SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE RAÇA E DISCRIMINAÇÃO RACIAL DISCIPLINA: SOCIOLOGIA O propósito desta sequência didática é discutir com e/em interação com os jovens-alunos, a questão do preconceito racial e o processo de construção sócio-histórica deste fenômeno no Brasil e no Mundo. Para isso, faz-se necessário a discussão das teorias cientificas que buscavam fundamentar o racismo Eugenia, o Mito da Democracia racial apresentado por Gilberto freire em sua Obra “Casa Grande Senzala” e a desconstrução desse mito com a análise de Florestan Fernandes e a tese do fenômeno do Racismo Velado No Brasil. Obs: Uma dica para maior efetividade deste trabalho é a de iniciá-lo um mês antes do Dia da Consciência Negra (20 de Novembro) e que o trabalho tenha culminância nesta data com a mobilização de toda a comunidade escolar e apresentação dos materiais produzidos a partir da efetivação desta sequência didática ATIVIDADE 1: Sensibilização sobre o Tema: Brasil, País com Racismo, mas Sem racista . TEMPOS: 50 Minutos OBJETIVO: Apresentar o material da campanha realizada pela IBASE em 2003 que teve como tema: “Aonde você guarda seu preconceito”. O propósito desta atividade é aproximar nossos educandos do conceito de “Racismo Velado” - fruto da análise do sociólogo Florestan Fernandes acerca do fenômeno da Discriminação Racial no Brasil. Tal análise indica que em nosso país mesmo apresentando um latente preconceito frente a determinados grupos raciais, a sociedade brasileira ainda insiste em negar este fato. MATERIAL: Giz, lousa , impressões em folha A4 PROCESSO: Inicialmente, escreva no Quadro ou Imprima e distribua para os educandos o seguinte fragmento de texto: “Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostrou que grande parte dos brasileiros (87%) admite que há discriminação racial no país, mas apenas 4% da população se considera racista.” Este pequeno fragmento deve ser descutido de forma reflexiva junto aos alunos, objetivando iniciar um processo de desnaturalização dos processos que resultam em posturas preconceituosas em nossa vida cotidiana. Além da questão que o próprio texto propõe: “Existe Racismo sem racista?”, Os alunos podem ser questionados pelo professor sobre o caráter do preconceito racial no Brasil. Como ele resume a discriminação dos negros no Brasil? O padrão de preconceito racial brasileiro se difere do exercido em outras parte do Mundo? E quais medidas poderiam ser adotadas para sanar o problema do Racismo em nossa sociedade? DICA: Antes de realizar a discussão do fragmento com os educandos, provoque-os com as mesmas questões que foram feitas aos participantes da pesquisa. Peça para levantar as mãos, os alunos que acham que existe racismo no Brasil ( caso seja necessário explique em linha gerais o que é racismo). Anote no quadro, a quantidade de alunos que afirmaram que sim e os que responderam não. Em seguida, pergunte quem se considera racista e realize o mesmo procedimento anotando os resultados no quadro. Em seguida, relacione o resultado obtido em sala de aula (dados apresentados pela pesquisa da Fundação Perseu Abramo), salientando a questão suscitada pela pesquisa: “ Existe Racismo Sem racista?” Depois de realizada a discussão, convite os alunos para se reunirem em grupos e trocar experiências sobre Casos de descriminação racial, que eles já tenham presenciado. Solicite que o grupo sintetize o que foi discutido em uma folha. Tal síntese deve ser entregue ao professor. Este material deverá servir de subsídio para próxima aula. ATIVIDADE 2: Análise e discussão dos textos produzidos na aula anterior TEMPO: 50 minutos (1 aula) OBJETIVO: Esta atividade pretende mostrar que o fenômeno do preconceito racial está muito mais próximo do cotidiano de nossos educandos. Refletir com os alunos, o fato de vivermos em uma sociedade ainda racista, com preconceitos/discriminações naturalizadas. Por meio dessa mesma atividade, podemos fomentar a discussão acerca de como devemos nos portar frente a um caso de discriminação racial explícito. Para tanto, tenha como balizador a legislação brasileira no que tange o combate a discriminação étnico-racial. PROCESSO: Analise os textos produzidos pelos alunos na última atividade. Inicie esta aula comentando o material produzido por eles e proponha um debate com os mesmos sobre como a vitima dos casos citados por eles deveriam proceder diante de tais ofensas. ANÁLISE DA PRÀTICA: Esta atividade com os alunos do Ensino Médio teve resultados bastante ricos. Alguns casos relatados foram amplamente discutidos e tiveram um grande impacto nas turmas. Um caso que marcou bastante as turmas foi o episódio O balé no Palácio das Artes. Uma aluna relatou que desde muito jovem apresentava um talento nato para o Balé e com bastante esforço, ela conseguiu uma bolsa de estudos no Corpo de Balé do Palácio das Artes, Instituição Pública com grande renome no campo das culturas/Artes em Minas Gerais. Tal instituição é mantida pelo governo do estado de Minas Gerais. Durante os treinos/ensaios no grupo de Balé, a aluna foi se destacando, sempre elogiada pelos professores. Mas quando foi realizada a montagem do espetáculo com as alunas de sua turma ocorreu para ela a grande surpresa. Mesmo com todos os elogios dos professores, a aluna ficou com atuação secundária dentro da peça. Ao chegar em casa, a mesma relatou o episódio para sua mãe, que resolveu verificar o ocorrido junto aos professores do Palácio. Respondendo à mãe da aluna, uma professora do Palácio disse, sem maiores rodeios: ‘’meninas de cor”, tradicionalmente no balé, não atuavam em papéis de destaque...” . Após descrever este caso, sem citar o nome da educanda em questão, realizei uma análise da gravidade do caso. Chamei atenção dos alunos para o fato do ocorrido se passar numa instituição Pública que atua no campo da cultura, onde deveria ser justamente destruído/refletivo os preconceitos e valorizado a diversidade cultural de nosso país . Em seguida, questionei a turma sobre qual seria a atitude correta que a mãe da educanda deveria ter tomado frente ao caso de discriminação racial sofrido por sua filha . Após esta discussão, chegamos a conclusão de que além de chamar a polícia e fazer um boletim de ocorrência, já que a legislação brasileira prevê em seu código penal o racismo como crime. A mãe de nossa educanda deveria chamar a imprensa e colocar público o caso de racismo na Instituição Palácio das Artes. Seria interessante ainda, que os alunos tivessem acesso a legislação citada. No meu caso, tive a sorte de ter um aluno que dispunha de celular com internet naquele momento, que facilmente encontrou tal lei. Por fim, apresente o artigo da legislação brasileira na próxima aula com o intuito de fundamentar da discussão ali realizada. OBS: Vale muito a pena, acrescentar a essa discussão, os casos ligados ao racismo no futebol (Caso do Goleiro Aranha do Santos e do Volante Tinga do Cruzeiro) entre outros. Peça aos alunos para pesquisarem na Internet tais casos. Depois divida a turma em grupo para a discussão dos mesmos. Relatar o caso: quem são os sujeitos envolvidos? Onde eles aconteceram? Como tais casos tramitaram juridicamente? quais suas repercussões na mídia? e como esses casos mobilizaram a opinião pública? Essa pode ser uma oportunidade de fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o tema. No caso do futebol, por exemplo, você pode questionar os educandos se o racismo é um fenômeno novo no futebol, dado o grande número de denúncia ocorrida recentemente. Antes o racismo não ocorria no futebol? Hoje tais denúncias representam uma maior tomada de consciência dos jogadores sobre os seus direitos? Caso ache conveniente, uma aula poderá ser reservada para tratar sobre o tema “ Racismo no Futebol”. Mas é interessante que essa discussão seja realizada de forma local para o global, ou seja, o educando deve perceber que da mesma forma que deve ser abominado o ato de chamar alguém de “Macaco” no campo de futebol, o mesmo deve ser feito na sala de aula . ATIVIDADE 3 – O CAMPO DA PUBLICIDADE TEMPO: 50 minutos (1 aula) OBJETIVO: Nesta aula, buscaremos aprofundar o processo de sensibilização de nossos educando sobre a questão da discriminação racial. Para isso, apresentaremos algumas peças utilizadas pelos movimentos sociais para discutir a questão do racismo no Brasil. Fomentar questões: Por que existe racismo? Historicamente, podemos datar e/ou indicar onde surgiu a discriminação racial e de quem ela está a serviço? Por que as pessoas se tornam racistas? Existe lógica em categorizar as pessoas segundo a sua cor? Realmente existe raças entre os seres humanos? PROCESSO: Para isso, utilizaremos as peças publicitarias da campanha “Onde você guarda o seu racismo?“ O material consiste em uma série de depoimentos de pessoas que foram vitimas de discriminação racial no Brasil como os listados abaixo: IMAGEM 1 As proximas três imagens são interessantes para ilustrar o padrão de preconceito da sociedade brasileira. Preconceito, que segundo o Sociologo Florestan Fernandes classificou como racismo velado . Ou seja , temos uma sociedade onde legalmente o preconceito racial é condenado e repudiado . Mas que na prática se mostra mapeado: populações negras e indígenas são relegadas a postos de trabalhos desqualificados e são os responsabilizados pelos crimes e atos de violências. Quando um individuo negro ou indígena escapam deste padrão - são vitimas de preconceitos, como é ilustrado no caso de advogados negros que ao usarem ternos sempre são confundidos como segurança ou se médico negro será identificado como auxiliar de enfermagem. Isto se deve ao forte processo de naturalização do racismo de cor. IMAGEMS As imagens acima podem ser mostradas com as seguintes questões aos jovens educandos: 1) As pessoas nascem racistas ou a educação que eles recebem as tornam racistas? O objetivo aqui é deixar claro que o racismo é uma construção social e ideológica. Ela é reproduzida e naturalizada por diversas instituições em nossa sociedade brasileira, como: família, igreja, escola, política e mídia. Outra peça que poderia contribuir para essa discussão seria o Vídeo: “Racismo desde criança. Comparando as bonecas”. O vídeo apresenta o impacto que a emersão de várias crianças em uma sociedade racista, como a Norte Americana, produz na identidade dessas crianças - autorepresentações. No debate, seria interessante correlacionar a análise do vídeo à teoria do educador Brasileiro Paulo Freire, em especial, a sua obra “Pedagogia do Oprimido”. Nesta, Paulo Freire discute a necessidade da educação ajudar sujeitos escolares superarem a mentalidade de oprimido e opressor. Opressão fundamentada em uma sociedade que hierarquiza as pessoas: marcas sociais, sexo, raça/cor, orientação sexual, relação de gênero e crença religiosa, etc. O vídeo em questão é um exemplo claro desta construção social que rotula as pessoas, segundo a sua cor. O vídeo deixa claro como as representações incutem nas mentes das próprias pessoas que são oprimidas, que as mesmas são inferiores, o que definitivamente não possui fundamento algum. Obs: Recomendo a Leitura da Obra “Pedagogia do Oprimido”, em especial o seu primeiro capítulo para realização de uma mediação mais qualificada da discussão do vídeo. Link do Vídeo: “Racismo desde criança. Comparando as bonecas” http://www.youtube.com/watch?v=DDO3RrxmCeQ Link do Livro: Pedagogia do Oprimido http://www.letras.ufmg.br/espanhol/pdf%5Cpedagogia_do_oprimido.pd