UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS PERSONAGENS DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ CRICIÚMA, JUNHO 2009 2 PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS PERSONAGENS DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador(a): Prof. (ª) Angélica Neumaier CRICIÚMA, JUNHO 2009 3 PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS PERSONAGENS DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Processos e Poéticas. Criciúma, 30 de junho de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. (a) Angélica Neumaier –Especialista em Design para Estamparia – UFSM Especialista em Ensino da Arte – Unesc – Orientadora Prof. Edison Balod –Especialista em Arte e Educação – Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC Prof. (a) Izabel Cristina M. Duarte – Especialista em Ensino da Arte – Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC 4 RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar a identidade cultural brasileira nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica e do Pererê. Buscando investigar como se desenvolveu a cultura nacional nos quadrinhos, a pesquisa procura compreender os primeiros passos desse tipo de arte no país, destacando a questão da identidade cultural nos quadrinhos brasileiros. Concluindo-se por fim que o reflexo do hibridismo cultural em que vivemos hoje pode alcançar uma multiplicidade muito maior de identificação com o leitor, que encaixado neste mundo globalizado possui uma cultura hibrida. No decorrer do trabalho será criado um objeto artístico fundamentado na diversidade cultural e na globalização. Palavras-chave: Quadrinhos nacionais. Cultura. Identidade. 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Primeira Ilustração no Brasil ............................................................13 Figura 2 – Caricatura de D. Pedro II, por Ângelo Agostini ...............................14 Figura 3 – Primeira História em Quadrinhos .....................................................15 Figura 4 – Revista O Tico Tico ............................................................................17 Figura 5 – Personagem Buster Brown ...............................................................18 Figura 6 – Personagem Chiquinho .....................................................................18 Figura 7 – Negrinha Lamparina de J.Carlos ......................................................19 Figura 8 – Revista Gibi ....................................................................................... 20 Figura 9 – Jayme Cortez e Álvaro de Moya........................................................22 Figura 10 – Revista O Pererê...............................................................................23 Figura 11 – Personagens de Mauricio de Souza................................................24 Figura 12 – Graúna, Personagem de Henfil........................................................25 Figura 13 – Revista Balão................................................................................... 26 Figura 14 – Personagem Horácio de Mauricio de Souza..................................33 Figura 15 – Tirinha do Chico Bento....................................................................33 Figura 16 – Objeto Artístico.................................................................................35 Figura 17 – Objeto Artístico.................................................................................36 Figura 18 – Objeto Artístico.................................................................................37 Figura 19 – Objeto Artístico.................................................................................37 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HQ – História em Quadrinhos. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8 2 METODOLOGIA ....................................................................................................10 3 DA ILUSTRAÇÃO AOS QUADRINHOS BRASILEIROS ......................................12 4 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL .....................................................................................................................17 5 IDENTIDADE CULTURAL .....................................................................................28 6 IDENTIDADE NACIONAL NOS QUADRINHOS ...................................................29 6.2 Análise de personagens ..................................................................................31 7 OBJETO ARTISTICO ............................................................................................35 8 CONCLUSÃO ........................................................................................................38 REFERÊNCIAS.........................................................................................................39 8 1 INTRODUÇÃO A individualidade de cada pessoa compreende uma série de fatores relacionados ao meio organizacional ao qual ela pertence e que farão parte da formação cultural desse individuo, levando em conta que na arte encontramos a forma de expressão individual do artista, calcula-se que ao expressar-se individualmente o artista reflete todos esses fatores no seu objeto artístico. Ao tratar-se das histórias em quadrinhos não poderia ocorrer diferentemente, pois em cada traço, linha e forma, como em cada personagem e em cada trama na qual ele se insere, encontraremos muito do desenhista, que por sua vez é reflexo de sua própria formação cultural. A idéia de se fazer quadrinhos não surgiu no Brasil. Entre tantas outras modalidades artísticas, as formas de arte surgiram e foram lançadas ao mundo, tornando-se parte de cada lugar ao qual se estabelecem, pois cada povo ao inserila em seu meio passa a moldá-la de acordo com a sua individualidade, e a particularidade de um povo nada mais é do que um conjunto de uma série de tradições, ou seja, a sua cultura. Apesar das histórias em quadrinhos se concentrarem na esfera de arte popular, ter se tornado produto de uma indústria cultural de massa, dos quadrinhos norte-americanos e mais recentemente os mangás japoneses terem praticamente invadido as bancas de revistas do país, ainda assim em âmbito nacional fica claro em determinados períodos do desenvolvimento dessa arte, que entre os quadrinistas brasileiros, mesmo sofrendo tamanha influência da produção estrangeira, há a necessidade de expressar através do traço de seus personagens, um retrato mais verde e amarelo. A partir deste contexto, este projeto tem como objetivo geral analisar a identidade cultural brasileira nas histórias em quadrinhos das revistinhas da Turma da Mônica e do Pererê. Os objetivos específicos buscam compreender uma identidade cultural brasileira inserida no contexto dos quadrinhos destes dois autores, analisar a forma como Mauricio de Souza e Ziraldo retratam essa identidade cultural nestes 9 dois trabalhos e entender a arte seqüencial como um meio de comunicação da cultura individual do artista que a produz, para posteriormente demonstrar através da criação de um objeto artístico o resultado da pesquisa em questão. 10 2 METODOLOGIA Para o encaminhamento desta pesquisa, se utilizou como base a perspectiva do método qualitativo que facilitou a análise do projeto quanto aos significados, motivos, aspirações e crenças que norteiam o universo das histórias em quadrinhos brasileiras. Em função da coleta de dados ter se realizado por meio de métodos que consistiram num estudo detalhado que envolveu a natureza, fonte e conseqüência do tema, como nos sugere a pesquisa exploratória, e em razão de além desses dados também terem sido de extrema importância para a conclusão do trabalho a explicação de aspectos referentes à cultura da população em relação a este mesmo tema, como por outro lado nos sugere a pesquisa explicativa, esta pesquisa se realizou com o objetivo exploratório-explicativo. Para realização do projeto foram analisados livros e principalmente artigos que serviram de base na questão levantada pelo problema. Como cita Minayo (1994, p. 53), “[...] podemos dizer que a pesquisa bibliográfica coloca frente a frente os desejo do pesquisador e os autores envolvidos em seu horizonte de interesse”. Através da abordagem histórica, esse trabalho buscou investigar como se desenvolveu a cultura nacional dos quadrinhos, buscando compreender através desse método os primeiros passos desse tipo de arte no país, destacando sempre com a ajuda da abordagem etnográfica, a questão da identidade cultural nos quadrinhos brasileiros. Segundo Richardson (1985, p. 2000), “um dos objetivos da pesquisa histórica é contribuir para solucionar problemas através do exame de acontecimentos passados”. Foi desenvolvido no decorrer do projeto um objeto artístico fundamentado na diversidade cultural, globalização e a procura pela identidade nacional, temas que nortearam a pesquisa realizada. Como esta pesquisa aborda a comunicação visual, a criação de uma objeto artístico relacionado a cultura nacional e identidade nos quadrinhos, o 11 encaminhamento do projeto seguiu como linha de pesquisa os Processos e Poéticas. 12 3 DA ILUSTRAÇÃO AOS QUADRINHOS BRASILEIROS O Brasil no século XVIII era palco de uma sociedade em desenvolvimento e suas representações culturais se baseavam fortemente nas formas de expressões trazidas da Europa. Estas formas de expressão que a princípio chegavam carregadas de uma forte influência Européia, aos poucos passavam a ser o objeto reflexivo da realidade que as envolvia, a realidade Brasileira. A Ilustração é uma imagem pictórica que pode ser representada tanto figurativa quanto abstratamente, geralmente sintetiza ou caracteriza conceitos, situações e ações, e quando passa a caracterizar determinadas pessoas pode ser chamada de caricatura. Pode-se dizer que a caricatura vem do expressionismo, onde o artista retrata as impressões interiores que a pessoa expressa na face, pois ela é o desenho de um personagem da vida real que enfatiza e exagera as características da pessoa, acentuando seus gestos, vícios e hábitos peculiares. Com as inovações técnicas que permitiram o advento da gravura no país, a ilustração, chamada de caricatura fez sua estréia na imprensa Brasileira em 14 de dezembro de 1837, através de um folheto litografado no jornal “O Comércio”, sob autoria de Manoel de Araújo Porto Alegre (1806 – 1879), que além de exercer a atividade jornalística também foi pintor, arquiteto, escultor, urbanista, pensador da cultura, dramaturgo, crítico e historiador da arte. 13 Figura 1 – Primeira Ilustração no Brasil Fonte – Disponível em: http://www.bigorna.net/artigos. Acessado em: 01/ 07/ 09 Manoel de Araújo Porto Alegre aponta na primeira ilustração publicada no Brasil um pagamento de propina no Correio Oficial. O desenho mostra um homem em pé, elegantemente trajado, usando chapéu de penacho. Com a mão direita toca uma sineta e, com a outra, oferece um saco de dinheiro a um sujeito ajoelhado, em atitude servil. Outros, ao fundo fogem da cena. Em 1827 Manoel de Araújo Porto Alegre estreou na Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro como aluno fundador, e assim como era tão comum aos demais estudantes da época, pois o Brasil ainda não oferecia cursos universitários, em 1837 seguiu para Europa em busca de aperfeiçoar seus estudos na França. Regressando ao Brasil, Porto Alegre põe em prática seus dez anos de estudos, publicando algumas de suas caricaturas e entrando para a história do país por ter sido de sua autoria a primeira ilustração impressa em um folheto de jornal. A Ilustração foi para a imprensa brasileira ferramenta de fundamental importância, pois como cita Pinto (2003, p.28) “num país de maioria analfabeta, a imagem constitui verdadeira revolução”. Com o regime monárquico, a ilustração em forma de caricatura foi utilizada como propaganda política e tornou-se uma porta voz nas campanhas abolicionistas e republicanas. Nesta fase, utilizando a imprensa como suporte de comunicação, os traços de Ângelo Agostini começaram a se destacar. A ilustração 14 que até então circulava pelo país sob forte influência francesa, passa a refletir uma realidade nacional. Ângelo Agostini – desenhista, ilustrador e pintor – em 1864 estreava na imprensa do país revelando um traço tão característico que posteriormente seria chamado de brasileiro, inspiração fundamental para formação de muitos outros artistas nesse campo. Por estar diretamente ligado à propaganda política, um dos veículos de comunicação mais importantes da época, e por este veiculo possibilitar a liberdade de expressão sem censuras, Ângelo Agostini utilizou a linguagem da caricatura, com a intenção de repercutir da forma mais abrangente possível suas críticas. Ângelo Agostini desenvolveu uma perspicaz e minuciosa observação do tipo humano brasileiro, então nas suas ilustrações a sua autoria era evidente. Figura 2 – Caricatura de D. Pedro II, por Ângelo Agostini Fonte – Disponível em: http://www.bigorna .net/biografias. Acessado em: 01/ 07/09 30 de janeiro de 1869, é a data reconhecida nacionalmente como aquela na qual foi publicada a primeira história em quadrinhos, em seqüência e com um personagem fixo no país. Sua autoria era de Ângelo Agostini, desenhista 15 que além de agregar ao traço brasileiro características nacionais, também foi um dos precursores das histórias em quadrinhos no Brasil. Figura 3 – Primeira história em quadrinhos Fonte – Disponível em:http://palavra.escrita/angeloagostini. Acessado em 01/07/09 Ângelo Agostini assim como o próprio nome sugere nasceu em Vercelli, na Itália, e só veio ao Brasil aos 16 anos, onde viveu a maior parte da sua vida, naturalizando-se e marcando a história do país por delimitar fronteiras com seu espírito republicano, anticlerical e abolicionista. Criou um estilo, influenciou e tornou a caricatura, a sátira política e os quadrinhos, parte da imprensa nacional. É evidente a importância da sua participação na história política, jornalística e artística do país, pois foi através das artes que Ângelo Agostini expressou-se politicamente utilizando-se da imprensa como veículo para maior repercussão. Embora algumas de suas ilustrações já tenham sido publicadas anteriormente, o formato em seqüência – mesmo sem o balão e as onomatopéias, pois esse recurso ainda era desconhecido na época – foi experimentado por 16 Ângelo Agostini na revista “Vida Fluminense”, a história foi intitulada “As aventuras de Nhô Quim” publicada de 1869 até 1872. Entre as muitas personagens fixas que o cartunista criou “As aventuras de Nhô Quim” e posteriormente “Zé Caipora”, publicada de 1883 até 1886 na revista “Ilustrada”, receberam maiores destaques. Os dois personagens mantinham a mesma temática, narrava as experiências de um caipira perdido na cidade grande, um reflexo natural de uma sociedade que nesta época passava por um crescente desenvolvimento. 17 4 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL Em 11 de outubro de 1905 foi publicada a primeira revista em quadrinhos no Brasil. Segundo Moya (1977, p. 215-217), “Nos princípios do TicoTico, os desenhistas, em sua maioria, copiavam material estrangeiro, com pequenas adaptações. Mas alguns já eram criativos”. Figura 4 – Revista O Tico-Tico Fonte – Moya (1977, p.215) O Tico-Tico seguia o modelo de uma revista francesa e seu personagem mais popular, Chiquinho, era uma cópia não autorizada de Buster Brown, criado pelo norte-americano Richard Felton Outcault. Chiquinho que até então era considerado o legítimo representante dos quadrinhos brasileiros, em 1951, com a realização da Studioarte – Primeira Exposição de Quadrinhos Mundial, foi revelado ser a cópia de Buster Brown, e, portanto, americano e não brasileiro. 18 Figura 5 - Personagem Buster Brown Fonte –Disponível em:http://wwwjornale.com.br/esquadrinhando. Acessado em 01/ 07/ 09 Figura 6 – Personagem Chiquinho Fonte – Disponível em: http://www.unicamp.br/ensaios. Acessado em: 01/ 07/ 2009 Apesar da maioria dos desenhos publicados na revista terem sido cópias muito próximas das revistas estrangeiras, seguindo seus padrões e temas, O Tico Tico também revelou alguns talentos nacionais como J Carlos. 19 J. Carlos foi um dos maiores desenhistas que o país já teve, participou dos inícios do Suplemento em 34 e do começo do Tico-Tico, onde criou, entre outras, as façanhas de uma empregadinha doméstica pretinha: Lamparina. (MOYA, 1977, p. 217). José Carlos de Brito e Cunha, mais conhecido como J. Carlos (1884 à 1950) é considerado um dos maiores nomes dos quadrinhos e do humor gráfico brasileiro, retratando principalmente em seus personagens o tipo carioca, com todos os seus hábitos e características. Entre as suas tantas criações, publicou na revista O Tico-Tico personagens como a Jujuba e seu pai, a negrinha Lamparina e Carrapicho. Figura 7 – Negrinha Lamparina de J.Carlos Fonte – Disponível em: http://www.universohq.com/quadrinhos. Acessado em: 01/ 07/ 2009 Nos anos 30 os artistas brasileiros passam a trabalhar sob influência estrangeira. Adolfo Aizen, traz para o Brasil a idéia dos Suplementos Juvenis inspirada na imprensa norte americana, uma forma de voltar a atenção do leitor para o consumo do jornal. O Suplemento Juvenil é lançado em 14 de março de 1934 como apêndice do Jornal A Nação, em tamanho tablóide e em cores, trazia além dos personagens estrangeiros desenhados por artistas brasileiros algumas histórias nacionais. Como imitação do Suplemento Juvenil surge também o Globo Juvenil que seguia praticamente o mesmo padrão do primeiro. 20 Em 1939 é lançada no país a revista Gibi, publicada em tamanho meio tablóide. A princípio como o Suplemento Juvenil o Gibi era lançado em determinados dias da semana, porém posteriormente ele passou a ser uma revista mensal com histórias completas, porém também recheadas de personagens norteamericanos. A partir de então o termo Gibi se torna sinônimo de qualquer revista de história em quadrinhos brasileiras, seguindo esse novo gênero, várias outras revistas no formato Gibi foram lançadas. Figura 8 – Revista Gibi Fonte – Moya (1977, p. 212) Em 1940 os Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial e a massificação das histórias em quadrinhos estrangeiros que dominavam o território brasileiro abriu espaço para os artistas nacionais, porém as editoras passam a apostar em personagens com grande influência norte-americana, com receio de perder um público já acostumado a consumir a produção estrangeira. 21 Ainda nesta década, procurando valorizar a cultura e o artista nacional, são publicadas pela editora EBAL em 1949 a Edição Maravilhosa, onde eram publicados adaptações de clássicos da literatura brasileira para os quadrinhos como uma forma de valorizar a cultura do país. Em agosto de 1951 o gênero Terror passa a ser publicado no Brasil, inspirado nas publicações norte americana. Seu lançamento no país repercutiu rapidamente atingindo vários títulos diferentes, e com o término da produção das histórias americanas em função da qualidade do gênero, os quadrinistas nacionais mais uma vez tiveram uma oportunidade nas revistas aderentes do gênero que receavam perder seu grande público interessado. Nessa época é lançada pela Editora La Selva a revista Terror Negro, com artistas nacionais como Rodolfo Zalla, Eugênio Colonese, Gedeone Malagona, Nico Rosso, entre outros. Ainda em 1951 o Brasil marcou a história das histórias em quadrinhos por realizar pioneiramente em 18 de junho a primeira Exposição Internacional das Histórias em Quadrinhos, sob o nome de Studioarte. Organizada por Jayme Cortez Martins, Syllas Roberg, Miguel Penteado, Reinaldo de Oliveira e Álvaro de Moya, a Studioarte aconteceu em São Paulo e expressou-se através de criticas as editoras e aos plágios dos desenhos em quadrinhos, rebatendo também as restrições que se faziam à dita má influência dos quadrinhos às crianças. Seus organizadores também lutaram pela nacionalização dos quadrinhos, fundando a Associação Paulista de Desenhistas e através desta procuraram abrir caminhos para produção brasileira. 22 Figura 9 - Jayme Cortez e Álvaro de Moya Fonte – Disponível em: http://wwwligazine.com.br/quadrinhos/materias. Acessado em: 05/07/09 Fica claro na entrevista de Álvaro de Moya à Al Capp, que essa preocupação voltada para o desenvolvimento da produção nacional e a forte influência estrangeira que a seguia, num país rico em qualidade de artistas em busca de uma identidade, não é uma preocupação atual. Porque o Brasil não tem histórias em quadrinhos? Perguntou Al Capp a Álvaro de Moya, em New York, em 1958, quando este entrevistava o autor para a folha de São Paulo – Eu sempre me preocupei pelo fato que a distribuição mundial dos comics americanos para o mundo todo, sufocou o desenvolvimento das histórias nacionais. (MOYA, 1977, p.234). Segundo Ziraldo (1982, p.8), “em torno dos anos 60, havia a expectativa da nacionalização da história em quadrinhos”. O editor do Cruzeiro, jornal para o qual Ziraldo trabalhava na época, em prol dessas expectativas, passa a publicar histórias em quadrinhos nacionais. Surge o Pererê, a primeira revista de histórias em quadrinhos nacional. 23 Figura 10 – Revista O Pererê Fonte – Moya (1977, p.215) O Pererê, com texto e ilustração de Ziraldo, soube representar muito bem a brasilidade da nossa terra. Seu personagem principal foi inspirado no mito folclórico do Saci Pererê, e seus demais personagens coadjuvantes eram animais representantes da fauna brasileira, garantindo aos brasileiros que tivessem contato com a revista, uma imediata identificação com os mitos e lendas do país. Sua publicação não conseguiu se sustentar por muito tempo, segundo Moya (1977, p. 214-215), “o máximo que podiam pagar ao autor era muito pouco para a sobrevivência do desenhista, que poderia ganhar muito mais na publicidade”. Porém até hoje quando se fala em identidade nacional nos quadrinhos brasileiros seu personagem principal serve de fundamental referência. Mauricio de Souza se destaca, ainda nesta época, com seus personagens da Turma da Mônica. Começando com a Editora Continetal, que nesta época só trabalhava com desenhistas nacionais. Mauricio de Souza com uma temática mais universal para suas histórias conquistou o seu espaço, e nos dias atuais vive exclusivamente de quadrinhos, sendo reconhecido nacional e internacionalmente. 24 Figura 11 – Personagens de Maurício de Souza Fonte – Moya (1977, p. 218) Para Alves (2002, p.5) “A universalidade dos temas abordados em suas histórias facilitou às criações de Maurício o passaporte para serem publicados em diversos países, nas mais diversas línguas”. São lançados em revista, ainda nesta época, personagens de superheróis criados através das mãos dos desenhistas nacionais, porém praticamente todos esses personagens sofriam grande influência das criações norte americanas. Como exemplo tem-se o Capitão 7, que nada mais era que uma mistura de Super Homem, Capitão Marvel e Flash Gordon. Sua história se baseava no ganho de uma super força, inteligência e capacidade de vôo, estando sempre disposto a enfrentar criminosos mesmo possuindo uma vida dupla, pois enquanto simples humano mantinha uma vida discreta, assim como ditam as historinhas dos super heróis americanos. Com o Golpe Militar em 1964, as produções nacionais tornam a se voltar para dentro do território brasileiro, discutindo e refletindo nas suas criações a problemática do país. O Pasquim foi um jornal criado durante este período, 25 dando espaço para desenhistas como Henfil, Jaguar e Millôr Fernandes, retratar seu humor inteligente e subversivo nos cartuns. Henfil destacava como sua marca registrada o humor político, crítico e satírico, com personagens tipicamente brasileiros como a Graúna, um dos desenhos mais marcantes do cartunista, inspirado na ave típica do nordeste brasileiro, em suas tirinhas Henfil abordava temas que envolviam os problemas políticos do Nordeste. Figura 12 – Graúna, personagem de Henfil Fonte – Disponível em: http://www.centrocultural.sp.gov.br. Acessado em: 06/07/09 Nos anos 70 o movimento Underground que chegou no Brasil e passou a ser conhecido como movimento “Udigrudi”, mexeu com as criações nacionais. As revistas de quadrinhos “Udigrudi” eram de caráter contestatório, com a intenção de manifesto. O movimento defendia a publicação de quadrinhos que tivessem uma identificação com o país, como também a abertura do mercado para essa produção. Um exemplo desse gênero é a revista O Balão que acabou originando uma série de fanzines (quadrinhos feitos de maneira artesanal e divulgados “boca a boca”) e revelando vários artistas de quadrinhos e cartunistas brasileiros como Laerte, Luiz Gê, os irmãos Caruzo, entre outros. Na época os fanzines eram comuns às universidades, normalmente produzidos por alunos e professores. 26 Figura 13 – Revista Balão Fonte – Disponível em: http://jornalivros.co.cc/?p=235. Acessado em: 06/07/09 A partir dos anos 80 os autores independentes da década de 70 começam a se destacar, surgem revistas como Circo e Chiclete com Banana, revelando desenhistas como Angeli, Glauco e Laerte, que chegaram a produzir vários trabalhos, tanto juntos como separadamente. Surgem personagens como Piratas do Rio Tietê de Laerte, que trazem histórias que falam de um grupo de piratas saqueadores e fanfarrões que fazem a festa nos arroios de São Paulo, chegando a interagir com outros personagens que cruzam o caminho da tripulação. O Plano Cruzado I e a conseqüente estabilidade financeira foi o principal catalisador do surgimento dessas produções. Com o fracasso do Plano Cruzado e dos planos subseqüentes, toda essa produção começou a ter problemas de continuidade e terminaram por ser canceladas em sua maioria. (ALVES, 2002, p.6). No inicio da década de 90 as Histórias em Quadrinhos ganharam impulso com as Bienais de Quadrinhos realizadas no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, eventos nos quais se reuniram um grande número de pessoas ligadas às questões culturais e também aquelas que trabalhavam com esse tipo de arte dentro e fora do país. 27 Uma novidade na década de 90 referente aos quadrinhos nacionais, foi a adaptação dos personagens da TV, da música e do esporte, como foi o caso das revistinhas da Xuxa, dos Trapalhões e do Ayrton Senna. Na segunda metade desta década a estabilização econômica decorrente do Plano Real favoreceu a produção brasileira novamente, nesta época houve uma retomada de personagens de super heróis, mas infelizmente estes continuavam sob forte influência dos super heróis norte americanos e as preocupações sobre uma identidade nacional volta a entrar em discussão no país. Como exemplo das editoras que publicam quadrinhos nacionais no país temos a editora Globo com a publicação da Turma da Mônica, a Devir com a publicação dos trabalhos de Lourenço Mutarelli, a Escala, com coletâneas de autores iniciantes, a Ópera Graphica publicando artistas nacionais do passado, a editora Panini, que apesar de ter como foco principal os quadrinhos de super heróis americanos também publicou artistas nacionais como Fabio Yabu e a editora Trama. 28 5 IDENTIDADE CULTURAL O homem ao dividir-se em grupos, passou a conviver em sociedade. A sociedade por assim dizer, é construída a partir da organização dos integrantes destes determinados grupos, que individualmente buscam conviver em harmonia. O modo de organização que se originará deste convívio social por sua vez, resultará em fatores comuns estabelecidos, que diferenciarão estes grupos sociais entre si, como no modo de agir e falar, sua religião, suas artes, a execução de trabalhos, esportes, entre outros. O conjunto de fatores comuns estabelecidos no convívio de um determinado grupo social, determina a cultura dessa sociedade. A cultura, por outro lado, uma vez que pode distinguir um grupo social de outras sociedades, passa a servir de identidade a este determinado grupo social. A Identidade Cultural pode definir elementos culturais que determinam a sociedade de uma cidade, um estado ou até mesmo de um país, onde o fator de identidade se desenvolve a partir do conjunto de crenças e representações simbólicas que darão sentido ao conceito de cidadania. A Identidade Nacional será então a soma de todas as instituições culturais desta respectiva nação. Para Hall (2005, p. 51), “As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, com os quais podemos nos identificar constroem identidades”. 29 6 A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA NOS QUADRINHOS DE MAURICIO DE SOUZA E ZIRALDO Tylor (apud PINTO, 2003, p. 6) diz que “cultura é o conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Identificar uma cultura brasileira em meados do século XVIII, com a sua sociedade crescendo e refletindo tamanha diversidade cultural, era uma atividade tão complexa quanto retrata-la no século XXI, onde as identidades culturais de modo geral estão se tornando cada vez mais hibridas em função da globalização. A medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural (HALL, 2005, p. 74) Como a maioria das formas de expressão artísticas Do século XVIII, os quadrinhos passaram a ser praticados no Brasil sob uma forte característica européia, e logo que inserido no contexto brasileiro, houve a necessidade de identifica-la conforme os hábitos e costumes da sociedade do país. Segundo Pinto (2003, p. 6) “A sociedade como um todo expressa-se pela arte, e esta se constitui num dos campos básicos para o estudo da comunicação”. A comunicação acontece enquanto há identificação, seja através da fala, de gestos, da arte, como também tantos outros elementos que envolvem a cultura. Comunicar através da arte seqüencial uma identidade nacional em um país como o Brasil, constituído a partir de tamanha diversidade cultural, provocou algumas discussões entre os produtores e teóricos das histórias em quadrinhos nacionais, pois ao desvincular as histórias em quadrinhos da temática e estética norte-americana, e agora mais recentemente a japonesa que também vem invadindo as bancas de revistas brasileiras, com qual identidade os brasileiros devem se deparar ao ler uma história em quadrinhos? 30 A identidade brasileira foi construída da mistura de diversas culturas e hoje se encontra hibrida em detrimento da globalização, porém retratar o Brasil em sua arte requer conhecer-se a si mesmo como brasileiro, pois a forma de expressão artística será apenas um suporte que reflete o eu criador, e este será o individuo representante da sociedade que denomina uma nação, agregando-lhe desta forma características referentes à sua cultura. A expressão quadrinho nacional é aplicada tanto por aquelas produções que tentam retratar um Brasil puro, como por aquelas que são extremamente opostas e copiam a produção norte-americana e/ou japonesa, passando pela produção de um quadrinho que podemos classificar como hibrido. (ALVES. 2002, p. 7). Percebe-se mediante a citação de Alves, duas maneiras distintas de se retratar uma identidade cultural brasileira nas histórias em quadrinhos, aquela que retrata um Brasil mais puro exaltando toda a sua tipicidade e uma outra retratando um Brasil globalizado provocador de uma multiplicidade de identidades. Toma-se como exemplo dessas duas tendências distintas, os trabalhos de Mauricio de Souza com a Turma da Mônica e do Ziraldo com O Pererê. Nas revistas de histórias em quadrinhos como O Pererê, encontra-se temas tipicamente brasileiros, voltados para o passado do Brasil, retratando a sua fauna e flora, assim como os mitos e lendas de uma natureza virgem. O Pererê era uma espécie de diabo travesso do folclore brasileiro, foi publicado de 1960 à 1964. Ziraldo abordava nas histórias do Pererê aspectos muitas vezes esquecidos do modo de ser do povo brasileiro e de sua problemática social. O nacionalismo ingênuo junto com as suas histórias tiveram um fim no ano em que se deu o golpe militar. Para Hall (2005, p. 12) “identidade é a relação com o interior e o exterior, ela costura o sujeito a sua estrutura”. Ao destacar os quadrinhos chamados “híbridos”, ou seja, com características culturais universais e locais, encontramos uma maneira mais limpa de identificar uma identidade nacional nos quadrinhos brasileiros, afinal o Brasil foi 31 constituído de características culturais diversas e possui hoje uma sociedade que se desenvolve em função da globalização. Ao analisar as referências de identidade cultural no trabalho de Maurício de Souza, com sua famosa revistinha da “Turma da Mônica”, comparativamente à revista “Pererê” de Ziraldo, percebe-se o recorte da identidade de um Brasil muito mais puro nesta segunda, onde Ziraldo ressalta toda uma “brasilidade” através de elementos que fazem parte das raízes do país, como os mitos, lendas e variadas espécies de animais que fazem parte do enredo das histórias da revista. Entretanto, trabalhar com elementos tão característicos de uma determinada região, acaba impedindo o desenvolvimento do trabalho em locais onde o tema abordado não comunique o público esperado, ou seja, onde não há identificação com o tema. A abordagem de temas universais acaba funcionando melhor na criação de histórias em quadrinhos, garantindo melhor e maior repercussão do trabalho, pois a diversidade cultural faz parte do contexto nacional e a globalização vem crescendo e ocupando parte cada vez maior do dia a dia de cada individuo. Segundo Hall (2005, p. 68), “a globalização esta deslocando as identidades culturais do século XX, [...] Suas características temporais e espaciais que compreendem a distância e escalas temporais tem efeito sobre as identidades culturais”. Nas histórias da Turma da Mônica produzidas por Mauricio de Souza, percebe-se uma universalidade muito maior nos temas e personagens, se compararmos aos encontrados na revista O Pererê, permitindo a esta primeira uma identificação muito maior se comparada à segunda. Nas duas produções há uma identificação do público, pois há uma identidade nacional inserida nos contextos, porém a multiplicidade de identidades é muito mais evidente nas histórias da Turma da Mônica onde a universalidade dos temas viabilizam os quadrinhos à uma público muito mais abrangente. O que faz a identidade do país é a sociedade que nele habita, o 32 individuo integrante dessa sociedade acaba retratando na sua arte a sua identidade, que nada mais é do que o reflexo da estrutura a qual ele pertence. 6.2 Análise dos Personagens da Turma da Mônica e do Pererê Ao se analisar os núcleos dos personagens da Turma da Mônica comparando-os aos do Pererê percebe-se a grande diferença na abordagem dos mesmos em relação à identidade cultural. Mauricio de Souza desenvolve núcleos como os da pré-história, com personagens como Piteco, Thuga, Bolota e Dino. Piteco esta sempre caçando dinossauros e pescando, vive fugindo da Thuga que quer ser a sua esposa. No Núcleo de terror ele traz como personagens a turma do Penadinho, que caracterizam personagens do folclore universal como o Lobisomem e o Frank Sten e não apenas do brasileiro como se baseia o personagem principal do Pererê. Os próprios personagens que fazem parte do núcleo da Turma da Mônica se enquadram numa categoria universal, sendo retratados individualmente por apresentar características comuns a qualquer criança do mundo como não gostar de tomar banho (Cascão), falar errado (Cebolinha), comer muito (Magali) e ficar furiosa quando chamada de gordinha, baixinha e dentuça (Mônica). Os personagens da turminha identificam características vividas no cotidiano de qualquer criança e vivem em suas histórias temas também muito comuns no universo infantil, como os planos mirabolantes feitos pelo personagem do Cebolinha para dar nós no coelhinho de pelúcia da personagem Mônica. Os personagens que mais se aproximam de uma realidade brasileira seriam o Papa Capim e o Chico Bento, porém em suas histórias Mauricio de Souza não especifica de onde são este índio e este caipira, acabando por identificá-los como um estereótipo que poderia ser reconhecido em qualquer parte do mundo. 33 Figura 14 – Personagem Horácio de Maurício de Souza Fonte – Moya (1977, p. 218) Figura 15 – Tirinha do Chico Bento Fonte – Moya (1977, p. 220) Ainda nos núcleos desenvolvidos por Mauricio de Souza encontramos a Turma do Bidu, que envolve em seu enredo personagens de cachorros como o próprio Bidu que além de ser o cachorro de estimação do personagem Franjinha também é diretor de estúdio de televisão, desenvolvendo em suas histórias problemas comuns enfrentados pela mídia. Há também a Turma da Tina onde Mauricio traz para o enredo das suas histórias problemas comuns aos adolescentes de todo mundo, como os namoros mal resolvidos do personagem Rolo e as suas dificuldades nos estudos. 34 Dessa forma Maurício de Souza proporciona ao seu trabalho uma extensão que não se limita apenas à identidade cultural do brasileiro como reflexo de um Brasil puro, mas sim de um Brasil globalizado que compreende em sua cultura uma multiplicidade de identificações. No entanto ao analisarmos os integrantes das histórias do Pererê, nos deparamos imediatamente com o protagonista da história, que foi inspirado no Saci Pererê que faz parte do folclore brasileiro. Porém ao contrario do personagem Saci do folclore, que tem seu nome ligado as travessuras mais perversas, locomove-se por um redemoinho e espalha terror nas fazendas, o Pererê de Ziraldo é um personagem boa praça que vive como uma criança normal, apesar de morar numa floresta e não ter uma família. A maioria dos outros personagens são animais bem peculiares da vida rural brasileira se compararmos aos camundongos, coiotes e papa-léguas das historinhas norte americanas. Eles fazem parte da “Mata do Fundão”, que seria na verdade o próprio Brasil, como o Geraldinho (o coelho), Alan (o macaco), Moacir (o jabuti), Galileu (a onça), entre outros. Também aparecem os índios que seriam o Tininim e a Tuiuiú (namorada do Tininim), nome de uma ave brasileira. Nas histórias do Pererê Ziraldo mesclava temas que envolviam saúde, ética, preservação da natureza e drogas juntamente com muito humor e a cultura popular brasileira, destacando sempre as principais datas comemorativas do país. Desta forma o conceito de Brasil estava sempre muito presente em suas criações. 35 7 OBJETO ARTÍSTICO O objeto artístico desenvolvido a partir da pesquisa realizada sobre a identidade e as culturas externas no desenvolvimento dos quadrinhos brasileiros, tem por objetivo exprimir a idéia da procura pela identidade, uma das principais questões que nortearam a pesquisa. Figura 16 – Objeto Artístico Fonte - Própria O objeto constitui-se num cubo maleável, pois suas paredes podem ser abertas e manejadas pelas pessoas, revelando as identidades misturadas no seu interior. 36 Figura 17 – Objeto Artístico Fonte - Própria Em cada uma das seis faces do cubo há o conflito de dois temas opostos: de um lado, a diversidade de marcas misturadas e sobrepostas, representando o mundo globalizado no qual vivemos e onde experimentamos diariamente o encontro com diversas culturas externas. Do outro lado, que formará o interior do cubo as seis faces são marcadas com diversas digitais e nomes aleatórios de pessoas, com a finalidade de exprimir a origem de tudo, como se o centro do cubo representasse a raiz cultural de cada indivíduo que tenta se encontrar entre tantas digitais e nomes por estar envolto em tamanha diversidade de culturas. 37 Figura 18 – Objeto Artístico Fonte - Própria A idéia da interação do objeto com as pessoas veio dos quadrinhos, pois o conteúdo que a HQ concentra em seu interior é aquele pelo qual o individuo busca a identificação, e isso de certa forma acaba se tornando uma caixinha de surpresas. Figura 19 – Objeto Artístico Fonte - Própria 38 8 CONCLUSÃO Com o encerramento da investigação desse projeto e finalização do processo criativo conclui-se que os objetivos iniciais da pesquisa foram alcançados. Demonstrou-se que a arte das histórias em quadrinhos chegou ao Brasil e se desenvolveu refletindo uma cultura externa, as tentativas pela nacionalização dos temas das HQs acabaram sendo abafados pela influência dos quadrinhos norte-americanos e agora mais recentemente os mangás japoneses. Utilizar as histórias em quadrinhos como suporte de comunicação do reflexo do eu brasileiro em um país constituído de tão diversificada cultura acaba restringindo a produção artística a uma determinada localidade, e apostar em temas mais universais como no caso de Maurício de Souza acaba funcionando melhor no mercado. Segundo Hall (2005, p. 73), “colocadas acima do nível da cultura nacional, as identificações globais começam a deslocar e, algumas vezes, a apagar, as identidades nacionais”. Em tempos de globalização, encontrar uma identidade nacional em um país já tão diversificado culturalmente, acaba se tornando uma atividade ainda mais complexa. Percebe-se nas produções de Maurício de Souza e Ziraldo com a Turma da Mônica e o Pererê, duas maneiras distintas de refletir em sua arte a identidade do Brasil. Mauricio de Souza aposta na universalidade de temas e reflete na composição de seus personagens uma cultura mais homogênea, vivida e compartilhada em tempos de globalização, com a qual qualquer um pode facilmente se identificar. Ziraldo, com seus personagens em o Pererê, busca através de sua arte o resgate de um Brasil puro e ingênuo onde vivemos e plantamos nossas raízes. O objeto artístico, resultado final da pesquisa, acaba por ressaltar todas as questões pertinentes no projeto que envolveram a massificação da cultura e a busca pela indentidade. 39 REFERÊNCIAS ALVES, Bruno Fernandes. A Identidade Nacional na Pós Modernidade: o caso dos quadrinhos brasileiros. 2002. folhas. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife. CAMPEDELLI, Samira Youssef; ABDALA JUNIOR, Benjamin. Ziraldo: literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982. 108p. il. MINAYO, Marilia Cecília de Souza (Org.). 26.ed. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. 108p. MOYA, Álvaro de (Org.). Shazam!. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 1977. 343p. il. PINTO, Virgílio Noya. Comunicação e Cultura Brasileira. 5.ed. São Paulo: Ática, 2003. 77p. RICHARDSON, Roberto Jerry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1985.287p. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 501p.