SÉCULO XVIII • Não podemos acreditar que os naturalistas no final do século XVIII dedicavam-se apenas a fazer um “inventário do mundo vivo”. • A Economia da Natureza (Linné) transmitida ao século XIX, parte-se em três segmentos: • Interdependência das espécies • Circulação dos Elementos • Localização das Espécies CIRCULAÇÃO DOS ELEMENTOS • A Revolução Científica mais importante do final do século XVIII ligase a Priestley, Cavendish e Lavoisier Joseph Priestley (1733-1804) Henry Cavendish (1731-1810) Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794) Priestley (1771) Experimento com um rato e um pé de hortelã: “a vegetação terrestre consegue “regenerar” o “ar viciado” pela respiração dos animais ou pela putrfação da matéria vegetal e animal. PRIESTLEY A análise dos gases e a compreensão de como ocorrem as alterações gasosas nas reações químicas permitem a química colocar “de maneira inovadora a questão da nutrição das plantas e da respiração dos animais”. • “Os vegetais colhem no ar que os rodeia, na água e, em geral, no reino mineral os materiais necessários à sua organização. Os animais alimentam-se ou dos vegetais ou de outros animais que se alimentaram eles próprios de vegetais, de maneira que as matérias que os formam são sempre, em última análise, extraídas do ar e do reino mineral. Enfim, a fermentação, a putrefação e a combustão devolvem continuamente ao ar da atmosfera e ao reino mineral os elementos que os vegetais e os animais lhe tomaram” (Lavoisier). Os misteriosos Círculos da Vida Na História da Ecologia se tem negligenciado o papel da química dos seres vivos. No início do século XIX ainda há confusões quanto ao mecanismo de desenvolvimento das plantas. Nicolas Théodore Saussure: Procura resolver o problema da assimilação dos minerais nas plantas. A) o carbono se origina da atmosfera B) a fixação do carbono pela planta é acompanhada por um aumento de peso. C) O azoto (nitrogênio) é fornecido pelo solo Julius Robert Mayer (1842): convertibilidade de diversas formas de energia umas nas outras. Princípios do Equilíbrio Termodinâmico: fornecem os meios para avaliar o fluxo de energia nos sistemas vivos. Por exemplo, ao se misturar café quente com leite frio, a temperatura do leite aumenta, e consequentemente a temperatura do café diminui. Após algum tempo, a temperatura desta mistura estabiliza num valor inferior à sua temperatura do café, e obviamente superior à temperatura do leite. Assim, foi possível perceber que a energia química é retida nas plantas até ser transformada em energia mecânica pelos animais. ácido carbônico + água + luz matéria orgânica + oxigênio Separação das duas funções importantes das plantas: nutrição e respiração. A fotossíntese. a) b) Justus Von Liebig: A importância nutritiva das plantas não está no húmus, mas no fósforo, no cal, nos álcalis presentes no solo. (fórmula NPK) Enunciou a regra ecológica dos fatores limitantes: “O elemento que falta totalmente, ou que se encontra em quantidade insuficiente, impede as outras combinações nutritivas de produzirem efeito, ou, pelo menos, diminui-lhes a ação nutritiva”. Ciclo do Azoto (Nitrogênio) Como o azoto é obtido pelas plantas? A dificuldade de pesquisa: comportamento das plantas em relação ao azoto nem sempre é igual. Pioneiros: Claude L. Berthollet (1775) e Antoine Fourcroy (1789). Claude-Louis Berthollet Antoine François de Fourcroy Jean Babtiste Boussingault A partir de 1850: • Suas pesquisas revelaram que o azoto presente em estado gasoso no ar não foi fixado pelas plantas durante o seu crescimento. • Não percebeu a importâncias da bactérias no processo de fixação do azoto no solo. “Assim, é no reino vegetal que reside o grande laboratório da vida orgânica, é lá que se formam as matérias animais e vegetais à custa do ar; das plantas, esta matérias passam, completamente formadas, aos animais herbívoros que delas destroem uma parte, acumulando outra nos tecidos; dos animais herbívoros elas passam, completamente formadas, aos animais carnívoros que as destroem ou conservam de acordo com as suas necessidades; enfim, ou durante a vida, ou após a morte, estas matérias orgânicas que são destruídas voltam à atmosfera donde são provenientes” (Jean-Babtiste Dumas). Ciclo do Azoto INTERDEPENDÊNCIA DAS ESPÉCIES Em algumas obras da época é possível encontrar observações acerca da relação entre presa-predador. • • O trabalho de anatomia comparada pressupõe um conhecimento dos regimes alimentares Pierre-André Latreille (1762-1833) A presença de formigas de madeira em uma árvore frutífera protege a árvore contra as outras espécies de formiga. Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814) • Publicou Estudos da Natureza: opondo-se a Newton e ao movimento da Terra. • O exagero de seus argumentos em favor da providência – o colocaram à margem da comunidade científica. “ A harmonia deste globo seria em parte destruída, talvez inteiramente, se se suprimisse nem que fosse só o mais pequeno gênero de plantas; porque a sua destruição deixaria sem verdura um certo espaço de terreno e sem comida a espécie de inseto que aí encontra a sua vida: a sua destruição arrastaria a perda da espécie de ave que com ele alimenta os seus filhotes, e assim até ao infinito”. • Ao contrário de Linné, considera a existência do homem “supérflua” na ordem estabelecida pela Terra. • Ao contrário de seus contemporâneos (Buffon) considera a natureza não tocada pelo homem encantadora. François Antoine Rauch (1762-1837) • Insiste na solidariedade que une todas as formas de vida. • O homem fez mal ao destruir as florestas e deve reparar isto, pois, o seu bem estar depende da prosperidade dos vegetais e dos animais. LOCALIZAÇÃO DA ESPÉCIES A Geografia das plantas e dos animais recolhe a terceira parte da herança da Economia da Natureza. O crescimento contínuo do número de espécies conhecidas pelos sábios europeus resultado da colonização, do comércio e das Grandes Navegações. Aumentam-se os trabalhos em herbários, jardins botânicos, centros de criação e gabinetes de História Natural das capitais européias. Surgem novas questões: As plantas e os animais não se distribuem ao acaso na superfície do globo. As viagens permitiram a comparação das flores e das faunas de diferentes países. A CIÊNCIA DOS ECOSSISTEMAS Haeckel (1866): • Vulgarizador da ciência • cria o vocábulo ecologia (Oikos = casa, Logos = estudo) • Indiretamente contribuiu para o desenvolvimento da Ecologia Contexto Histórico (Século XIX) • As sociedades vivem um período de expansão industrial, • Intensa devastação promovida pela indústria, • Completa-se a conquista colonial do globo, • Confiança na ciência (cientificismo) e no progresso, • Aumentam as inquietações e interrogações científicas em todos as áreas. • Controvérsias em torno do vocábulo ecologia: Edward J. Kormondy: o termo teria surgido pela primeira vez na carta de Henry Thoreau. Um olhar atento a carta e percebe-se a palavra ecologia na realidade era geologia. Henry David Thoreau (1817-1862 ERNST HAECKEL (1834-1919) • A paternidade do termo pertence inequivocamente a Haeckel. • 1866: Aparece primeira vez em uma de rodapé de seu Morfologia Geral Organismos. pela nota livro dos “Por ecologia, entendemos a ciência das relações dos organismos com o mundo exterior, onde podemos reconhecer de uma maneira mais ampla, os fatores da ‘luta pela existência’ [...] Entre as condições de existência de natureza inorgânica, a que qualquer organismo deve submeter-se, pertencem em primeiro lugar as características físicas e químicas do habitat [...] Sob a designação de condições de existência, entendemos o conjunto das relações dos organismos uns com os outros, quer favoráveis quer desfavoráveis”. • Em escritos posteriores Haeckel retoma o conceito: 1869: “A bionomia ou ecologia à qual deram recentemente o nome de etologia; é a ciência dos hábitos dos organismos, das suas necessidades vitais e das suas relações com os outros organismos”. O conceito de etologia colocado por Haeckel foi criado por Geoffroy Sait-Hilaire (1859) e passou a significar apenas o “estudo do comportamento animal e suas causas. Papel de Haeckel na História da Ecologia: • Foi subestimado pelos importante mas ambíguo. historiadores: • Segundo Donald Worster: Haeckel é como Américo Vespúcio, “dando um nome a um continente que não descobrira”. • Haeckel era titular de Zoologia na Universidade de Iena (1862-1909): especialista em organismos planctônicos, mas é mais conhecido como um divulgador das idéias de Darwin. • Republicano e ateu convicto. • Suas principais obras Os enigmas do Universo e As maravilhas da Vida tiveram uma enorme influência na Europa. • Partidário da Filosofia Monista. • Para os monistas: a) o mundo físico e os seres vivos são feitos da mesma matéria; b) os homens e os animais têm o mesmo estatuto no mundo, c) A natureza é fonte de verdade e deve servir de modelo para a vida humana • Como monista, Haeckel restabeleceu a ligação fundamental entre o mundo da natureza e o mundo dos homens. • Não apenas iniciador da ecologia, mas forneceu os fundamentos teóricos para o ecologismo. O século XIX é marcado por investigações que procuram esclarecer as relações existentes entre o homem e a natureza • Alexandre Surell: agrônomo francês, analisou a relação entre desarborização das vertentes nas bacias e as inundações. • Maurice Tribolet: contabiliza as espécies que o homem levou ao desaparecimento. • Élisée Reclus: Inquieta-se com modificações brutais no ambiente. as A ciência não é separada de uma concepção que a toma por suas possibilidades de aplicação (Utilitarismo) Serge Podolinsky: • Questiona, a partir de Marx, por que o trabalho humano acumula nos seus resultados maior energia do que foi dispensada para a produção da força dos trabalhadores? • O homem pode “aumentar a quantidade de energia solar acumulada sobre a Terra e diminuir a energia dispersa”. • Podolinsky acredita que isto é possível através do desenvolvimento e do melhoramento da agricultura. • Assim, efetua o primeiro balanço energético da agricultura francesa. • No mundo vivo dois processos energéticos entram em competição: o das plantas que acumulam energia e dos animais que a dissipam. • Aproxima a Economia Economia Ecológica. e a Biologia: Patrick Geddes: • Apresentou reflexões originais em Ecologia Humana. • Propõe uma sociologia classificando os indivíduos na sociedade de acordo com a sua posição no esquema de produção, • É o primeiro introduzir a energia: o seu consumo aumenta exponencialmente (dimensão essencial do processo econômico) • Elaborou críticas fundamentais às escolas do pensamento econômico dominantes. • Estas críticas se assentavam no fato destas escolas esquecerem a importante contribuição das ciências da natureza. • Estas escolas agem como se “a teoria da Evolução e as leis de conservação e da transformação não existissem”. • Estas críticas aos preconceitos antiecológicos e anti-termodinâmicos só foram retomadas no final do século XX. COMUNIDADES E SISTEMAS 1877 – Publica em Berlim um livro no qual apresenta o resultado de suas pesquisas sobre ostreicultura (França). Karl August Möbius (1876-1953) Mostra que não se pode compreender a abundância ou a rarefação de uma espécie só por sua taxa de fecundidade, é necessário ter em conta o conjunto de outras espécies que vivem no mesmo meio, que delas se alimentam e lhe fazem concorrência. • O capítulo X é bastante original: “Um banco de ostras é uma biocenose ou comunidade de vida”, ou seja, “uma comunidade de seres vivos que encontram neste lugar preciso todas as condições para o seu nascimento e conservação” [...] Desta forma, em um lugar e em um instante dados, subsiste um determinado quantum de vida – representada por um certo número de indivíduos e que perdura graças à reprodução”. “Uma tal comunidade, chamo biocenose (de bios, a vida, e de koinoein, ter qualquer coisa em comum) ou comunidade de vida”. • O termo biocenose aparece pela primeira vez designando um nível de integração dos seres vivos com um modo próprio de regulação. BIOCENOSE: Grupo de espécies que vivem em conjunto, ou conjunto de espécies que vivem no mesmo meio. • “Qualquer modificação em um dos fatores determinantes de uma biocenose, tem como conseqüência modificações de outros fatores”. • As biocenoses entregues a si mesmas mostram uma grande estabilidade. • Com as plantas cultivadas e os animais domésticos, o homem multiplicou o número de indivíduos a uma escala imensa, pois “aumentou artificialmente as suas áreas biocenóticas” • este crescimento artificial de plantas e animais permitiu o desenvolvimento da espécie humana. O Nascimento da Limnologia • François-Alphonse Forel (18411912) é considerado o “Pai” fundador da Limnologia. • 1871 – Forel propõe à Sociedade Valdense de Ciências Naturais um projeto de investigação completo: Um estudo que vise os aspectos físico-químicos da água e a interações do meio vivo. • Publicou Le Léman: Monografia Limnológica, texto que apresenta uma influência dos conceitos de comunidade de vida e de biocenose inventados por Möbius. • Inventou o termo Limnologia e a definiu como a “oceanografia dos lagos”. Lago Léman - Suiça • Hoje a Limnologia é considerada um ramo da Ecologia que estuda os ecossistemas aquáticos continentais. Victor Hensen (1835-1924) • Pioneiro da Oceanografia • Foi um dos primeiros a tentar avaliar quantitativamente a massa orgânica aquática. •Inventou o termo plâncton. Stephen Forbes (1844-1930) • Professor da Universidade de Illinois. • 1887 – propõe a análise da comunidade viva de um lago. • O Lago como um Microcosmo texto no qual coloca que o “lago é suficientemente pequeno para estar ao alcance do espírito humano”. • Para Forbes, em um lago, os animais que o povoam e os que vivem nos territórios que os cercam, estão todos ao mesmo tempo muito isolados e suficientemente ligados entre si para serem considerados uma totalidade orgânica. • Totalidade Orgânica: como um “pequeno mundo em si mesmo, um microcosmo”. • Estudo comparativo de fauna e da flora de diferentes lagos norte-americanos. • Na cadeia alimentar do achigã Forbes identifica uma grande variedade de peixes, insetos, camarões de água doce, entomostráceos – a cadeia alimentar continua com os alimentos das presas. O achigã depende de todos os animais do lago e com algunas entra em competição • Forbes percebe que o achigã entra em competição com a utriculária: dentro da qual enumera noventa e três animais pertencentes a pelo menos vinte e oito espécies. • A estrutura do microcosmo está estreitamente dependente dos hábitos alimentares dos seus habitantes. • A seleção natural age através da relação de predação em que predador e presa têm interesses comuns. • Forbes utiliza a expressão “agregação sensível” entre as espécies. • O sistema em seu conjunto é atingido por todo o acontecimento que afete uma só espécie. Ecossistema Aquático