo chefe da área de Manuscritos, Alfredo do Vale Cabral. Contudo, nenhum dos trabalhos mencionados se compara ao estudo feito por frei Damião Berge,8 na década de 1940. Trata-se de um estudo minucioso dos nove livros de horas – e mais 5 9º rei de Portugal, d. Fernando I, O Formoso, nasceu em 1315, subiu ao trono em 1367 e faleceu no ano de 1383. HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. São Paulo: HUCITEC; [Brasília]: INL, Fundação Nacional PróMemória, 1983. V. 2, p. 31. 7 Segundo Pomian: “uma coleção, isto é, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público”. POMIAN, Karzysztof. Coleccção. Enciclopédia Einaudi, v. 1: Memória e História. Lisboa: Imprensa Oficial/Casa da Moeda, 1984. p. 53 8 Frei Damião Berge nasceu no Rio de Janeiro em 31/8/1895. Pertenceu à Ordem Franciscana e foi professor titular da Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ). Faleceu no Convento de Santo 6 10 outros breviários e missais – onde o franciscano tomou por base a obra clássica de Victor Leroquais.9 Não temos notícia de sua publicação, mas uma cópia datilografada está disponível, apenas para consulta, na área de Manuscritos. Essas fontes serviram de base para a construção deste estudo. Este trabalho está estruturado em duas partes. A primeira parte destina-se à apresentação do catálogo dos livros de horas. Nela, três temas são abordados com o objetivo de situar o livro de horas no tempo – os livros de horas na Idade Média –, na coleção – Biblioteca Nacional do Brasil – e na forma de um catálogo. Tomamos como exemplo os catálogos elaborados pela Biblioteca Nacional de Portugal por oferecerem melhores soluções ao nosso propósito. Não poderíamos tratar do tema sem falar da Idade Média, pois o livro de horas é produto desse período. Neste sentido abordamos, ainda que de forma superficial, questões como a espiritualidade, o surgimento dos livros de horas, sua tipologia, estrutura, uso e produção. Não temos aqui a pretensão de nos investir de historiador para falar do medievo cristão dos últimos séculos, pois todo o estudo realizado foi feito com o único propósito de ser aplicado no âmbito deste trabalho. Incursionar pela história da instituição em que trabalhamos é, além de uma tarefa prazerosa, uma obrigação. Saber e dar a conhecer o fato de que metade desses livros de horas são provenientes desse tesouro bibliográfico que é a Real Biblioteca, nos enche de orgulho e nos faz sentir, cada vez mais, comprometidos e responsáveis pela preservação dessa parte importante da memória cultural. A segunda parte do trabalho é o catálogo propriamente dito. Oito livros estão identificados: seus conteúdos, suas imagens, proveniências, encadernações, bibliografias e suas Antônio (Rio de Janeiro) no dia 29/08/1976. O trabalho mencionado provavelmente foi escrito no ano de 1973 e, uma cópia datilografada foi doada à Biblioteca Nacional em 1976. 9 Les livres d’heures manuscrits de la Bibliothèque Nacionale (França). Paris, 1925. 3 v. , obra de fundamental importância para o estudo dos livros de horas. 11 respectivas localizações. Algumas imagens foram selecionadas com a finalidade de ilustrar a descrição. Por fim, para facilitar o entendimento de termos especiais e técnicos empregados, – alguns deles definidos no próprio texto – elaboramos um pequeno glossário. Esses termos estão sublinhados em azul e remetem ao glossário localizado no final deste trabalho. Mesmo tendo como objetivo primordial a guarda de acervos de memória, a produção de instrumentos de pesquisa é também uma das funções da Biblioteca Nacional. Os curadores de acervos não só devem se preocupar com a preservação de suas coleções, mas também em promover, de uma maneira rápida e eficaz, o tratamento técnico de suas coleções, incentivando com isso a elaboração de inventários, repertórios e catálogos, impressos ou em formato eletrônico, que atendam as necessidades institucionais e à crescente exigência dos pesquisadores, pois esses instrumentos são ferramentas importantes para dar a conhecer, ao público em geral e ao pesquisador em particular, o acervo da instituição. Com isso, esperamos que este catálogo sirva de base para muitos outros estudos, envolvendo múltiplas áreas do conhecimento, como a história da arte, história do livro e da leitura, linguística, paleografia, teologia etc. Como bibliotecária e funcionária, atualmente responsável pela área de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, acreditamos ser esta uma boa oportunidade para acrescentar mais um projeto às comemorações do bicentenário de chegada da família real ao Brasil e da Biblioteca Nacional, em 2010: o de catalogar, divulgar e permitir o acesso, através de um catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira. Eles constituem uma das mais preciosas e belas coleções trazidas de Portugal pela Família Real, verdadeiro tesouro do patrimônio cultural nacional.10 10 “Na acepção da Biblioteca Nacional da França, que aqui utilizamos, tesouro nacional é entendido como categoria de bem cultural de excepcional valor bibliográfico, histórico, artístico, arqueológico, etc., devendo o Estado assumir a suprema responsabilidade de sua preservação, e captação para o território nacional” (Ferreira, 2006: 1). 12 I – PARTE: Apresentação 1. Os livros de horas na Idade Média Estabelecer marcos cronológicos é das tarefas mais difíceis para o historiador. Embora se entenda a necessidade de periodizar e definir limites para o estudo de diferentes épocas históricas, convém deixar claro a relatividade desta ação. A cronologia é um instrumento de trabalho importante para o historiador e é a partir dela que ele demarca os limites de trabalho para o exercício do seu ofício. Ressaltamos, porém, que é preciso não confundir os modelos oferecidos pela cronologia com o vivido na história. O modelo é um artifício para a abordagem de formações históricas, mas que não se confunde com o empírico. O conceito de Idade Média, denominação extremamente genérica e ambígua, tem sido alvo de grandes polêmicas e das pesquisas inovadoras pelo grupo da “nova história” liderado por Jacques Le Goff. Este medievalista, além de discutir em várias de suas obras a própria questão teórica da periodização,11 focaliza os problemas dos cortes de início e fim da Idade Média, criticando a noção genérica de Idade Média. Por isso propõe uma designação mais ampla a que denomina “Idades Médias” que seriam manifestações históricas diversas no longo milênio chamado tradicionalmente de medieval. Jean-Claude Schmitt e, mais recentemente, Jérôme Baschet retomaram nesta última década essa discussão a partir de idéias de Le Goff. A influência desta historiografia francesa na Idade Média é muito grande, mas não é consensual. A solidez dos argumentos apresentados pelos historiadores acima referenciados e a adoção destes argumentos por grande parte dos historiadores brasileiros determinaram nossa escolha por estas propostas. Os limites da Idade Média são amplos e estendem-se, dentro da perspectiva acima referenciada, por uma longa Idade Média. Para Le Goff (2008: 14), que acredita numa 11 Uma longa Idade Média (2008), As raízes medievais da Europa (2007), Em busca da Idade Média (2006), são algumas delas. 13 longa Idade Média porque não vê sua ruptura no Renascimento, ela só termina no século XVIII com a Revolução Francesa – nos domínios político, social e mental – e com a Revolução Industrial na Inglaterra, no domínio econômico. No caso específico dos livros de horas, convém considerar de forma relativa esta extensão cronológica, pois embora continuassem sendo feitos manuscritos, o impacto da imprensa sobre esta produção deverá ser avaliado, estudo a que não nos propomos a fazer no âmbito deste trabalho. Do ponto de vista da periodização interna da Idade Média, o Groupe d’Anthropologie Historique de l’Occident Médiéval – GAHOM – propõe uma divisão tripartida (Baschet, 2006: 34-35): “Alta Idade Média (século V a X), seguida da Idade Média Central, época de apogeu e de dinamismo máximo (século XI a XIII), enquanto os séculos XIV e XV, mais sombrios, marcados pela peste negra, pelas crises e dúvidas, podem ser qualificados de Baixa Idade Média [...]”, que se opõe à velha divisão bipartida da Idade Média.12 Este trabalho inscreve-se, explicitamente, no que se chamou, nesta divisão tripartida, de Baixa Idade Média. No início da Alta Idade Média a cultura letrada estava sobre o domínio da Igreja Católica. Grande parte da vida intelectual se concentrava nas abadias, onde escrever era um exercício espiritual. Na maioria das vezes os scriptoria eram monásticos, onde se faziam as cópias dos manuscritos e se produziam os livros. Segundo Maria José Santos (2003: 75): “[...] a escrita era um meio de fixar a palavra de Deus, de guardar a lembrança dos mortos, de invocar Deus e os santos. [...] Se a escrita estava a serviço do divino ela era sagrada”. Era na biblioteca dessas abadias que se guardava a produção desses scriptoria e também grande parte de toda a herança livresca da Antiguidade. A produção, conservação e circulação do conhecimento estavam ali concentradas. Por isso, a criação das universidades – século XII – foi um dos fatores que mais contribuíram para a quebra desse monopólio e com elas, conseqüentemente, o avanço da cultura laica. 12 Alta Idade Média (do século V ao século X) e Baixa Idade Média (do século XI ao século XV). 14 Como observa Fischer (2006: 206), “na Idade Média, possuir e ler um livro era um privilégio dos ricos e daqueles de elevado status social”. Os livros de horas – aqui nos referimos aos livros de horas manuscritos, pois, com o advento da tipografia, na segunda metade do século XV, surgem também os livros de horas impressos – começaram a aparecer a partir do século XII, sendo que, no período que vai de 1350 a 1480, tiveram seu apogeu. Estes livros, de certa forma, tornaram-se o protótipo do livro em sua função simbólica: tinham grande utilidade para o ensino e grande valor comercial, pois também eram uma refinada obra de arte. Por tudo isso, o livro de horas manteve uma destacada popularidade até o século XVI. Porém, a partir daí, os livros de horas manuscritos foram raríssimas exceções. 1.1 Livros de horas: liturgia e espiritualidade A sociedade medieval – do século X até o final do Antigo Regime (Monarquia Absolutista) – ainda segundo Le Goff (2007: 277), estava representada, ideologicamente, em três grandes grupos sociais: os que oravam (oratores), os que guerreavam (bellatores) e os que trabalhavam (laboratores). A função de orar ficava por conta dos clérigos e monges e as de guerrear (os guerreiros) e trabalhar (os camponeses) por conta dos leigos. Como observa Schmitt, “no seio da sociedade cristã, as funções dos clérigos e dos leigos são complementares [espiritual e material], mas o papel mais ativo é de direito atribuído aos clérigos, que são os ‘pastores’. Os outros são somente as ‘ovelhas’ que recebem de suas mãos os sacramentos e de sua boca a palavra de Deus”.13 Como instituição detentora do poder espiritual e também material, a Igreja Católica era reguladora de toda cristandade medieval. Cabia a ela o zelo e a assistência aos leigos, o que se dava através da liturgia administrada pelo clero. Seguir o Evangelho era a única regra, e o clero o único caminho para se chegar a Deus. Viver uma vida reclusa, disciplinada e em constante oração era o caminho para se conseguir a remissão dos pecados e, conseqüentemente, a 13 Dicionário Temático do Ocidente Medieval, 2006. V. 1, p. 243 15 salvação. Segundo Vauchez,“o mosteiro era uma antecipação do paraíso, um pedaço do céu sobre a terra”.14 Além do monopólio na elaboração do conhecimento, do controle a seu acesso e a sua transmissão, a Igreja também era uma espécie de guardiã da escrita. O latim era a língua do sagrado, de ritual, a língua da Igreja e poucos sabiam usá-la. Os livros eram copiados nos scriptoria dos mosteiros. Mas, segundo Zumthor (apud Baschet, 2006: 182), “apesar da crescente utilização da escrita, a oralidade e os gestos rituais continuam a dominar a vida social. Mesmo se as obras literárias são conservadas por escrito, continuam essencialmente feitas para ser contadas ou cantadas: a voz predomina sempre a letra”. A técnica de leitura que predominava na Antiguidade era a leitura em voz alta, para os outros ou para si mesmo. Ou seja, era uma leitura preocupada em reproduzir o sentido e o ritmo da escrita, até porque os textos eram escritos sabendo-se que seriam lidos em voz alta. Nos mosteiros e conventos medievais, durante a Alta Idade Média, praticava-se tanto a leitura coletiva (feita nos espaços comunitários por ocasião dos ofícios, durante as refeições e exercícios espirituais), como a leitura individual (que era solitária: estudo e meditação). O livro mais lido era a Sagrada Escritura, pois constituía a base da espiritualidade monástica. Embora um pouco longa, a citação é esclarecedora: Sua cronologia [história da leitura] se organiza a partir da localização de duas mutações fundamentais. A primeira incide sobre a transformação da modalidade física, corporal, do ato da leitura e insiste sobre a importância decisiva da passagem de uma leitura necessariamente oralizada, indispensável ao leitor para a compreensão do seu sentido, a uma leitura possivelmente silenciosa e visual. Essa revolução diz respeito à longa Idade Média, quando a leitura silenciosa, antes restrita aos scriptoria monásticos, entre os séculos VII e IX, ganha o mundo das escolas e das universidades no século XII, e dois séculos mais tarde, as aristocracias leigas. [...] Segunda observação, em forma de pergunta: não seria necessário dar mais atenção às funções da escrita que ao modo de sua leitura? Se tal for o caso, uma ruptura tão essencial deve localizar-se no século XII, quando a escrita não é investida de uma função apenas de conservação e memorização, mas é composta e copiada com a finalidade de uma leitura, entendida como trabalho intelectual.15 14 15 A Espiritualidade na Idade Média Ocidental, 1995. p. 39 CHARTIER, op. cit., p. 98-99 16 Estava-se diante de uma dupla revolução: a passagem de uma leitura oralizada para uma leitura silenciosa e visual, que objetivava algo que podia ser chamado de “aprendizado” de novas relações sociais. Mais uma vez, Chartier é preciso: além de promover novas relações entre os homens, “a conquista da leitura solitária possibilitou as novas devoções que modificam radicalmente as relações do homem com a divindade”.16 Numerosos textos religiosos foram traduzidos em língua vernácula e oferecidos aos leigos como meio de se buscar um relacionamento individual, direto com Deus (e por meio dele com os homens), por meio da leitura e da meditação para alcançar o bem-estar espiritual e a salvação. Nessa brecha fundamental, encontram-se os livros de horas da Baixa Idade Média. Os livros de horas escritos em vernáculo [era uma tendência, pois eram escritos em latim, porém, muitos deles já apresentavam determinadas partes de sua estrutura em língua vernácula], suportes de uma devoção privada e individual que pedia leitura silenciosa e meditação, são característicos das cortes do século XV. A multiplicação de imagens pintadas nos livros acompanha com freqüência a passagem para a língua vernácula e a mudança de público (Schmitt, 2006: 245). . No final do século XII ocorreram grandes mudanças que marcaram a vida dos que habitavam a Europa ocidental: no conceito de trabalho, no panorama das cidades, na contagem do tempo e, o que está diretamente ligado ao nosso tema, no surgimento de uma nova espiritualidade que terá seu ápice no século XIII com a reforma franciscana. Havia um sentimento geral de renovação da cultura cristã, em que o clero detinha o monopólio do sagrado – tudo o que dizia respeito às funções relativas ao poder espiritual era reservado à Igreja –, mas ao leigo era possibilitada uma espiritualidade mais intimista, mais individualizada: uma nova forma de se comunicar com Deus. O homem da cristandade medieval passava grande parte de sua vida em ofícios religiosos. Leigos e religiosos rezavam no mesmo livro: o Saltério, série de 150 salmos encontrados em toda Bíblia. A maioria deles era em latim, alternando a seqüência dos salmos, incluindo hinos, cantos fúnebres, louvores, exaltações reais e canções de peregrinos. Mas, basicamente, o saltério é um livro da Igreja Católica para uso eclesiástico. Com essas mudanças na espiritualidade dos homens, sentiu-se a necessidade de um livro mais acessível aos leigos. Um 16 História da Vida Privada, 1992. V. 3, p.119 17 livro não litúrgico, de devoção privada e que não fosse submetido a qualquer controle ou revisão por parte das autoridades eclesiásticas, como acontecia com os saltérios, missais (livros litúrgicos para as missas) e breviários (para as orações breves do cotidiano). Em outras palavras, tal livro deveria ser uma composição personalizada de um novo texto de devoção secular que refletisse a mudança ocorrida em relação à postura do leigo perante sua espiritualidade. Diz Alberto Manguel em Uma história da leitura (2001: 153-4) que [...] não surpreendeu que um dos livros mais populares da época fosse o livro de orações pessoais ou Livro de Horas, comumente representado em pinturas da Anunciação. Escrito em geral à mão ou impresso em formato pequeno, em muitos casos iluminados com requinte e opulência por mestres da arte, continha uma coleção de serviços curtos denominados “Ofício menor da abençoada Virgem Maria” (uma compilação de cerimônias religiosas curtas), recitados em vários momentos do dia e da noite. Tendo por modelo o oficio divino – serviços completos ditos diariamente pelo clero –, o ofício menor que compreendia os Salmos e outros trechos das Escrituras, bem como hinos, ofícios dos mortos, orações especiais para os santos e um calendário. Esses volumes pequenos eram eminentemente instrumentos portáteis da devoção, podendo ser usado pelo crente tanto em serviços públicos da igreja como em orações privadas [...]. 1.2 Tipologia e estrutura Por volta do século XI foi criado um livro com a intenção de condensar, em um só volume, todos os textos do Ofício Divino – ou Liturgia das Horas – da Igreja Católica, e de facilitar seu transporte pelos monges que se deslocavam com freqüência. Este livro litúrgico era o breviário, do qual se originou o livro de horas. Neste sentido, o livro de horas se apropriou de várias partes da estrutura dos breviários, mas foi o Pequeno Ofício de Nossa Senhora – Officium parvum beate Marie Virginis – o texto que lhe serviu de base. Segundo Leroquais, apesar de proximamente ligados ao breviário, e apesar de retirarem destes seus elementos principais: o calendário, o pequeno ofício de Nossa Senhora, os salmos penitenciais, as ladainhas, os sufrágios e o ofício dos defuntos, os livros de horas dele se distinguem nitidamente. Prova-o certo número de características. A principal é a sua absoluta independência do ciclo litúrgico. [...] E mais: eles não se revestem de nenhum caráter obrigatório, sua recitação depende da iniciativa particular. Sua composição escapa à vigilância da Igreja (Católica); ao retirar certos elementos do breviário, o editor ou o copista deles dispõe a seu arbítrio; ora acrescenta-lhes preces encontradas ninguém sabe onde, ora lhes insere textos 18 inteiramente profanos. Enfim, se o breviário é o livro do sacerdote e do religioso, as Horas o são do leigo.17 Os livros de horas são também chamados de Horas, devido à palavra latina Horae que assinala o momento em que se iniciam os Ofícios, neste caso, o de Nossa Senhora, ou seja, as Horas da Virgem Maria – Incipiunt horae Beatae Mariae Virginis. A palavra Horas deve ser sempre empregada no plural porque designa o livro no seu conjunto. O tema central dos livros de horas é o culto à Virgem Maria. O fervor do culto a Nossa Senhora e suas múltiplas facetas fizeram da Virgem a expressão mais popular de fé e de piedade na Idade Média. Escritos geralmente em latim, os livros de horas seguiam a sequência canônica estabelecida pela Liturgia das Horas nos breviários dos clérigos. Elas foram determinadas pela passagem: “Sete vezes ao dia, eu te louvarei Senhor, pela equidade dos teus julgamentos” (Salmo 118, 164). A Igreja Católica adotou a prática judaica de recitar orações em horas fixas do dia (pela manhã, ao meio-dia e no fim do dia). São Bento determina em regra para seus monges sete horas de orações, seguindo o que diz a passagem do salmo acima mencionado. Acrescentouse mais uma oração noturna, as “completas”, somando assim oito horas canônicas, que deveriam ser celebradas segundo o badalar dos sinos. São elas: MATINAS (meia-noite) LAUDES (três horas da madrugada) PRIMA (seis horas) TERCIA (nove horas) SEXTA (doze horas ou meio-dia) NOA ou NONA (quinze horas) VÉSPERAS (dezoito horas ou ao cair da noite) COMPLETAS (vinte e uma horas ou depois do pôr do sol) 17 Apud Berge, [1973?]: capítulo II, p. 4 19 As horas canônicas (cada uma das horas indica um oficio divino ou liturgia) podem ser divididas em duas categorias: Horas menores (Prima, Tercia, Sexta e Noa) e as Horas maiores (Matinas, Laudes e Vésperas). Nas menores devem ser rezadas as orações que evocam um acontecimento do Evangelho ou dos Atos dos Apóstolos. Por exemplo, na Noa é lembrada a hora da morte de Jesus na cruz. As maiores são as horas principais e, como tais, devem ser celebradas pela manhã e tarde. Já as completas, acrescentadas posteriormente, devem ser rezadas antes do repouso da noite. Recitando essas orações, nessas horas determinadas, o homem medieval cumpria o seu dever de cristão: orar incessantemente a Deus pedindo-lhe por si e por todos os homens. Um livro de horas modelo, segundo Berge,18 tem a seguinte estrutura: 1. Partes essenciais – o Calendário, as Horas da Virgem Maria, os Sete Salmos Penitenciais, a Ladainha de Todos os Santos, o Sufrágio dos Santos (ou Memórias ou Comemorações) e o Ofício dos Defuntos; 2. Partes secundárias – as Passagens dos Quatro Evangelhos, as orações Obsecro te e O intemerata, 19 as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo, Os Prazeres de Nossa Senhora (orações em louvor dos prazeres de Nossa Senhora) – e os Sete Pedidos a Nosso Senhor; 3. Partes acessórias – são variáveis: os Salmos Graduais (os salmos de 119 até 133), o Saltério de São Jerônimo (uma coletânea dos mais belos e expressivos versos dos salmos) e preces em geral. Numa análise mais pormenorizada: ►O Calendário – o livro de horas começa sempre com um calendário, onde são registradas (com letras nas cores vermelha, preta e dourada) as principais 18 19 Berge, Op. cit.,Capítulo II, p. 5 – 20. Tradução para o português: Eu te imploro e Oh! Imaculada. 20 festas cristãs (como Natal, Páscoa etc.), os feriados e os dias dos Santos (universais, regionais e locais). A Idade Média herdou o calendário romano (ou Juliano, introduzido por Júlio César em 45 a.C.) em que o ano continha 365 dias divididos em doze meses. Os dias do mês eram nomeados de Calendas (kalendae – 1º dia do mês), Nonas (nonae – 5º dia do mês) e Idos (idus – 13º ou 15º dia do mês). Às vezes, de acordo com o seu portador, contém informações necrológicas, aniversários, nascimentos e batizados. O calendário é um dos principais elementos para se identificar a origem ou o destino do manuscrito; ►As Passagens dos Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João); ►Orações à Virgem Maria (Obsecro te e O intemerata); ►As Horas da Virgem Maria é a parte mais importante das Horas. Este Pequeno Oficio de Nossa Senhora se manifesta através de salmos, hinos, lições, e orações destinadas à leitura ou recitação nas oito horas canônicas. Como as lições, que aqui figuram, variam de igreja para igreja, as Horas da Virgem também se constituem um importante elemento de identificação; ►As Horas da Cruz – textos mais curtos que as Horas da Virgem, compõem-se de um hino, uma antífona e uma oração para cada hora; ►As Horas do Espírito Santo – um hino, uma antífona e uma oração; ►Os Salmos Penitenciais – são sete salmos: 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142, por expressarem o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados; ►A Ladainha de Todos os Santos ou Litania – é uma súplica que obedece uma certa ordem com categorias invariáveis dos santos; ►O Ofício dos Mortos ou dos Defuntos – orações pelos mortos, que deveria ser rezada diante do defunto ou precedendo o enterro, ou orações por aqueles que estivessem em perigo de morte; ►O Sufrágio dos Santos – em memória ou invocação aos santos, também chamado Santoral; ►Preces em geral – “[...] talvez, a parte mais rica, mais pitoresca e mais variada do livro, aquela onde aparece mais expressivamente a alma medieval. O que lhe dá mais vivo colorido é a presença, se não exclusiva, certamente 21 frequentíssima, da oração extra-litúrgica, particular, nascida espontaneamente da inspiração do povo, que lhe traduz, no momento dado, as aspirações e necessidades. Alheia aos ares solenes da prece eclesiástica, é uma conversação imediata da alma, simples, sem cerimônias, humilde e confiante, com Deus ou com os santos. O valor de suas várias composições pode ser bastante desigual: umas são altamente inspiradas, outras não se elevam acima das necessidades materiais e terrestres. Entretanto, todas elas vivem da seiva de uma piedade sincera.” (Leroquais, apud Berge, Capítulo II: 18). Esta disposição era bastante flexível, adaptando-se à devoção particular da pessoa a quem o livro era destinado. Nem todos os livros de horas eram decorados, pois, isso dependia muito do poder e da condição financeira do proprietário, mas, em geral, para o ponto de vista artístico, o grande atrativo nestes livros manuscritos medievais são as suas ilustrações: as miniaturas e as iluminuras. No momento em que era feita a encomenda, escolhia-se também a ornamentação que o manuscrito deveria conter. Por miniatura entende-se a ilustração propriamente dita, qualquer desenho, letras ornadas e historiadas, vinhetas espalhadas pelo texto, cenas pintadas, pinturas de página inteira etc., escritos ou pintados com as tintas originais do mínio (cor vermelha). A iluminura, parte ornamental da decoração, tem todos os caracteres da grande pintura, sendo desenhos ilustrativos com abundância e variedade de cores. Neles, empregava-se também, além das tintas, detalhes em ouro e prata (daí a expressão manuscrito iluminado, porque refletem a luz). Svend Dahl diz sobre a natureza das iluminuras, no primeiro período da Idade Média, pertenciam mais à arte decorativa do que propriamente à ilustração. Os desenhos eram feitos com a intenção de decorar o livro e não a de ilustrar o texto: dessa forma, é freqüente que as ilustrações dos manuscritos nada tenham com o seu assunto, ao contrário do que modernamente se pratica. [...] os autores costumam assinalar que muitos livros piedosos são ornados com gravuras bastante livres, da mesma forma por que os animais fantásticos ofereciam motivos para o desenho das iniciais, sem que o leitor procurasse entre uma coisa e outra a menor correlação (apud Martins, 1996: 108). 22 Toda a beleza da apresentação era destinada a Deus no momento em que o leitor fazia a sua oração, sem a mediação da igreja, que até então havia monopolizado a escrita religiosa. Progressivamente, estas ilustrações vão se desenvolvendo, saindo do domínio dos mosteiros, passando para as mãos dos iluminadores laicos nos castelos e nas oficinas dos bairros das universidades, perto dos copistas e dos livreiros. Para Fischer (2006: 154), “no final da Idade Média, as iluminuras e miniaturas, incluídas nas páginas desses livros, constituíam o principal trabalho artístico da Europa ocidental”. 1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas Ao contrário dos grandes formatos utilizados para os cultos na Igreja Católica, os livros de horas eram pequenos e portáteis, seguindo o novo formato que estava sendo utilizado para os breviários. De fácil leitura, podiam ser comodamente sustentados nas mãos e transportados para qualquer lugar. Devido ao seu pequeno tamanho, podiam ser utilizados pelas crianças, mas, a princípio, eram destinados às mulheres, provavelmente pela ênfase nas orações à Virgem Maria, mãe de Cristo, exemplo de virtude para todas elas. Como são livros de orações cotidianas, destinados à sociedade laica, tinham como proprietários os aristocratas, principalmente aqueles de sangue real como os reis, rainhas e duques. Posteriormente, também foram apreciados pelos burgueses endinheirados, mesmo os analfabetos, que os utilizavam para admirar suas miniaturas. Não podemos esquecer de que nem todos os livros de horas eram ricamente decorados, pois existiam aqueles mais modestos, unicamente para uso cotidiano. No geral, contudo, esses livros refletiam mais a vaidade de seus proprietários – em muitos eles apareciam retratados na figura do doador – do que a sua devoção. Fora a parte devocional, os livros de horas exerceram, na Idade Média e no Renascimento, um papel de suma importância social, servindo para o ensino da leitura nas 23 residências abastadas e da nobreza. Conta-se que Luis IX, o santo, aprendeu a ler neles. Muitas vezes era o único livro da família, uma vez que a Bíblia era muito cara. Ainda assim, eram reveladores da riqueza de seus proprietários, sendo comprados como jóias preciosas, que valorizavam as coleções dos bibliófilos endinheirados. Figuravam nos testamentos e inventários como peças de alto valor (bens móveis), que os proprietários deixavam registrados a quem seriam destinados. Serviam também como presente do noivo para sua prometida e para os monarcas em ocasiões solenes, como, por exemplo, sua coroação (vide as grandes coleções dos museus e bibliotecas nacionais). Em sua grande maioria, os livros de horas tiveram como suporte o pergaminho. Devido a suas inúmeras vantagens técnicas e de conservação, este material substituiu o papiro. Quando é de boa qualidade, é um material suave, fino, aveludado, dobrando-se com facilidade, sendo, acima de tudo, durável. O pergaminho, pele de animal – as mais utilizadas eram as de cabra, ovelha, carneiro e vitela – de extraordinária durabilidade, era adequado como suporte para um livro de uso quotidiano. Seu preparo era bastante trabalhoso e lento. Primeiro se retirava a pele do animal; em seguida, ela era lavada em água corrente e fria; por fim, mergulhada numa tina de madeira ou de pedra para um banho de água e cal. Depois as suas duas faces – a do pêlo, parte mais porosa e amarelada, e a da carne, mais lisa e mais branca – eram aplainadas para que fossem retiradas todas as asperezas. Então, eram cobertas por um pó fino de calcário branco e, finalmente, alisadas, polidas e postas, esticadas, para secagem. Uma vez secas, eram cortadas em folhas que eram dobradas ao meio, criando-se dois fólios. Cada fólio tem dois lados: o recto e o verso. As pessoas encarregadas desta tarefa eram chamadas de pergaminheiros. Depois do pergaminho preparado, o copista começava seu trabalho fazendo linhas horizontais nos fólios para que estas o orientassem na hora da escrita. São os chamados raiados, característicos de um manuscrito medieval. As linhas eram assinaladas com um estilete feito de osso com pontas de metal, e as tintas utilizadas eram nas cores vermelha, marrom, verde, às vezes, um combinado delas. Usadas com freqüência nos manuscritos medievais, as tintas eram obtidas por meio de diversas fórmulas que utilizavam metais, minerais e vegetais. Com a tinta vermelha – rubrica –, cor mais utilizada, se escreviam os cabeçalhos – títulos, epígrafes e iniciais – e com a preta o texto principal. As cores azul e verde eram mais raras. 24 Para escrever, os copistas utilizavam pena de aves, em geral de ganso, ou um estilete de ponta fina. Sabiam escrever vários tipos de letras, sendo a mais comum nos livros de horas a letra gótica. Como observa Martínez de Sousa (1992: 28), “o gótico foi utilizado desde o século XII até o XV nos códices; suas letras são de traço quadrado e anguloso; substituiu, durante esse período, a letra romana e foi a primeira a ser gravada pelos tipógrafos em Mogúncia”. Depois de copiado o texto, o copista deixava espaços em branco com indicações – às vezes se escrevia nas margens, com letras bem pequenas –, ou esboços, para o miniaturista a respeito do tema das ilustrações que, em geral, eram os mesmos: a Anunciação, a Visitação, a Natividade etc. Depois de prontos os desenhos, a etapa seguinte era a iluminação (ouro ou prata), depois as cores. A última fase na produção de um livro manuscrito consistia em reunir os diferentes cadernos para encadernar o livro. Os tipos de encadernação mais comum na Idade Média eram os feitos de madeira, revestidos com pergaminho ou couro. Alguns livros de horas possuíam encadernações luxuosas, feitas com materiais valiosos como o ouro, a prata, o marfim, pérolas e pedras preciosas, mas não era o habitual. Conhecem-se alguns manuscritos medievais sem encadernação e muitos dos que chegaram até nós (são poucos os que têm a encadernação original) apresentam encadernações simples. “Quase todos os livros traziam fechos e marcadores esmaltados com flores, esculpidos com cabeças de animais e cravejados de pérolas e pedras preciosas. Os mais valiosos guardavam-se em camisas de damasco – tecido de seda lisa fabricado em damasco – e defendiam-se do atrito com cravos de cobre pregados no dorso” (Rizzini, 1977: 38). As encadernações também refletiam a riqueza do encomendante, pois elas eram comparadas a um relicário que protegia e adornava o valioso objeto. O livro manuscrito medieval, decorado com miniaturas, era muito valioso e, consequentemente caro. Seu comércio, portanto, era bastante lucrativo. O preço do suporte (as folhas de pergaminho) era muito elevado. Mais elevado ainda era o preço da cópia, pois bons copistas eram raros e trabalhavam lentamente. Acrescentava-se, ainda, o valor do tipo de escrita, do número de fólios, formato, presença de ilustrações, encadernações etc. Só com o aparecimento 25 do papel, das universidades, das bibliotecas e, principalmente, da imprensa é que o livro – aqui no sentido de conjunto de cadernos costurados ordenadamente – vai se tornar mais acessível e mais difundido. Concluindo esta primeira parte, a Apresentação, queremos aqui explicar que este texto se destina tanto a um público amplo – para quem ele foi especialmente escrito – como para um público especializado que, devido ao conjunto de novas informações, se interessará mais pela segunda parte deste trabalho: o catálogo propriamente dito. 2. O acervo da Biblioteca Nacional O conceito de biblioteca nacional tem evoluído ao longo dos anos e, com o frenético desenvolvimento do conhecimento, vem deixando as bibliotecas nacionais com uma grande responsabilidade no sentido de acompanharem o progresso bibliográfico de seus países. Estas bibliotecas nacionais que, desde a época da Revolução Francesa (século XVIII), são conceituadas como depositárias e preservadoras da cultura e da memória de um país, não têm o caráter de popular, pois, se o objetivo primordial é salvaguardar o patrimônio bibliográfico nacional, elas deveriam ficar restritas aos pesquisadores especializados. Segundo Jannice Monte-Mór,20, “seu acervo tem por objetivo oferecer, no futuro, a documentação suficiente ao juízo da produção intelectual do passado e, no presente, os necessários elementos de informação, que condicionam um consciente e harmonioso desenvolvimento cultural”. Reproduziremos aqui o conceito atual, utilizado pela Biblioteca Nacional brasileira que se encontra disponível no site21 da Fundação Biblioteca Nacional. Insere-se a Biblioteca no conceito de nacional, em contraposição ao de pública por apresentar as seguintes características: ser beneficiária do instituto do Depósito Legal; 20 21 Anais da Biblioteca Nacional, 1971. V. 91, p.360 http://www.bn.br 26 possuir mecanismo estruturado para compra de material bibliográfico no exterior a fim de reunir uma coleção de obras estrangeiras, nas quais se incluam livros relativos ao Brasil ou de interesse para o país; elabora e divulga a bibliografia brasileira corrente através do Boletim Bibliográfico; é o centro nacional de permuta bibliográfica, em âmbito nacional e internacional. 2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação de seu acervo A Biblioteca Nacional brasileira teve como núcleo inicial a chamada Livraria22 que o rei de Portugal d. José I, O Reformador, – rei de Portugal no período de 1750 a 1777 – mandara organizar em substituição à Real Biblioteca da Ajuda. Esta fora destruída pelo incêndio ocorrido no Paço da Ribeira, em consequência do terremoto em Lisboa, no dia 1º de novembro de 1755. Foi esta preciosa coleção, de propriedade da família real portuguesa, cujo acervo remonta à própria história da monarquia portuguesa, que veio para o Brasil, denominando-se de Real Biblioteca. Cabe aqui registrar que, na época, existia uma outra biblioteca em Lisboa, denominada Real Biblioteca Pública da Corte, localizada no Terreiro do Paço. Ela fora criada por decreto, em 1775, e instituída pela rainha d. Maria I, no ano de 1796,23 e nunca deixou Portugal. Como já escreveram seus biógrafos, a Real Biblioteca teve uma origem acidental e cheia de aventuras. O incêndio gerado em decorrência do terremoto destruiu o Palácio da Ribeira, sede do governo português onde estava localizada a livraria do rei. Tal livraria tivera seu primeiro núcleo organizado pelos soberanos d. João I (O da Boa Memória, 1385-1433), d. Duarte (O Eloqüente, 1433-1485) e d. Afonso V (O Africano, 1438-1481). Depois do terremoto, já instalado no Palácio da Ajuda, o rei de Portugal, que teve como missão reconstruir Lisboa, d. José I, avô de d. João VI, tratou também de juntar o que restara do incêndio e, com a ajuda de seu poderoso ministro – o Marquês de Pombal que baniu de Portugal as ordens religiosas, incorporando seus acervos aos bens do rei –, organizar uma nova biblioteca, adquirindo valiosas coleções. Como observa Carvalho (1994: 32), Num folheto intitulado Processos célebres do Marquês de Pombal (1882), relata-se que a Biblioteca Real da Ajuda, menina dos olhos d’El Rei, nunca parou de crescer: 22 Livraria era o termo adotado na época para designar biblioteca particular. Eram coleções especiais, acessíveis a poucos e que ficavam em salas genericamente chamadas de gabinetes. 23 Hoje é a Biblioteca Nacional de Lisboa. Anais da Biblioteca Nacional, 1981. v.101, p. 132. 27 seja com os livros dos Cônegos de São Vicente de Fora, quando estes foram transferidos para o Mosteiro de Mafra e ficaram privados de suas coleções, seja com os numerosos espólios de bibliófilos condenados à morte ou ao exílio. No Palácio da Ajuda foram reunidas duas coleções distintas: a Livraria Real (ou Real Biblioteca, que era a biblioteca privativa dos monarcas) e a Livraria da Casa do Infantado (destinada a formação dos príncipes reais). Em pouco tempo a nova biblioteca real foi recomposta.24 A fim de reconstruir o acervo da Real Biblioteca, encarregavam-se representantes do reino Português para que buscassem, em outros centros culturais da Europa, material bibliográfico e coleções especiais de interesse para a biblioteca do rei. O acervo também foi acrescido de valiosas aquisições por compra e doações, as mais relevantes dentre elas foram: ►O valioso acervo do bibliófilo dr. Nicolau Francisco Xavier da Silva, adquirida por compra em 1756; ►A Biblioteca da condessa de Redondo, com grande volume de livros e manuscritos de história; ►A Livraria de José Maria Monteiro de Mascarenhas, dono de um jornal português, rica em dicionários e livros de genealogia, de origem castelhana, inglesa e portuguesa; ►O acervo do cardeal Mota e de seu irmão; ►A mais preciosa delas, a doação que fez, entre os anos de 1770 a 1773, o abade de Santo Adrião de Sever, Diogo Barbosa Machado. Sua livraria reunia 4.301 obras em 5.764 volumes, abrangia todos os ramos do conhecimento, retratos, álbuns de estampa de caráter religioso, mapas e um conjunto de factícios agrupados por temas. Segundo Cunha (1931: 131), a entrega da coleção fez-se por partes, em caixotes numerados com a relação do que cada uma continha. As listas se sucedem mesmo depois da morte de Diogo Barbosa Machado, ocorrida em 1772, tendo ficado encarregado das entregas ‘seu comensal, protegido e amigo’ o Padre Francisco José da Serra Xavier [futuro bibliotecário da Real Biblioteca]. 24 No ano de 1795, a biblioteca escapou de um outro incêndio ocorrido no antigo Barracão Real da Ajuda, onde estava localizada. 28 Muitos livros pertencentes a esta coleção possuem o ex-libris do padre Francisco José da Serra Xavier, acredita-se que foram incorporados à coleção do abade antes da doação feita ao rei d. José I; ►Os livros do Colégio de Todos os Santos (Ilha de São Miguel – Açores), patrimônio da Companhia de Jesus, expulsa e extinta pelo Marquês de Pombal no ano de 1759. Esses livros permaneceram durante muito tempo encerrados em 15 caixotes e, quando foram abertos, em 1804, estavam comidos por bichos e podres. A ordem foi então queimá-los. Poucos foram os que se salvaram; ►Estampas raras e códices manuscritos do inglês Guglielmo Dugood; ►Os livros da livraria do dr. Miguel Franzini, num total de 192 volumes, incorporados à livraria em 1773; ►Um caixote de livros do dr. Bartholomé Ulloa, em 1779, vindo de Madri; ►A coleção, contendo 1.234 obras, do cardeal da Cunha, comprada depois de sua morte ocorrida no ano de 1793. Pouco mais se adquiriu, pois, após o incêndio de 1755, havia poucas livrarias disponíveis no mercado. A organização e o acondicionamento dessas aquisições ficava por conta dos funcionários da biblioteca, a maioria religiosos. Esta era frequentada pelos membros da Família Real e da Corte, visitantes ilustres ou representantes do corpo diplomático. A preciosa coleção versava sobre diversos assuntos: religião, história, filosofia, belas artes, ciências naturais etc. e diversos materiais: atlas, livros impressos, manuscritos, estampas etc. Foi essa biblioteca – junto com a Livraria da Casa do Infantado – que chegou ao Brasil em três remessas: as duas primeiras em 1810 trouxeram 230 caixotes e a terceira, e última, 87 caixotes em 1811. Em 1807, quando a família real portuguesa veio para o Brasil, o príncipe regente d. João não conseguiu trazer, naquela viagem, a sua biblioteca real, cujo acervo lhe conferia prestígio e poder. O que veio com ele foram documentos políticos e administrativos do Estado lusitano e, no navio Medusa, em 34 caixotes, apenas a biblioteca de Antônio Araújo, o conde da Barca. 29 Para a longa viagem rumo ao Brasil, o acervo da Real Biblioteca foi dividido em 3 lotes e acondicionado em caixotes. Na correria para embarcar em 1807 os caixotes foram esquecidos no porto, permanecendo, por algum tempo, debaixo de sol e chuva, até retornarem para o Palácio da Ajuda. Sua transferência começou a ser feita em 1810. O primeiro lote – que trouxe também, em segredo, os 6.000 manuscritos da coroa – veio acompanhado pelo servente da Real Biblioteca, Joaquim José de Oliveira. O segundo saiu de Lisboa em março de 1811, na fragata Princesa Carlota. Trazia a Biblioteca Real em 66 caixotes e aportou no Rio de Janeiro em junho, sendo acompanhada pelo bibliotecário Luis Joaquim dos Santos Marrocos. O terceiro e último lote saiu de Lisboa em setembro de 1811, com 87 caixotes de livros. Foram embarcados na charrua São João Magnânimo, sob a guarda do servente José Lopes Saraiva. Em novembro de 1811 estava reunida toda a biblioteca real em terras brasileiras. “Estava salvo o grande acervo cultural português, salvo do incêndio, salvo da destruição e da pilhagem próprias de uma guerra, salvo dos perigos de uma longa e incerta travessia marítima” (Carvalho, 1994: 38). Para acomodar o acervo foi requisitado, através do Decreto Real de 27 de junho de 1810, o andar superior do Hospital da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, próximo ao palácio e capela reais. Como o espaço era insuficiente, um novo decreto foi assinado, revogando o primeiro, para que o acervo ocupasse também os porões e as catacumbas do mesmo hospital. A data da assinatura deste novo decreto, 29 de outubro de 1810, tornou-se a data oficial de fundação da Biblioteca Nacional brasileira. Havendo ordenado, por Decreto de 27 de Junho do presente ano, que nas casas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à minha Real Capela, se colocassem a minha Real biblioteca e gabinete dos instrumentos de física e matemática, vindos ultimamente de Lisboa; e constando-me pelas últimas averiguações a que mandei proceder, que o dito edifício não tem toda a luz necessária, nem oferece os cômodos indispensáveis em um estabelecimento desta natureza, e que no lugar que havia servido de catacumba aos Religiosos do Carmo se podia fazer uma mais própria e decente acomodação para a dita livraria: hei por bem, revogando o mencionado Real Decreto de 27 de Junho, determinar que nas catacumbas se erija e acomode a minha Real biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda toda despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido estabelecimento. O Conde de Aguiar, do Conselho de Estado, Presidente do Real Erário, o tenha assim entendido e faça executar por este Decreto somente, sem embargo de quaisquer leis, regimentos ou disposições em contrario. Palácio do Rio de 30 Janeiro, em 29 de Outubro de 1810. Com a rubrica do Píncipe Regente Nosso Senhor. 25 Dois religiosos, que vieram com a família real, foram designados para dirigirem a Real Biblioteca: frei Gregório José Viegas – da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, confessor de uma das infantas – que administrou a biblioteca no período de 1810 a 1821 e o padre Joaquim Dâmaso – da Congregação do Oratório de Lisboa – encarregado do arranjamento e conservação, trabalhando com ajudante da biblioteca, Luis Joaquim dos Santos Marrocos. Já no Rio de Janeiro, o acervo da Real Biblioteca continuou crescendo. Chegavam remessas de livros vindas de Portugal a título de propinas, 26 impressos advindos da Impressão Régia – instalada no Rio de Janeiro em 1808 – e aquisições de coleções particulares. Uma importante doação foi feita à biblioteca no dia 13 de novembro de 1811 pelo provincial do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro. Foram doados livros – aproximadamente 2.500 volumes – e manuscritos originais – dentre eles os da Flora Fluminensis – pertencentes ao espólio do frei José Mariano da Conceição Velloso, falecido naquele convento. Em 1813 foram incorporadas ao conjunto doado as pranchas de cobre gravadas e as obras impressas pela extinta Oficina do Arco do Cego, em Lisboa. O ilustre botânico brasileiro dirigiu a Oficina no período de 1799 a 1801. De 1811 até o ano 1814, a consulta ao acervo só era permitida mediante consentimento régio. A partir de 1814 a biblioteca foi plenamente aberta à população. Muitas outras importantes aquisições foram feitas no período (dentre elas, em 1815, as coleções de Manuel Inácio da Silva Alvarenga e do arquiteto real José da Costa e Silva, em 1818; em 1822 a coleção Araujense que pertenceu ao conde da Barca) e muitos dos encarregados – ou prefeitos, como eram chamados – contribuíram para o enriquecimento do acervo da real livraria do príncipe regente d. João, aclamado rei de Portugal, Brasil e Algarves, em 1818. Com seu retorno a Portugal, em 1821, e no ano seguinte o Brasil se tornando 25 26 Decreto de 29 de Outubro de 1810. A área de Manuscritos da Biblioteca Nacional possui uma cópia. “Em relação a este assunto que se prende ao que modernamente se denomina Contribuição Legal, um parêntese se faz necessário. A Real Bibliotheca foi, desde o século XVIII, acrescida também com a entrega de ‘propinas’ enviadas pela Mesa Real Censória” (Cunha, 19: 140). Ou seja, a entrega de um exemplar de tudo que fosse impresso nas oficinas tipográficas em Portugal. 31 independente, a Real Biblioteca permaneceu no Brasil e foi incorporada ao patrimônio da nova nação brasileira,27 como Schwarcz observa (2002: 24), [...] é possível pensar além do valor pecuniário da biblioteca. Os livros são símbolo e sinal de independência: independência política, mas também independência nas idéias, independência no pensar e nas possibilidades de construir utopias e projetos. A biblioteca custou caro, mas, por certo, simbolizava e valia muito. Valia muito por conta de seus tesouros – entre gravuras de Rembrant, Callot, Mantegna ou Durer; os incunábulos, os livros de horas, a bíblia de Mogúncia, a enciclopedie, os mapas e plantas, os desenhos e manuscritos, as cartas de Vieira e tantos mais que tomaríamos o resto das páginas desse livro com tantas lembranças. Em 1858, uma nova mudança. Dessa vez o acervo foi transferido para o Largo da Lapa (rua do Passeio, no prédio onde hoje se encontra a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde permaneceu até 1910. Só nesse ano a biblioteca ganhou a sua sede definitiva – na gestão de Manuel Cícero Peregrino da Silva (de 13/7/1900 a 9/2/1924) – na avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro. O governo imperial já determinara, em 1822, que um exemplar de tudo o que fosse impresso pela Tipografia Nacional deveria ser entregue à Biblioteca Imperial e Pública da Corte. Essa legislação foi-se aperfeiçoando por atos dos anos de 1847, 1853, 1865. Porém, é só com a República, por meio do decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907 – complementado por Instruções de 19 de dezembro de 1930, que ampliam a sua abrangência –, que a medida ganha instruções para a sua execução.28 Esta é a Lei do Depósito Legal, cujo principal objetivo é assegurar o registro e a guarda da produção intelectual nacional, através da doação de um exemplar de toda obra editada no país, além do controle, a elaboração e a divulgação da Bibliografia Brasileira corrente. Por meio da Lei do Depósito Legal, de permuta com outras instituições e de aquisições, por compra e doações, o acervo da Biblioteca Nacional cresceu e cresce assustadoramente. O seu atual prédio, que será centenário no próximo ano de 2010, foi projetado pelo General Francisco Marcelino de Sousa Aguiar. A construção esteve a cargo dos engenheiros 27 A questão dos bens deixados pela Família Real portuguesa no Brasil foi resolvida com a intermediação da Inglaterra na qual o governo imperial pagou a Portugal, através da Convenção Adicional ao Tratado de Paz, Amizade e Aliança (29 de agosto de 1825), dois milhões de libras esterlinas. Deste montante, 800 contos de réis (250.000 libras esterlinas) correspondem à compra da biblioteca. 28 Continua em vigor. 32 Napoleão Muniz Freire e Alberto Faria. De estilo eclético, em que se misturam elementos neoclássicos e de art noveau, seus seis andares – só de armazéns – foram projetados para receberem 400.000 volumes. No entanto, hoje já comportam mais de nove milhões de peças. Na década de 1990, o então presidente Fernando Collor de Melo doou à Biblioteca Nacional um depósito no Cais do Porto do Rio de Janeiro, para lhe servir de anexo. Este depósito ainda hoje está sendo reformado, e alguns andares já estão em condições estruturais para o armazenamento de determinados acervos, como por exemplo, os periódicos já microfilmados e o acervo de peças teatrais da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Destacaremos aqui, a título de ilustração, algumas das principais coleções ditas especiais, que foram sendo incorporadas ao acervo da Biblioteca Nacional após a partida de d. João VI para Portugal até nossos dias. Como observa Cunha (1981: 125), “refletem as diversas coleções a personalidade e formação cultural de seus anteriores proprietários ou doadores, como também são da maior importância para o conhecimento de certos períodos históricos, das mentalidades que formaram as elites culturais [...]”. São elas: coleção Francisco de Mello Franco (1824); José Bonifácio de Andrada e Silva (1838), Pedro de Angelis (1853), Antônio Corrêa de Lacerda (1853), Alexandre José de Mello Moraes (1872), Alexandre Rodrigues Ferreira (1873), Castelo-Melhor (1879), Rio Branco (1881), José Augusto Saldanha da Gama (1884), Salvador de Mendonça (1884), José Antônio Marques (1889), Francisco Antônio Martins (1890), d. Theresa Christina Maria (doada por d. Pedro II, em 1891), Benedito Ottoni (1911), Arquivo da Casa dos Contos (1903/1938), Arthur Ramos (1956), Editora José Olympio (2006) e muitas outras. Hoje, a Biblioteca Nacional é um órgão do Governo Federal, vinculado ao Ministério da Cultura. Sob o novo estatuto de fundação - Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – ela ampliou seu campo de atuação, passando a coordenar as estratégias fundamentais para o entrelaçamento de três dos mais importantes alicerces da cultura brasileira: a biblioteca, o livro e a leitura. Assim, a instituição coordena o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e a política de incentivo à leitura, por meio da Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura, diretamente ligada ao Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL). Estão sob a responsabilidade da FBN os seguintes serviços: o Escritório de Direitos Autorais (EDA), para registro e averbação de direitos de autor e a Agência Nacional do 33 International Standard Book Number (ISBN), que coordena e incentiva o uso do sistema internacional de numeração de livros e atribui códigos às editoras e às publicações nacionais para efeito de divulgação e comercialização. Também oferece os serviços de visitas guiadas, pesquisa à distância, produção de catálogos, inventários, revistas, exposições e os Anais da Biblioteca Nacional, “destinados a divulgar os manuscritos interessantes da Biblioteca, e trabalhos bibliográficos de merecimento” (www.bn.br). Seu primeiro volume corresponde ao ano de 1876. A Biblioteca Nacional desenvolve atividades de processamento técnico biblioteconômico, gestão de armazenamento, atendimento ao público, conservação, restauração, encadernação e reprodução – microfilmagem, fotografias e arquivos digitais. Gerencia o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros, através de núcleos estaduais de microfilmagem com vistas à preservação de toda a produção jornalística do país e o Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras – Planor –, que tem por objetivo identificar as obras raras existentes nas diversas bibliotecas brasileiras, a fim de elaborar o Catálogo Coletivo do Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN). Suas áreas de acervo guardam, além de obras gerais (como livros, monografias, manuais, teses, cd’s, folhetos etc.) e publicações seriadas (como jornais, revistas etc.), acervos especiais, como manuscritos, livros raros, documentos iconográficos (fotografias, gravuras, desenhos etc.), documentos cartográficos (mapas, atlas etc.), registros sonoros (fitas audiomagnéticas, discos, cd’s etc.) e partituras musicais. Para a execução de suas atividades, a FBN conta, em linhas gerais, com a seguinte estrutura organizacional: um presidente, três diretorias – Centro de Processos Técnicos, Centro de Administração e Planejamento e Centro de Referência e Difusão –, três coordenadorias – Coordenadoria Geral de Pesquisa e Editoração, Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura e Coordenadoria Geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – e duas bibliotecas subordinadas – Biblioteca Euclides da Cunha (no Rio de Janeiro) e Biblioteca Demonstrativa de Brasília (Distrito Federal). Todas essas coordenadorias estão organizadas em diversas divisões, seções, núcleos e setores. Primeiro Real Biblioteca, depois Biblioteca Real e Pública da Corte, no período do império, foi Biblioteca Imperial e Pública da Corte e, no dia 4 de março de 1876, assumiu 34 oficialmente o título de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Somente em 1948, tornou-se Biblioteca Nacional. Hoje, a Biblioteca Nacional possui, como mencionado, um acervo estimado em 9 milhões de peças (livros, manuscritos, periódicos, estampas, mapas, partituras etc.), recebe em suas salas de consultas uma média anual de 64.000 usuários e, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco -, é considerada uma das dez maiores bibliotecas do mundo e a primeira da América Latina. Por isso, fazemos valer a consideração de Herkenhoff (1996: 20), para quem: Nenhuma instituição cultural do país pode superar a Biblioteca Nacional e exibir uma história bicentenária de participação ininterrupta da sociedade através de doações, legados, cumprimento da contribuição legal, reflexão, edições e pesquisa. Uma das grandes lições de sua própria história, é que a Biblioteca Nacional para o Estado e a sociedade civil é orgulho e responsabilidade, é signo possível de sua cultura e opulência espiritual. 2.2 A área de Manuscritos Aqueles manuscritos que vieram “em segredo” com o servente José Joaquim de Oliveira, na primeira remessa da Real Biblioteca, em 1810, os chamados manuscritos da Coroa, nunca foram incorporados ao acervo da Real Biblioteca. Tratava-se de uma coleção de 6.000 códices que estavam em um arquivo reservado na Livraria da Congregação dos Oratorianos no Paço das Necessidades, em Lisboa. Como eram documentos reservados, o visconde de Vila Nova da Rainha, na qualidade de guarda-jóias da coroa, conservou-os sob sua proteção imediata, em uma casa do governo situada na rua do Ouvidor (no centro do Rio de Janeiro). Grande parte destes manuscritos, mais especificamente aqueles que diziam respeito à história de Portugal, retornaram com d. João VI, em 1821 e, o restante, com o padre Joaquim Dâmaso, em 1822. Todavia, os manuscritos da Coroa foram organizados e classificados em um catálogo, datado de 1813, por Luis Joaquim dos Santos Marrocos. Listados em 75 páginas, os documentos predominantes retratavam a política portuguesa e suas relações diplomáticas. Segundo Schwarcz (2002: 283), “os livros da Biblioteca eram uma jóia para expor; já os manuscritos cumpriam uma função política delimitada, representando o testemunho de lutas, 35 políticas e operações militares portuguesas”. Hoje, esses manuscritos se encontram na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Durante muitos anos, os manuscritos se constituíram em um dos três grandes pilares da biblioteca: os impressos, os manuscritos e as medalhas. Como observa Gútiez (1999: 81), “os códices têm constituído tradicionalmente a aristocracia do livro [...] a Biblioteca devia reunir antes de tudo ‘livros originais’ ou ‘livros manuscritos’. [...] na cultura escrita, todo conhecimento se apoiava em outro conhecimento e os primeiros e originais estavam os códices”. A área de Manuscritos surgiu como complemento do acervo da Real Biblioteca – Livraria do Rei e Casa do Infantado – com, aproximadamente, mil códices manuscritos e avulsos, muitos dos quais de uso privativo de d. José I e de d. João VI. Eram papéis e documentos oficiais escritos pelo próprio Dâmaso sobre a administração da Real Biblioteca. Seus primeiros administradores designaram o depósito dos manuscritos como Arquivo e depois com Gabinete dos Manuscritos. Já terminando o período Imperial, com a organização administrativa da Biblioteca Nacional pelo Decreto nº 6141, de 04/09/1876, passou a denominar-se 2ª SeçãoManuscritos. Na República, em meados do século XX, passa a se chamar Seção de Manuscritos, depois Divisão de Manuscritos e hoje, oficiosamente, Área de Manuscritos.29 Três catálogos sobre o acervo manuscrito foram elaborados. Dois de pequeno porte, que podemos chamar de inventários, anteriores à administração de Ramiz Galvão (18701882), um feito pelo bispo de Anemuria (1822-1831) que arrolava alguns códices em ordem alfabética e o segundo, feito pelo cônego Januário da Cunha Barbosa (1839-1846), este de maior porte, um pouco mais completo, organizado também em ordem alfabética de autor e/ou título, em três volumes. Um terceiro, o mais completo e importante de todos, foi organizado por Alfredo do Vale Cabral (1882-1890), a partir do ano de 1873 e publicado em cinco volumes no ano de 1878. Sobre Vale Cabral, diz Teixeira de Melo na introdução do catálogo (1878: 11), “[...] manda a justiça se tribute neste lugar a devida homenagem pelos relevantes serviços que assim prestou ao país e às letras”. 29 Os dados aqui registrados foram coletados nos apontamentos dos antigos chefes da área de Manuscritos, Waldir da Cunha e Carmen Moreno. 36 A área de Manuscritos está subordinada à Coordenadoria de Acervo Especial que, por sua vez, integra a estrutura do Centro de Referência e Difusão. Esta área possui um precioso conjunto documental, parte do patrimônio documental brasileiro. Estimado em oitocentos mil itens (códices, manuscritos avulsos, fotografias, estampas, mapas, recortes de jornais etc.), é composto por arquivos privados e coleções de documentos manuscritos doados ou adquiridos de particulares, além de uma coleção de três mil impressos – livros e revistas – para auxiliarem no desenvolvimento das atividades de trabalho local. No acervo também estão armazenados microfilmes e cd’s. Como o acervo possui características que exigem conhecimentos específicos para seu adequado tratamento, a área procura combinar os procedimentos gerais vigentes na Biblioteca Nacional, no que se refere ao tratamento da informação, aos princípios e técnicas da biblioteconomia e da arquivologia, ditadas pelo Arquivo Nacional. Este acervo abrange documentos que vão desde o século XI-XII – o mais antigo é um Evangeliário escrito em grego –, até o século XX, nos mais variados tipos de escrita, idiomas e suportes. São registros medievais, como os livros de horas, bulas papais, cartas jesuíticas, documentos do período colonial, papéis de Estado, documentos de diversos reis europeus, correspondências da Família Real portuguesa, do período do Império brasileiro, da República, correspondências presidenciais, peças teatrais, correspondências e textos literários, arquivos relativos às ciências naturais no Brasil, cartas e diários de viajantes, coleções de autógrafos e acervos completos e documentos avulsos de personagens as mais variadas. Como observa Herkenhoff (1996: 109): “Garante-se assim uma abrangência nacional do acervo. Essa envergadura ímpar conferiu à Biblioteca Nacional brasileira um significado simbólico para a sociedade, como poucos países podem ostentar”. Destaca-se, neste acervo, o Arquivo Histórico da Biblioteca Nacional, que retrata, através de seus documentos, a formação da instituição e suas diversas administrações. Atualmente, trabalha na área de Manuscritos uma equipe composta de historiadores, licenciados em Letras, cientistas sociais, arquivistas e bibliotecários, além de terceirizados e estagiários do curso de graduação em História. Cada servidor efetivo coordena o tratamento de uma determinada coleção contando com o auxílio de um estagiário. O tratamento 37 das coleções consiste em organizar, descrever, indexar, inserir registro patrimonial, alocar a documentação e digitação em base de dados. Dezena de funcionários passaram pela direção da área de Manuscritos, nas diversas fases de administração da Biblioteca Nacional, a saber: fase Eclesiástica, fase dos Bacharéis, dos Historiadores, dos Escritores, dos Bibliotecários e dos Professores.30 Seu público alvo é o pesquisador e/ou especialista de nível superior, que pode ter acesso aos documentos através dos diversos instrumentos de consulta disponíveis na sala ou através da base de dados on-line. De acordo com as regras previamente determinadas pela direção da biblioteca, o acervo pode ser reproduzido, mas, de acordo com a política de preservação, está proibida a utilização de cópia do tipo xerox. Anualmente, cerca de dois mil usuários visitam a área de Manuscritos. 2.3 A coleção dos Manuscritos iluminados e os Livros de Horas Segundo Carrion Gútiez (1999: 102-103), “Manuscritos, geralmente, quando não constituem riquezas por seu preço ou não estão ligados às pessoas por laços familiares ou sentimentais, são objetos preferentemente de instituições com responsabilidades históricas e de conservação”. Daí as coleções de manuscritos iluminados das bibliotecas nacionais. A coleção de manuscritos iluminados, custodiada pela área de Manuscritos da Biblioteca Nacional, é constituída por inúmeros códices que apresentam iluminuras, datados desde a Idade Média até o século XIX. São provenientes de diversas coleções que foram doadas à biblioteca, como a de José Antônio Marques, Cardeal Arcoverde; d. Thereza Christina Maria; através de compras, como a da Livraria do Conde da Barca e provenientes, principalmente, da Real Biblioteca como os livros de horas. Como afirma José Ruysschaert (apud Herkenhoff, 1996: 30 Seguindo a ordem cronológica, são eles: Felisberto Antônio Pereira Delgado (nomeado em 1822), José Alexandre Teixeira de Melo (1876–1882), Alfredo do Vale Cabral (1882–1890), Antônio Jansen de Melo (1890–1892), João Carlos de Carvalho (1893–1922), Mário Behring (1922–1924), Miguel de Melo (1924–1934), Alfredo Mariano de Oliveira (1934–1935), Luiz Corte Real de Assunção (1935–1936), José Bartholo da Silva (1936–1948), Otávio Calazans Rodrigues (1948–1957), Darcy Damasceno dos Santos (1957–1982), Maria Celeste Garcia Mendes (1982–1988), Waldir da Cunha (1988–1995) e Carmen Teresa Coelho Moreno (1995–2003). 38 28), “foram raras as cortes européias, como a de d. João II [1481-1495], que encomendaram livros iluminados italianos para a formação de suas novas bibliotecas”. O acervo da área de Manuscritos abrange temas variados, com destaque para um considerável número de documentos religiosos. São saltérios, breviários, missais, bíblias, livros de horas, antifonários, cartas de forais manuelinos, cartas de reis e rainhas, compromissos de irmandades, regras de ordens religiosas, documentos representativos de história, literatura e alguns códices escritos em caligrafia árabe. Nesta coleção, além dos livros de horas, destacam-se as Epistolae ad Familiares – coletânea de 503 cartas de Cícero – de 1467, uma Bíblia do século XIII-XIV em velino e o Príncipe Perfeito. Emblemas de d. João de Solorzano. Parafrazeados em Sonetos portuguezes, e offerecidos ao Sereníssimo Senhor d. João Príncipe do Brasil. Pello Baxarel Francisco Antonio de Novaes Campos. Anno de 1790, um conjunto de cem emblemas, escritos em latim com a respectiva tradução para o português, com teor moral e político utilizado para a educação dos príncipes, no caso o futuro rei d. João VI. Cada emblema está ornado, na parte superior, com uma miniatura e, o segundo soneto dedicado ao príncipe, escrito a ouro. Maria Helena Prietro, estudiosa do Príncipe Perfeito, nos diz sobre a obra: “este livro é um documento da história do livro iluminado em Portugal e da literatura emblemática, além da própria história das mentalidades” (apud Herkenhoff, 1996: 30). Os livros de horas que integram a coleção dos manuscritos iluminados são em número de nove. Datados entre os séculos XIV e XVI, têm diversas proveniências. Quatro são provenientes da Real Biblioteca – Casa do Infantado, outros dois de coleções que foram doadas à Biblioteca Nacional, como a do Marquês de Pombal e a coleção José Antônio Marques, doada em 1889, os restantes foram adquiridos por compras nos séculos XIX e XX. Como destaque da coleção, o livro de horas de d. Fernando (1367-1383), em cujo colofão aparece o ano de 1378 e a indicação de que foi obra do artista italiano Spinello Spinelli. Este livro desperta enorme interesse nos pesquisadores, não só pela beleza e elevada qualidade artística, mas pela história e mistérios no qual está envolvido. Ele já foi objeto de trabalho do franciscano Damião Berge, na década de 1940, e da historiadora Vânia Leite Fróes, que fez um estudo crítico da obra. 39 Dos nove livros de horas identificados, apenas o livro do século XVI não foi selecionado para o catálogo, pois além de pertencer a um outro período, apresenta características distintas dos demais como, por exemplo, a sua estrutura. Os oito livros estão descritos na segunda parte deste trabalho: o Catálogo dos Livros de Horas da Biblioteca Nacional do Brasil dos séculos XIV e XV. 3. A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil Por se tratar de uma das mais raras coleções da Biblioteca Nacional brasileira, os manuscritos iluminados estão, na sua grande maioria, armazenados nos cofres da área de Manuscritos. De acesso restrito – por motivos de preservação e segurança – esta coleção necessita de um tratamento técnico adequado, amplo e abrangente, voltado para suas especificidades e em consonância com as normas internacionais adotadas em outras bibliotecas nacionais. Apesar de todo o empenho de pesquisadores e bibliotecários, a elaboração de um catálogo não é tarefa fácil de se realizar. Algumas bibliotecas tradicionais européias, como a nacional de Viena, iniciaram seus catálogos de manuscritos no século XIX e, no século seguinte, ainda não haviam concluído o projeto. Quanto mais especializado for o catálogo, mas lenta e complexa é sua execução. 3.1 Tipologia dos catálogos Principal veículo para difundir e divulgar o conteúdo de uma coleção de manuscritos ou de qualquer fundo bibliográfico, o catálogo é um instrumento de referência que orienta o pesquisador, indicando o que ele deve consultar em meio aos inúmeros fundos de uma biblioteca ou de um arquivo. Segundo o Dicionário brasileiro de terminologia arquivística31, 31 Arquivo Nacional (Brasil), 2005. p. 45. 40 “catálogo é um instrumento de pesquisa organizado seguindo critérios temáticos, cronológicos, onomásticos ou toponímicos, reunindo a descrição individualizada de documentos pertencentes a um ou mais fundos, de forma sumária ou analítica”. Eles podem ser gerais, se relacionam os materiais de uma ou mais coleções, sendo por isso conhecidos como catálogos coletivos (quando abrangem fundos de mais de uma instituição), ou especiais, se selecionam o material descrito, em virtude de alguma característica previamente determinada. Devem sempre ter em conta, de um modo especializado, todos os aspectos particulares da peça que se está sendo descrita. Uma característica que distingue um catálogo geral de manuscritos de um catálogo de livros impressos, mesmo que contenham o mesmo texto, é que o catálogo de livros necessita de descrição de exemplares, que podem ser vários e distintos, enquanto o catálogo de manuscritos prescinde de tal necessidade por cada peça ser única. Os catálogos especiais podem ser de manuscritos de um autor, de um assunto, temáticos ou de textos que apresentem uma característica especial, como data de cópia, origem ou a língua em que estão escritos. Os mais característicos são os catálogos de manuscritos de uma determinada época, como os medievais, e os catálogos de manuscritos iluminados. Quando se planeja a elaboração de um catálogo de manuscritos, deve-se levar em consideração as normas a serem adotadas, a língua da descrição (normalmente a descrição é feita na língua vernácula do catalogador), a terminologia que será empregada, hoje, e as questões referentes a sua publicação, on-line ou impressa. 3.2 Catálogo de manuscritos Antes da invenção da tipografia,32 todo o material se copiava à mão. Para melhor entendimento, é necessário saber que: “Manuscrito é o texto escrito à mão em papiro, pergaminho ou papel. O manuscrito medieval será, por consequência, um texto nessas condições, datando da Idade Média”.33 Tendo como característica essencial o seu caráter de espécie única. 32 33 No ano 1450, por Johann Gutenberg. Wilson Martins. A palavra escrita, p. 93. 41 Códice é o conjunto de folhas escritas à mão, manuscritos geralmente de forma retangular, sejam de papiro ou pergaminho (Códice manu scripti = livros escritos à mão). A forma era quadrada, em razão de vir das tábuas enceradas dos gregos e romanos. Os temas desses livros eram, geralmente, de caráter religioso – como breviários, bíblias, missais, saltérios, livros de horas, sermões etc. Quando profanos, tratavam de legislação, medicina, história natural e astrologia, além de obras clássicas de autores gregos e romanos. O latim é o idioma usado na maioria desses livros.34 Para Le Goff (2006: 35), “a generalização do códex (nosso livro, com páginas e cadernos) marca uma passagem. [...] O livro-codex favorece a leitura pessoal, interiorizada, mesmo que a leitura totalmente silenciosa só venha a se generalizar no século XIII”. Na maioria das bibliotecas, os manuscritos estão agrupados em dois grandes conjuntos: códices, termo já definido no parágrafo anterior, e avulsos, coleção em aberto cuja documentação possui assuntos diversos e heterogêneos. Segundo Teresa Ferreira e Ana Santana,35 considerando a natureza muito diversificada, em termos de conteúdo e características formais específicas, das coleções de manuscritos que se encontram à guarda das bibliotecas patrimoniais, devemos distinguir: 1) Livro manuscrito - códice com unidade física e intelectual contendo texto (ou textos) de caráter monográfico e unitário; 2) Miscelânea – códice composto por vários textos intencionalmente coligidos, com ou sem ligação temática entre si [...]; 3) Códice factício – conjunto de documentos originariamente independentes, reunidos numa mesma encadernação, em fase posterior à sua produção, e por motivos alheios ao processo documental, resultado, muitas vezes, de uma prática antiga de conservação das espécies. A análise codicológica, ou seja, a descrição do códice é feita em duas etapas: a descrição interna (sobre a informação registrada) e a descrição externa (sobre como ocorreu o registro da informação). 34 35 Alberto Manguel. Uma história da leitura, p. 120. O tratamento documental de manuscritos ao serviço da investigação: a experiência da Biblioteca Nacional. Lisboa, 2006. 42 A descrição interna ou descrição textual (conteúdo) deve ser feita com a máxima precisão possível, pois é nessa etapa que se identifica o assunto que trata o manuscrito e seu texto(s), de onde serão retirados o título(s) e o autor (es). Isso não é tarefa fácil, porque o manuscrito não possui página de rosto, local onde figuram os dados que identificam um livro impresso. Em se tratando de manuscritos medievais, as fontes de onde são retirados esses dados são o colofão, o explicit e o incipit. Ao terminar a cópia, os copistas acrescentavam as linhas da “subscrição”, ou seja, o colofão, nas quais mencionava o título do livro. Essas linhas começavam em geral, com as palavras explicitus est, ou explicit, reminiscência ainda do rolo antigo: significavam que o manuscrito estava “desenrolado”. Antes do começo do texto vinham as palavras: hic incipit, isto é, “aqui começa”, para explicar, logo em seguida, de que se tratava o livro (Martins, 1996: 101). Caso não se encontre nenhuma identificação nessas fontes citadas, deve-se recorrer aos repertórios e catálogos especializados, como também aos especialistas nos diversos campos dos conhecimentos medievais. A descrição externa é, se comparada à descrição interna, muito mais simples de se fazer, pois, no caso de ocorrer alguma imprecisão, isso não acarretará tantos transtornos ao pesquisador. Mas a descrição externa também deverá ser a mais correta possível, pois poderá servir de base para estudos históricos. Um dado fundamental dessa descrição é a data do manuscrito, mais especificamente a data da cópia que se tem em mãos. Caso apareça mais de uma data, uma no texto e outra no colofão, deve-se comparar as datas com as características internas e externas do manuscrito (o exame da escrita: tipo, forma, características, traçado, o sistema de abreviaturas e a qualidade e preparação do suporte: numeração e ordenação dos cadernos, reclamos, assinaturas, marcas do fabricante do papel, ilustrações etc.) e verificar qual data se refere à da cópia, para se poder datar, com precisão, o manuscrito. Outros dados da descrição externa de um manuscrito são: foliação do manuscrito (número de fólios ou páginas e, em alguns casos, o número de volumes), as dimensões, a distribuição do texto na página (linha tirada ou colunas), o número de linhas, as características das ilustrações, ornamentação etc. 43 Deve-se fazer constar também, em notas gerais, a história do manuscrito que está sendo descrito: sua procedência, anotações, características particulares que o distinguem de outras cópias, o tipo de manuscrito (autógrafo ou outro tipo de cópia), tipo de escrita, nome do copista e o lugar da cópia, suporte, detalhes da encadernação e estado de conservação. É comum que as descrições no catálogo sigam a ordenação topográfica (localização física dos livros nas estantes), como nos catálogos de livros impressos. Sua recuperação deverá ser feita através de índices, que devem ser os mais detalhados possíveis. 3.3 O catálogo dos livros de horas Como é nosso propósito seguir as normas e padrões internacionais de controle, intercâmbio de informações e descrições bibliográficas automatizadas adotadas na Biblioteca Nacional do Brasil – que segue as normas americanas adotadas pela Biblioteca do Congresso Americano (American Library of Congress) – e, principalmente, para manter uma “uniformidade” com o que está sendo feito em matéria de descrição documental na área de Manuscritos, optamos por desenvolver uma descrição que contemple esses princípios normativos e a diversidade do material a ser identificado. No ano de 1998, após inúmeras reuniões, a então chefe da área de Manuscritos Carmen Moreno, implantou uma metodologia para a descrição de documentos na área de Manuscritos: No bojo destas discussões, criou-se o embrião de uma estrutura de descrição que utilizava o formato MARC36 na codificação da base de dados e a organizava segundo as normas ISAD.37 Toda esta compatibilizarão demandou vários estudos sobre as correlações do tratamento arquivístico, gerando um modelo de metadados que buscava integrar os conceitos utilizados na Arquivologia e na Biblioteconomia.38 36 Machine Readable Cataloguing (Catalogação Legível por Computador). International Standard Archival Description (Norma Internacional de Descrição Arquivística). 38 Comunicação apresentada por Carmen Moreno e Vinícius Martins no II Encontro de Bases de Dados sobre Informações Arquivísticas. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001. 37 44 Levando-se em conta também as normas adotadas pelas principais bibliotecas nacionais estrangeiras, principalmente a Biblioteca Nacional de Portugal, adotaremos para a descrição dos livros de horas as Regras de Catalogação Anglo-Americanas – AACR2,39 a segunda edição da tradução par o português, onde o quarto capítulo se refere aos manuscritos. Estas regras foram estabelecidas pela American Library Association, em 1966, com o apoio da International Federation of Library Associations (IFLA). O AACR utiliza os princípios normativos da International Standard Bibliographic Description (ISBD), de 1987, de acordo com as regras estabelecidas pela International Standard Organization (ISO) para o tratamento de manuscritos, incluindo os medievais e renascentistas, abrangendo a totalidade das formas, suportes, tipologia e âmbito cronológico. Para catalogação em suporte eletrônico utilizaremos o formato MARC por ser, como já mencionamos, o formato adotado pela Biblioteca Nacional do Brasil. Os oito livros de horas estão descritos no catálogo obedecendo a ordem topográfica (localização fixa) em que eles se encontram, fisicamente, no cofre da área de Manuscritos. Segundo Pinheiro (2007: 33), “O sistema de localização fixa aplica-se a bibliotecas onde a conservação do livro é condição para a salvaguarda de seu conteúdo, porque os livros são organizados segundo sua materialidade”. No caso da Biblioteca Nacional, a localização (notação, cota, número de chamada) é um conjunto numérico composto por três números, separados por virgulas, onde cada número representa: o primeiro, o número do armário; o segundo, o número da prateleira e o terceiro, o número do item. Todos os livros de horas estão guardados em caixas confeccionadas na própria Biblioteca, cuja localização foi dourada na parte inferior da lombada. Todos os livros apresentam bom estado de conservação. Após a escolha das normas e a identificação dos livros de horas, a seguinte metodologia foi adotada para efetivarmos as descrições: 39 Anglo-American Cataloguing Rules, 2ª edição. 45 DESCRIÇÃO FÍSICA (interna e externa): 1. Material (paginação, formato, dimensão, suporte etc.); 2. Construção (identificação e localização das suas partes componentes, Calendário, Passagens dos Evangelhos, Preces à Virgem Maria, as Horas da Virgem Maria, as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo, os Salmos Penitenciais e Ladainhas, o Ofício dos Mortos, Sufrágio dos Santos e Orações diversas); 3. Textual (idioma, tipo de escrita, autor, título, local, data e conteúdo – muitos desses elementos são reflexões técnicas, pois não estão explícitos ou não existem); 4. Decoração (os livros de horas utilizavam normalmente uma hierarquia complexa de formas decorativas para demarcar e ordenar as suas seções e subseções: as iniciais, as vinhetas, as margens, finais de linha, bas-de-page etc.); 5. Imagens (as miniaturas); 6. Notas gerais (incompletude, anotações, carimbos etc.); 7. Encadernação; 8. Adições ao manuscrito; 9. Proveniência; 10. Localização (ordem topográfica). Concluída a descrição, toda a coleção, futuramente, será digitalizada e integrará a Biblioteca Digital localizada na página web da Fundação Biblioteca Nacional. Uma frase muito utilizada entre os conservadores retrata muito bem o que vem a ser o propósito do nosso catálogo: “Não se pode preservar ou proteger o que não se conhece”. Catálogos são instrumentos de pesquisa que, além de descrever e localizar dados de um determinado acervo – no nosso caso uma coleção “reservada” –, servem também para registrar e 46 difundir o patrimônio bibliográfico e documental de uma instituição cultural, aqui no caso a Biblioteca Nacional. Trata-se de uma etapa, necessária e indispensável, que viabiliza o acesso, de uma maneira bastante eficaz, a esses bens culturais, promovendo assim a sua valorização, difusão, intercâmbio e proteção. “Os bens (materiais e imateriais) culturais, ou seja, aqueles que foram ou são valorados positivamente continuam exigindo uma análise que contribua para o nosso conhecimento do campo. Os bens culturais devem receber um tratamento que dê conta de sua historicidade, da atuação de pessoa e grupo responsáveis pela criação de instituições e políticas públicas direcionadas ao seu desenvolvimento”. (Lúcia Lippi, 2008: 189) Terminada esta apresentação, cabe, então, convidarmos o leitor a conhecer o conteúdo, as características e algumas das belas imagens dos oito livros de horas da Biblioteca Nacional, que se encontram descritos na segunda parte deste trabalho. 47 1. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas de Dom Fernando / iluminado por Spinello Spinelli, 1378. [200] f. (no geral, 20 linhas): perg., il. color.; 250 x 180 mm. Texto em latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas e finais de linha ornamentadas em arabescos com motivos fitomórficos e zoomórficos, estes com a predominância de aves. Contém assinaturas manuscritas às margens nos f. 71r, f. 138v, f. 151v e f. 154v. Antiga localização manuscrita no f. 2r: 46–5-47 (escrita em cima de 47-557). Faltam os fólios 22 e 23. Carimbo da Real Biblioteca - Casa do Infantado nos f. 16v e f. 164v. A Anunciação Conteúdo: • f. 2r – f. 7v Calendário (cada mês em um lado – recto e verso – do fólio) • f. 10r – f. 16v As Quinze Orações a Jesus Cristo. • f. 18r – f. 19v Comemoração a Santíssima Trindade; f. 21r – f. 21v Comemoração a São João Batista; f. 25r – f. 25v Comemoração a São Jorge; f. 27r – f. 27v Comemoração a São Cristóvão; f. 29r – f. 29v Comemoração a Santana; f. 31r – f. 31v Memória de Santa Catarina; f. 33r – f. 33v Memória de Santa Maria Madalena; f. 35r – f. 35v Memória de Santa Margarida; f. 37r – f. 37v Memória de Santa Bárbara. Em cada Comemoração e Memória o recto do primeiro fólio está em branco e no verso contém uma miniatura de página inteira representando o santo comemorado. 48 • f. 39r – f. 89v Horas da Virgem Maria. • f. 90v – f. 102v Louvores à Virgem Maria. • f. 93v O intemerata... • f. 95v Obsecro te... • f. 104r – f. 107r Ofício das Cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e de São João Evangelista. • f. 107v – f. 109r Oração de São Beda. • f. 109r – f. 112r Sete Orações a Nosso Senhor. • f. 112r – f. 112v Os Cinco Prazeres de Nossa Senhora. Incipiunt vigilie mortuorum • f. 114r – f. 121r Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 121r – f. 127r Os Quinze Salmos Graduais. • f. 127r – f. 135r Ladainha de Todos os Santos. • f. 136r – f. 176v Ofício dos Defuntos. • f. 178r – f. 186v Saltério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. • f. 187r – f. 199v Saltério de São Jerônimo. • f. 188v Em branco. • f. 199 Glória: Ne reminiscaris...// Oremus // Omnipotens sempi//terne deus clementiam tu//am suppliciter deprecor ut // me, famulum tuum. N. tibi fideliter // servire concedas et 49 perseverantiam bo//nam et felicem consummationem mihi // largiri digneris ut hoc psalterium // quod in conspectu tuo decantavi fiat // ad salutem et remedium animae omniumque meorum ve//niam ac // vivis et defunctis ad vitam // proficiat sempiternam. Amen. • f. 199v Colofão (escrito em vermelho): Ipse dipicture que conti//net hoc libro fuerunt manufacte //per Spinello Spinelli et illas deri//gebat Rmo. P. Ioachinus desa ora//tor amplissimus in oratório Re//gis D. Ferdinandi Portugalie et //pro ipsso Rege Menistrus Lusitanie //apud Sanctissimum P. Gregoriû //XI. Anno 1378. • f. 200 Em branco. Transcrevemos aqui duas notas importantes sobre o colofão deste livro de horas. A primeira nota é a de Damião Berge (1945: 69): “Evidentemente, trata-se de um post-scriptum um Colofão tanto posterior. A letra gótica, em tinta encarnada, se bem que imite a dos textos precedentes, não lhe consegue a firmeza e perfeição. O latim bárbaro destoa por completo da linguagem correta usada pelo compilador do texto. Na grafia de 1378, segundo me lembrou atenciosamente o dr. Bartholo da Silva40, o 7 não é do século XIV”. A segunda nota é a do professor de História da Arte da Universidade de Princeton (Estados Unidos) James H. Marrow41: “Como lhe informei durante minha visita, a informação dada no colofão no fólio 199v, segundo a qual o manuscrito data de 1378 e foi iluminado por Spinello 40 41 José Bartholo da Silva chefiou a área de Manuscritos da Biblioteca Nacional no período de 1936 a 1948. Esta nota foi retirada de uma carta, originalmente escrita em inglês, do professor James H. Marrow – autor de uma vasta obra sobre manuscritos iluminados e sobre diversos aspectos da arte e iconografia religiosa tardo-medieval – endereçada à coordenadora de Acervo Especial da Biblioteca Nacional Georgina Staneck, datada de 24/08/2004. A carta se encontra arquivada na área de Manuscritos da Biblioteca Nacional. 50 Spinelli, é incorreta. Esse colofão é uma adição pós-medieval ao manuscrito (ou seja, uma farsa) que fornece uma falsa informação. [...] O Ms. 50,1,1 foi feito no sul da Holanda (Bruges) para ser exportado para a Inglaterra (para Sarum Use)42 provavelmente cerca de 1460. Ele está estreitamente relacionado a um pequeno subgrupo de Livro de Horas de luxo produzidos em Bruges para clientes ingleses [...]” Imagens: 32 miniaturas de página inteira (a maioria dessas miniaturas possui, em seus ângulos, medalhões com imagens de santos, algumas trazendo os nomes, outras apagadas pelo tempo). 1ª miniatura: f. 1v – O Martírio de São Sebastião. “No alto, entre as folhagens da árvore em que está atado o santo, aparece o brasão de Portugal. Prova de que o livro foi propriedade da real família”. (Damião Berge, 1945: 58). O Martírio de São Sebastião 2ª miniatura: f. 9v – Jesus Cristo, tendo a seus pés o orbe terrestre e à sua esquerda sustenta as tábuas da Lei. Com quatro medalhões (possivelmente São Gregório, São Leão, São Jerônimo e Santo Ambrósio). 3ª miniatura: f. 17v – A Santíssima Trindade. Com quatro medalhões. 4ª miniatura: f. 20v – São João Batista. Com quatro medalhões. 42 Sarum Use era uma coleção de práticas medievais que incluíam os ritos e o repertório musical da grande Catedral de Salisbury. 51 5ª miniatura: f. 24v – São Jorge. Com quatro medalhões. 6ª miniatura: f. 26v – São Cristóvão. Com quatro medalhões. 7ª miniatura: f. 28v – Santana. Com quatro medalhões. 8ª miniatura: f. 30v – Santa Catarina. Com quatro medalhões. 9ª miniatura: f. 32v – Santa Maria Madalena. Com quatro medalhões. 10ª miniatura: f. 34v – Santa Margarida. Com quatro medalhões. 11ª miniatura: f. 36v – Santa Bárbara. Com quatro medalhões. 12ª miniatura: f. 38v – Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. Com quatro medalhões. 13ª miniatura: f. 39r – A Anunciação. 14ª miniatura: f. 46v – A Traição de Santa Margarida Judas e a prisão de Jesus. Com quatro medalhões. 15ª miniatura: f. 47r – A Visitação. 16ª miniatura: f. 60v – Jesus Cristo diante de Pilatos. Com quatro medalhões. 17ª miniatura: f. 61r – A Natividade. 18ª miniatura: f. 65v – A Flagelação. Com quatro medalhões. 19ª miniatura: f. 66r – O Anúncio aos Pastores. 52 20ª miniatura: f. 70v – Jesus Cristo a caminho do calvário. Com quatro medalhões. 21ª miniatura: f. 71r – Adoração dos Reis Magos. 22ª miniatura: f. 74v – Jesus Cristo Crucificado. Com quatro medalhões. 23ª miniatura: f. 75r – A Apresentação do Menino Jesus no Templo. 24ª miniatura: f. 78v – A Descida da Cruz. Com quatro medalhões. Ofício das Chagas de N. Senhor 25ª miniatura: f. 79r – O Massacre dos Inocentes. 26ª miniatura: f. 84v – A Deposição de Jesus Cristo da Cruz. Com quatro medalhões. 27ª miniatura: f. 85r – A Fuga para o Egito. 28ª miniatura: f. 103v – A Crucificação. Com quatro medalhões. 29ª miniatura: f. 113v – O Juízo Final. Com quatro medalhões. 30ª miniatura: f. 135v – A Ressurreição de Lázaro. Com quatro medalhões (um representando a celebração de uma missa, o outro um túmulo e os dois últimos representando duas monjas). 53 31ª miniatura: f. 177v – Jesus Cristo tendo à sua esquerda, sua Mãe, e à direita, São João Evangelista, entre os instrumentos de seu martírio. Com quatro medalhões. 32ª miniatura: f. 188v – São Jerônimo sentado, segurando a pata direita de um leão. Com quatro medalhões. 12 miniaturas menores ilustram o Calendário: Janeiro: Cena típica de inverno (figura humana em frente à lareira). Fevereiro: Lenhagem das árvores. Março: A Poda das árvores. Abril: Cena de jardim (homem passeando com flores nas mãos). Maio: Falcoaria (um homem a cavalo com um falcão sobre a mão direita). Junho: O corte do feno. São Jerônimo Julho: Ceifar o trigo e os cereais (colheita dos cereais). Agosto: Joeiramento do trigo (bater o grão de trigo). Setembro: A vindima (pisar as uvas). 54 Outubro: A semeadura. Novembro: Derrubando bolotas para o repasto dos porcos. Dezembro: O abate do javali (ou do porco). 33 miniaturas menores (iniciais historiadas) intercaladas no texto: das Horas da Virgem Maria e Ofício de Nosso Senhor, representando cenas da vida de Cristo, da Virgem Maria e de diversos santos. Encadernação: A encadernação (séc. XIX?), em simples pergaminho, não é da época. Lê-se na lombada em couro vermelho com letras douradas: Breviarium. Mss. XIV Sec. Proveniência: Real Biblioteca – Casa do Infantado O Calendário (Portugal) Bibliografia: BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, p. 12-15, mar. 1945. EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 2 55 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 3 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,001 Ladainha de Todos os Santos 56 2. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma. [102] f. [no geral, 24 linhas]: perg., il. color.; 210 x 135mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas laterais e finais de linha ornamentadas em arabescos com predominância de flores e frutos. Contém dois ex-libris, um com as armas e a divisa: surgit post nubila phoebus e o outro de Robert Heysham Sayre, South Bethlem (Filadélfia), com a divisa: Who Maintains Obtains 1900. Consta também, no ex-libris, uma nota manuscrita: “Presented by Mrs. Martha Nevin Sayre Oct. 3 1899”. “O f. 101 teve as três margens aparadas, tendo sido São João Evangelista colada, juntamente com o f. 102, sobre a guarda; com letra gótica francesa os f. 99v, 100 e 101r, dir-se-iam escritos por outra mão, com tintas preta e vermelha mais apagadas”. (Damião Berge) Conteúdo: • f. 1r – f. 6v Calendário em francês (cada mês em um lado – recto ou verso – do fólio) • f. 7r – f. 10v Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 11r – f. 14v Orações à Virgem Maria. 57 • f. 11r Obsecro te... • f. 13r O intemerata... • f. 15r – f. 49r Horas da Virgem Maria. • f. 49v – f. 51v Horas da Cruz. • f. 52r – f. 54r Horas do Espírito Santo. • f. 54v Em branco. • f. 55r – f. 62v Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 62v – f. 67r Ladainha de Todos os Santos. O Calendário • f. 67v – f. 93r Ofício dos Defuntos. • f. 93r – f. 99r Memórias da Santíssima Trindade, de São Miguel Arcanjo, São João Batista, São João Evangelista, São Pedro e São Paulo, São Estefânio, São Jacobo, São Lourenço, São Sebastião, São Nicolau, Santo Antônio, São Rocho, Santa Apolônia, Santa Maria Madalena, Santa Catarina, Santa Margarida, Santa Bárbara e, novamente, Santa Apolônia. • f. 99v – f. 100v Stabat... • f. 101r Quant on venet... • f. 102 Está colado na capa. 58 Imagens: 13 miniaturas de página inteira. 1ª miniatura: f. 7r - São João Evangelista. 2ª miniatura: f. 15r - A Anunciação. 3ª miniatura: f. 22r – A Visitação. 4ª miniatura: f. 29v – A Natividade. 5ª miniatura: f. 32v – O Anúncio aos Pastores. 6ª miniatura: f. 35v – Adoração dos Reis Magos. 7ª miniatura: f. 38v - Apresentação do Menino Jesus no Templo. 8ª miniatura: f. 41v – A Fuga para o Egito. 9ª miniatura: f. 46v – A Coroação de Nossa Senhora. 10ª miniatura: f. 49v – A Crucificação. 11ª miniatura: f. 52r – Pentecostes. 12ª miniatura: f. 55r – O Rei Davi. A Visitação 59 13ª miniatura: f. 67v – Ofício pelos Defuntos. 4 miniaturas menores. 1ª miniatura: f. 8r – São Lucas. 2ª miniatura: f. 9r – São Mateus. 3ª miniatura: f. 10r – São Marcos. 4ª miniatura: f. 11r – Nossa Senhora com o Menino Jesus no colo. A Crucificação Segundo nota de Herkenhoff (1996: 28): Segundo o livreiro M. Curvillier em carta a M. Campos em 25 de abril de 189943, algumas das miniaturas apresentam detalhes de construções de Paris, entre elas o palácio do Louvre. O missivista arrisca a afirmar que esse Livro de Horas seja obra de artista francês, da região de Paris, ou mesmo da abadia de Soissons. O outro motivo de atribuição a miniaturista francês está no tipo de decoração da moldura, de flores e frutos, com morangos e uvas. Encadernação: Encadernação original em couro marrom sobre madeira, com vestígios dos fechos. Segundo Herkenhoff, “a encadernação antiga atribui-se a Maioli”. 43 A carta está anexa ao livro. 60 Proveniência: Jacqueline Champeau (Paris – 1947) Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 8 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. p. 28 MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 8 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos: 50,1,010. O Calendário 61 3. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Paris. [160] f. [no geral, 17 linhas]: perg., il. color.; 180 x 130 mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas laterais e finais de linha ornamentadas em arabescos com predominância de folhas, flores e frutos. Contém a antiga localização manuscrita no f. 1r: 47-3-58 e assinaturas manuscritas às margens nos f. 1r (na parte superior a antiga localização e na margem inferior apenas vestígios). Consta nota no Cimélios (1885: 481): “segundo a autorizada opinião do fr. Camilo de Monserrate, fôra [sic] escrita [as assinaturas manuscritas nas margens inferiores] no A Anunciação XVI século. São atualmente indecifráveis os seus vestígios”. Faltam os f. 70 e f. 72. Carimbo da Real Biblioteca - Casa do Infantado nos f. 2v e 151v. Conteúdo: • f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em um fólio) • f. 13r – f. 16r Horas da Cruz. • f. 16v – f. 20v Horas do Espírito Santo. • f. 21r – f. 25r Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 25r – f. 31r Orações à Virgem Maria. O Calendário 62 • f. 25r Obsecro te... • f. 28v O intemerata... • f. 31v Em branco. • f. 32r – f. 87v Horas da Virgem Maria. • f. 88r – f. 99r Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 99r – f. 103v Ladainha de Todos os Santos. • f. 104r – f. 145r Ofício dos Defuntos. • f. 145r – f. 153v Memórias dos Santos. • f. 154r – f. 159r Ofício das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Salmos Penitenciais • f. 160r: eam in refrigério lucis et quie//tis. Amen. // Confiteor deo Beate marie et omnibus //sanctis quia peccavi mimis. cogitacione // locutione et opere. mea culpa. Ideo // precor te. Ora pro me. // Misereatur tui omnipotens deus. et di//mittat tibi omnia peccata tua. liberet // te ab omni malo. conseruet et confirmet // in omni opere bono. et perducat ad // vitam eternam. Amen. • f. 154r: Prosa fratris iohãnus Lemo//uicensis monachi clareuallen//sis. Salutatio devota ad yma//ginem saluatoris nostri... • f. 160v Em branco. Imagens: 12 miniaturas de página inteira (uma delas apresenta três, de menor porte) e duas miniaturas nas cercaduras (marginais). 63 1ª miniatura: f. 13r - A Crucificação. 2ª miniatura: f. 16v – Pentecostes. 3ª miniatura: f. 25r – A Pietá (miniatura marginal). 4ª miniatura: f. 28v – Adoração do anjo com a harpa (miniatura marginal) 5ª miniatura: f. 32r - A Anunciação (com três miniaturas menores: O Nascimento da Virgem Maria, a Consagração de Santa Genoveva e o Casamento da Virgem Maria). 6ª miniatura: f. 52v – A Visitação. 7ª miniatura: f. 62r – A Natividade. 8ª miniatura: f. 67r – O Anúncio aos Pastores. 9ª miniatura: f. 76v – A Fuga para o Egito. 10ª miniatura: f. 82r – A Coroação da Virgem. 11ª miniatura: f. 88r – O Rei Davi. 12ª miniatura: f. 104r – Um Funeral. O Rei Davi 64 Encadernação: A encadernação, em simples pergaminho, não é da época. Proveniência: Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal) Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 2 Carimbo da Real Biblioteca – Casa do Infantado EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL Rio de Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 3 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. p. 22 MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n.4 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,016 65 4. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen. [158] f. [no geral, 14 linhas]: perg., il. color.; 185 x 130 mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras e finais de linha ornamentadas em arabescos. As barras da decoração das miniaturas integram-se com os arabescos vegetais. Um reclamo no f. 140v: gaudebit. Contém a antiga localização manuscrita no f. 1r: 47–3–62. Carimbo da Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f. 1v e 112v. A Fuga para o Egito Conteúdo: • f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em um fólio) • f. 13r – f. 18v Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 18v – f. 26v Orações à Virgem Maria. • f. 18v Obsecro te... • f. 22v O intemerata... 66 • f. 27r – f. 50v Horas da Virgem Maria. • f. 51r – f. 56r Memórias do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, de São João Batista, São João Evangelista, São Pedro, São Mateus, São Marcos, Santa Maria Madalena, Santa Catarina, Santa Margarida e de Todos os Santos. • f. 56v Em branco. • f. 57r – f. 85v Horas da Virgem Maria. • f. 86r – f. 89r Horas da Cruz. • f. 89v – f. 92r Horas do Espírito Santo. • f. 92v Em branco. • f. 93r – f. 106v Os Sete Salmos Penitenciais. • f.106v – f. 112v Ladainha de Todos os Santos. • f. 113r – f. 158v Ofício dos Defuntos. Adoração dos Reis Magos Imagens: 12 miniaturas de página inteira. 1ª miniatura: f. 27r – A Anunciação. 2ª miniatura: f. 39r – A Visitação. 3ª miniatura: f. 57r – A Natividade. 67 4ª miniatura: f. 63v – O Anúncio aos Pastores. 5ª miniatura: f. 68r – Adoração dos Reis Magos. 6ª miniatura: f. 71r – A Apresentação do Menino Jesus no Templo. 7ª miniatura: f. 74v – A Fuga para o Egito. 8ª miniatura: f. 81r – A Coroação da Virgem. 9ª miniatura: f. 86r – A Crucificação. A coroação da Virgem 10ª miniatura: f. 89v – Pentecostes. 11ª miniatura: f. 93r – O Rei Davi. 12ª miniatura: f. 113r – Um Ofício dos Defuntos. Encadernação: Nota de Herkenhoff: “... foi reencadernado no século XIX no Rio de Janeiro por Manoel José Cardozo”. A encadernação atual é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional na década de 1980. 68 Proveniência: Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal) Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 4. MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 10 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. p. 28 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,019. 69 5. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma. [64] f. [no geral, 14 linhas]: perg., il. color.: 180 x 130 mm. Texto em latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas laterais e finais de linhas ornamentadas em arabescos com predominância de flores, frutos e ramagens. Não possui Calendário. Falta o f. 52 que, provavelmente, seria uma miniatura com a imagem da Coroação da Virgem. Os f. 37, f. 38, f. 39 e f. 40 foram encadernados erroneamente antes do f. 1. Nota de Damião Berge: “[...] na folha de guarda [provavelmente a anterior, que A Visitação não se encontra mais no códice] escrito à lápis a cota antiga Cód. 66 – 14 e a nota: compra a Isidoro de Castro”. Conteúdo: • f. 1r – f. 55v Horas da Virgem Maria. • f.11r [...] secundum usum curie romane...(escrito em vermelho) • f. 13v, f. 27v, f. 40v e f. 51v Em branco. • f. 56r – f. 59v Horas da Cruz. 70 • f. 60r – f. 63r Horas do Espírito Santo. • f. 63v e f. 64 Em branco. Imagens: 9 miniaturas de página inteira. 1ª miniatura: f.1r – A Anunciação. 2ª miniatura: f. 14r – A Visitação. 3ª miniatura: f. 28r – A Natividade. 4ª miniatura: f. 33r – O Anúncio aos Pastores. 5ª miniatura: f. 37r – Epifania. 6ª miniatura: f. 41r – Apresentação do Menino Jesus no Templo. 7ª miniatura: f. 45r – A Fuga para o Egito. 8ª miniatura: f. 56r – A Crucificação. O Anúncio aos Pastores 9ª miniatura: f. 60r – Pentecostes. 71 Encadernação: A encadernação é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional. Proveniência: Isidoro de Castro (comprado no final do século XIX) Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 7 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. p. 25 MANUSCRITOS: XVIII SÉC. PERGAMINHOS ILUMINADOS DOCUMENTOS Rio XII- de Nacional, E PRECIOSOS. Janeiro: 1973. Biblioteca Catálogo de exposição, n. 12 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,020. Epifania 72 6. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen. [132] f. [no geral, 15 linhas]: perg., il. color.; 195 x 125 mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas laterais e finais de linha ornamentadas em arabescos com predominância de folhas e frutos. Nas bordaduras figuras humanas, anjos e animais fantásticos. Nota de Damião Berge: “Nas três folhas de guarda iniciais foram aplicadas seda na cor verde. A segunda serve de fundo a um pergaminho rendilhado em cujo centro se vê pintado um medalhão representando Nossa Senhora do Rosário, tendo a seus pés uma bandeirola com a inscrição Regina S.S. Rosary”. Contém a antiga localização manuscrita no verso da terceira folha de guarda: 47–3–61. Carimbo da Capa com o super libris do marquês de Pombal Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f. 2v e 132v. O f. 128 está solto. Nas folhas de guarda contém as armas do marquês de Pombal. 73 Conteúdo: • f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em um fólio). No dia 24 de abril foi registrado posteriormente: “S. Robert abbs”. • f. 13r – f. 18r Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 18v – f. 26r Orações à Virgem Maria. • f. 18v Obsecro te... • f. 22r O intemerata... • f. 26v Em branco. • f. 27r – f. 46v Horas da Virgem Maria. Obsecro te • f. 46v – f. 50v Memórias do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, de São Miguel, São João Batista, São Nicolau, Santa Catarina, Santa Margarida, de Todos os Santos e da Paz. • f. 51r – f. 69v Horas de Nossa Senhora. • f. 70 Em branco. • f. 71r – f. 73v Horas da Cruz. • f. 74r – f. 76v Horas do Espírito Santo. 74 • f. 77r – f. 88v Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 88v – f. 93v Ladainha de Todos os Santos. • f. 94 Em branco. • f. 95r – f. 123r Ofício dos Defuntos. • f. 123v Les. xv. ioies nostre dame (contém apenas esta inscrição em vermelho). • f. 124r – 129v As Quinze Orações aos Prazeres de Jesus Cristo (em francês). • f. 129v – f. 132v As Sete Súplicas a Nosso Senhor (em francês). Nossa Senhora do Rosário Imagens: 8 miniaturas de página inteira. 1ª miniatura: f. 13r - Os Quatro Evangelistas (São João, São Lucas, São Mateus e São Marcos). No basde-page, uma jovem montada sobre um leão. 2ª miniatura: f. 27r – A Anunciação. “Na bordadura lateral, um putto entre folhas e cachos de uvas, abaixo deste uma torre gótica, suavemente roxa, erguendo-se de dentro de um tanque Os Quatro Evangelistas 75 quadrado da mesma cor, despejando, de três gárgulas de ouro, água neste tanque donde jorra por outra gárgula de ouro; no bas-de-page, um ser híbrido, de corpo e pernas azuis de cavalo, sem cauda, sem braços, peito e cabeça de homem idoso, coberto com uma tiara de ouro forrada de azul”. (Damião Berge). 3ª miniatura: f. 51r – A Natividade. Na bordadura lateral dois pastores. 4ª miniatura: f. 71r – Jesus Crucificado entre os dois ladrões. No bas-de-page, dois anjos, ajoelhados, segurando um escudo azul. 5ª miniatura: f. 74r – Pentecostes. “Na bordadura inferior [bas-de-page], um servo brandindo, com a direita, uma longa maça e segurando, com a esquerda, um enorme cão”. (Damião Berge) 6ª miniatura: f. 77r – O Rei Davi. Na bordadura lateral, um ser híbrido, metade animal, metade mulher. Pentecostes 76 7ª miniatura: f. 95r – Um Sepultamento. No bas-de-page, a morte, intimando um jovem. 8ª miniatura: f. 124r – A Pietá. No bas-de-page, um veado alado. Encadernação: Encadernação do século XVIII em marroquim vermelho, com rica ornamentação a ouro, lantejoulas brancas e vermelhas. Filetes e cortes em dourado. Super libris do Marquês de Pombal nas duas capas. Proveniência: Real Um Sepultamento Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal). Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 3 EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTHECA NACIONAL. Rio de Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo da exposição, n. 4 HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. p. 29 e p. 62. 77 MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 9 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) - Área de Manuscritos 50, 1, 022 A Pietá 78 7. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Auxerre. [81] f. [no geral, 19 linhas]: perg., il. color.: 170 x 111,5 mm. Texto em latim. Caracteres góticos, alternados em vermelho, preto e azul, com bordaduras laterais e bas-de-pages ornamentadas em arabescos com predominância de flores. Falta o f. 14. Nota de Damião Berge: “Faltam, entre as atuais f. 13 e 14, o início do Evangelho de S. João e foi cortada a penúltima folha; entre as f. 1 e 2 o encadernador inseriu uma f. avulsa, contendo o início das Horas do Espírito Santo (já existente no livro nos f. 50r até 52v) não pertence ao códice apesar de sua pintura antiga...”. Contém nota manuscrita à tinta na folha, em A Crucificação papel, de guarda anterior: “Compra feita a Joaquim da Silva Nazareth, em 12 de julho de 1906, por 150,000. Texto em três tintas”. Possui o carimbo da Biblioteca Nacional – Secção de Manuscritos em todos os fólios. 79 Conteúdo: • f. 1 Em branco. • f. 2r – f. 13v Calendário em francês (cada mês em um fólio) • f. 14r – f. 16v Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 16v – f. 20v Orações à Virgem Maria. • f. 16v Obsecro te... • f. 19r O intemerata... • f. 21r – f. 46r Horas da Virgem Maria. • f. 46v Em branco. • f. 47r – f. 49v Horas da Cruz. • f. 50r – f. 52v Horas do Espírito Santo. • f. 53r – f. 60r Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 60r – f. 62v Ladainha de Todos os Santos. • f. 63r – f. 80r Ofício dos Defuntos. • f. 80v e f. 81 Em branco. Pentecostes 80 Imagens: 6 miniaturas de página inteira. 1ª miniatura: inserida entre os f. 1 e o f. 2 – Pentecostes. No verso, bordadura lateral à esquerda. 2ª miniatura: f. 21r – A Anunciação. No bas-de-page aparece um animal com duas pernas, em azul e ouro, com rosto humano num enorme elmo de ouro. 3ª miniatura: f. 47r – A Crucificação. 4ª miniatura: f. 50r – Pentecostes. 5ª miniatura: f. 53r – Davi e Golias. 6ª miniatura: f. 63r – A Morte de pé em um sarcófago. Bordadura lateral e basde-page ornamentados em arabescos nos f. 16v e somente bordadura lateral nos f. 26v, f. 32v, f. 35v, f. 37v e f. 43v. Encadernação: A encadernação é em pergaminho contemporâneo. Proveniência: Davi e Golias Joaquim da Silva Nazareth (compra em 1906) 81 Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 5 MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 11 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,023. Texto com carimbo 82 8. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma. [118] f. [no geral, 16 linhas]: perg., il. color.: 125 x 90 mm. Texto em latim. Caracteres semigóticos, alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores, com bordaduras, tarjas e finais de linha ornamentadas em arabescos. Contém a antiga localização manuscrita: cód. 66 – 2. As oito folhas de Texto guarda – quatro anteriores e quatro posteriores – são de um pergaminho mais novo, no verso da primeira folha está escrito a lápis, e repetido na folha seguinte, por outra mão e a tinta, a seguinte nota: “Foi comprado este precioso manoscrito em paris a um libreiro muito besta por 20 francos por um feliz acaso já me davão pelo mesmo e hera para negocio 300 francos eu pedi 2000”. Anotações manuscritas nos f. 16r, f. 82v, f. 117: Robert Chevalier e no f. 118: duas assinaturas de François Becquerel. Faltam três fólios: um entre aos f. 28 e f. 29 e dois entre os f. 82 e f. 83. Contém uma nota a lápis no fragmento que foi inserido entre os f. 90 e f. 91: “Esta folha veio já cortada ao meio. Raymond”. Os f. 1 e o f. 21 estão mutilados. Conteúdo: • f. 1r – f. 12v Calendário em latim (cada mês em um fólio) 83 • f. 13r – f. 15v Horas da Cruz. • f. 16 Horas do Espírito Santo, somente as Vésperas e as Completas. • f. 17r – f. 23r Incipit missa beate marie... • f. 23r – f. 28v Passagens dos Quatro Evangelhos. • f. 29r – f. 74v Horas da Virgem Maria. • f. 74v – f. 82v Orações à Virgem Maria. • f. 76r Obsecro te... • f. 82r O intemerata... • f. 80v Em branco. • f. 83r – f. 95v Os Sete Salmos Penitenciais. • f. 95v – f. 99v Ladainha de Todos os Santos. • f. 100r Em branco; • f. 101r – f. 116v Ofício dos Defuntos. • f. 117 e f. 118 Em branco. Imagens: Uma miniatura de página inteira. As Horas da Cruz 84 1ª miniatura: f. 101v – A Ressurreição de Lázaro. OBS: No bas-de-page do f. 13r aparece um brasão não identificado. Encadernação: A encadernação é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional. Notas de Damião Berge sobre a antiga encadernação: “Encadernação de 1926, pouco digna do ms. danificada pela broca; na lombada, de pano preto, lê-se, impresso a ouro: Manuscrito do XV século; capa coberta de papel marrom, imitando mármore; A Ressurreição de Lázaro folhas de guarda do mesmo papel, colada a uma f. branca, seguida de f., mais antiga, provavelmente de uma encadernação anterior, colada com a primeira f. do pergaminho em branco[...]”. Proveniência: Não foi encontrado nenhum dado sobre a sua proveniência. Bibliografia: BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 6 MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 5 Localização: Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,028. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1986. ARNS, Paulo Evaristo. A técnica do livro segundo São Jerônimo. 2.ed. revista e ampliada. São Paulo: Cosac Naify, 2007. ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro, 2005. ARRUDA, Susan Margaret de, CHAGAS, Joseane. Glossário de Biblioteconomia e Ciências afins. Florianópolis: Cidade Futura, 2002. ARTES DO LIVRO. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995. Catálogo de exposição. BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. Tradução de Marcelo Rede. São Paulo: Globo, 2006. BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991. BELO, André. História & livro e leitura. 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Disponível: http://www.realgabinete.com.br/coloquio/3_coloquio_outubro/paginas/14.htm> Acesso em: 09/01/2009 BIBLIOTECA NACIONAL DA ESPANHA Disponível em: http://www.bne.es BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA Disponível em: http://www.bnf.fr BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL Disponível em: <http://www.bn.pt> BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL Disponível em: <http://www.bn.br> BIBLIOTHÈQUE VIRTUELLE DES MANUSCRITS EN SUISSE Disponível em: http://www.e-codices.unifr.ch/fr 93 GLOSSÁRIO Antífona Versículos tirados da Bíblia, que o povo canta ou recita em determinados momentos da missa e de outras celebrações e, especialmente, no início e fim dos Salmos do Ofício Divino ou Liturgia das Horas (Falcão: Letra A). Assinaturas Numeração colocada no pé das folhas dos cadernos ou apenas na primeira folha da cada caderno; para tal numeração utilizavam-se letras associadas a números; destinava-se a indicar ao encadernador a ordem a seguir na encadernação do volume; no livro antigo ajudava a determinar o formato real (Faria e Pericão, 1988: 29). Bas-de-page Parte inferior da página, onde são gravadas cenas, imagens que podem ou não se referir ao texto acima (Brown, 1994: 16). Bibliófilo Pessoa amante das edições originais, raras e curiosas de livros; os bibliófilos apreciam, sobretudo, a beleza tipográfica, a encadernação, a raridade e o material com que foi impresso e confeccionado um livro (Faria e Pericão, 1988: 38). Breviário Livro litúrgico que contém os textos necessários para celebração do Ofício Divino. Ver também Ofício Divino e Liturgia das horas (Falcão: Letra B). Caderno Conjunto de folhas de pergaminho ou papel dobradas ao meio, encartadas umas nas outras e constituindo os elementos de um manuscrito ou de um livro antigo (Faria e Pericão, 1988: 50-51). Camisas de Damasco Tecido, geralmente de seda, com que se envolviam os códices, principalmente os livros de horas, para sua proteção. Essas proteções eram assim chamadas porque o tecido vinha da cidade de Damasco (Rizzini, 1977: 38). Códice Do latim caudex (tábua de madeira). Em sua origem eram tabuinhas de madeira enceradas, onde se escreviam e depois eram agrupadas pelo dorso (lombada) mediante costura. Mais tarde foram 94 substituídas pelo papiro, depois pelo pergaminho. Diferente do rolo onde as folhas eram coladas umas as outras e, posteriormente, enroladas. O códice é formado por folhas soltas que se dobram e se encaixam umas nas outras para formar os cadernos. A vantagem é que se podia manipular com mais facilidade e escrever nos dois lados da folha. A palavra hoje se utiliza para denominar livros escritos à mão, principalmente sobre pergaminhos. O livro manuscrito, de uma certa antiguidade, composto por um conjunto de folhas de um material flexível (papiro, pergaminho ou papel), unidas entre si pela margem interna e geralmente protegidas com capas. (Walther e Wolf, 2005: 492). Codicologia Ciência que tem por objeto o estudo do livro manuscrito em todos os seus aspectos. (Ruiz García, 1988: 376). Colofão Contém indicações a respeito da produção de um manuscrito ou de um livro impresso antigo. É uma indicação tipográfica colocada na última página impressa da obra, onde figura o lugar, o impressor e data, seguida por vezes pela marca tipográfica; nos incunábulos e obras da primeira metade do século XVI, continha dados mais pormenorizados sobre o autor, título da obra e o dia em que a obra acabou de ser impressa. Corresponde ao Explicit dos manuscritos. (Faria e Pericão, 1988: 75). Copista Também era chamado de amanuense (servi ad manum), escriba, pendolista ou pendolário (de pendola, pena de ave usada para escrever). Era o indivíduo que produzia o códice, copiando um escrito ou escrevendo um texto ditado (Martínez de Sousa, 1992: 51-52). Ex-libris Serve para designar toda a menção de posse de um livro; pode ser manuscrito e figurar em qualquer lugar do livro; quando é impresso ou gravado em papel (ou excepcionalmente de couro) está geralmente colado no verso da capa; a identidade do possuidor pode ser indicada pelo nome (por vezes precedido da palavra ex-libris) ou suas iniciais, eventualmente pelas suas armas, um emblema ou uma divisa (Faria e Pericão, 1988: 136). 95 Explicit Termo que originalmente indicava que se havia terminado de desenrolar o livro em forma de rolo. Posteriormente, indicava o final do manuscrito, ou de um livro impresso antigo, muitas vezes informando acerca do nome do autor (ou do copista), o local e o título da obra. (Faria e Pericão,1988: 138). Factício É a reunião sob a mesma encadernação de volumes ou brochuras que tratam de assuntos freqüentemente diferentes assim como de autores distintos (Rouveyre, 1899: 159). Foliação É a numeração dos fólios, das folhas (folheação), de um documento de modo que um mesmo número servia para a página ímpar (recto) e para a página par (verso). (Martínez de Sousa, 1992: 53). Iluminura Conjunto de elementos decorativos e das representações com imagens executadas num manuscrito com a finalidade de embelezamento, utilizavando-se tintas luminosas, principalmente a prata e ouro (Brown, 1994: 69). Incipit Palavra que encabeça o texto escrito, nos manuscrito e nos incunábulos (Ruiz García, 1988: 381). Incunábulo Do latim incunabulum (berço, origem), palavra empregada para designar os primeiros impressos na Europa até 1501 (Brown, 1994: 72). Liturgia das Horas É a santificação das horas do dia pela oração oficial (Ofício Divino) que a Igreja, em união com Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo, eleva à Santíssima Trindade. Com o decorrer dos tempos, a Igreja foi santificando as principais horas do dia pela oração dos Salmos e leituras bíblicas, recorrendo assim à própria palavra de Deus. Desta maneira preparava e prolongava a celebração do Mistério Pascal, completando a Missa de cada dia. Embora seja oração de todo o povo, a celebração da Liturgia das Horas passou a ser especial obrigação dos sacerdotes e outros consagrados, fazendo parte do seu ofício exercido em nome da Igreja (Falcão: Letra L). 96 Livro É a forma genérica usada para designar um veículo portador de um texto escrito de certa extensão, independente de sua tipologia, com a finalidade de registrar e transmitir o pensamento. Desde a Antiguidade, o livro adquiriu várias formas – encontradas, principalmente, no Ocidente. As mais antigas são as tábulas ou tábuas, que eram pequenas placas de argila, madeira, marfim, ouro ou outro material que servissem de suporte para a escrita. A segunda forma corresponde ao rolo (rotulus) ou volumen, assim chamado porque o papiro ou o pergaminho de que era feito se envolvia em torno de uma vareta cilíndrica de madeira ou de metal, e a terceira forma do livro é o códice, que se constituiu na forma definitiva do livro. Todavia, é preciso atenção [...] com o tempo a palavra códice chegou até nós como sinônimo de manuscrito, que não é de todo exata, pois se todos os códices são manuscritos (isto é, escritos a mão), nem todos os manuscritos são códices (por exemplo, não o são os rolos, que eram manuscritos, nem os documentos eclesiásticos ou diplomáticos, as cartas etc.). (Matínez de Sousa, 1992: 49). Miniatura Pintura delicada que ilustra e decora as margens de um manuscrito ou de um livro; no início significava a simples execução manual, a cores, de um sinal ou inicial com o minium (a cor vermelha do óxido de chumbo), de onde deriva o termo miniaturista (Faria e Pericão, 1988: 227). Missal Livro litúrgico que contém os textos necessários (cantos, orações e leituras) para o sacerdote celebrar o ritual da missa (Brown, 1994: 87). Ofício Divino Conjunto de orações (salmos, antífonas, hinos, leituras bíblicas etc.) organizadas pela Igreja Católica para serem rezadas em determinadas horas do dia.Ver Liturgia das Horas. (Falcão: Letra O). Putto Termo utilizado no campo das artes, que se refere a uma criança nua, geralmente do sexo masculino, frequentemente representada com asas (Brown, 1994: 104). Raiado Operação prévia da escrita que consiste no traçado de linhas que servem de guia para o copista. Essas linhas podem ser feitas com ponta seca ou mediante a utilização de substância cromática. (Ruiz García, 1988: 387). 97 Reclamo Chamada da primeira palavra de um caderno no pé da última página do caderno precedente, usada para facilitar a ordenação dos cadernos de um livro pelo encadernador. (Faria e Pericão, 1988: 293). Recto Frente de uma folha de pergaminho ou papel; nos livros é sempre constituído pela página ímpar, ou seja, a que fica à direita, uma vez aberto o livro. Abreviatura r (Faria e Pericão, 1988: 293). Rubrica Título, título corrente, título de capitulo ou outros ornamentos traçados à mão em tinta de cor, geralmente em vermelho, num manuscrito ou incunábulo (Faria e Pericão, 1988: 306). Saltério Livro litúrgico que contém o conjunto dos Salmos (Falcão: Letra S). Santoral Livro onde são registradas as celebrações das festas em honra dos santos, com exceção daquelas entre 24 de dezembro e 13 de janeiro, que são conhecidas como o Próprio dos Santos. (Brown, 1994: 113). Scriptoria (plural), scriptorium Era o lugar onde trabalhava o copista medieval, individual ou coletivamente (Ruiz García, 1988: 389). Super libris Marca de propriedade estampada na encadernação de um livro (Ruiz García, 1988: 390). Verso Face inferior ou interna num fólio, em oposição ao recto. É a parte que fica à esquerda de quem lê. Abreviatura v (Ruiz García, 1988: 391). Vinheta Na origem, era o ornamento formado de folhas de videira que decorava os manuscritos; atualmente são pequenas ilustrações gravadas, impressas no alto da página ou intercalando o texto, prestando-se a inúmeras combinações (Faria e Pericão, 1988: 337).