Gestão Integrada e Participativa em Comitês de Bacia Hidrográfica Encontro de Mobilização para a Instalação do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá CBHRP Foto Emílio Pedroso 15 de dezembro de 2009 Brasília - DF Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano “Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil e tantas misérias” Guimarães Rosa Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Gestão Integrada de Recursos Hídricos - GIRH “Um processo que promove o desenvolvimento e gerenciamento coordenado da água, solo e outros recursos correlatos, no sentido de maximizar de forma eqüitativa, o resultante bem-estar econômico e social sem comprometer a sustentabilidade dos ecossistemas.” ( GWP, 2000 ) Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Gestão Integrada de Recursos Hídricos -GIRH “Entendida como todos os usos, todos os usuários, todas as medidas de conservação e todos os atores e setores indiretamente afetados ou beneficiados, buscando metas e objetivos comuns, observando os princípios de eqüidade social, eficiência econômica e sustentabilidade ambiental, para resolver problemas e antecipar-se a uma crise de escassez da água” (ELISA COLOM DE MORÁN). Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Mas afinal, integrar o quê? Objetivos que são interligados, tais como: eficiência econômica, renda regional, redistribuição de renda, qualidade ambiental e bem-estar social; - Suprimento e demanda de água; - Água superficial e subterrânea; - Quantidade e Qualidade de água; - Água, Solo e Vegetação; Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Mas afinal, integrar o quê? (cont.) - Diferentes finalidades de uso da água: ambiental, doméstico, industrial, agrícola, transporte, lazer, geração de energia, aquicultura, mineração, pesca, turismo…; Rios, aquiferos, estuários e águas costeiras; Água, ambiente, ecossistemas, seres; Aspectos urbanos e rurais; Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Mas afinal, integrar o quê? (cont.) O arcabouço legal, regulatório relacionado com as águas,não só do setor água diretamente, mas, indiretamente de outros setores que possuem implicações com as águas; Os interesses de usuários de cabeceira dos cursos de água (montante) com os de trechos inferiores (jusante); As instituições públicas e privadas relacionadas com a água de âmbito internacional, nacional, regional, municipal e nível local. Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Enfim, Gestão Integrada significa que todos os diferentes usos dos recursos hídricos devem ser considerados em conjunto. As alocações de água e as decisões de gestão devem considerar os efeitos que cada uso acarreta nos demais. Deve ter a habilidade de levar em conta os apectos sociais e econômicos sob a perspectiva da sustentabilidade ambiental. Deve ainda incorporar/integrar uma multiplicidade de atores com interesses diversos nos processos participativos de tomada de decisão Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Plano Nacional de Recursos Hídricos Objetivos estratégicos: • A melhoria das disponibilidades hídricas, superficiais e subterrâneas, em qualidade e quantidade; • A redução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos; • A percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Questões a considerar: Água na bacia - pauta de negociações Pesca Turismo e Lazer Geração de Energia Elétrica Indústria VAZÃO AMBIENTAL Piscicultura Irrigação Agricultura e Pecuária Comunidades Rurais, Navegação Tradicionais e Povos Indígenas Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Urbano A participação É o principal mecanismo de controle social na gestão das águas. Os conselhos de recursos hídricos e os comitês de bacia hidrográfica constituem um espaço de explicitação e resolução de conflitos, pois são os fóruns de diálogo por excelência. A criação de novos direitos e o confronto com o instituído são marcas da democracia. Neste processo dialógico, o papel do Estado consiste em promover e assegurar a coexistência dos segmentos sociais e a defesa das regras de um jogo transparente, democrático e participativo. Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Histórico distanciamento entre Estado-Sociedade “Historicamente, a tutela do Estado cerceou a autonomia da sociedade. A rigidez da institucionalidade estatal, presa à herança corporativa, seu fraco potencial de incorporação política, a impermeabilidade do Estado às demandas sociais em expansão, seu baixo grau de responsabilidade pública acentuaram o divórcio Estado-sociedade” (ELI DINIZ). Mitos e Verdades: “A sociedade não está preparada para participar, como protagonista, das políticas públicas. Esse mito está embasado na superstição do saber, em que a burocracia e/ou o político detêm o saber e a delegação para a decisão” (JOSÉ ANTÔNIO MORONI). “A democracia sustenta-se sobre a hipótese de que todos podem decidir a respeito de tudo. A tecnocracia, pelo contrário, pretende que sejam convocados para decidir apenas aqueles poucos que detêm conhecimentos específicos” (NORBERTO BOBBIO). Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Do Papel do Estado Contemporâneo: “Promover e assegurar a coexistência dos grupos sociais, estimulando uma conciliação que inclua, mas também ultrapasse o conflito, no sentido da comprensão do outro, buscando uma unidade na diversidade, um ordenamento a partir da complexidade social” (PAUL RICOEUR). Representação nos colegiados deliberativos: “A partir do momento em que os conselheiros reconhecem que estão influenciando nas decisões, parece haver uma motivação a mais para que continuem participando do processo deliberativo” (LEONARDO AVRITZER). Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano TIPOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL Compatilhamento de Deliberações Negociação entre interesses divergentes Controle democrático Adaptado de LEONARDO AVRITZER. Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Capacidade dos atores sociais constituirem-se em parte do processo de decisão (os atores sociais conhecem, melhor que ninguém, seus interesses ou valores e, por isso, deven fazer parte dos foros de deliberação); Os atores sociais podem mediar melhor suas divergências quando estão inseridos em arranjos participativos (interesses, ainda que divergentes, podem encontrar pontos comum ao longo de un processo de negociação e debate); Aumenta a transparência das instituições (a presença de atores sociais e a publicização de informações aumenta a capacidade da sociedade civil de controlar e fiscalizar as políticas sociais do Estado). A gestão de recursos hídricos, fundada nos princípios da descentralização e participação social, aponta para um novo modelo capaz de superar as deficiências dos modelos tradicionais de gestão, o Burocrático e o Econômico-FinanceroGerencial, cujas características encontram-se resumidamente demonstradas no quadro seguinte. MODELOS DE GESTÃO BUROCRÁTICO Comandocontrole Ação pontual e reativa Legalismo Planejamento centralizado ECONÔMICO-FINANCEIROGERENCIAL SISTÊMICO DE INTEGRAÇÃO PARTICIPATIVA Estado Mediador Participação e Controle Mercado Gestor social Regulação-privatização Governança democrática Intervencionismo: Planejamento estratégico Não-integrador/gerador por bacia hidrográfica de desigualdades Ampla representatividade Negociação Pacto Social Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Constituição Federal 1988 (Carta Magna do Brasil) Define a água como bem público de domínio da União (e dos estados) Cria a política e institui o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos Processo de redemocratização do país e de ascenção dos movimentos sociais Lei de Águas do Brasil: Lei Federal n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997 “Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH)” Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano O Conselho Nacional de Recursos Hídricos Órgão máximo do SINGREH: regulamenta e define a Política Nacional de Recursos Hídricos. É um parlamento das águas presidido pelo ministro do MMA e tem a SRHU como Secretaria-Executiva (suporte técnico, financeiro e administrativo); Composto por um plenário de 57 membros, representantes de Governo, Setores Usuários e Sociedade Civil Organizada. Possui 10 Câmaras Técnicas tematicas consultivas; Temas desenvolvidos: mecanismos/Cobrança, artic. procedimentos de Outorga e Licenciamento, gest.integrada de águas superficiais e subterrâneas, vazão ecológica, representatividade, reúso, integração de sistemas de informação etc. Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Composição do CNRH: Governo Federal = 51% Cons. Estaduais = 17% Usuários = 21% Organiz. civis = 11% Setores Governo Federal Conselhos Estaduais de RH Usuários de RH Organizações Civis TOTAL CNRH Decreto N°2.612 de 12/06/1998 Decreto N° 4.613 de 11/03/2003 Moção N° 36 de 03/03/2006 15 29 29 5 10 14 6 12 16 3 6 10 29 57 69 Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Composição dos CBHs (de rios de domínio da União) Representantes de: União Estados e DF Municípios Entidades civis >20% Usuários =40% <40% Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Comitê de Bacia Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Participação nos CBHs: desafios e perspectivas… grandes assimetrias de recursos, conhecimento e poder que se reproduzem nos colegiados; grupos que colocam sua identidade corporativa acima da discussão sobre as políticas públicas; internalização para os colegiados de disputas que não necessariamente têm a ver com a política pública; representantes de governo pouco representativos, com pouca informação e investidos de pouco poder decisório; “A abundância atual da informação: necessidade de estruturação, seleção e síntese. A governança deve contribuir para que o mundo torne-se inteligível para todos, em particular com relação ao conhecimento que a comunidade tem de si mesma, a compreensão do funcionamento dos sistemas públicos (que, parecem ser, freqüentemente, opacos, complicados, portanto, suspeitos), e a compreensão do mundo exterior” (PIERRE CALAME). Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano …desafios e perspectivas: Ampliação da representação e qualificação da representatividade; Atração de novos protagonistas, assegurando sua participação (diversidade social e pluralidade etno-cultural brasileiras); Formas permanentes de comunicar/divulgar o que se passa nos espaços colegiados; Criar alternativas como fóruns autônomos, observatórios, e-groups, redes eletrônicas, teleconferências etc; Ampliar a capacidade de mobilização e a prestação de contas; Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Alguns desafios e perspectivas: Fortalecer os canais de comunicabilidade (foruns, colegiados); Produzir novos padrões de relação entre Estado-Sociedade; Desmistificar os custos da participação X custos da não-participação; Promover o diálogo entre diferentes saberes; (técnico-científico, político, bio-regional, tradicional) Comprometimento coletivo com as atribuições do CBH; Os fundamentos legais e instrumentos de planejamento e gestão como balizadores das ações; As políticas públicas acima das motivações particularistas e corporativas; Combinação ética no exercício da representação: convicção + responsabilidade pública + cuidado socioambiental e intergeracional; Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Referências bibliograficas: AVRITZER, Leonardo. Governo Lula e o desafio da participação. Revista Teoria & Debate n. 54 (2003). Fundação Perseu Abramo. __________________. O espaço público habermasiano e a generalização da idéia do outro. Projeto Democracia Participativa, 2005. BRAVA, Silvio Caccia. A construção democrática e o futuro. Ed. Le Monde BR, fev/08. BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Ed. Paz e Terra. 2000. ________________. Org. Dicionário de Política. UnB, 1995. CALAME, Pierre. Org. Repensar a gestão de nossas sociedades: 10 princípios para a governança, do local ao global. SP. Instituto Pólis, 2003 (Cadernos de Proposições para o Século XXI, 7). CERQUEIRA, Jaqueline. Esfera pública: liberdade de expressão? Mídia Independente. COSTA, Márcio M. Democracia, representação e crise. www.espacoacademico.com.br. DINIZ, Eli. Uma perspectiva analítica para a reforma do Estado. Revista Lua Nova, n. 45, 1998. MORÁN, Elisa Colom de, in Gobernabilidad del Agua, 2006. UICN MORONI, José Antônio, in: Participamos, e daí?. Observatório da Cidadania. SANTOS, Boaventura de Sousa e AVRITZER, Leonardo. In: Para ampliar o cânone democrático, 2005. SANTOS, Maria Helena de Castro. Governabilidade, Governança e Democracia: Criação de Capacidade Governativa e Relações Executivo-Legislativo no Brasil Pós-Constituinte. Scielo Brasil, RJ, 1997. TEIXEIRA, Ana Cláudia. Até onde vai a participação cidadã?. Ed. Le Monde BR, fev/08. http://www.mma.gov.br/ http://www.sema.rs.gov.br/ Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano Muito Obrigada! LARA REGITZ MONTENEGRO Gerência de Apoio ao Sistema Departamento de Recursos Hídricos (SRHU/MMA) [email protected] Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano