Agenda de Trabalho Decente para o Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial Marcia Vasconcelos Coordenadora do Programa de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça no Mundo do Trabalho Escritório da OIT no Brasil Brasília, 3 de julho de 2012 Por que uma agenda de trabalho decente para o enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial? O processo de produção e reprodução das desigualdades raciais é um fenômeno complexo, que envolve elementos históricos da supremacia branca, associada à noção de democracia racial que fragilizou o reconhecimento destas desigualdades no Brasil. Discutir políticas e instrumentos de combate à desigualdade racial implica em debater um conjunto variado de fenômenos que estão na base desse processo, como o racismo, a discriminação racial, e o preconceito. A combinação desses elementos perpetua a situação de desigualdade e cria obstáculos ao desenvolvimento social da população negra brasileira. Por que uma agenda de trabalho decente para o enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial? Nos anos 2000, observa-se uma evolução positiva nos principais indicadores de mercado de trabalho: geração de posto de trabalho formais, aumento das taxas de participação e dos níveis de ocupação, diminuição da taxa de desemprego e da informalidade e aumento do rendimento real. Porém, persistem importantes desafios... A taxa de informalidade segue sendo bastante elevada e os baixos rendimentos ainda são uma realidade para a grande maioria dos trabalhadores e trabalhadoras. As desigualdades raciais ainda marcam fortemente a estrutura do mercado de trabalho. Perfil educacional Nos últimos dez anos houve uma diminuição na taxa de analfabetismo para o total da população. Porém... 14,1 milhões de analfabetos. Enquanto 5,9% dos brancos/as são analfabetos/as, este percentual chega a 27,7% para os/as negros/as, ou seja, cerca de 20 pontos mais alta. A média de anos de estudos da população branca com 15 anos ou mais é de 8,4 anos, e para os/as negros/as é de 6,7 anos. Mesmo havendo avanços nos últimos dez anos, fazendo com que tanto brancos quanto negros alcancem patamares melhores de educação, se mantém a desigualdade racial nesta área Houve avanços no acesso dos/as negros/as ao ensino superior. No entanto, as expressivas desigualdades permanecem, sendo que somente 10% de negros/as contra 15,0% de brancos têm curso superior concluído na faixa de idade entre 25 anos e mais. Principais indicadores de mercado de trabalho (pessoas entre 16 e 64 anos-PNAD 2009) Taxa de participação Homens brancos – 86,51% Homens negros – 86,79% Mulheres brancas – 65,54% Mulheres negras – 63,94% a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho continua sendo significativamente menor do que a dos homens, mais de 20 pontos percentuais de diferença, estando as mulheres negras na pior situação. Principais indicadores de mercado de trabalho Nível de ocupação Homens brancos – 81,76% Homens negros – 80,92% Mulheres brancas – 59,34% Mulheres negras – 55,75% Da mesma forma que a taxa de participação, o nível de ocupação das mulheres no mercado de trabalho continua sendo significativamente menor do que a dos homens, mais de 20 pontos percentuais de diferença, estando as mulheres negras na pior situação. Taxa de desemprego Homens brancos – 5,49% Homens negros – 6,76% Mulheres brancas – 9,46% Mulheres negras – 12,81% A taxa de desemprego das mulheres negras é mais de 2 vezes superior à dos homens brancos. Principais indicadores de mercado de trabalho Rendimento médio real Em 2004 Mulheres brancas – 66,26% do rendimento dos homens brancos Homens negros – 51,13% Mulheres negras – 36,59%. Em 2009 Observou-se uma melhoria dos rendimentos para todos os grupos e uma diminuição das disparidades, mantendo-se, porém, a mesma estrutura piramidal, com homens brancos ocupando o topo da pirâmide e as mulheres negras apresentando os piores indicadores. Mulheres brancas – 68,15% do rendimento dos homens brancos. Homens negros – 56,66% Mulheres negras – 40,33% Entre 2004 e 2009, houve um crescimento de 17,77% nos rendimentos reais das mulheres e de 16,25% dos homens. Para homens negros e mulheres negras, este percentuais foram significativamente maiores: 23,53% e 23,11% respectivamente. Principais indicadores de mercado de trabalho Informalidade A sobrerepresentação da população negra, especialmente das mulheres negras, nas ocupações informais segue sendo uma realidade. Taxa de formalidade Homens brancos – 64,76% Mulheres brancas – 58,40% Homens negros – 49,81% Mulheres negras – 42,51% Contibruição à previdência social Homens brancos – 62,35% Mulheres brancas – 60,76% Homens negros – 48,58% Mulheres negras – 45,37% O Trabalho Doméstico 7,2 milhões de pessoas 93% são mulheres 6,7 milhões de trabalhadoras domésticas 17% da ocupação feminina 61,6% são mulheres negras 1,7 milhão (26,3%) têm carteira assinada Entre as trabalhadoras domésticas negras este percentual é de 24,6% e entre as brancas, 29,3% 30,1% das trabalhadoras domésticas contribuem para a previdência social Entre as trabalhadoras domésticas negras este percentual é de 27,7% e entre as brancas, 33,9% “a crescente presença do tema das desigualdades raciais no país é facilmente constatável não apenas como tema de debate público e acadêmico, mas como objeto de preocupação governamental, em torno do qual tem se constituído iniciativas. Esse movimento nasce da crescente convicção de que, para a construção de uma efetiva democracia racial, é necessária uma intervenção pública que atue no combate à discriminação e racismo”. (JACCOUD, 2008) OBRIGADA! [email protected]