UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO COMO RECURSO EDUCATIVO
NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sandra Maria Glória da SILVA
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
RESUMO: O objetivo deste trabalho é verificar as possíveis contribuições das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) como recurso educativo na Formação Profissional. Nas últimas
décadas foram desenvolvidas várias TIC, elas abrangem as tecnologias computacionais, digitais, a
telefonia móvel e têm na Internet a sua mais forte expressão. Os setores da indústria e do comércio são
os primeiros a aderirem aos avanços tecnológicos, pois, para eles, a competitividade, as vendas e os
lucros são pontos vitais. Nesse contexto, muitas escolas de formação profissional necessitam atualizar
seus recursos pedagógicos a fim de preparar seus alunos para atenderem as demandas atuais do setor
produtivo. A presente investigação de caráter qualitativo do tipo descritiva identificou, por meio de
entrevistas exploratórias e questionários, que os professores da instituição pesquisada utilizam as TIC
para complementar as aulas e como suporte para atividades extraclasse.
PALAVRAS-CHAVE: Formação Profissional; Tecnologia Educacional; Tecnologia de Informação e
Comunicação.
1 . Introdução
Nas últimas décadas, devido ao avanço alcançado pelas áreas de Eletrônica,
Telecomunicações e Informática, foram desenvolvidas várias Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), elas abrangem as tecnologias computacionais, a telefonia móvel e têm na
Internet a sua mais forte expressão. Essas TIC contribuem para a ampliação do potencial
humano na realização de atividades diversas.
Os setores da indústria e do comércio são os primeiros a aderirem aos avanços
tecnológicos, pois para eles a competitividade, as vendas, os lucros são pontos vitais. A
manutenção desses segmentos econômicos no setor produtivo depende da incorporação dos
avanços científicos e tecnológicos.
Nesse contexto muitas escolas de formação profissional necessitam atualizar seus
recursos pedagógicos com o objetivo de preparar os alunos para atenderem as demandas
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atuais do setor produtivo, sem deixar de lado o embasamento teórico e prático que caracteriza
e solidifica qualquer profissão.
A instituição pesquisada visando qualificar ainda mais seus alunos para competirem
no mercado de trabalho implantou um laboratório de Informática com acesso à Internet,
programas específicos para os cursos oferecidos e equipou as salas de aula com dispositivos
multimídia.
Diante do exposto pergunta-se: quais as possíveis contribuições das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) como recurso educativo na Formação Profissional?
Pretendeu-se, de maneira geral, com esta pesquisa contribuir com a reflexão sobre os limites e
as possibilidades das TIC na Formação Profissional e de modo mais específico identificar as
formas de utilização das TIC como recurso educativo na Formação Profissional.
Acredita-se que as TIC são usadas como suporte didático para as aulas práticas e
teóricas. Sem dispensar a presença do professor elas oferecem recursos que potencializam o
aprendizado dos alunos e facilitam a atividade docente.
2. Contribuições das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para a educação
De acordo com Valente (1998) para introduzir o computador na educação é
necessário: o aluno, o professor capacitado para usar o computador como meio educacional, o
computador e o software educativo. No contexto educacional o computador tem sido usado
tanto para ensinar qualquer assunto ao aluno – ensino através do computador; quanto para
ensinar sobre computação – o computador é usado como objeto de estudo. Este último não é o
objetivo da informática educativa.
Quando o computador ensina subentende-se que o aluno possa adquirir por meio da
máquina conceitos sobre diversos assuntos, ou seja, ao invés do livro usa-se o computador. Os
tipos de softwares usados para essa prática educativa são: tutoriais, exercício-e-prática, jogos
educacionais e simulação.
Por outro lado, se o aluno ensina o computador são usados softwares de linguagem
computacional do tipo BASIC, Logo, Pascal, criação de banco de dados, ou até processadores
de texto. Todos eles permitem que o aluno expresse seu pensamento por meio do software.
Valente (1998) apresenta as contribuições de cada uma dessas modalidades de uso do
computador, porém vamos destacar apenas o papel dos softwares de simulação, em função
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das limitações desse trabalho e da maior frequência de uso dessa categoria na instituição
pesquisada.
Na visão desse autor os softwares de simulação permitem a criação de modelos
simplificados da realidade. Eles são utilizados para explorar situações fictícias, de risco,
experimentos que são muito caros, complicados ou que necessitam de tempo para serem
concluídos.
A simulação proporciona ao aluno a possibilidade de desenvolver e testar hipóteses,
apurar conceitos e investigar resultados. Esta modalidade de uso do computador favorece os
trabalhos em grupo, especialmente aqueles onde é preciso tomar decisões.
Entretanto o uso da simulação como ferramenta de ensino não deve substituir a
atividade prática. Pois, conforme Valente (1998)
Por si só ela não cria a melhor situação de aprendizado. A simulação deve ser vista como um
complemento de apresentações formais, leituras e discussão em sala de aula. Se estas
complementações não forem realizadas não existe garantia de que o aprendizado ocorra e de que o
conhecimento possa ser aplicado à vida real. Além disto, pode levar o aprendiz a formar uma visão
distorcida a respeito do mundo, por exemplo, ser levado a pensar que o mundo real pode ser
simplificado e controlado da mesma maneira que nos programas de simulação. Portanto, é
necessário criar condições para o aprendiz fazer a transição entre a simulação e o fenômeno no
mundo real. Esta transição não ocorre automaticamente e, portanto deve ser trabalhada.
(VALENTE, 1998, p.11)
Ao resgatar a história dos usos do computador na educação Valente (1998) afirma que
as novas modalidades de uso do computador na educação apontam para uma nova direção o uso
desta tecnologia não como ‘máquina de ensinar’ mas, como uma nova mídia educacional: o
computador passa a ser uma ferramenta educacional, uma ferramenta de complementação, de
aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do ensino. (p.6)
Tais mudanças estão relacionadas com a preparação do estudante para buscar e usar a
informação, resolver problemas e se tornar um aprendiz independente. Pois, a função do
aparato tecnológico é criar condições de aprendizagem e não somente ensinar. Essa visão
surge exatamente no momento em que os papéis da escola e do professor são questionados.
Pois alguns fatos que a escola ensina se tornam rapidamente obsoletos e o professor que
procura ser um mero repassador do conhecimento estará competindo com computadores que
fazem isso de forma mais eficiente, portanto ele necessita passar a criar ambientes de
aprendizagem que facilitem o progresso intelectual do aluno.
Tajra (2004) apresenta diversas contribuições do uso das TIC, e em particular da
informática, dentro de um ambiente educacional. Segundo ela os benefícios variam de acordo
com o grau de envolvimento dos professores e com a proposta pedagógica de cada instituição.
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Além disso, ela salienta que as pessoas envolvidas na utilização desse recurso educativo
devem estar dispostas a enfrentar novos desafios.
Vejamos algumas dessas contribuições:
- Aumento dos níveis de socialização do conhecimento entre os alunos em
comparação a uma aula convencional onde o professor é apresentado como o único
detentor do saber;
- Os estudantes sentem-se mais motivados e criativos devido à variedade de recursos
audiovisuais disponíveis;
- A aprendizagem se torna colaborativa, ou seja, os alunos que dominam alguns
recursos da Informática geralmente compartilham com aqueles que estão iniciando;
- Há um aumento no nível de concentração daqueles alunos que normalmente não
conseguem se concentrar em salas de aula tradicionais;
- Contribuição para o desenvolvimento da comunicação oral, escrita, sonora e visual e
da estrutura lógica do pensamento.
A abordagem de Tajra (2004) para a utilização das TIC na educação é reforçada pela
visão de Oliveira, Costa e Moreira (2004), segundo eles, hoje há diversas estratégias
disponíveis para a utilização dessas tecnologias como recurso educativo. Algumas escolas já
utilizam as TIC para promover interações, apresentar trabalhos, realizar pesquisas, estudar
conteúdos, promover atividades de ensino presencial e à distância entre outras, no entanto,
todas essas atividades devem estar integradas ao processo pedagógico da escola.
Vejamos com mais detalhes algumas das formas de utilização dos recursos
tecnológicos propostas por Oliveira, Costa e Moreira (2004):
Recursos de informática favorecendo a pesquisa: a busca por informações em meios
eletrônicos facilita e agiliza todo o processo, porque em um único DVD é possível
armazenar, por exemplo, todos os volumes uma enciclopédia. “Esse tipo de atividade
desenvolve no aluno novas habilidades de pesquisa, o que altera sensivelmente os
processos de tratamento da informação desenvolvido na escola.” (p.124) O professor
nesse contexto deve levar os alunos a compreenderem que buscas em meios
eletrônicos devem ir além do copiar e colar.
Recursos de informática favorecendo o desenvolvimento de trabalhos: os softwares
aplicativos do tipo planilha eletrônica, editor de textos, apresentação de slides
disponibiliza aos alunos ferramentas capazes de melhorar a aparência dos seus
trabalhos escolares. Há também os recursos de softwares tutoriais
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que favorecem a construção pelos alunos de trabalhos com certo grau de interação proporcionado
pela integração em uma única ferramenta, de fácil utilização, dos diversos recursos de hipermídia.
Assim a partir de um simples texto, o aluno pode dar asas à sua imaginação, transformando-o em
um hipertexto que atende ao comando de um usuário, apresenta figuras, animações e recursos
sonoros, musicais ou de narração. (OLIVEIRA, COSTA e MOREIRA, 2004, p.125)
Recursos de informática favorecendo o estudo de conteúdos: Oliveira, Costa e Moreira
(2004) apresentam as contribuições do software educativo (SE) e da WebQuest para o
aprendizado dos conteúdos curriculares. Alguns SE, principalmente os tutoriais,
ajudam os alunos a aprenderem por meio de caminhos diversificados.
Em tutoriais de base interacionista, à medida que a relação aluno-SE-conteúdo é estabelecida, as
respostas do aluno vão sendo trabalhadas na perspectiva do conhecimento a ser construído e
consequentemente a sua trajetória pelo SE vai sendo elaborada. (OLIVEIRA, COSTA e
MOREIRA, 2004, p. 126)
A WebQuest, por sua vez, é uma ferramenta, criada por Bernie Dodge, capaz de
orientar a navegação na Internet “sobre determinado conteúdo curricular, através de links que
permitem aos estudantes a exploração de sites previamente escolhidos” (p. 131), além de
agregar outras fontes de informação tais como livros, filmes, entrevistas, para a realização de
uma tarefa. Dessa forma, é possível controlar em grande parte a navegação autônoma dos
alunos.
É importante salientar que, assim como o software educativo, a WebQuest só se transforma num
diferencial enriquecedor do processo ensino/aprendizagem quando, entre outros aspectos, leva o
aluno a refletir sobre o conteúdo estudado, trata os erros e os acertos das respostas e favorece a
socialização. Esse recurso pedagógico busca estimular, por isso mesmo, o trabalho em grupo de
modo a gerar, não uma apropriação solitária do conhecimento ou distribuição de tarefas entre os
alunos, mas uma atividade colaborativa entre os mesmos. (OLIVEIRA, COSTA e MOREIRA,
2004, pp. 132 – 133)
Recursos de informática favorecendo o desenvolvimento de esquemas de pensamento:
acredita-se nessa perspectiva, segundo Oliveira, Costa e Moreira (2004) que a
habilidade de programar computadores usando linguagem de alto nível contribui para
o desenvolvimento da capacidade de abstração, do raciocínio lógico e da cognição dos
alunos.
A ênfase se apresenta nas estratégias desenvolvidas pelo aluno, como autor do programa, e para
isso a linguagem associa a programação de computadores ao desenvolvimento de uma prática
inspirada nos processos cognitivos do sujeito, desmistificando, dessa forma, a retórica de que
programar computadores é apenas tarefa de especialistas. (OLIVEIRA, COSTA e MOREIRA,
2004, p. 135)
Uma das linguagens de programação mais usadas nas escolas é o Logo, por meio de
simples instruções o aluno consegue desenvolver esquemas para solucionar problemas
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diversos. No entanto, a ênfase não deve estar no produto, mas no processo de aprendizagem
do aluno.
Recursos de informática favorecendo o desenvolvimento de atividades de ensino à
distância: a utilização das TIC no ensino à distância aperfeiçoou uma prática antiga e
bastante difundida. Os avanços tecnológicos possibilitaram maior aproximação entre
alunos e professores, crescimento na oferta de cursos à distância ou semi-presenciais,
acesso a fontes de informação cada vez mais atrativas. Além disso, conforme Oliveira,
Costa e Moreira (2004) um número cada vez maior de alunos pode ser atendido, há
flexibilização nos horários e locais para realização das atividades, facilita “o
desenvolvimento da autonomia do aluno e da sua forma de comunicação.” (p.137)
A integração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ao ensino e
aprendizagem é uma área crescente que tem atraído o esforço de muitos educadores nos
últimos anos. Entretanto, para Wang & Woo (2007) a integração das TIC à educação não é
um conceito novo; ele é tão velho quanto outras tecnologias como o rádio e a televisão. Sabese que as TIC são apenas ferramentas, não são reservadas ao âmbito educacional e nem
resolvem todos os problemas da educação, porém são recursos que tornam novas abordagens
instrucionais, como a simulação e a aprendizagem cooperativa mais viáveis.
Wang & Woo (2007) definem a integração das TIC ao ensino como um processo que
utilize algum recurso de informação disponível na Internet, programas multimídia, câmeras
digitais e outras ferramentas para melhorar o aprendizado dos alunos. O simples fato de
equipar uma sala com computadores de última geração não é suficiente para proporcionar a
integração das TIC à educação. O computador deve ser ajustado ao currículo, não o contrário.
Por isso, “a integração efetiva da TIC deve focar no projeto pedagógico que justifique como a
tecnologia é usada de que forma e porque.” (p.149)
a integração efetiva das TIC ao processo de aprendizagem tem o potencial de engajar os
aprendizes. Por exemplo, usando multimídia para apresentar problemas autênticos e
desestruturados dentro da aprendizagem baseada em problemas motiva e desafia os estudantes e,
portanto, desenvolve suas habilidades para solucionar problemas. [...] A TIC suporta vários tipos de
interação: aluno-conteúdo, aluno-aluno, aluno-professor, e aluno-interface. Estes tipos de interação
tornam o processo de ensino mais atrativo e os aprendizes mais ativos e engajados. (WANG &
WOO, 2007, p.149)
3 . Distorções e cuidados necessários com o uso das TIC na educação
Moreira & Kramer (2007) alertam sobre a influência da globalização na educação e no
trabalho docente. Esse processo que ocorre em todo o mundo apresenta para gestores,
professores e especialistas educacionais o desafio de utilizar os recursos das TIC no ensino.
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Muitos ingenuamente acreditam que a simples inserção das TIC na escola possa ocasionar
mudanças significativas no processo ensino-aprendizagem, elevar os níveis de qualidade e
aproximar a escola da sociedade da informação e do conhecimento. Há, no entanto, um
equívoco ao acreditar que o uso de TIC na educação seja sinônimo de qualidade. Os objetos
técnicos não são investidos desse poder mágico. “Uma educação de qualidade demanda, entre
outros elementos, uma visão crítica dos processos escolares e usos apropriados e criteriosos
das novas tecnologias.” (p.1038)
Os pontos de vista de Moreira e Kramer (2007), embora pertinentes, podem ser
complementados pela visão de Liguori (2007). Segundo ela somente o uso de recursos
tecnológicos no ensino, não garante que os alunos criem estratégias de aprendizagem e nem
estimulam o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores. “A qualidade educativa
destes meios de ensino depende, mais do que de suas características técnicas, do uso ou
exploração do contexto em que se desenvolve.” (p.90)
Para que a utilização de recursos tecnológicos possa contribuir com a melhora do
processo ensino-aprendizagem é preciso que esta seja analisada com critérios pedagógicos.
Liguori (1997) enumera alguns aspectos que precisam ser analisados:
A - O aproveitamento dos recursos que a ferramenta tem a oferecer; a interação
aluno/informação; a capacidade dos programas atenderem as características individuais dos
alunos; a possibilidade de simulação, enriquecimento didático e retroalimentação da
aprendizagem dos alunos.
B - A contribuição da ferramenta para o favorecimento da pesquisa, colaboração entre alunos,
aprendizagem por descoberta e recriação de conhecimentos, integração dos temas
curriculares.
C - As formas de trabalho em aula, o tamanho do grupo e a maneira como eles estão
organizados (em duplas ou trios) influi no desempenho da utilização do computador como
recurso educativo. Geralmente em duplas obtêm-se melhores resultados durante a
interpretação e realização das tarefas.
Em sintonia com o pensamento de Liguori (1997) temos Litwin (2009) falando sobre a
relação qualidade de ensino e acesso das escolas aos recursos tecnológicos:
Não se deve colocar a tecnologia como uma solução mágica de todos os problemas, nem concebêla em relação causal com o êxito futuro. Não se converte, por simples introdução, no caminho mais
direto e efetivo para alcançar a qualidade educativa. Distinguir as boas propostas educativas no uso
das tecnologias de outras que se vinculam mais aos negócios, reconhecer o valor pedagógico das
diferentes propostas, em resumo: alcances, limites e possibilidades nos fazem desenvolver o fio do
novelo que nasce nos sonhos bem-intencionados de muitos e atravessa um longo caminho até
chegar, com sentido educativo, à sala de aula de todos.
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É necessário reconhecer que nem todos se encontram nas mesmas condições de acesso à
tecnologia. Hoje em dia, a alfabetização digital é um requisito cultural, pelo que há de se fazer,
tanto o possível como o impossível para diminuir a brecha digital que promova a inclusão e a
democratização do conhecimento.
Entretanto é fundamental ter em conta as tecnologias baratas (como os telefones celulares e
tocadores de MP3), que já estão nas mãos das crianças e adolescentes e pensar estratégias didáticas
adequadas às possibilidades reais dos usuários e seu contexto de aplicação.” (LITWIN, 2009, p.2)
Para que a utilização das TIC como recurso educativo seja eficiente é preciso que a
proposta de implantação passe pelas mãos dos professores, pois são eles que transformam
tecnologia em aprendizagem, não é a máquina e nem os programas.
Os efeitos positivos do uso das TIC na aprendizagem dos alunos surgem quando os
professores desenvolvem atividades criativas, desafiadoras explorando todos os recursos que
as TIC possam oferecer. Nesse caso é necessário que eles acreditem nos reais benefícios das
tecnologias e se dediquem a conhecer e a aplicar o potencial de uso das TIC para a melhoria
do ensino-aprendizagem.
Conforme Miranda (2007) há uma tendência marcante no contexto educacional em
associar ensino e aprendizagem. De fato “o objetivo de quem ensina é que o que é ensinado
seja aprendido” (p. 42). Da mesma maneira associa-se o conceito de tecnologia ao de
inovação e ambos são diretamente relacionados à melhoria dos processos de ensino e
aprendizagem. Entretanto, com base em pesquisas e experiências práticas sobre o uso das TIC
em ambientes de aprendizagem, a autora considera que somente incorporar os recursos
tecnológicos ao ambiente de sala de aula sem modificar as práticas habituais de ensino não
gera melhora na aprendizagem dos alunos. Porém, mesmo ineficiente, esta é a estratégia mais
comum por duas razões principais: falta de familiaridade por parte da maioria dos professores
com as TIC e a necessidade de um esforço reflexivo e modificador das concepções e práticas
de ensino para que a integração das TIC à educação seja capaz de melhorar o processo ensinoaprendizagem. Todavia, grande parte dos professores nem sempre dispõe de tempo e/ou
interesse para realizar tais mudanças.
O problema reside em que alguns professores têm uma concepção romântica sobre os processos
que determinam a aprendizagem e a construção de conhecimentos e concomitantemente do uso das
tecnologias no acto de ensinar e aprender. Pensam que é suficiente colocar os computadores com
algum software ligados à Internet nas salas de aula que os alunos vão aprender e as práticas se vão
alterar. Sabemos que não é assim. (MIRANDA, 2007, p.44)
Conforme Lion (1997) a tecnologia aparece no cenário educacional como algo
indispensável e que ao mesmo tempo causa temor. Em torno dela são criados diversos mitos,
ou seja, visões distorcidas de uso das TIC. Vejamos alguns deles: os produtos tecnológicos
valem mais do que os processos, ou seja, há uma separação entre tecnologia e técnica; a
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crença de que basta agregar aparatos tecnológicos às salas de aula para que ocorram
inovações pedagógicas e a idéia de que as inovações pedagógicas dependem de tecnologias ou
não ocorrem sem elas; a ilusão de que a tecnologia será o remédio para todos os males e
quebrará as barreiras existentes na sociedade: a tendência em reduzir tecnologia ao aparato
tecnológico, ou seja, vídeo, TV, computador, sem levar em conta que a própria instituição
escolar e as formas de organização do ensino são exemplos de tecnologias educacionais.
A idéia de que o progresso é algo contínuo e natural leva algumas pessoas a
abandonarem o velho e aceitarem o novo muitas vezes sem nenhuma reflexão ou
questionamento. Geralmente isso ocorre no cenário educacional com o intuito de se adaptar às
propostas do mercado para que a escola se atualize.
A tecnologia não é boa nem má por si. Está implicada num contexto tanto de produção como de
aplicação. As escolas inscrevem-se numa realidade sócio-política determinada, contam com
diferentes projetos educacionais e com maneiras e possibilidades diversas de levá-los à ação. É aí
onde se deve inserir o debate. Os atores das instituições educacionais não são somente
‘consumidores’, são também ‘produtores’ de tecnologia: filmagens escolares, guias para observar
um vídeo, fitas gravadas, análises de publicidade e de programas de televisão, etc. (LION, 1997,
p.27)
Lion (1997) argumenta sobre a não neutralidade da tecnologia, segundo ela há um
jogo de poderes e leis de mercado aos quais a tecnologia se submete. Além disso, ela é
“um elemento de controle social, de dominação e de poder, não apenas entre países – centrais
e periféricos – como no interior das próprias escolas. Está formada por condições sociais,
forças coletivas, tradições culturais e opções políticas.” (p.30)
A visão de Lion (1997) está de acordo com Armstrong & Casement (2001) quando
eles afirmam que “quase toda figura pública nos Estados Unidos quer ser associada com os
últimos avanços na tecnologia da informação.” (p.13). Segundo eles a informática
aparentemente dominou a percepção da opinião pública sobre o que é educação, “como se
nada de valor pudesse acontecer nas escolas sem computadores” (p.13) e mesmo assim ainda
há várias perguntas sobre o uso educacional dessas tecnologias que não foram respondidas,
outras ainda que nem sequer foram feitas.
Para Armstrong & Casement (2001) o ímpeto para a utilização das TIC na escola
parece ser proveniente de duas crenças: a informática pode tornar a educação mais produtiva
e os computadores desempenham um papel cada vez mais relevante em nossa vida.
Lion (1997) aponta alternativas para esse fatalismo tecnológico, segundo ela é preciso
recuperar a dimensão social da escola, colocar metas educativas que considerem as dimensões
éticas, didática, políticas e pedagógicas.
Para não ‘cair’ em formas de pensar somente técnicas, é preciso incorporá-la (a tecnologia) com
um sentido, com um ‘para que’, não apenas como aplicação do fora para dentro, mas como uma
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mediação crítica e fundamentada acerca de por que se introduzem as diversas tecnologias no
ensino. (p.34)
Os estudos de Armstrong & Casement (2001) baseiam-se na seguinte questão: os
computadores melhoram a qualidade da instrução nas escolas? A partir de suas investigações
percebem que em diversas escolas há uma tendência em adquirir menos livros didáticos e
periódicos impressos substituindo-os por banco de dados eletrônicos via Internet, CD-ROMs,
enciclopédias digitais entre outros. Tal comportamento é norteado pela crença de que os
meios eletrônicos de informação facilitem processo de busca, reduzem o problema do acesso
limitado a um livro devido a quantidade insuficiente de exemplares há biblioteca e estimulem
o estudante a ser independente e motivado. Porém a realidade apresenta situações muito
distantes das aspirações idealistas. A navegação pela Internet é repleta de encantos que
facilmente desviam a atenção do estudante e mesmo que ele não se renda a todo esse
deslumbramento muitos alunos têm dificuldades em encontrar o que procuram, porque a
maioria não possui o conhecimento técnico mínimo exigido para utilizar as ferramentas de
busca disponíveis na Web. Além disso, há uma série de informações irrelevantes em relação
ao assunto que está sendo estudado que acabam confundindo o aprendiz: são propagandas,
serviços, enquetes, etc. De acordo com Armstrong & Casement (2001) “o sucesso de uma
busca também depende do fato de os estudantes terem um conhecimento básico do tópico que
estão pesquisando.” (p. 129)
Sem supervisão e orientação por parte dos professores a Internet será usada para o
entretenimento e muito pouco se aproveitará dela para um aprendizado eficiente das
disciplinas escolares, é ilusório esperar que os alunos usem os recursos da Web como
ferramenta de pesquisa educacional por iniciativa própria.
De fato, longe de permitir que os estudantes sejam aprendizes independentes, trabalhar na Internet
exige uma grande quantidade de instrução individualizada. Quando uma sala de aula ganha acesso
à Internet, o professor deve passar grande parte de seu tempo supervisionando as incursões de seus
alunos ao espaço cibernético. Não fazer isso provavelmente levaria a um tipo de uso desorientado
ou inadequado. (ARMSTRONG & CASEMENT, 2001, p. 130)
Outro problema apontado por Armstrong & Casement (2001) é a confiabilidade das
informações apresentadas nos sites.
O fato de uma informação estar disponível na Internet não é garantia de que ela seja exata ou
imparcial. Informações impressas também podem não ser exatas ou imparciais; porém, na
imprensa, certos procedimentos estabelecidos existem para garantir que o material tenha sido
checado por leitores das publicações, por editores e, às vezes, por simples observadores de fatos;
para informar a verdadeira identidade, as credenciais e o ponto de vista dos autores para os
leitores. Web sites normalmente dispensam essas formalidades, e a informação que contém pode
ter vindo de qualquer lugar e haver sido preparada por qualquer um. (p.131)
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Problemas semelhantes acontecem com os CD-ROMs, pois avaliá-los é uma tarefa
trabalhosa e exige tempo. Muitos educadores adquirem o material com base na embalagem e
nas propagandas, essas avaliações superficiais têm levado as escolas a investirem grandes
quantias de dinheiro em produtos que oferecem baixo valor educacional. Além disso, de
acordo com Armstrong & Casement (2001) as informações apresentadas em CD-ROMs
sofrem significativa perda de qualidade ao serem reduzidas a pequenas quantidades que
podem ser facilmente assimiladas através da tela. Os componentes de áudio e vídeo são mais
valorizados e pouca importância é conferida aos elementos textuais.
Infelizmente, as atrações de multimídia do CD-ROM podem distrair os usuários da informação
fatual apresentada, o que certamente parece se aplicar às enciclopédias em CD-ROM. Até pouco
tempo atrás, a Enciclopédia Britânica e o Livro do Conhecimento eram considerados as melhores
enciclopédias para uso em escolas, mas o advento das enciclopédias em CD-ROM criou uma
situação em que um marketing bem trabalhado e imagens espalhafatosas, os quais consomem vasta
quantidade de espaço e de memória e são produzidos à custa do texto, podem fazer com que
enciclopédias ruins pareçam boas. (ARMSTRONG & CASEMENT, 2001, p. 132)
Os problemas apresentados por Armstrong & Casement (2001) fazem parte da cultura
escolar, portanto uma das maneiras de solucioná-los é alterando essa cultura. Na visão de
Liguori (1997) as TIC não são capazes de beneficiar a educação sem que haja mudanças nas
estruturas educacionais, pois as TIC incorporam-se aos esquemas existentes sem transformálos. Nessa ótica, a sociedade é responsável pela mudança, “já que toda opção tecnológica é
social.” (p.82) e a questão das TIC na educação não deve ser discutida considerando-se
apenas o aspecto técnico, mas abrangendo os problemas ideológicos, éticos e políticos.
4 . Procedimentos metodológicos
Inicialmente foram feitas visitas à instituição pesquisada com o intuito de observar a
existência e a utilização das TIC como ferramenta pedagógica. Em seguida foram realizadas
entrevistas exploratórias com alguns professores para verificar a sensibilização dos mesmos
quanto à utilização das TIC na educação e aproximar a pesquisadora da realidade vivenciada
por esta escola de formação profissional. Estes momentos iniciais foram de fundamental
importância para ajustar o foco da pesquisa.
Em seguida foi elaborado um questionário semi-estruturado e o mesmo foi respondido
por todo o grupo de professores da instituição, totalizando 10 participantes.
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5 . Caracterização da instituição pesquisada
A escola Alpha é uma ONG, fundada em 1979, situada em Belo Horizonte que oferece
cursos profissionalizantes e de qualificação para jovens e adultos de baixa renda. Os
principais cursos disponibilizados são: Elétrica Predial e Comandos, Ajustagem, Tornearia,
Informática, Assistente Administrativo, Recepcionista e Promotor de Vendas.
6. Caracterização dos sujeitos da pesquisa
O grupo de professores participantes desta pesquisa é composto por 10 profissionais,
sendo 6 homens e 4 mulheres, a faixa etária predominante, 40%, é de 26 a 30 anos e a
segunda com maior número de pessoas, 20%, é de 31 a 35 anos. Os níveis de escolaridade
mais representativos foram superior incompleto 30% e especialização completo 30%, em
seguida temos ensino médio técnico 20% e superior completo 20%. Se agruparmos todos os
participantes que possuem curso superior ou estão em fase de realização chegaremos a 80% o
que é um indicador da busca por aperfeiçoamento profissional desse grupo.
7. Percepção dos participantes sobre o uso das TIC como recurso educativo
Ao serem questionados sobre que contribuições as TIC oferecem para a formação
profissional 100% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que elas proporcionam
ao professor outros recursos visuais, além do material impresso para explicar a matéria; 90%
acreditam que essas tecnologias motivam, principalmente os alunos mais jovens porque
associam a escola ao mundo tecnológico presente na sociedade; 70% dos participantes veem
nas TIC uma possibilidade dos alunos acessarem informações atualizadas sobre a sua área de
formação e 60% concordam com a afirmação de que as TIC possibilitam aos alunos uma
vivência profissional próxima do setor produtivo.
Acima de 80% dos participantes consideram o computador, o data show, a Internet, o
laboratório para aulas práticas, os softwares educacionais e de simulação como tecnologias
educacionais. Isso nos leva a pensar que a palavra tecnologia está muito associada à ideia de
modernidade, avanço, inovação recente. Apenas 20% dos participantes afirmaram que a
escola, a sala de aula, o apagador são tecnologias educacionais, e 10% entendem a Webquest
e a organização dos alunos por turma como uma tecnologia voltada para a educação. Nota-se
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que tanto as tecnologias incorporadas quanto as pouco conhecidas não são consideradas pela
maioria dos participantes como tecnologia educacional.
Segundo Tajra (2004) muitos
educadores ao utilizarem o termo Tecnologia Educacional se referem a algo moderno e
repleto de inovações, não consideram antigos instrumentos usados no processo ensinoaprendizagem. As escolas, por exemplo são tecnologias educacionais que visam atender à
demanda por universalização do ensino formal.
Das dezenove ferramentas educacionais apresentadas no questionário, segundo os
participantes, apenas três não estão disponíveis na instituição pesquisada: a vídeoconferência,
os jogos eletrônicos e a Webquest. Das ferramentas disponíveis o pincel e o quadro branco
ficaram em primeiro lugar com 90% de utilização na Escola Alpha, o livro didático ou
apostila, a sala de aula, o apagador são sempre utilizados por 80% dos participantes. Em
seguida aparecem o laboratório para aulas práticas e a aula expositiva com 70% de utilização.
Observa-se que as tecnologias educacionais mais utilizadas são aquelas que já estão
incorporadas há algum tempo nos processos de ensino e apesar dos professores contarem com
outros recursos educacionais a frequência de uso ainda é inferior às tecnologias tradicionais.
Entre as ferramentas que às vezes são utilizadas destacam-se o data-show, o vídeo e o
aparelho de som com 70%, em seguida está a Internet com 60%, logo depois o computador e
os softwares educacionais com 50%.
Entre os recursos educacionais disponíveis na Escola Alpha 30% dos participantes
afirmaram nunca terem utilizado o blog, 20% não utilizam o projetor de slides e o software de
simulação e 10% nunca usaram vídeo e aparelho de som.
Tanto o uso frequente quanto a falta de utilização de um determinado recurso
educativo têm um motivo. Por isso procurou-se identificar quais as dificuldades enfrentadas
pelos participantes durante a utilização das TIC e a frequência com que elas ocorrem. 70%
deles afirmaram que às vezes há pouco tempo para planejar uma aula que integre a tecnologia
e também há dúvidas sobre o manuseio do equipamento ou programa.
As ferramentas mais usadas para complementar a aula teórica foram: em primeiro
lugar, com 50% das indicações, o quadro branco e o data show, logo em seguida estão o
computador, o livro didático ou apostila e a Internet com 40%, por último entre os mais
utilizados está o laboratório para aulas práticas com 30%. Nota-se que as tecnologias
convencionais, como o quadro branco, ou aquelas que alteram a aparência da aula mas não
mudam a essência, como o data show, estão entre as mais usadas. Acredita-se que é pelo fato
de não exigirem uma mudança ou reorganização profunda dos planos de aula e das
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metodologias. São mais práticas e fáceis de serem integradas, não requerem reflexão ou
elaboração de novas atividades.
De acordo com Sancho (2006) o maior obstáculo encontrado no contexto educacional
vigente que dificulta a incorporação eficiente das diversas TIC ao ensino é a escola ser
centrada no professor. Neste contexto novas formas de construção do conhecimento, maneiras
alternativas de avaliação, dificilmente prosperam. Para que as TIC sejam utilizadas como
recurso educativo de maneira satisfatória é preciso que além de bons equipamentos a
instituição de ensino possua currículos atualizados, flexíveis e capazes de ligar as TIC às
necessidades dos alunos. Além disso, é necessário que o grupo de professores esteja orientado
e convenientemente formado para explorar o potencial educativo das TIC.
Vejamos quais os recursos educativos mais indicados pelos participantes para facilitar
o entendimento do assunto que está sendo explicado: em primeiro lugar com 50% está o
computador, depois com 40% o livro didático ou apostila e em terceiro lugar com 30%
aparecem o quadro branco, o projetor de slides e os softwares educacionais. É interessante
compreender o porquê de o computador estar em primeiro lugar quando o objetivo é facilitar
o entendimento, de acordo com Tajra (2004) nele se reúnem diversos recursos multimídia
(som, imagem, movimento, texto) e é possível facilmente transformar uma ideia abstrata em
algo concreto por meio de programas de simulação ou outros aplicativos presentes no
computador. Esse é um indicador de que este grupo de professores sabe do potencial das TIC
para a educação, porém ainda não o exploram o suficiente. Uma prova disso é que o software
de simulação teve apenas 20% das indicações. O grupo pesquisado ainda está em processo de
transição das tecnologias convencionais para as TIC como recurso educativo.
De acordo com Miranda (2007) somente incorporar os recursos tecnológicos ao
ambiente de sala de aula sem modificar as práticas habituais de ensino não gera melhora na
aprendizagem dos alunos. Porém, mesmo ineficiente, esta é a estratégia mais comum por duas
razões principais: falta de familiaridade por parte da maioria dos professores com as TIC e a
necessidade de um esforço reflexivo e modificador das concepções e práticas de ensino para
que a integração das TIC à educação seja capaz de melhorar o processo ensino-aprendizagem.
As ferramentas mais indicadas para complementar a aula prática foram: com 50% das
indicações o livro didático ou apostila, em seguida com 30% o quadro branco e por fim com
20% o computador e a Internet. Percebe-se que a teoria é mais indicada para complementar a
prática, o que não deixa de ser verdadeiro, porém é surpreendente o fato da Webquest, dos
softwares educacionais e os de simulação não terem recebido nenhum voto. Acredita-se que
seja pelo fato de esse grupo de professores ainda não ter vivenciado profundamente o uso das
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TIC como recurso educativo. De acordo com Lion (1997) agregar aparatos tecnológicos às
salas de aula não é garantia de que ocorram inovações pedagógicas.
Por fim verificamos quais as ferramentas mais utilizadas para atividade extraclasse:
primeiramente está a Internet com 50% das indicações, depois o livro didático ou apostila
com 20% e por último o computador com 10%. Em nenhuma das situações anteriores a
Internet foi tão bem votada. Acredita-se que neste contexto há uma comprovação de que
certos avanços tecnológicos se integram mais lentamente ao ambiente escolar do que fora
dele.
A maioria dos participantes, 60%, afirma que a área de formação não contribuiu para a
utilização das TIC como recurso educativo. Eles alegaram terem aprendido a utilizar as TIC
na educação por meio da prática, por tentativa e erro, outros participaram de seminários,
congressos e cursos sobre o assunto fora do ambiente de trabalho, ou ainda aprenderam a
utilizar as TIC observando a atuação dos colegas professores. Miranda (2007) alerta sobre a
importância de um maior conhecimento por parte dos professores sobre como lidar com
tecnologias, especialmente as computacionais. Dessa forma os métodos e estratégias de
ensino são modificados, os alunos se interessam mais pelas disciplinas que usam tecnologias e
os profissionais sentem-se confiantes ao lidarem com um recurso que é valorizado numa certa
época.
A partir desse diagnóstico compreende-se um dos motivos pelos quais as TIC ainda
não são amplamente utilizadas como recurso educativo por este grupo de professores. Sabe-se
que uma formação inicial e continuada que sensibilize e qualifique para o uso das TIC na
educação são essenciais.
50% dos participantes afirmaram que após os alunos assistirem a um vídeo sobre o
tema da aula a explicação do professor é sempre necessária, outros 50% acreditam que ela é
necessária em alguns casos. Acredita-se que pelo menos neste caso não houve distorção
metodológica na utilização de um recurso educativo, isto é, a vídeo aula não substitui a
contribuição do professor por meio de uma explicação pontuando o assunto em questão. O
mesmo ocorre em relação ao software de simulação. 60% dos professores acreditam que a
aula prática é sempre necessária mesmo após a utilização de um software de simulação. Nesse
aspecto a opinião dos professores da Escola Alpha está de acordo com a visão de Valente
(1998) segundo ele o uso da simulação como ferramenta de ensino não deve substituir a
atividade prática, “ela deve ser vista como um complemento de apresentações formais,
leituras e discussão em sala de aula.” (p.11)
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Ao serem questionados sobre como os softwares de simulação devem ser usados 90%
dos participantes afirmam que é como complemento da aula prática e como apoio para a aula
teórica, apenas 10% dizem que eles não devem ser utilizados. Nenhum dos professores
afirmou que os softwares de simulação devem substituir as aulas práticas.
Ressalta-se que ao serem questionados mais pontualmente sobre como determinada
TIC deve ser utilizada os professores apresentaram conhecimentos das potencialidades e das
reais possibilidades de uso das TIC como recurso educativo, entretanto ao informarem qual
desses recursos são utilizados em situações educativas cotidianas percebe-se um
distanciamento entre o discurso e a prática. As TIC ainda são pouco utilizadas concretamente.
As principais concepções dos professores da Escola Alpha a respeito das TIC como
recurso educativo são: 90% acreditam que elas facilitam e complementam o trabalho docente
tanto em classe quanto fora dela, 10% afirmam que elas não interferem nas atividades do
professor. Percebe-se por meio dessas respostas que não há uma aversão às TIC, elas são bem
vistas pelo grupo de participantes.
Ao serem questionados sobre o que seria um uso inadequado das TIC como recurso
educativo, as situações que mais se destacaram foram: o professor se tornar dependente da
tecnologia sem a qual não consegue prosseguir suas aulas, o professor não oferecer mais
esclarecimentos aos alunos porque todos já assistiram a uma aula em vídeo, planejar aula
contando somente com a tecnologia, se houver falha é preciso improvisar, e por último o
aluno deixar de vivenciar uma aula prática porque já utilizou o software de simulação.
8. Considerações finais
As formas de utilização das TIC como recurso educativo na Formação Profissional são
diversas: pesquisas em meios eletrônicos, trabalhos colaborativos, estudo de conteúdos por
meios diversificados como Webquests, softwares de simulação e educacionais, apresentação
de trabalhos contando com vários recursos audiovisuais. Entretanto, para que esses recursos e
muitos outros sejam explorados em benefício dos alunos é necessário que toda a equipe
escolar esteja sensibilizada e qualificada para refletir sobre os melhores usos das TIC.
É necessário integrar essas tecnologias desde o Projeto Político Pedagógico ao Plano
de Aula de cada professor. Além disso, esses profissionais devem ter disponibilidade de
tempo e interesse para reformular as atividades e avaliarem constantemente sua prática
pedagógica.
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Sabe-se que a simples inserção das TIC na educação, sem uma profunda reformulação
nos currículos escolares, não ocasiona mudanças significativas no processo-ensino
aprendizagem e nem elevam os níveis de qualidade do ensino, nesse aspecto concordamos
com Wang & Woo (2007) ao afirmarem que os currículos escolares devem ser modificados
para que a utilização das TIC na educação seja eficiente. E como sugestão para pesquisas
futuras pergunta-se: quais os principais obstáculos para a integração das TIC na educação?
9. Referências
ARMSTRONG, Alison. CASEMENT, Charles. A criança e a máquina: como os
computadores colocam a educação dos nossos filhos em risco. Trad. Ronaldo Cataldo Costa.
Porto Alegre: Artmed, 2001.
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velhos problemas e desafios educacionais. In: LITWIN, Edith. (Org.) Tecnologia
Educacional: política, história e propostas. Trad. Ernani Rosa Porto Alegre: Artes Médicas,
1997
LITWIN, Edith. Entrevista concedida ao Educador. Publicada dia 08/05/2009. Disponível em
http://www.educador.com.br/entrevistas/educador-educar-2009/entrevista-com-edith-litwin/
Acesso em 13/06/2009
LION, Carina Gabriela. Mitos e realidades na tecnologia educacional. In: LITWIN, Edith.
(Org.) Tecnologia Educacional: política, história e propostas. Trad. Ernani Rosa Porto
Alegre: Artes Médicas, 1997.
MIRANDA, Guilhermina Lobato. Limites e possibilidades das TIC na educação. Sísifo.
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MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa Moreira. KRAMER, Sonia. Contemporaneidade,
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OLIVEIRA, Celina Couto de. COSTA, José Wilson da. MOREIRA, Mércia. Ambientes
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Auxiliadora Monteiro. (Orgs.) Novas linguagens e novas tecnologias: educação e
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SANCHO, Juana María. De tecnologias da informação e comunicação a recursos educativos.
In: SANCHO, HERNÁNDES & COLS. Tecnologias para transformar a educação. Trad.
Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática na educação: novas ferramentas pedagógicas para o
professor na atualidade. 5ª. ed. São Paulo: Érica, 2004.
VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na educação. In: VALENTE, José
Armando. (Org.) Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas:
UNICAMP/NIED, p. 1-27, 1998.
WANG, Q., & WOO, H. L. Systematic Planning for ICT Integration in Topic Learning.
Educacional Technology & Society, 10 (1), 148-156. 2007
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