FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA
BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL
APRESENTADO POR
VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE
Março 2009
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
PROFESSORA ORIENTADORA DOUTORA ANGELA MARIA DE CASTRO GOMES
PROFESSORA CO-ORIENTADORA DOUTORA VÂNIA LEITE FRÓES
VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE
CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Bens Culturais e Projetos Sociais.
Rio de Janeiro, Março 2009
Faillace, Vera Lúcia Miranda.
Catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do
Brasil/ Vera Lúcia Miranda Faillace. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
99 p.
Orientadora: Angela Maria de Castro Gomes
Dissertação – Mestrado Profissional em Bens Culturais
Projetos Sociais (Fundação Getulio Vargas – CPDOC)
1.Biblioteca Nacional (Brasil) - Catálogos
2. Livros de
Horas – Bibliografia - Catálogos 3. Iluminuras de Livros e
Manuscritos I. Gomes, Angela Maria de Castro II. Centro de
Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.
Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens
Culturais III. Título.
CDD - 091
2
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO POR
VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE
E
APROVADO EM 19/03/2009
PELA BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profa. Drª Angela Maria de Castro Gomes (Orientadora)
________________________________________________________
Profa. Drª Vânia Leite Fróes (Co-Orientadora)
_________________________________________________________
Prof. Dr. Vitor Manoel Marques da Fonseca
_________________________________________________________
Profa. Drª Letícia Borges Nedel (Suplente)
AGRADECIMENTOS
À professora Angela Maria de Castro Gomes, minha orientadora, que aceitou o desafio de se
aventurar, junto comigo, num trabalho de tema tão complexo. Agradeço por ter acreditado no
projeto, pelo carinho, compreensão e firmeza na orientação.
À professora Vânia Leite Fróes, minha co-orientadora, que me acolheu e me indicou caminhos
que tornaram o tema “tão complexo” uma pesquisa agradável e prazerosa.
À ex-diretora do Centro de Referência e Difusão da Fundação Biblioteca Nacional, Carmen
Tereza Coelho Moreno, que muito me apoiou e me permitiu o acesso aos cofres da área de
Manuscritos.
À amiga e companheira de trabalho Marta Ramos, pelo carinho, pela força e formatação desse
catálogo, sem a sua prestimosa colaboração, este trabalho não existiria.
À equipe de Manuscritos pela compreensão na ausência ao trabalho, pela leitura do trabalho, pela
força, paciência e incentivo nos momentos de desânimo.
Aos colegas Vera Lúcia Garcia Menezes, Cláudio Xavier e Hélio Jorge Garcia da Conceição, da
Coordenadoria de Microrreprodução, responsáveis pelas imagens desse trabalho.
Aos professores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, pela colaboração no abstract; Robson
Duarte, pela leitura e revisão do texto; e Vitor Manoel Marques da Fonseca, pelas idéias e
palavras de incentivo na banca de qualificação.
À minha turma do mestrado da FGV com a qual dividi idéias, angústias, tristezas e alegrias.
Ao frei Damião Berge (In memorian), cujo trabalho tornou-se a base desse catálogo.
Aos meus pais Enedina de Moraes Mendes, minha eterna gratidão pela compreensão, dedicação e
apoio durante o processo de realização desse trabalho e por toda minha vida, e Oscar Pereira de
Miranda (In memorian), amor eterno.
Aos colegas da Biblioteca Nacional, Sérgio Apelian, pela ajuda na classificação e Rosimeri
Rocha da Silva, pela encadernação; e a Marco Dreer, da Fundação Getulio Vargas, pela
impressão dos CD-ROMs.
À Fundação Biblioteca Nacional pelo apoio financeiro para a realização deste curso.
“Livros, mercadoria espiritual, tem como grande virtude desafiar
os séculos, trazendo-nos não apenas o seu conteúdo, mas a sua
concretude
de
CIVILIZAÇÃO”.
(Pina Martins)
livro
[...]
DOCUMENTO
DE
UMA
SUMÁRIO
I NTRODUÇÃO
7
I – PARTE: Apresentação
12
1- Os livros de horas na Idade Média
12
1.1 Livro de horas: liturgia e espiritualidade
14
1.2 Tipologia e estrutura
17
1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas
22
2- O acervo da Biblioteca Nacional
25
2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação do seu acervo
26
2.2 A área de Manuscritos
34
2.3 A coleção dos manuscritos iluminados e os livros de horas
37
3- A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional
39
3.1 Tipologia dos catálogos
39
3.2 Catálogo de manuscritos
40
3.3 O catálogo dos livros de horas
43
II – PARTE: Catálogo dos Livros de Horas
47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
GLOSSÁRIO
93
RESUMO
O presente trabalho objetivou identificar a coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional do
Brasil, com vistas a produzir um catálogo. A coleção abrange nove livros manuscritos
iluminados; neste trabalho, porém, foram identificados apenas os oito livros produzidos na
segunda metade do século XV. Quatro desses livros são provenientes da Real Biblioteca – Casa
do Infantado, que veio para o Brasil em 1808 com a família real portuguesa, tornando-se o núcleo
inicial da Biblioteca Nacional brasileira. Na primeira parte apresentamos as considerações
teóricas situando o período no qual o livro de horas se inscreve, destacando a sua importância,
tanto na sociedade quanto no desenvolvimento da piedade do homem na cristandade medieval.
Apresentamos também um breve histórico da Biblioteca Nacional, depositária da coleção dos
livros de horas e, concluindo a primeira parte, os dados referentes à construção do catálogo. A
segunda parte é o catálogo propriamente dito, onde os livros estão descritos obedecendo às
normas internacionais vigentes, viabilizando o acesso, a divulgação e o intercâmbio de
informações, promovendo assim a valorização e a preservação desses bens culturais e
patrimoniais.
Palavras-Chave: Livros de Horas; Manuscritos Iluminados; Manuscritos Medievais; Biblioteca
Nacional (Brasil) – Catálogos; Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal).
ABSTRACT
The objective of the present monograph is to identify the books of hours pertaining to the
National Library of Brazil, aiming at the production of a catalogue. The collection comprises nine
illuminated manuscript books; however, only the items produced in the second half of the 15th
century are identified in this work. The provenance of four of these books is the Portuguese
Royal Library – Casa do Infantado, which was transferred to Brazil in 1808, together with
Portugal’s Royal family, thus becoming the core of the Brazilian National Library. The first part
of the monograph includes theoretical considerations and situates the period in which the books
were created, also putting in relief their importance, both to medieval society and to the evolution
of devotions. A brief history of the National Library and information related of the catalogue’s
construction are also presented. The second part of the monograph presents the catalogue itself,
where the books are described according to intenational rules, enabling access, diffusion and data
interchanging, thus valuing and promoting the preservation of these cultural and patrimonial
assets.
Key-words: Books of Hours; Illuminated Manuscripts; Medieval Manuscripts; National Library
(Brazil) – Catalogues; Royal Library – Casa do Infantado (Portugal).
7
INTRODUÇÃO
Na década de 1990 discutiu-se muito o suposto desaparecimento do livro. O
texto eletrônico seria uma ameaça ao livro no seu formato tradicional? Muitas são ainda as
dúvidas e não podemos assegurar, precisamente, que futuro o livro terá face ao frenético
desenvolvimento tecnológico que nos oferece uma multiplicidade de novos meios de
comunicação e de difusão do conhecimento, em diferentes formas de linguagem midiáticas.
Segundo os historiadores do livro e da leitura, esta seria mais uma revolução na estrutura material
da cultura escrita – a tipografia de Gutenberg foi considerada a maior revolução tecnológica do
milênio – que estaria acrescentando um novo modo de inscrição e uma nova maneira de ler.
Porém, esses mesmos historiadores, são unânimes em afirmar que a chegada desses novos
dispositivos tecnológicos não tornaria obsoletos os antigos, do mesmo modo que esses formatos
podem perfeitamente coexistir. Por isso, segundo Chartier,
a biblioteca do futuro deverá ser, também, o lugar onde poderão ser mantidos o
conhecimento e a compreensão da cultura escrita nas formas que foram, e que ainda
são, majoritariamente as suas. A representação eletrônica de todos os textos cuja
existência não começa com a informática não deve, em absoluto, significar o
abandono, o esquecimento, ou pior, a destruição de objetos que foram os seus suportes.
Mais do que nunca, talvez, uma das tarefas essenciais das grandes bibliotecas é de
coletar, proteger, recensear - por exemplo, sob a forma de catálogos [...] - e, também,
tornar acessível a ordem dos livros que ainda é a nossa, e que foi a de homens e
mulheres que lêem desde os primeiros séculos da era cristã. Apenas preservando a
inteligência da cultura do códice podemos gozar a “felicidade extravagante” prometida
pela tela. 1
Não estamos aqui interessados em discutir o futuro do livro ou como será o
livro do futuro. O que nos preocupa no momento, nesta era da globalização e do mundo digital, é
a preservação e a disseminação de um formato original, de um objeto de arte que foi testemunho
de uma sociedade, de uma cultura, de um determinado período da história. Queremos registrar
aqui a trajetória desses textos manuscritos medievais, denominados livros de horas, para que
possamos entender no presente o que foram o livro e a leitura em seus primórdios.
1
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p. 107
8
Em 2008, teve início no Brasil e em Portugal uma grande comemoração para
celebrar o bicentenário da viagem da família real portuguesa ao Brasil. Para isso, foi criada, pelo
Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro e
Prefeitura de Petrópolis, a Comissão Organizadora das Comemorações pelos 200 anos da
chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil. Dois anos depois, em 2010, pois foi em 1810 que
aqui chegaram os pertences da Família Real, dentre eles a Real Biblioteca, festejar-se-a o
bicentenário da Biblioteca Nacional do Brasil.2
A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, deu à colônia um
novo significado, criando uma nova infra-estrutura para abrigar, no Rio de Janeiro, a Corte do
império português. Neste contexto, inúmeras instituições foram fundadas: a Escola Anatômica,
Cirúrgica e Médica (uma das primeiras escolas de ensino superior), a Academia Real Militar, o
Real Horto, o Museu Real, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e a Biblioteca Nacional, entre
outras. Para compreender melhor a importância do momento, transcrevemos aqui o comentário,
feito em 1835, por um ilustre viajante alemão chamado João Maurício Rugendas:
É em 1808 que começa realmente a história do Brasil e do Rio de Janeiro; e se desde
então não houve grandes acontecimentos, vitórias ou derrocadas sangrentas, suscetíveis
de atrair para o país a atenção de observadores superficiais, as modificações que
ocorreram no estado intelectual e material da antiga colônia, e principalmente da
capital, são da mais relevante importância (Viagem Pitoresca através do Brasil, p. 200).
Em novembro de 1807, quando o príncipe Regente d. João, a rainha d. Maria I e
toda a família real, diante da invasão de Portugal pelas tropas francesas napoleônicas, deixaram
Lisboa com destino ao Brasil, trouxeram a Real Biblioteca, com cerca de 60.000 peças, entre
livros, manuscritos, estampas, mapas, moedas e medalhas. Veio também a Livraria chamada do
Infantado. A Casa do Infantado, criada em 1654 por d. João IV,3 era uma organização patrimonial
dos segundos filhos dos monarcas portugueses, ou seja, do príncipe que não seria o herdeiro da
coroa. Este infante possuía o título de Senhor da Casa do Infantado, instituição que existiu por
180 anos e foi extinta pelo decreto de 18/03/1834, de d. Pedro IV4, sendo seus manuscritos e
impressos incorporados à Real Biblioteca. Apenas para se dimensionar a riqueza desse acervo,
2
A Biblioteca Nacional está localizada na Avenida Rio Branco nº 219, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
D. João IV, conhecido como O Restaurador, foi rei de Portugal no período de 1640 a 1656.
4
Foi o 27º rei de Portugal (1831-1834) e Pedro I, no Brasil (1822-1831).
3
9
vale observar que nele estava, provavelmente, o mais antigo livro de horas português de que se
tem notícia, O livro de horas de d. Fernando, rei de Portugal,5 que o teria encomendado ao artista
italiano Spinello Spinelli, no ano de 1378.
A coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira é o tema de
nosso trabalho. O termo livro de horas é utilizado para designar um livro na forma de um códice
manuscrito, que tem o pergaminho como um dos suportes mais utilizados Segundo Houaiss: 6 “é
uma outra determinação do livro com finalidade temática”. Os livros de horas da Biblioteca
Nacional, ainda pouco estudados, integram a coleção7 dos manuscritos iluminados da área de
Manuscritos. Como observa Herkenhoff (1996: 23), “a coleção de manuscritos europeus
iluminados da Biblioteca Nacional é peculiar na América Latina. São algumas dezenas de códices
e folhas de pergaminho esparsas da Idade Média e do Renascimento, além de alguns posteriores
[...]”.
O acervo abrange nove livros de horas, mas devido às características e estrutura
identificamos, neste trabalho, apenas àqueles produzidos na segunda metade do século XV.
Quatro são provenientes da Casa do Infantado – Real Biblioteca e os outros cinco foram
adquiridos pela Biblioteca Nacional, por meio de compras e doações. Eles figuram, parcialmente
identificados, no catálogo da exposição Manuscritos séc. XII-XVIII, pergaminhos iluminados e
documentos preciosos, organizado por Darcy Damasceno, ocorrida no ano de 1973, na Biblioteca
Nacional. Antes, porém, encontramos alguns deles arrolados no Catálogo da Exposição
Permanente dos Cimélios da Bibliotheca Nacional, de 1885 (ver também Anais da Biblioteca
Nacional, v. 11, 1883/4), descritos pelo antigo chefe da área de Manuscritos, Alfredo do Vale
Cabral. Contudo, nenhum dos trabalhos mencionados se compara ao estudo feito por frei Damião
Berge,8 na década de 1940. Trata-se de um estudo minucioso dos nove livros de horas – e mais
5
9º rei de Portugal, d. Fernando I, O Formoso, nasceu em 1315, subiu ao trono em 1367 e faleceu no ano de 1383.
HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. São Paulo: HUCITEC; [Brasília]: INL, Fundação Nacional PróMemória, 1983. V. 2, p. 31.
7
Segundo Pomian: “uma coleção, isto é, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou
definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado
preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público”. POMIAN, Karzysztof. Coleccção. Enciclopédia Einaudi,
v. 1: Memória e História. Lisboa: Imprensa Oficial/Casa da Moeda, 1984. p. 53
8
Frei Damião Berge nasceu no Rio de Janeiro em 31/8/1895. Pertenceu à Ordem Franciscana e foi professor titular
da Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ). Faleceu no Convento de Santo
6
10
outros breviários e missais – onde o franciscano tomou por base a obra clássica de Victor
Leroquais.9 Não temos notícia de sua publicação, mas uma cópia datilografada está disponível,
apenas para consulta, na área de Manuscritos. Essas fontes serviram de base para a construção
deste estudo.
Este trabalho está estruturado em duas partes. A primeira parte destina-se à
apresentação do catálogo dos livros de horas. Nela, três temas são abordados com o objetivo de
situar o livro de horas no tempo – os livros de horas na Idade Média –, na coleção – Biblioteca
Nacional do Brasil – e na forma de um catálogo. Tomamos como exemplo os catálogos
elaborados pela Biblioteca Nacional de Portugal por oferecerem melhores soluções ao nosso
propósito.
Não poderíamos tratar do tema sem falar da Idade Média, pois o livro de horas
é produto desse período. Neste sentido abordamos, ainda que de forma superficial, questões como
a espiritualidade, o surgimento dos livros de horas, sua tipologia, estrutura, uso e produção. Não
temos aqui a pretensão de nos investir de historiador para falar do medievo cristão dos últimos
séculos, pois todo o estudo realizado foi feito com o único propósito de ser aplicado no âmbito
deste trabalho.
Incursionar pela história da instituição em que trabalhamos é, além de uma
tarefa prazerosa, uma obrigação. Saber e dar a conhecer o fato de que metade desses livros de
horas são provenientes desse tesouro bibliográfico que é a Real Biblioteca, nos enche de orgulho
e nos faz sentir, cada vez mais, comprometidos e responsáveis pela preservação dessa parte
importante da memória cultural.
A segunda parte do trabalho é o catálogo propriamente dito. Oito livros estão
identificados: seus conteúdos, suas imagens, proveniências, encadernações, bibliografias e suas
Antônio (Rio de Janeiro) no dia 29/08/1976. O trabalho mencionado provavelmente foi escrito no ano de 1973 e,
uma cópia datilografada foi doada à Biblioteca Nacional em 1976.
9
Les livres d’heures manuscrits de la Bibliothèque Nacionale (França). Paris, 1925. 3 v. , obra de fundamental
importância para o estudo dos livros de horas.
11
respectivas localizações. Algumas imagens foram selecionadas com a finalidade de ilustrar a
descrição. Por fim, para facilitar o entendimento de termos especiais e técnicos empregados, –
alguns deles definidos no próprio texto – elaboramos um pequeno glossário. Esses termos estão
sublinhados em azul e remetem ao glossário localizado no final deste trabalho.
Mesmo tendo como objetivo primordial a guarda de acervos de memória, a
produção de instrumentos de pesquisa é também uma das funções da Biblioteca Nacional. Os
curadores de acervos não só devem se preocupar com a preservação de suas coleções, mas
também em promover, de uma maneira rápida e eficaz, o tratamento técnico de suas coleções,
incentivando com isso a elaboração de inventários, repertórios e catálogos, impressos ou em
formato eletrônico, que atendam as necessidades institucionais e à crescente exigência dos
pesquisadores, pois esses instrumentos são ferramentas importantes para dar a conhecer, ao
público em geral e ao pesquisador em particular, o acervo da instituição. Com isso, esperamos
que este catálogo sirva de base para muitos outros estudos, envolvendo múltiplas áreas do
conhecimento, como a história da arte, história do livro e da leitura, linguística, paleografia,
teologia etc.
Como bibliotecária e funcionária, atualmente responsável pela área de
Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, acreditamos ser esta uma boa oportunidade para
acrescentar mais um projeto às comemorações do bicentenário de chegada da família real ao
Brasil e da Biblioteca Nacional, em 2010: o de catalogar, divulgar e permitir o acesso, através de
um catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira. Eles constituem uma das mais
preciosas e belas coleções trazidas de Portugal pela Família Real, verdadeiro tesouro do
patrimônio cultural nacional.10
10
“Na acepção da Biblioteca Nacional da França, que aqui utilizamos, tesouro nacional é entendido como categoria
de bem cultural de excepcional valor bibliográfico, histórico, artístico, arqueológico, etc., devendo o Estado
assumir a suprema responsabilidade de sua preservação, e captação para o território nacional” (Ferreira, 2006: 1).
12
I – PARTE: Apresentação
1. Os livros de horas na Idade Média
Estabelecer marcos cronológicos é das tarefas mais difíceis para o historiador.
Embora se entenda a necessidade de periodizar e definir limites para o estudo de diferentes
épocas históricas, convém deixar claro a relatividade desta ação. A cronologia é um instrumento
de trabalho importante para o historiador e é a partir dela que ele demarca os limites de trabalho
para o exercício do seu ofício. Ressaltamos, porém, que é preciso não confundir os modelos
oferecidos pela cronologia com o vivido na história. O modelo é um artifício para a abordagem
de formações históricas, mas que não se confunde com o empírico.
O conceito de Idade Média, denominação extremamente genérica e ambígua,
tem sido alvo de grandes polêmicas e das pesquisas inovadoras pelo grupo da “nova história”
liderado por Jacques Le Goff. Este medievalista, além de discutir em várias de suas obras a
própria questão teórica da periodização,11 focaliza os problemas dos cortes de início e fim da
Idade Média, criticando a noção genérica de Idade Média. Por isso propõe uma designação mais
ampla a que denomina “Idades Médias” que seriam manifestações históricas diversas no longo
milênio chamado tradicionalmente de medieval. Jean-Claude Schmitt e, mais recentemente,
Jérôme Baschet retomaram nesta última década essa discussão a partir de idéias de Le Goff. A
influência desta historiografia francesa na Idade Média é muito grande, mas não é consensual. A
solidez dos argumentos apresentados pelos historiadores acima referenciados e a adoção destes
argumentos por grande parte dos historiadores brasileiros determinaram nossa escolha por estas
propostas.
Os limites da Idade Média são amplos e estendem-se, dentro da perspectiva
acima referenciada, por uma longa Idade Média. Para Le Goff (2008: 14), que acredita numa
11
Uma longa Idade Média (2008), As raízes medievais da Europa (2007), Em busca da Idade Média (2006), são
algumas delas.
13
longa Idade Média porque não vê sua ruptura no Renascimento, ela só termina no século XVIII
com a Revolução Francesa – nos domínios político, social e mental – e com a Revolução
Industrial na Inglaterra, no domínio econômico. No caso específico dos livros de horas, convém
considerar de forma relativa esta extensão cronológica, pois embora continuassem sendo feitos
manuscritos, o impacto da imprensa sobre esta produção deverá ser avaliado, estudo a que não
nos propomos a fazer no âmbito deste trabalho.
Do ponto de vista da periodização interna da Idade Média, o Groupe
d’Anthropologie Historique de l’Occident Médiéval – GAHOM – propõe uma divisão tripartida
(Baschet, 2006: 34-35): “Alta Idade Média (século V a X), seguida da Idade Média Central,
época de apogeu e de dinamismo máximo (século XI a XIII), enquanto os séculos XIV e XV,
mais sombrios, marcados pela peste negra, pelas crises e dúvidas, podem ser qualificados de
Baixa Idade Média [...]”, que se opõe à velha divisão bipartida da Idade Média.12
Este trabalho inscreve-se, explicitamente, no que se chamou, nesta divisão
tripartida, de Baixa Idade Média.
No início da Alta Idade Média a cultura letrada estava sobre o domínio da Igreja
Católica. Grande parte da vida intelectual se concentrava nas abadias, onde escrever era um
exercício espiritual. Na maioria das vezes os scriptoria eram monásticos, onde se faziam as
cópias dos manuscritos e se produziam os livros. Segundo Maria José Santos (2003: 75): “[...] a
escrita era um meio de fixar a palavra de Deus, de guardar a lembrança dos mortos, de invocar
Deus e os santos. [...] Se a escrita estava a serviço do divino ela era sagrada”. Era na biblioteca
dessas abadias que se guardava a produção desses scriptoria e também grande parte de toda a
herança livresca da Antiguidade. A produção, conservação e circulação do conhecimento estavam
ali concentradas. Por isso, a criação das universidades – século XII – foi um dos fatores que mais
contribuíram para a quebra desse monopólio e com elas, conseqüentemente, o avanço da cultura
laica.
12
Alta Idade Média (do século V ao século X) e Baixa Idade Média (do século XI ao século XV).
14
Como observa Fischer (2006: 206), “na Idade Média, possuir e ler um livro era
um privilégio dos ricos e daqueles de elevado status social”. Os livros de horas – aqui nos
referimos aos livros de horas manuscritos, pois, com o advento da tipografia, na segunda metade
do século XV, surgem também os livros de horas impressos – começaram a aparecer a partir do
século XII, sendo que, no período que vai de 1350 a 1480, tiveram seu apogeu. Estes livros, de
certa forma, tornaram-se o protótipo do livro em sua função simbólica: tinham grande utilidade
para o ensino e grande valor comercial, pois também eram uma refinada obra de arte. Por tudo
isso, o livro de horas manteve uma destacada popularidade até o século XVI. Porém, a partir daí,
os livros de horas manuscritos foram raríssimas exceções.
1.1 Livros de horas: liturgia e espiritualidade
A sociedade medieval – do século X até o final do Antigo Regime (Monarquia
Absolutista) – ainda segundo Le Goff (2007: 277), estava representada, ideologicamente, em três
grandes grupos sociais: os que oravam (oratores), os que guerreavam (bellatores) e os que
trabalhavam (laboratores). A função de orar ficava por conta dos clérigos e monges e as de
guerrear (os guerreiros) e trabalhar (os camponeses) por conta dos leigos. Como observa Schmitt,
“no seio da sociedade cristã, as funções dos clérigos e dos leigos são complementares [espiritual
e material], mas o papel mais ativo é de direito atribuído aos clérigos, que são os ‘pastores’. Os
outros são somente as ‘ovelhas’ que recebem de suas mãos os sacramentos e de sua boca a
palavra de Deus”.13
Como instituição detentora do poder espiritual e também material, a Igreja
Católica era reguladora de toda cristandade medieval. Cabia a ela o zelo e a assistência aos
leigos, o que se dava através da liturgia administrada pelo clero. Seguir o Evangelho era a única
regra, e o clero o único caminho para se chegar a Deus. Viver uma vida reclusa, disciplinada e em
constante oração era o caminho para se conseguir a remissão dos pecados e, conseqüentemente, a
13
Dicionário Temático do Ocidente Medieval, 2006. V. 1, p. 243
15
salvação. Segundo Vauchez,“o mosteiro era uma antecipação do paraíso, um pedaço do céu sobre
a terra”.14
Além do monopólio na elaboração do conhecimento, do controle a seu acesso e
a sua transmissão, a Igreja também era uma espécie de guardiã da escrita. O latim era a língua do
sagrado, de ritual, a língua da Igreja e poucos sabiam usá-la. Os livros eram copiados nos
scriptoria dos mosteiros. Mas, segundo Zumthor (apud Baschet, 2006: 182), “apesar da crescente
utilização da escrita, a oralidade e os gestos rituais continuam a dominar a vida social. Mesmo se
as obras literárias são conservadas por escrito, continuam essencialmente feitas para ser contadas
ou cantadas: a voz predomina sempre a letra”.
A técnica de leitura que predominava na Antiguidade era a leitura em voz alta,
para os outros ou para si mesmo. Ou seja, era uma leitura preocupada em reproduzir o sentido e o
ritmo da escrita, até porque os textos eram escritos sabendo-se que seriam lidos em voz alta. Nos
mosteiros e conventos medievais, durante a Alta Idade Média, praticava-se tanto a leitura coletiva
(feita nos espaços comunitários por ocasião dos ofícios, durante as refeições e exercícios
espirituais), como a leitura individual (que era solitária: estudo e meditação). O livro mais lido
era a Sagrada Escritura, pois constituía a base da espiritualidade monástica. Embora um pouco
longa, a citação é esclarecedora:
Sua cronologia [história da leitura] se organiza a partir da localização de duas
mutações fundamentais. A primeira incide sobre a transformação da modalidade física,
corporal, do ato da leitura e insiste sobre a importância decisiva da passagem de uma
leitura necessariamente oralizada, indispensável ao leitor para a compreensão do seu
sentido, a uma leitura possivelmente silenciosa e visual. Essa revolução diz respeito à
longa Idade Média, quando a leitura silenciosa, antes restrita aos scriptoria monásticos,
entre os séculos VII e IX, ganha o mundo das escolas e das universidades no século
XII, e dois séculos mais tarde, as aristocracias leigas. [...] Segunda observação, em
forma de pergunta: não seria necessário dar mais atenção às funções da escrita que ao
modo de sua leitura? Se tal for o caso, uma ruptura tão essencial deve localizar-se no
século XII, quando a escrita não é investida de uma função apenas de conservação e
memorização, mas é composta e copiada com a finalidade de uma leitura, entendida
como trabalho intelectual.15
14
15
A Espiritualidade na Idade Média Ocidental, 1995. p. 39
CHARTIER, op. cit., p. 98-99
16
Estava-se diante de uma dupla revolução: a passagem de uma leitura oralizada
para uma leitura silenciosa e visual, que objetivava algo que podia ser chamado de “aprendizado”
de novas relações sociais. Mais uma vez, Chartier é preciso: além de promover novas relações
entre os homens, “a conquista da leitura solitária possibilitou as novas devoções que modificam
radicalmente as relações do homem com a divindade”.16 Numerosos textos religiosos foram
traduzidos em língua vernácula e oferecidos aos leigos como meio de se buscar um
relacionamento individual, direto com Deus (e por meio dele com os homens), por meio da
leitura e da meditação para alcançar o bem-estar espiritual e a salvação. Nessa brecha
fundamental, encontram-se os livros de horas da Baixa Idade Média.
Os livros de horas escritos em vernáculo [era uma tendência, pois eram escritos em
latim, porém, muitos deles já apresentavam determinadas partes de sua estrutura em
língua vernácula], suportes de uma devoção privada e individual que pedia leitura
silenciosa e meditação, são característicos das cortes do século XV. A multiplicação de
imagens pintadas nos livros acompanha com freqüência a passagem para a língua
vernácula e a mudança de público (Schmitt, 2006: 245).
.
No final do século XII ocorreram grandes mudanças que marcaram a vida dos
que habitavam a Europa ocidental: no conceito de trabalho, no panorama das cidades, na
contagem do tempo e, o que está diretamente ligado ao nosso tema, no surgimento de uma nova
espiritualidade que terá seu ápice no século XIII com a reforma franciscana.
Havia um
sentimento geral de renovação da cultura cristã, em que o clero detinha o monopólio do sagrado –
tudo o que dizia respeito às funções relativas ao poder espiritual era reservado à Igreja –, mas ao
leigo era possibilitada uma espiritualidade mais intimista, mais individualizada: uma nova forma
de se comunicar com Deus.
O homem da cristandade medieval passava grande parte de sua vida em ofícios
religiosos.
Leigos e religiosos rezavam no mesmo livro: o Saltério, série de 150 salmos
encontrados em toda Bíblia. A maioria deles era em latim, alternando a seqüência dos salmos,
incluindo hinos, cantos fúnebres, louvores, exaltações reais e canções de peregrinos. Mas,
basicamente, o saltério é um livro da Igreja Católica para uso eclesiástico. Com essas mudanças
na espiritualidade dos homens, sentiu-se a necessidade de um livro mais acessível aos leigos. Um
16
História da Vida Privada, 1992. V. 3, p.119
17
livro não litúrgico, de devoção privada e que não fosse submetido a qualquer controle ou revisão
por parte das autoridades eclesiásticas, como acontecia com os saltérios, missais (livros litúrgicos
para as missas) e breviários (para as orações breves do cotidiano). Em outras palavras, tal livro
deveria ser uma composição personalizada de um novo texto de devoção secular que refletisse a
mudança ocorrida em relação à postura do leigo perante sua espiritualidade. Diz Alberto Manguel
em Uma história da leitura (2001: 153-4) que
[...] não surpreendeu que um dos livros mais populares da época fosse o livro de
orações pessoais ou Livro de Horas, comumente representado em pinturas da
Anunciação. Escrito em geral à mão ou impresso em formato pequeno, em muitos
casos iluminados com requinte e opulência por mestres da arte, continha uma coleção
de serviços curtos denominados “Ofício menor da abençoada Virgem Maria” (uma
compilação de cerimônias religiosas curtas), recitados em vários momentos do dia e da
noite. Tendo por modelo o oficio divino – serviços completos ditos diariamente pelo
clero –, o ofício menor que compreendia os Salmos e outros trechos das Escrituras,
bem como hinos, ofícios dos mortos, orações especiais para os santos e um calendário.
Esses volumes pequenos eram eminentemente instrumentos portáteis da devoção,
podendo ser usado pelo crente tanto em serviços públicos da igreja como em orações
privadas [...].
1.2 Tipologia e estrutura
Por volta do século XI foi criado um livro com a intenção de condensar, em um
só volume, todos os textos do Ofício Divino – ou Liturgia das Horas – da Igreja Católica, e de
facilitar seu transporte pelos monges que se deslocavam com freqüência. Este livro litúrgico era o
breviário, do qual se originou o livro de horas. Neste sentido, o livro de horas se apropriou de
várias partes da estrutura dos breviários, mas foi o Pequeno Ofício de Nossa Senhora – Officium
parvum beate Marie Virginis – o texto que lhe serviu de base.
Segundo Leroquais, apesar de proximamente ligados ao breviário, e apesar de
retirarem destes seus elementos principais: o calendário, o pequeno ofício de Nossa
Senhora, os salmos penitenciais, as ladainhas, os sufrágios e o ofício dos defuntos, os
livros de horas dele se distinguem nitidamente. Prova-o certo número de
características. A principal é a sua absoluta independência do ciclo litúrgico. [...] E
mais: eles não se revestem de nenhum caráter obrigatório, sua recitação depende da
iniciativa particular. Sua composição escapa à vigilância da Igreja (Católica); ao
retirar certos elementos do breviário, o editor ou o copista deles dispõe a seu arbítrio;
ora acrescenta-lhes preces encontradas ninguém sabe onde, ora lhes insere textos
18
inteiramente profanos. Enfim, se o breviário é o livro do sacerdote e do religioso, as
Horas o são do leigo.17
Os livros de horas são também chamados de Horas, devido à palavra latina
Horae que assinala o momento em que se iniciam os Ofícios, neste caso, o de Nossa Senhora, ou
seja, as Horas da Virgem Maria – Incipiunt horae Beatae Mariae Virginis. A palavra Horas deve
ser sempre empregada no plural porque designa o livro no seu conjunto. O tema central dos livros
de horas é o culto à Virgem Maria. O fervor do culto a Nossa Senhora e suas múltiplas facetas
fizeram da Virgem a expressão mais popular de fé e de piedade na Idade Média. Escritos
geralmente em latim, os livros de horas seguiam a sequência canônica estabelecida pela Liturgia
das Horas nos breviários dos clérigos. Elas foram determinadas pela passagem:
“Sete vezes ao dia, eu te louvarei Senhor, pela equidade dos teus julgamentos”
(Salmo 118, 164).
A Igreja Católica adotou a prática judaica de recitar orações em horas fixas do
dia (pela manhã, ao meio-dia e no fim do dia). São Bento determina em regra para seus monges
sete horas de orações, seguindo o que diz a passagem do salmo acima mencionado. Acrescentouse mais uma oração noturna, as “completas”, somando assim oito horas canônicas, que deveriam
ser celebradas segundo o badalar dos sinos. São elas:
MATINAS (meia-noite)
LAUDES (três horas da madrugada)
PRIMA (seis horas)
TERCIA (nove horas)
SEXTA (doze horas ou meio-dia)
NOA ou NONA (quinze horas)
VÉSPERAS (dezoito horas ou ao cair da noite)
COMPLETAS (vinte e uma horas ou depois do pôr do sol)
17
Apud Berge, [1973?]: capítulo II, p. 4
19
As horas canônicas (cada uma das horas indica um oficio divino ou liturgia)
podem ser divididas em duas categorias: Horas menores (Prima, Tercia, Sexta e Noa) e as Horas
maiores (Matinas, Laudes e Vésperas). Nas menores devem ser rezadas as orações que evocam
um acontecimento do Evangelho ou dos Atos dos Apóstolos. Por exemplo, na Noa é lembrada a
hora da morte de Jesus na cruz. As maiores são as horas principais e, como tais, devem ser
celebradas pela manhã e tarde. Já as completas, acrescentadas posteriormente, devem ser rezadas
antes do repouso da noite. Recitando essas orações, nessas horas determinadas, o homem
medieval cumpria o seu dever de cristão: orar incessantemente a Deus pedindo-lhe por si e por
todos os homens.
Um livro de horas modelo, segundo Berge,18 tem a seguinte estrutura:
1. Partes essenciais – o Calendário, as Horas da Virgem Maria, os Sete Salmos
Penitenciais, a Ladainha de Todos os Santos, o Sufrágio dos Santos (ou
Memórias ou Comemorações) e o Ofício dos Defuntos;
2. Partes secundárias – as Passagens dos Quatro Evangelhos, as orações
Obsecro te e O intemerata, 19 as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo,
Os Prazeres de Nossa Senhora (orações em louvor dos prazeres de Nossa
Senhora) – e os Sete Pedidos a Nosso Senhor;
3. Partes acessórias – são variáveis: os Salmos Graduais (os salmos de 119 até
133), o Saltério de São Jerônimo (uma coletânea dos mais belos e
expressivos versos dos salmos) e preces em geral.
Numa análise mais pormenorizada:
►O Calendário – o livro de horas começa sempre com um calendário, onde são
registradas (com letras nas cores vermelha, preta e dourada) as principais
18
19
Berge, Op. cit.,Capítulo II, p. 5 – 20.
Tradução para o português: Eu te imploro e Oh! Imaculada.
20
festas cristãs (como Natal, Páscoa etc.), os feriados e os dias dos Santos
(universais, regionais e locais). A Idade Média herdou o calendário romano
(ou Juliano, introduzido por Júlio César em 45 a.C.) em que o ano continha
365 dias divididos em doze meses. Os dias do mês eram nomeados de
Calendas (kalendae – 1º dia do mês), Nonas (nonae – 5º dia do mês) e Idos
(idus – 13º ou 15º dia do mês). Às vezes, de acordo com o seu portador,
contém informações necrológicas, aniversários, nascimentos e batizados. O
calendário é um dos principais elementos para se identificar a origem ou o
destino do manuscrito;
►As Passagens dos Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João);
►Orações à Virgem Maria (Obsecro te e O intemerata);
►As Horas da Virgem Maria é a parte mais importante das Horas. Este
Pequeno Oficio de Nossa Senhora se manifesta através de salmos, hinos,
lições, e orações destinadas à leitura ou recitação nas oito horas canônicas.
Como as lições, que aqui figuram, variam de igreja para igreja, as Horas da
Virgem também se constituem um importante elemento de identificação;
►As Horas da Cruz – textos mais curtos que as Horas da Virgem, compõem-se
de um hino, uma antífona e uma oração para cada hora;
►As Horas do Espírito Santo – um hino, uma antífona e uma oração;
►Os Salmos Penitenciais – são sete salmos: 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142, por
expressarem o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados;
►A Ladainha de Todos os Santos ou Litania – é uma súplica que obedece uma
certa ordem com categorias invariáveis dos santos;
►O Ofício dos Mortos ou dos Defuntos – orações pelos mortos, que deveria ser
rezada diante do defunto ou precedendo o enterro, ou orações por aqueles que
estivessem em perigo de morte;
►O Sufrágio dos Santos – em memória ou invocação aos santos, também
chamado Santoral;
►Preces em geral – “[...] talvez, a parte mais rica, mais pitoresca e mais
variada do livro, aquela onde aparece mais expressivamente a alma medieval.
O que lhe dá mais vivo colorido é a presença, se não exclusiva, certamente
21
frequentíssima, da oração extra-litúrgica, particular, nascida espontaneamente
da inspiração do povo, que lhe traduz, no momento dado, as aspirações e
necessidades. Alheia aos ares solenes da prece eclesiástica, é uma conversação
imediata da alma, simples, sem cerimônias, humilde e confiante, com Deus ou
com os santos. O valor de suas várias composições pode ser bastante desigual:
umas são altamente inspiradas, outras não se elevam acima das necessidades
materiais e terrestres. Entretanto, todas elas vivem da seiva de uma piedade
sincera.” (Leroquais, apud Berge, Capítulo II: 18).
Esta disposição era bastante flexível, adaptando-se à devoção particular da
pessoa a quem o livro era destinado.
Nem todos os livros de horas eram decorados, pois, isso dependia muito do
poder e da condição financeira do proprietário, mas, em geral, para o ponto de vista artístico, o
grande atrativo nestes livros manuscritos medievais são as suas ilustrações: as miniaturas e as
iluminuras. No momento em que era feita a encomenda, escolhia-se também a ornamentação que
o manuscrito deveria conter.
Por miniatura entende-se a ilustração propriamente dita, qualquer desenho,
letras ornadas e historiadas, vinhetas espalhadas pelo texto, cenas pintadas, pinturas de página
inteira etc., escritos ou pintados com as tintas originais do mínio (cor vermelha). A iluminura,
parte ornamental da decoração, tem todos os caracteres da grande pintura, sendo desenhos
ilustrativos com abundância e variedade de cores. Neles, empregava-se também, além das tintas,
detalhes em ouro e prata (daí a expressão manuscrito iluminado, porque refletem a luz).
Svend Dahl diz sobre a natureza das iluminuras, no primeiro período da Idade Média,
pertenciam mais à arte decorativa do que propriamente à ilustração. Os desenhos eram
feitos com a intenção de decorar o livro e não a de ilustrar o texto: dessa forma, é
freqüente que as ilustrações dos manuscritos nada tenham com o seu assunto, ao
contrário do que modernamente se pratica. [...] os autores costumam assinalar que
muitos livros piedosos são ornados com gravuras bastante livres, da mesma forma por
que os animais fantásticos ofereciam motivos para o desenho das iniciais, sem que o
leitor procurasse entre uma coisa e outra a menor correlação (apud Martins, 1996:
108).
22
Toda a beleza da apresentação era destinada a Deus no momento em que o
leitor fazia a sua oração, sem a mediação da igreja, que até então havia monopolizado a escrita
religiosa. Progressivamente, estas ilustrações vão se desenvolvendo, saindo do domínio dos
mosteiros, passando para as mãos dos iluminadores laicos nos castelos e nas oficinas dos bairros
das universidades, perto dos copistas e dos livreiros.
Para Fischer (2006: 154), “no final da Idade Média, as iluminuras e miniaturas,
incluídas nas páginas desses livros, constituíam o principal trabalho artístico da Europa
ocidental”.
1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas
Ao contrário dos grandes formatos utilizados para os cultos na Igreja Católica,
os livros de horas eram pequenos e portáteis, seguindo o novo formato que estava sendo utilizado
para os breviários. De fácil leitura, podiam ser comodamente sustentados nas mãos e
transportados para qualquer lugar. Devido ao seu pequeno tamanho, podiam ser utilizados pelas
crianças, mas, a princípio, eram destinados às mulheres, provavelmente pela ênfase nas orações à
Virgem Maria, mãe de Cristo, exemplo de virtude para todas elas.
Como são livros de orações cotidianas, destinados à sociedade laica, tinham
como proprietários os aristocratas, principalmente aqueles de sangue real como os reis, rainhas e
duques. Posteriormente, também foram apreciados pelos burgueses endinheirados, mesmo os
analfabetos, que os utilizavam para admirar suas miniaturas. Não podemos esquecer de que nem
todos os livros de horas eram ricamente decorados, pois existiam aqueles mais modestos,
unicamente para uso cotidiano. No geral, contudo, esses livros refletiam mais a vaidade de seus
proprietários – em muitos eles apareciam retratados na figura do doador – do que a sua devoção.
Fora a parte devocional, os livros de horas exerceram, na Idade Média e no
Renascimento, um papel de suma importância social, servindo para o ensino da leitura nas
23
residências abastadas e da nobreza. Conta-se que Luis IX, o santo, aprendeu a ler neles. Muitas
vezes era o único livro da família, uma vez que a Bíblia era muito cara. Ainda assim, eram
reveladores da riqueza de seus proprietários, sendo comprados como jóias preciosas, que
valorizavam as coleções dos bibliófilos endinheirados. Figuravam nos testamentos e inventários
como peças de alto valor (bens móveis), que os proprietários deixavam registrados a quem seriam
destinados. Serviam também como presente do noivo para sua prometida e para os monarcas em
ocasiões solenes, como, por exemplo, sua coroação (vide as grandes coleções dos museus e
bibliotecas nacionais).
Em sua grande maioria, os livros de horas tiveram como suporte o pergaminho.
Devido a suas inúmeras vantagens técnicas e de conservação, este material substituiu o papiro.
Quando é de boa qualidade, é um material suave, fino, aveludado, dobrando-se com facilidade,
sendo, acima de tudo, durável. O pergaminho, pele de animal – as mais utilizadas eram as de
cabra, ovelha, carneiro e vitela – de extraordinária durabilidade, era adequado como suporte para
um livro de uso quotidiano. Seu preparo era bastante trabalhoso e lento. Primeiro se retirava a
pele do animal; em seguida, ela era lavada em água corrente e fria; por fim, mergulhada numa
tina de madeira ou de pedra para um banho de água e cal. Depois as suas duas faces – a do pêlo,
parte mais porosa e amarelada, e a da carne, mais lisa e mais branca – eram aplainadas para que
fossem retiradas todas as asperezas. Então, eram cobertas por um pó fino de calcário branco e,
finalmente, alisadas, polidas e postas, esticadas, para secagem. Uma vez secas, eram cortadas em
folhas que eram dobradas ao meio, criando-se dois fólios. Cada fólio tem dois lados: o recto e o
verso. As pessoas encarregadas desta tarefa eram chamadas de pergaminheiros.
Depois do pergaminho preparado, o copista começava seu trabalho fazendo
linhas horizontais nos fólios para que estas o orientassem na hora da escrita. São os chamados
raiados, característicos de um manuscrito medieval. As linhas eram assinaladas com um estilete
feito de osso com pontas de metal, e as tintas utilizadas eram nas cores vermelha, marrom, verde,
às vezes, um combinado delas. Usadas com freqüência nos manuscritos medievais, as tintas eram
obtidas por meio de diversas fórmulas que utilizavam metais, minerais e vegetais. Com a tinta
vermelha – rubrica –, cor mais utilizada, se escreviam os cabeçalhos – títulos, epígrafes e iniciais
– e com a preta o texto principal. As cores azul e verde eram mais raras.
24
Para escrever, os copistas utilizavam pena de aves, em geral de ganso, ou um
estilete de ponta fina. Sabiam escrever vários tipos de letras, sendo a mais comum nos livros de
horas a letra gótica. Como observa Martínez de Sousa (1992: 28), “o gótico foi utilizado desde o
século XII até o XV nos códices; suas letras são de traço quadrado e anguloso; substituiu, durante
esse período, a letra romana e foi a primeira a ser gravada pelos tipógrafos em Mogúncia”.
Depois de copiado o texto, o copista deixava espaços em branco com
indicações – às vezes se escrevia nas margens, com letras bem pequenas –, ou esboços, para o
miniaturista a respeito do tema das ilustrações que, em geral, eram os mesmos: a Anunciação, a
Visitação, a Natividade etc. Depois de prontos os desenhos, a etapa seguinte era a iluminação
(ouro ou prata), depois as cores.
A última fase na produção de um livro manuscrito consistia em reunir os
diferentes cadernos para encadernar o livro. Os tipos de encadernação mais comum na Idade
Média eram os feitos de madeira, revestidos com pergaminho ou couro. Alguns livros de horas
possuíam encadernações luxuosas, feitas com materiais valiosos como o ouro, a prata, o marfim,
pérolas e pedras preciosas, mas não era o habitual. Conhecem-se alguns manuscritos medievais
sem encadernação e muitos dos que chegaram até nós (são poucos os que têm a encadernação
original) apresentam encadernações simples. “Quase todos os livros traziam fechos e marcadores
esmaltados com flores, esculpidos com cabeças de animais e cravejados de pérolas e pedras
preciosas. Os mais valiosos guardavam-se em camisas de damasco – tecido de seda lisa fabricado
em damasco – e defendiam-se do atrito com cravos de cobre pregados no dorso” (Rizzini, 1977:
38). As encadernações também refletiam a riqueza do encomendante, pois elas eram comparadas
a um relicário que protegia e adornava o valioso objeto.
O livro manuscrito medieval, decorado com miniaturas, era muito valioso e,
consequentemente caro. Seu comércio, portanto, era bastante lucrativo. O preço do suporte (as
folhas de pergaminho) era muito elevado. Mais elevado ainda era o preço da cópia, pois bons
copistas eram raros e trabalhavam lentamente. Acrescentava-se, ainda, o valor do tipo de escrita,
do número de fólios, formato, presença de ilustrações, encadernações etc. Só com o aparecimento
25
do papel, das universidades, das bibliotecas e, principalmente, da imprensa é que o livro – aqui
no sentido de conjunto de cadernos costurados ordenadamente – vai se tornar mais acessível e
mais difundido.
Concluindo esta primeira parte, a Apresentação, queremos aqui explicar que
este texto se destina tanto a um público amplo – para quem ele foi especialmente escrito – como
para um público especializado que, devido ao conjunto de novas informações, se interessará mais
pela segunda parte deste trabalho: o catálogo propriamente dito.
2. O acervo da Biblioteca Nacional
O conceito de biblioteca nacional tem evoluído ao longo dos anos e, com o
frenético desenvolvimento do conhecimento, vem deixando as bibliotecas nacionais com uma
grande responsabilidade no sentido de acompanharem o progresso bibliográfico de seus países.
Estas bibliotecas nacionais que, desde a época da Revolução Francesa (século
XVIII), são conceituadas como depositárias e preservadoras da cultura e da memória de um país,
não têm o caráter de popular, pois, se o objetivo primordial é salvaguardar o patrimônio
bibliográfico nacional, elas deveriam ficar restritas aos pesquisadores especializados. Segundo
Jannice Monte-Mór,20, “seu acervo tem por objetivo oferecer, no futuro, a documentação
suficiente ao juízo da produção intelectual do passado e, no presente, os necessários elementos de
informação, que condicionam um consciente e harmonioso desenvolvimento cultural”.
Reproduziremos aqui o conceito atual, utilizado pela Biblioteca Nacional
brasileira que se encontra disponível no site21 da Fundação Biblioteca Nacional.
Insere-se a Biblioteca no conceito de nacional, em contraposição ao de pública por
apresentar as seguintes características: ser beneficiária do instituto do Depósito Legal;
20
21
Anais da Biblioteca Nacional, 1971. V. 91, p.360
http://www.bn.br
26
possuir mecanismo estruturado para compra de material bibliográfico no exterior a
fim de reunir uma coleção de obras estrangeiras, nas quais se incluam livros relativos
ao Brasil ou de interesse para o país; elabora e divulga a bibliografia brasileira
corrente através do Boletim Bibliográfico; é o centro nacional de permuta
bibliográfica, em âmbito nacional e internacional.
2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação de seu acervo
A Biblioteca Nacional brasileira teve como núcleo inicial a chamada Livraria22
que o rei de Portugal d. José I, O Reformador, – rei de Portugal no período de 1750 a 1777 –
mandara organizar em substituição à Real Biblioteca da Ajuda. Esta fora destruída pelo incêndio
ocorrido no Paço da Ribeira, em consequência do terremoto em Lisboa, no dia 1º de novembro de
1755. Foi esta preciosa coleção, de propriedade da família real portuguesa, cujo acervo remonta à
própria história da monarquia portuguesa, que veio para o Brasil, denominando-se de Real
Biblioteca. Cabe aqui registrar que, na época, existia uma outra biblioteca em Lisboa,
denominada Real Biblioteca Pública da Corte, localizada no Terreiro do Paço. Ela fora criada por
decreto, em 1775, e instituída pela rainha d. Maria I, no ano de 1796,23 e nunca deixou Portugal.
Como já escreveram seus biógrafos, a Real Biblioteca teve uma origem acidental
e cheia de aventuras. O incêndio gerado em decorrência do terremoto destruiu o Palácio da
Ribeira, sede do governo português onde estava localizada a livraria do rei. Tal livraria tivera seu
primeiro núcleo organizado pelos soberanos d. João I (O da Boa Memória, 1385-1433), d. Duarte
(O Eloqüente, 1433-1485) e d. Afonso V (O Africano, 1438-1481).
Depois do terremoto, já instalado no Palácio da Ajuda, o rei de Portugal, que
teve como missão reconstruir Lisboa, d. José I, avô de d. João VI, tratou também de juntar o que
restara do incêndio e, com a ajuda de seu poderoso ministro – o Marquês de Pombal que baniu de
Portugal as ordens religiosas, incorporando seus acervos aos bens do rei –, organizar uma nova
biblioteca, adquirindo valiosas coleções. Como observa Carvalho (1994: 32),
Num folheto intitulado Processos célebres do Marquês de Pombal (1882), relata-se
que a Biblioteca Real da Ajuda, menina dos olhos d’El Rei, nunca parou de crescer:
22
Livraria era o termo adotado na época para designar biblioteca particular. Eram coleções especiais, acessíveis a
poucos e que ficavam em salas genericamente chamadas de gabinetes.
23
Hoje é a Biblioteca Nacional de Lisboa. Anais da Biblioteca Nacional, 1981. v.101, p. 132.
27
seja com os livros dos Cônegos de São Vicente de Fora, quando estes foram
transferidos para o Mosteiro de Mafra e ficaram privados de suas coleções, seja com
os numerosos espólios de bibliófilos condenados à morte ou ao exílio.
No Palácio da Ajuda foram reunidas duas coleções distintas: a Livraria Real (ou
Real Biblioteca, que era a biblioteca privativa dos monarcas) e a Livraria da Casa do Infantado
(destinada a formação dos príncipes reais). Em pouco tempo a nova biblioteca real foi
recomposta.24
A fim de reconstruir o acervo da Real Biblioteca, encarregavam-se
representantes do reino Português para que buscassem, em outros centros culturais da Europa,
material bibliográfico e coleções especiais de interesse para a biblioteca do rei. O acervo também
foi acrescido de valiosas aquisições por compra e doações, as mais relevantes dentre elas foram:
►O valioso acervo do bibliófilo dr. Nicolau Francisco Xavier da Silva,
adquirida por compra em 1756;
►A Biblioteca da condessa de Redondo, com grande volume de livros e
manuscritos de história;
►A Livraria de José Maria Monteiro de Mascarenhas, dono de um jornal
português, rica em dicionários e livros de genealogia, de origem castelhana,
inglesa e portuguesa;
►O acervo do cardeal Mota e de seu irmão;
►A mais preciosa delas, a doação que fez, entre os anos de 1770 a 1773, o
abade de Santo Adrião de Sever, Diogo Barbosa Machado. Sua livraria
reunia 4.301 obras em 5.764 volumes, abrangia todos os ramos do
conhecimento, retratos, álbuns de estampa de caráter religioso, mapas e um
conjunto de factícios agrupados por temas. Segundo Cunha (1931: 131),
a entrega da coleção fez-se por partes, em caixotes numerados com a relação do
que cada uma continha. As listas se sucedem mesmo depois da morte de Diogo
Barbosa Machado, ocorrida em 1772, tendo ficado encarregado das entregas
‘seu comensal, protegido e amigo’ o Padre Francisco José da Serra Xavier
[futuro bibliotecário da Real Biblioteca].
24
No ano de 1795, a biblioteca escapou de um outro incêndio ocorrido no antigo Barracão Real da Ajuda, onde
estava localizada.
28
Muitos livros pertencentes a esta coleção possuem o ex-libris do padre
Francisco José da Serra Xavier, acredita-se que foram incorporados à
coleção do abade antes da doação feita ao rei d. José I;
►Os livros do Colégio de Todos os Santos (Ilha de São Miguel – Açores),
patrimônio da Companhia de Jesus, expulsa e extinta pelo Marquês de
Pombal no ano de 1759. Esses livros permaneceram durante muito tempo
encerrados em 15 caixotes e, quando foram abertos, em 1804, estavam
comidos por bichos e podres. A ordem foi então queimá-los. Poucos foram
os que se salvaram;
►Estampas raras e códices manuscritos do inglês Guglielmo Dugood;
►Os livros da livraria do dr. Miguel Franzini, num total de 192 volumes,
incorporados à livraria em 1773;
►Um caixote de livros do dr. Bartholomé Ulloa, em 1779, vindo de Madri;
►A coleção, contendo 1.234 obras, do cardeal da Cunha, comprada depois de
sua morte ocorrida no ano de 1793.
Pouco mais se adquiriu, pois, após o incêndio de 1755, havia poucas livrarias
disponíveis no mercado. A organização e o acondicionamento dessas aquisições ficava por conta
dos funcionários da biblioteca, a maioria religiosos. Esta era frequentada pelos membros da
Família Real e da Corte, visitantes ilustres ou representantes do corpo diplomático.
A preciosa coleção versava sobre diversos assuntos: religião, história, filosofia,
belas artes, ciências naturais etc. e diversos materiais: atlas, livros impressos, manuscritos,
estampas etc. Foi essa biblioteca – junto com a Livraria da Casa do Infantado – que chegou ao
Brasil em três remessas: as duas primeiras em 1810 trouxeram 230 caixotes e a terceira, e última,
87 caixotes em 1811.
Em 1807, quando a família real portuguesa veio para o Brasil, o príncipe regente
d. João não conseguiu trazer, naquela viagem, a sua biblioteca real, cujo acervo lhe conferia
prestígio e poder. O que veio com ele foram documentos políticos e administrativos do Estado
lusitano e, no navio Medusa, em 34 caixotes, apenas a biblioteca de Antônio Araújo, o conde da
Barca.
29
Para a longa viagem rumo ao Brasil, o acervo da Real Biblioteca foi dividido
em 3 lotes e acondicionado em caixotes. Na correria para embarcar em 1807 os caixotes foram
esquecidos no porto, permanecendo, por algum tempo, debaixo de sol e chuva, até retornarem
para o Palácio da Ajuda. Sua transferência começou a ser feita em 1810. O primeiro lote – que
trouxe também, em segredo, os 6.000 manuscritos da coroa – veio acompanhado pelo servente da
Real Biblioteca, Joaquim José de Oliveira. O segundo saiu de Lisboa em março de 1811, na
fragata Princesa Carlota. Trazia a Biblioteca Real em 66 caixotes e aportou no Rio de Janeiro em
junho, sendo acompanhada pelo bibliotecário Luis Joaquim dos Santos Marrocos. O terceiro e
último lote saiu de Lisboa em setembro de 1811, com 87 caixotes de livros. Foram embarcados
na charrua São João Magnânimo, sob a guarda do servente José Lopes Saraiva. Em novembro de
1811 estava reunida toda a biblioteca real em terras brasileiras. “Estava salvo o grande acervo
cultural português, salvo do incêndio, salvo da destruição e da pilhagem próprias de uma guerra,
salvo dos perigos de uma longa e incerta travessia marítima” (Carvalho, 1994: 38).
Para acomodar o acervo foi requisitado, através do Decreto Real de 27 de junho
de 1810, o andar superior do Hospital da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo,
próximo ao palácio e capela reais. Como o espaço era insuficiente, um novo decreto foi assinado,
revogando o primeiro, para que o acervo ocupasse também os porões e as catacumbas do mesmo
hospital. A data da assinatura deste novo decreto, 29 de outubro de 1810, tornou-se a data oficial
de fundação da Biblioteca Nacional brasileira.
Havendo ordenado, por Decreto de 27 de Junho do presente ano, que nas casas do
Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à minha Real Capela, se colocassem a
minha Real biblioteca e gabinete dos instrumentos de física e matemática, vindos
ultimamente de Lisboa; e constando-me pelas últimas averiguações a que mandei
proceder, que o dito edifício não tem toda a luz necessária, nem oferece os cômodos
indispensáveis em um estabelecimento desta natureza, e que no lugar que havia
servido de catacumba aos Religiosos do Carmo se podia fazer uma mais própria e
decente acomodação para a dita livraria: hei por bem, revogando o mencionado Real
Decreto de 27 de Junho, determinar que nas catacumbas se erija e acomode a minha
Real biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real
Fazenda toda despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido
estabelecimento. O Conde de Aguiar, do Conselho de Estado, Presidente do Real
Erário, o tenha assim entendido e faça executar por este Decreto somente, sem
embargo de quaisquer leis, regimentos ou disposições em contrario. Palácio do Rio de
30
Janeiro, em 29 de Outubro de 1810. Com a rubrica do Píncipe Regente Nosso Senhor.
25
Dois religiosos, que vieram com a família real, foram designados para dirigirem
a Real Biblioteca: frei Gregório José Viegas – da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
confessor de uma das infantas – que administrou a biblioteca no período de 1810 a 1821 e o
padre Joaquim Dâmaso – da Congregação do Oratório de Lisboa – encarregado do arranjamento
e conservação, trabalhando com ajudante da biblioteca, Luis Joaquim dos Santos Marrocos.
Já no Rio de Janeiro, o acervo da Real Biblioteca continuou crescendo.
Chegavam remessas de livros vindas de Portugal a título de propinas,
26
impressos advindos da
Impressão Régia – instalada no Rio de Janeiro em 1808 – e aquisições de coleções particulares.
Uma importante doação foi feita à biblioteca no dia 13 de novembro de 1811 pelo provincial do
Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro. Foram doados livros – aproximadamente 2.500
volumes – e manuscritos originais – dentre eles os da Flora Fluminensis – pertencentes ao
espólio do frei José Mariano da Conceição Velloso, falecido naquele convento. Em 1813 foram
incorporadas ao conjunto doado as pranchas de cobre gravadas e as obras impressas pela extinta
Oficina do Arco do Cego, em Lisboa. O ilustre botânico brasileiro dirigiu a Oficina no período de
1799 a 1801.
De 1811 até o ano 1814, a consulta ao acervo só era permitida mediante
consentimento régio. A partir de 1814 a biblioteca foi plenamente aberta à população.
Muitas outras importantes aquisições foram feitas no período (dentre elas, em
1815, as coleções de Manuel Inácio da Silva Alvarenga e do arquiteto real José da Costa e Silva,
em 1818; em 1822 a coleção Araujense que pertenceu ao conde da Barca) e muitos dos
encarregados – ou prefeitos, como eram chamados – contribuíram para o enriquecimento do
acervo da real livraria do príncipe regente d. João, aclamado rei de Portugal, Brasil e Algarves,
em 1818. Com seu retorno a Portugal, em 1821, e no ano seguinte o Brasil se tornando
25
26
Decreto de 29 de Outubro de 1810. A área de Manuscritos da Biblioteca Nacional possui uma cópia.
“Em relação a este assunto que se prende ao que modernamente se denomina Contribuição Legal, um parêntese se
faz necessário. A Real Bibliotheca foi, desde o século XVIII, acrescida também com a entrega de ‘propinas’
enviadas pela Mesa Real Censória” (Cunha, 19: 140). Ou seja, a entrega de um exemplar de tudo que fosse
impresso nas oficinas tipográficas em Portugal.
31
independente, a Real Biblioteca permaneceu no Brasil e foi incorporada ao patrimônio da nova
nação brasileira,27 como Schwarcz observa (2002: 24),
[...] é possível pensar além do valor pecuniário da biblioteca. Os livros são símbolo e
sinal de independência: independência política, mas também independência nas
idéias, independência no pensar e nas possibilidades de construir utopias e projetos. A
biblioteca custou caro, mas, por certo, simbolizava e valia muito. Valia muito por
conta de seus tesouros – entre gravuras de Rembrant, Callot, Mantegna ou Durer; os
incunábulos, os livros de horas, a bíblia de Mogúncia, a enciclopedie, os mapas e
plantas, os desenhos e manuscritos, as cartas de Vieira e tantos mais que tomaríamos
o resto das páginas desse livro com tantas lembranças.
Em 1858, uma nova mudança. Dessa vez o acervo foi transferido para o Largo
da Lapa (rua do Passeio, no prédio onde hoje se encontra a Escola de Música da Universidade
Federal do Rio de Janeiro), onde permaneceu até 1910. Só nesse ano a biblioteca ganhou a sua
sede definitiva – na gestão de Manuel Cícero Peregrino da Silva (de 13/7/1900 a 9/2/1924) – na
avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro.
O governo imperial já determinara, em 1822, que um exemplar de tudo o que
fosse impresso pela Tipografia Nacional deveria ser entregue à Biblioteca Imperial e Pública da
Corte. Essa legislação foi-se aperfeiçoando por atos dos anos de 1847, 1853, 1865. Porém, é só
com a República, por meio do decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907 – complementado
por Instruções de 19 de dezembro de 1930, que ampliam a sua abrangência –, que a medida
ganha instruções para a sua execução.28 Esta é a Lei do Depósito Legal, cujo principal objetivo é
assegurar o registro e a guarda da produção intelectual nacional, através da doação de um
exemplar de toda obra editada no país, além do controle, a elaboração e a divulgação da
Bibliografia Brasileira corrente.
Por meio da Lei do Depósito Legal, de permuta com outras instituições e de
aquisições, por compra e doações, o acervo da Biblioteca Nacional cresceu e cresce
assustadoramente. O seu atual prédio, que será centenário no próximo ano de 2010, foi projetado
pelo General Francisco Marcelino de Sousa Aguiar. A construção esteve a cargo dos engenheiros
27
A questão dos bens deixados pela Família Real portuguesa no Brasil foi resolvida com a intermediação da
Inglaterra na qual o governo imperial pagou a Portugal, através da Convenção Adicional ao Tratado de Paz,
Amizade e Aliança (29 de agosto de 1825), dois milhões de libras esterlinas. Deste montante, 800 contos de réis
(250.000 libras esterlinas) correspondem à compra da biblioteca.
28
Continua em vigor.
32
Napoleão Muniz Freire e Alberto Faria. De estilo eclético, em que se misturam elementos
neoclássicos e de art noveau, seus seis andares – só de armazéns – foram projetados para
receberem 400.000 volumes. No entanto, hoje já comportam mais de nove milhões de peças. Na
década de 1990, o então presidente Fernando Collor de Melo doou à Biblioteca Nacional um
depósito no Cais do Porto do Rio de Janeiro, para lhe servir de anexo. Este depósito ainda hoje
está sendo reformado, e alguns andares já estão em condições estruturais para o armazenamento
de determinados acervos, como por exemplo, os periódicos já microfilmados e o acervo de peças
teatrais da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
Destacaremos aqui, a título de ilustração, algumas das principais coleções ditas
especiais, que foram sendo incorporadas ao acervo da Biblioteca Nacional após a partida de d.
João VI para Portugal até nossos dias. Como observa Cunha (1981: 125), “refletem as diversas
coleções a personalidade e formação cultural de seus anteriores proprietários ou doadores, como
também são da maior importância para o conhecimento de certos períodos históricos, das
mentalidades que formaram as elites culturais [...]”. São elas: coleção Francisco de Mello Franco
(1824); José Bonifácio de Andrada e Silva (1838), Pedro de Angelis (1853), Antônio Corrêa de
Lacerda (1853), Alexandre José de Mello Moraes (1872), Alexandre Rodrigues Ferreira (1873),
Castelo-Melhor (1879), Rio Branco (1881), José Augusto Saldanha da Gama (1884), Salvador de
Mendonça (1884), José Antônio Marques (1889), Francisco Antônio Martins (1890), d. Theresa
Christina Maria (doada por d. Pedro II, em 1891), Benedito Ottoni (1911), Arquivo da Casa dos
Contos (1903/1938), Arthur Ramos (1956), Editora José Olympio (2006) e muitas outras.
Hoje, a Biblioteca Nacional é um órgão do Governo Federal, vinculado ao
Ministério da Cultura. Sob o novo estatuto de fundação - Fundação Biblioteca Nacional (FBN) –
ela ampliou seu campo de atuação, passando a coordenar as estratégias fundamentais para o
entrelaçamento de três dos mais importantes alicerces da cultura brasileira: a biblioteca, o livro e
a leitura. Assim, a instituição coordena o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e a política de
incentivo à leitura, por meio da Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura, diretamente ligada ao
Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL).
Estão sob a responsabilidade da FBN os seguintes serviços: o Escritório de
Direitos Autorais (EDA), para registro e averbação de direitos de autor e a Agência Nacional do
33
International Standard Book Number (ISBN), que coordena e incentiva o uso do sistema
internacional de numeração de livros e atribui códigos às editoras e às publicações nacionais para
efeito de divulgação e comercialização. Também oferece os serviços de visitas guiadas, pesquisa
à distância, produção de catálogos, inventários, revistas, exposições e os Anais da Biblioteca
Nacional, “destinados a divulgar os manuscritos interessantes da Biblioteca, e trabalhos
bibliográficos de merecimento” (www.bn.br). Seu primeiro volume corresponde ao ano de 1876.
A Biblioteca Nacional desenvolve atividades de processamento técnico
biblioteconômico, gestão de armazenamento, atendimento ao público, conservação, restauração,
encadernação e reprodução – microfilmagem, fotografias e arquivos digitais. Gerencia o Plano
Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros, através de núcleos estaduais de
microfilmagem com vistas à preservação de toda a produção jornalística do país e o Plano
Nacional de Recuperação de Obras Raras – Planor –, que tem por objetivo identificar as obras
raras existentes nas diversas bibliotecas brasileiras, a fim de elaborar o Catálogo Coletivo do
Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN).
Suas áreas de acervo guardam, além de obras gerais (como livros, monografias,
manuais, teses, cd’s, folhetos etc.) e publicações seriadas (como jornais, revistas etc.), acervos
especiais, como manuscritos, livros raros, documentos iconográficos (fotografias, gravuras,
desenhos etc.), documentos cartográficos (mapas, atlas etc.), registros sonoros (fitas
audiomagnéticas, discos, cd’s etc.) e partituras musicais.
Para a execução de suas atividades, a FBN conta, em linhas gerais, com a
seguinte estrutura organizacional: um presidente, três diretorias – Centro de Processos Técnicos,
Centro de Administração e Planejamento e Centro de Referência e Difusão –, três coordenadorias
– Coordenadoria Geral de Pesquisa e Editoração, Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura e
Coordenadoria Geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – e duas bibliotecas
subordinadas – Biblioteca Euclides da Cunha (no Rio de Janeiro) e Biblioteca Demonstrativa de
Brasília (Distrito Federal). Todas essas coordenadorias estão organizadas em diversas divisões,
seções, núcleos e setores.
Primeiro Real Biblioteca, depois Biblioteca Real e Pública da Corte, no período
do império, foi Biblioteca Imperial e Pública da Corte e, no dia 4 de março de 1876, assumiu
34
oficialmente o título de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Somente em 1948, tornou-se
Biblioteca Nacional. Hoje, a Biblioteca Nacional possui, como mencionado, um acervo estimado
em 9 milhões de peças (livros, manuscritos, periódicos, estampas, mapas, partituras etc.), recebe
em suas salas de consultas uma média anual de 64.000 usuários e, segundo dados da Organização
das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco -, é considerada uma das dez
maiores bibliotecas do mundo e a primeira da América Latina. Por isso, fazemos valer a
consideração de Herkenhoff (1996: 20), para quem:
Nenhuma instituição cultural do país pode superar a Biblioteca Nacional e exibir uma
história bicentenária de participação ininterrupta da sociedade através de doações,
legados, cumprimento da contribuição legal, reflexão, edições e pesquisa. Uma das
grandes lições de sua própria história, é que a Biblioteca Nacional para o Estado e a
sociedade civil é orgulho e responsabilidade, é signo possível de sua cultura e opulência
espiritual.
2.2 A área de Manuscritos
Aqueles manuscritos que vieram “em segredo” com o servente José Joaquim de
Oliveira, na primeira remessa da Real Biblioteca, em 1810, os chamados manuscritos da Coroa,
nunca foram incorporados ao acervo da Real Biblioteca. Tratava-se de uma coleção de 6.000
códices que estavam em um arquivo reservado na Livraria da Congregação dos Oratorianos no
Paço das Necessidades, em Lisboa. Como eram documentos reservados, o visconde de Vila Nova
da Rainha, na qualidade de guarda-jóias da coroa, conservou-os sob sua proteção imediata, em
uma casa do governo situada na rua do Ouvidor (no centro do Rio de Janeiro). Grande parte
destes manuscritos, mais especificamente aqueles que diziam respeito à história de Portugal,
retornaram com d. João VI, em 1821 e, o restante, com o padre Joaquim Dâmaso, em 1822.
Todavia, os manuscritos da Coroa foram organizados e classificados em um
catálogo, datado de 1813, por Luis Joaquim dos Santos Marrocos. Listados em 75 páginas, os
documentos predominantes retratavam a política portuguesa e suas relações diplomáticas.
Segundo Schwarcz (2002: 283), “os livros da Biblioteca eram uma jóia para expor; já os
manuscritos cumpriam uma função política delimitada, representando o testemunho de lutas,
35
políticas e operações militares portuguesas”. Hoje, esses manuscritos se encontram na Biblioteca
da Ajuda, em Lisboa.
Durante muitos anos, os manuscritos se constituíram em um dos três grandes
pilares da biblioteca: os impressos, os manuscritos e as medalhas. Como observa Gútiez (1999:
81), “os códices têm constituído tradicionalmente a aristocracia do livro [...] a Biblioteca devia
reunir antes de tudo ‘livros originais’ ou ‘livros manuscritos’. [...] na cultura escrita, todo
conhecimento se apoiava em outro conhecimento e os primeiros e originais estavam os códices”.
A área de Manuscritos surgiu como complemento do acervo da Real Biblioteca
– Livraria do Rei e Casa do Infantado – com, aproximadamente, mil códices manuscritos e
avulsos, muitos dos quais de uso privativo de d. José I e de d. João VI. Eram papéis e documentos
oficiais escritos pelo próprio Dâmaso sobre a administração da Real Biblioteca. Seus primeiros
administradores designaram o depósito dos manuscritos como Arquivo e depois com Gabinete
dos Manuscritos. Já terminando o período Imperial, com a organização administrativa da
Biblioteca Nacional pelo Decreto nº 6141, de 04/09/1876, passou a denominar-se 2ª SeçãoManuscritos. Na República, em meados do século XX, passa a se chamar Seção de Manuscritos,
depois Divisão de Manuscritos e hoje, oficiosamente, Área de Manuscritos.29
Três catálogos sobre o acervo manuscrito foram elaborados. Dois de pequeno
porte, que podemos chamar de inventários, anteriores à administração de Ramiz Galvão (18701882), um feito pelo bispo de Anemuria (1822-1831) que arrolava alguns códices em ordem
alfabética e o segundo, feito pelo cônego Januário da Cunha Barbosa (1839-1846), este de maior
porte, um pouco mais completo, organizado também em ordem alfabética de autor e/ou título, em
três volumes. Um terceiro, o mais completo e importante de todos, foi organizado por Alfredo do
Vale Cabral (1882-1890), a partir do ano de 1873 e publicado em cinco volumes no ano de 1878.
Sobre Vale Cabral, diz Teixeira de Melo na introdução do catálogo (1878: 11), “[...] manda a
justiça se tribute neste lugar a devida homenagem pelos relevantes serviços que assim prestou ao
país e às letras”.
29
Os dados aqui registrados foram coletados nos apontamentos dos antigos chefes da área de Manuscritos, Waldir da
Cunha e Carmen Moreno.
36
A área de Manuscritos está subordinada à Coordenadoria de Acervo Especial
que, por sua vez, integra a estrutura do Centro de Referência e Difusão. Esta área possui um
precioso conjunto documental, parte do patrimônio documental brasileiro. Estimado em
oitocentos mil itens (códices, manuscritos avulsos, fotografias, estampas, mapas, recortes de
jornais etc.), é composto por arquivos privados e coleções de documentos manuscritos doados ou
adquiridos de particulares, além de uma coleção de três mil impressos – livros e revistas – para
auxiliarem no desenvolvimento das atividades de trabalho local. No acervo também estão
armazenados microfilmes e cd’s. Como o acervo possui características que exigem
conhecimentos específicos para seu adequado tratamento, a área procura combinar os
procedimentos gerais vigentes na Biblioteca Nacional, no que se refere ao tratamento da
informação, aos princípios e técnicas da biblioteconomia e da arquivologia, ditadas pelo Arquivo
Nacional.
Este acervo abrange documentos que vão desde o século XI-XII – o mais antigo
é um Evangeliário escrito em grego –, até o século XX, nos mais variados tipos de escrita,
idiomas e suportes. São registros medievais, como os livros de horas, bulas papais, cartas
jesuíticas, documentos do período colonial, papéis de Estado, documentos de diversos reis
europeus, correspondências da Família Real portuguesa, do período do Império brasileiro, da
República, correspondências presidenciais, peças teatrais, correspondências e textos literários,
arquivos relativos às ciências naturais no Brasil, cartas e diários de viajantes, coleções de
autógrafos e acervos completos e documentos avulsos de personagens as mais variadas. Como
observa Herkenhoff (1996: 109): “Garante-se assim uma abrangência nacional do acervo. Essa
envergadura ímpar conferiu à Biblioteca Nacional brasileira um significado simbólico para a
sociedade, como poucos países podem ostentar”. Destaca-se, neste acervo, o Arquivo Histórico
da Biblioteca Nacional, que retrata, através de seus documentos, a formação da instituição e suas
diversas administrações.
Atualmente, trabalha na área de Manuscritos uma equipe composta de
historiadores, licenciados em Letras, cientistas sociais, arquivistas e bibliotecários, além de
terceirizados e estagiários do curso de graduação em História. Cada servidor efetivo coordena o
tratamento de uma determinada coleção contando com o auxílio de um estagiário. O tratamento
37
das coleções consiste em organizar, descrever, indexar, inserir registro patrimonial, alocar a
documentação e digitação em base de dados.
Dezena de funcionários passaram pela direção da área de Manuscritos, nas
diversas fases de administração da Biblioteca Nacional, a saber: fase Eclesiástica, fase dos
Bacharéis, dos Historiadores, dos Escritores, dos Bibliotecários e dos Professores.30
Seu público alvo é o pesquisador e/ou especialista de nível superior, que pode ter
acesso aos documentos através dos diversos instrumentos de consulta disponíveis na sala ou
através da base de dados on-line. De acordo com as regras previamente determinadas pela direção
da biblioteca, o acervo pode ser reproduzido, mas, de acordo com a política de preservação, está
proibida a utilização de cópia do tipo xerox. Anualmente, cerca de dois mil usuários visitam a
área de Manuscritos.
2.3 A coleção dos Manuscritos iluminados e os Livros de Horas
Segundo Carrion Gútiez (1999: 102-103), “Manuscritos, geralmente, quando não
constituem riquezas por seu preço ou não estão ligados às pessoas por laços familiares ou
sentimentais, são objetos preferentemente de instituições com responsabilidades históricas e de
conservação”. Daí as coleções de manuscritos iluminados das bibliotecas nacionais.
A coleção de manuscritos iluminados, custodiada pela área de Manuscritos da
Biblioteca Nacional, é constituída por inúmeros códices que apresentam iluminuras, datados
desde a Idade Média até o século XIX. São provenientes de diversas coleções que foram doadas à
biblioteca, como a de José Antônio Marques, Cardeal Arcoverde; d. Thereza Christina Maria;
através de compras, como a da Livraria do Conde da Barca e provenientes, principalmente, da
Real Biblioteca como os livros de horas. Como afirma José Ruysschaert (apud Herkenhoff, 1996:
30
Seguindo a ordem cronológica, são eles: Felisberto Antônio Pereira Delgado (nomeado em 1822), José Alexandre
Teixeira de Melo (1876–1882), Alfredo do Vale Cabral (1882–1890), Antônio Jansen de Melo (1890–1892), João
Carlos de Carvalho (1893–1922), Mário Behring (1922–1924), Miguel de Melo (1924–1934), Alfredo Mariano de
Oliveira (1934–1935), Luiz Corte Real de Assunção (1935–1936), José Bartholo da Silva (1936–1948), Otávio
Calazans Rodrigues (1948–1957), Darcy Damasceno dos Santos (1957–1982), Maria Celeste Garcia Mendes
(1982–1988), Waldir da Cunha (1988–1995) e Carmen Teresa Coelho Moreno (1995–2003).
38
28), “foram raras as cortes européias, como a de d. João II [1481-1495], que encomendaram
livros iluminados italianos para a formação de suas novas bibliotecas”.
O acervo da área de Manuscritos abrange temas variados, com destaque para um
considerável número de documentos religiosos. São saltérios, breviários, missais, bíblias, livros
de horas, antifonários, cartas de forais manuelinos, cartas de reis e rainhas, compromissos de
irmandades, regras de ordens religiosas, documentos representativos de história, literatura e
alguns códices escritos em caligrafia árabe.
Nesta coleção, além dos livros de horas, destacam-se as Epistolae ad Familiares
– coletânea de 503 cartas de Cícero – de 1467, uma Bíblia do século XIII-XIV em velino e o
Príncipe Perfeito. Emblemas de d. João de Solorzano. Parafrazeados em Sonetos portuguezes, e
offerecidos ao Sereníssimo Senhor d. João Príncipe do Brasil. Pello Baxarel Francisco Antonio
de Novaes Campos. Anno de 1790, um conjunto de cem emblemas, escritos em latim com a
respectiva tradução para o português, com teor moral e político utilizado para a educação dos
príncipes, no caso o futuro rei d. João VI. Cada emblema está ornado, na parte superior, com uma
miniatura e, o segundo soneto dedicado ao príncipe, escrito a ouro. Maria Helena Prietro,
estudiosa do Príncipe Perfeito, nos diz sobre a obra: “este livro é um documento da história do
livro iluminado em Portugal e da literatura emblemática, além da própria história das
mentalidades” (apud Herkenhoff, 1996: 30).
Os livros de horas que integram a coleção dos manuscritos iluminados são em
número de nove. Datados entre os séculos XIV e XVI, têm diversas proveniências. Quatro são
provenientes da Real Biblioteca – Casa do Infantado, outros dois de coleções que foram doadas à
Biblioteca Nacional, como a do Marquês de Pombal e a coleção José Antônio Marques, doada em
1889, os restantes foram adquiridos por compras nos séculos XIX e XX.
Como destaque da coleção, o livro de horas de d. Fernando (1367-1383), em cujo
colofão aparece o ano de 1378 e a indicação de que foi obra do artista italiano Spinello Spinelli.
Este livro desperta enorme interesse nos pesquisadores, não só pela beleza e elevada qualidade
artística, mas pela história e mistérios no qual está envolvido. Ele já foi objeto de trabalho do
franciscano Damião Berge, na década de 1940, e da historiadora Vânia Leite Fróes, que fez um
estudo crítico da obra.
39
Dos nove livros de horas identificados, apenas o livro do século XVI não foi
selecionado para o catálogo, pois além de pertencer a um outro período, apresenta características
distintas dos demais como, por exemplo, a sua estrutura. Os oito livros estão descritos na segunda
parte deste trabalho: o Catálogo dos Livros de Horas da Biblioteca Nacional do Brasil dos séculos
XIV e XV.
3. A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil
Por se tratar de uma das mais raras coleções da Biblioteca Nacional brasileira,
os manuscritos iluminados estão, na sua grande maioria, armazenados nos cofres da área de
Manuscritos. De acesso restrito – por motivos de preservação e segurança – esta coleção
necessita de um tratamento técnico adequado, amplo e abrangente, voltado para suas
especificidades e em consonância com as normas internacionais adotadas em outras bibliotecas
nacionais.
Apesar de todo o empenho de pesquisadores e bibliotecários, a elaboração de
um catálogo não é tarefa fácil de se realizar. Algumas bibliotecas tradicionais européias, como a
nacional de Viena, iniciaram seus catálogos de manuscritos no século XIX e, no século seguinte,
ainda não haviam concluído o projeto. Quanto mais especializado for o catálogo, mas lenta e
complexa é sua execução.
3.1 Tipologia dos catálogos
Principal veículo para difundir e divulgar o conteúdo de uma coleção de
manuscritos ou de qualquer fundo bibliográfico, o catálogo é um instrumento de referência que
orienta o pesquisador, indicando o que ele deve consultar em meio aos inúmeros fundos de uma
biblioteca ou de um arquivo. Segundo o Dicionário brasileiro de terminologia arquivística31,
31
Arquivo Nacional (Brasil), 2005. p. 45.
40
“catálogo é um instrumento de pesquisa organizado seguindo critérios temáticos, cronológicos,
onomásticos ou toponímicos, reunindo a descrição individualizada de documentos pertencentes a
um ou mais fundos, de forma sumária ou analítica”.
Eles podem ser gerais, se relacionam os materiais de uma ou mais coleções,
sendo por isso conhecidos como catálogos coletivos (quando abrangem fundos de mais de uma
instituição), ou especiais, se selecionam o material descrito, em virtude de alguma característica
previamente determinada. Devem sempre ter em conta, de um modo especializado, todos os
aspectos particulares da peça que se está sendo descrita. Uma característica que distingue um
catálogo geral de manuscritos de um catálogo de livros impressos, mesmo que contenham o
mesmo texto, é que o catálogo de livros necessita de descrição de exemplares, que podem ser
vários e distintos, enquanto o catálogo de manuscritos prescinde de tal necessidade por cada peça
ser única.
Os catálogos especiais podem ser de manuscritos de um autor, de um assunto,
temáticos ou de textos que apresentem uma característica especial, como data de cópia, origem
ou a língua em que estão escritos. Os mais característicos são os catálogos de manuscritos de uma
determinada época, como os medievais, e os catálogos de manuscritos iluminados. Quando se
planeja a elaboração de um catálogo de manuscritos, deve-se levar em consideração as normas a
serem adotadas, a língua da descrição (normalmente a descrição é feita na língua vernácula do
catalogador), a terminologia que será empregada, hoje, e as questões referentes a sua publicação,
on-line ou impressa.
3.2 Catálogo de manuscritos
Antes da invenção da tipografia,32 todo o material se copiava à mão. Para
melhor entendimento, é necessário saber que: “Manuscrito é o texto escrito à mão em papiro,
pergaminho ou papel. O manuscrito medieval será, por consequência, um texto nessas condições,
datando da Idade Média”.33 Tendo como característica essencial o seu caráter de espécie única.
32
33
No ano 1450, por Johann Gutenberg.
Wilson Martins. A palavra escrita, p. 93.
41
Códice é o conjunto de folhas escritas à mão, manuscritos geralmente de forma retangular, sejam
de papiro ou pergaminho (Códice manu scripti = livros escritos à mão). A forma era quadrada,
em razão de vir das tábuas enceradas dos gregos e romanos. Os temas desses livros eram,
geralmente, de caráter religioso – como breviários, bíblias, missais, saltérios, livros de horas,
sermões etc. Quando profanos, tratavam de legislação, medicina, história natural e astrologia,
além de obras clássicas de autores gregos e romanos. O latim é o idioma usado na maioria desses
livros.34 Para Le Goff (2006: 35), “a generalização do códex (nosso livro, com páginas e
cadernos) marca uma passagem. [...] O livro-codex favorece a leitura pessoal, interiorizada,
mesmo que a leitura totalmente silenciosa só venha a se generalizar no século XIII”.
Na maioria das bibliotecas, os manuscritos estão agrupados em dois grandes
conjuntos: códices, termo já definido no parágrafo anterior, e avulsos, coleção em aberto cuja
documentação possui assuntos diversos e heterogêneos. Segundo Teresa Ferreira e Ana
Santana,35
considerando a natureza muito diversificada, em termos de conteúdo e características
formais específicas, das coleções de manuscritos que se encontram à guarda das
bibliotecas patrimoniais, devemos distinguir:
1) Livro manuscrito - códice com unidade física e intelectual contendo texto (ou
textos) de caráter monográfico e unitário;
2) Miscelânea – códice composto por vários textos intencionalmente coligidos, com
ou sem ligação temática entre si [...];
3) Códice factício – conjunto de documentos originariamente independentes,
reunidos numa mesma encadernação, em fase posterior à sua produção, e por
motivos alheios ao processo documental, resultado, muitas vezes, de uma prática
antiga de conservação das espécies.
A análise codicológica, ou seja, a descrição do códice é feita em duas etapas: a
descrição interna (sobre a informação registrada) e a descrição externa (sobre como ocorreu o
registro da informação).
34
35
Alberto Manguel. Uma história da leitura, p. 120.
O tratamento documental de manuscritos ao serviço da investigação: a experiência da Biblioteca Nacional.
Lisboa, 2006.
42
A descrição interna ou descrição textual (conteúdo) deve ser feita com a
máxima precisão possível, pois é nessa etapa que se identifica o assunto que trata o manuscrito e
seu texto(s), de onde serão retirados o título(s) e o autor (es). Isso não é tarefa fácil, porque o
manuscrito não possui página de rosto, local onde figuram os dados que identificam um livro
impresso. Em se tratando de manuscritos medievais, as fontes de onde são retirados esses dados
são o colofão, o explicit e o incipit.
Ao terminar a cópia, os copistas acrescentavam as linhas da “subscrição”, ou
seja, o colofão, nas quais mencionava o título do livro. Essas linhas começavam em geral, com as
palavras explicitus est, ou explicit, reminiscência ainda do rolo antigo: significavam que o
manuscrito estava “desenrolado”. Antes do começo do texto vinham as palavras: hic incipit, isto
é, “aqui começa”, para explicar, logo em seguida, de que se tratava o livro (Martins, 1996: 101).
Caso não se encontre nenhuma identificação nessas fontes citadas, deve-se recorrer aos
repertórios e catálogos especializados, como também aos especialistas nos diversos campos dos
conhecimentos medievais.
A descrição externa é, se comparada à descrição interna, muito mais simples de
se fazer, pois, no caso de ocorrer alguma imprecisão, isso não acarretará tantos transtornos ao
pesquisador. Mas a descrição externa também deverá ser a mais correta possível, pois poderá
servir de base para estudos históricos. Um dado fundamental dessa descrição é a data do
manuscrito, mais especificamente a data da cópia que se tem em mãos. Caso apareça mais de
uma data, uma no texto e outra no colofão, deve-se comparar as datas com as características
internas e externas do manuscrito (o exame da escrita: tipo, forma, características, traçado, o
sistema de abreviaturas e a qualidade e preparação do suporte: numeração e ordenação dos
cadernos, reclamos, assinaturas, marcas do fabricante do papel, ilustrações etc.) e verificar qual
data se refere à da cópia, para se poder datar, com precisão, o manuscrito. Outros dados da
descrição externa de um manuscrito são: foliação do manuscrito (número de fólios ou páginas e,
em alguns casos, o número de volumes), as dimensões, a distribuição do texto na página (linha
tirada ou colunas), o número de linhas, as características das ilustrações, ornamentação etc.
43
Deve-se fazer constar também, em notas gerais, a história do manuscrito que
está sendo descrito: sua procedência, anotações, características particulares que o distinguem de
outras cópias, o tipo de manuscrito (autógrafo ou outro tipo de cópia), tipo de escrita, nome do
copista e o lugar da cópia, suporte, detalhes da encadernação e estado de conservação.
É comum que as descrições no catálogo sigam a ordenação topográfica
(localização física dos livros nas estantes), como nos catálogos de livros impressos. Sua
recuperação deverá ser feita através de índices, que devem ser os mais detalhados possíveis.
3.3 O catálogo dos livros de horas
Como é nosso propósito seguir as normas e padrões internacionais de controle,
intercâmbio de informações e descrições bibliográficas automatizadas adotadas na Biblioteca
Nacional do Brasil – que segue as normas americanas adotadas pela Biblioteca do Congresso
Americano (American Library of Congress) – e, principalmente, para manter uma
“uniformidade” com o que está sendo feito em matéria de descrição documental na área de
Manuscritos, optamos por desenvolver uma descrição que contemple esses princípios normativos
e a diversidade do material a ser identificado.
No ano de 1998, após inúmeras reuniões, a então chefe da área de Manuscritos
Carmen Moreno, implantou uma metodologia para a descrição de documentos na área de
Manuscritos:
No bojo destas discussões, criou-se o embrião de uma estrutura de descrição que
utilizava o formato MARC36 na codificação da base de dados e a organizava segundo as
normas ISAD.37 Toda esta compatibilizarão demandou vários estudos sobre as
correlações do tratamento arquivístico, gerando um modelo de metadados que buscava
integrar os conceitos utilizados na Arquivologia e na Biblioteconomia.38
36
Machine Readable Cataloguing (Catalogação Legível por Computador).
International Standard Archival Description (Norma Internacional de Descrição Arquivística).
38
Comunicação apresentada por Carmen Moreno e Vinícius Martins no II Encontro de Bases de Dados sobre
Informações Arquivísticas. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001.
37
44
Levando-se em conta também as normas adotadas pelas principais bibliotecas
nacionais estrangeiras, principalmente a Biblioteca Nacional de Portugal, adotaremos para a
descrição dos livros de horas as Regras de Catalogação Anglo-Americanas – AACR2,39 a
segunda edição da tradução par o português, onde o quarto capítulo se refere aos manuscritos.
Estas regras foram estabelecidas pela American Library Association, em 1966, com o apoio da
International Federation of Library Associations (IFLA). O AACR utiliza os princípios
normativos da International Standard Bibliographic Description (ISBD), de 1987, de acordo
com as regras estabelecidas pela International Standard Organization (ISO) para o tratamento de
manuscritos, incluindo os medievais e renascentistas, abrangendo a totalidade das formas,
suportes, tipologia e âmbito cronológico. Para catalogação em suporte eletrônico utilizaremos o
formato MARC por ser, como já mencionamos, o formato adotado pela Biblioteca Nacional do
Brasil.
Os oito livros de horas estão descritos no catálogo obedecendo a ordem
topográfica (localização fixa) em que eles se encontram, fisicamente, no cofre da área de
Manuscritos. Segundo Pinheiro (2007: 33), “O sistema de localização fixa aplica-se a bibliotecas
onde a conservação do livro é condição para a salvaguarda de seu conteúdo, porque os livros são
organizados segundo sua materialidade”.
No caso da Biblioteca Nacional, a localização (notação, cota, número de
chamada) é um conjunto numérico composto por três números, separados por virgulas, onde cada
número representa: o primeiro, o número do armário; o segundo, o número da prateleira e o
terceiro, o número do item. Todos os livros de horas estão guardados em caixas confeccionadas
na própria Biblioteca, cuja localização foi dourada na parte inferior da lombada. Todos os livros
apresentam bom estado de conservação.
Após a escolha das normas e a identificação dos livros de horas, a seguinte
metodologia foi adotada para efetivarmos as descrições:
39
Anglo-American Cataloguing Rules, 2ª edição.
45
DESCRIÇÃO FÍSICA (interna e externa):
1. Material (paginação, formato, dimensão, suporte etc.);
2. Construção (identificação e localização das suas partes componentes,
Calendário, Passagens dos Evangelhos, Preces à Virgem Maria, as Horas da
Virgem Maria, as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo, os Salmos
Penitenciais e Ladainhas, o Ofício dos Mortos, Sufrágio dos Santos e
Orações diversas);
3. Textual (idioma, tipo de escrita, autor, título, local, data e conteúdo – muitos
desses elementos são reflexões técnicas, pois não estão explícitos ou não
existem);
4. Decoração (os livros de horas utilizavam normalmente uma hierarquia
complexa de formas decorativas para demarcar e ordenar as suas seções e
subseções: as iniciais, as vinhetas, as margens, finais de linha, bas-de-page
etc.);
5. Imagens (as miniaturas);
6. Notas gerais (incompletude, anotações, carimbos etc.);
7. Encadernação;
8. Adições ao manuscrito;
9. Proveniência;
10. Localização (ordem topográfica).
Concluída a descrição, toda a coleção, futuramente, será digitalizada e integrará
a Biblioteca Digital localizada na página web da Fundação Biblioteca Nacional.
Uma frase muito utilizada entre os conservadores retrata muito bem o que vem a
ser o propósito do nosso catálogo: “Não se pode preservar ou proteger o que não se conhece”.
Catálogos são instrumentos de pesquisa que, além de descrever e localizar dados de um
determinado acervo – no nosso caso uma coleção “reservada” –, servem também para registrar e
46
difundir o patrimônio bibliográfico e documental de uma instituição cultural, aqui no caso a
Biblioteca Nacional. Trata-se de uma etapa, necessária e indispensável, que viabiliza o acesso, de
uma maneira bastante eficaz, a esses bens culturais, promovendo assim a sua valorização,
difusão, intercâmbio e proteção.
“Os bens (materiais e imateriais) culturais, ou seja, aqueles que foram ou são valorados
positivamente continuam exigindo uma análise que contribua para o nosso
conhecimento do campo. Os bens culturais devem receber um tratamento que dê conta
de sua historicidade, da atuação de pessoa e grupo responsáveis pela criação de
instituições e políticas públicas direcionadas ao seu desenvolvimento”. (Lúcia Lippi,
2008: 189)
Terminada esta apresentação, cabe, então, convidarmos o leitor a conhecer o
conteúdo, as características e algumas das belas imagens dos oito livros de horas da Biblioteca
Nacional, que se encontram descritos na segunda parte deste trabalho.
47
1.
IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas de Dom Fernando / iluminado por Spinello Spinelli, 1378.
[200] f. (no geral, 20 linhas): perg., il. color.; 250
x 180 mm. Texto em latim.
Caracteres góticos,
alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a
ouro e a cores, com bordaduras, tarjas e finais de linha
ornamentadas em arabescos com motivos fitomórficos
e zoomórficos, estes com a predominância de aves.
Contém assinaturas manuscritas às margens nos f. 71r,
f. 138v, f. 151v e f. 154v. Antiga localização
manuscrita no f. 2r: 46–5-47 (escrita em cima de 47-557). Faltam os fólios 22 e 23. Carimbo da Real
Biblioteca - Casa do Infantado nos f. 16v e f. 164v.
A Anunciação
Conteúdo:
• f. 2r – f. 7v Calendário (cada mês em um lado – recto e verso – do fólio)
• f. 10r – f. 16v As Quinze Orações a Jesus Cristo.
• f. 18r – f. 19v Comemoração a Santíssima Trindade; f. 21r – f. 21v Comemoração a São João
Batista; f. 25r – f. 25v Comemoração a São Jorge; f. 27r – f. 27v Comemoração a São
Cristóvão; f. 29r – f. 29v Comemoração a Santana; f. 31r – f. 31v Memória de Santa Catarina;
f. 33r – f. 33v Memória de Santa Maria Madalena; f. 35r – f. 35v Memória de Santa
Margarida; f. 37r – f. 37v Memória de Santa Bárbara.
Em cada Comemoração e Memória o recto do primeiro fólio está em branco e no verso contém
uma miniatura de página inteira representando o santo comemorado.
48
• f. 39r – f. 89v Horas da Virgem Maria.
• f. 90v – f. 102v Louvores à Virgem Maria.
• f. 93v O intemerata...
• f. 95v Obsecro te...
• f. 104r – f. 107r Ofício das Cinco Chagas de
Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa
Senhora e de São João Evangelista.
• f. 107v – f. 109r Oração de São Beda.
• f. 109r – f. 112r Sete Orações a Nosso
Senhor.
• f. 112r – f. 112v Os Cinco Prazeres de Nossa
Senhora.
Incipiunt vigilie mortuorum
• f. 114r – f. 121r Os Sete Salmos Penitenciais.
• f. 121r – f. 127r Os Quinze Salmos Graduais.
• f. 127r – f. 135r Ladainha de Todos os Santos.
• f. 136r – f. 176v Ofício dos Defuntos.
• f. 178r – f. 186v Saltério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
• f. 187r – f. 199v Saltério de São Jerônimo.
• f. 188v Em branco.
• f. 199 Glória: Ne reminiscaris...// Oremus // Omnipotens sempi//terne deus clementiam tu//am
suppliciter deprecor ut // me, famulum tuum. N. tibi fideliter // servire concedas et
49
perseverantiam bo//nam et felicem consummationem mihi // largiri digneris ut hoc psalterium
// quod in conspectu tuo decantavi fiat // ad salutem et remedium animae omniumque meorum
ve//niam ac // vivis et defunctis ad vitam // proficiat sempiternam. Amen.
• f. 199v Colofão (escrito em vermelho):
Ipse dipicture que conti//net hoc libro
fuerunt manufacte //per Spinello Spinelli et illas
deri//gebat Rmo. P. Ioachinus desa ora//tor
amplissimus in oratório Re//gis D. Ferdinandi
Portugalie et //pro ipsso Rege Menistrus Lusitanie
//apud Sanctissimum P. Gregoriû //XI. Anno
1378.
• f. 200 Em branco.
Transcrevemos aqui duas notas importantes
sobre o colofão deste livro de horas. A primeira
nota
é a de Damião Berge
(1945:
69):
“Evidentemente, trata-se de um post-scriptum um
Colofão
tanto posterior. A letra gótica, em tinta encarnada,
se bem que imite a dos textos precedentes, não lhe
consegue a firmeza e perfeição. O latim bárbaro destoa por completo da linguagem correta usada
pelo compilador do texto. Na grafia de 1378, segundo me lembrou atenciosamente o dr. Bartholo
da Silva40, o 7 não é do século XIV”.
A segunda nota é a do professor de História da Arte da Universidade de Princeton (Estados
Unidos) James H. Marrow41: “Como lhe informei durante minha visita, a informação dada no
colofão no fólio 199v, segundo a qual o manuscrito data de 1378 e foi iluminado por Spinello
40
41
José Bartholo da Silva chefiou a área de Manuscritos da Biblioteca Nacional no período de 1936 a 1948.
Esta nota foi retirada de uma carta, originalmente escrita em inglês, do professor James H. Marrow – autor de uma
vasta obra sobre manuscritos iluminados e sobre diversos aspectos da arte e iconografia religiosa tardo-medieval –
endereçada à coordenadora de Acervo Especial da Biblioteca Nacional Georgina Staneck, datada de 24/08/2004. A
carta se encontra arquivada na área de Manuscritos da Biblioteca Nacional.
50
Spinelli, é incorreta. Esse colofão é uma adição pós-medieval ao manuscrito (ou seja, uma farsa)
que fornece uma falsa informação. [...] O Ms. 50,1,1 foi feito no sul da Holanda (Bruges) para ser
exportado para a Inglaterra (para Sarum Use)42 provavelmente cerca de 1460. Ele está
estreitamente
relacionado
a
um
pequeno subgrupo de Livro de Horas
de luxo produzidos em Bruges para
clientes ingleses [...]”
Imagens:
32 miniaturas de página inteira (a
maioria dessas miniaturas possui, em
seus ângulos, medalhões com imagens
de santos, algumas trazendo os nomes,
outras apagadas pelo tempo).
1ª miniatura: f. 1v – O Martírio de São
Sebastião. “No alto, entre as folhagens
da árvore em que está atado o santo,
aparece o brasão de Portugal. Prova de
que o livro foi propriedade da real
família”. (Damião Berge, 1945: 58).
O Martírio de São Sebastião
2ª miniatura: f. 9v – Jesus Cristo, tendo a seus pés o orbe terrestre e à sua
esquerda sustenta as tábuas da Lei. Com quatro medalhões (possivelmente São
Gregório, São Leão, São Jerônimo e Santo Ambrósio).
3ª miniatura: f. 17v – A Santíssima Trindade. Com quatro medalhões.
4ª miniatura: f. 20v – São João Batista. Com quatro medalhões.
42
Sarum Use era uma coleção de práticas medievais que incluíam os ritos e o repertório musical da grande Catedral
de Salisbury.
51
5ª miniatura: f. 24v – São Jorge. Com quatro medalhões.
6ª miniatura: f. 26v – São Cristóvão. Com quatro medalhões.
7ª miniatura: f. 28v – Santana. Com quatro medalhões.
8ª miniatura: f. 30v – Santa Catarina. Com quatro medalhões.
9ª miniatura: f. 32v – Santa Maria
Madalena. Com quatro medalhões.
10ª miniatura: f. 34v – Santa Margarida.
Com quatro medalhões.
11ª miniatura: f. 36v – Santa Bárbara.
Com quatro medalhões.
12ª miniatura: f. 38v – Jesus Cristo no
Horto
das
Oliveiras.
Com
quatro
medalhões.
13ª miniatura: f. 39r – A Anunciação.
14ª miniatura: f. 46v – A Traição de
Santa Margarida
Judas e a prisão de Jesus. Com quatro
medalhões.
15ª miniatura: f. 47r – A Visitação.
16ª miniatura: f. 60v – Jesus Cristo diante de Pilatos. Com quatro medalhões.
17ª miniatura: f. 61r – A Natividade.
18ª miniatura: f. 65v – A Flagelação. Com quatro medalhões.
19ª miniatura: f. 66r – O Anúncio aos Pastores.
52
20ª miniatura: f. 70v – Jesus Cristo
a caminho do calvário. Com quatro
medalhões.
21ª miniatura: f. 71r – Adoração
dos Reis Magos.
22ª miniatura: f. 74v – Jesus Cristo
Crucificado.
Com
quatro
medalhões.
23ª
miniatura:
f.
75r
–
A
Apresentação do Menino Jesus no
Templo.
24ª miniatura: f. 78v – A Descida
da Cruz. Com quatro medalhões.
Ofício das Chagas de N. Senhor
25ª miniatura: f. 79r – O Massacre
dos Inocentes.
26ª miniatura: f. 84v – A Deposição de Jesus Cristo da Cruz. Com quatro
medalhões.
27ª miniatura: f. 85r – A Fuga para o Egito.
28ª miniatura: f. 103v – A Crucificação. Com quatro medalhões.
29ª miniatura: f. 113v – O Juízo Final. Com quatro medalhões.
30ª miniatura: f. 135v – A Ressurreição de Lázaro. Com quatro medalhões (um
representando a celebração de uma missa, o outro um túmulo e os dois últimos
representando duas monjas).
53
31ª miniatura: f. 177v – Jesus Cristo tendo à sua esquerda, sua Mãe, e à direita,
São João Evangelista, entre os instrumentos de seu martírio.
Com quatro
medalhões.
32ª miniatura: f. 188v – São Jerônimo sentado, segurando a pata direita de um
leão. Com quatro medalhões.
12
miniaturas
menores
ilustram o Calendário:
Janeiro: Cena típica de inverno
(figura humana em frente à lareira).
Fevereiro: Lenhagem das árvores.
Março: A Poda das árvores.
Abril: Cena de jardim (homem
passeando com flores nas mãos).
Maio: Falcoaria (um homem a
cavalo com um falcão sobre a mão
direita).
Junho: O corte do feno.
São Jerônimo
Julho: Ceifar o trigo e os cereais
(colheita dos cereais).
Agosto: Joeiramento do trigo (bater o grão de trigo).
Setembro: A vindima (pisar as uvas).
54
Outubro: A semeadura.
Novembro: Derrubando bolotas para o repasto dos porcos.
Dezembro: O abate do javali (ou do
porco).
33
miniaturas
menores
(iniciais
historiadas) intercaladas no texto: das
Horas da Virgem Maria e Ofício de
Nosso Senhor, representando cenas da
vida de Cristo, da Virgem Maria e de
diversos santos.
Encadernação:
A encadernação (séc. XIX?), em
simples pergaminho, não é da época.
Lê-se na lombada em couro vermelho
com letras douradas: Breviarium. Mss.
XIV Sec.
Proveniência:
Real Biblioteca – Casa do Infantado
O Calendário
(Portugal)
Bibliografia:
BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de
Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, p. 12-15, mar. 1945.
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de
Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 2
55
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996.
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 3
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,001
Ladainha de Todos os Santos
56
2. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.
[102] f. [no geral, 24 linhas]: perg., il.
color.; 210 x 135mm. Texto em francês e
latim. Caracteres góticos, alternados em
vermelho e preto. Iniciais iluminadas a
ouro e a cores, com bordaduras, tarjas
laterais e finais de linha ornamentadas em
arabescos com predominância de flores e
frutos. Contém dois ex-libris, um com as
armas e a divisa: surgit post nubila
phoebus e o outro de Robert Heysham
Sayre, South Bethlem (Filadélfia), com a
divisa: Who Maintains Obtains 1900.
Consta também, no ex-libris, uma nota
manuscrita: “Presented by Mrs. Martha
Nevin Sayre Oct. 3 1899”. “O f. 101 teve
as três margens aparadas, tendo sido
São João Evangelista
colada, juntamente com o f. 102, sobre a
guarda; com letra gótica francesa os f. 99v,
100 e 101r, dir-se-iam escritos por outra mão, com tintas preta e vermelha mais apagadas”.
(Damião Berge)
Conteúdo:
• f. 1r – f. 6v Calendário em francês (cada mês em um lado – recto ou verso – do fólio)
• f. 7r – f. 10v Passagens dos Quatro Evangelhos.
• f. 11r – f. 14v Orações à Virgem Maria.
57
• f. 11r Obsecro te...
• f. 13r O intemerata...
• f. 15r – f. 49r Horas da Virgem
Maria.
• f. 49v – f. 51v Horas da Cruz.
• f. 52r – f. 54r Horas do Espírito
Santo.
• f. 54v Em branco.
• f. 55r – f. 62v Os Sete Salmos
Penitenciais.
• f. 62v – f. 67r Ladainha de Todos os
Santos.
O Calendário
• f. 67v – f. 93r Ofício dos Defuntos.
• f. 93r – f. 99r Memórias da Santíssima Trindade, de São Miguel Arcanjo, São João Batista,
São João Evangelista, São Pedro e São Paulo, São Estefânio, São Jacobo, São Lourenço, São
Sebastião, São Nicolau, Santo Antônio, São Rocho, Santa Apolônia, Santa Maria Madalena,
Santa Catarina, Santa Margarida, Santa Bárbara e, novamente, Santa Apolônia.
• f. 99v – f. 100v Stabat...
• f. 101r Quant on venet...
• f. 102 Está colado na capa.
58
Imagens:
13 miniaturas de página inteira.
1ª miniatura: f. 7r - São João
Evangelista.
2ª miniatura: f. 15r - A
Anunciação.
3ª miniatura: f. 22r – A
Visitação.
4ª miniatura: f. 29v – A
Natividade.
5ª miniatura: f. 32v – O
Anúncio aos Pastores.
6ª miniatura: f. 35v – Adoração
dos Reis Magos.
7ª
miniatura:
f.
38v
-
Apresentação do Menino Jesus
no Templo.
8ª miniatura: f. 41v – A Fuga para o Egito.
9ª miniatura: f. 46v – A Coroação de Nossa Senhora.
10ª miniatura: f. 49v – A Crucificação.
11ª miniatura: f. 52r – Pentecostes.
12ª miniatura: f. 55r – O Rei Davi.
A Visitação
59
13ª miniatura: f. 67v – Ofício
pelos Defuntos.
4 miniaturas menores.
1ª miniatura: f. 8r – São Lucas.
2ª miniatura: f. 9r – São Mateus.
3ª miniatura: f. 10r – São
Marcos.
4ª miniatura: f. 11r – Nossa
Senhora com o Menino Jesus
no colo.
A Crucificação
Segundo nota de Herkenhoff (1996: 28):
Segundo o livreiro M. Curvillier em carta a M. Campos em 25 de abril de 189943, algumas das
miniaturas apresentam detalhes de construções de Paris, entre elas o palácio do Louvre. O
missivista arrisca a afirmar que esse Livro de Horas seja obra de artista francês, da região de
Paris, ou mesmo da abadia de Soissons. O outro motivo de atribuição a miniaturista francês
está no tipo de decoração da moldura, de flores e frutos, com morangos e uvas.
Encadernação:
Encadernação original em couro marrom sobre madeira, com vestígios dos fechos. Segundo
Herkenhoff, “a encadernação antiga atribui-se a Maioli”.
43
A carta está anexa ao livro.
60
Proveniência:
Jacqueline Champeau (Paris – 1947)
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 8
HERKENHOFF,
Paulo.
Biblioteca
Nacional: a história de uma coleção.
2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra,
1996. p. 28
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII
PERGAMINHOS ILUMINADOS E
DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio
de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973.
Catálogo de exposição, n. 8
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de
Manuscritos: 50,1,010.
O Calendário
61
3. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Paris.
[160] f. [no geral, 17 linhas]: perg., il. color.; 180 x 130
mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados
em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores,
com bordaduras, tarjas laterais e finais de linha ornamentadas
em arabescos com predominância de folhas, flores e frutos.
Contém a antiga localização manuscrita no f. 1r: 47-3-58 e
assinaturas manuscritas às margens nos f. 1r (na parte
superior a antiga localização e na margem inferior apenas
vestígios). Consta nota no Cimélios (1885: 481): “segundo a
autorizada opinião do fr. Camilo de Monserrate, fôra [sic]
escrita [as assinaturas manuscritas nas margens inferiores] no
A Anunciação
XVI século. São atualmente indecifráveis os seus vestígios”.
Faltam os f. 70 e f. 72. Carimbo da Real Biblioteca - Casa do
Infantado nos f. 2v e 151v.
Conteúdo:
• f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em
um fólio)
• f. 13r – f. 16r Horas da Cruz.
• f. 16v – f. 20v Horas do Espírito Santo.
• f. 21r – f. 25r Passagens dos Quatro Evangelhos.
• f. 25r – f. 31r Orações à Virgem Maria.
O Calendário
62
• f. 25r Obsecro te...
• f. 28v O intemerata...
• f. 31v Em branco.
• f. 32r – f. 87v Horas da Virgem Maria.
• f. 88r – f. 99r Os Sete Salmos Penitenciais.
• f. 99r – f. 103v Ladainha de Todos os
Santos.
• f. 104r – f. 145r Ofício dos Defuntos.
• f. 145r – f. 153v Memórias dos Santos.
• f. 154r – f. 159r Ofício das Chagas de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os Salmos Penitenciais
• f. 160r: eam in refrigério lucis et quie//tis. Amen. // Confiteor deo Beate marie et omnibus
//sanctis quia peccavi mimis. cogitacione // locutione et opere. mea culpa. Ideo // precor te.
Ora pro me. // Misereatur tui omnipotens deus. et di//mittat tibi omnia peccata tua. liberet //
te ab omni malo. conseruet et confirmet // in omni opere bono. et perducat ad // vitam
eternam. Amen.
• f. 154r: Prosa fratris iohãnus Lemo//uicensis monachi clareuallen//sis. Salutatio devota ad
yma//ginem saluatoris nostri...
• f. 160v Em branco.
Imagens:
12 miniaturas de página inteira (uma delas apresenta três, de menor porte) e duas miniaturas nas
cercaduras (marginais).
63
1ª miniatura: f. 13r - A Crucificação.
2ª miniatura: f. 16v – Pentecostes.
3ª miniatura: f. 25r – A Pietá (miniatura marginal).
4ª miniatura: f. 28v – Adoração do anjo com a harpa (miniatura marginal)
5ª miniatura: f. 32r - A Anunciação (com três miniaturas menores: O
Nascimento da Virgem Maria, a Consagração de Santa Genoveva e o
Casamento da Virgem Maria).
6ª miniatura: f. 52v – A Visitação.
7ª miniatura: f. 62r – A Natividade.
8ª miniatura: f. 67r – O Anúncio aos
Pastores.
9ª miniatura: f. 76v – A Fuga para o Egito.
10ª miniatura: f. 82r – A Coroação da
Virgem.
11ª miniatura: f. 88r – O Rei Davi.
12ª miniatura: f. 104r – Um Funeral.
O Rei Davi
64
Encadernação:
A encadernação, em simples pergaminho,
não é da época.
Proveniência:
Real Biblioteca – Casa do Infantado
(Portugal)
Bibliografia:
BERGE,
Damião.
Livros
de
horas
manuscritos iluminados da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de
Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat.
Capítulo VI, n. 2
Carimbo da Real Biblioteca – Casa do Infantado
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL Rio de
Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 3
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 22
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n.4
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,016
65
4. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen.
[158] f. [no geral, 14 linhas]: perg., il.
color.; 185 x 130 mm. Texto em francês e
latim.
Caracteres góticos, alternados em
vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e
a cores, com bordaduras e finais de linha
ornamentadas em arabescos.
As barras da
decoração das miniaturas integram-se com os
arabescos vegetais. Um reclamo no f. 140v:
gaudebit.
Contém
a
antiga
localização
manuscrita no f. 1r: 47–3–62. Carimbo da
Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f. 1v
e 112v.
A Fuga para o Egito
Conteúdo:
• f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em um fólio)
• f. 13r – f. 18v Passagens dos Quatro Evangelhos.
• f. 18v – f. 26v Orações à Virgem Maria.
• f. 18v Obsecro te...
• f. 22v O intemerata...
66
• f. 27r – f. 50v Horas da Virgem Maria.
• f. 51r – f. 56r Memórias do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, de São João Batista, São
João Evangelista, São Pedro, São Mateus, São Marcos, Santa Maria Madalena, Santa
Catarina, Santa Margarida e de Todos os Santos.
• f. 56v Em branco.
• f. 57r – f. 85v Horas da Virgem
Maria.
• f. 86r – f. 89r Horas da Cruz.
• f. 89v – f. 92r Horas do Espírito
Santo.
• f. 92v Em branco.
• f. 93r – f. 106v Os Sete Salmos
Penitenciais.
• f.106v – f. 112v Ladainha de
Todos os Santos.
• f. 113r – f. 158v Ofício dos
Defuntos.
Adoração dos Reis Magos
Imagens:
12 miniaturas de página inteira.
1ª miniatura: f. 27r – A Anunciação.
2ª miniatura: f. 39r – A Visitação.
3ª miniatura: f. 57r – A Natividade.
67
4ª miniatura: f. 63v – O Anúncio
aos Pastores.
5ª miniatura: f. 68r – Adoração dos
Reis Magos.
6ª
miniatura:
f.
71r
–
A
Apresentação do Menino Jesus no
Templo.
7ª miniatura: f. 74v – A Fuga para
o Egito.
8ª miniatura: f. 81r – A Coroação
da Virgem.
9ª
miniatura:
f.
86r
–
A
Crucificação.
A coroação da Virgem
10ª miniatura: f. 89v – Pentecostes.
11ª miniatura: f. 93r – O Rei Davi.
12ª miniatura: f. 113r – Um Ofício dos Defuntos.
Encadernação:
Nota de Herkenhoff: “... foi reencadernado no século XIX no Rio de Janeiro por Manoel José
Cardozo”. A encadernação atual é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional
na década de 1980.
68
Proveniência:
Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal)
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 4.
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 10
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 28
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,019.
69
5. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.
[64] f. [no geral, 14 linhas]:
perg., il. color.: 180 x 130 mm. Texto
em
latim.
Caracteres
góticos,
alternados em vermelho e preto.
Iniciais iluminadas a ouro e a cores,
com bordaduras, tarjas laterais e finais
de linhas ornamentadas em arabescos
com predominância de flores, frutos e
ramagens. Não possui Calendário.
Falta o f. 52 que, provavelmente, seria
uma miniatura com a imagem da
Coroação da Virgem. Os f. 37, f. 38, f.
39 e f. 40
foram encadernados
erroneamente antes do f. 1. Nota de
Damião Berge:
“[...] na folha de
guarda [provavelmente a anterior, que
A Visitação
não se encontra mais no códice] escrito
à lápis a cota antiga Cód. 66 – 14 e a
nota: compra a Isidoro de Castro”.
Conteúdo:
• f. 1r – f. 55v Horas da Virgem Maria.
• f.11r [...] secundum usum curie romane...(escrito em vermelho)
• f. 13v, f. 27v, f. 40v e f. 51v Em branco.
• f. 56r – f. 59v Horas da Cruz.
70
• f. 60r – f. 63r Horas do Espírito Santo.
• f. 63v e f. 64 Em branco.
Imagens:
9 miniaturas de página inteira.
1ª
miniatura:
f.1r
–
A
Anunciação.
2ª miniatura: f. 14r – A Visitação.
3ª
miniatura:
f.
28r
–
A
Natividade.
4ª miniatura: f. 33r – O Anúncio
aos Pastores.
5ª miniatura: f. 37r – Epifania.
6ª
miniatura:
f.
41r
–
Apresentação do Menino Jesus
no Templo.
7ª miniatura: f. 45r – A Fuga para
o Egito.
8ª
miniatura:
f.
56r
–
A
Crucificação.
O Anúncio aos Pastores
9ª miniatura: f. 60r – Pentecostes.
71
Encadernação:
A encadernação é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional.
Proveniência:
Isidoro de Castro (comprado no final do século XIX)
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?].
[609] f. Original. Dat. Capítulo VI,
n. 7
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca
Nacional: a história de uma
coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 25
MANUSCRITOS:
XVIII
SÉC.
PERGAMINHOS
ILUMINADOS
DOCUMENTOS
Rio
XII-
de
Nacional,
E
PRECIOSOS.
Janeiro:
1973.
Biblioteca
Catálogo
de
exposição, n. 12
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) –
Área de Manuscritos 50,1,020.
Epifania
72
6. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen.
[132] f. [no geral, 15 linhas]: perg.,
il. color.; 195 x 125 mm. Texto em francês
e latim. Caracteres góticos, alternados em
vermelho e preto. Iniciais iluminadas a
ouro e a cores, com bordaduras, tarjas
laterais e finais de linha ornamentadas em
arabescos com predominância de folhas e
frutos. Nas bordaduras figuras humanas,
anjos e animais fantásticos. Nota de
Damião Berge: “Nas três folhas de guarda
iniciais foram aplicadas seda na cor verde.
A
segunda
serve
de
fundo
a
um
pergaminho rendilhado em cujo centro se
vê pintado um medalhão representando
Nossa Senhora do Rosário, tendo a seus
pés uma bandeirola com a inscrição
Regina S.S. Rosary”. Contém a antiga
localização manuscrita no verso da terceira
folha de guarda: 47–3–61. Carimbo da
Capa com o super libris do marquês de Pombal
Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f.
2v e 132v. O f. 128 está solto. Nas folhas
de guarda contém as armas do marquês de Pombal.
73
Conteúdo:
• f. 1r – f. 12v Calendário em francês
(cada mês em um fólio). No dia 24 de
abril foi registrado posteriormente: “S.
Robert abbs”.
• f. 13r – f. 18r Passagens dos Quatro
Evangelhos.
• f. 18v – f. 26r Orações à Virgem
Maria.
• f. 18v Obsecro te...
• f. 22r O intemerata...
• f. 26v Em branco.
• f. 27r – f. 46v Horas da Virgem
Maria.
Obsecro te
• f. 46v – f. 50v Memórias do Espírito
Santo, da Santíssima Trindade, de São
Miguel, São João Batista, São Nicolau, Santa Catarina, Santa Margarida, de Todos os Santos
e da Paz.
• f. 51r – f. 69v Horas de Nossa Senhora.
• f. 70 Em branco.
• f. 71r – f. 73v Horas da Cruz.
• f. 74r – f. 76v Horas do Espírito Santo.
74
• f. 77r – f. 88v Os Sete Salmos Penitenciais.
• f. 88v – f. 93v Ladainha de Todos os Santos.
• f. 94 Em branco.
• f. 95r – f. 123r Ofício dos Defuntos.
• f. 123v Les. xv. ioies nostre dame (contém apenas
esta inscrição em vermelho).
• f. 124r – 129v As Quinze Orações aos Prazeres de
Jesus Cristo (em francês).
• f. 129v – f. 132v As Sete Súplicas a Nosso Senhor
(em francês).
Nossa Senhora do Rosário
Imagens:
8 miniaturas de página inteira.
1ª miniatura: f. 13r - Os Quatro
Evangelistas (São João, São Lucas,
São Mateus e São Marcos). No basde-page, uma jovem montada sobre
um leão.
2ª miniatura: f. 27r – A Anunciação.
“Na bordadura lateral, um putto entre
folhas e cachos de uvas, abaixo deste
uma torre gótica, suavemente roxa,
erguendo-se de dentro de um tanque
Os Quatro Evangelistas
75
quadrado da mesma cor, despejando, de três gárgulas de ouro, água neste tanque
donde jorra por outra gárgula de ouro; no bas-de-page, um ser híbrido, de corpo
e pernas azuis de cavalo, sem cauda, sem braços, peito e cabeça de homem
idoso, coberto com uma tiara de ouro forrada de azul”. (Damião Berge).
3ª miniatura: f. 51r – A Natividade. Na bordadura lateral dois pastores.
4ª miniatura: f. 71r – Jesus
Crucificado entre os dois
ladrões. No bas-de-page, dois
anjos, ajoelhados, segurando
um escudo azul.
5ª
miniatura:
f.
74r
–
Pentecostes. “Na bordadura
inferior [bas-de-page], um
servo
brandindo,
com
a
direita, uma longa maça e
segurando, com a esquerda,
um enorme cão”. (Damião
Berge)
6ª miniatura: f. 77r – O Rei
Davi. Na bordadura lateral,
um
ser
híbrido,
metade
animal, metade mulher.
Pentecostes
76
7ª miniatura: f. 95r – Um
Sepultamento. No bas-de-page, a
morte, intimando um jovem.
8ª miniatura: f. 124r – A Pietá.
No bas-de-page, um veado alado.
Encadernação:
Encadernação do século XVIII
em marroquim vermelho, com
rica
ornamentação
a
ouro,
lantejoulas brancas e vermelhas.
Filetes e cortes em dourado.
Super libris do Marquês de
Pombal nas duas capas.
Proveniência:
Real
Um Sepultamento
Biblioteca
–
Casa
do
Infantado (Portugal).
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 3
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTHECA NACIONAL. Rio de
Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo da exposição, n. 4
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996. p. 29 e p. 62.
77
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 9
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) - Área de Manuscritos 50, 1, 022
A Pietá
78
7. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Auxerre.
[81] f. [no geral, 19 linhas]:
perg., il. color.: 170 x 111,5 mm.
Texto em latim. Caracteres góticos,
alternados em vermelho, preto e
azul, com bordaduras laterais e
bas-de-pages
ornamentadas
em
arabescos com predominância de
flores. Falta o f. 14. Nota de
Damião Berge: “Faltam, entre as
atuais f. 13 e 14, o início do
Evangelho de S. João e foi cortada
a penúltima folha; entre as f. 1 e 2
o encadernador inseriu uma f.
avulsa, contendo o início das Horas
do Espírito Santo (já existente no
livro nos f. 50r até 52v) não
pertence ao códice apesar de sua
pintura antiga...”. Contém nota
manuscrita à tinta na folha, em
A Crucificação
papel, de guarda anterior: “Compra
feita a Joaquim da Silva Nazareth,
em 12 de julho de 1906, por 150,000. Texto em três tintas”. Possui o carimbo da Biblioteca
Nacional – Secção de Manuscritos em todos os fólios.
79
Conteúdo:
• f. 1 Em branco.
• f. 2r – f. 13v Calendário em
francês (cada mês em um fólio)
• f. 14r – f. 16v Passagens dos
Quatro Evangelhos.
• f. 16v – f. 20v Orações à
Virgem Maria.
• f. 16v Obsecro te...
• f. 19r O intemerata...
• f. 21r – f. 46r Horas da Virgem
Maria.
• f. 46v Em branco.
• f. 47r – f. 49v Horas da Cruz.
• f. 50r – f. 52v Horas do
Espírito Santo.
• f. 53r – f. 60r Os Sete Salmos Penitenciais.
• f. 60r – f. 62v Ladainha de Todos os Santos.
• f. 63r – f. 80r Ofício dos Defuntos.
• f. 80v e f. 81 Em branco.
Pentecostes
80
Imagens:
6 miniaturas de página inteira.
1ª miniatura: inserida entre os f. 1 e o f. 2 – Pentecostes. No verso, bordadura
lateral à esquerda.
2ª miniatura: f. 21r – A Anunciação. No bas-de-page aparece um animal com
duas pernas, em azul e ouro, com rosto humano num enorme elmo de ouro.
3ª miniatura: f. 47r – A Crucificação.
4ª miniatura: f. 50r – Pentecostes.
5ª miniatura: f. 53r – Davi e Golias.
6ª miniatura: f. 63r – A Morte de pé
em um sarcófago.
Bordadura lateral e basde-page ornamentados em arabescos
nos f. 16v e somente bordadura
lateral nos f. 26v, f. 32v, f. 35v, f.
37v e f. 43v.
Encadernação:
A encadernação é em pergaminho
contemporâneo.
Proveniência:
Davi e Golias
Joaquim da Silva Nazareth (compra
em 1906)
81
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 5
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 11
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,023.
Texto com carimbo
82
8. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas
Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.
[118] f. [no geral, 16
linhas]: perg., il. color.: 125 x
90 mm. Texto em latim.
Caracteres
semigóticos,
alternados em vermelho e
preto. Iniciais iluminadas a
ouro
e
a
cores,
com
bordaduras, tarjas e finais de
linha
ornamentadas
em
arabescos. Contém a antiga
localização manuscrita: cód.
66 – 2. As oito folhas de
Texto
guarda – quatro anteriores e
quatro posteriores – são de
um pergaminho mais novo, no verso da primeira folha está escrito a lápis, e repetido na folha
seguinte, por outra mão e a tinta, a seguinte nota: “Foi comprado este precioso manoscrito em
paris a um libreiro muito besta por 20 francos por um feliz acaso já me davão pelo mesmo e hera
para negocio 300 francos eu pedi 2000”. Anotações manuscritas nos f. 16r, f. 82v, f. 117: Robert
Chevalier e no f. 118: duas assinaturas de François Becquerel. Faltam três fólios: um entre aos f.
28 e f. 29 e dois entre os f. 82 e f. 83. Contém uma nota a lápis no fragmento que foi inserido
entre os f. 90 e f. 91: “Esta folha veio já cortada ao meio. Raymond”. Os f. 1 e o f. 21 estão
mutilados.
Conteúdo:
• f. 1r – f. 12v Calendário em latim (cada mês em um fólio)
83
• f. 13r – f. 15v Horas da Cruz.
• f. 16 Horas do Espírito Santo,
somente as Vésperas e as Completas.
• f. 17r – f. 23r Incipit missa beate
marie...
• f. 23r – f. 28v Passagens dos Quatro
Evangelhos.
• f. 29r – f. 74v Horas da Virgem
Maria.
• f. 74v – f. 82v Orações à Virgem
Maria.
• f. 76r Obsecro te...
• f. 82r O intemerata...
• f. 80v Em branco.
• f. 83r – f. 95v Os Sete Salmos Penitenciais.
• f. 95v – f. 99v Ladainha de Todos os Santos.
• f. 100r Em branco;
• f. 101r – f. 116v Ofício dos Defuntos.
• f. 117 e f. 118 Em branco.
Imagens:
Uma miniatura de página inteira.
As Horas da Cruz
84
1ª miniatura: f. 101v – A Ressurreição de Lázaro.
OBS: No bas-de-page do f. 13r aparece um brasão não identificado.
Encadernação:
A encadernação é em pergaminho
contemporâneo, feita na Biblioteca
Nacional. Notas de Damião Berge
sobre
a
antiga
encadernação:
“Encadernação de 1926, pouco
digna do ms. danificada pela
broca; na lombada, de pano preto,
lê-se, impresso a ouro: Manuscrito
do XV século; capa coberta de
papel marrom, imitando mármore;
A Ressurreição de Lázaro
folhas de guarda do mesmo papel,
colada a uma f. branca, seguida de f., mais antiga, provavelmente de uma encadernação anterior,
colada com a primeira f. do pergaminho em branco[...]”.
Proveniência:
Não foi encontrado nenhum dado sobre a sua proveniência.
Bibliografia:
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 6
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 5
Localização:
Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,028.
85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira; Brasília: INL, 1986.
ARNS, Paulo Evaristo. A técnica do livro segundo São Jerônimo. 2.ed. revista e ampliada. São
Paulo: Cosac Naify, 2007.
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de
Janeiro, 2005.
ARRUDA, Susan Margaret de, CHAGAS, Joseane. Glossário de Biblioteconomia e Ciências
afins. Florianópolis: Cidade Futura, 2002.
ARTES DO LIVRO. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995. Catálogo de
exposição.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. Tradução de
Marcelo Rede. São Paulo: Globo, 2006.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. A.
Queiroz, 1991.
BELO, André. História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. (Coleção História
&... Reflexões, 3)
BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de
Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, mar. 1945.
BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. [1973?]. Datil.
86
BROWN, Michelle P. Understanding illuminated manuscripts: a guide to technical terms. 3th.
ed. Los Angeles: The J. Paul Getty Museum : The British Library, 1994.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução de Vera Maria Xavier dos
Santos. Bauru, SP: EDUSC, 2004.
CARRIÓN GÚTIEZ, Manuel. La Biblioteca Nacional. Madrid: Biblioteca Nacional, 1999.
CARVALHO, Gilberto Vilar de. Biografia da Biblioteca Nacional (1807 a 1990). Rio de
Janeiro: Irradiação Cultural, 1994.
CARVALHO, Kátia de. et al. Travessia das letras. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.
(Coleção Bibliófilos)
CAVALLO, Guglielmo, CHARTIER, Roger (orgs.). História da leitura no mundo ocidental.
Tradução de Fulvia M. L. Moretto, Guacira Marcondes Machado e José Antônio de Macedo
Soares. São Paulo: Ática, 1998. 2 v. (Coleção Múltiplas Escritas)
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução de Reginaldo
Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: UNESP: Imprensa Oficial do Estado, 1999.
______. Os desafios da escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: UNESP, 2002.
______. Formas e sentido. Cultura escrita: entre distinção e apropriação. Tradução de Maria de
Lourdes Meirelles Matencio. Campinas: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil
(ALB), 2003. (Coleção Histórias de Leitura).
87
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos
XIV e XVIII. Tradução de Mary Del Priori. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.
______. As práticas da escrita. In: História da vida privada: da renascença ao século das luzes.
2. reimp. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. (História da Vida
Privada, 3)
CORREIA, Ana Lúcia Merege. O livro impresso: trajetória e contemporaneidade. Rio de Janeiro,
1999. 77 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Convênio CNPq/IBICT e Escola
de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
CUNHA, Lygia da Fonseca Fernandes da. Subsídios para a história da Biblioteca Nacional: Real
Bibliotheca. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 101, p. 123–146, 1981.
DE CRESCENZO, Luciano. História da filosofia medieval. Tradução de Mario Fondelli. Rio de
Janeiro: Rocco, 2006.
DE HAMEL, Christopher. Copistas e iluminadores. Traducción de Julio Rodriguez Puértolas.
Madrid: Ediciones Akal, 2001. (Artesanos Medievales)
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de
Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. p. 481 – 482. Catálogo de exposição.
FARIA, Maria Isabel, PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: terminologia relativa ao
suporte, ao texto, à edição e encadernação, ao tratamento técnico, etc. Lisboa: Guimarães
Editores, 1988.
FEBVRE, Lucien, MARTIN, Henri-Jean. L’apparition du livre. França: Éditions Albin Michel,
1971.
88
FISCHER, Steven Roger. História da leitura. Tradução de Cláudia Freire. São Paulo: UNESP,
2006.
HARTHAN, J. P. L’age d’or des livres d’heures. Paris: Elsevier Séquoia, 1977.
HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1996.
KATZENSTEIN, Úrsula Ephraim. A origem do livro: da Idade da Pedra ao advento da impressão
tipográfica no Ocidente. São Paulo: HUCITEC; [Brasília]: INL, Fundação Nacional PróMemória, 1986.
LE GOFF, Jacques. Em busca da Idade Média. 2.ed. Tradução de Marcos de Castro. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
______. Os intelectuais na Idade Média. Tradução Marcos de Castro. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003.
______. Uma longa Idade Média. Tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2008.
______.“Memória/História”. In: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional: Casa da
Moeda, 1984. v. 1
______. As raízes medievais da Europa. Tradução de Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 2007.
______, SCHMITT, Jean-Claude (orgs.).Dicionário temático do Ocidente medieval. Tradução de
Hilário Franco Junior. Bauru, SP: EDUSC, 2006. 2 v.
LABARRE, Albert. História do livro. São Paulo: Cultrix; Brasília: INL, 1981.
89
LEROQUAIS, Victor. Um livre d’heures de Jean Sans Peur duc de Bourgogne (1404 – 1419).
Paris: Georges Andrieux Expert, 1939.
LITTON, Gaston. Del libro y su historia. Buenos Aires: Browker Editores, 1971. (Breviários de
Bibliotecário)
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2.ed. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
______. Lendo imagens: uma história de amor e ódio.Tradução de Rubens Figueiredo, Rosaura
Eichemberg e Cláudia Strauch. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS
PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição
MARIANA, Manuel Sanchez. Introducción al libro manuscrito. Madrid: Editorial Arco Libros,
1995.
MARKL, Dagoberto. Livro de horas de d. Manuel: estudo introdutório. Lisboa: Imprensa
Nacional: Casa da Moeda, 1983. (Coleção Presença da Imagem)
MARROW, James H. As horas de Margarida de Cleves.Lisboa: Museu Calouste Gulbenkian,
1995.
MARTINS, Wilson. A palavra escrita: história do livro, da imprensa e da biblioteca. São Paulo:
Ática, 1996.
MARTÍNEZ DE SOUSA, José. Pequeña historia del libro. Barcelona: Editorial Labor, 1992.
(Colección Labor. Nueva Serie, 26)
90
MATTOSO, José. História de Portugal: a monarquia feudal (1096 a 1480). Lisboa: Editorial
Estampa, [s.d.]
MONTE-MÓR, Jannice. A Biblioteca Nacional em 1971. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, v. 91, p. 359 – 371, 1972.
NUNBERG, Geoffrey (comp.) El futuro del libro: esto matará eso! Barcelona: Paidós, 1998.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura é patrimônio: um guia. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
PAES, Marilena Leite. Arquivo, teoria & prática. Rio de Janeiro: FGV, 1986.
PINHEIRO, Ana Virgínia. A ordem dos livros na biblioteca: uma abordagem preliminar ao
sistema de localização fixa. Rio de Janeiro: Interciência; Niterói: Intertexto, 2007.
PORTUGAL. Ministério da Cultura. Biblioteca Nacional. Inventário do Patrimônio Cultural
códices iluminados até 1500. Lisboa, [s.d.]. Cd-Rom
RIZZINI, Carlos. O jornalismo antes da tipografia. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1977.
RESUMO histórico. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 19, p. 221–242, 1897.
ROUVEYRE, Édouard. Connaissances nécéssaires a um bibliophile. 5. ed. Paris: E. Rouveyre,
[1899]. 10 t.
RUIZ GARCIA, Elisa. Manual de codicologia. Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez;
Madrid: Pirámide, 1988. (Biblioteca del Libro. Serie Maior; M)
SANTOS, Maria José Azevedo. Ler e compreender a escrita na Idade Média. Coimbra:
Universidade de Coimbra/Faculdade de Letras, 2003. Edições Colibri.
91
SCHWARCZ, Lilia Moritz. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à
independência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média.
Tradução de José Rivair Macedo. Bauru, SP: EDUSC, 2007.
SEMINÁRIO INTERNACIONAL D. JOÃO VI UM REI ACLAMADO NA AMÉRICA, mar.
2000. Anais. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2000.
SUSSEKIND, Flora, DIAS, Tânia (orgs.). A historiografia literária e as técnicas de escrita: do
manuscrito ao hipertexto. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa: Vieira e Lent, 2004.
LES TRÈS RICHES HEURES DU DUC DE BERRY. Itália: La Renaissance du Livre, 2003.
Collection Références. Texto de Raymond Cazelles e prefácio de Umberto Eco. Fac-símile.
VAUCHEZ, André. A espiritualidade da Idade Média Ocidental, século VIII a XIII. Tradução de
Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
VERGER, Jacques. Homens e saber na Idade Média. Tradução de Carlota Boto. Bauru, SP:
EDUSC, 1999.
WALTHER, Ingo F., WOLF, Norbert. Los manuscritos iluminados más bellos del mundo: desde
400 hasta 1600. Madrid: Taschen, 2005. (Obras Maestras de la Iluminación)
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. Tradução de Amalio Pinheiro e Jerusa
Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
92
SÍTIOS NA INTERNET:
FALCÃO, Manuel Franco. Enciclopédia católica popular.
Disponível em: <http://www.agencia.ecclesia.pt/catolicapedia/artigo.asp?id_entrada=93>
Acesso em: 30/01/2009
FERREIRA, Teresa Duarte, SANTANA, Ana Cristina. O tratamento documental de manuscritos
ao serviço da investigação: a experiência da Biblioteca Nacional.
Disponível em: <http://www.purl.pt/6393/1/comunicacoes/manuscritos.pdf>
Acesso em: 25/01/2009
SCHWARCZ, Lilia Moritz. d. João VI e os livros no Brasil: o caso da Real Biblioteca.
Disponível: http://www.realgabinete.com.br/coloquio/3_coloquio_outubro/paginas/14.htm>
Acesso em: 09/01/2009
BIBLIOTECA NACIONAL DA ESPANHA
Disponível em: http://www.bne.es
BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA
Disponível em: http://www.bnf.fr
BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL
Disponível em: <http://www.bn.pt>
BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL
Disponível em: <http://www.bn.br>
BIBLIOTHÈQUE VIRTUELLE DES MANUSCRITS EN SUISSE
Disponível em: http://www.e-codices.unifr.ch/fr
93
GLOSSÁRIO
Antífona
Versículos tirados da Bíblia, que o povo canta ou recita em determinados momentos da missa e
de outras celebrações e, especialmente, no início e fim dos Salmos do Ofício Divino ou Liturgia
das Horas (Falcão: Letra A).
Assinaturas
Numeração colocada no pé das folhas dos cadernos ou apenas na primeira folha da cada caderno;
para tal numeração utilizavam-se letras associadas a números; destinava-se a indicar ao
encadernador a ordem a seguir na encadernação do volume; no livro antigo ajudava a determinar
o formato real (Faria e Pericão, 1988: 29).
Bas-de-page
Parte inferior da página, onde são gravadas cenas, imagens que podem ou não se referir ao texto
acima (Brown, 1994: 16).
Bibliófilo
Pessoa amante das edições originais, raras e curiosas de livros; os bibliófilos apreciam,
sobretudo, a beleza tipográfica, a encadernação, a raridade e o material com que foi impresso e
confeccionado um livro (Faria e Pericão, 1988: 38).
Breviário
Livro litúrgico que contém os textos necessários para celebração do Ofício Divino. Ver também
Ofício Divino e Liturgia das horas (Falcão: Letra B).
Caderno
Conjunto de folhas de pergaminho ou papel dobradas ao meio, encartadas umas nas outras e
constituindo os elementos de um manuscrito ou de um livro antigo (Faria e Pericão, 1988: 50-51).
Camisas de Damasco
Tecido, geralmente de seda, com que se envolviam os códices, principalmente os livros de horas,
para sua proteção. Essas proteções eram assim chamadas porque o tecido vinha da cidade de
Damasco (Rizzini, 1977: 38).
Códice
Do latim caudex (tábua de madeira). Em sua origem eram tabuinhas de madeira enceradas, onde
se escreviam e depois eram agrupadas pelo dorso (lombada) mediante costura. Mais tarde foram
94
substituídas pelo papiro, depois pelo pergaminho. Diferente do rolo onde as folhas eram coladas
umas as outras e, posteriormente, enroladas. O códice é formado por folhas soltas que se dobram
e se encaixam umas nas outras para formar os cadernos. A vantagem é que se podia manipular
com mais facilidade e escrever nos dois lados da folha. A palavra hoje se utiliza para denominar
livros escritos à mão, principalmente sobre pergaminhos. O livro manuscrito, de uma certa
antiguidade, composto por um conjunto de folhas de um material flexível (papiro, pergaminho ou
papel), unidas entre si pela margem interna e geralmente protegidas com capas.
(Walther e Wolf, 2005: 492).
Codicologia
Ciência que tem por objeto o estudo do livro manuscrito em todos os seus aspectos.
(Ruiz García, 1988: 376).
Colofão
Contém indicações a respeito da produção de um manuscrito ou de um livro impresso antigo. É
uma indicação tipográfica colocada na última página impressa da obra, onde figura o lugar, o
impressor e data, seguida por vezes pela marca tipográfica; nos incunábulos e obras da primeira
metade do século XVI, continha dados mais pormenorizados sobre o autor, título da obra e o dia
em que a obra acabou de ser impressa. Corresponde ao Explicit dos manuscritos.
(Faria e Pericão, 1988: 75).
Copista
Também era chamado de amanuense (servi ad manum), escriba, pendolista ou pendolário (de
pendola, pena de ave usada para escrever). Era o indivíduo que produzia o códice, copiando um
escrito ou escrevendo um texto ditado (Martínez de Sousa, 1992: 51-52).
Ex-libris
Serve para designar toda a menção de posse de um livro; pode ser manuscrito e figurar em
qualquer lugar do livro; quando é impresso ou gravado em papel (ou excepcionalmente de couro)
está geralmente colado no verso da capa; a identidade do possuidor pode ser indicada pelo nome
(por vezes precedido da palavra ex-libris) ou suas iniciais, eventualmente pelas suas armas, um
emblema ou uma divisa (Faria e Pericão, 1988: 136).
95
Explicit
Termo que originalmente indicava que se havia terminado de desenrolar o livro em forma de
rolo. Posteriormente, indicava o final do manuscrito, ou de um livro impresso antigo, muitas
vezes informando acerca do nome do autor (ou do copista), o local e o título da obra.
(Faria e Pericão,1988: 138).
Factício
É a reunião sob a mesma encadernação de volumes ou brochuras que tratam de assuntos
freqüentemente diferentes assim como de autores distintos (Rouveyre, 1899: 159).
Foliação
É a numeração dos fólios, das folhas (folheação), de um documento de modo que um mesmo
número servia para a página ímpar (recto) e para a página par (verso).
(Martínez de Sousa, 1992: 53).
Iluminura
Conjunto de elementos decorativos e das representações com imagens executadas num
manuscrito com a finalidade de embelezamento, utilizavando-se tintas luminosas, principalmente
a prata e ouro (Brown, 1994: 69).
Incipit
Palavra que encabeça o texto escrito, nos manuscrito e nos incunábulos (Ruiz García, 1988: 381).
Incunábulo
Do latim incunabulum (berço, origem), palavra empregada para designar os primeiros impressos
na Europa até 1501 (Brown, 1994: 72).
Liturgia das Horas
É a santificação das horas do dia pela oração oficial (Ofício Divino) que a Igreja, em união com
Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo, eleva à Santíssima Trindade. Com o decorrer dos
tempos, a Igreja foi santificando as principais horas do dia pela oração dos Salmos e leituras
bíblicas, recorrendo assim à própria palavra de Deus. Desta maneira preparava e prolongava a
celebração do Mistério Pascal, completando a Missa de cada dia. Embora seja oração de todo o
povo, a celebração da Liturgia das Horas passou a ser especial obrigação dos sacerdotes e outros
consagrados, fazendo parte do seu ofício exercido em nome da Igreja (Falcão: Letra L).
96
Livro
É a forma genérica usada para designar um veículo portador de um texto escrito de certa
extensão, independente de sua tipologia, com a finalidade de registrar e transmitir o pensamento.
Desde a Antiguidade, o livro adquiriu várias formas – encontradas, principalmente, no Ocidente.
As mais antigas são as tábulas ou tábuas, que eram pequenas placas de argila, madeira, marfim,
ouro ou outro material que servissem de suporte para a escrita. A segunda forma corresponde ao
rolo (rotulus) ou volumen, assim chamado porque o papiro ou o pergaminho de que era feito se
envolvia em torno de uma vareta cilíndrica de madeira ou de metal, e a terceira forma do livro é o
códice, que se constituiu na forma definitiva do livro. Todavia, é preciso atenção [...] com o
tempo a palavra códice chegou até nós como sinônimo de manuscrito, que não é de todo exata,
pois se todos os códices são manuscritos (isto é, escritos a mão), nem todos os manuscritos são
códices (por exemplo, não o são os rolos, que eram manuscritos, nem os documentos
eclesiásticos ou diplomáticos, as cartas etc.). (Matínez de Sousa, 1992: 49).
Miniatura
Pintura delicada que ilustra e decora as margens de um manuscrito ou de um livro; no início
significava a simples execução manual, a cores, de um sinal ou inicial com o minium (a cor
vermelha do óxido de chumbo), de onde deriva o termo miniaturista (Faria e Pericão, 1988: 227).
Missal
Livro litúrgico que contém os textos necessários (cantos, orações e leituras) para o sacerdote
celebrar o ritual da missa (Brown, 1994: 87).
Ofício Divino
Conjunto de orações (salmos, antífonas, hinos, leituras bíblicas etc.) organizadas pela Igreja
Católica para serem rezadas em determinadas horas do dia.Ver Liturgia das Horas.
(Falcão: Letra O).
Putto
Termo utilizado no campo das artes, que se refere a uma criança nua, geralmente do sexo
masculino, frequentemente representada com asas (Brown, 1994: 104).
Raiado
Operação prévia da escrita que consiste no traçado de linhas que servem de guia para o copista.
Essas linhas podem ser feitas com ponta seca ou mediante a utilização de substância cromática.
(Ruiz García, 1988: 387).
97
Reclamo
Chamada da primeira palavra de um caderno no pé da última página do caderno precedente,
usada para facilitar a ordenação dos cadernos de um livro pelo encadernador.
(Faria e Pericão, 1988: 293).
Recto
Frente de uma folha de pergaminho ou papel; nos livros é sempre constituído pela página ímpar,
ou seja, a que fica à direita, uma vez aberto o livro. Abreviatura r (Faria e Pericão, 1988: 293).
Rubrica
Título, título corrente, título de capitulo ou outros ornamentos traçados à mão em tinta de cor,
geralmente em vermelho, num manuscrito ou incunábulo (Faria e Pericão, 1988: 306).
Saltério
Livro litúrgico que contém o conjunto dos Salmos (Falcão: Letra S).
Santoral
Livro onde são registradas as celebrações das festas em honra dos santos, com exceção daquelas
entre 24 de dezembro e 13 de janeiro, que são conhecidas como o Próprio dos Santos.
(Brown, 1994: 113).
Scriptoria (plural), scriptorium
Era o lugar onde trabalhava o copista medieval, individual ou coletivamente (Ruiz García, 1988:
389).
Super libris
Marca de propriedade estampada na encadernação de um livro (Ruiz García, 1988: 390).
Verso
Face inferior ou interna num fólio, em oposição ao recto. É a parte que fica à esquerda de quem
lê. Abreviatura v (Ruiz García, 1988: 391).
Vinheta
Na origem, era o ornamento formado de folhas de videira que decorava os manuscritos;
atualmente são pequenas ilustrações gravadas, impressas no alto da página ou intercalando o
texto, prestando-se a inúmeras combinações (Faria e Pericão, 1988: 337).
Download

Catálogo dos Livros de Horas da Biblioteca Nacional do Brasil