NOVOS AMBIENTES EDUCACIONAIS: O USO DAS TECNOLOGIAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ESCOLA
Resumo
Pode dizer-se que a inovação constitui actualmente um tema central nas discussões
sobre a escola, com particular destaque para o uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) na sala de aula. Para ajudar a compreender a importância das TIC no
contexto educacional, este texto aborda, em primeiro lugar, a emergência dos ambientes de
aprendizagem virtuais, na medida em que estas tecnologias se constituem num universo
estimulante e motivador para a aprendizagem, disponibilizando oportunidades infinitas para o
desenvolvimento cognitivo e socio-afectivo dos alunos. Seguidamente, é feita uma análise da
relação entre as tecnologias e as novas paisagens educativas, pois estamos num tempo em que
são produzidas informações em excesso e, como tal, um dos grandes desafios actuais é
instigar o aluno à possibilidade da descoberta, ao desafio de fazer, reflectir e criar.
O tema da cultura escolar e das tecnologias também é abordado, uma vez que o antigo
modelo docente do “dono do saber” ou do “detentor do conhecimento” se transformou com as
novidades implementadas pelas TIC. Posteriormente, é feita a análise dos media em contextos
educacionais, tanto mais que já não é possível ignorar que as formas de comunicação, as
linguagens utilizadas, os meios empregues e as interacções estabelecidas na era digital devem
configurar o contexto em que a acção educativa ocorre. Por último, é abordada a questão do
uso do computador na escola, já que este se tornou no principal apoio tecnológico dos
alunos para a aquisição de conhecimentos.
Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); escola; e educação.
1
NOUVEAUX MILIEUX EDUCATIFS: L'UTILISATION DES TECHNOLOGIES
D’INFORMATION ET COMMUNICATION À L'ÉCOLE
Résumé
Nous pouvons dire que l'innovation constitue actuellement un thème central des
discutions sur l'école, avec une importance particulière pour l'utilisation des Technologies
d’Information et Communication (TIC) en salle de cours. Pour aider à la compréhension de
l'importance des TIC dans le contexte éducatif, ce texte aborde en premier lieu, l'urgence des
milieux d'aprentissage virtuel, dans la mesure ou ces technologies constitue un univers
stimulant et motivant pour l'aprentissage, offrant des possibilités infinies pour le
développement cognitif et socio-affectif des élèves. Ensuite est faite une analyse de la relation
entre les technologies et les nouveaux paysages éducatifs, car nous sommes dans une période
dans laquelle existe une surcharge d'information et, donc, un des grands défis actuel est de
motiver l'élève aux possibilités de découvertes, au défi de faire, réfléchir et créer.
A la suite de la culture scolaire et des technologies, est enfin abordé, une fois que le
modèle de l'ancien enseignant "maître du savoir" ou "détenteur de la connaissance" se
transforme avec les nouveautés mises en place par les TIC. A posteriori, est faite une analyse
des moyens en contexte éducatif, d'autant plus qu'il n'est pas possible d'ignorer que ces formes
de communications, aux languages utilisés, les moyens mis en places et les interactions
rétablies dans l'ère digitale doivent configurer le contexte dans lequel l'action éducative
évolue. Enfin, est abordé la question de l'utilisation de l'ordinateur à l'école, du fait que celuici se transforme en véritable appui technologique des élèves pour l'acquisition des
connaissances.
Mots-clés: Technologies d'Information et Communication (TIC); école; et éducation.
2
NOVOS AMBIENTES EDUCACIONAIS: O USO DAS TECNOLOGIAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ESCOLA
Introdução
Neste início de século vivemos numa sociedade em constante mudança, quer nas suas
formas de organização, produção de bens, comercialização, divertimento ou aprendizagem,
para a qual largamente contribui a Sociedade da Informação e Comunicação. Podemos dizer
que vivemos na era da informação, na qual esta é uma nova moeda de troca e uma nova
medida de valor, constituindo-se como um "bem simbólico" da maior importância. A
comunicação também teve as suas barreiras e distâncias diminuídas, levando a que factos que
ocorrem em locais distantes do nosso País possam alterar e influenciar a nossa vida. Para
além disso, podemos, por exemplo, comunicar, debater e jogar com pessoas do mundo
inteiro, numa interacção jamais vista noutra época da História da Humanidade.
Estas mudanças trazem desafios para os sistemas educacionais, pois, nesta nova
configuração social, o universo da informação dos alunos (e professores) ampliou-se a uma
escala nunca antes imaginada. As informações, saberes e conhecimentos são produzidos a
partir de tantas fontes diferentes e com tanta velocidade que se torna impossível abranger
tudo. Os modos como a informação circula constituem uma das mudanças mais profundas
que a sociedade tem vindo a experimentar. Dispersa e fragmentada, a informação escapa dos
“lugares sagrados” que antes a detinham, administravam e convertiam em saber – a escola.
A educação, assim como as demais organizações, sofre uma forte pressão por
mudanças. Hoje, as formas de ensinar precisam de ser actualizadas. O ambiente cultural
tornou-se muito diferente do ambiente escolar: os alunos desmotivam-se e aprendem pouco.
Os professores reconhecem que os alunos já não são os mesmos e que está em gestação um
novo processo de aquisição de conhecimentos, ainda desconhecido por eles e pela escola. No
entanto, apesar dos desafios que trazem à instituição escolar, a integração das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)1 no quotidiano da escola, de modo criativo, crítico e
competente, é essencial para a formação dos jovens.
1
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): termo popularizado na década de 90 e utilizado para nomear
as tecnologias requeridas para o processamento, conversão, armazenamento, transmissão e recepção de
informações, bem como o estabelecimento de comunicações por computador. A terminologia TIC resulta da
fusão das tecnologias de informação, antes referenciadas como informática, e as tecnologias de comunicação,
relativas às telecomunicações e aos media electrónicos. As TIC, referenciadas na actualidade, envolvem a
integração de métodos, processos de produção, hardware e software, com o objectivo de proporcionar a recolha, o
processamento, a disseminação, a visualização e a utilização de informação, no interesse dos seus utilizadores.
3
Emergência dos Ambientes de Aprendizagem Virtuais
A evolução social das diferentes culturas acarreta uma complexidade de
transformações na realidade material das mesmas, influenciando e conformando directamente
as relações humanas e a construção da própria realidade individual. Os instrumentos técnicos
e simbólicos, criados e utilizados informalmente pelos indivíduos na nossa sociedade,
progrediram a partir de ferramentas muito simples até sistemas altamente especializados e
complexos. Hoje, as TIC trazem consigo um aporte de crescimento e expansão da realidade
vivencial de todos os sentidos. As concepções de comunidade, conhecimento, cultura,
aprendizagem e inteligência são atravessadas transversalmente por novas teorias e
compreensões de um mundo globalizante, as quais em nenhum momento devem deixar de se
lembrar das idiossincrasias dos seus participantes.
Uma área que tem sido especialmente revolucionada nos últimos tempos é, sem
dúvida, a educacional, visto que, além de estar imersa neste contexto socio-histórico –
continuamente cambiante –, tem a responsabilidade de procurar novos caminhos para a
compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humanos. Autores como
Souza (1997) e Belloni (2001) têm apontado que os recursos actualmente disponíveis
instigam a rever ideologias, pressupostos teóricos, o espaço-tempo escolar e o próprio fazer
ideológico. Incorporar ao contexto educacional os instrumentos de programação, a
hipermédia2, a telemática3 e outras inovações, faz redimensionar o ensino e as suas metas.
Pois, tal como Rogoff (1993) refere, as peculiaridades de cada tecnologia são inseparáveis dos
processos cognitivos de quem as utiliza.
Os ambientes educacionais suportados pelas TIC apresentam para a educação desafios
de diversa ordem, desde o “simples” uso das ferramentas técnicas até à verdadeira
apropriação do conteúdo simbólico que as adequa. Ao mesmo tempo em que se constituem
num universo estimulante e motivador para a aprendizagem, trazem o mundo (virtual) para
2
Hipermédia: o conceito hipermédia decorre da noção de hipertexto e, de algum modo, pode ser considerado
como uma evolução do primeiro. As ligações que se estabelecem em hipermédia permitem que palavras,
imagens e sons integradas em unidades de significação múltipla se associem de modo dinâmico a textos e a
outros segmentos audiovisuais de molde a permitir um sistema de navegação fluente nos signos que compõem a
gramática audio-scripto-visual.
3
Telemática: é um neologismo que resulta da contracção das palavras Telecomunicações e Informática,
significando, por conseguinte, a utilização combinada de meios electrónicos de processamento de informações
(informática) com meios electrónicos de comunicação à distância (telecomunicações). Este termo é usado
também para uma série de funções de telecomunicações originadas ou terminadas em veículos automóveis e por
vezes como sinónimo de tecnologias da informação e comunicação.
4
dentro da sala de aula, disponibilizando oportunidades infinitas de desenvolvimento cognitivo
e socio-afectivo dos alunos. Por isso, Lévy (1998, p.25) refere que “uma técnica não é boa
nem má, mas tão pouco neutra por ser essencialmente condicionante do seu meio”, o que
significa abrir possibilidades e opções culturais que sem ela não poderiam ser pensadas
concretamente.
As Tecnologias e as Novas Paisagens Educativas
As novas tecnologias permitem a criação de situações de aprendizagem ricas,
complexas e diversificadas, uma vez que tanto a informação como a dimensão interactiva são
assumidas pelos indivíduos que usam essas ferramentas para criarem os seus artefactos. Cabe
aos professores apossarem-se das tecnologias, concentrando-se na criação, na gestão e na
regulação de situações de aprendizagem. Tudo isso exige um trabalho considerável de
concepção, organização e de acompanhamento, sem falar dos equipamentos e dos problemas
materiais.
Enquanto processo educativo, os espaços escolares também estão ligados às
possibilidades de comunicação e aos artefactos disponíveis para transmitir, preservar e
recuperar informação. No mundo actual, as redes informáticas crescem a um ritmo
vertiginoso, os sistemas multimédia impõem-se com uma força crescente, e os meios de
comunicação entram no mundo de uma maneira cada vez mais densa. As TIC abordam novas
dimensões e possibilitam, por exemplo, “incluir o mundo na aula” e a “aula no mundo”.
Nesse sentido, as práticas educacionais precisam de ampliar as suas concepções de
linguagem, de leitura e de escrita, para incorporar as mediações feitas a partir do uso das
tecnologias digitais.
Com as TIC, os ambientes educacionais incorporam o aspecto virtual que transcende o
tempo, a proximidade, a localização geográfica, a diversidade cultural e linguística. Com o
mundo a transformar-se tão rapidamente, as pessoas sentem a necessidade de se manterem
actualizadas, em aprendizagem constante, de estarem on-line4 (em linha) e poderem actuar no
momento necessário. O nosso tempo produz informações em excesso e um dos grandes
desafios actuais é instigar o aluno à possibilidade da descoberta, ao desafio de fazer, reflectir
e criar.
4
On-line: em linha; estrangeirismo que significa estar ligado à Internet ou a outro serviço remoto.
5
A concepção educacional também tem vindo a ser transformada. A informação já não
é apresentada de forma longa e dirigida pela fonte, mas voltada para a procura. Os experts
em determinadas áreas podem ser contactados via Internet5 e envolvidos em grupos de
discussão. A educação tende a não estar centrada numa dada disciplina, mas no conteúdo de
que necessitamos para realizar uma determinada actividade. Quanto à utilização da
tecnologia, os alunos não aprendem apenas as tecnologias, mas, principalmente, utilizam-nas
como recurso para aprender.
Considerando a urgência de superar a visão fragmentada do mundo e recuperar a
dimensão do ser humano, tornam-se necessárias novas maneiras para apreciar e expressar
novos modos de pensar e fazer; um passo bastante útil pode ser a criação de espaços que
contribuam para que o aluno possa manifestar a sua individualidade, que permitam aflorar a
sua criatividade e o estabelecimento de interacções e comunicações, de forma integral e
eficiente.
A Cultura Escolar e as Tecnologias
Há muito que se tem vindo a desenhar nos meios educacionais a concepção de que o
uso das TIC na escola serviria para a colocar em conexão com o seu tempo, já que ela tende a
modernizar-se de forma mais lenta do que outros campos da sociedade. Deste modo, as TIC
devem ser usadas, em primeiro lugar, como agentes sensibilizadores da população para a
importância da educação; em segundo lugar, como ampliadores das oportunidades de
escolarização; e, por fim, como ferramentas de apoio ao processo de ensino-aprendizagem,
num esforço de melhoria da qualidade do trabalho educativo. No entanto, os professores
revelam uma certa resistência em utilizar os equipamentos tecnológicos (nem sempre)
existentes, ou, quando muito, uma tendência a usá-los como acessórios, como “aulas-prémio”
para as turmas que se comportam bem.
Souza (1997) afirma que a escola e os media vivem uma relação de conflito ou, pelo
menos, de fragilidade de parcerias. Este conflito acentuou-se nas últimas décadas por causa da
forma como se interpretou o processo social da comunicação contemporânea. A escola
sempre tendeu a afastar-se da comunicação mediática, quer pelo desconhecimento do seu
5
Internet / Net: rede alargada que é uma confederação de redes de computadores das universidades e de centros
de pesquisa, do Governo, militares e comerciais, com base no protocolo TCP/IP. Proporciona acesso a sítios
Web, correio electrónico, sistemas de boletins electrónicos, bases de dados, grupos de discussão, etc.
6
significado na vida dos jovens e das crianças, quer porque os media poderiam expressar o que
se repudiava – uma dominação sistémica. Para a escola, o advento dos media electrónicos na
vida social foi visto como pouco reforçador da acção educativa formal, na medida em que
representava a cultura da imagem em contraposição à cultura, até então hegemónica, da
escrita. Apesar de hoje esta oposição entre imagem e escrita ser questionada, o pensamento
predominante ainda é o de que a escola trabalha a reflexão, o saber, o conteúdo, valendo-se
dos códigos da escrita e das construções intertextuais, e os media voltam-se para o lazer, para
a diversão, para a ficção e para a informação, sob os códigos do som e da imagem em
movimento e de outros suportes tecnológicos de que se servem.
De acordo com Belloni (2001), o desfasamento da cultura escolar em relação aos
jovens que ela deve educar é gritante, tanto nos aspectos éticos – conteúdos e mensagens –,
quanto nos estéticos – imagens, linguagens, modos de percepção, pensamento e expressão.
Este desfasamento torna ainda mais claro o impacto das TIC na cultura jovem. Pelo que, esta
autora questiona como é que a escola irá enfrentar o desafio de compreender os impactos do
avanço tecnológico sobre processos e instituições, relativos à estrutura simbólica da
sociedade – educação, comunicação, imaginário, lazer e cultura.
A escola tem ignorado o facto de que hoje a sociedade conta com dispositivos de
armazenamento, classificação, difusão e circulação muito mais versáteis, disponíveis e
individualizados. Por isso, segundo Barbero (2001, p.58), não questiona a profunda
reorganização que o mundo das linguagens e da escrita vive, com a consequente
transformação dos modos de ler, "deixando sem apoio a obstinada identificação da leitura
com o que se refere somente ao livro e não à pluralidade e heterogeneidade de textos, relatos
e escrituras que hoje circulam". Ou seja, a atitude defensiva da escola e do sistema educativo
leva-os a desconhecer ou menosprezar o problema de fundo proposto por um “ecossistema
comunicativo”, em que poderá emergir uma outra cultura, outro modo de ver e de ler, de
aprender e conhecer.
Para Papert (1985), as actividades escolares são compostas por uma série de actos
técnicos: planificações das aulas; currículos em fases pré-estabelecidas; testes e provas de
aferição; e, com isso, promove a "tecnização" da aprendizagem. Ou seja, a escola tenta fazer
do professor um técnico. Deste modo, a educação do futuro deverá usar os recursos
tecnológicos para "destecnizar" o modelo teórico vigente de aprendizagem, pois o
computador oferece uma alternativa de alfabetização mais ampla do que a da actividade
escolar, na medida em que abrange os modos não formalizados de conhecer.
7
O antigo modelo docente do “dono do saber” ou do “detentor do conhecimento”
rompeu-se com as novidades implementadas pelas TIC. Os professores percebem as suas
próprias limitações, não somente porque é impossível dominar a diversidade de
conhecimentos, mas também porque não está claro o que deve ser ensinado aos alunos. A
interactividade das TIC está a estimular o autodidatismo, principalmente dos alunos, o que
atinge directamente a função de ensinar. Ou seja, a aprendizagem não está restrita às
condições impostas pelas escolas, às vezes desenvolve-se à sua revelia, apesar delas e contra
elas.
Os Media em Contextos Educacionais
A geração da era digital possui hábitos, atitudes e comportamentos que revelam uma
nova cultura que, em muitos casos, é ignorada nos contextos educacionais. As interacções e
comunicações estabelecidas por essa geração são ampliadas pela linguagem corporal, sonora,
visual, textual e pelo acesso e uso das novas tecnologias. Neste cenário, o advento das
tecnologias – projectadas para viabilizar eficazmente a informação e a comunicação – tem
vindo a desempenhar um papel importante para as pessoas realizarem as actividades em que
estão envolvidas – criação, trabalho, estudo, entre outras.
Segundo Kramer (2000), as interacções feitas com as comunicações mediatizadas
abrem os horizontes do pensamento e envolvem emocionalmente. A mistura entre imagens,
movimentos, sons, cores e textos, mobilizam sentimentos e pensamentos. Transmitem novas
formas de tornar presentes o pensar e o sentir.
O uso de múltiplas linguagens envolve a acção de relacionar, de integrar e traz à tona
potencialidades e competências escondidas, abafadas e camufladas. A integração, actuação e a
interacção promovem o aflorar dos alunos segundo as suas múltiplas possibilidades e
potencialidades nas diferentes actividades, espaços e tempos em que estão envolvidos. As
múltiplas linguagens precisam de ser experimentadas, para que o aluno possa reconhecer a
sua funcionalidade e produtividade. Ou seja, a vivência com as variadas linguagens envolve
processos de experimentação, refinamento e transformação, que têm um importante papel na
constituição do aluno, uma vez que tais processos revelam algo vivido que é pensado, sentido
e narrado pelo mesmo.
Utilizar uma dada forma de expressão também pode favorecer uma acção que convida
à reflexão, a pensar sobre o sentido da vida individual e colectiva. Com a possibilidade de
8
explicitar as suas experiências por meio de uma dada linguagem, a acção do aluno não se
esgota no momento da sua realização. À acção é acrescida a possibilidade de pensar sobre o
que se fez e viveu. A acção é marcada, projectada, modificada, apreendida e compartilhada.
Ou seja, o processo de se expressar numa dada linguagem possibilita ao aluno aprender com o
próprio acto de criar, bem como reescrever novos sentidos para algo vivido, ampliando o raio
da sua acção e reflexão.
Tal como Kenski (2000) refere, a efectivação dessas possibilidades de actuação dos
alunos requer o uso de outras linguagens ainda não habituais no contexto escolar. Tais
factores, considerados em conjunto, configuram-se como novas oportunidades de estar com
os alunos e de ouvir as suas vozes. Oportunidades de se estabelecerem “pontes” e diálogos
que garantam aproximações com e entre os jovens, destes com as situações educacionais
propostas, bem como aproximações entre acção, percepção, emoção e pensamento.
Em todo o processo histórico, o aparecimento e o uso de novos media interferem e
evocam uma resignificação do processo educacional, uma vez que esses media interferem na
maneira como os indivíduos percebem o mundo, se expressam sobre ele e o transformam
(Belloni, 2001). A Internet é o exemplo mais recente das formas como os alunos têm vindo a
ampliar as suas interacções sociais. À medida que o acesso à Internet se amplia e novas
tecnologias são desenvolvidas, o seu poder de mediar a comunicação cresce substancialmente.
Hoje, não podemos deixar de valorizar o papel da Internet como mediadora de uma gama de
interacções, como as que se dão pela troca de e-mails6 (correio electrónico) e mensagens
instantâneas, através de newsgroups7 (grupos de debate), blogs8 (blogues) e chat rooms9 (salas
de conversa).
Na actualidade, temos a oportunidade e o desafio de repensar os contextos
educacionais de forma a permitir a utilização das novas possibilidades tecnológicas. Já não é
6
E-mail / Electronic mail: correio electrónico; sistema que permite o envio de mensagens por computadores
inseridos em redes de comunicação ou por outro tipo de equipamento de comunicações. As mensagens poderão
incluir voz, gráficos, imagens e outras informações.
7
Newsgroups: grupos de debate; grupos estruturados de discussão na Internet, que entram regularmente em
conexão, em directo ou em diferido, para partilhar e discutir os mais variados temas. A troca de opiniões pode
ocorrer segundo fórmulas variadas (canais IRC, listas de difusão, entre outras).
8
Blogs / Weblogs: blogues; diários em formato electrónico que estão alojados na Internet. Não têm
obrigatoriamente de ser actualizados todos os dias, nem a cada dia corresponde uma única entrada, post ou texto.
A sua principal característica é a interactividade, sob a forma de comentários dos leitores. O termo inglês “blog”
resulta de uma contracção de “web” e “log” (relatório).
9
Chat Rooms: salas de conversa na Internet, que funcionam através da troca de mensagens escritas, e em que
podem estar várias pessoas em simultâneo. A maior parte das salas tem um determinado tópico (para
comentar/discutir), mas algumas são puramente para conhecer outras pessoas.
9
possível ignorar que as formas de comunicação, as linguagens utilizadas, os meios empregues
e as interacções estabelecidas na era digital devem configurar o contexto em que a acção
educativa ocorre. As novas configurações possibilitadas pelas TIC aportam outras dimensões,
que permitem estruturar contextos educativos mais variados e complexos. Parte do desafio
está em delinear propostas de trabalho que promovam a actuação dos alunos em situações
distintas e por media diferenciados, pois acredita-se que tais actuações e interacções podem
contribuir para o aluno desenvolver as suas compreensões sobre o mundo e sobre a cultura em
que vive, além de provocar transformações nas formas de perceber e apreender tal realidade.
O Uso do Computador na Escola
A introdução no processo educacional do saber informático veio abrir um novo
ambiente pedagógico. No entanto, a “reconstrução da didáctica” com o uso da informática só
será possível quando houver uma difusão maciça do computador e um crescimento da cultura
da informática; assim como a criação de instituições autónomas e descentralizadas – para a
produção e experimentação das propostas didácticas – em conjunto com a transformação do
professor, devendo reflectir o desenvolvimento técnico e científico que atravessa a sociedade
actual.
Em relação às escolas, a informática não é somente uma ciência dos computadores,
mas sim um modo de pensar inserido na cibercultura10. Como forma de pensamento, como
método, deve ser retransmitido às disciplinas, até mesmo à didáctica. O aspecto mais
importante do pensamento informático é a possibilidade de decompor os processos complexos
numa série de operações simples. Nestas situações o computador tem uma rápida difusão. O
computador é o apoio tecnológico dos alunos para a aquisição de conhecimentos, antes só
acessíveis através de processos formais, e que agora, através deste instrumento, podem ser
abordados concretamente.
Se a “escola com informática” é o que mais interessa aos professores, deverá haver
também a preocupação em organizar a presença dos computadores no ensino dos conteúdos.
A nova técnica deve ser introduzida de modo a evitar uma relação destrutiva com a realidade
10
Para Lévy (2000), a cibercultura traduz-se num conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem simultaneamente com o crescimento do
ciberespaço.
10
existente na vida do aluno e ser integrada com os outros instrumentos de informação, os
livros, os filmes e a televisão, pois é uma ferramenta decisiva na comunicação e aquisição dos
conteúdos. Há que relacionar os desenvolvimentos tecnológicos com as escolhas
metodológicas para cada conteúdo da aprendizagem, na área disciplinar específica e com o
nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos.
O uso do computador na didáctica favorece a auto-aprendizagem, a pesquisa e a
descoberta, superando as formas mais tradicionais na estimulação do ler, escrever e ouvir. Na
utilização do audiovisual, ou na leitura de um livro, há um fluxo unidireccional de
informações, que não permite prever se o aluno está a aprender ou não. O computador
aproxima-se da situação do ensino personalizado, quando coloca questões para que o aluno
regule o seu próprio comportamento, com base nas respostas e segundo as suas próprias
necessidades.
Em termos de qualidade e eficiência do computador na didáctica, há uma grande
possibilidade de melhorar a formação e a recuperação dos alunos com dificuldades, pois
existe uma maior flexibilidade das estruturas formativas – estuda quem quer, onde quer e
quando quer. No entanto, ao usarmos tais instrumentos, devemos ter em mente que é
necessário que o aluno compreenda o que está a fazer, formalize o resultado encontrado, saiba
passar para o papel, faça a síntese do resultado encontrado, resolva e formule problemas
relativos ao assunto estudado e relacione com o seu quotidiano.
Conclusão
As TIC vieram abalar as dinâmicas sociais e, com elas, as instituições do saber.
Estamos, sem dúvida, diante de um imperativo de mudanças que requer dos professores a
disposição de enfrentar o desafio tecnológico, tendo em vista superar os problemas da nossa
realidade educacional. Mas mesmo os maiores entusiastas das tecnologias, principalmente dos
computadores, sabem que elas, por si próprias, não são suficientes para melhorar a educação.
Já existem ténues indicadores de que a educação está a alcançar melhores níveis de
qualidade em função da entrada das TIC na escola. Alguns professores têm assumido a tarefa
de conciliar o trabalho da sala de aula com os recursos tecnológicos, contudo continuam a
preservar o modelo de organização da escola, ou seja, não o redimensionam visando a
utilização tecnológica como eixo condutor do processo educacional. Convivem com uma
estrutura curricular que não foi concebida para dar conta da experiência que realizam. No
11
entanto, reconhecemos que alguns professores, coagidos pela lógica do progresso técnico e
científico, demonstram preocupação em utilizar o computador na escola, como forma de dar
oportunidade aos alunos de se inserirem no processo de informatização da sociedade.
Para finalizar, gostaria de apontar que, diante da heterogeneidade presente na escola e
no mundo contemporâneo, a instituição escolar deverá facilitar o diálogo e a auto-expressão
dos alunos na aula. Os novos alunos têm características que desafiam a escola a uma nova
postura. São mais interactivos, mais inquietos e já chegam à escola munidos de informações
sobre os mais diversos assuntos. No entanto, este incremento de informações nem sempre se
integra em esquemas de pensamento para compreender melhor a realidade e a sua actuação
sobre ela. Daí que, a escola deverá travar contacto com esse saber prévio trazido pelos alunos
e ajudá-los a transformá-lo em conhecimento organizado. Através de actividades que
promovam a auto-expressão, poderá abrir aos seus alunos possibilidades de autoconhecimento e auto-desenvolvimento, para que estes possam partir para novos voos.
Bibliografia
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de Janeiro: UFRJ.
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ensinar e aprender (2ª ed.). X Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
(ENDIPE). Rio de Janeiro: DP&A.
KRAMER, S. (2000). Escrita, experiência e formação – múltiplas possibilidades de escrita. In
Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender (2ª ed.). X Encontro Nacional de
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LÉVY, P. (1998). A máquina universo: criação, cognição e cultura informática. Porto Alegre:
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LÉVY, P. (2000). Cibercultura. Lisboa: instituto Piaget.
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ROGOFF, B. (1993). Aprendices del pensamiento. El desarrollo cognitivo en el contexto
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SOUZA, M.W. (1997). Juventude e os novos espaços sociais de construção e negociação de
sentidos. In Educação & Realidade. Vol. 22, n.º 2, pp. 13-17, Julho/Dezembro.
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