A importância das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na
aprendizagem dos alunos com Dificuldades Intelectuais e
Desenvolvimentais (DID)
Ana Isabel Leitão, Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
Sara Isabel Mota, Técnica Superior de Educação
Divisão de Acessibilidade e Adaptação das Tecnologias de Informação e Comunicação
DRE | SRE | RAM
INTRODUÇÃO
O computador, graças à sua interatividade, à sua animação e às possibilidades de lidar com questões de controlo e de domínio, intervém no desenvolvimento cognitivo, no emocional e na aprendizagem da autonomia (Ponte, 1989, cf. Santos, 2006). Apresenta, de acordo com Blanco et al., cf. Silva (2006), um conjunto de caraterísticas que o tornam indispensável ao processo de ensino‐aprendizagem: disponibilidade, interatividade, capacidade de memória, de repetição, adaptabilidade, capacidade de análise e capacidade audiovisual. O uso do computador pelos alunos dá‐lhes mais controlo, confiança e poder no que estão a fazer (emporwent). É do consenso geral que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) beneficiam, em geral, todos os alunos. No entanto, é sem dúvida na área da educação especial que estas desempenham um papel determinante, uma vez que permitem desenvolver atividades que antes estavam vedadas a alunos com necessidades especiais (NE) (Morato, 1995, cf. Alves et al., 2008). De um modo geral, na opinião dos autores mencionados, as TIC na área das NE podem: (i) criar maiores níveis de autonomia; (ii) ser um contributo inestimável nas áreas do desenvolvimento cognitivo e psicomotor; (iii) constituir um meio alternativo de comunicação e facilitador da realização de inúmeras tarefas; (iv) contribuir para uma 1
mudança de estratégias que possibilitem encontrar respostas para alunos que possam estar afastados da escolarização; (v) ser uma forma de ultrapassar barreiras físicas e sócio‐emocionais (Colôa, J., 2003). O recurso ao computador e aos sistemas multimédia permite traçar percursos individualizados em que cada aluno pode progredir de acordo com o seu ritmo. As tecnologias tornam‐se facilitadoras em vários aspetos e representam, junto dos alunos com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais (DID), um complemento no processo de ensino‐aprendizagem, uma melhoria qualitativa e quantitativa das estratégias, bem como a diversificação dos estilos para o desenvolvimento das suas capacidades. As tecnologias desempenham, então, um papel redistribuidor do conhecimento, ao estimularem o ritmo de aquisição de informação dos que sabem menos, aproximando‐ ‐os dos níveis dos que sabem mais. Isto acontece porque as tecnologias incidem sobre dois aspectos essenciais: a motivação e a atracão, por estarem associadas ao lazer. Deste modo, passar dos jogos de computador à aprendizagem torna‐se relativamente simples (Alves et al., 2008). FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No ano de 1956, o psicólogo educativo Benjamin Bloom desenvolveu uma taxonomia de objetivos educativos. Mais tarde, nos anos 90, o seu seguidor Lorin Anderson, reformulou a taxonomia publicando‐a em 2001. Apresentam‐se abaixo as diversas categorias da Taxonomia Digital, adaptadas com base na taxonomia revista de Bloom (Churches, 2007). Para cada uma das categorias são apresentadas atividades simples que podem ser realizadas com recurso às TIC pelos alunos com DID. Estas atividades são apresentadas desde o nível mais simples até ao mais complexo: ‐ RECORDAR: É o nível mais baixo da taxonomia e fundamental para o processo de ensino‐aprendizagem. Recordar não tem, necessariamente, que ocorrer como atividade independente: reter a informação aplica‐se também em atividades de ordem 2
superior. As ações digitais para esta categoria são as seguintes: Identificar | Reconhecer | Reproduzir. ‐ COMPREENDER: Construir relações e unir conhecimentos. Implica a compreensão de conceitos. As ações digitais para esta categoria são: Mostrar | Contar | Categorizar. ‐ APLICAR: Utilizar o material estudado anteriormente usando‐o em situações com modelos ou simulações. Como ações digitais para esta categoria podemos apontar: Ilustrar | Apresentar | Executar. ‐ ANALISAR: Decompor em partes o material ou conceitos estudados: como se relacionam entre si e com o todo. As ações digitais para esta categoria são as seguintes: Encontrar | Diferenciar | Interpretar | Resumir. ‐ AVALIAR: Estabelecer juízos de valor com base em determinados critérios e justificá‐ ‐los. Como ações digitais para esta categoria apontam‐se: Investigar | Opinar | Colaborar. ‐ CRIAR: Juntar os elementos para formar um todo coerente e funcional. Reorganizar elementos num novo padrão ou estrutura. As ações digitais para esta categoria podem ser: Fotografar | Filmar | Publicar. OBJECTIVOS DAS TIC PARA OS ALUNOS COM DID
Os aspetos positivos do uso das TIC junto dos alunos com DID são, em termos gerais: ‐ A satisfação do aluno por ter um ecrã cuja imagem é comandada e dirigida por si, motivando‐a e facilitando a aprendizagem de conteúdos mais exigentes; ‐ O desenvolvimento de maior controlo e precisão a nível da motricidade fina, atendendo que para aceder ao computador é necessário destreza manual; ‐ A estimulação da capacidade de atenção e memória; ‐ A redução do tempo de resposta; 3
‐ O fato de receber recompensas de imediato se executar bem a tarefa, uma vez que a ação correta implica uma resposta positiva: o programa dá sempre a mesma resposta à mesma pergunta. É um processo lógico que leva o aluno a aceitar uma regra de comportamento. Assim, existem dois tipos de feedback, um transmitido aquando de uma ação errada, traduzida pelo ruído que indica erro; outro, expresso por sons alegres e estimulantes, que como forma de recompensa, entusiasma e motiva os alunos. De acordo com Santos (2006) podemos apontar como objectivos das TIC para as DID: ‐ Aumentar a motivação e revelar talentos; ‐ Complementar o processo de ensino‐aprendizagem; ‐ Proporcionar um ensino individualizado; ‐ Facilitar a aprendizagem; ‐ Promover a aprendizagem cooperativa; ‐ Oferecer oportunidades para a criatividade e para o trabalho em grupo; ‐ “Normalizar” as vidas, em geral, e o processo de ensino‐aprendizagem, em particular, dos alunos com DID; ‐ Facilitar o acesso ao conhecimento, à aprendizagem, à ocupação de tempos livres, ao desenvolvimento das capacidades intelectuais, ao contacto com pares | grupos; ‐ Aumentar a eficiência destes alunos, proporcionando a sua integração escolar e social; ‐ Desenvolver capacidades para aceder e controlar tecnologias com determinado nível de realização. CASO PRÁTICO
“O computador é uma ferramenta educacional que tem função de estimular a aprendizagem e desenvolver a construção de conhecimentos.” Daniella Fonseca (2004) 4
Fonseca (2004) descreve a sua participação num projeto de equipa, que consistia na elaboração de um programa interdisciplinar para um aluno com Trissomia 21. O objetivo do projeto era trabalhar as disciplinas (matemática, português, informática, inglês e psicomotricidade) explorando vivências. A área de formação da autora é a tecnológica | informática e o seu objetivo na equipa “dar as aulas utilizando o computador como instrumento pedagógico, de modo a facilitar a fixação de conceitos, estimular a aprendizagem, a participação e desenvolver a criatividade”. Os resultados a que chegou foram os seguintes: ‐ O aluno aprendeu não só a manusear o computador, mas também a vê‐lo como uma ferramenta de trabalho a favor da sua aprendizagem; ‐ O uso do computador foi fundamental para tornar este aluno mais autónomo. É importante ressaltar que todos os temas abordados nas aulas faziam parte de atividades interdisciplinares trabalhadas por toda equipa; ‐ Hoje este aluno acede à Internet, comunica virtualmente, copia e cola figuras, manuseia os seus CD de software educacional, surpreendendo e fascinando todos pela sua disposição e maturidade na execução das tarefas. Segundo Fonseca (2004) existem aspectos fundamentais a ter em atenção para o amplo sucesso da utilização das TIC, em geral, e do computador, em particular, como ferramenta complementar no processo de ensino‐aprendizagem de um aluno com DID: ‐ A participação familiar é primordial na formação da conduta do aluno, e é claro que como qualquer outra pessoa com Trissomia 21, no caso concreto, possui caraterísticas específicas e uma delas é o tempo de latência. ‐ Durante as atividades pode verificar‐se o quanto o aluno possui um tempo maior de abstração. Não adianta exigir respostas velozes. É interessante ver a criatividade das repostas. 5
‐ Durante o tempo de utilização do computador, como instrumento para assimilação de conceitos, é necessário respeitar o livre‐arbítrio do aluno, ou seja, a sua capacidade individual de autodeterminação. Na aprendizagem, o importante é saber fascinar, ter benevolência para despertar o conhecimento e no decorrer de todo o processo, constatar que o aluno é capaz de superar obstáculos, entre eles a matemática onde paralelamente toda a equipa trabalha intensamente para obter um resultado satisfatório. Aos poucos o raciocínio aprimora‐se, através de revisão constante (Fonseca, 2004). CONCLUSÃO
O uso das tecnologias adaptadas às necessidades dos alunos com DID, em particular, pode ser considerado elemento facilitador da motivação para as atividades educativas (atividades e | ou estratégias), da interação com o meio em que vive, da criatividade, da autoconfiança, da compreensão de conceitos e de conhecimentos teórico‐práticos, da autonomia na resolução de problemas, bem como do desenvolvimento do raciocínio lógico e de todo o seu processo de maturação, se as “ações digitais” forem apresentadas de forma interdisciplinar, sequencializada e progressiva em termos de níveis de complexidade e critérios de êxito. BIBLIOGRAFIA
Alves, F., Faria, G., Mota, S., & Silva, S. (2009). As TIC nas Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais. Revista Diversidades – Eixos de Esperança, 22, 25‐27. Colôa, J. (2003). Tecnologias de informação e comunicação enquanto tecnologias de apoio no âmbito do ensino especial Tecnologias de Informação e Comunicação: Um desafio!. 6
Disponível no URL: http://www.coloaticnee.educacao.te.pt/ Acedido a 29 de Junho de 2003. Churches, A. 2007, Educational Origami, Bloom's and ICT Tools. Disponível no URL: http://edorigami.wikispaces.com/Bloom's+and+ICT+tools Acedido em 10 de Novembro de 2011. Fonseca. D. (2004). Os recursos computacionais a favor da criança Down. Disponível no URL: http://saci.org.br/?modulo=akemi&parametro=10151 Acedido em 10 de Novembro de 2011. Santos, J. (2006). A Escrita e as TIC em Crianças com Dificuldades de Aprendizagem: um ponto de encontro. Disponível no URL: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6325/2/A%20Escrita%20e%20a
s%20TIC%20em%20Crian%C3%A7as%20com%20Dificuldades%20de%20Aprendiza.pdf Acedido em 10 de Novembro de 2011. Silva, L. (1998). Dissertação sobre o computador na prática pedagógica com realce para a educação especial. Disponível no URL: http://www.lerparaver.com/node/162 Acedido em 10 de Novembro de 2011. 7
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