XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Bem-Estar Animal: O que pensam os discentes de Zootecnia e Medicina Veterinária da Universidade
Federal Rural da Amazônia?1
Animal Welfare: What students of Animal Science and Veterinary Medicine from the Federal Rural
University of Amazon think about it?
Bianca Barreto Barbosa2, Fabrício Khoury Rebello3
1
Parte do trabalho de Iniciação Científica do primeiro autor, financiado pela FAPESPA.
Acadêmica de Zootecnia da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém (PA), Brasil.
Bolsista Pibic/FAPESPA. E-mail: [email protected].
3
Economista, Dr., Professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém (PA), Brasil.
E-mail: [email protected].
2
Resumo:O objetivo do estudo é conhecer a percepção dos discentes de Zootecnia e Medicina Veterinária da
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Belém, a respeito do Bem-Estar Animal (BEA).
Para isso foram aplicados 155 questionários junto aos discentes dos cursos de Zootecnia e Medicina
Veterinária, ambas do primeiro e nono semestre da graduação, representando 71,76% do conjunto dos alunos
desses períodos nos respectivos cursos. A maioria dos discentes ingressantes no curso de Zootecnia (57,14%)
e Medicina Veterinária (78,33%) disseram ter conhecimento do assunto. Sobre a importância atribuída ao
Bem-Estar Animal, a maioria dos estudantes (88,39%) considerou o assunto como sendo de Alta
Importância. Quando questionados sobre qual atributo é o mais importante no momento de adquirir um
produto de origem animal, o mais relevante com 25,16% foi a higiene do local de compra, seguido de
20,65% que consideraram o selo de inspeção do produto. Apesar dos discentes terem demonstrado conhecer
o tema, considerá-lo como sendo de alta importância e possuirem boas expectativas para o futuro da temática,
o BEA não foi considerado o atributo de maior importância no momento da compra, demonstrando que na
prática, a maioria dos estudantes não elegeu o BEA como critério relevante na escolha de alimentos de
origem animal, contrariando as expectativas acerca do posicionamento de estudantes de Ciências Agrárias
sobre o Bem-Estar Animal.
Palavras – chave: ciências agrárias, percepção, produção animal
Abstract:The objective of the study is to understand the perception of the students of Animal Science and
Veterinary Medicine of the Federal Rural University of Amazon (UFRA), campus Belém, about Animal
Welfare (AW). For this 155 randomly questionnaires were applied to students, two classes of Animal Science
and two of Veterinary Medicine, both in the first and ninth semester of undergraduate school, this represents
71% of all students of these periods in their courses. Most freshmen students in the Animal Science course
(57, 14%) and Veterinary Medicine (78.33%) said they had knowledge about the subject. About the
significance attributed to the Animal Welfare, the majority of students (88.39%) considered it to be of high
importance. When asked what attribute the most important when is purchasing a product made of animal, the
more relevant with 25.16% was the hygiene of the place of purchase, followed by 20,65%)% who considered
the inspection stamp. Even though, students had demonstrated knowledge about the subject, considering it as
high significance and have good expectations for the future of this area, but Animal Welfare was not
considered the most important attribute when buying it, showing that in practice, majority of them did not put
the Animal Welfare as relevant attribute in the choice of food of animal origin, contrary to expectations about
the positioning of Agricultural Science students related Animal Welfare.
Keywords:agricultural sciences, perception, livestock
Introdução
Nos anos de 1970, a criação intensiva de animais levou ao confinamento de bovinos, suínos e aves
em muitos países (MOLENTO, 2005). As inovações de manejo caracterizam-se, principalmente, por
números mais altos de animais mantidos juntos em espaços marcadamente reduzidos.Tais condições
apresentam efeitos na transmissão de doenças e requerem considerável adaptação fisiológica e
comportamental dos animais (BROOM e FRASER, 2010). Segundo BROOM (1986), o bem-estar de um
indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de se adaptar ao seu ambiente. Nas últimas décadas o
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consumidor reduziu a aceitação por produtos em que por trás do seu fornecimento existe o sofrimento
animal.O bem-estar animal (BEA) tem forte presença nos códigos morais e nos pilares éticos de vários países
e um tratamento apropriado aos animais não é mais visto como algo que possa ser deixado para a livre
escolha de pecuaristas individuais (SINGER, 2002; MOLENTO, 2005).
Os principais motivos que levam as pessoas a se preocuparem com o bem-estar de animais de
fazenda são inquietações de origem ética, o efeito potencial que este possa ter na produtividade e na
qualidade dos alimentos e, por último, as conexões entre bem-estar animal e comercialização internacional de
produtos de origem animal. Todos têm relevância e não devem ser considerados contraditórios (HÖTZEL e
MACHADO FILHO, 2004).
O presente trabalho consiste na avaliação da percepção de discentes dos cursos de Zootecnia e
Medicina Veterinária do primeiro e nono semestre da Universidade Federal da Amazônia (UFRA), com
vistas a captar o nível de agregação de conhecimento destes estudantes durante o decorrer do curso, bem
como entre eles. O estudo justifica-se pelo fato da região Norte caracterizar-se, predominantemente, pela
produção e manejo extensivo, com o transporte de animais à longas distâncias e baixo conforto
térmico.Aliado a isto, está o fato destes estudantes, estarem envolvidos, diretamente, com a aplicação prática
do tema.
Material e Métodos
O estudo foi realizado na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Belém, entre os
meses de janeiro a março de 2015, a partir do levantamento de dados primários junto aos discentes dos cursos
de Zootecnia e Medicina Veterinária, considerando as categorias de alunos ingressantes e concluintes.
Foram aplicados 155 questionários, esta amostra possui representatividade de 80% dos alunos de
Zootecnia do primeiro semestre, 75% dos alunos de Zootecnia do nono semestre, 75% dos alunos de
Medicina Veterinária do primeiro semestre e 59% de alunos de Medicina Veterinária do nono semestre,
portanto, configurando-se como representativa do universo de estudantes dos cursos analisados. Os dados são
preliminares, pois o estudo pretende conhecer o nível de conhecimento nos demais cursos da área de Ciências
Agrárias da Universidade.
Os questionários foram aplicados nas salas de aula da UFRA, com a autorização do docente que
ministrava a aula no momento da aplicação e dos próprios alunos. Após esclarecimentos sobre a pesquisa e o
teor do questionário, cada estudante recebia um exemplar do mesmo para responder as 17 perguntas de
múltipla escolha com o conteúdo abrangendo aspectos do Bem-Estar Animal. Os questionários eram
recolhidos imediatamente após o seu preenchimento, contando, sempre que preciso, com esclarecimentos
quanto às possíveis dúvidas. O tratamento dos dados foi realizado com a utilização do software Microsoft
Excel.
Resultados e Discussão
A maioria dos entrevistados (72,26%) eram mulheres e apenas 27,74% homens. A faixa etária variou
entre 17 e 46 anos e a média de idade foi 22 anos. Sobre o conceito de BEA, a maioria dos discentes
ingressantes no curso de Zootecnia (57,14%) e Medicina Veterinária (78,33%) disseram ter conhecimento do
assunto. Em relação aos discentes do 9º semestre do curso de Zootecnia e Medicina Veterinária,
respectivamente, o conhecimento sobre o tema foi de 95,24% e 100% dos graduandos entrevistados. Ainda
sobre conhecimento geral ao respeito de Instruções Normativas, Diretrizes ou Leis voltadas ao BEA,
verificou-se que do total de discentes de Zootecnia do primeiro semestre, nenhum destes disse conhecer tais
aspectos. Em contrapartida, 16,67% dos discentes do 1º semestre de Medicina Veterinária, disseram
conhecer, principalmente leis correspondentes aos direitos dos animais e contra maus tratros ou abandono.
Quanto à importância atribuída, pelos estudantes, ao Bem-Estar Animal, a maioria (88,39%)
considera o assunto como sendo de Alta Importância. Atribuíram Média Importância, apenas, 7,10% dos
entrevistados. Os que não souberam opinar somaram 4,52%. Esses dados mostram um grau de relevância alto
atribuido ao BEA pelos discentes.
Quando questionados sobre qual atributo é o mais importante no momento de adquirir um produto
de origem animal, o mais destacado foi a higiene do local de compra (25,16%), seguido do Selo de Inspeção
do produto (20,65%) e em terceiro a validade do produto (18,71%). Na quarta posição, empatados com
11,61% das respostas, ficaramo preço e o Bem-Estar Animal. Esses dados mostram que apesar da elevada
importância atribuída ao BEA, este aspecto não é considerado como o principal atributo no momento da
compra.
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Figura 1.Atributos citados como os mais importantes no momento de aquirir um produto de origem animal,
UFRA, 2015.
Fonte: dados da pesquisa.
.
Sobre a opinião dos estudantes em relação ao futuro do Bem-Estar Animal, considerando os
próximos 5 anos, a maioria (37,42%) considera que haverá um aumento na preocupação da sociedade com o
tema, 30,97% acreditam que haverá avanços nas pesquisas relacionadas ao BEA, mas poucas mudanças em
relação ao atual padrão, outros 27,74% disseram que o tema estará efetivamente sendo colocado em prática
pelas empresas que criam e beneficiam produtos de origem animal e apenas 3,87% acham que o tema estará
estagnado, sem grandes avanços. A maioria dos entrevistados, portanto, é otimista em relação ao futuro do
Bem-Estar Animal e suas aplicações.
Conclusões
A percepção dos discentes, captada na pesquisa, evidencia que estes consideram o Bem-Estar Animal
como um tema de alta importância e que nos próximos anos haverá um aumento da preocupação da
sociedade com o tema com avanços nas pesquisas. No entanto, a opinião dos entrevistados foi contraditória,
quando questionados sobre o atributo mais importante no momento da aquisição de um produto de origem
animal, em que foram destacados a higiene no local de compra e o selo de inspeção, fatores que não estão
diretamente relacionados com o BEA, que inclusive ocupou a quarta posição como atributo de relevância.
Este fato demonstra que, a maioria dos entrevistados na posição de consumidor, ainda não dá preferência ao
BEA.
A ciência animal caminha no sentido de implantar novas formas de propiciar Bem-Estar aos animais
de produção, no entanto, para reverter a situação revelada no estudo, são necessárias algumas medidas como
o fomento dos benefícios do BEA pelas Universidades, que consistem na melhoria da qualidade de vida do
animal e na produtividade, podendo assim indicar melhores formas de manejo nas propriedades rurais.
Literatura citada
BROOM, D. M. Indicators of poor welfare.British journal, London.v.142. p. 524-526,1986.
BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. Barueri (SP):
Manole, 2010.
MOLENTO, C. F. M. Bem-estar e produção animal: Aspectos econômicos - Revisão. Archives of Veterinary
Science .Brasil. v. 10, n. 1, p. 1-11. 2005.
SINGER, P. Animal liberation. New York: HarperCollins, 2002. 324 p.
HÖTZEL, M. J. MACHADO FILHO, L.C.P.Bem-estar Animal na Agricultura do Século XXI.Revista de
Etologia, Vol.6, N°1, 03-15.2004.
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