TRIBUNA ECETISTA Novembro|2015 SINTECT-PI: Sede: Av. Campos Sales, 964, Centro, Teresina. Sub-sedes: Parnaíba: Rua Caipós, 112, Jardim Esperança I, Bairro Ceará. Floriano: Rua Antônio Moreira de Sousa, 45/ Centro. Picos: Rua Tininha de Sá Urtiga, 460-B, Centro. Casa de Praia: Luís Correia - Rua Padre Vieira, 406, Centro. Fone: (86) 3221-6541. www.sintectpi.com.br | [email protected] 320 anos da imortalidade de Zumbi de Palmares O desafio permanece na luta contra o racismo e a herança escravocrata No dia 20 de novembro de 2015, comemoramos 320 anos da imortalidade do grande líder preto, Zumbi de Palmares, símbolo da luta contra o racismo e pela busca da igualdade racial no Brasil, que escravizou mais de 6 milhões de africanos por 300 anos. Por aqui, ainda hoje, persiste o mito da democracia racial, uma barreira ao enfrentamento do racismo e suas consequências. Os pretos ainda são a parcela da população mais sofredora, com menos ganhos, maioria no subemprego e no desemprego. Avolumam-se em favelas e cortiços, condenados a moradias precárias. Os jovens são assassinados aos montes nas periferias e alvos das abordagens policiais. Assim é a democracia racial, na qual os “bacanas” da mídia escondem o que acontece de fato no Brasil. Ainda que a classe operária seja amplamente explorada pelo capital, a utilização do operário preto é um caso à parte, com a constatação dos menores pagamentos e as piores condições de acesso aos estudos, por exemplo, com o objetivo de pressionar os salários para baixo. Na divisão social do trabalho, sobram para eles os piores empregos. Também este ano, lembramo-nos dos 180 anos da Revolta dos Males. Momento histórico no qual um grupo de escravos se movimentava para aniquilar os brancos e mulatos e instalar um estado mulçumano. Na verdade, esses escravos eram alfabetizados e operários altamente qualificados. Mulçumanos eram proibidos de praticar sua religião. Assim como o quilombo de Palmares, comandado por Zumbi, a Re- volta dos Males rememora a grande luta dos negros. Nos Correios - Embranquecimento nos locais de trabalho A Comissão Racial da FENTECT destaca à ECT o embranquecimento dos locais de trabalho. Vale relembrar que, até 1988, a contratação nos Correios era realizada sem concurso público. Com isso, os responsáveis pelas contratações, principalmente para o cargo de carteiro, buscavam pessoas de porte físico forte aparente, e os negros se sobressaíam. Assim, os percentuais desses trabalhadores eram muito altos. Após a aprovação da nova Constituição, ficou estabelecido ingresso por meio de concurso público na ECT. O que deveria ter sido tomado como inovação para a Constituição, com o tratamento igualitário para todos, foi, aos poucos, servindo de artífice do branqueamento no chão dos Centros de Distribuição e de Encomendas. Ainda, com a exigência de segundo grau completo nos certames, as coisas pioraram, uma vez que a população negra tem menor acesso e permanência no sistema escolar e, desde cedo, trabalham para sustentar suas casas. Atualmente, o cargo de carteiro nos concursos públicos, principalmente na ECT, virou trampolim de “concurseiros”, para uma maioria de brancos, que não permanecem na empresa por muito tempo. LEI 12.290/2014 – Cota de 20% no Concurso Público para Negros A adoção da lei de cotas poderia ser considerada um avanço e em determinados segmentos do serviço público é até eficaz. No entanto, nos Correios, essa lei é inócua e restritiva. Caso do Estado da Bahia, onde a população negra chega ao índice de 80%. Apenas 20% de cota parecem não surtir efeitos. Há um retrocesso. O correto seria disponibilizar cotas proporcionais à localidade, de maneira justa. Nesse modelo adotado, é altamente prejudicial a lei 12.290 /14 à população preta, na categoria dos Correios. Em níveis salariais maiores, há avanço, no entanto, reitera-se que as cotas devem estar de acordo com o quantitativo populacional. Apesar dessas e demais lutas, ainda hoje, a população negra tem que resgatar uma dívida histórica. Na ECT, é comum notar que os melhores salários não contemplam os mesmos. Este fato serve para TRIBUNA ECETISTA setembro | 2015 demonstrar que não existe democracia racial, porque não existem condições de igualdade entre brancos e pretos. Assim, mais que homenagear nossos mártires, devemos preparar nossa classe para a superação da Sociedade de Classes e, desde já, discutir e eliminar a discriminação racial e a herança escravocrata no seio de nossa classe. Por fim, no ano de 2016, será realizado 15º Encontro Racial, no mês de maio, na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo é provocar todas as entidades sindicais filiadas e todos os trabalhadores a realizar encontros preparatórios em seus sindicatos e debaterem o tema Racismo e Igualdade Racial. A melhor contribuição no combate a esse mal que perpassa os séculos é convocar os trabalhadores a debater as chagas abertas em nossa sociedade pela utilização da escravidão como modo de produção e desenvolvimento do Brasil por mais de 300 anos. Comissão Racial da FENTECT debate cláusula 04 do ACT e prepara o 15º Encontro Nacional Na semana passada, a Comissão de Assuntos Raciais da FENTECT esteve reunida na cidade de Campinas/SP, a fim de iniciar o trabalho de acompanhamento e discussão do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), cláusula 04 – Promoção da Equidade Racial e Enfrentamento ao Racismo - e definir suas atividades e o 15º Encontro Nacional de Assuntos Raciais. No dia 11 de novembro, a Comissão teve a primeira reunião com a direção da ECT, para acompanhamento da cláusula 04. Um dos pontos mais debatidos foi o censo apresentado durante as negociações da Campanha Salarial, onde os números, segundo os membros da comissão não refletem a realidade da população preta, nem tão pouca a indígena nos Correios. Como exemplo, em Salvador existem mais brancos que preto, e no Amazonas, Rondônia e Roraima um só indígena, isto conforme o censo da ECT. Segundo a coordenadora da GRET (Gerência de Relações do Trabalho), Ângela Rosa, a pesquisa foi feita com base na auto declaração dos trabalhadores, ou seja, como as pessoas se enxergam. Assim, ficou estabelecida a necessidade de se realizar um novo censo qualificado, agora com a participação das entidades sindicais. Também foi sugerido que a ECT coloque um novo item no programa de sustentabilidade social referente à raça e gênero, com requisitos a serem cumpridos por empresas contratadas. Foi solic- itado ainda, que a empresa faça a leitura completa no primeira hora da ECT, da cláusula 04, que trata do combate ao racismo, durante este mês de novembro, por ocasião do dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra. Foi definido o calendário de reuniões da Comissão temática, que ocorrerão durante o período de vigência do Acordo Coletivo de Trabalho. Na reunião em Campinas, a Comissão também debateu e deliberou sobre a realização do 15 º Encontro Nacional de Assuntos Raciais. Foi feito um debate sobre a situação atual dos negros e indígenas nos Correios, ficando definido que o Encontro ocorrerá no mês de maio de 2016, na cidade do Rio de Janeiro. A comissão definiu também o formato do encontro, onde deverão ser apresentadas teses, com o seguinte roteiro: Análise da Conjuntura Internacional e Nacional e seu efeito na população negra e indígena; mulheres Pretas; juventude Preta; liberdade religiosa; terras quilombolas; população indígena; mundo do trabalho; os negros nos correios; proposta de intervenção sindical e propostas para a pauta de reivindicação 2016/2017. Nosso homenageado será Luís Gama, o patrono da cadeira nº 15 da Academia Paulista de Letras. Gama foi poeta, advogado, jornalista e um dos mais combativos abolicionistas de nossa história. Recetemente, foi reconhecido como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), após 133 anos de sua morte. VIVA ZUMBI! ZUMBI VIVE!