DA EVANGELIZAÇÃO DAS ALMAS À EVANGELIZAÇÃO DAS CULTURAS - O PROJETO DE
INCULTURAÇÃO DA FÉ E O CATOLICISMO POPULAR EM VALENÇA.
Maria da Consolação Lucinda1
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O Conselho Pontifício da Cultura (1999) afirma, nas linhas de ações “para uma pastoral da
cultura”, que “o processo de encontro e comparação com as culturas é uma experiência que a Igreja
viveu desde os começos da pregação do Evangelho (Fides et Radio, n. 70)”. Adverte, porém, que a
mensagem deve ser direcionada no sentido de evangelizar as culturas. De acordo com o mesmo
documento, a evangelização das culturas “é a mesma das mentalidades, dos costumes, dos
comportamentos.2” Tomando estas afirmações como inspiração e ponto de partida, o propósito do
presente trabalho é apresentar descritiva e interpretativamente alguns aspectos da experiência de
inculturação da fé católica e evangelização das culturas na diocese de Valença, estado do Rio de
Janeiro.
A experiência em questão se desenvolve fundamentalmente através da “pastoral do negro”3 e
praticantes do “catolicismo popular” 4, notadamente aqueles com algum tipo de interação com terreiros
de Umbanda da cidade. O inventário dos aspectos a serem abordados resulta da observaçãoparticipante levada a efeito ao longo de seis meses – primeira fase da minha pesquisa de campo na
cidade. Ainda, será computado como material de apoio a elaboração da descrição publicações de
caráter informativo veiculadas localmente e aquelas de cunho teológico-doutrinário, baseada e
inspirada nos documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II5.
Visando alcançar tal propósito, destacarei alguns fatos relativos ao processo de fundação da
cidade, salientando o destacado papel que a Igreja Católica desempenhou ao longo do mesmo6. A
instituição, representada por um padre designado como missionário, foi convocada a reunir em
aldeamentos os agrupamentos de índios que habitavam a região, sendo convertidos na primeira
população alvo da catequese católica.
1
Doutoranda no PPGAS/Museu Nacional/UFRJ; Bolsista IFP-Fundação Ford
Segundo o documento “se as culturas são, na sua totalidade, compostas de elementos heterogêneos, instáveis e
passageiros, a primazia de Cristo e a universalidade da sua mensagem são, entretanto, fonte inesgotável de vida e
de comunhão.”
3
Ao longo do texto empregarei tanto esta forma – conforme descrita no site da Diocese de Valença – quanto
àquela utilizada pelos agentes que a integram, a saber “pastoral afro”. Em vários documentos e quadros dispostos
no Memorial Afrovalenciano Miguel Tomaz, a forma encontrada é Pastoral Afro-descendente Miguel Tomaz.
Na página da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) encontramos também a expressão “pastoral
afro”.
4
A noção de catolicismo popular está empregada no sentido de uma religiosidade que envolve elementos
referidos ao universo do Catolicismo, embora não “oficialmente regulamentada” pela Igreja.
5
“O Concílio Vaticano II, edição da Assembléia Católica realizada para fins doutrinários e disciplinares,
reunindo bispos, prelados e outros religiosos – realizado entre outubro de 1965, propôs alterações profundas na
doutrina e na disciplina da Igreja Católica. O Concílio teve índole eminentemente pastoral visando à vida cristã
em vez de se voltar para definições de fé ou de moral.
Renovou a liturgia, que ganhou estilo mais comunitário e acessível(a clebração passava a ser na língua nativa e
não mais em latin, e o sacerdote passaria a se posicionar de frente para os demais fiéis); reafirmou a Igreja como
sacramento; abriu para os demais cristãos (protestantes ortodoxos e outros) que não se achavam em plena
comunhão com a Igreja; reconheceu os elementos positivos das religiões não cristãos; defendeu a liberdade
religiosa que significa o direito inerente a todo homem, de formar livremente sua consciência diante de Deus e
da fé; divulgou a tomada de posição da Igreja frente às diversas facetas do mundo: família, política, economia,
paz e guerra.” (Texto que consta da exposição permanente no Museu de Arte Sacra, Catedral de Nossa Senhora
da Glória).
6
Os aspectos apresentados foram selecionados de forma parcial e de modo interessado, não resumem, portanto o
processo histórico de fundação da cidade e a importância da instituição no mesmo.
2
Também, buscarei apontar elementos relativos ao papel da instituição na contemporaneidade,
assinalando, no plano das ações e do discurso, continuidades em relação ao que tratarei como modelo
tradicional, na perspectiva da duração, não obstante as mudanças ocorridas ao longo do tempo
expressas nas posturas, nas atitudes e nos comportamentos de parte significativa dos agentes que
atuam em nome da instituição.
As idéias de mudança em relação ao projeto evangelizador, consideradas no discurso
institucional, têm como principal suporte os documentos elaborados a partir das recomendações do
Concílio Vaticano II (1963) – um marco de mudança no interior do Catolicismo, principalmente nas
recomendações sobre liturgia, com enfoque no conceito teológico de inculturação e na noção de
evangelização das culturas7. Os pontos destacados serão aqueles relativos a importância do concílio, a
título de ilustração da mudança na forma da igreja pensar e desenvolver seu projeto evangelizador no
presente século, podendo significar uma ruptura em relação ao passado8.
O modo de lidar com as manifestações de religiosidade popular - manifestações estas que, de
certo modo, configuram uma das características significativas da forma como a religião se constituiu no
contexto do município – consiste, em termos da concretização da proposta, a nova prática institucional.
Embora o fenômeno eclesiástico não esteja no centro de interesses deste trabalho, seguirei
RUFINO (2002:24) no que concerne ao tema da “duração” na perspectiva do Catolicismo. Conforme
suas palavras, é preciso que se procure “um sutil equilíbrio entre um sentido de continuidade e diálogo
entre processos da Igreja – de hoje e de ontem – e um sentido de ruptura, que nos permita perceber a
‘novidade’ de certos eventos”.9
A orientação à pastoral do negro, feita por um pároco da cidade, constitui um fato marcante na
dinâmica das relações entre a igreja católica e a “comunidade” e se mostra fundamental para o
processo de elaboração das propostas de ação e organização de atividades e uma força em termos
institucionais.10 A celebração de missas inculturadas ou missas afro, representa um momento
significativo dessa dinâmica pois atualiza a proposta de evangelização das culturas e permite a
sobreposição de elementos relativos ao repertório cultural afro-brasileiro “de acordo com as normas da
igreja11” e é o lugar da catequese por excelência.
1. O catolicismo em Valença ontem
7
Contemporaneamente, o documento final da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do
Caribe, também denominado Documento de Aparecida (2007) tem se convertido em importante referência para
uma leitura atualizada das recomendações conciliares.
8
As principais referências sobre o termo inculturação foram TEIXEIRA (2006), RUFINO (2002) e MIRANDA
(2001)
9
Em uma nota de pé de página o autor cita GEREMACK (1988:163, apud RUFINO, 2002) assinalando sobre o
tema: “(...) Referindo-nos a esta longa trama temporal, não encontramos uma série de mudanças na
continuidade, mas uma pluralidade descontinua de fenômenos, de processos, de modelos. Igreja primitiva e
Igreja tridentina, Igreja opulenta, Igreja inserida na ordem dominante, a Igreja revoltada ou contestatória, a da
aliança entre o trono e o altar e a da luta contra a opressão”. A proposição do autor faz lembrar de certo modo as
observações de DELEUZE e GUATTARI de que “(...) quando a religião se constitui em máquina de guerra,
mobiliza e libera uma formidável carga de nomadismo ou de desterritorialização absoluta, (...); enfim, volta
contra a forma-Estado seu sonho de um Estado absoluto.” Platô “Tratado de nomadologia – a máquina de
guerra” a respeitos das linhas
10
O destaque ao apoio deste padre decorre principalmente do fato dele ter incentivado à formação da pastoral na
cidade, pelo vínculo afetivo que mantém com aquele que “sonhou e articulou a pastoral do negro em Três Rios”
a quem chama carinhosamente “pai espiritual”, pois foi seu coroinha quando criança. Mas, este tratamento
especial dispensado ao sacerdote negro, ancião, desencadeia afinidades e lealdade por parte de alguns agentes
que, poder-se-ia dizer, capitalizam politicamente a relação.
11
Conforme o boletim Catedral – informativo da Paróquia Nossa Senhora da Glória, Out/Dez. 2006, Ano V, Nº
19
O enquadramento temporal das idéias, questões e situações a serem apresentadas será feito
de modo diacrônico e sincrônico, simultaneamente. Antes de apresentar os pontos que servirão de
apoio para as considerações dos aspectos sobre o papel do Catolicismo, no que concerne sua tarefa
evangelizadora, um ponto a se ter em consideração é a configuração da população em meio à qual a
Igreja atua.
No século XIX, principalmente em virtude da preocupação da administração colonial com o
território em que uma população indígena habitava na região do Vale do Paraíba, Sul Fluminense, um
projeto missionário foi implementado visando pacificar os índios e exercer controle sobre a área12.
No século XX, nos primeiros anos da década de 1980 surge o embrião da primeira “pastoral do
negro” ou “pastoral afro” na Diocese de Valença.13 A pastoral do negro só surge na cidade de Valença,
de fato – no distrito sede –, no início da presente década14. Em meio ao laicato, que no Brasil tem
significativa importância, a pastoral se estabelece, de certo modo, lembrando que na história do
Catolicismo no Brasil não podemos deixar de mencionar o papel exercido pelos integrantes de
irmandades e confrarias. As irmandades, muitas delas ainda preservadas em algumas regiões, como
nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, funcionaram como espaços importantes de
sociabilidade para representantes do segmento negro da população, mesmo depois da abolição da
escravatura15. A pastoral do negro, tal como as irmandades e as confrarias, foi constituída com o aval
institucional, e consta, inclusive, no organograma da instituição em nível nacional. Neste sentido, pode
ser pensada como uma variação contemporânea da forma como a instituição se atualiza e procura
incorporar temas e situações de seu tempo.
1.1 A catequese dos Coroados
A história da fundação de Valença teve início entre o final do século XVIII e o princípio do
século XIX e é profundamente marcada pela atuação da igreja católica. O Catolicismo desempenhou
destacado papel na construção da cidade que, a partir do aldeamento dos grupos indígenas
denominados genericamente “Coroados” – participantes ativos na edificação das primeiras capelas do
povoado, do cemitério e outras obras de abrigos e habitações. O aldeamento de certo modo consistiu
em uma das estratégias empregada pela administração colonial empregou visando o controle e a
“civilização” dos índios cuja convivência com os habitantes das sesmarias da região “ia se tornando
12
Conforme sintetizado em IÓRIO (2007[1933]) “à Aldeia da Freguezia de Valença estavam destinadas para
Vila dos Índios Coroados por ordem régia de 25 de agôsto de 1801, conforme se enuncia no decreto de 26 de
março de 1819. (...), de proceder à civilização dos índios da Aldeia de Valença, promovendo o seu povoamento”.
(Dados referidos a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil). A respeito da ocupação do território e
da formação da paisagem social de Valença, ver também SILVA (2008).
13
Um pequeno número de católicos, em Três Rios, orientados pelo atual capelão da Igreja Rosário, começou a
organizar atividades para debater a problemática da discriminação racial na cidade, assessorados por um padre
jesuíta, identificado como negro pelo referido capelão, professor da Pontifícia Católica do Rio de Janeiro.
Também teriam participado em eventos formativos realizados em São Paulo, então, o centro das principais
discussões e atuações em torno da questão da presença do segmento negro na Igreja Católica. Não obstante tudo
isto, a pastoral – em termos da atuação contínua - com mais longevidade na diocese é a de Sapucaia que este ano
comemorou 25 anos de organização. Ainda a respeito desse tema, ver DAMASCENO (1990).
14
Os municípios que integram a Diocese de Valença são: Valença, Vassouras, Rio das Flores, Miguel Pereira,
Paty do Alferes, Três Rios, Levy Gasparian, Sapucaia e Paraíba do Sul.
15
Conforme BRANDÃO, 1992::46-47
insuportável. (...). Os Coroados invadiam lavouras, principalmente de milho, trazendo grande prejuízo
aos fazendeiros”16, conforme a história local.
Juntamente com a catequização se deu a construção das capelas, que correspondem a atual
Catedral de Nossa Senhora da Glória e a Igreja de Santo Antônio do Rio Bonito, a primeira localizada
no distrito sede do município e a outra, em Conservatória, Paróquia do distrito. As obras foram
executadas também “com a ajuda de mão de obra de escravos”17, mas, as referências mais
recorrentes são sobre os índios. Por exemplo, no Museu de Arte Sacra, mantido nas dependências da
Catedral, encontra-se em exposição a primeira pia batismal da então “capela dos índios” e que foi
utilizada no rito sacramental dos primeiros índios catequizados18. A atuação da Igreja se constituiu um
dos traços definidores do processo disciplinador pretendido pela administração colonial.
A partir do desenvolvimento desse projeto, destinado inicialmente aos Coroados e
posteriormente estendido aos pretos - escravos e forros introduzidos na região ao longo das fases
subseqüentes de seu povoamento - deu-se o processo de crescimento da cidade19.
1.2. A igreja dos homens pretos
Registros, informações e fontes sobre o projeto de evangelização dos denominados homens de
cor ou homens pretos20, se existiram ou existem em Valença, estão fora de alcance para a realização
de pesquisas. Não obstante o silenciamento, é possível encontrar indícios, nos fragmentos das marcas
do passado, inscritas em suportes materiais da memória, mostrando a subordinação moral e espiritual
desse segmento à instituição. Os livros de batismo da Catedral são exemplos de que os pretos livres e
ou escravizados recebiam ao menos um dos sacramentos da Igreja21.
Com o tempo, o segmento negro da população passou a constituir o público-alvo do projeto
evangelizador da Igreja. O controle deixou de ser sobre a alma e a cultura tornou-se o lugar
privilegiado da atenção”. A ruptura em relação ao passado se caracteriza, na perspectiva institucional,
pela substituição do “proselitismo religioso” pela idéia de inculturar a fé. Tal mudança responde aos
processos endêmicos e históricos que afetaram a imagem e a estrutura da instituição. O credo
católico, mesmo como dimensão majoritária na vida cultural da cidade, nunca escapou da influências
de outras tradições.
As práticas religiosas de matriz afro-brasileira fazem parte do repertório cultural da cidade
desde a formação dos primeiros núcleos de população negra. Analisando o engendramento das
comunidades de senzalas em torno das “raízes” da insurreição quilombola de Vassouras, na década de
30, no século da fundação de Valença, GOMES (2006, 213) assinala a existência de aspectos
religiosos e significados culturais reinventados envolvendo feiticeiros na gestação e na organização de
16
IÓRIO (2007[1953])
Idem
18
Conforme DAMASCENO (1978, apud IÓRIO) o primeiro livro de registro de batizados tem data de 1809 e
nele se constata que 59 pessoas foram batizadas, dentre as quais 42 índios. O autor ressalta que o assentamento
de batismo do cacique Tanguará, chefe dos índios Coroados, o qual recebera, na pia batismal, o nome de —
Hipólito se encontra no mesmo livro.
19
A expansão e o crescimento da cidade foram decorrentes principalmente do fato de ter se constituído uma rota
de escoamento “das riquezas que vinham de Minas Gerais para o Rio de Janeiro e também de abastecimento
mútuo entre as mesmas (...)”. (LYRA, 2006:10)
20
Aqui também tratados por escravos e ex-escravos, seguindo designação corrente e empregada em função da
posição dessa categoria na estrutura ocupacional da sociedade, de regime econômico fundado no trabalho
escravos.
21
A pesquisa de campo não prescindiu da pesquisa em arquivos como condição para a obtenção de dados e
informações a este respeito.
17
uma revolta e fuga coletiva rumo a um quilombo. A proximidade geográfica entre Valença e Vassouras
permite que se formule a hipótese de um possível impacto dos levantes e fugas de escravos de
vassouras sobre a escravaria em Valença. Permite também a suposição da existência das mesmas
práticas mágicas na cidade.
A linguagem utilizada para designar a influência de formas não católicas de práticas religiosas
na dinâmica da sociedade valenciana, no século XIX, aponta para a presença de manifestações de
uma religiosidade popular simultânea ao catolicismo na cidade. A literatura local sobre eventos tais
como a construção da Igreja do Rosário assinala, por exemplo, a existência de Congadas e Marujadas
fazendo parte de eventos festivos, conforme lembrado por IÓRIO (2006 [1953]):
“Marujadas e congadas eram festas populares, inspiradas em costumes
africanos. Nos dias da festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
eram o complemento que atraía a atenção da sociedade valenciana”.
Essas duas expressões culturais, bem como o Caxambu – também conhecido como jongo são portadoras de fundamento religioso e, não apenas católico. Caberia indagar sobre as repercussões
dessas manifestações populares correntes na cidade. A marujada, por exemplo, foi recuperada por
uma integrante da pastoral do negro e introduzida, parcialmente, nas celebrações das missas
inculturadas.
Em outro sentido, a construção da capela dedicada à Virgem do Rosário, em Valença, tem
conexões com a devoção na situação de diáspora, mas não seria específica das relações sociais
engendradas pela colonização. No entanto, ao iluminar este acontecimento, em seus diferentes
momentos, encontramos os componentes que destacam importantes aspectos relacionados com as
práticas sociais de escravos e ex-escravos, e como o culto à Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos se apresenta como uma peça de mosaico que ajudaria na constituição, ainda que parcial, do
esboço da imagem do que teria sido o conjunto dessas práticas.
A tradição de constituir irmandades foi introduzida em terras coloniais tanto quanto o culto à
Nossa Senhora do Rosário, por missionários. A penetração da devoção à Virgem no Brasil colonial
teria sido decorrente de dois fatores importantes: o primeiro concerne ao fato do culto ter sido
introduzido em algumas sociedades africanas antes do processo de colonização portuguesa na
América22; o segundo diz respeito ao aspecto social e “previdenciário” das irmandades como a
possibilidade de garantir enterros dignos, dar assistência aos necessitados, organizar pecúlios e vários
outros tipos de auxílios mútuos, cuja realização demandava vínculo com a única instituição que tinha
respaldo político e social para tal empreendimento: a Igreja.
É possível que tenha existido uma irmandade de negros, ao menos uma proposta de formação
de uma, em Valença. No entanto, não existem fontes, registros ou documentação disponíveis e de fácil
acesso que permita qualquer consideração a este respeito.
A pesquisa nos arquivos da Catedral com a finalidade de encontrar referências sobre a obra da
Capela do Rosário, concluída em torno de 1848, mostrou-se infrutífera. Quanto a existência de uma
irmandade dos homens pretos o que se tem é o mais completo silenciamento. Esta falta de indícios foi
também notada por Silva (2008) que ao investigar o arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro onde estariam, supostamente, registros, documentos e materiais da Igreja de Valença, conforme dito
pelo atual bispo da cidade - com a finalidade de encontrar registros a respeito de uma hipotética
22
Outras civilizações, como a indiana, também fazem uso de objetos com o sentido igualmente de auxílio em
orações e rezas. Na África, o Rosário é parecido com o Masbahan (objeto usado para auxiliar na contagem das
vezes que uma oração de louvar à Alah é proferida, na devoção islâmica)
irmandade dos homens pretos na cidade, não encontrou referências, inclusive, sobre a construção da
capela. As lápides da capela são o único registro de época que se pode acessar.
2. Simultaneidades e agência sincrética
Em se tratando da “transformação atualizadora do universo religioso no Brasil”, a religião
católica se mostraria aberta à “capacidade de ajustamento aos novos tempos”, embora seja a que
“mais perde fiéis para as outras’’. A convivência atual de vários estilos de ‘ser católico’ e a subsistência
de modalidades de tendências, consideradas de difícil integração no corpus de doutrina, gestos e ritos
de uma mesma religião, de uma mesma igreja seriam também aspectos característicos dessa religião.
O catolicismo popular, neste sentido, possui “tantos matizes quantas são as culturas em que vivem as
suas pessoas reais”.23
É certo que essas afirmações fazem sentido, mas no que concerne especificamente a igreja de
Valença, a caracterização poderia sofrer alguma modulação. Concordando ou não que essa é a
instituição, a população da cidade é majoritariamente católica. A idéia de “múltipla presença nas
culturas e comunidades locais onde se encontra estabelecida” se caracteriza pela possibilidade de
“variação de opções, escolhas e atribuições diversas de sentido religioso” faz sentido em termos da
análise sociológica da religião24. Tratando a questão da inculturação na ótica da pastoral indígena,
RUFINO (2002: 16-17) ao se referir a categoria afirma seu valor operativo em termos da comunicação
interna da Igreja porque propõe uma forma de evangelização que interaja com a diversidade cultural,
expressando-se por meio dos códigos simbólicos das sociedades e povos “em evangelização”
Mas, no plano relações concretas, algumas situações dão indicações de que as opções, as
escolhas e as atribuições diversas de sentido religioso se referem à conformação da “igreja universal”.
São fatos em que a forma de evangelizar parece ficar comprometida em termos da abertura aos
sujeitos que atuam no interior ou no entorno da instituição. As narrativas sobre a organização e a
realização da Procissão e da Festa de São Jorge e dos Cavaleiros, em Valença, trazem elementos da
dinâmica dessas relações que mostram a lógica operativa da proposta de inculturação da fé e
evangelização das culturas, mas dando relevo à forma25.
2.1. O Catolicismo popular hoje
As festas em Valença são eventos sociais com forte apelo popular, principalmente as
celebradas em louvor aos Santos. Os festejos e procissões em honra a padroeira, por exemplo,
envolvem a participação de vários segmentos sociais, atraí a atenção de visitantes e prestadores de
serviços de municípios vizinhos e se convertem em momentos importantes da convivialidade na cidade.
As comemorações em louvor a São Jorge têm tanto ou mais apelo popular que as festas de
santos e santas padroeiros/as de paróquias e capelas da cidade. Mesmo assim, a cidade não tem uma
capela dedicada a este santo. Uma das festividades em louvor ao santo se realiza há cinqüenta e três
anos em uma Paróquia no distrito Barão de Juparanã e a padroeira da igreja é Nossa Senhora do
Patrocínio. A outra é organizada há aproximadamente vinte e cinco anos, sendo que nos últimos vinte e
três anos tem sido organizada a partir de uma tenda espírita localizado em um bairro da região próxima
ao centro da cidade. Esta última é tão conhecida quanto a mais antiga e capaz de atrair um público
23
BRANDÃO, 2004, pp.268, 282
BRANDÃO, 1992, pp. 47-49
25
Narrativas relativas apenas a festa da tenda espírita.
24
participante numericamente igual ou maior que aquela.
Além dessas procissões com a imagem do santo e as festas que as acompanham, que atraem
centenas de devotos, acontecem giras e toques nos centros de umbanda em celebrações com
dimensões religiosa e secular em honra ao orixá Ogun, com festas onde são servidas comida e bebida
referidas ao orixá . Estas festas mobilizam a cidade e seus moradores de forma distinta26.
No que dos respeito à posição da Igreja sobre as religiões de matriz afro-brasileira, um trecho
da fala do celebrante da missa inculturada celebrada na Semana da Consciência Negra, ano passado,
assinala a maneira como a questão da evangelização da cultura é veiculada. Diante de um público que
contava com a presença de yalorixás e babalorixás – da umbanda e do candomblé – foi dito que
“o povo negro, como Zumbi [dos Palmares], continua inculturando sua fé,
continua inculturando sua palavra [o evangelho]. O que não consegue fazer
aqui dentro da igreja vão fazer lá nos terreiros, no barracão. Não vão lá
protestar contra a fé. Agora, pela primeira vez, os Bispos da América Latina,
junto com o Papa, em Aparecida disseram isso, que as pessoas estão indo
para os terreiros e outras comunidades religiosas não porque estão em crise
de fé, porque deixaram de crer em Jesus e na proposta do evangelho. Não! É
porque ‘nós muitas vezes aqui dentro somos frios, não sabemos acolher, o
nosso rito é muito frio, muito falado, pouco dançado, pouco colorido, pouca
indumentária. Nós precisamos aprender. Eu acho que esta festa de Zumbi é
mais uma vez para nós um apelo.(...)27.”
Considerando ou não os limites do que pode ser definido como cristão na procissão de São
Jorge e dos Cavaleiros, aquela organizada pela tenda espírita, no dia em que ela acontece uma
enorme quantidade de pessoas se aglutina em várias áreas dos bairros próximos ao trajeto dos
devotos. As casas e as ruas são decoradas com imagens do santo, dispostas de diversas maneiras,
em altares montados na frente de suas portas; toalhas e balões de sopro nas cores vermelha e branca
são dispostos nas janelas; pessoas se postam nas calçadas, sentadas ou não, “esperando a procissão
passar”. A procissão e a festa são conhecidas dentro e fora da cidade e consta no seu calendário
turístico. Vendedores ambulantes e comerciantes montam barracas para vender comidas, bebidas e
brinquedos durante os três dias de comemoração. Dentre as atrações estão os grupos e as bandas
musicais, exposição de telão com shows de rodeio, dentre as mais recorrentes.
Três dimensões articulam e envolvem os segmentos sociais que atuam na organização e na
realização do evento: uma dimensão territorial, uma política e outra religiosa. A observação das
situações ocorridas em torno da procissão permite a identificação destas dimensões, sendo que aquela
relativa ao território atravessa as duas outras. Em resumo, essas dimensões não podem ser pensadas
e abordadas sem que sejam relacionadas com o tipo de formação histórica da cidade.
A dimensão territorial seria aquela relacionada aos problemas enfrentados pela organização da
festividade que teve início como forma de externalizada da devoção de um devoto de São Jorge. A
primeira procissão organizada por ele foi realizada em uma igreja próxima ao bairro onde atualmente
acontece a festa. Naqueles idos dos anos de 1980 ele obteve o apoio do pároco e conseguiu fazer
algumas procissões. Tendo acontecido o falecimento desse padre e com a chegada do substituto ele
solicitou a permanência da procissão e da festa na igreja mas o novo padre não aceitou a proposta
alegando que “os devotos de São Jorge eram de centro de macumba”. O grupo que o apoiava na
26
A intenção inicial era apresentar algumas questões em torno do conceito de sincretismo, tendo em vista o
emprego da noção “agência sincrética”. O propósito era seguir ROBBINS (2002), que trabalha a noção a partir
do conceito de englobamento, segundo a proposição dumontiana.
27
Notas de campo, a partir de registro em vídeo.
organização dos festejos tentou persuadir o padre a mudar de opinião. Não tendo conseguido demover
o sacerdote a idéia foi solicitar o apoio da chefe de um terreiro de umbanda. Sabendo da recusa
reiterada do padre em disponibilizar o local, foi feito contato com a zeladora da tenda que permitiu que
ofereceu o espaço para guardar a imagem do santo. A partir de então a tenda tornou-se o local de
referência da festa.
A dimensão religiosa do acontecimento se traduz no fato da procissão ser organizada e
preparada em uma tenda espírita de matriz afro-brasileira e resultar da agência da zeladora desta casa
religiosa – atualmente é uma filha biológica daquela que primeiramente concedeu o espaço para
guardar a imagem do santo - e ter este local como ponto de partida e de chegada. A agência se
caracteriza pelo empenho em acompanhar o processo do ponto de vista religioso e atuar em caso de
necessidade para que obstáculos, dificuldades e problemas sejam superados, resolvidos e
solucionados. Para isto, quando necessário, são feitos trabalhos envolvendo oferendas aos orixás e
aos guias protetores e que “cuidam” da tenda. No espaço sagrado em que são cultuados e
reverenciados santos católicos, tais como São Jorge, orixás, tais como Ogun e antepassados, também
se reverencia a fundadora da tenda espírita – mãe biológica da atual zeladora da tenda – que em vida
se dedicou à prática religiosa e é reconhecida como uma das grandes mães de santo que a cidade já
teve.
3. Continuidades e rupturas no projeto de evangelização católico
No Fórum Diocesano Histórico-Cultural, realizado no mês de maio de 2008, em Valença, foi
divulgado que 80% da população da cidade se auto-declara católica mas que apenas 13% dos autodeclarantes se enquadraria no perfil do que seja uma pessoa católica oficialmente. Esta informação é
útil para pensar o Catolicismo hoje, não obstante o fato do fenômeno não se circunscrever apenas à
Valença. O fato pode ser interpretado como uma certa conveniência social já que a auto-declaração é
relativa a religião hegemônica.
A queda no número de católicos no Brasil nos últimos anos tem sido um fenômeno discutido
dentro e fora da igreja já que o país “é a maior nação católica do mundo e abriga metade dos fiéis da
América Latina” 28. Considerando esta questão, além da suposta conveniência social, os dados podem
ser lidos como um sinal de que as pessoas estão experimentando uma prática religiosa e uma
“participação comunitária” distinta do padrão estabelecido pela instituição.
Os participantes do fórum diocesano, supostamente aqueles católicos envolvidos com a vida
comunitária “foram enviados” para suas cidades e comunidades para serem “beija-flores” em suas
comunidades: “pequenino, frágil; mas ágil, trabalhador, constante, comprometido com a vida”29. A
Igreja em Valença enfrenta o desafio de uma evangelização que privilegie uma linguagem que atinja a
maioria dos seus fiéis. Apesar das recomendações conciliares e, do Documento de Aparecida
sugerirem novos elementos e formas de evangelização, os desafios de inculturar a fé, no contexto
atual, são significativos.
A necessidade de voltar às origens, no sentido da fundação da religião, em Valença pode se
confundir com o sentido da fundação da cidade. Este movimento pode ser compreendido a partir do
modo como a Igreja lida com o tempo. Se “ontem” a tarefa evangelizadora foi ou não realizada
plenamente não assegura que “hoje” se alcançará os resultados esperados. Para seguir as
recomendações foi necessário pensar estratégias novas para a continuidade a missão da religião.
28
A este respeito ver:Jacob, C.R. Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil, São Paulo, Loyola,
2003.
29
Segundo o informativo Vida Diocesana, 2008.
A principal estratégia de aproximação às camadas populares são as pastorais sociais e a
pastoral do negro se constitui importante vetor e dispositivo em relação ao cumprimento da “exigência
da evangelização das culturas e da inculturação da mensagem da fé”.
O retorno do fundador da pastoral na diocese à cidade, no ano de 2006, teve por finalidade o
acompanhamento da “evangelização inculturada do povo afro-brasileiro” na região30. Como primeiro
resultado se destaca a realização da 3ª Semana da Consciência Negra na cidade. Dentre as questões
debatidas e temas trabalhados durante o período, dois pontos merecem destaque: 1. A fala de uma
integrante da pastoral “a partir do Concílio Vaticano II” abordando “a evangelização inculturada e a
missão da Pastoral Afro Brasileira a partir dos documentos da CNBB” e; 2. A “explanação sobre a
Missa Inculturada Afro” feita pelo pároco da Catedral “mostrando que ela está de pleno acordo com as
normas da Igreja para a celebração da Missa e que são celebrações que envolvem a alegria de se
celebrar o Mistério Pascal de Cristo”. No empenho de realizar esse projeto de evangelização a pastoral
do negro31 é descrita como representando
“(...) leigos preocupados com uma evangelização inculturada e o resgate dos
valores culturais afro-valencianos, por entender que a verdadeira libertação
dos afrodescendentes – sem a qual ninguém será verdadeiramente livre no
país – passa pela afirmação de sua rica cultura” (...).
Afirmações feitas durante as celebrações em comemoração à Semana da Consciência Negra,
tais como “o evangelho só é evangelho quando inculturado”; Zumbi “encarnou, assumiu sobre ele a
vida, a cultura, o jeito do seu povo viver” e; a Festa de Zumbi dos Palmares “celebrada na fé ‘nos
resgata’ que nós somos uma família cristã”, ilustram significativamente a tentativa de uma ruptura. No
passado colonial e escravocrata a população negra era submetida e oprimida com a conveniência da
instituição, no presente, “não por falta de fé” o “povo negro” procura os caminhos que lhe parece
melhor e, por isto a necessidade de inculturar sua fé e, no futuro, de fato a constituição da verdadeira
“família cristã”.
Mas, a ruptura não se dá no tempo nem na maneira esperados. O preconceito racial que tem
dimensão institucional representa apenas um dos aspectos da questão. O significado da umbanda, por
exemplo, em que Jesus Cristo não apenas está no centro como também na posição superior da
hierarquia religiosa não recebe a atenção quando se trata de “evangelizar a cultura” negra. Daí, ao se
falar de evangelizar a cultura negra, fica no ar a idéia de uma necessária conversão.
Se a maioria dos valencianos se auto-declara católica e se aqueles que não são católicos
podem ser evangélicos, o que pode significar que já conheçam o evangelho, o problema neste caso,
pode se imaginar, é o sincretismo. A respeito do sincretismo, o Decreto Ad Gentes, que segundo
MIRANDA (2001:26) trata da atividade missionária da igreja, “alerta contra toda espécie de
sincretismo”. Ainda conforme este autor, em outro documento, a Constituição Pastoral Gaudium et
Spes, o Concílio “enumera os efeitos benéficos do Evangelho nas culturas, renovando, corrigindo,
purificando, completando e fecundando de dentro as riquezas culturais dos povos”. Isto se sintetizaria
posteriormente na expressão “evangelização das culturais”.
A compreensão do sentido de evangelizar as culturas dos capoeiristas, adeptos da umbanda e
do candomblé e dos agentes da pastoral do negro tem sido marcada por disputas simbólicas e
momentos de tensão. O entendimento da noção de cultura é um ponto importante a este respeito. O
emprego do termo cultura, especialmente quando acompanhado da qualificação “negra”, no contexto
30
Jornal Catedral, 2006.
Em homenagem ao preto forro Miguel Tomaz, que mobilizou um grupo de devotos “pretos” em torno da
construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em torno de 1846, o nome da pastoral é
Pastoral Afrovalenciana Migue Tomaz. (Conforme IÓRIO, 2007[1953])
31
das trocas e relações sociais da cidade e das recomendações do Concílio, oscila entre as noções de
valor e de mercadoria. Para essas pessoas, a religião está presente e é um dos sustentáculos da
proposta mas, o modo como lidam com a questão difere bastante daquele esperado pela instituição. A
expectativa é de que a igreja seja o centro das atividades e que isto se manifeste através da
participação dessas lideranças e da mobilização do público para o qual desenvolvem suas atividades
“culturais”
Considerações Finais
As idéias e as práticas que fundamentaram a execução do projeto de ocupação do território da
cidade de Valença mostram a intenção civilizatória da administração colonial, com propósito explicito
de controlar a região e o lugar da religião em tal empreendimento. Tentei traçar pontos de conexão
entre a fundação da cidade, cuja conformação se deu a partir do aldeamento dos índios e a
importância da participação da igreja católica, instituição com legitimidade social e política para
desempenhar essa tarefa.
A proposta contemporânea de inculturação da fé e evangelização das culturas se destaca
como um elemento caracterizador do modo como o Catolicismo mudou e continua o mesmo ao longo
da sua história na cidade. As noções de continuidade e ruptura, embora não acionadas na descrição,
foram importantes sinalizadores para a textualização das idéias e questões trabalhadas.
O catolicismo popular, ou seja, a forma como leigos que atuam de forma distinta da oficial,
entenda-se, romanizada, da religião, vivenciam sua religiosidade, foi e permanece sendo um modo
bastante presente de expressão religiosa em Valença. Desde o período colonial o catolicismo
doméstico dos primeiros colonos, dos chefes de família, e aquele mais romanizado, mais universalista,
das ordens religiosas, estiveram sempre presentes e muitas vezes em oposição.
A abordagem do Catolicismo admite enfoques vários e a intenção neste trabalho foi destacar
alguns aspectos sobre o modo como a religião, mais que cumprir o mandato de sua existência
temporal, nas atribuições institucionais, no contexto colonial configurou “uma peça do aparelho de
Estado”. Entretanto, a Igreja em Valença através de ações vinculadas ou reconhecidas pela estrutura
eclesiástica foi e continua atuando de acordo com sua forma-Estado. Apesar da tentativa
contemporânea de encontrar elementos identificados com a considerada postura “profética” do padre
ao qual coube iniciar o projeto de evangelizar os índios que ocupavam o território que constitui o
município, o que se pode constatar concretamente é que os índios não subsistiram ao contato e
tampouco deixaram descendentes para negar ou confirmar esta versão32. O caráter revolucionário que
estaria na base da postura profética parece não ter influenciado a prática evangelizadora dos
missionários subseqüentes.
O Catolicismo continua sendo a religião hegemônica na cidade, com propostas e projetos de
intervenção na dinâmica da sociedade bastante explícitos como mostrado neste trabalho33. Apesar dos
critérios excludentes a respeito do que seja de direito e de fato uma pessoa católica, a paisagem social
da cidade é marcada por imagens suficientemente eloqüentes sobre a força da instituição na vida do
conjunto da população.
32
Para o pároco da Catedral, “desde a primeira evangelização houve uma relação humanizadora da igreja para
com os grupos oprimidos, marginalizados.”
33
O uso do conceito de hegemonia está conforme AUSTIN-BROOS (1997) que: 1) estabelece uma distinção
entre este e o conceito de ideologia; 2) assinala a intenção de ir além da noção, buscando superar o enfoque da
análise de classe e a idéia que classes são as principais coletividades da sociedade e; 3) destacar a opção pelo uso
da expressão “políticas de ordem moral” em vez de “batalha cultura”.
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cópia disponibilizada pela Biblioteca da Câmara Municipal de Valença está sem referência de cidade e
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nhora_do_rosario.
34
Em uma nota de pé de página o autor cita Geremack (1988:163) assinalando sobre o tema: “(...) Referindonos a esta longa trama temporal, não encontramos uma série de mudanças na continuidade, mas uma pluralidade
descontinua de fenômenos, de processos, de modelos. Igreja primitiva e Igreja tridentina, Igreja opulenta, Igreja
inserida na ordem dominante, a Igreja revoltada ou contestatória, a da aliança entre o trono e o altar e a da luta
contra a opressão”. A proposição do autor faz lembrar de certo modo as observações de DELEUZE e
GUATTARI de que “(...) quando a religião se constitui em máquina de guerra, mobiliza e libera uma formidável
carga de nomadismo ou de desterritorialização absoluta, (...); enfim, volta contra a forma-Estado seu sonho de
um Estado absoluto.” Platô “Tratado de nomadologia – a máquina de guerra” a respeitos das linhas.
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VIDA DIOCESANA – Boletim Informativo da Diocese. 2008. “Fórum Diocesano Histórico-Cutural 20082010”. Nº 71, Abril/Maio/Junho.
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