UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FAILDE SOARES FERREIRA DE MENDONÇA A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR E A CONTRIBUIÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS: um olhar do Ministério Público Estadual SÃO PAULO/SP 2013/0 FAILDE SOARES FERREIRA DE MENDONÇA A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR E A CONTRIBUIÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS: um olhar do Ministério Público Estadual Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Jair Militão da Silva SÃO PAULO/SP 2013/01 FAILDE SOARES FERREIRA DE MENDONÇA A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR E A CONTRIBUIÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS: um olhar do Ministério Público Estadual Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: Educação – Políticas Públicas. Orientador: Prof. Dr. Jair Militão da Silva Data da defesa:_________________________________ Resultado:_____________________________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr.___________________________________________________________________ Instituição_________________________________Assinatura________________________ Prof. Dr.___________________________________________________________________ Instituição_________________________________Assinatura________________________ Prof. Dr.___________________________________________________________________ Instituição_________________________________Assinatura________________________ Dedico este trabalho a minha família. Aos meus amados pais, João e Nice (tudo começou com eles), ao meu esposo, José Roberto, e filhos, Nathalie, Nathércio, Northon e Roberto Fleury, pelo apoio e compreensão em face dos momentos de família, de lazer e de atenção suprimidos durante a confecção desta dissertação. AGRADECIMENTOS A Deus, a chama que alimenta minha existência, luz a iluminar minha trajetória e o responsável pela força interior que dá a coragem que me impulsiona. Ao meu orientador, professor Dr. Jair Militão da Silva, que sempre se mostrou atencioso, direcionando a produção desta pesquisa de maneira pertinente e aos demais professores da Unicid, que saíram de sua zona de conforto e se deslocando até Maceió para ministrar seminários e disciplinas do nosso currículo. A professora Edileine Machado, que esteve sempre presente, nos apoiando e iluminando, nos presenteando com sua disponibilidade. À Fejal, instituição estudada, que disponibilizou, de modo irrestrito, as informações para esta pesquisa através seus servidores e professores. À administração superior do Ministério Público Estadual/AL, que apoiou irrestritamente esta tarefa. Aos estagiários João Victor Acioly, Tiago Leite Lamounier e as estagiárias Pollyana Ribeiro e Amanda Amorim, anjos sempre presentes em minha vida. À Kícia Oliveira Cabral de Vasconcelos, minha companheira de Promotoria, sempre presente em minha trajetória. À Eliane dos Santos (Liu): minha colaboradora de casa que cuida de tudo para que eu possa satisfazer minha inquietação mental e cumprir os compromissos da labuta diária. SUMÁRIO RESUMO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1. PESSOAS NATURAIS, PESSOAS JURÍDICAS E FUNDAÇÕES 1.1 Pessoas Naturais 1.2 Pessoa Jurídica 1.3 Fundações 1.4 Fundações de Apoio 2. O Velamento das Fundações Privadas pelo Ministério Público 3. Ministério Público 4. Evolução do Ministério Público de Alagoas na Área de Fundações e Demais Entidades de Interesse Público CAPÍTULO II 1. A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR, AS REFORMAS DO ESTADO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A CRIAÇÃO DA UFAL 1.1 O Surgimento do Ensino Superior em Alagoas e a Criação da UFAL 1.2 Faculdade Livre de Direito 1.3 Faculdade de Medicina de Alagoas 1.4 Faculdade de Filosofia de Alagoas 1.5 Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas 1.6 Faculdade de Engenharia 1.7 Faculdade de Odontologia, de Alagoas e de Maceió 1.8 A Universidade Federal de Alagoas CAPÍTULO III 1. A FEJAL/ CESMAC 1.1 A Ideia da Criação das Faculdades 1.2 A Adesão da Prefeitura de Maceió, do Governo do Estado, da Câmara de Vereadores e de Outras Autoridades da Política, da Educação e da Sociedade 1.2.1 A Criação das Unidades de Ensino 1.2.2 As Dificuldades no Âmbito do Governo Federal 1.2.3 O Cumprimento das Exigências do Parecer do Conselho Federal de Educação de nº 2.377/74 1.3 Nasce a Fundação Educacional Jayme de Altavila 1.3.1 Os Primeiros Diretores e Conselheiros 1.3.2 A autorização para o Funcionamento dos Estabelecimentos de Ensino 1.3.3 A Instalação da Fundação Educacional Jayme de Altavila 1.3.3.1 Nasce o Cesmac 1.4 Quem Foram os Precursores do Ensino Superior Fundacional 1.4.1 Instituidores da Fundação Educacional Jayme de Atavila − Fejal/Cesmac 1.4.1.1 Padre Teófanes Augusto De Barros - Padre Teófanes 1.4.1.2 Município de Maceió: Prefeito João Rodrigues Sampaio Filho 1.5 A Participação da Fejal na Expansão do Ensino Superior em Alagoas nos Últimos Cinco Anos CAPÍTULO IV 1. O ESTADO DE ALAGOAS E A CIDADE DE MACEIÓ 1.1 Alagoas 1.2 Maceió 1.2.1 A Origem da Cidade 08 10 23 23 23 24 25 29 31 34 37 44 44 50 52 53 54 55 56 57 58 68 68 69 69 69 74 76 77 80 81 85 85 88 89 89 95 99 143 143 143 150 150 1.2.2 O Nome de Maceió CONCLUSÃO REFERÊNCIAS ANEXOS 153 154 159 165 RESUMO MENDONÇA, F. S. F de. A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR E A CONTRIBUIÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS: um olhar do Ministério Público Estadual. 2013. 165p. Dissertação – Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. São Paulo. O presente trabalho se propõe a estudar a contribuição das fundações privadas para o ensino superior, tomando como contexto o estado de Alagoas e como caso a Fundação Educacional Jayme de Altavila – Fejal/Cesmac, primeira e maior instituição privada de Maceió. Descreve sua criação e desenvolvimento, ofertas de vagas, sua importância na democratização do ensino, através de funcionamento, inicialmente, exclusivamente noturno, quando nenhuma outra instituição de ensino, possuía cursos destinados a trabalhadores. O tema traz para o ambiente educacional conceitos próprios da área jurídica que precisavam ser descortinados no âmbito da educação, a exemplo de pessoa jurídica, fundações e seus regimes jurídicos, públicos e privados, quem é o Ministério Público e como atua enquanto velador das fundações privadas. A metodologia consiste em pesquisa bibliográfica, realizada em obras clássicas e contemporâneas, e em levantamentos e pesquisas em documentos públicos e da fundação estudada. O estudo evidencia a relevante contribuição das fundações privadas para o contexto educacional de Alagoas, indo além da hipótese. Constata-se ser a criação dessas instituições privadas uma importante estratégia da sociedade para prover suas necessidades de forma direta, como também um dispositivo do planejamento macro do governo federal. Observa-se que a sociedade é levada a promover tais iniciativas de forma direta, ou mediante incentivos autorizados pela própria Constituição e leis infraconstitucionais, constituindo as ações dessas entidades sem fins lucrativos parte das políticas públicas de educação. Palavras-chave: Políticas Públicas em Educação; Expansão do Ensino Superior; Democratização do Ensino Superior; Fundações Privadas; Ministério Público; Ensino Superior em Alagoas. ABSTRACT MENDONCA, F. S. F of. THE EXPANSION OF HIGHER EDUCATION AND THE CONTRIBUTION OF PRIVATE FUNDAÇÕES: a look at the State Public Ministry. 2013. 165p. Thesis - Faculty of Education, University of São Paulo, São Paulo. The work presents proposes to study the contribution of private foundations for higher education, taking as its context the State of Alagoas and how should the Educational Foundation of Jayme Altavila - FEJAL / Cesmac first and largest private institution of Maceió, describing its creation and development, job offers, its importance in the democratization of education, through operation, initially exclusively nocturnal, when no other educational institution, owned courses for workers. The theme brought to the educational environment of the legal concepts themselves that needed descortinados in education, as it is a legal entity, legal frameworks and foundations, public and private, who is acting as prosecutor and as a stand foundations private. The methodology consisted of literature held in classic and contemporary and in surveys and research in public documents and studied the foundation. The study demonstrated a significant contribution of private foundations for the educational context of Alagoas, going beyond the hypothesis, noting the creation of these institutions is an important strategy of the private company to provide for their needs directly, but also currently part of a planning macro federal government, executed with inductive method or explicitly, where the company is taken to promote such offerings directly, by the very absence of such offers or through direction and incentives, authorized by the constitution and Laws infra, the shares constituting such nonprofits, part of the public education policies. Keywords: Public Policy in Education; Expansion of Higher Education; Democratization of Higher Education, Private Foundations, Public Ministry, Higher Education in Alagoas. 10 INTRODUÇÃO Esta pesquisa trata de políticas públicas educacionais desenvolvidas através das entidades privadas sem fins lucrativos, em especial as fundações educacionais, e tem como objetivo evidenciar a contribuição dessas pessoas jurídicas para a expansão do ensino superior, sob a ótica do Ministério Público Estadual. Estuda-se, como caso, a Fejal − Fundação Educacional Jayme de Altavila, seu Centro Universitário Cesmac e suas faculdades. Esta foi a primeira instituição desse tipo implantada no estado de Alagoas, e que pela sua abrangência, tamanho e importância, constitui amostra representativa, especialmente em face das características do Estado, o segundo menor do País, maior apenas que Sergipe, com índices sociais historicamente muito baixos e fraca performance econômica. A investigação consistiu em pesquisa bibliográfica realizada em obras clássicas e contemporâneas, visando esclarecer a temática estudada. Além disso, realizou-se levantamento documental e análise de documentos e informações da fundação estudada, e de legislação, de modo a conferir suporte à solução do problema proposto. O universo empírico desta investigação é o município de Maceió, e os de Palmeira dos Índios e Arapiraca. Possui a Fejal, nestes últimos, pequena participação. Em sua nova condição de centro universitário, de acordo com as regras do MEC, distribui suas atividades em Maceió, como Centro Universitário Cesmac, em Arapiraca, como Faculdade Cesmac do Agreste, e em Palmeira dos Índios, como Faculdade Cesmac do Sertão. Analisamse, a partir de 2012, de forma separada as suas ações, considerando-se como uma única instituição cada estabelecimento/representação. Coincide a efetivação dessa individualização com a migração da Entidade (Fundação) para a fiscalização do MEC, saindo do âmbito de controle do Conselho Estadual de Educação, por determinação do Órgão Federal. Levando-se em conta o volume dos dados existentes na fundação em face do seu porte, delimitou-se como área de estudo os últimos cinco anos, apresentando suas ofertas de vagas, suas atividades, sua empregabilidade, sua caracterização. A hipótese deste estudo parte da premissa de que as ações realizadas pelas fundações privadas de ensino superior, estudando como caso a Fundação Educacional Jayme de Altavila (maior instituição privada do estado de Alagoas), contribuem para a expansão do ensino superior em Alagoas. Isso se deve ao número crescente de vagas disponibilizadas, 11 contribuindo também, do mesmo modo que a Universidade Federal de Alagoas − Ufal (maior instituição de ensino superior pública) para o desenvolvimento socioeconômico do Estado. Some-se a isso o fato de que as reformas administrativas têm determinado um redesenho do conceito do papel do Estado e da sociedade na contemporaneidade, direcionando a participação desta última no desenvolvimento de políticas públicas como a de educação, destinando para tais entidades sem fins econômicos um relevante papel. Inicialmente, inexistia motivação pessoal para o estudo; no entanto, se descortinou a tomada de consciência, inédita para esta pesquisadora, quanto à formação do poder no País desde a colonização, e da influência do poder econômico local na educação. As descobertas proporcionadas pela pesquisa, sobretudo no tocante à história de Alagoas, sob a perspectiva da educação, culminaram num esclarecimento enriquecedor. No âmbito acadêmico, a discussão do tema é relevante por trazer conceitos e esclarecimentos próprios da área jurídica, utilizados no contexto educacional, enriquecendo o debate e fomentando estudos nesse campo, bem assim no que se refere às relações entre as esferas pública e privada, analisadas na perspectiva do Ministério Público Estadual. No aspecto profissional e social, constata-se de relevo a pesquisa, já que a autora do estudo é uma das promotoras de justiça da Promotoria de Justiça de Fundações, do Ministério Público do Estado de Alagoas, a quem se sujeitam as fundações do município de Maceió, inclusive da Entidade estudada. Esta dissertação resulta num aprofundamento do conhecimento dessa Fundação, do seu trabalho e de sua importância social, ressaltando-se que isso implica uma avaliação da participação do Ministério Público na área educacional, no ensino superior de Alagoas, como defensor de direitos sociais. O tema direitos sociais ganhou especial relevância para o promotor de justiça quando do surgimento da atual Constituição Federal. Graduada em direito pela Universidade Federal de Alagoas, esta pesquisadora foi nomeada promotora de justiça em 1986, com formação profissional basicamente para a área penal, atuando em casos pontuais como fiscal da lei. A nova Carta Magna de 1988 contemplou o Ministério Público com funções inéditas, incumbindo-lhe, além das funções já exercidas, a defesa dos interesses sociais1, zelar 1 Art. 127 da CF. 12 pelos serviços de relevância pública e pelos direitos assegurados na Constituição Federal 2, promovendo as medidas necessárias à sua garantia. Ou seja, os direitos sociais à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados 3. Além das funções de protetor do patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos, enfim, daqueles direitos e interesses4 que atualmente estão sendo garantidos não só pelo poder público, mas especialmente por entidades privadas sem fins lucrativos − entidades beneficentes e de assistência social. Isso acaba por delinear um novo perfil que hoje se constata do Ministério Público. As novas demandas afetaram mais fortemente esta pesquisadora em 1998, quando a Procuradoria-Geral de Justiça resolveu instituir uma comissão de promotores para implantar um núcleo de sua assessoria na área de fundações e demais entidades de interesses sociais, sendo uma das designadas para a tarefa. Desse trabalho resultou a atual Promotoria de Justiça Coletiva Especializada de Fundações, com atribuições também de fiscalização das demais entidades de interesse social. O desempenho de tal incumbência exigia um preparo não só teórico, mas também humanizado, já que doravante tratava-se de desenvolver ações diretas com o cidadão, a defender e operar direitos sociais. Diferenciava-se, e muito, da função anterior, de promotora criminal, que em defesa da sociedade, requeria atuação enérgica em desfavor de criminosos ou bandidos. Não que não atue o Ministério Público com vigor em desfavor de maus gestores, de cidadãos que fazem uso indevido de recursos sociais ou públicos. Quando há necessidade, o promotor da área de fundações também age de modo a promover a destituição e responsabilização de administradores ímprobos ou ruinosos, para que a entidade continue a executar suas atividades na forma estabelecida em seu estatuto, já que o velar inclui o fiscalizar. A área de competência da Promotoria de Fundações é a da capital de Alagoas, Maceió. Desde então, mergulhou esta pesquisadora no mundo das entidades privadas de serviços e defesa de direitos sociais, no âmbito local e em movimento ministerial fundacional 2 3 4 Art. 129, II, da CF. Art. 6º da CF. Art. 204, Ida CF. 13 nacional, acompanhando no dia a dia suas atividades, muitas delas decisivas na vida dos alagoanos, como é o caso da entidade de ensino superior ora estudada. Planejou-se inicialmente que as fundações privadas de ensino superior seriam o objeto de estudo, entretanto, no processo de amadurecimento, havia a dúvida quanto a sua perspectiva: se sob a do velamento pelo Ministério Público ou se da contribuição destas entidades. Decidiu-se discutir a contribuição das fundações educacionais para o ensino superior em Alagoas, dentro do contexto de expansão. A autora deste estudo desejava pesquisar as três fundações que ofertam cursos de graduação e pós-graduação em Maceió: duas delas com atuação também no interior de Alagoas e uma fundação de apoio à instituição federal de ensino superior, dada a crucial importância desse tipo de entidade para o ensino superior. Quando da coleta do material para a pesquisa ficou clara a impossibilidade de, em um trabalho de mestrado, compilar-se tal volume de dados, de até fácil acessibilidade, visto que muitos desses dados se acham arquivados na Promotoria, em razão da própria função desta pesquisadora, ou podem ser solicitados às fundações. Resolveu-se por estudar a mais antiga e maior fundação de ensino superior privado de Alagoas, uma vez que constitui uma amostra representativa. A expansão do ensino superior tem sido tema das pautas de discussões de instituições como universidades − em especial as federais −, sindicato de professores, instituições de ensino superior e eventos da sociedade civil. O característico deste trabalho é discutir essa expansão como resultado da participação, de forma complementar, de entidades educacionais privadas, instituídas a partir da responsabilidade social de pessoas que ao longo da história vislumbraram um futuro promissor para sua comunidade através do ensino. A doutrina tem dado diferentes significados para os termos ensino e educação, porém ambos são utilizados neste trabalho em referência à educação escolar, de acordo com a literatura citada. Menezes (2010) esclarece a diferença entre os termos ensino e educação. Invocando a LDB, diz ser a educação um termo amplo que abrange todas as formas de aprendizado adquirido na convivência em sociedade durante a existência do indivíduo, seja de forma intencional ou não, formal ou informal, sistemática ou assistemática, num sentido amplo, de natureza social e cultural (p. 37): 14 A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (Lei Federal nº 9.394/1996, art. 1º). A mesma lei, no inciso 1º do art. 1º, diz: “Esta lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias”, Define assim, segundo o autor, o ensino como aquela educação intencional, ofertada de modo formal, sistemático e com programas de conteúdos curriculares pelas instituições. Assevera ainda o mencionado artigo, no inciso 2º, que este deverá estar associado ao mundo do trabalho e à prática social. Diversos estudos dão conta de que a expansão do ensino superior no Brasil se deu com o surgimento e a disseminação dos estabelecimentos de ensino privado. Discute-se então a privatização, seja sob a perspectiva de seu aspecto mercantilizador, seja sob o da qualidade do ensino ofertado pelas entidades privadas e o seu controle pela administração pública. Quase sempre, traça-se um comparativo entre a filosofia do ensino ofertado pelas universidades públicas e a ofertada pelas instituições de ensino superior privadas. Sustenta-se que estas últimas não atendem plenamente aos comandos constitucionais de ensino, aliados a pesquisa e extensão, finalidades inarredáveis das universidades públicas e direcionamento constitucional para o ensino superior. O ensino privado hoje é ofertado pelas empresas privadas (com fins econômicos) e pelas entidades de interesse social (fundações e associações sem fins econômicos). Este estudo destaca as fundações. Fundação é um tipo especial de pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos. Pessoa jurídica explica-se como uma ficção legal. Do mesmo modo que a lei, para possibilitar a convivência em sociedade, criou no mundo jurídico o conceito de pessoa natural ou física, que é o sujeito de direito, capaz de reivindicar direitos e contrair obrigações, o fez para que a conjugação de esforços comuns a várias pessoas ou um determinado volume de patrimônio possa ser utilizado em favor de determinados objetivos. Isso não seria possível a uma única pessoa física, seja pela efemeridade de sua vida, pela escassez de recursos ou por 15 outros obstáculos. Atribui-se a esse conjunto de pessoas ou bens personalidade jurídica. Esclarece Venosa (2005): Daí decorre a atribuição de capacidade jurídica aos entes abstratos assim constituídos, gerados pela vontade e necessidade do homem. As pessoas jurídicas surgem, portanto, ora como conjunto de pessoas, ora como destinação patrimonial, com aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. […] A necessidade ou premência de conjugar esforços é tão inerente ao homem como a própria necessidade de viver em sociedade. É por meio da pessoa jurídica que o homem sobrepuja suas limitações e transcende a brevidade de sua vida. Há sempre, na vontade do ser humano, ao constituir uma pessoa jurídica, um sentido de perenidade que, como ser mortal, não pode atingir. Essas pessoas jurídicas independem do patrimônio de seus integrantes ou dirigentes, sendo tão só representadas por eles, desenvolvendo finalidades próprias de sua existência, aquelas estabelecidas em seu ato constitutivo, e auferindo os resultados de suas atividades, que vêm a constituir patrimônio próprio a responder por suas obrigações. Fundações e associações são exemplos dessas pessoas. As associações se caracterizam pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos (Código Civil)5. Essas podem não possuir patrimônio, sendo seus interesses estabelecidos exclusivamente pelos associados, que deliberam livremente sobre sua destinação, podendo alterar suas finalidades. Já as fundações são um acervo de bens destinados a um fim determinado, de interesse coletivo, podendo ser constituídas por pessoa física ou jurídica. No ato de sua criação estabelecem-se suas finalidades, que são imutáveis6 (VENOSA − in PANTALEÃO (org.) − 2003). Discutir a participação das fundações privadas mediante a análise das políticas públicas e práticas na área da educação superior não é tarefa fácil. Essa dificuldade se instaura, sobretudo, diante da diversidade de concepções acerca do papel do Estado, analisado a partir da colonização brasileira até o tempo presente, e das mutações que têm permeado as funções e relações entre ele e a sociedade. 5 6 Art. 53 do Código Civil. Art. 62 do Código Civil. 16 A história da educação no Brasil está ligada à da dominação política. A partir da burocratização da Colônia, o País participa da produção e reprodução de uma ideologia burguesa; nesta, os bons, os proprietários de terra, os considerados cidadãos, mereciam educação e letramento, numa inversão de valores em que diferenças sociais equivaliam a diferenças de capacidade (Almeida, 2012). A escolarização em massa veio a ocorrer com a chegada da industrialização, para atender às necessidades do País de formação de mão de obra para o novo modelo econômico industrial, que substituiria o agroexportador, num momento histórico em que as forças econômicas se revezavam no poder presidencial. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasileiro, de 1995 (BRASIL, 1995), implementado pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, na parte introdutória esclarece alguns conceitos que, somados a outros, serão valiosos para definir o papel que desempenham as entidades sem fins lucrativos, do tipo fundação, no contexto das políticas públicas. É do nosso interesse as de educação, tendo em vista que as que se criaram, ou as que já existiam antes das reformas de Estado e de aparelho de Estado ocorridas neste País, cumprem destino deliberado pelo governo federal, estando incluídas em suas políticas. Desenvolvem atividades de interesse social, que constituem direitos sociais previstos na Constituição Federal7. Diz o plano: Entende-se por aparelho de Estado a administração publica em sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três poderes (União, Estados-membros e Municípios). O aparelho do Estado é constituído pelo Governo, isto é, pela cúpula dirigente nos Três Poderes, por um corpo de funcionários, e pela força militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, porque compreende adicionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a população nos limites de um território. [...] [...] A Reforma do Estado é um projeto amplo que diz respeito às várias áreas do governo e, ainda, ao conjunto da sociedade brasileira, enquanto a reforma do aparelho do Estado tem um escopo mais restrito: está orientada para tornar a administração publica mais eficiente e mais voltada para a cidadania. Este Plano Diretor focaliza sua atenção na administração publica federal, mas muitas de suas diretrizes e propostas podem também ser aplicadas no nível estadual e municipal. Diz ainda o texto: “A Reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da redefinição do papel do estado [...]”. Mas qual seria essa redefinição? Esclarece: “[...] 7 Constituição Federal de 1988, art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 17 reduzir o seu papel de executor ou prestador direto de serviços, mantendo-se, entretanto, no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento [...]”. A Reforma do Aparelho do Estado de 1995 tem sido viabilizada através de decretos-leis, leis e medidas provisórias da própria Constituição Federal, de emendas constitucionais, e vem inserindo no cenário da execução das ações próprias de governo, entidades privadas com e sem fins lucrativos. Ambas, cobram por produtos e serviços. As reformas anteriores realizadas pelos governos já eram encaradas com forte resistência pela academia. Silva Jr. e Sguissardi (2004) analisam a história do ensino superior no Brasil, pós-reforma universitária de 1968, como algo planejado, com o objetivo de manter o modelo militar antidemocrático. Dizem ainda os autores que o capitalismo que se implantava no País requeria a ampliação do acesso ao ensino superior para atender às demandas econômicas e sociais, e que a implantação do projeto de expansão universitária foi útil ao regime militar, pois o discurso da valorização da educação quebrou resistências. Por outro lado, essa estratégia deparava-se com a escassez de financiamento, já que os recursos eram canalizados para o favorecimento do capital, restando como alternativa o fomento do setor privado de ensino. A reforma universitária de 1968 servia ao modelo econômico capitalista então vigente e possibilitou, com a inclusão no mercado de trabalho, carente de mão de obra, a ascensão social da classe média, acelerando o ensino superior durante a década de setenta, com prevalência da iniciativa privada através de faculdades isoladas. Ainda segundo os autores, o ensino superior tornou-se uma relevante estratégia de reprodução e ampliação da classe média, considerável mercado consumidor do modelo de desenvolvimento econômico, associado ao capital internacional, e fonte de legitimidade do “regime militar-autoritário” (Silva Jr. e Sguissardi, 2004, p. 178). Os historiadores mencionam que a partir desse período (década de 70) a esfera privada de ensino superior estruturou-se, com a proliferação de empresas educacionais também nas esferas do primeiro e segundo graus. “Associações e entidades da sociedade civil reorganizaram seus objetivos sustentadas nessa base material de acumulação e expansão de capital para montagem da estrutura desse novo empreendimento”. Organizaram-se, 18 expandiram-se e protagonizaram as políticas e legislações educacionais no País. Concluem: “Por essas razões, este ramo empresarial continua organizado e sólido, tanto na economia como na política brasileira” (Silva Jr. e Sguissardi, 2004, p. 180). Esta pesquisadora observa que esse relato histórico, configurado no entendimento dos autores mencionados, pautado por muitos anos de estudos, carrega consigo alguns conceitos equivocados, especialmente quando colocam no mesmo patamar, de ramo empresarial, as entidades sem fins lucrativos, que embora privadas, não são empresariais como o são as iniciativas educacionais particulares. Essa discussão é travada neste trabalho, bem assim as consequências da implementação do ensino superior privado, o que resultou no desenvolvimento do atual modelo educacional do País. As fundações não possuem fins econômicos, no sentido de que não distribuem resultados, conforme será ressaltado no capitulo I deste estudo, e seu patrimônio é patrimônio social ou, em outras palavras, patrimônio público não estatal. O resultado das empresas é lucro. É propriedade privada, mas também particular, de famílias, de pessoas. Extinta uma fundação, seu patrimônio remanescente irá para outra entidade congênere de igual finalidade, servindo o seu fundo patrimonial à causa de seus objetivos estatutários. Das leituras e da rotina da pesquisadora com as entidades sem fins lucrativos em geral, reputa-se extremamente importante a constatação de que a expansão do ensino privado foi proporcional à crescente desobrigação do Estado com este segmento. Isso proporcionou a restrição de vagas ofertadas e um considerável número do excedente de alunos prontos para o ingresso no terceiro grau. O Relatório do Dr. Rudolf Atcon, de setembro de 1995, mencionado por Silva Jr. e Sguissard (2004, p. 186), revela haver, no início da década de 60, trinta mil excluídos das vagas das universidades; e no final dessa década, cento e sessenta mil. Silva (2011) festeja, no artigo “Caminhos para a Democratização do Acesso, Permanência e Aprendizagem na Universidade”, o acesso de novas camadas da sociedade ao ensino superior. Reconhece que esse ingresso, em grande parte, ocorre à custa de grande sacrifício pessoal, referindo-se aos custos para a formação e questionando a qualidade da expansão. Argumenta em seu texto: 19 Por outro lado, a história registra um persistente traço cultural no ensino superior brasileiro que pode ser denominado como elitismo. Esse elitismo se expressa em uma visão aristocrática da realidade, ou seja, na afirmação de que o governo social deva ser exercido pelos aristós, isto é, pelos bons. O que distingue os bons dos não bons varia em cada sociedade e em uma mesma sociedade em cada época histórica. Ora os bons podem ser os proprietários de terra, ora os endinheirados, ora os pertencentes a uma mesma dinastia etc. O poder, como se sabe, é exercido sob a justificativa de que a forma adotada é a melhor para a sociedade (Silva, 2011, p. 39). Continua Silva (2011) o seu raciocínio: a cultura que propaga valores democráticos leva à ideia de igualdade de oportunidades, ou seja, de que “todos partem de um mesmo ponto e chegam a lugares diferentes conforme o mérito”. Isso não coincide com a verdade. Refere que todos podem, a partir da conclusão de um curso superior, a depender de alguns fatores, como a faculdade cursada, o tempo dedicado ao estudo, a bagagem cultural preexistente, chegar a situações diferentes. Em nossa sociedade brasileira a educação tem sido a justificativa para o tornar-se bom e, portanto, apto para o sucesso em todos os campos sociais. Se bem que essa justificativa contenha muito de verdade, ela não expressa toda a verdade, como já se disse anteriormente quanto ao mascaramento da pretensa igualdade do ponto de partida. Isto nos leva a refletir se as novas camadas sociais ao entrarem no ensino superior estão adquirindo a condição de igualdade suficiente para disputar com as tradicionais camadas já instaladas no comando da sociedade ou apenas estão vivenciando e mesmo justificando uma situação de desigualdade social (Silva, 2011, p. 40). Esses importantes questionamentos do autor proporcionam a discussão neste trabalho não só do quanto a oferta privada de ensino mascara a desigualdade, mas também sobre a desigualdade decorrente da forma histórica de o Governo Federal encarar o ensino em geral (tanto o ensino universitário, quanto o pré-universitário). Cabe a pergunta: a quem interessa o ensino fundamental e médio privado de boa qualidade? Esse fato é pouco questionado pelas elites educacionais, culturais e financeiras. E a quem interessa o insistente discurso de ensino universitário privado de má qualidade, quando o responsável pela qualidade desse ensino também é o Governo Federal, criador das universidades públicas, de propalada excelência, avaliado a partir de seus próprios critérios? Em Alagoas, até a década de 30 o acesso à educação superior restringia-se aos jovens economicamente privilegiados, de famílias que podiam mantê-los em cursos fora do Estado, pois, até então, o ensino superior existia em apenas algumas poucas cidades e estados brasileiros (MACEIÓ – 1995, p. 289). 20 Considerará este estudo, para a solução do problema proposto, sob a perspectiva sociológica, as características da formação do Estado, dando especial ênfase à colonização e à exploração econômica da cultura açucareira, de onde procedeu preponderantemente a formação do poder político local e parte da atual estrutura educacional. Alagoanos comprometidos e alguns graduados e estudantes de fora do Estado reuniram-se, e numa demonstração de solidariedade, criaram diversas faculdades privadas. Posteriormente, diante das dificuldades de financiamento e devido ao grande movimento popular, das instituições e poderes públicos, veio a ser criada − em 26 de fevereiro de 1961 − a Universidade Federal de Alagoas (ITB – 1995, p. 289). Esta, em pouco tempo, tornou-se insuficiente para a demanda, surgindo pressões por mais vagas, ocorrendo uma posterior expansão dessas vagas através de oferta privada. A primeira fundação privada de Maceió, Fundação Educacional Jayme de Altavila – Fejal, objeto deste estudo, teve concluído seu processo de constituição em 1974. Denominada Centro de Estudos Superiores de Maceió – Cesmac, tinha como principal objetivo viabilizar o acesso à educação superior, em cursos noturnos, para adultos maceioenses que trabalhavam durante o dia, com fundamento verdadeiramente democratizante do ensino superior, o que nunca havia sido pensado anteriormente. No decurso do tempo, em decorrência da própria demanda, mudou visivelmente o seu perfil, recepcionando também o contingente excedente da Universidade Federal de Alagoas − Ufal e da Universidade Estadual da Saúde – Uncisal. Estende atualmente, a Fejal, suas atividades para as cidades alagoanas de Arapiraca e Palmeira dos Índios, constituindo-se na maior instituição de ensino privado do Estado. O Plano Estadual de Educação de Alagoas (2006/2015), no tocante à educação superior, ao considerar o desenvolvimento científico e tecnológico crescente, o aumento das exigências do mundo produtivo, as políticas de expansão e melhorias da educação básica, constata que a oferta se encontrava, então, bastante reprimida. Invocando o Plano Nacional de Educação, o estadual afirma que “nenhum país pode aspirar a ser desenvolvido e independente sem um forte sistema de educação superior”. Cabe às instituições de ensino superior de pesquisa buscar soluções para os problemas atuais e, primordialmente, a formação de profissionais do magistério, de quadros profissionais, científicos e culturais de nível superior. 21 O Estado de Alagoas revela neste documento o esforço para atender às exigências por escolarização, com a crescente oferta de ensino médio, visando, sobretudo, o público oriundo das camadas mais carentes da população, dando relevo ao ensino por ele ofertado, o pré-universitário, e destacando a defasagem entre este e o universitário: Frente a esses dados de incremento da educação pré-universitária, os limites do acesso à educação superior tornaram-se patentes quando se considera que, do contingente de 387.271 de adolescentes e jovens integrantes da população de 18 a 24 anos, em 2001, em todo o país, apenas 25.170 estavam matriculados neste nível de ensino, em Alagoas. Isso representa apenas 5,6% do contingente em idade de acesso regular no nível superior, contra uma taxa nacional média de 12%, já considerada baixa pelo PNE/2001 (PEE-AL 2005, p. 35). O incremento de oferta de vagas no ensino superior, constatou o Plano, deu-se de forma significativa no âmbito privado, e com concentração na capital, Maceió. Nesta, em 1999, nove instituições de ensino superior ofertavam 5.846 vagas, para 20.250 inscritos. Já em 2001, 14 instituições de ensino superior ofertavam 11.382 vagas, para 33.294 inscritos. Dessas, nove na capital e cinco no interior, sendo uma universidade federal e quatro estaduais, atuando uma na capital e três no interior; e particulares, oito, sendo seis na capital e duas no interior. O estudo divide-se em quatro capítulos, a saber: Capítulo I – Conceitos básicos. Os conceitos básicos proporcionarão o esclarecimento necessário para que o leitor compreenda o que é fundação, por que participam do contexto das políticas públicas no País e como se diferenciam das demais instituições privadas. Esclarece-se, também a razão de serem veladas pelo Ministério Público, o que é o velamento e quem é o Ministério Público, bem assim como se desenvolveu o seu núcleo fundacional no Brasil e em Alagoas; Capítulo II − A expansão do Ensino Superior, as reformas do Estado, a participação da sociedade civil nas políticas públicas e a criação da Ufal. Este capítulo traz um breve relato da educação no Brasil, o surgimento do ensino superior, as demandas sociais por esse grau de ensino, sua expansão e a evolução das ofertas públicas e privadas; Capítulo III – Estuda-se a Fundação Educacional Jayme de Altavila e seu Centro de Estudos Superiores de Maceió – Fejal/Cesmac, hoje Centro Universitário Cesmac, desde sua idealização até os dias de hoje. Além disso, o que ele representa para a cidade e para o Estado de Alagoas, a quantidade de vagas ofertadas, o volume de recursos, quanto há de patrimônio social e quanto emprega. Finalmente, no Capítulo IV, busca-se, a partir de um estudo das raízes do estado de Alagoas e do município 22 de Maceió, entender as dificuldades enfrentadas para a sua criação, suas lutas e desdobramentos. 23 CAPÍTULO I 1. PESSOAS NATURAIS, PESSOAS JURÍDICAS E FUNDAÇÕES Este trabalho trata das fundações privadas no contexto do ensino superior. Toma-se como parâmetro geral o estado de Alagoas, porquanto a atuação da Fundação estudada extrapola as fronteiras da capital, Maceió. Para tanto, é indispensável conhecer conceitos básicos da teoria geral de fundações e do seu velamento pelo Ministério Público, situando tais entidades num contexto mais amplo, de colonização de Alagoas e de reformas de Estado (Nação), com o objetivo de melhorar a compreensão do conteúdo desta pesquisa. O tema fundações é tratado no mundo do direito; consequentemente, sua conceituação e abordagem são feitas com um linguajar próprio das letras jurídicas. Porém, em razão de este trabalho destinar-se à área da educação, busca-se evitar ao máximo a formalidade dos conceitos, a fim de facilitar o entendimento do leitor. 1.1 Pessoas Naturais O Direito disciplina condutas, impondo-se como principio da vida social. […] Para que exista essa disciplina social, para que as condutas não tornem a convivência inviável, surge o conceito de norma jurídica. A norma é a expressão formal do direito, disciplinadora das condutas e enquadrada no direito (Venosa, 2005). As fundações são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos. Mas o que seriam pessoas jurídicas? Inicialmente vamos analisar o que diz a doutrina sobre as pessoas naturais, que somos nós, pessoas físicas, os seres humanos, segundo o conceito jurídico. Pontes de Miranda (1999, p. 209) explica que ser pessoa é ser sujeito de direito e que personalidade é a capacidade de ser titular de direitos, pretensões, ações e exceções, bem assim de ser sujeito passivo de deveres, obrigações, ações e exceções. Ou seja, capacidade de direito e personalidade se equivalem. 24 Tal conceito de personalidade civil, de ser pessoa, para o mundo jurídico, se acha estabelecido no artigo 1° do Código Civil Brasileiro: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”, vale dizer, todo aquele que é capaz de reivindicar direitos e contrair obrigações é pessoa. A lei ainda estabeleceu o marco da personalidade: “A personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (art. 2º do Código Civil). Assim, a lei resguarda também o direito daqueles que embora gerados, ainda não nasceram. A norma (lei) autorizou, para organizar o convívio em sociedade, as pessoas naturais ou físicas a contraírem, no mundo dos fatos, obrigações e cobrar direitos. Quando há interesse de tais fatos no mundo do direito, em que uma das partes é titular desse direito e a outra devedora da obrigação, surge uma relação jurídica, protegida pelo Estado por meio de sua força coercitiva. Reale (1975), na Exposição de Motivos do Código Civil, explica de forma resumida o espírito do capítulo dedicado aos direitos da personalidade: “[...] sua salvaguarda, sob múltiplos aspectos, desde a proteção dispensada ao nome e à imagem até o direito de se dispor do próprio corpo para fins científicos ou altruísticos”. Esclarece, portanto, os limites e direitos decorrentes de ser pessoa natural. 1.2. Pessoa Jurídica Indaga Rafael (1977, p. 47): “Só o homem, isoladamente, pode participar de uma relação jurídica, podendo ser sujeito ativo ou passivo dessa relação?”. A resposta é, obviamente, não. A vida, cada vez mais complexa, ensina Paes (2010, p. 57), impõe a conjugação de esforços de várias pessoas para a realização de alguns objetivos, tendo em vista que nem sempre as pessoas físicas acumulam forças ou recursos necessários à realização de determinadas ações desejadas para si ou para a sua comunidade. Para a realização de determinados objetivos pretendidos, que algumas vezes se sobrepõem à existência da pessoa natural ou física, a lei (norma) atribuiu a um grupo de indivíduos personalidade (associações, sociedades, igrejas, partidos políticos) ou a 25 patrimônios destinados a um fim (fundações). Vale dizer, capacidade jurídica, a exemplo das pessoas naturais, de ter direitos e contrair obrigações. Acham-se aí as pessoas jurídicas (Venosa, p. 51-52, in Pantaleão (org.), 2003). Pode assim uma organização, representada por diversas pessoas físicas, com objetivos comuns, constituir um ente coletivo e, independentemente das pessoas que o representam, responder por obrigações que foi autorizada a contrair, respondendo seu próprio patrimônio por elas, e não as pessoas físicas, no exercício regular de suas funções diretivas. Do mesmo modo, pode uma instituição que se criou a partir de um patrimônio, tornado pessoa pela lei, ou seja, personificado e administrado por órgãos − conselhos e diretoria −, desenvolver atividades de interesse público. Trata-se de uma ficção legal. O Código Civil não conceitua pessoa jurídica, entretanto, classifica-as a partir do art. 40 como sendo: de direito público, interno e externo, e de direito privado. Constituem então pessoas jurídicas de direito público interno: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, os Municípios, as autarquias e as demais entidades de caráter público criadas por lei. No sentido prático, isso significa que elas são tratadas no mundo jurídico sob a ótica do direito administrativo. São pessoas jurídicas de direito público externo os estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Finalmente, são pessoas jurídicas de direito privado, ou seja, regidas pelo direito civil, mais precisamente pelo Código Civil e demais leis dessa área cível, organizações religiosas, partidos políticos (incluídos no rol do art. 44 pela Lei 10.825/2003), associações, sociedades, e fundações. Obviamente que também as demais que a lei criar ou criou, sendo do nosso especial interesse estas últimas, as fundações, que não possuem finalidades lucrativas e são tratadas no diploma legal multimencionado (C.C.), nos artigos 62 e seguintes, e no Código de Processo Civil, nos artigos 1.199 a 1.204. 1.3. Fundações Diferentemente das associações, caracterizadas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos, as fundações de direito privado, segundo Alves (2005, p 70), sempre foram conceituadas como “uma universalidade de bens destinada a um fim 26 determinado, de interesse coletivo”. A destinação desses bens pode ser feita por pessoa física, ou por pessoa jurídica, e a essas pessoas o Código Civil denomina instituidor ou instituidores. O espírito de solidariedade do homem e o desejo de difusão de um pensamento têm sido mencionados por autores que abordam a teoria geral do direito das fundações como motivação para a origem do instituto. Diniz (2007, p. 42), que faz uma abordagem abrangente sobre o tema, diz que desde os primórdios verificam-se atitudes de desprendimento dos homens, que em determinado momento destacam bens de seu patrimônio pessoal para destiná-los às ações culturais ou filantrópicas. O autor encontra no mundo antigo, mais exatamente na sociedade grega, exemplo de “instituição precursora” das fundações, referindo-se a escola de Platão, fundada nos Jardins de Academos, a Academia. Uma sociedade informal, religiosa e científica. No Brasil, houve paulatinamente o disciplinamento das fundações através de leis esparsas, antes do Código Civil de 1916, possibilitando a formalização das ações de solidariedade, das fundações (de fato) já existentes. Foi noticiada pelo Promotor Rafael (1997, p. 68) como precursora, no Brasil, a “Fundação Romão de Matos Duarte”, de 1738. O instituidor (Romão de Matos), que emprestou seu nome à mencionada fundação, era solteiro e milionário, e decidiu destinar parte de seu patrimônio para a formação de um fundo dedicado ao tratamento digno, a proteção e o apoio a órfãos cariocas abandonados na “Roda”8 (fato citado também por Paes, 2010, p. 215). Tal fundo, administrado pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro como patrimônio separado, destinado ao objetivo mencionado, funcionava em sede própria, a Casa dos Expostos, e foi denominado pela mesa da Entidade9 “Fundação Romão de Matos”. Não constituía, entretanto, uma pessoa jurídica própria, por inexistir legislação aplicável no Brasil, mantendo em seu patrimônio os recursos destinados pelo instituidor. Após a criação deste primeiro fundo, outros testamentos foram feitos nas cidades de São Paulo, Santos e em diversos estados do Brasil onde existiam Santas Casas, destinando recursos para determinadas finalidades, mas não passaram de mero apêndice das legatárias 8 Roda − Era uma caixa giratória colocada na frente da Casa dos Expostos, administrada pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, para receber crianças recém-nascidas sem a identificação das mães, tendo o primeiro acolhimento ocorrido em 17.1.1738, três dias após a criação do fundo. 9 Uma espécie de conselho deliberativo ou assembleia geral, denominados seus membros de irmãos mesários. 27 (Grazioli, 2009, p. 39). Menciona ainda Paes (2010, p. 218) que figuram como primeiras fundações legalmente constituídas no Brasil a Fundação Pão dos Pobres de Santo Antônio, em Porto Alegre, constituída em 1867; O Abrigo Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, constituído em 1923; e a Fundação Getúlio Vargas, constituída em 1944, em São Paulo. Paes (2010) destaca o trabalho de recompilação legislativa de Carlos Augusto de Carvalho, em 1899, que menciona no art. 152, alínea “a”, dentre as pessoas jurídicas de direito privado: a) as fundações, estabelecimentos de utilidade pública ou de fins pios, religiosos, morais, científicos, artísticos, tais como casas de educação, asilo, hospitais, misericórdias, igrejas, capelas, ermidas, religiões, academias, universidades, escolas livres de ensino superior, colégios, seminários, liceus, montepios, montes de socorro, caixas econômicas, contanto que tenham patrimônio seu, sejam ou não subsidiado pelos cofres públicos; O Código Civil de 1916 estabeleceu, em seu artigo 24, a forma de instituição das fundações: através de escritura pública ou testamento, devendo o instituidor destinar dotação especial de bens livres, necessários ao desenvolvimento de suas finalidades, sendo essa formatação de criação, essência do instituto jurídico fundação, mantida pelo atual Código Civil (2002) no artigo 62. A escritura pública é documento elaborado por oficial público de cartório, obedecendo às formalidades exigidas por lei, forma mais comum de se instituir fundação. Já o testamento é o instrumento revogável (em vida) pelo qual a pessoa capaz pode dispor da totalidade de seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte (art. 1.857 do CCB). Os bens livres são aqueles sobre os quais não recaia nenhum ônus, aqueles legalmente disponíveis para doação ou ato de última vontade, que não causem prejuízos a credores ou sucessores, e quando constituírem bens do casal, deverá ser do interesse de ambos a dotação. A dotação não consiste numa mera doação compreendida no sentido do senso comum. Ziomkowski (1999, p. 11) explica juridicamente a diferença da seguinte forma: Consequentemente, o negócio jurídico criativo de Fundação materializado em escritura pública ou testamento é ato unilateral do instituidor, que não pode ser confundido com a doação, ato bilateral ou sinalagmático [do grego “sinalagma”, que quer dizer contrato com reciprocidade], em que uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita (Art. 1.165, do Código Civil). Alves (2005), Diniz (2007) e Paes (2010), citando outros grandes civilistas, 28 concordam que não há que se falar em doação, já que esta é contrato bilateral, ou seja, requer aceitação. E não tendo, quando da destinação do patrimônio da fundação, em formação pelo instituidor, sua personalidade jurídica constituída, não existe formalmente, pois não pode praticar a aceitação. Terá isso importância para a compreensão sobre fundações? Certamente. A dotação é a destinação de bens a determinadas finalidades indefinidamente. Tal conclusão decorre do art. 62 do Código Civil: “Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando os fins a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la”. Aquele patrimônio dotado, a lei determinou que fosse declarado a que fim deve servir e a este ele servirá enquanto existir. Espera-se que exista indefinidamente, tanto é assim que caso se extinga a fundação, os bens remanescentes irão para outra entidade de finalidades iguais ou semelhantes. Corrobora esse entendimento o contido no artigo 63 da Lei Civil mencionada: Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. Na prática, se instituída a fundação, através de testamento ou de escritura pública, sem a análise prévia de viabilidade por parte do Ministério Público, e a força do patrimônio não for capaz de mover as finalidades, perfazendo-se de modo a torná-la pessoa jurídica capaz de desenvolver os propósitos desejados pelo instituidor, os valores dotados devem ser destinados a outra entidade que possa cumprir o desejo de seu dotador. As fundações privadas são, como visto, patrimônio destinado por um ou mais instituidores, pessoa física ou jurídica, para atingir determinadas finalidades de utilidade pública, não envolvendo interesse econômico. São o próprio patrimônio, não se admitindo no Brasil a constituição desta pessoa jurídica sem patrimônio, a chamada fundação vazia. Isso as diferencia das associações, que se formam apenas pela vontade comum de um determinado grupo de pessoas e cuja formalização se dá através do registro da ata de criação e estatuto. É importante compreender como se constituem e administram e a quem beneficiam as fundações. Existe uma confusão muito grande do senso comum em face de ser sua natureza privada, sobretudo uma forte resistência quanto à transferência de recursos públicos para essas 29 entidades, especialmente no que se refere às fundações de direito privado, qualificadas como de apoio às instituições federais de ensino superior. Tal discussão será travada em tópico próprio. As fundações não têm fins lucrativos, mesmo quando desenvolvem atividades econômicas, porque o resultado de suas atividades, o que a doutrina chama superávit (ou lucro), não é distribuído entre diretores, conselheiros ou empregados, como é o caso de sociedades privadas com fins lucrativos. Estas têm seus resultados financeiros rateados entre os sócios, e em alguns casos, com participação dos empregados, fortalecendo grandes fortunas familiares. Os recursos das fundações são reinvestidos em suas finalidades, gerando um círculo constante de benefícios sociais, ou em seu patrimônio, que por sua vez constituem, respectivamente, interesse social e patrimônio social. Por isso, elas são veladas pelo Ministério Público. 1.4 Fundações de Apoio As conhecidas fundações de apoio a instituições federais de ensino superior são criadas como fundações privadas, através de escritura pública ou testamento − art. 62 do Código Civil − e são autorizadas pelo poder público – Ministério da Educação e Cultura e Ministério da Ciência e Tecnologia, em portaria conjunta, denominada interministerial. Destinam-se a apoiar (através de contratos e de convênios) instituições federais de ensino superior, e nos estados que possuem lei regulamentadora, suas respectivas secretarias autorizam apoio a instituições de ensino superior estaduais. Malheiros (2002, p. 114), em monografia, menciona que as primeiras fundações de apoio datam da década de 1930, resgatando a Escola Politécnica da Bahia – FEP, criada em 1932 e com o objetivo de apoio à Universidade Federal da Bahia − UFB, em Salvador, fato também citado por Bossard II (2011, p. 25). O Governo Federal, em reforma administrativa, com o objetivo de descentralizar as ações do Estado para dar maior efetividade e agilidade aos serviços públicos, criou as autarquias e fundações públicas, incluindo as universidades federais, no amparo jurídico das autarquias, estas criadas a partir de lei. 30 O Decreto-Lei 200, de 1967, art. 5º, inciso I, definiu autarquia nos termos transcritos abaixo, embora o primeiro conceito legal de autarquia tenha sido dado pelo Decreto-Lei nº 6.016, de 22 de novembro de 1943, art. 2º, como “o serviço estatal descentralizado, com personalidade de direito público, explícita ou implicitamente reconhecido por lei”. Serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada (Decreto-Lei 200/67). Entretanto, a burocracia do direito público prejudicava a fluência das atividades das universidades federais, impulsionando então a criação, através da Lei 8. 958, de 20 de dezembro de 1994, do artifício jurídico da utilização das fundações privadas, como apoiadoras das instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica. Assim, as universidades e demais entidades características podiam desenvolver suas atividades administrativas, educacionais, de pesquisa e extensão com o auxílio desse tipo de pessoa jurídica de natureza privada, o que não é possível às autarquias federais. Como visto, as fundações apoiadoras vieram em socorro do Governo Federal e das universidades, bem como de sua destinatária final, a sociedade, para o desenvolvimento do ensino superior no Brasil. Porém, após a Constituição de 1988 e a Lei 8.666, de 1993, ampliase o cerco contra os excessos e a improbidade no uso dos recursos públicos, disciplinando-se o trato de tais verbas. Observa-se, por ser de domínio público, grande resistência da academia ao repasse de valores referentes a pesquisa, tecnologia e inovação para essas entidades, sob o argumento de que elas impedem a autonomia das universidades públicas e que os recursos públicos estariam sendo usados sem as devidas concorrências. Inúmeros artigos de integrantes de sindicatos de docentes das instituições de ensino superior confirmam a resistência a essa parceria, injustificadamente, já que fazem exatamente aquilo a que se destinam. Explica-se: conferem a mobilidade necessária a recursos destinados a tecnologia, ciência e inovação, mobilidade impossível de se obter com a burocracia da administração pública. Tais entidades foram constituídas por professores universitários, com participação ou não das próprias autarquias (universidades) e de órgãos de classe, como comércio, agricultura e indústria, como é o caso da Fundepes, fundação que apoia a Universidade Federal de Alagoas. 31 A regulamentação da lei que reconhece e ordena a relação das instituições federais de ensino superior com as fundações de apoio veio em 14 de setembro de 2004, com o Decreto 5.205, que vigorou até dezembro de 2010, quando foi revogado pelo Decreto 7. 423. As fundações de apoio, por terem natureza jurídica de direito privado, também são veladas pelo Ministério Público Estadual. Seu patrimônio, assim como o das fundações que não apoiam instituições federais de ensino, constitui, do mesmo modo, patrimônio social. Lamentavelmente, as fundações de apoio estão cada dia mais descaracterizadas como fundações privadas. Os decretos que têm regulamentado a lei que disciplina a relação delas com as instituições federais de ensino superior, cada vez mais exercem ingerências das universidades neste tipo de pessoa jurídica. Trazem, por conseqüência, um número maior de integrantes dos conselhos dessas autarquias para dentro de seus órgãos internos, aceitando imposições de tribunais de contas e controladoria e da própria academia. Infelizmente, isso se dá sem que haja por parte do poder público, regulamentador e fiscalizador, o interesse de reconhecer, na história das fundações de apoio, sua importância para as instituições federais de ensino superior e para a sociedade brasileira. 2. O Velamento das Fundações Privadas Pelo Ministério Público O que representa o velamento das fundações privadas pelo Ministério Público? Qual seria o alcance do termo velar? O Código Civil Brasileiro, desde 1916, atribuiu aos Ministérios Públicos Estaduais a incumbência de velar pelas fundações dos estados (art. 66 do atual C.C.), já existindo anteriormente, na consolidação legislativa, datada do século XIX, a dita recompilação de Carlos de Carvalho. Em seu art. 156 constava a possibilidade de fiscalização, pelo Ministério Público, do patrimônio das fundações. Em Alagoas, a Lei nº 6.339, de 28 de novembro de 2002, criou a Promotoria de Justiça Coletiva Especializada de Fundações, com atribuições exclusivas. Já para o acompanhamento das demais entidades de interesse social, as Resoluções 001/99 e 01/2002 regulamentaram a atuação dos promotores nessa área. Para a compreensão da atuação do Ministério Público no velamento das fundações é indispensável analisar o alcance da expressão “velar”, a que se refere o Código Civil. O dicionarista Plácido e Silva, citado por Paes (2010, p. 573-574), explica em que consiste essa atribuição, fato que quando assimilado pode minimizar a tensão social quanto ao trato do 32 patrimônio dessas pessoas jurídicas: VELAR: Do latim “vigilare” (estar atento, estar vigilante), na terminologia jurídica é o verbo tomado na significação de vigiar, cuidar, zelar tomando interesse, ou assistindo coisas e pessoas, para que nada lhes falte, para que não pereçam, e cumpram o seu destino, como é para desejar e ser. Em relação às pessoas, velar não é simplesmente cuidar delas, mas lhes prestar assistência, orientar-lhes na vida, promover o bem-estar e provê-las do que necessitam. Em relação às coisas, não é somente cuidar de sua conservação, zelar para que se mantenham íntegras e de acordo com a lei, mas fiscalizar as suas atividades, quando a outrem se comete o encargo de administrá-las ou de dirigir os seus negócios. É assim que o velamento do Ministério Público às Fundações (CC, art. 26) não se reduz à assistência que lhes deve prestar, mas se estende à fiscalização permanente que sobre elas deve exercer. O artigo 26 do antigo Código Civil continha o mesmo teor do art. 66 do atual Código. O velamento pelo Ministério Público referido na lei conjuga fiscalização para preservação da fidelidade de atuação aos fins estabelecidos pelo instituidor, desde seu nascimento, durante sua vida e até a extinção, e se materializa na intervenção em todos os atos administrativos necessários. O professor Miguel Seabra Fagundes, mencionado por Paes (2004, p. 452-455), respondendo à consulta sobre interpretação do artigo 26 do Código Civil, referente ao âmbito de atuação do Ministério Público em defesa das fundações (RT 304/58-77), emite longo parecer, transcrito pelo autor quase que totalmente, ao qual se fará menção para que melhor se estabeleça a compreensão da competência do Órgão Ministerial, especialmente quando faz revisão bibliográfica de dicionaristas: Velar supõe a ação, e ação eficiente, velar é estar de vigília ou sentinela, é cuidar de alguma coisa ou situação (Laudelino). Velar é interessar-se grandemente, é proteger; é patrocinar, é vigiar, é estar alerta, é ter vigilância: está nessa notável obra de pesquisa que é o dicionário de verbos e regimes, de Francisco Fernandes. Aulete ainda é mais minucioso, e na minúcia, incisivo. Velar é estar de vigia, de guarda ou de sentinela: é patrocinar; é passar a noite junto da cama do doente para tratá-lo e cuidar dele; é estar em perene atividade; é conservar-se no constante exercício das suas funções; é interessar com vigilante zelo; é exercer vigilância; é concentrar ou exercer (alguém) a sua influência benéfica ou protetiva. Curiosamente, diz ainda Paes na obra mencionada: o art. 29 do Projeto da Câmara dos Deputados, que findou sendo o artigo 26 do Código Civil, não mencionava a frase velará pelas fundações. Usava a expressão: “As fundações ficarão sob a inspeção do Ministério Público do Estado onde estiverem situadas”. Em parecer sobre o Projeto da Câmara dos Deputados, Rui Barbosa substituiu a 33 referida expressão por: “Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas”, dando ao texto do Código de 1916 melhor forma e conteúdo amplo e incisivo. Sobre isso, diz Seabra Fagundes: (...) quando ele substituiu a ideia de inspeção pela de vigilância, escrevendo velar onde se dissera inspecionar, só poderá tê-lo feito para converter o órgão da defesa social em atuante fiscalizador da regularidade e lisura da vida das fundações. Em vez de deixá-lo, tão somente, como observador do que nestas ocorre, quando muito para depor perante terceiros, que a sinonímia de inspecionar exprime-se em examinar, observar, revistar, vistoriar. Diniz (2007, p. 321) cita outra parte do parecer de Seabra Fagundes, que trata do controle do Estado, através do Ministério Público: “o que interessa fixar é que as fundações, todas elas, porque manipulando patrimônio destinado ao serviço de terceiros, estão sob o controle estatal para a proteção dos interesses e direitos dos beneficiários”. O entendimento sobre essa atribuição ainda está transcrito em passagem de acórdão contido na Revista dos Tribunais (nº 288, p. 208), que trata da função do órgão do Ministério Público no acompanhamento e fiscalização de fundações, mencionada no livro de Paes (2010, p. 558): Clovis adverte que a fiscalização do estado junto às Fundações é, no sistema do Código, restrita e orientada no sentido do bem público. Consiste na aprovação dos estatutos e das suas reformas, em velar para que os bens não sejam malbaratados por administradores ruinosos, ou desviados dos destinos a que os aplicou o instituidor, e em verificar se a fundação pode se manter, ou se o seu patrimônio deve ser incorporado ao de outra, que se proponha a fins semelhantes [...]. Vale dizer, se o Ministério Público pode estar atento em função efetiva, física, eficiente, para que o meio (administração proveitosa)e o fim (vontade do disponente) não se sacrifiquem, é obvio que pode tudo, absolutamente tudo, dentro dessa atribuição. Não há exagero nesta afirmação. O Ministério Público, para a fiscalização efetiva das fundações, objetivando os fins a que o fundador teve em mira e os meios de alcançá-los pode tudo. Não poderia ser de outra forma, não se compreenderia a ação de vigilância do Ministério Público. Ilusória seria sua atribuição de velar pela finalidade da fundação se o direito não lhe desse meios de tornar físico, corpóreo, eficiente, seu dever de controle [...]10. Fortalecendo os entendimentos transcritos, diz Diniz (2006): De acordo com a tese de Lucia Linares Antrés, apesar da capacidade plena adquirida pelo registro, a autonomia da vontade da fundação privada tem limitação na função fiscalizadora do órgão estatal determinado (no Brasil, o MP), que vela pelo cumprimento dos fins, tem custódia do patrimônio (integridade, administração e destino), exige prestação de contas, além de exercer funções substitutivas da administração (em caso de impossibilidade) e interventoras (nos casos de irregularidades). 10 O Clovis a que se refere o texto é Clovis Beviláqua. 34 Desse modo é que se compreende o velamento pelo Ministério Público das fundações em todo o País. Mas quem é este órgão tão popular atualmente e que tem tanta responsabilidade no cuidar das fundações privadas, este patrimônio social que tem tido cada dia mais importância na vida das pessoas? 3. Ministério Público Para que melhor se entenda a abordagem que será feita neste trabalho, todos esses conceitos são importantes, sobretudo um mais amplo conhecimento sobre o Ministério Público e suas ações, pois se trata, como visto, do órgão responsável pelas fundações no campo do seu velamento, seja pelas normas contidas no Código Civil de 1916 (art. 24 e seguintes), mantidas pelo Código de 2002 (art. 62 e seguintes), seja pelas atribuições do contexto atual, determinado pela Constituição Federal de 1988 (art. 127 e seguinte). Isso significa dizer, pela sua importância na proteção do patrimônio social, destinado pelos instituidores para as fundações, para determinados beneficiários de determinados segmentos ou à sociedade em geral e com finalidades específicas, ou seja, em razão do interesse social envolvido. Esta abordagem será feita desde uma breve retrospectiva de sua evolução até chegar aos dias atuais. O Ministério Público é uma instituição milenar, existindo registros descobertos em escavações no antigo Egito dando conta de que, há quatro mil anos, existia um "funcionário real", que era a "língua e os olhos do rei". Dentre suas atribuições, diz Mazzili (1991, p. 1), constava: castigar os culpados; reprimir os violentos; proteger os cidadãos pacíficos; acolher pedidos do homem justo e verdadeiro; perseguir malvados e mentirosos; ser marido da viúva e pai dos órfãos; fazer ouvir as palavras da acusação, indicando os dispositivos legais que se aplicavam ao caso; tomar parte das instruções para ouvir a verdade. Porém, a maioria dos autores menciona, sem desconsiderar antecedentes remotos, como de procedência francesa a função, por ter se apresentado lá com caráter de continuidade. É que na França, em 1303, foi criado o Ministério Público como instituição, sob a sigla de 35 "procuradores do rei"; e em 1690 foi instituído um decreto que atribuía vitaliciedade aos agentes do Ministério Público (Moraes, 1999, p. 451). Prossegue Moraes: no Brasil, entretanto, só surgiu em 1832, no Código de Processo Criminal, sob a rápida referência de "promotor da ação penal". O Decreto nº 120, de 21 de janeiro de 1843, regulamentou o Ministério Público quanto aos critérios de admissão e demissão, sendo estas de responsabilidade do imperador e dos presidentes nas províncias, atuando seus integrantes por tempo indefinido, enquanto fosse da conveniência ao serviço público. Com a edição do Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, expedido para a reforma da Justiça no Brasil durante a Primeira República, o então Ministro da Justiça Campos Sales iniciou a trajetória de independência da instituição, mediante o Decreto nº 1.030, também desse ano. A Constituição de 1891 tratou em seu artigo 58, § 2º, do Procurador-Geral da República, de sua escolha e nomeação, deixando para a lei a definição de suas atribuições. A trajetória do Ministério Público foi de crescentes atribuições, sendo referida nas Constituições seguintes, porém sempre atrelada ao Poder Executivo, já que acumulavam em inúmeras situações as funções de Procurador da Fazenda. Todavia, o que caracterizava o Ministério Público era o monopólio da ação penal e a função de fiscal da lei (Riciotti, 1999). No âmbito cível, a legitimidade de ação se restringia ao singelo rol do artigo 82 do Código de Processo Civil, regulamentando os artigos seguintes essa atuação. Art. 81. O Ministério Público exercerá o direito de ação nos casos previstos em lei, cabendo-lhe, no processo, os mesmos poderes e ônus que às partes. Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir: I - nas causas em que há interesses de incapazes; II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade; III - em todas as demais causas em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte. Art. 83. Intervindo como fiscal da lei, o Ministério Público: I - terá vista nos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo; II - poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade. Art. 84. Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a parte promover-lhe-á intimação sob pena de nulidade do processo. Art. 85. O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude. Com a Constituição Federal de 1988, moldou-se um contorno especial para o 36 Ministério Público, conferindo-lhe múltiplas e importantes tarefas, conforme observa Mazzilli (1991). Garantia-se ao Ministério Público instrumento poderoso para a legitimação das ações civis públicas, não só para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, mas também para outros interesses difusos e coletivos, recepcionando a já avançada Lei nº 7.347/85. Esta legitimava a instituição para a propositura desse tipo de ação de forma limitada, mudando totalmente o seu perfil e sendo marco para o surgimento da expressão "Ministério Público Social" no Brasil. Na Constituição Federal de 1988, o Ministério Público está posicionado no capítulo "Das Funções Essenciais à Justiça", e não mais no capítulo destinado ao poder Executivo. Na Seção I é conceituado pelo legislador como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da CF). O art. 129 da atual Carta Magna explicita suas funções e os instrumentos para o seu exercício regular: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II – zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. Atribuiu também o legislador constituinte ao Ministério Público, com o artigo 127, a responsabilidade de desenvolver uma consciência social, passível de encontrar os meios para o cumprimento da nova missão. Está se acha incorporada à defesa dos princípios do Estado democrático de direito estabelecidos no Título I, "Dos Princípios Fundamentais", sobretudo dos direitos e garantias fundamentais, constantes nos arts. 1º a 5º da Constituição Federal. Em que efetivamente se constitui tal responsabilidade? 37 Como este trabalho se acha no âmbito educacional, entendeu esta pesquisadora importante transcrever, ao final, (em anexos) os artigos mencionados, que embora de grande extensão, traduzem em seu conteúdo a essência da democracia e da cidadania. É que este conteúdo deve ser por todos conhecido e apreendido, de modo a fazer valer as lutas pelas suas conquistas, não sendo de responsabilidade apenas do Ministério Público, senão de todos os brasileiros. É também importante destacar no Capítulo II da CF/1988 os direitos sociais, aqueles que são garantidos pelo Estado, ou por este em parceria com a sociedade civil organizada, as associações e fundações: Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (redação dada pela Emenda Constitucional 64/2010). Percebe-se, por todo o exposto, que a Constituição Federal de 1988 transformou a instituição Ministério Público em verdadeira defensora da sociedade, dando-lhe no campo penal a titularidade da ação penal pública. Já no campo cível, a fiscalização dos demais poderes públicos, a defesa da legalidade e moralidade administrativa, até mesmo com a titularidade do inquérito civil e da ação civil pública. Concedeu-lhe, ademais, a independência necessária para tanto, embora, atualmente, políticos desejem lhe retirar poderes, especialmente o de investigação na área penal. O fato é que esta instituição vem ao longo dos anos mudando a cultura da corrupção, dando ao Brasil, aos poucos, feições de moralidade e incutindo nas novas gerações uma forte intolerância à improbidade. 4. Evolução do Ministério Público de Alagoas na Área de Fundações e Demais Entidades de Interesse Público Até 1998, dez anos após a promulgação da nova Constituição Federal, o Ministério Público de Alagoas não possuía nenhum setor ou promotoria especializada nas questões sociais, inclusive as pertinentes a fundações e demais entidades de interesse social, mesmo existindo legalmente o dever do velamento de fundações desde o Código Civil de 1916. Isso era feito, pontualmente, por promotores designados pelo Procurador-Geral de Justiça. Em meados de 1998, a Procuradoria-Geral de Justiça, representada pelo ProcuradorGeral Lean Antônio Ferreira de Araújo, atribuiu a uma equipe de promotores de Justiça a 38 responsabilidade de fazer um diagnóstico da situação dos Ministérios Públicos Estaduais na atuação de fiscalização das fundações privadas. Foi esta pesquisadora uma das promotoras dessa equipe, além dos Promotores Kicia Oliveira Cabral de Vasconcellos, atualmente 1ª Promotora de Justiça de Fundações, e Lisael de Almeida. Desde então, percorreu-se uma via crucis, na tentativa de conseguir a capacitação necessária à atuação da instituição. Em Belo Horizonte, no período de 9 a 13 de setembro de 1998, a autora deste trabalho e a Dra. Kicia Oliveira Cabral de Vasconcelos visitaram a sede das Promotorias Especializadas de Fundações, sendo recebidas pelos promotores Marco Túlio Coimbra e Tomás de Aquino Resende. Estes se achavam já bem estruturados em suas promotorias, dotadas de estrutura física adequada e de pessoal satisfatório, trabalhando, à época, em parceria com a Federação de Fundações Privadas de Minas Gerais (Fundamig). Foram colhidas informações, legislação e regulamentação do Ministério Público em vigor no estado de Minas Gerais, pertinentes à matéria. Em face dos avanços observados e relatados à administração superior do Ministério Público, o interesse do Procurador-Geral em ver intensificadas as ações nesse âmbito e sua visão da importância disso para o contexto social motivaram a que se prosseguisse na busca do conhecimento da atuação desta instituição em outros estados. Por indicação dos próprios colegas de Minas Gerais, partiu-se dali ao Rio de Janeiro, para as sedes de suas duas promotorias, também especializadas e estruturadas. Uma tinha competência da fiscalização das fundações privadas da capital, e a outra, do interior, recebia informações e resoluções dos Ministérios Públicos do Paraná, Rio Grande do Sul e do próprio Rio de Janeiro. Informou-se já existir um movimento nacional de curadores de fundações tendentes a discutir o tema. Foram contatados, por via telefônica, os colegas José Eduardo Sabo Paes, então Promotor do Distrito Federal, e Liliane Fonseca Lima Rocha, Promotora de Justiça de Pernambuco. Essas Promotorias, igualmente bem estruturadas e atuando não só unicamente com Fundações, mas também com entidades de interesse social. Disponibilizaram todo o material de que dispunham − desde atos regulamentadores dos Ministérios Públicos de seus estados a formulários e normas aplicáveis. A escassez de legislação, a atuação essencialmente administrativa e a falta de 39 regulamentação de alguns Ministérios Públicos Estaduais, inclusive o de Alagoas, levou essa equipe a aderir a reuniões periódicas de Curadores de Fundações e Entidades de Interesse Social. Para superar essas dificuldades, promoveram-se congressos, seminários e encontros em estados diferentes, com discussões sobre temas e problemas comuns a todos e de difícil solução, no intuito de padronizar procedimentos de atuação, observando-se, evidentemente, as características locais. No período de 13 e 14 de maio de 1999, o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça do Brasil, se reuniu em Maceió e o Procurador-Geral de Justiça de Alagoas requereu ao seu Diretor-Presidente que fossem incluídas na pauta de discussões, como tema de interesse da classe11, fundações e entidades de interesse social. Na ocasião, foi editada pelos Procuradores-Gerais de Justiça a Carta de Maceió, fundamentada na Constituição e nas leis infraconstitucionais, sendo votadas e aprovadas as seguintes resoluções: I – Ações do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça do Brasil: Instituir “Comissão Permanente de Fundações e Entidades de Interesse Social”, no âmbito do Conselho Nacional, integrada por Procuradores-Gerais de Justiça, Procuradores de Justiça, Promotores de Justiça com atuação na área e Procuradores da República, convidados, visando assegurar a atuação integrada dos Ministérios Públicos, na incumbência de velar pelas fundações e entidades de interesse social; Instituir cadastro nacional de fundações e entidades de interesse social; Instituir, no âmbito da Comissão anteriormente prevista, um banco de dados de ações decorrentes da atuação administrativa e judicial, contendo material doutrinário e jurisprudencial; Remeter cópia da presente Carta a todos os membros do Ministério Público brasileiro. II – Ações no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais: Editar atos normativos disciplinando a atuação dos membros do Ministério Público na área fundacional e de entidades de interesse social; Viabilizar a criação de Promotorias de Justiça especializadas, com atribuições exclusivas em fundações e entidades de interesse social; Viabilizar a criação de Centros de Apoio Operacional ou órgão correlato especializados na área de fundação e entidades de interesse social; Dotar as Promotorias de Justiça especializadas em fundações e entidades de interesse social, de pessoal e material necessários ao desempenho das atribuições legais, inclusive de serviço de auditoria e contabilidade; 11 É de praxe, ao se reunirem fora da sede da Entidade, discutir com seus promotores especializados um tema de interesse do Ministério Público. 40 Recomendar a criação de programa permanente de visitas e inspeções às fundações e entidades de interesse social, visando o aperfeiçoamento do controle finalístico; Recomendar a elaboração de roteiro visando à uniformização das atividades ministeriais no âmbito das fundações e entidades de interesse social, que deveria conter: 1) Exigência da prestação de contas anual; 2) Controle e adequação da atividade de cada instituição a seus fins e da legalidade e pertinência dos atos dos administradores; 3) Requisição de relatórios, orçamentos, elementos contábeis, informações, cópias de atas, regulamentos e atos gerais dos administradores das fundações e entidades de interesse social; 4) Visita regular às fundações e entidades de interesse social, comparecendo às reuniões de seus órgãos administradores, quando necessário, com a faculdade de discussão das matérias em pauta, nas mesmas condições asseguradas aos seus integrantes, no caso das fundações; 5) Promoção, em juízo ou fora dele, da remoção dos administradores das fundações e entidades de interesse social, nos casos de gestão irregular, e a nomeação de quem os substitua, quando for o caso; 6) Promoção da anulação dos atos praticados pelos administradores das fundações e das entidades de interesse social que não observarem as normas estatutárias, regulamentares e as disposições legais, requerendo, se necessário, o sequestro dos bens alienados irregularmente e adotando outras medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; 7) Promoção de extinção das fundações instituídas por escritura pública ou testamento e dissolução das entidades de interesse social, nos casos previstos em lei; 8) Aprovação de minutas das escrituras de instituição de fundações, verificando se atendem aos requisitos legais e se bastam os bens aos fins a que se destinam, fiscalizando o seu registro; 9) Promoção, na forma da lei, da cassação da declaração de utilidade pública da sociedade, associação, fundação ou entidade de interesse social, bem como da qualificação de Organização da sociedade civil de interesse público; 10) Recomendação de requisição, antes do início de cada exercício financeiro, do plano de aplicação dos recursos, previsão de receitas para o período e plano de investimento, aquisição de bens móveis e imóveis que reflitam no patrimônio da Instituição. Com esse avanço histórico, os procuradores-gerais de Justiça da época passaram a compartilhar, com os promotores e procuradores comprometidos com a causa, a solução dos 41 problemas, norteando sua atuação e regulamentando-a de forma a orientar a confecção dos atos normativos pelos Ministérios Públicos Estaduais, conferindo diretrizes básicas para o velamento por parte dos promotores das fundações e das associações. Constituída a Comissão Nacional de Fundações e Entidades de Interesse Social naquela mesma data, foi escolhido como presidente o Procurador-Geral de Justiça de Alagoas, Lean Antônio Ferreira de Araújo, sendo indicados pelo grupo para integrar a mencionada Comissão: o Procurador de Justiça, Luiz Carlos Ziomkowski, do Rio Grande do Sul, os promotores de Justiça Eduardo Sabo Paes, do Distrito Federal, Failde Soares Ferreira de Mendonça, de Alagoas, e Liliane Fonseca Lima Rocha, de Pernambuco, posteriormente substituída por Marcos Túlio Coimbra, de Minas Gerais. A narrativa dessa evolução tende a esclarecer o quanto é recente a atuação efetiva dos Ministérios Públicos Estaduais no velamento e fiscalização dessas entidades, e a luta que têm travado os procuradores e promotores de Justiça de fundações para atuar com eficiência e eficácia, superar a falta de estrutura de pessoal e equipamentos. Ressalta-se, ainda, a cultura da corrupção, a resistência de algumas entidades ao controle da instituição veladora, fato este observado por esta pesquisadora no dia a dia de seu mister. A Comissão Nacional de Fundações e Entidades de Interesse Social reuniu-se pela primeira vez em 22 de maio de 2000, em Maceió, contando com a integralidade de seus membros para discutir a efetivação da Carta de Maceió. Deliberou-se o seguinte: 1 – Oficiar ao Conselho de Procuradores-Gerais de Justiça do Brasil, requerendo que efetivasse medidas junto ao Ministério da Justiça para a implementação do Cadastro de Informações das Entidades de Interesse Social; 2 – Que o banco de dados de fundações e entidades de interesse social ficaria sob a responsabilidade de: a) Fundações: em Belo Horizonte − MG b) Entidades de Interesse Social: em Recife – PE; 3 − Oficiar aos Procuradores-Gerais destes Estados para que deem o apoio necessário; 4 – Oficiar aos Integrantes do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça do Brasil, solicitando que renovem a remessa aos Promotores de Justiça de seus estados da Carta de Maceió e da Ata daquela reunião; 5 – Oficiar ao Presidente da Comissão aos Procuradores-Gerais de Justiça, que não possuam em seus estados Atos ou Resoluções sobre Fundações e Entidades de 42 Interesse Social, remetendo cópia dos estados que possuem, reiterando pedido de preenchimento de formulário com informações sobre a área; 6 – Enfatizar em reunião do Conselho Nacional a necessidade da criação de Promotorias e órgãos de apoio, exclusivos de fundações e entidades de interesse social, através de exposição oral, mencionando-se as necessidades mínimas de tais órgãos; 7 − Realização do I Congresso Alagoano do Terceiro Setor, nos dias 10, 11 e 12 de agosto daquele ano (2000), decidindo também sobre a programação e execução. Essas resoluções foram adotadas e o Congresso foi realizado com sucesso. Seguiram-se mais duas reuniões dessa Comissão. A primeira, no final de 2000, avaliou os avanços na área naquele ano, somando-se a esses a criação da Associação Nacional de Procuradores de Justiça e Promotores de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social − Profis, criada em 2002, em Maceió – AL. Foram estabelecidas metas para o ano seguinte. Já na segunda, ocorrida no final de 2001, avaliou os avanços do ano e deliberou sobre a realização do Segundo Congresso Alagoano do Terceiro Setor, decidindo sobre sua programação. Esta Comissão encerrou suas atividades com o fim do mandato de Procurador-Geral de Justiça de Alagoas, presidente da mencionada Comissão, por não ter haver outro Procurador-Geral, no âmbito do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça, interessado pela causa, de modo a contribuir para a continuidade dos avanços do movimento fundacional ministerial, de forma institucional. No decorrer do primeiro ano de atuação, a equipe de fundações do Ministério Público de Alagoas constatou que, por mais dedicada que fosse, não poderia desprezar as dificuldades decorrentes da escassez de legislação, jurisprudência e doutrina no campo, elementos que auxiliariam na capacitação nessa seara predominantemente administrativa, num universo de novidades e transformações. Por outro lado, a sociedade civil, diante da persistente ausência do Estado na prestação de serviços essenciais e de adimplemento de direitos sociais, avança em busca do pleno exercício da cidadania e engaja-se no movimento chamado Terceiro Setor. Não obstante observar a inegável disposição de participar das comunidades, estas estão também despreparadas, com atuação inadequada, sem capacitação, com vícios de 43 inércia ou sinais culturais de corrupção, carecendo de orientação, de acompanhamento, de fiscalização. Isso competiria ao Ministério Público, seu velador, defensor de interesses sociais, de direitos coletivos e individuais indisponíveis, já que esses direitos, hoje, coincidem com as finalidades perseguidas por entidades de interesse social na área privada. Em 2002, o Ministério Público de Alagoas encaminhou projeto à Assembleia Legislativa, que se transformou na Lei nº 6.339, de 28 de novembro daquele ano, criando a Promotoria de Justiça Coletiva Especializada de Fundações, com atribuições para o velamento de fundações e a fiscalização das demais entidades de interesse social. As Resoluções PGJ 01/99 e 01/2002 regulamentam a atuação dos promotores com atribuição na área, que funciona até hoje na sede da Procuradoria-Geral de Justiça/AL, com as duas promotoras da antiga equipe da Assessoria do Procurador-Geral, Dra. Kicia Oliveira Cabral de Vasconcelos e esta pesquisadora. 44 CAPÍTULO II 1. A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR, AS REFORMAS DO ESTADO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A CRIAÇÃO DA UFAL Quem já não ouviu ou participou de uma discussão sobre a deficiência do Estado na prestação de políticas públicas, que geram lacunas em áreas cruciais da assistência social, como educação e saúde? Pois bem, o Estado brasileiro tem direcionado ao longo da história a atuação da sociedade civil, nas políticas públicas, ao tempo que vem se abstendo, cada dia mais, de proporcionar tais políticas, compelindo os movimentos sociais, associação e fundações a fazêlo. Estas reivindicam ou provêm tais direitos sociais e políticas, seja de forma autônoma, com recursos próprios, seja em parceria com outras entidades privadas ou com o próprio poder público. Porém, no que se refere à educação, essa atuação, embora realizada de modo solidário, tem, juntamente com a escola pública, reproduzido o modelo de interesse do poder político e das elites. Almeida (2012) menciona que a escola está atrelada à dominação política. A dominação econômica, como será visto, também está ligada umbilicalmente à escola. “É por meio dela que se transformam cabeças a serviço daqueles que estão no poder”, diz ainda Almeida (p. 37). Buscamos, na história da educação, respostas para as discussões quanto à dicotomia entre o público e o privado na seara da educação, a fim de explicar o fundamento da resistência que se verifica em determinados segmentos de servidores públicos. Essa relação, a nosso ver, tem trazido vantagens à sociedade, sobretudo aos que necessitam desses serviços. É que não havendo a oferta pública, buscou-se, pela via alternativa da escola privada, o alcance da melhoria pessoal, educacional, profissional e a consequente inserção social. A demanda tem sido o motor propulsor da educação no Brasil. Xavier, Ribeiro e Noronha (1994, p. 122) afirmam que durante quatro séculos (1500-1900) de supremacia do modelo econômico agroexportador, o sistema educacional brasileiro foi utilizado para formar as camadas altas da sociedade destinadas aos cargos político-burocráticos e profissionais. 45 Somente a partir da década de trinta do século passado é que surgiu a escola de massa (Saviani, 2008). Menciona Saviani (2008), em conferência ministrada na abertura do V Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares, citando Marcílio (2005, p. 3), que em 1759, quando da expulsão dos jesuítas, menos de 1% da população brasileira estudava em nos colégio dessa ordem religiosa. E explica: … pois delas estavam excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos, os filhos ilegítimos e as crianças abandonadas (Marcílio, 2005, p. 3). E apesar do entusiasmo que marcou o inicio do período republicano com a criação dos grupos escolares, até o final da Primeira Republica o ensino escolar permaneceu praticamente estagnado, como se vê pelo número de analfabetos em relação à população total, que se manteve no índice de 65% entre 1900 e 1920, sendo que seu número absoluto aumentou de 6.348.869 em 1900 para 11.401.715 em 1920. Em contrapartida, a partir da década de 1930 a matrícula geral saltou de 2.238.773 alunos (ensino primário: 2.107.617; ensino médio: 108.305; ensino superior: 22.851) em 1933 para 44.708.589 (primário: 35.792.554; médio: 6.968.531; superior: 1.947.504) em 1998 (Brasil, 2003, p. 106). Considerando-se que a população do país girava em torno de 40 milhões em 1933, passando a aproximadamente 167 milhões em 1998, conclui-se que, enquanto a população global quadruplicou, a matrícula escolar geral aumentou vinte vezes (Saviani, 2008). Economicamente, quando o Brasil caminhava para a industrialização, as discussões políticas sobre o futuro do Brasil giravam em torno da educação. Os oligarcas conservadores lutavam pela manutenção de seus privilégios educacionais, e os progressistas pela modernização. As camadas médias, e mais particularmente a sua parcela instruída, mais que nunca influenciadas pelas doutrinas liberais europeia e norte-americana, reivindicavam a democracia do regime político e do sistema escolar. Essa bandeira também era empunhada pelos trabalhadores urbanos, em sua maioria imigrantes europeus, que traziam expectativas otimistas quanto ao caráter equalizador da “escola única, universal e gratuita” (Xavier, 1994). Romanelli (2003) menciona que até 1920 alguns fatores se interligavam de modo a equilibrar a organização e evolução do ensino no Brasil: a economia, a cultura, a demanda social por educação e o sistema de poder. Esse autor traça o seguinte panorama: a economia não exigia recursos humanos; a herança cultural era importada do pensamento europeu; na classificação social do período colonial, a escola ficou destinada à aristocracia; a demanda por educação, mesmo quando advinda da camada média urbana, manteve a cultura e o culto ao 46 trabalho intelectual, num preconceito alimentado na escola, com o intuito de adquirir e/ou manter esse status. [...] uma vez que todos esses aspectos se integram, é possível afirmar-se que a educação escolar existente, com origem na ação pedagógica dos jesuítas, correspondia às exatas necessidades da sociedade como um todo. A função da escola era, então, a de fornecer os elementos que iriam preencher os quadros da política, da administração e formar a inteligência do regime. É possível, assim, pensar na ausência de uma defasagem entre educação e desenvolvimento nessa época, ou seja, é possível pensar numa ausência de defasagem entre os produtos acabados oferecidos pela escola e a demanda social e econômica da educação (Romanelli, 2003, p. 45-46). Com o processo de urbanização decorrente da industrialização e do declínio da produção no campo, houve novas exigências por escolas, gerando uma demanda crescente da população, especialmente da classe média, e uma maior pressão pela expansão do sistema escolar. Ainda, o modelo econômico brasileiro à época, urbano-industrial, que substituiu o agrário-exportador, passou a solicitar da escola saberes específicos, necessários a seu desenvolvimento, resultando em aumento da demanda por educação e por recursos humanos, desequilíbrio que se agravou a partir de 1930, gerando uma crise no sistema escolar. Ao discutir a explosão da demanda por escolas, Xavier (1990, p. 59) questiona “o que teria representado esse fenômeno”. Teria então a classe social emergente, ou os excluídos tradicionalmente do privilégio escolar, se dado conta da importância real da escola, ou seria essa busca mera resposta a uma nova ideologia econômica importada que proporcionasse a modernização em todas as esferas da vida brasileira? O inegável é que, se antes a necessidade de instrução era sentida como fundamental no seio da sociedade brasileira, sendo relegada a plano secundário pelo poder público, a nova situação induziu profundas modificações no quadro de aspirações educacionais, no discurso e na ação do próprio Estado ( Xavier, 1990, p. 59). Num minucioso estudo sobre o rompimento das tradicionais estruturas e sobre as aspirações sociais, Romanelli (2003) diz que a partir de 1930 inicia-se, com o desenvolvimento de um novo modelo econômico, um novo perfil social que estabelecia oportunidades educacionais para as camadas médias ligadas à lavoura. Estas migravam para os centros urbanos, rompendo barreiras que as separavam dos ricos latifundiários e comerciantes, quebrando o tradicional dualismo em que o ensino primário, associado às 47 escolas profissionais, estava reservado aos pobres, e o ensino secundário, articulado com o superior, destinava-se aos ricos (p. 66-67). Atendendo à demanda, o sistema educacional expandiu-se, mas não rompeu totalmente com a velha estrutura escolar. À medida que o mundo evoluiu e se desenvolveu economicamente, os governos brasileiros, do mesmo modo que os dos demais países, tiveram de adequar-se para enfrentar as mudanças, reavaliando sempre, de acordo com a sua dinâmica, a melhor forma de se relacionar com a sociedade. Surgiu então, em 1930, o modelo de administração burocrática, no auge da aceleração da industrialização brasileira, em substituição ao Estado patrimonialista, ou seja, aquele no qual as autoridades consideravam o trato da coisa pública como se privada fosse. Nesse período o Estado assume um papel decisivo, intervindo pesadamente no setor produtivo de bens e serviços e implantando um capitalismo moderno no País (BRASIL, 1995). Resumiu JUCÁ (2002) os movimentos do Estado desde então: … resultou uma repetição monótona de processo de reforma e contrarreforma do Estado, em movimentos pendulares que o conduzem ora à centralização administrativa, identificando-o com o tradicional estado burocrático, ora a uma tendência descentralizadora, marcada por maior flexibilização da estrutura administrativa com a redução do tamanho do Estado. Carvalho (2009) assinala que no inicio da década de 30 foram traçadas as diretrizes da modernização do País, com a ascensão do governo Vargas, avançando do período rural para a industrialização, preparando a sociedade de forma apaziguadora e controladora das lutas de classes. O operariado brasileiro foi favorecido com benefícios sociais, num direcionamento administrativo centralizador e fortalecedor do poder do Estado. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado, documento elaborado pelo Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado, quando então era ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, apresenta estudo sobre reformas administrativas e suas implicações na vida da administração pública e da sociedade. Registra, como primeira experiência nesse sentido, exatamente a ocorrida no final da década de trinta, no governo Getúlio Vargas, com preocupação central sobre a burocratização (BRASIL, 1995). Continua o documento, fazendo uma retrospectiva das reformas, no capítulo Experiências Brasileiras − Antecedentes. Em 1938 aparece o primeiro sinal da administração 48 pública gerencial, com a criação da primeira autarquia, a partir da ideia de descentralização do serviço público. Entretanto, uma tentativa real de reforma gerencial na administração pública brasileira ocorreu em 1967, mediante o Decreto-Lei 200, com o objetivo de superar o modelo burocrático. Continha diretrizes descentralizadoras e preconizava o fortalecimento da administração indireta, através das autarquias, fundações e empresas estatais, como esforço para agilizar a atuação do Estado. Foi esta norma alterada pelo Decreto-Lei 900/69. Seguindo esse novo direcionamento de governo, a Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, revogada posteriormente pela Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média. Além de outras providências, estabeleceu: Art. 1º O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes e a formação de profissionais de nível universitário. Art. 2º O ensino superior, indissociável da pesquisa, será ministrado em universidades e, excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como instituições de direito público ou privado. (…) Art. 4º As Universidades e os estabelecimentos de ensino superior isolados constituir-se-ão, quando oficiais, em autarquias de regime especial ou em fundações de direito público e, quando particulares, sob forma de fundações ou associações. Abro um parêntese para relembrar que entre essas regras, então vigentes, foi que o Ministério da Educação, em 1974, orientou a criação da Fundação Educacional Jayme de Altavila − Fejal, mantenedora do Centro de Estudos Superiores de Alagoas − Cesmac, instituída em Alagoas com natureza jurídica privada. Tinha por base o direcionamento de descentralização, constante da alteração do Decreto-Lei 200/67, com a nova redação que lhe deu o Decreto-Lei 900/69. Em 1988 surge a nova Constituição Federal, trazendo avanços quanto à participação popular e referendando o novo conceito de cidadania. Em 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso apresenta uma nova estratégia para suas ações, através da reforma da administração pública brasileira. Verifica-se um processo mais abrangente de reforma de Estado, no que diz respeito às várias áreas do governo, e ao conjunto da sociedade brasileira, ficando claro que as ações pensadas para a sociedade constituem políticas de governo. 49 A reforma deve ser entendida dentro do contexto de redefinição do papel do Estado, que deixa de ser responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via de produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento. Independentemente de ideologias, constata-se, pelos números divulgados na mídia diariamente, uma expansão crescente no ensino superior, desde a participação das entidades privadas de educação no contexto do ensino superior, bem como o favorecimento socioeconômico e cultural de inúmeras pessoas e famílias. Silva (2009) corrobora esse entendimento em seu artigo “A Universidade Brasileira Hoje − considerações sobre elitismo, democratização, ensino, pesquisa e gestão organizacional, à luz da experiência cristã”, ao evocar o Evangelho de Mateus (Mt, 13-18): Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os discípulos, dizendo: “O Lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimentos para si”. Mas Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ao que os discípulos responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes”. Disse Jesus: “Trazei-os aqui”. Explica o autor do texto que a passagem da Bíblia parece retratar “com clareza” a situação do ensino superior no Brasil, em que os interesses considerados são os de poucos em detrimento da multidão. Entretanto ao comando superior tem-se a coragem de apresentar as possibilidades, sem se importar com a desproporção entre essas possibilidades e as necessidades, na esperança de que a força divina potencialize as soluções. Não obstante a situação jurídica apresentada quanto à participação privada na educação, volta-se agora a discutir não só a expansão, mas em sua evolução filosófica, a escola como motor propulsor de formação de consciência crítica, como esperança do povo brasileiro por mudanças efetivas. Florêncio, citado por Almeida (2012), explica a dificuldade da transformação social processada através da escola, considerando que ela é um instrumento do poder de classes para a reprodução da ideologia dominante: […] ainda que se pense a instituição escola como um dos veículos de transformação social, convém notar que há, houve e sempre haverá uma presença dos organismos de poder que permeiam a sociedade e, consequentemente, se fazem presentes na escola, o que dificulta, nessa instituição, o trabalho como produção de conhecimento e transformação social, pois essa escola, se assim o fizer, estará criticando ideias, 50 valores e o consequente exercício de poder da classe dominante (Florêncio, 2005. p. 27). Almeida (2012) faz uma importante exposição sobre o tema, considerando que a burguesia consolidou seu poder no Brasil Colônia, durante a formação social. Desse modo, quando da classificação dos indivíduos em cidadãos, eram assim considerados apenas os proprietários de terras, os homens livres. Preconizava-se, portanto, que apenas os “donos de propriedades” eram livres e cidadãos. Os assalariados pertencentes à classe trabalhadora não estavam no rol da educação e do letramento. Dessa forma, como considerá-los cidadãos, capazes de agir com criticidade e na escolha racional política? Segundo Gohn (2001, p.13), as “diferenças sociais eram vistas como diferenças de capacidade. […] Somente os proprietários tinham direito à plena liberdade e à plena cidadania” (p. 39). 1.1 O Surgimento do Ensino Superior em Alagoas e a Criação da Ufal Para que se avalie a importância e a contribuição da intervenção da instituição estudada (Fejal) e das demais fundações educacionais no contexto do desenvolvimento do ensino superior em Alagoas, isto deve ser analisado levando-se em conta as peculiaridades da formação não só do País, mas também do estado de Alagoas. O conhecimento da história sociopolítica e econômica do alagoano valoriza muito mais suas conquistas de educação escolar e confere a exata noção do quanto elas foram imprescindíveis à atual formatação do estado. Almeida (2012) traça um perfil da sociedade alagoana como desigual até os dias atuais: Apresenta a abundância tutelar e a pobreza social, ambas com estrutura social e conotação econômica. A sociedade alagoana mercantilizou-se, desenvolvendo uma economia baseada na nítida diferenciação cultural. Alagoas foi desenvolvendo uma autoconsciência, com uma diferenciação social marcada nas classes baixas, nas quais claramente se viam e se veem as ambivalências sociais. “A ideologia da classe dominante, através da evidência de um sentido único, transparente, impede o sujeito de interpretar a realidade que o cerca, de estabelecer uma relação crítica com a língua, a história e os sentidos” (FLORENCIO, 2007, p. 24). O analfabetismo é produzido dentro das escolas. Formam-se crianças engessadas, com modelos prontos e definidos, reprodutores de uma ideologia dominante, e nossos professores limitados a uma prática desarticulada da teoria, vivida na sua formação, e efetivamente colocados no lugar de agentes (re)produtores de submissão (assujeitados) (p. 41). 51 As faculdades privadas, idealizadas e instituídas por alagoanos, graduados ou não, mantidas por pessoas jurídicas (sindicatos e sociedades civis de interesse público, pela sociedade civil, exclusivamente − ou seja, pelas elites culturais e/ou econômicas do Estado, entre 1931 e 1961, inicialmente para seus iguais −), vieram a formar o núcleo essencial da Universidade Federal de Alagoas, criada em 26 de fevereiro de 1961. Em Alagoas, até a década de 30, o acesso à educação superior restringia-se aos jovens economicamente privilegiados, de famílias que podiam mantê-los em cursos fora do Estado, pois, até então, o ensino superior gratuito era acessível tão só a algumas poucas cidades e estados brasileiros (MACEIÓ, 1995, p. 289). Porém, tudo isso ocorre numa sociedade contaminada com os vícios do autoritarismo e elitismo rural açucareiro arraigados em sua estrutura. E isso ocorre desde o tempo das capitanias hereditárias, de ocupantes da terra distribuída e desenvolvida sob a forma de empreendimento familiar, “com grupos entrelaçados por laços de parentesco”. Os donatários, que posteriormente vieram a se incorporar ao aparelho burocrático do Estado, reforçavam dia após dia o seu poderio, instalando-se na política e na economia, impondo à sociedade uma cultura patriarcal e patrimonialista (Verçosa, 2001, p. 35). Verçosa, citando Holanda (1991, p. 49), traça o seguinte panorama da base da sociedade alagoana: E a base dessa organização será a família de estilo patriarcal, “onde os vínculos biológicos e afetivos que unem ao chefe os descendentes, colaterais e afins, além da famulagem e dos agregados de toda sorte, hão de preponderar sobre as demais considerações”. Esse será o padrão único da organização social aceitável que irá se desenvolver, “como um todo indivisível, cujos membros se acham associados, uns aos outros, por sentimentos e deveres, nunca por interesses ou ideias”. No engendramento desse modelo, cujo centro é o casal branco e seus filhos legítimos, “os escravos das plantações e das casas, e não somente escravos, como os agregados, dilatam o círculo familiar e, com ele, a autoridade imensa do pater famílias” (Verçosa, 2001, p. 44). Entre as tentativas mencionadas por Verçosa de instalação de Faculdades em Alagoas, tiveram sucesso as seguintes iniciativas 52 1.2 Faculdade Livre de Direito A primeira Faculdade de Alagoas que vingou foi a Faculdade Livre de Direito, posteriormente denominada Faculdade de Direito de Alagoas, fundada em 24 de maio de 1931 e autorizada a funcionar pelo Decreto nº 1.745 (estadual), de 25 de fevereiro de 1933. Foi estadualizada pela Lei nº 1.250, de 6 de junho de 1936 e equiparada a suas congêneres pelo Decreto nº 2.009, de 4 outubro de 1937, sendo desestadualizada em 30 de dezembro do mesmo ano. Reconhecida pelo Decreto-Lei nº 509, de 22 de junho de 1938, este lhe concedeu prazo para se adequar à legislação federal, vindo a ser federalizada pela Lei nº 1.014, de 24 de dezembro de 1949 (site ABCDASLAGOAS e ITB, 1995, p. 289). A ideia de criação da faculdade foi de Agostinho Benedito de Oliveira, antigo funcionário do Colégio Liceu Alagoano. Encamparam o projeto, em reunião ocorrida no dia de sua fundação, no Salão da Congregação de Educandários: Mário Guimarães, Jayme de Altavila, Guedes de Miranda, Virgílio Guedes, Barbosa Junior, Domingos Correia, Manoel Onofre de Andrade, Hermínio Barroca, Francisco José dos Santos Ferraz e Manoel Xavier Acioly. A publicação do Instituto Théo Brandão (1995, p. 289/290) que narra a criação das primeiras faculdades e foi utilizada neste trabalho, menciona como primeiros diretores da Faculdade de Direito de Alagoas “os seguintes homens ilustres do Estado”: Dr. Virgílio Guedes: 1º Diretor e catedrático de Economia Política; Dr. Domingos Correia: 2º Diretor; e Dr. Antônio Guedes de Miranda: 3º Diretor. Esta obra, além de mencionar os primeiros professores e nomes ilustres, alguns que chegaram a ser políticos e hoje são nomes de ruas, avenidas, conjuntos residenciais ou praças, cita ainda outras pessoas importantes para a Faculdade, como os catedráticos, à época, Antônio Guedes de Miranda, Virgílio Guedes Correia, Osman Loureiro de Farias, Anfilófio de Melo, Hermínio de Paula Castro Barbosa, Inácio Brandão Gracindo, Afrânio Salgado Lages, Domingos Correia da Rocha, José Quintela Cavalcanti, Manoel Chavier Acioly, Paulo de Almeida Castro, Francisco Cândido de Mendonça, José Lages Filho, Ciridião Durval e Silva e o representante dos docentes, João Oliveira Neto. O terreno para a edificação da sede da Faculdade e os recursos necessários à sua construção foram doados pelo Governo do Estado, quando era interventor federal Afonso de 53 Carvalho. A declaração de utilidade pública da instituição se deu através do Decreto nº 1.530, de 18 de agosto de 1931, do então interventor Luiz de França Albuquerque. O deputado Lauro Montenegro apresentou o projeto de sua federalização, tendo tido a parceria do deputado federal Medeiros Neto e do senador Freitas Cavalcante (ITB, p. 291). A relação de pessoas destacadas com o título de Professor Honoris Causa, quando das comemorações dos 25 anos de sua criação, evidencia a importância dessa criação e deixa claro a quem se destinava. Na ocasião foram homenageados pela Faculdade de Direito de Alagoas o então Ministro da Educação, Tarso Dutra, o Diretor de Ensino Superior, Jurandi Lodi, o expresidente da República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, o amigo da Casa, José Pereira Lima, o General Pedro Aurélio de Góes Monteiro e o Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. 1.3 Faculdade de Medicina de Alagoas Menciona a publicação Maceió 180 anos de História (ITB, 1995) que a Faculdade de Medicina de Alagoas nasceu por iniciativa do Prof. Abelardo Duarte, que a idealizou, reunindo então algumas pessoas em sua casa, no ano de 1949, num primeiro momento, para discutir a ideia. Posteriormente, ainda no mesmo ano, realizou numa sala da Sociedade de Medicina nova reunião para a elaboração do seu Estatuto e Regimento Interno, porém a Faculdade só foi instituída formalmente em 3 de maio de 1950, sendo autorizado seu funcionamento em 1951. Foi reconhecida por Decreto presidencial em 27 de outubro de 1953, tendo seu primeiro vestibular sido realizado no Colégio Estadual de Alagoas. Ainda em 1953 foi iniciada a construção do Instituto Estácio de Lima, onde funcionava a cátedra de medicina legal. Segundo a mesma fonte, participaram das reuniões de criação: João Paulo de Miranda Neto, Sebastião Vaz Pereira da Hora, Deraldo Campos, João Lessa de Azevedo, Duarte Cortez, Aristeu Lopes, Roland Simon, Reynaldo Gama, Pedro Reis, Adail F. Ribeiro, Othederaldo Araújo Silva, José Calasans Gomes, Augusto Cardoso e Isaías Andrade. A Faculdade foi acomodada nas antigas instalações do Quartel do 20º BC, na Praça Afrânio Jorge, no bairro do Prado, em Maceió, em prédio doado pelo Governo Federal, por 54 interferência do deputado federal Medeiros Neto e do senador Ismar de Góis Monteiro. Em seguida, foram feitas reformas para adaptação, realizadas com a participação do arquiteto Saint-Yves Simon, mediante doações da comunidade alagoana. Destacam-se as colaborações comerciais e de grandes empresários locais, a saber: usinas Leão e Serra Grande, fábrica Alexandria, cotonifício Gonsalves, Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos, Companhia Norte Alagoas, Othon Bezerra de Melo, João Andrade Atayde Filho, Nestlé, Banco da Lavoura, Ademar de Barros, Dr. Mário Lobo, Cooperativa dos Usineiros, Thércio Vanderley e outros (ITB, p. 291). Dirigiram a instituição o Dr. Ib Gatto Falcão, de 1950 a 1953; o Dr. Abelardo Duarte, de 1953 a 1956; o Dr. Aristóteles Calasans Simões, de 1956 a 1959; e o Dr. Gastão Oiticica, de 1959 a 1962, formando-se a primeira turma em 10 de dezembro de 1956. 1.4 Faculdade de Filosofia de Alagoas A Faculdade de Filosofia foi criada no dia 16 de junho de 1950, no auditório do Colégio Guido de Fontgalland . Foi posteriormente abrigada formalmente por sociedade civil com a mesma denominação, como sua mantenedora, participando dessa iniciativa os professores: José Silvio Barreto de Macedo, Hélio Lessa Souza, Gilberto de Macedo, Théo Brandão, Luiz de Medeiros Netto, Aurélio Viana Cunha Lima, Maria Hermínia Oiticica, Paulo Senouillet, Eduardo da Mota Trigueiro, Antônio Assunção Araújo, João Leite Neto e outros. Foi seu primeiro diretor o cônego Teófanes Augusto de Araujo Barros, aquele que instituiu a Fejal, e Vice-Diretor, o Prof. Teobaldo Augusto de Barros (ITB, p. 291). A autorização para o funcionamento da Faculdade de Filosofia foi concedida em 22 de janeiro de 1952, pelo Decreto nº 30.238, que autorizou também a funcionar os cursos de História, Geografia, Letras Anglo-Germânicas, Letras Neolatinas e Letras Clássicas. Na ocasião foram incorporados à Sociedade Guido de Fontgalland o Colégio Guido de Fontgalland, com seu patrimônio, a Escola Técnica de Comércio Guido de Fontgalland e o Ginásio São José. O primeiro vestibular foi realizado em fevereiro de 1952, e as primeiras turmas concluíram em 1954, tendo sido reconhecidos os primeiros cursos em 24 de dezembro de 1954, através do Decreto 36.357. Nesse mesmo ano foi autorizado o funcionamento do curso 55 de Pedagogia e Didática, pelo Conselho Nacional de Educação. Essa faculdade também foi agregada à Universidade Federal de Alagoas − Ufal, doando-se o prédio que havia sido construído para o seu funcionamento ao patrimônio nacional, para atender exigência da Lei nº 3.867/61, que criou a Universidade (ITB, p. 293/293). 1.5 Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas Seguiram-se à criação das faculdades já mencionadas, a da Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas, criada pelo Sindicato dos Empregados do Comércio do Estado de Alagoas, autorizada a funcionar pelo Decreto nº 34.962, de 19 de janeiro de 1954. Instalou-se em 17 de fevereiro do mesmo ano, em sua sede, na Rua João Pessoa, nº 418, Centro, com vestibular realizado em 20 de março de 1954. Foi reconhecida através do Decreto 42.928, de 30 de dezembro de 1957. Sua primeira turma concluiu em 14 de dezembro de 1957, com solenidade realizada no salão nobre da Associação Comercial, presidida pelo Prof. Carlos de Gusmão Miranda (ITB, p. 291). Foram instituidores da Faculdade: Alfredo Gaspar de Mendonça, José Cavalcanti Manso, José Silvio Barreto de Macedo, José Cavalcanti Cajueiro, Benedito Manoel dos Santos Silva Filho, José Franklin Casado de Lima, Nelson Tenório de Oliveira, Petrônio Viana, Hermano Cardoso Pedrosa, Carlos de Gusmão Miranda, Milton Gonsalves Ferreira, os deputados Rui Soares Palmeira, José Romão da Costa e João de Omena Fireman, e Agérico Vieira, este último, presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio do Estado de Alagoas, entidade mantenedora da faculdade. Seu primeiro diretor foi o Prof. José Cavalcanti Manso, para um mandato de três anos, entre 1954 e 1956. Foram também seus diretores: Prof. Nelson Tenório, com mandato iniciado em 1957, que licenciado, foi substituído pelos Prof. Carlos de Gusmão Miranda e, posteriormente, pelo Prof. Milton Gonsalves Ferreira. 56 1.6 Faculdade de Engenharia A Faculdade de Engenharia, ainda segundo a mesma fonte e o site abcdasalagoas, foi criada por decisão tomada em 13 de agosto de 1951, em reunião na sede da antiga Escola Industrial de Maceió, localizada na Praça Sinimbu, 206, Centro, em Maceió. Participaram de sua fundação os seguintes engenheiros: Aloysio Freitas Melro, Antônio Mario Mafra, Everaldo de Oliveira Castro, Jayme Fonseca, Demócrito Sarmento Barroca, José Steremberg, Talvanes Augusto de Barros, Edson Lobão Barreto e Joaquim Tomaz Pereira Diegues Junior. Em reunião, dois dias depois, aprovaram o estatuto da sociedade civil, documento registrado em cartório no dia 17 de setembro de 1951. A primeira diretoria foi empossada antes da instituição legal da pessoa jurídica (sociedade civil) em 30 de agosto de 1951, composta dos seguintes diretores: Presidente: Aloísio Freitas Melro; Vice-Presidente: Antônio Mario Mafra; 1º Secretário: Talvanes Augusto de Barros; 2º Secretário: Joaquim Tomaz Pereira Diégues Junior; Tesoureiro: José Steremberg. Na estrutura montada havia sócios efetivamente mantenedores, tendo sido aceitos, na ocasião, os primeiros, que foram: Humberto Guedes Pinto de Paiva, Mário Dubeaux Leão, Antônio de Freitas Nogueira, Luiz Calheiros Junior e Flávio Luz. O funcionamento da Faculdade foi autorizado pelo Governo Federal após o parecer nº 53 do Conselho Nacional de Educação, que deu origem ao Decreto 37. 376, de 24 de maio de 1955. Por concessão especial, no dia seguinte, o Diretor de Ensino Superior autorizou calendário especial que possibilitou concurso de habilitação ainda naquele ano, nos dias de 3 a 10 de junho, tendo concorrido 38 candidatos; só oito foram aprovados. A aula inaugural foi proferida em 14 de junho de 1955. O curso foi reconhecido pelo Decreto (presidencial) nº 47.371, de 5 de dezembro de 1959, após o parecer favorável do Conselho Nacional de Educação de nº 421, de 9 de outubro daquele ano. Passados seis dias de seu reconhecimento, formou-se a primeira turma de engenheiros civis, com quatro integrantes. A segunda turma colou grau em 11 de dezembro 1960, com sete alunos. A terceira turma colou grau em 11 de dezembro de 1961, já na nova estrutura, de incorporação à Ufal, e era composta por sete alunos. 57 Com a criação da Universidade Federal de Alagoas − Ufal, uma assembleia geral da Sociedade deliberou pela doação de todo o seu patrimônio à autarquia federal, inclusive a sua sede, que havia sido doada pelo Governo Estadual, após autorização legislativa, dada pela Lei 1.650, de 26 de agosto de 1952. 1.7 Faculdades de Odontologia, de Alagoas e de Maceió Foram criadas em 1955 e 1956 duas faculdades de odontologia em Maceió. A Sociedade Civil Faculdade de Odontologia de Alagoas e a Sociedade Civil Faculdade de Odontologia de Maceió. A primeira, fundada em 14 de julho de 1955, tendo como idealizador o Professor Alberto Mário Mafra, que também foi o seu primeiro presidente, e como primeiros diretores, os dentistas Rubens de Mendonça Canuto, 1º secretário; Renato Gama Vieira da Silva, 2º secretário; e Hélio Ramalho Ferreira, tesoureiro, que estavam entre os fundadores e catedráticos da instituição. O curso dessa faculdade foi autorizado a funcionar pelo Decreto 41.352, de 22 de abril de 1957, publicado no Diário Oficial da União do dia seguinte, quando então presidente Juscelino Kubitschek. Localizava-se em prédio já demolido, na Praça Floriano Peixoto nº 76, Centro, em Maceió. Promoveu seu primeiro concurso de habilitação no inicio de 1957, para 40 vagas, tendo se inscrito apenas 13 candidatos. Sua aula inaugural foi ministrada em 11 de maio de 1957, coincidindo esse período com o início das aulas do curso de odontologia da Faculdade de Odontologia de Maceió. A segunda, a Faculdade de Odontologia de Maceió, foi fundada sete meses depois da primeira, em 4 de fevereiro de 1956, estando entre seu fundadores os primeiros diretores: João Borba Gouveia, presidente; José Pontes Bahia, vice-presidente; Domingos Sávio Brandão, 1º secretário; Antônio Florentino Cavalcante, 2º secretário; Oswaldo de Araújo Costa, 1º tesoureiro e José Zeno Barbosa, 2º tesoureiro. A solenidade de instalação desta faculdade foi presidida pelo Presidente Juscelino Kubitschek, que veio a Maceió para o jubileu de prata da Faculdade de Direito de Alagoas e para paraninfar a primeira turma da Faculdade de Medicina de Alagoas, isso em dezembro de 1956. 58 A Sociedade recebeu autorização para o funcionamento do Curso mediante o Decreto nº 41.350, de 17 de abril de 1957, e em maio desse mesmo ano, realizou concurso de habilitação, tendo concorrido 45 candidatos. A aula inaugural ocorreu logo em seguida, em 11 de maio. Logo depois do início do funcionamento das faculdades, seus diretores compreenderam ser impossível a sobrevivência das duas instituições em Maceió e começaram tratativas para a fusão. Esta foi dificultada pela composição das cátedras, pois os professores não queriam abrir mão de suas cadeiras, havendo a vedação, por parte da legislação, de desdobramentos de cadeiras de novas faculdades. Com os rumores quanto à criação da Ufal, após novas tratativas chegou-se a um acordo, em 1960, com a admissão de composição de 21 cadeiras, sendo 12 para a Faculdade de Odontologia de Maceió, oito para a Faculdade de Odontologia de Alagoas e uma a ser provida pelo Diretor do Ensino Superior do MEC. Este se fez presente à reunião final. As faculdades ficaram ainda provendo seus cargos e funcionando parcialmente separadas. Com a criação da Ufal, as Faculdades de Odontologia, que já englobavam também Farmácia, foram fundidas e incorporadas àquela autarquia, passando a funcionar como uma única instituição, com 13 cadeiras de professores catedráticos, assim distribuídas: sete para a antiga F.O.M. e seis para a F.O.A. Os demais integrantes dos corpos docentes das faculdades foram admitidos na condição de professores assistentes e incorporados aos quadros do novel ente público (site ABCDASALAGOAS). Observa-se que a criação da Ufal e a consequente federalização dos cursos, não trouxeram consequências práticas danosas para o poder administrativo das faculdades, integrantes agora de órgão federal. Manteve-se a estrutura de poder local, absorvendo o Governo Federal servidores das áreas docente e administrativa e recebendo também o seu patrimônio e clientela. 1.8 A Universidade Federal de Alagoas − Ufal São aqui traçadas linhas sobre sentimentos e conquistas vivenciadas pelas inúmeras vidas que, igualmente à minha, se realizaram, glorificando o solo alagoano do conhecimento, e erguendo, juntos, uma Universidade cidadã, devotada à sociedade alagoana, comprometida com o Brasil e altiva no campo do saber. Nestes 50 anos da Ufal, essas vidas fizeram o que a 59 instituição é: uma Universidade essencial para o passado, o presente e o futuro de Alagoas. Ana Dayse Rezende Dorea − Reitora da Ufal − 2013/2011. In Universidade Federal de Alagoas, livro dos 50 anos − 2011. A Universidade Federal de Alagoas resultou de uma série de fatores, em meio ao que Azanha denominou “problema nacional”. Azanha (1993, p. 70) discute no artigo “Políticas e Planas de Educação no Brasil”, a política, ou falta de política educacional no Brasil, ao longo da história. Segundo ele, essa ausência demorou a se tornar um problema nacional: a necessidade de políticas públicas eficientes e eficazes para a educação nacional. Ainda de acordo com Azanha, os problemas nacionais da educação brasileira são relativamente recentes. Antes disso, as questões educacionais estiveram circunscritas à formação dos filhos das famílias abastadas e ao recrutamento de funcionários nas administrações colonial e imperial, não constituindo problema nacional. Para esse autor, o problema nacional só ocorre quando a consciência crítica se generaliza e se difunde amplamente na sociedade, gerando pressão social. Acompanhando uma tomada nacional de consciência da necessidade de universidades, houve em Alagoas, nos últimos anos da década de cinquenta, grande mobilização pela criação de uma Universidade Federal. Decorreram as pressões sociais da precária situação financeira das faculdades existentes, especialmente a de Medicina, que já contava dez anos de existência e havia iniciado uma campanha por sua federalização. Diante das dificuldades da Faculdade de Medicina, o seu então Diretor, Aristóteles Calazans Simões, acompanhado do deputado Padre Medeiros Netto, deslocou-se até Brasília para, em audiência, solicitar a federalização. Na ocasião o Presidente da República, JK, prometeu que atenderia ao pedido dos alagoanos, juntamente com os das faculdades de Juiz de Fora e Uberlândia (ITB, 1995, p. 299). Entretanto, em 1960, as duas faculdades foram federalizadas e a de Alagoas não, levando os dirigentes da Faculdade de Medicina a assinarem memorial dirigido à Presidência, reivindicando o mesmo tratamento dado às mencionadas faculdades. Essa movimentação pela federalização coincidiu com a mobilização nacional por expansão universitária. Estando as demais faculdades em situação financeira também difícil, estas se reuniram no salão nobre da Faculdade de Medicina, em 11 de agosto de 1960, 60 decidindo pleitear, também através de memorial, aquilo que as outras unidades federativas estavam solicitando: uma Universidade Federal. Para tanto, buscaram o apoio dos representantes dos três poderes do Estado, que se incorporaram ao movimento das faculdades privadas, enviando, finalmente, a seguinte correspondência ao Presidente JK, assinada pelo Governador do Estado, pelos Presidentes da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça, e por representantes das instituições de ensino superior (ITB-1995, p. 300/3001): EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA O Governo do Estado de Alagoas, representado pelos seus três poderes e as diretorias de suas Escolas Superiores apelam para Vossa Excelência, no sentido de que, atendendo às necessidades vitais do Ensino Superior neste Estado, remeta mensagem ao Poder Legislativo para que seja, a exemplo do que já foi feito em outros Estados da Federação, criada a Universidade de Alagoas. Releva lembrar, neste instante, a Vossa Excelência, que o Estado de Alagoas é parcela integrante do Nordeste Brasileiro, para o qual vem o Governo da República, lançando as suas vistas, concedendo-lhe benefícios dos quais, há muito, vinha carecendo. A criação de uma Universidade trará, para este Estado, vantajosas consequências, não só de ordem cultural, mas econômica e social que só em ocorrer toda vez que acontecimento de tanta relevância se torna realidade. Esperando, pois, que Vossa Excelência, em mais um dos elevados gestos que têm enaltecido o seu governo, atenderá ao que solicitam, subscrevem-se, muito atenciosamente. Doutor Sebastião Muniz Falcão - Governador do Estado Desembargador Edgar Valente de Lima - Presidente do Tribunal de Justiça Deputado Claudenor Albuquerque Lima - Presidente da Assembleia Legislativa Professor Jayme de Altavila Melo - Diretor da Faculdade de Direito Professor Gastão Pereira da R. Oiticica - Diretor da Faculdade de Medicina Professor Everaldo de Oliveira Castro - Diretor da Escola de Engenharia Professor João Borba Gouveia - Diretor da Faculdade de Odontologia Professor Milton G. Ferreira - Diretor da Faculdade de Economia (ITB, 1995, p. 302/303) Verçosa (1997) introduz nessa narrativa a importante participação estudantil, que, segundo ele, os relatos sobre a criação da Universidade Federal de Alagoas insistem em secundarizar ou mesmo omitir. A partir do 2º Congresso Estadual dos Estudantes, realizado em Viçosa em junho daquele ano, e logo depois do Congresso Nacional em Belo Horizonte, o movimento estudantil de Alagoas decidiria intensificar uma campanha pela criação da Universidade do Estado. O Jornal da Diretoria da Faculdade de Medicina, que cobriu os dois Congressos, registraria a formação, pela União Estadual dos Estudantes de Alagoas, de uma Comissão Permanente para coordenar a mobilização. A 11 de agosto daquele ano, dia do Estudante, essa Comissão deflagraria uma campanha em reunião que contou com a presença dos representantes máximos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado e de vários dirigentes de faculdades (p. 124). Juntando a ação ao discurso, diz Verçosa (1997, p. 125), a reunião terminou com o supracitado memorial, que embora não tenha sido assinado pelo Presidente da entidade 61 estudantil promotora do ato, a ele se deveu a coordenação do movimento que culminou com a criação da Universidade de Alagoas. Acatado o pedido do Estado de Alagoas, foram então, em 4 de novembro de 1960, encaminhados ao Congresso Nacional o Projeto de Lei e exposição de motivos, que constituiu a Mensagem 428/1960, tendo sido votada a Lei 2.391, de 1960, sancionada no dia 26 de janeiro de 1961, na biblioteca do Palácio da Alvorada, às dez horas e trinta minutos, pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, instituindo a Universidade Federal de Alagoas (UFAL-2011). Foram reitores da Ufal desde então: Aristóteles Calazans Simões (1961-1971); Nabuco Lopes Tavares da Costa Santos (1971-1975); Manoel M. Ramalho de Azevedo (1975-1979); João Ferreira Azevêdo (1979-1983); Fernando Cardoso Gama (1983-1987); Delza Leite Gitaí (1987-1991); Fernando Cardoso Gama (1991-1995); Rogério Moura Pinheiro (1995-1999); Rogério Moura Pinheiro (1999-2003); Ana Dayse Rezende Dórea (2003-2007); Ana Dayse Rezende Dórea (2007-2011); Eurico de Barros Lôbo (2011-2014) (UFAL, 2012 − Relatório de Atividades 2011, p. 18). Alguns Indicadores da Ufal nos Últimos Cinco Anos A Ufal, em seus Relatórios de Gestão anuais, menciona que a instituição, com suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, representa vetor de desenvolvimento de Alagoas, reconhecendo que essa importância se acentua em face dos indicadores do estado, que se mostram os piores do País. A Universidade Federal de Alagoas publicou editais divulgando, em seu site, o número de oferta de vagas e matrículas. Nos Relatórios dos Exercícios constam os valores movimentados pela instituição e outras informações relevantes para este trabalho, que tem como objetivo demonstrar a relevância das fundações privadas para o ensino superior em Alagoas. Exercício 2007 No ano de 2007, a Ufal, através do Edital nº 03/2008 COPEVE/PROGRAD/UFAL, de 1º de setembro de 2006, assinado pelo Presidente da 62 Comissão Permanente do Vestibular − Copeve, Prof. Dr. Carlos Almeida de Lima, disponibilizou para aquele concurso, Processo Seletivo 2006/2007, 2.747 vagas, sendo 1.882 para os cursos diurnos e 865 para cursos noturnos. Houve um total de 22.081 concorrentes, tendo efetivamente sido matriculados no ano 2.817 alunos, totalizando um número geral de 12.944 matriculados (Ufal, 2009, p. 16). Ainda no site da Ufal, no programa de transparência, foi publicado o Balanço de 2008 do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), criado pelo Decreto nº 6.096/97, de 24 de abril de 1997. Neste se encontram relevantes informações, pois menciona as linhas e ações do seu programa de reestruturação e expansão. O Reuni é um plano de investimento para as Universidades Federais. Prevê, para a Ufal, um investimento na ordem de 129 milhões de reais em cinco anos, sendo R$ 90.189.562,92 para custeio e R$ 38.851.359,74 para recursos de capital. Explica o Balanço em comento: Para receber os recursos previstos no Reune as Universidades Federais Brasileiras precisaram apresentar projetos de reformulação que incluam, além do aumento de vagas, medidas como a ampliação ou abertura de cursos noturnos, a redução de custo por aluno, a flexibilidade curricular, a criação de novas arquiteturas curriculares e ações de combate à evasão. Os recursos orçamentário-financeiros relativos ao crescimento no orçamento da Ufal oriundos do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Reuni foram divididos em quatro grupos: (1) uma parcela será aplicada diretamente nos setores/unidades que promoverem a expansão de vagas na graduação, repartida proporcionalmente à contribuição dada por cada um desses setores/unidades ao programa de expansão; (2) uma segunda parcela será alocada na melhoria dos serviços comuns, tais como: limpeza, manutenção, segurança, iluminação, rede elétrica, rede interna da comunicação de dados, paisagismo, etc.; (3) uma terceira parcela será utilizada para aquisição de equipamentos e material permanente; e a (4) quarta parcela será destinada a fornecer suporte à expansão da Pós-Graduação Stricto Sensu. O Balanço indica metas em 2012 de crescimento quantitativo de 20% nas matrículas de graduação e pós-graduação; maior produtividade do processo pedagógico, associada à maior qualidade científica do trabalho docente e ao indispensável suporte tecnológico de servidores qualificados e capacitados; currículos mais flexíveis, interdisciplinares, atualizados, “produzindo não somente profissionais, porém indivíduos críticos e cidadãos intelectual e socialmente qualificados”. Também neste Relatório (Balanço/2008) mencionam-se os desafios da futura implantação do campus de Delmiro Gouveia, alto sertão alagoano, e de Santana do Ipanema, no médio sertão, justificando a 63 implantação de ações da Universidade Federal em microrregiões mais carentes (p. 2). Segundo o site da Ufal, no seu programa de transparência, na parte de relatórios/orçamentos, os recursos movimentados pela instituição para pagamento de suas despesas no exercício de 2007 foram de R$ 301.508.550,95, sendo R$ 298.677.619,11 de recursos do Tesouro e R$ 2.830.931,84 de outras fontes. Desses valores, 86% foram para pagamento de pessoal, o que equivale a R$ 259.540.133,52. A título de comparação de evolução de orçamento e oferta de vagas, seguem os números do exercício de 2006, segundo o relatório de gestão do exercício. Os recursos executados foram da ordem de R$ 252.614.397,13, sendo R$ 249.946.365,87 de recursos da União e R$ 2.668.031,26 de outras fontes de financiamento. Ingressaram na graduação 3.794 alunos. A instituição possui um alto investimento em pesquisa, eventos científicos e em qualificação de pessoal, sendo o único formador de mestres e doutores no estado até o ano passado (2012). Exercício 2008 O Edital 03/2007 COPEVE/PROGRAD/UFAL informa que o número de vagas para o ano de 2008 é de 3.347 para 61 cursos de graduação, sendo 2.707 vagas para o Campus de Maceió e 640 vagas ofertadas para 16 cursos de graduação no Campus Arapiraca − AL. Foram matriculados no período 3.405 alunos, totalizando o número de 14.775 alunos matriculados na instituição em graduação. Desses, 4.951 foram concorrentes de Arapiraca, lá tendo sido matriculados 684 alunos, possuindo um número geral de inscritos de 1.673. Foram diplomados em 2008, 2.100 alunos, e em 2007, 2.013. O sistema utilizado para o vestibular foi o PSS (Sistema de Seleção Seriado Unificado), regulamentado pelas Resoluções 01/2007 CONSUNI/UFAL, de 15 de janeiro de 2007, e CONSUNI/UFAL, de 5 de março de 2007, para os anos de 2008, 2009 e 2010. No Relatório de Gestão Ufal 2008 (p. 17) consta no seu sistema de pós-graduação stricto sensu o número de 284 alunos ingressantes e 629 matriculados, em 19 programas de mestrado; e 141 alunos em três programas de doutorado. Menciona ainda o Relatório que em face da discussão quanto aos cursos de especialização pagos, foram ofertados apenas cinco cursos, neles sendo matriculados 180 alunos (p. 18). 64 O orçamento executado pela Ufal, no exercício de 2008, foi de R$ 323.392.726,15, sendo R$ 320.251.770,31 provenientes do Tesouro e R$ 3.140.955,84 de outras fontes. Destes, o valor de R$ 281.409.085,36 foi utilizado para pessoal, o que representa 87% do total. Exercício 2009 O Edital Nº 01/2008 COPEVE/PROGRAD/UFAL divulgou o concurso vestibular que selecionou alunos de graduação para o exercício 2009 (2009/2010/2011), tendo tornado público o número de vagas disponibilizadas para os concorrentes. Foram 4.103 vagas ofertadas para 61 cursos; destas, 3.323 vagas para o Campus Ufal Maceió, em 45 cursos, e 776 vagas ofertadas em 16 cursos para o Campus Ufal Arapiraca. A Ufal informa no Relatório Gestão 2009 que concorreram em Maceió 20.752 pessoas, e em Arapiraca, 5.531. Ingressaram em Arapiraca, 799, totalizando um número de matriculados naquele campus de 2.370, e na instituição de 17.278. Destes, 14.908 no Campus de Maceió. Das 85 turmas ofertadas, 59 são diurnas e 26 noturnas (p. 27). Ainda consta do Relatório que desde a criação do Programa de pós-graduação stricto sensu a Ufal já titulou 1.129 mestres e doutores, atendendo desse modo à demanda interna do estado de Alagoas. (p.88). Na pós-graduação lato sensu foram matriculados 904 alunos; destes, 270 ingressantes em seis cursos, e 766 concluintes. Na pós-graduação stricto sensu a instituição ofertou 21 programas de mestrado e seis de doutorado, ingressando 331 mestrandos e 30 doutorandos, estando matriculados 974 mestrandos e 152 doutorandos (p. 30/31). A Ufal movimentou no exercício um total de recursos de R$ 329.508.846,00. Desses valores, R$ 324.493.908,00 foram procedentes do Tesouro e R$ 5.014.938,00 de outras fontes, tendo sido despendido com pessoal o montante de R$ 269.523.095,00, correspondente a 81,8% do total do orçamento. O Relatório registra uma despesa de R$ 367.967.377,00 para o período, sendo de interesse destacar a despesa mencionada com afastamentos País/Exterior, com Docentes da instituição, totalizando um montante de R$ 6.508.696,34, e com o pessoal técnicoadministrativo, R$ 1.055.012,64 (p. 210). O quadro permanente de pessoal era de 1.187 docentes, 77,42% com dedicação 65 exclusiva, o que corresponde a um total de 919 professores; 11,03% possuem 40 horas semanais de trabalho, o que equivale a 131 professores, e 137 docentes possuem 20 horas semanais de trabalho, o que corresponde a 11,54%. Constam em seu quadro de recursos humanos: 2.693 servidores estatutários, 105 celetistas, 71 de livre provimento e 611 servidores terceirizados, totalizando 3.480 servidores, registrando uma defasagem entre a situação real e a ideal de 1.296 servidores (p. 130). A titulação dos docentes do quadro permanente foi assim classificada: Titulação Docentes % Doutores 558 47 Mestres 422 35,55 Esp/aperfeiçoamento 155 13,05 Graduados 52 4,38 Exercício 2010 Em 2010, através do Edital Nº 02/2009 COPEVE/PROGRAD/UFAL (Retificado), a Ufal convocou alunos para o preenchimento de 4.795 vagas de graduação, distribuídas em 69 cursos. Foram 3.463 em 45 cursos para o Campus Ufal Maceió, 770 vagas em 16 cursos para o Campus UFAL Arapiraca, e 560 vagas, em oito cursos, para o Campus Ufal Sertão (Delmiro Gouveia). Isso quanto ao ingresso, através do PSS, para 2010 e 2011. O relatório de Gestão da Ufal 2010 complementa essas informações, registrando que concorreram neste vestibular, em Maceió, 23.346 alunos, tendo sido realizadas 4.443 matrículas, numa concorrência de 5,59 por vaga. Em Delmiro Gouveia (Campus Sertão), concorreram 1.250 pessoas e foram preenchidas 494 vagas, numa concorrência de 2,61 para cada vaga; e em Arapiraca, concorreram 6.077 pessoas, tendo sido preenchidas 776 vagas, numa concorrência de 8,25 para cada vaga. Em Maceió concluíram a graduação, no ano de 2010, 1.618 pessoas, totalizando um número geral de matrículas de 16.736. Em Arapiraca graduaram-se 35 pessoas, totalizando um número geral de matrículas de 2.846. A instituição possuía um total geral de 20.064 alunos matriculados na graduação (p. 28). Na pós-graduação lato sensu a instituição possuía 1.166 alunos matriculados em 66 2010 e iniciou seis cursos. Na pós-graduação stricto sensu, nos 23 programas de mestrado, possuía 838 alunos, e nos seis de Doutorado, 174 (p. 30). Para movimentar sua estrutura a Ufal movimentou R$ 387.333.125,00, destes, 383.047.404,00 foram procedentes do Tesouro Nacional e R$ 4.285.721,00 de outras fontes. Nesse Relatório há uma tabela interessante que demonstra a evolução do orçamento dos últimos dez anos da Ufal. Segundo o documento, em 2000 era de R$ 108.172.855,00; em 2006, de R$ 221.101.988,00; no ano seguinte, já era de R$ 301.508.551,00, chegando de forma crescente ao atual patamar (p. 48/49). Exercício 2011 O Edital 01/2010 COPEVE/PROGRAD/UFAL convocou para seleção os interessados nas 5.193 vagas que ofertaria no ano de 2011 em 77 cursos de graduação. Dessas vagas, 3.663 destinavam-se ao Campus Ufal Maceió, em 50 cursos; 890 vagas, em 19 cursos, para o Campus Ufal Arapiraca e 640 vagas, em oito cursos, ao Campus Sertão, em Delmiro Gouveia. O Relatório de Gestão do Exercício informa que foram matriculados 2.093 alunos para cinco cursos a distância (EAD). Foram registradas 1.591 matriculas em 16 cursos de especialização e disponibilizadas 3.314 bolsas para graduação e 470 para a pós-graduação. Sessenta e oito cursos de graduação são diurnos e 32 noturnos (p. 32). Na pós-graduação stricto sensu estão matriculados 1.359 alunos; desses, 1.104 estão nos programas de mestrado e 255 nos de doutorado (p. 32). O documento registrou um total de 1.384 professores; desses, 1.140 com dedicação exclusiva, 116 com 40 horas e 128 com 20 horas, mencionando encontrar-se afastados 98 professores e quatro cedidos. Estavam em programa de pós-graduação, em 2011, 87 professores: 33 em pós-doutorado, 53 em cursos de doutorado e um mestrando. Estavam em programas de qualificação sete servidores da área administrativa: seis em programas de doutorado e um em mestrado. O orçamento da instituição para o período registra um montante de R$ 443.305.971,19. Desse valor, R$ 438.173.674,19 procedem do Tesouro Nacional e R$ 5.132.297,00 de outras fontes. Desses recursos, R$ 291.366.698,00 foram destinados a gastos com pessoal, mais R$ 97.731.889,74 na Conta Outras Despesas − Custeio e Capital, para 67 pagamentos de benefícios, assistência pré-escolar, auxílio transporte, auxílio alimentação, assistência médicas dos servidores – exames periódicos (p. 58). As informações constantes dos Relatórios são procedentes da Pró-reitoria de Gestão Institucional (p. 4). Nos exercícios de 2007 a 2011, foram gestores: Reitora − Ana Dayse Rezende Dórea e Vice-Reitor − Eurico de Barros Lôbo Filho. Estrutura Organizacional: Órgãos superiores: Conselho Universitário − Consuni, Conselho de Curadores, Cura e Reitoria. Reitoria: Gabinete da Reitoria; Gabinete da Vice-Reitoria; Pró-reitorias; Órgãos de Assessoramento; Órgãos de Apoio Acadêmico e Órgãos de Apoio Administrativo. Pró-reitorias: Graduação, Pesquisa e Pós-graduação; Extensão Estudantil; Gestão de Pessoas e do Trabalho; e Gestão Institucional. Órgãos de Assessoramento: Procuradoria-Geral; Controladoria-Geral; Ouvidoria Universitária e Assessoria. 68 CAPÍTULO III 1. A FEJAL/CESMAC 1.1 A ideia da Criação das Faculdades Em 1971, num encontro casual na antessala da Secretaria de Educação e Cultura, entre padre Teófanes de Barros e o Deputado Tarcísio de Jesus, parlamentar envolvido com atividades educacionais em nosso Estado, este sugeriu ao padre a criação de uma faculdade de Direito para funcionar no período noturno, a fim de possibilitar à juventude que trabalhava durante o dia uma formação de nível superior. A ideia evoluiu para a criação, também, de uma faculdade de filosofia, outra de administração e a implantação de um instituto de psicologia (FEJAL, 2006). A narrativa é parte da história da criação da Fejal, apresentada de forma breve, porém muito bem escrita pelo engenheiro Laércio Madson de Amorim Monteiro, 1° Tesoureiro da Fejal e um de seus protagonistas, em Relatório de Atividades dos anos 2001 a 2005. Editada em 2006, pela Fundação, presta contas dos primeiros anos de gestão da diretoria presidida pelo Dr. João Rodrigues Sampaio Filho e é a semente da segunda maior instituição de ensino superior de Alagoas, a maior de natureza privada. A partir daí, o padre Téofanes de Barros passou a, de forma obstinada, perseguir este objetivo: criar em Maceió faculdades noturnas que pudessem atender os jovens e adultos trabalhadores. Padre Teófanes, como era conhecido, era um expoente da educação em Alagoas. Foi fundador e presidente da Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, entidade que funcionava há 34 anos. Já havia criado a primeira Faculdade de Filosofia, que foi absorvida pela Universidade Federal de Alagoas, tendo-a dirigido também. Diz Monteiro que o padre juntou um grupo de pessoas ligadas à educação em Alagoas: “Prof. Ranilson França, o contabilista Hermes Cavalcante de Oliveira, bacharel Teógenes Augusto de Araújo Barros, bacharel Carlos Barros Mero, o juiz de Direito Dr. Ivan Vasconcelos Brito, o bacharel Orlando Rocha Filho, o bacharel Hermann de Medeiros Torres e o economista Luiz Fernando Oiticica Lima.”¹. E ainda Radjalma Cavalcante, Edson Mário de Alcântara, entre outros (ITB, 1995, p. 310). Não conseguiu o grupo, inicialmente, adeptos poderosos para sua causa, nem na 69 sociedade, nem em instituições governamentais. Encontrou resistência por parte da Universidade Federal de Alagoas − Ufal, do reitor Nabuco Lopes (general reformado do Exército brasileiro) e não conseguiu o apoio do governador do estado, que era, também, professor da Ufal (Relatório Fejal/Cesmac, 2006, p. 16). Entretanto, o padre Teófanes tomou conhecimento da existência de um convênio entre a Prefeitura Municipal de João Pessoa e o Instituto Paraibano de Educação para a implantação de diversas faculdades que seriam mantidas pela municipalidade e enviou algumas pessoas de seu grupo para se informar com o professor paraibano Afonso Pereira. 1.2 A Adesão da Prefeitura de Maceió, do Governo do Estado, da Câmara de Vereadores e de Outras Autoridades da Política, da Educação e da Sociedade 1.2.1 A Criação das Unidades de Ensino Em seguida, padre Teófanes procurou o então prefeito, João Rodrigues Sampaio Filho, para que apoiasse a causa dos jovens trabalhadores. Após realizar pesquisa de opinião de comerciários, que acusou um grande anseio da categoria por curso superior noturno, o prefeito resolveu aderir à luta pela criação das unidades de ensino superior tão desejadas. Juntamente com padre Teófanes iniciou uma grande campanha, juntando-se ao grupo o então presidente da Assembleia Legislativa, deputado Divaldo Suruagy, o deputado Tarcísio de Jesus e o presidente da Câmara de Vereadores, Benedito de Lira. Foram feitas várias investidas na tentativa de sensibilizar o governador Afrânio Salgado Lages, levando-o a abraçar a causa. Com o apoio do governador, o prefeito João Sampaio, eleito de forma indireta, fortaleceu-se e cuidou de tomar as medidas necessárias à criação das faculdades. Determinou a elaboração e viabilizou a apresentação de projeto de lei na Câmara de Vereadores e a aprovação da Lei 2.044, de 20 de setembro de 1973, autorizando a formalização de convênio entre a Prefeitura de Maceió e a Sociedade Guido de Fontgalland, “entidade civil com fim filantrópico, reconhecida de utilidade pública pela Lei 1.762/70”, para instalação e manutenção de sete estabelecimentos de ensino superior, celebrado com a cláusula Ad perpetuam. 70 A - Faculdade de Direito de Maceió; B - Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Maceió; C - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió, com os seguintes cursos: 1) Letras - Licenciatura de primeiro e segundo grau; 2) Estudos Sociais; 3) História; 4) Educação Moral e Cívica; 5) Pedagogia - Licenciatura de primeiro e segundo grau; 6) Educação Artística - Licenciatura de primeiro e segundo grau; D) Faculdade de Ciências Agrárias de Maceió; E) Escola de Engenharia de Operações de Maceió; F) Escola de Biblioteconomia de Maceió; G) Instituto de Psicologia de Maceió. Na Câmara de Vereadores, para levar adiante a meta do grupo pró-criação da “universidade autônoma”, contou-se com o valioso apoio do então vereador, seu líder, hoje senador e conselheiro nato da Fejal, Benedito de Lira. Bacharel em Direito, também oriundo do “ambiente educacional”, não mediu esforços para, de forma célere, apresentar e votar os projetos que viabilizariam a criação das faculdades tão desejadas pelos alagoanos (Fejal, 2006). Contrário ao entusiasmo da equipe de João Sampaio e do então vereador Benedito de Lira, estava o vereador arenista Adalberto Leão Viana. Entendia que a Prefeitura não possuía condições financeiras para arcar com a despesa dos cursos, justificando sua posição no convencimento de que a Prefeitura de Maceió estava seriamente comprometida, já que, na ocasião, a Casa Legislativa estava a apreciar pedido de empréstimo de 18 milhões ao Banco do Nordeste (Jornal de Alagoas − 14.9.1973). Por sua vez, a argumentação firme de Benedito de Lira era no sentido de que seu companheiro de bancada se sensibilizasse pela causa, pelo fato de que tal “universidade” iria abrir novos rumos para a formação universitária de centenas de alagoanos que não podiam frequentar a Universidade Federal de Alagoas. Ressaltou que o prefeito João Sampaio apenas atendia a um grupo de educadores que se viu dificultado de, por outros meios, criar esses 71 cursos superiores. Acrescentou que isso não oneraria o município, pois a prefeitura estava tão só emprestando seu nome, pois a manutenção dos estabelecimentos de ensino seria de responsabilidade da Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, apenas com a ajuda da municipalidade, na medida de sua possibilidade. Essa discussão ocorrida na Câmara Legislativa do Município de Maceió, e que foi reproduzida em reportagem do Jornal de Alagoas, publicada em 14 de setembro de 1973, deixa claro que o interesse, desde a primeira hora, era que as Unidades Educacionais se autossustentassem. A ideia de uma “Universidade Autônoma” encampada pela Prefeitura de Maceió, pessoa jurídica de direito público, e que culminou com a constituição de uma fundação privada, nunca foi de criação de instituição pública. O que se pretendeu sempre e de fato era a criação de uma fundação privada. A lei ora comentada foi publicada na data de sua sanção, 20 de setembro de 1973, na Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal de Maceió, Já no Diário Oficial do Estado, na parte do Poder Executivo Municipal, em 9 de outubro de 1973, por não existir, à época, Diário Oficial do Município. O artigo 4° da mencionada legislação autorizava o prefeito de Maceió a consignar, anualmente, no orçamento global do município, recursos indispensáveis à Sociedade Guido de Fontgalland, a serem distribuídos equitativamente entre as diversas unidades de ensino que se estava criando. O convênio foi firmado entre o Município de Maceió e a Sociedade Colégio Guido, assinado no Salão de Despachos do Palácio Floriano Peixoto, em solenidade presidida pelo Governador Afrânio Lages (Fejal, 2006, p. 20). Logo em seguida foi publicado, no mesmo dia da lei (que havia sido aprovada em 2.9.1973), em 5 de outubro do ano 1973, no Diário Oficial do Estado, na página 15. Estiveram presentes à solenidade, além do governador e do prefeito João Sampaio, o vice-governador José Tavares, o deputado Divaldo Suruagy, presidente da Assembleia Legislativa, o desembargador Ernani Dorvillé, presidente do Tribunal de Justiça, o reitor da Ufal, Nabuco Lopes, o coronel Laury Capistrano, comandante da Guarnição Federal em Maceió, o juiz federal Carlos Gomes de Barros, o deputado Theobaldo Barbosa, o cônego Teófanes Augusto de Barros, presidente da Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, o vereador José Figueiredo, presidente da Câmara Municipal de Maceió, Sr. Nelson Tenório, 72 presidente do Mobral no município, o industrial Tércio Wanderley, secretários de estado, parlamentares, diretores de sociedade de economia mista, jornalistas, professores e estudantes (Gazeta de Alagoas, 6.10.1973). No convênio cabia à Sociedade Colégio Guido de Fontgalland aceitar os encargos de implantação, instalação, funcionamento e manutenção da faculdade e institutos criados pela Lei Municipal 2.044/73, utilizando para isso recursos provenientes de subvenções e de auxílios públicos e privados, oriundos de acordos, convênios, taxas e anuidades escolares. A responsabilidade da Prefeitura seria, na medida de suas disponibilidades orçamentárias e financeiras, nos termos da já mencionada lei, conceder recursos para subsidiar as despesas com a implantação das diversas unidades objeto do convênio, consignados de forma global no orçamento do município, podendo colaborar ainda por outros meios, como ceder servidores, instalações e serviços. A Sociedade Colégio Guido ficaria responsável por apresentar, anualmente, à Prefeitura plano de ação administrativa, acompanhado de relatório circunstanciado do orçamento programa e dos orçamentos analíticos. Nestes, de modo obrigatório, se especificariam as dotações determinadas às unidades em funcionamento ou por funcionar, respeitada a prioridade de sua aplicação. A Sociedade teria total autonomia didática, administrativa, disciplinar, financeira e de escolha de seus diretores. A novidade movimentou a mídia oficial e comercial. Ansiava-se pela instalação das unidades de ensino. Todos os meios de comunicação escrita trataram da novidade. As manchetes eram as seguintes: Gazeta de Alagoas: “Maceió terá Universidade Autônoma este ano”, 5.9.1973; Jornal de Alagoas: “Prefeitura quer criar este ano universidade autônoma em Maceió”, 5.9.1973 e “Universidade Autônoma de Maceió deverá funcionar com oito cursos ao ser aberta”, 7.9.1973; Gazeta de Alagoas: “Previsto funcionamento de escolas integradas”; 13.9.1973 e “Vereador é pessimista quanto à criação em Maceió de uma Universidade autônoma”, 14.9.1973; Jornal de Hoje: “João Sampaio ouve apelo da juventude alagoana e cria Universidade Autônoma”, 16.9.1973; Gazeta de Alagoas: “Alagoas ganha mais uma Universidade”, 6.10.1973, “Universidade Autônoma de Maceió”, 7.10.1973 e “Maceió terá 7 novas escolas de nível superior”, 9.10.1973. Outras matérias, além das mencionadas, que abordam o processo de discussão, 73 votação, apresentação ao Conselho Estadual de Educação, aprovação e toda a luta para viabilização da implantação das unidades de ensino, foram disponibilizadas, em cópias, para esta pesquisa, pelo arquivo pessoal do Dr. João Rodrigues Sampaio Filho. No Diário Oficial do dia da Publicação da Lei Municipal 2.044/73, terça feira, 9 de outubro de 1973, na parte jornalística, na primeira página, em manchete lê-se: “LEI CRIA SETE ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR EM MACEIÓ”. A matéria noticia a criação das unidades de ensino e resume o conteúdo da lei, nominando as quatro faculdades, duas escolas e um instituto. No mesmo Diário Oficial, à folha 16, transcreve-se o discurso do prefeito João Sampaio, sob o título “Universidade Autônoma de Maceió”. O então prefeito de Maceió assim inicia seu discurso: Debruçamo-nos diante da perspectiva honrosa de proporcionar à juventude de nossa terra mais uma oportunidade de estudo e aperfeiçoamento. Vislumbramos, nesta solenidade de criação da Universidade Autônoma de Maceió, a possibilidade de abertura de novos horizontes para jovens e adultos desejosos de conciliar estudo com trabalho. Antevemos, neste ato, a concretização de sonhos de pessoas que lutam, desesperadamente, por uma chance para mais saber, mais ser, mais valer e mais ter. Prevemo-la, sobretudo como um ato a refletir fé e confiança nos destinos de nossa gente. Esta não é, absolutamente, uma conquista, exclusiva, da Equipe João Sampaio, mas uma vitória, toda inteira, da sociedade estudiosa e intelectual das Alagoas. Destaca-se nessa fala um tema relevante: o de que pretendiam algumas autoridades e educadores registrar como tônica política daquela década a educação. Confiamos no sucesso do empreendimento, principalmente, por estar o mesmo sobre os costados do cônego Teófanes, mestre de várias gerações e primeiro emérito da educação, em nossa terra, além de cidadãos da estirpe de Ivan Vasconcelos, de um Hermann Torres e de um Tarcísio de Jesus, para só citar aqueles com os quais iniciamos os primeiros diálogos. Pareceu-nos, assim, com o nosso apoio, adubar a semente fincada à terra pelo líder Divaldo Suruagy, ao criar e desenvolver a Fundação Educacional de Maceió – FEMAC, porfiando, no Governo Municipal de Maceió, pelo desenvolvimento do setor educacional. Desejamos, agora com esta tomada de posição, engrossar as fileiras do Município na linha de frente desta Batalha. Almejamos, também, somar nossos esforços à peleja enfrentada, valentemente, pelo Prof. Afrânio Lages, em investir, prioritariamente, em educação. Pretendemos, ao lado do Prof. Nabuco Lopes, oferecer mais uma opção e oportunidade à classe estudantil do nosso município, senão também de nosso Estado. Objetivamos, enfim, fornecer ao Governo Revolucionário mais uma etapa vencida em sua luta estafante de fazer desta década a da educação. O prefeito João Sampaio encerra o seu discurso reconhecendo a participação de todos os entes políticos importantes no processo de constituição daquilo que seria um marco para a educação superior em Alagoas: 74 Equipe João Sampaio, Sociedade Guido de Fontgalland, Governo Estadual, Universidade Federal de Alagoas, Assembléia Legislativa Estadual, Câmara Municipal, enfim, o processo revolucionário dinâmico e atuante oferta a nossa terra a Universidade Autônoma. Seus frutos brotarão, a longo prazo, em benefício do torrão comum. A semeadura está lançada. Temos certeza de que a colheita será de boa qualidade e abundante. Depreende-se dos escritos jornalísticos da época a certeza de que, com a criação das Unidades Educacionais e com a assinatura do Convênio, seria obtida a aprovação de seu funcionamento pelo Conselho Estadual de Educação, a autorização federal e, consequentemente, a instalação dos cursos. Havia sido este o procedimento adotado em João Pessoa, na Paraíba. Apresentada a documentação ao Conselho Estadual de Educação, este emitiu o parecer de número 48/73, autorizando o funcionamento das novas instituições de ensino. Em seguida, o processo foi enviado ao Departamento de Assuntos Universitários do Ministério da Educação e Cultura, para conclusão da burocracia necessária: a lavratura do decreto de autorização, que seria assinado pelo presidente da República, Ernesto Geisel, e pelo ministro da Educação, Jarbas Passarinho (Fejal, 2006, p. 20 e Gazeta de Alagoas de 13.9.1974 − Discurso do senador Arnon de Melo). 1.2.2 As Dificuldades no Âmbito do Governo Federal Narra o relatório de atividades da Fejal (2006) que, chegando o processo ao Ministério da Educação, o assessor do ministro, Newton Sucupira, alagoano, aconselhou-o a consultar o Conselho Federal de Educação sobre a possibilidade de proceder com o processo de Alagoas de modo idêntico ao processo de João Pessoa. Ocorreu, entretanto, uma série de entraves ao projeto de implantação dos cursos, em face do Parecer do CFE de nº 2.377/74; este afirmava que a autorização para o funcionamento das escolas não havia atendido às exigências da Lei 5.540/68 (ITB, 1995, p. 312). Os obstáculos motivaram as autoridades a se manifestar no sentido de cobrar ao Ministério da Educação solução ágil para a implantação do projeto educacional dos maceioenses. O governador Afrânio Lages e o seu secretário de educação, Jayme Lustosa de Altavila, fizeram gestões junto ao Ministério, sem sucesso. O prefeito João Sampaio enviou 75 como seu representante o Dr. Laércio Madson de Amorim Monteiro − então coordenador municipal de planejamento, hoje 1º tesoureiro da entidade e autor do Relatório de Atividades multimencionado −, a Brasília para, ao lado do padre Teófanes e do senador Luiz Cavalcante, tratar do assunto com o ministro Jarbas Passarinho. Neste período, o senador Arnon de Melo teve atuação fundamental, discursando na tribuna do Senado, cobrando das autoridades afetas à área do ensino uma solução para a implantação dos cursos superiores (Fejal, 2006). Em Maceió, o vereador Benedito de Lira pronunciou um inflamado discurso na Câmara, divulgado pela Gazeta de Alagoas, com a manchete: “Universidade Autônoma é tema de pronunciamento na Câmara”. Assim finalizou: Ante tão flagrante contradição entre as palavras e os atos daquele ilustre alagoano que, senhor de uma cultura vastíssima, tanto tem projetado nosso Estado como o Brasil, eu conclamo os senhores vereadores para levar ao Ministro Ney Braga, da Educação, e ao próprio Conselheiro Newton Sucupira, o apelo oficial desta Casa no sentido de que se fazendo respeitar a autonomia do Conselho Estadual de Educação, acatando-se, assim, a Lei que regula a matéria, faça-se funcionar a Universidade Autônoma de Maceió, pela qual milhares de jovens pobres que trabalham durante o dia, assegurando a sobrevivência, esperam como sol luminoso mostrando aos amplos caminhos ao futuro, sem receios e sem incertezas. É preciso que nossas vozes se juntem à voz do preclaro senador Arnon de Mello, atalaia colocado em posição de permanente defesa dos mais legítimos desejos da juventude alagoana, pedindo que prossiga em sua batalha e a ela se integre toda a bancada alagoana no Congresso Nacional, pois esta causa não é de ninguém, porque pertence a todos (Jornal do arquivo pessoal do Dr. João Sampaio). O Jornal de Alagoas também noticiou, em 8 de novembro de 1973: “Prefeito pede o interesse de Passarinho no processo da Universidade Autônoma”; e a Gazeta de Alagoas: “Sampaio pede apoio ao Ministro para a Faculdade Autônoma”. Esta última matéria informa mensagem telegráfica enviada pelo Prefeito João Sampaio ao então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho. Idêntica mensagem foi encaminhada aos senadores Arnon de Mello e Luiz Cavalcante, aos deputados federais Geraldo Bulhões e José Sampaio, aos coronéis José Barros Paes, Confúcio Pamplona e Octávio Costa, e aos Srs. Aurélio Viana e Oséas Cardoso. A mensagem era a seguinte: Em meu nome e do povo de Maceió, solicito e agradeço todo interesse que Vossa Excelência dispensar ao andamento do processo referente à escola superior criada pela Prefeitura Municipal de Maceió. O entrave no processo se dava pela forma como queriam − o município de Maceió e o padre Teófanes − criar os cursos: mediante convênio. Pois a Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação 76 com a escola média e dava outras providências (revogada pela Lei 9.394/1996), estabelecia em seu artigo 4º: As universidades e os estabelecimentos de ensino superior isolados constituir-se-ão, quando oficiais, em autarquias de regime especial ou em fundações de direito público e, quando particulares, sob a forma de fundações ou associações. E ainda, o Decreto-Lei 200/67, com as alterações que lhe deu o Decreto-Lei 900, de 29 de setembro de 1969, que estabelecia normas para a reforma do Estado, dizia: Art. 2º Não serão instituídas pelo Poder Público novas fundações que não satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos: a) dotação específica de patrimônio, gerido pelos órgãos de direção da fundação segundo os objetivos estabelecidos na respectiva Lei de criação; b) participação de recursos privados no patrimônio e nos dispêndios correntes da fundação, equivalente a, no mínimo, um terço do total; c) objetivos não lucrativos e que, por sua natureza, não possam ser satisfatoriamente executados por órgão da Administração Federal direta ou indireta; d) demais requisitos estabelecidos na legislação pertinente a fundação. (art. 24 e seguintes do Código Civil). Art. 3º Não constituem entidades da Administração Indireta as fundações instituídas em virtude de lei federal, aplicando-se-lhes, entretanto, quando recebam subvenções ou transferência à conta do orçamento da União, a supervisão ministerial do que tratam os artigos 19 e 26 do Decreto-Lei 200, de 25 de fevereiro de 1967 (Revogado pelo Decreto-Lei 2.299, de 21.11.1986). 1.2.3 O Cumprimento das Exigências do Parecer do Conselho Federal de Educação de nº 2.377/74 Tratava-se, evidentemente, de legislação federal, não possuindo Alagoas legislação que tratasse da matéria. Entretanto, os alagoanos precisavam dos cursos, e o Governo Federal, governo militar, atuando nele os ministros da Marinha, Exército e Aeronáutica Militar, fundamentados nos Atos Institucionais números 5/68 e 12/69, era quem os autorizava. Obviamente não havia senão fazer conforme o determinado pelo Ministério: criar os cursos através de fundação privada. O Decreto-Lei 900/69 já deixava clara a intenção de descentralização, de privatização, de minimização das ações do Estado. Na alteração do artigo 172 constava: O Poder Executivo assegurará autonomia administrativa e financeira, no grau conveniente aos serviços, aos institutos e estabelecimentos incumbidos da execução de atividades de pesquisa ou ensino ou de caráter industrial, comercial ou agrícola, que, por suas peculiaridades de organização e funcionamento, exijam tratamento diverso do aplicável aos demais órgãos da Administração direta, observada sempre a supervisão ministerial. E na alínea b do art. 146: 77 Obedecidas as diretrizes, princípios fundamentais e demais disposições da presente lei expedirá progressivamente os atos de reorganização, reestruturação, lotação, definição de competência, revisão de funcionamento e outros necessários à efetiva implantação da reforma. Foi então sancionada uma nova Lei Municipal, a Lei nº 2.133, de 16 de agosto de 1974, publicada no Diário Oficial do Estado no dia seguinte. Esta conferia nova redação aos artigos 2º, 3º e 4º da Lei Municipal 2.044, de 20 de setembro de 1973, aquela que criara as Faculdades, Escolas e Instituto. A Lei 2.133/74 dizia que os estabelecimentos de ensino a que se referia a Lei 2.044/73 seriam mantidos por fundação a ser instituída pela Prefeitura Municipal de Maceió; que o prefeito providenciaria o distrato do convênio celebrado com a Sociedade Colégio Guido de Fontgalland; autorizava o prefeito a praticar todos os atos necessários à constituição da fundação a que se referia aquela lei, concedendo-lhe a denominação que entendesse conveniente e compondo seus órgãos de administração. Autorizava, ainda, a mencionada lei, ao prefeito: a) a doar, para a Fundação, imóvel para instalação das unidades e cursos criados; b) a consignar, anualmente, no orçamento municipal recursos nunca inferiores a duzentos salários mínimos, em nome da fundação, para assegurar o perfeito funcionamento dos cursos; c) a abrir crédito especial de Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) para suprir as despesas iniciais com a implantação dos cursos e unidades de ensino criadas; d) a admitir a participação de recursos privados no patrimônio e nos dispêndios correntes da Fundação, na forma do artigo 2º do Decreto-Lei Federal nº 900, de 29 de setembro de 1969; e finalmente; e) a providenciar a instalação imediata das unidades e cursos a serem mantidos, podendo recorrer à locação de imóveis de terceiros, se aconselhável. Determinava a lei, ainda, que autorizado o funcionamento dos cursos, a Fundação promoveria a integração paulatina destes, de forma que, ao requerer reconhecimento, estejam estruturados em faculdades integradas, e que a distribuição de recursos obedeceria a planos de aplicação, prestadas as contas aos órgãos competentes, nos prazos legais. 78 1.3 Nasce a Fundação Educacional Jayme de Altavila Enfim, surgia a luz para resolver o impasse. Com observância da legislação federal e municipal e orientação do Ministério da Educação e do Conselho Federal de Educação, compareceram os instituidores ao Cartório do Bel. Lumar Fonseca de Machado, Tabelionato de Notas do 6º Ofício, em 27 de novembro de 1974, para criar a Fundação Educacional Jayme de Altavila – Fejal, mantenedora do Cesmac, Centro de Estudos Superiores de Maceió, através de escritura pública. A escritura pública de constituição da Fejal foi lavrada pela escrevente autorizada Zorilda Maria Nascimento da Silva e subscrita pelo escrivão público da Comarca de Maceió, Lumar Fonseca de Machado, naquele mesmo dia 27. Consta como 3º Traslado do Livro 163, fls. 165 verso a 132, “nos rigorosos termos dos artigos 2º e 3º do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, com a nova redação que lhe deu o Decreto-Lei nº 900, de 29 de setembro de 1969” e nos artigos 24 a 30 do Código Civil em vigor, à época (Escritura Pública de instituição da Fejal, 1974). Para se constituir, começa a existir na condição de pessoa jurídica de natureza privada. O estatuto da entidade foi registrado em 13 de dezembro de 1974, e inscrito no Livro ”A” nº 7, sob o número de ordem 809, do Registro de Pessoas Jurídicas do Cartório Heitor Martins. Tabeliã, Nadir Ramires Martins, Tabeliã do 4º Ofício e Oficial de Registro de Títulos e Documentos Particulares e Outros Papéis, após muito bem posto, Termo de Aprovação dos Estatutos da Fundação Educacional Jayme de Altavila, do 3º Promotor Púbico da Capital, Dr. Manoel Correia Costa Filho. Exarado em data de 4 de dezembro de 1974, firmada nas seguintes bases: Instituidores: Prefeitura Municipal de Maceió, representada pelo prefeito João Sampaio Filho e pelo padre Teófanes Augusto de Araújo Barros; Sede e foro: Cidade de Maceió; Sem objetivo lucrativo; Fins Gerais: educacionais, culturais e sociais, “que por sua natureza, não podem ser satisfatoriamente executados por órgão da administração direta ou indireta12; 12 Art. 19 do antigo Código Civil (de 1916) e Lei 4.857/39: Termo de Aprovação dos Estatutos da Fundação Educacional Jayme de Altavila. 79 Fins Específicos/atividades: a) manter estabelecimentos de qualquer natureza, em especial de grau superior, compatíveis com as necessidades atuais ou próximas da região; b) promover estudos e pesquisas no domínio das letras, das atividades públicas e privadas, tendo por escopo o aprimoramento do cidadão e a melhoria de suas condições de vida; c) articularse com entidades congêneres e outras, sempre que necessário para a consecução de seus objetivos; Objetivo inicial: manutenção das escolas superiores do município de Maceió, criadas pelo Município de Maceió e autorizadas a funcionar pelo Decreto nº 74.520, de 9 de setembro de 1974, publicada no Diário Oficial do dia seguinte, nos termos do artigo 8º da Lei 5.540, de 26 de novembro de 1968, com o nome de Centro de Estudos Superiores – Cesmac; Proporção na constituição: 2/3 de recursos públicos e 1/3 de recursos privados; Prazo de Duração: indeterminado; Legislação aplicável: Decreto-Lei 200, de 25 de fevereiro de 1967, com a redação que lhe deu o Decreto-Lei 900, de 29 de setembro de 1969 e artigo 24 e seguintes (hoje, 62 e seguintes), pertinente a Fundações, do Código Civil Brasileiro; Dotação inicial: Prefeitura de Maceió − um imóvel localizado no Jacintinho, constituindo-se de um lote próprio, localizado na Rua Coronel Paranhos, nesta Capital, avaliado em quatrocentos mil cruzeiros e o valor em moeda corrente de cinquenta mil cruzeiros, para atendimento das despesas iniciais. Padre Téofanes Augusto: dois lotes de terreno próprios, no loteamento ou desmembramento São José, na Cruz das Almas, nesta capital, valorado em cento e sessenta mil cruzeiros, superando ligeiramente o mínimo de um terço exigido. Os imóveis dados como dotação à instituição da Fundação foram escriturados e registrados como doação pura e simples. O imóvel dotado pelo município foi escriturado em 13 de março de 1975, nas Notas do 6º Ofício da Capital, escriturado e subscrito pelo Tabelião Substituto Núbio Mario da Rocha Moura, como 2º Translado do Livro 136, fls. 71, verso. Escritura Pública registrada no Cartório do 1º Registro de Imóveis e Hipotecas de Maceió, no Livro nº 2-B, fls. 196, número 1 − Mat. 821, em 16 de março de 1976. O imóvel doado pelo padre Teófanes Augusto de Barros foi escriturado em 13 de março de 1975, nas notas do 6º Ofício da Capital, como 2º Translado do Livro 136, fls. 72 e verso, e sua Escritura Pública registrada em 16 de março de 1976, no Cartório do 1º Registro 80 de Imóveis e Hipotecas de Maceió, no Livro Nº 2-B, fls. 197, Registro número 1- Mat. 822, 97. A Fundação foi registrada no Cadastro Geral de Contribuintes em 16 de fevereiro de 1975 e recadastrada no atual Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas sob o número 12.207.724/0001-71. 1.3.1 Os Primeiros Diretores e Conselheiros Os primeiros integrantes dos órgãos da Fundação foram indicados e empossados pelos instituidores e constam da certidão de registro do estatuto da entidade. O órgão de deliberação máxima foi denominado, equivocadamente, de Assembleia Geral, que é órgão de associação e de sociedade, não de Fundação, tendo estas, como órgão superior, a denominação de Conselho Deliberativo ou Conselho Curador. Seus integrantes possuem mandatos vitalícios. Os Órgãos ficaram desta forma constituídos: ASSEMBLEIA GERAL: padre Teófanes Augusto de Barros Araújo, professor universitário; João Rodrigues Sampaio Filho, engenheiro agrônomo; Ivan Vasconcelos Brito, magistrado; Hermann de Medeiros Torres, advogado; Orlando Rocha Filho, advogado; Maria Teônia de Barros, funcionária pública federal (professora universitária); Tarcísio de Jesus, professor; Paulo José Santos Lima, professor universitário; Hermes Cavalcante Oliveira, funcionário público federal; Elias Passos Tenório, funcionário público federal; Benedito de Lira, advogado; Jayme Lustosa de Altavila, professor; Teógenes Augusto de Barros, funcionário público federal (professor universitário); Humberto Marinho Sampaio, cirurgiãodentista; Cláudio de Barros Davino, advogado; Laércio Madson de Amorim Monteiro, engenheiro; Luiz Eustáquio Silveira Moreira, promotor público; Estácio Luiz Correia Valente, bacharel em geologia; Clementino Verçosa Damasceno, comerciante; Douglas Apratto Tenório, professor; Cleantho de Moura Rizzo, advogado. DIRETORIA: Presidente: padre Teófanes Augusto de Barros Araújo; Vice-Presidente: Dr. João Rodrigues Sampaio Filho; Primeiro Secretário: Dr. Ivan Vasconcelos Brito; Segundo Secretário: Dr. Orlando Rocha Filho; Terceiro Secretário: Hermes Cavalcante Oliveira; Primeiro Tesoureiro: Hermann de Medeiros Torres; Segundo Tesoureiro: Luiz Eustáquio Silveira Moreira. 81 CONSELHO DE CURADORES (também com terminologia utilizada impropriamente, pois se trata do órgão de fiscalização interna da Fundação, do Conselho Fiscal): Membros efetivos: Divaldo Suruagy, economista; professor Afrânio Lages Filho, advogado; Guilherme Gracindo Soares Palmeira, advogado; Gilson Coelho Lima, engenheiro civil; Geraldo Bulhões, advogado: Membros suplentes: Valter Ananias de Barros, economista; Diógenes Tenório de Albuquerque, advogado; Luiz Fernando Oiticica Lima, economista; Eduardo Almeida, professor universitário. Em 19 de agosto de 1974, o prefeito João Sampaio encaminhou o ofício nº 369/74 ao ministro da Educação e Cultura, Ney Braga, comunicando que em atenção ao Parecer 2.327/74, do egrégio Conselho Federal de Educação, todas as medidas foram tomadas. No tocante à Câmara Municipal, resultou na Lei nº 2133/74, que alterou a Lei nº 2044/75, tornando sem efeito o convênio firmado com a Sociedade Colégio Guido de Fontgalland. Passaram então as unidades educacionais a ser mantidas por fundação, criada nos termos do Decreto-Lei 200/67, com a nova redação que lhe deu o Decreto-Lei 900/60. O ofício ainda comunicava o nome da Fundação (Fundação Educacional Jayme de Altavila)13. Tratava-se de homenagem ao grande pioneiro do ensino superior em Alagoas e exprefeito de Maceió. Solicitava, por fim, que atendendo ao anseio da juventude estudiosa de Alagoas, encaminhasse o processo da Fejal ao Presidente da República, para a lavratura do decreto de autorização do funcionamento dos cursos superiores. 1.3.2 A autorização para o Funcionamento dos Estabelecimentos de Ensino Em 9 de setembro de 1974, o então Presidente da República, Ernesto Geisel, expediu o Decreto 74.520, com fundamento no art. 81, item III, da Constituição Federal, de acordo com o art. 47 da Lei 5.540/68, alterado pelo Decreto-Lei 842, de 9 de setembro de 1969, e com o Parecer nº GM/BSB 004.215-74, do Ministério da Educação e Cultura. Foi também subscrito pelo Ministro da Educação e Cultura Ney Braga, e publicado no Diário Oficial da União no dia seguinte. Neste, autoriza o funcionamento das seguintes Faculdades: Faculdade de Direito 13 Anfilófio Jayme de Altavila Melo, advogado, professor, um dos fundadores da primeira Faculdade de Direito do Estado de Alagoas, escritor e poeta, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Alagoana de Letras, e ex-prefeito de Maceió. 82 de Maceió, com o curso de Direito; Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Maceió, com os cursos de Administração e Ciências Contábeis; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió, com os cursos de Letras (licenciatura de 1º e 2º graus, habilitação em Português-Francês e Português-Inglês), de Estudos Sociais (Licenciatura de 1º grau e habilitações em Orientação em Educação Moral e Cívica, licenciaturas de 1º e 2º graus), de História (licenciaturas de 1º e 2º graus), de Pedagogia (habilitação em orientação Educacional), Administração Escolar (licenciaturas de 1º e 2º graus), Supervisão Escolar (licenciaturas de 1º e 2º graus) e de Educação Artística (licenciaturas de 1º e 2º graus); Instituto de Psicologia de Maceió, com os cursos de licenciatura e formação de psicólogos, mantidos pela Prefeitura de Maceió, estado de Alagoas. Em 12 de setembro de 1974, chega ao aeroporto de Maceió o padre Teófanes de Barros, acompanhado do senador Arnon de Mello, trazendo o Diário Oficial da República em que foi publicado o Decreto 74.520. Ocasiona o fato um grande evento para Maceió, com banda de música, desfile escolar e discursos. Dr. Laércio Monteiro (Fejal, 2006), atual 1º Tesoureiro da Fejal, em letras destacadas, conta o episódio: A chegada do Padre Teófanes de Barros, juntamente com o Senador Arnon de Mello ao Aeroporto dos Palmares, vindos de Brasília, trazendo nas mãos e exibindo apoteoticamente o Diário Oficial da União com a publicação do Decreto, foi um momento inesquecível na história de nossa instituição. Divulgou a mídia os fatos no dia seguinte, com o título “Estudantes fazem calorosa recepção ao cônego Teófanes e ao senador Arnon de Mello” (Gazeta de Alagoas, 13.9.74): Numerosos estudantes e educadores de Maceió receberam ontem à tarde, festivamente, no Aeroporto dos Palmares, o cônego Teófanes de Barros e o senador Arnon de Mello, que trouxeram o documento oficial no qual o Presidente Ernesto Geisel e o Ministro Ney Braga autorizam o funcionamento da Universidade Autônoma de Maceió [...] Logo após descerem do boeing da Vasp, aos sons da banda marcial do Colégio Guido de Fontgalland, participaram de uma breve solenidade na qual usaram da palavra, juntamente com vários outros oradores, entre esses, o Secretário Jayme de Altavila, o Vereador Benedito de Lira, representando o Prefeito João Sampaio, o senhor Dácio de Macedo, representando a Maçonaria, Prof. Juarez Marques Luz, representando o corpo docente da nova Universidade, os estudantes Valdir C. de Siqueira e Álvaro Antônio Machado, expressando o reconhecimento da juventude maceioense. E ainda: “Teófanes anuncia para janeiro o vestibular da nova universidade” (Gazeta de Alagoas, 13.9.1974): 83 A Universidade Autônoma de Maceió fará realizar o seu concurso vestibular em janeiro de 1975, logo após o da Universidade Federal de Alagoas. Entretanto, na próxima semana iniciaremos o cursinho preparatório com vistas à seleção dos candidatos. Essa declaração, do cônego Teófanes de Barros foi feita ontem, no Aeroporto dos Palmares, quando, às 14 horas, desembarcou acompanhado do senador Arnon de Mello, do Boeing 787 da VASP, procedente de Brasília, e foi recepcionado por autoridades, professores, estudantes e representante de classes. No saguão do Aeroporto, o Cônego Teófanes Augusto de Barros foi cercado pela multidão, recebendo abraços e apertos de mão pela assinatura do Decreto pelo Presidente Geisel autorizando o funcionamento da Universidade Autônoma de Maceió. No pátio externo, onde foram realizadas as solenidades estudantis, o cônego Teófanes e o senador Arnon de Mello continuaram recebendo manifestações de carinho, até o momento do reconhecimento através dos discursos. A matéria jornalística continua com riqueza de detalhes a narrar aquele momento histórico da vida da cidade de Maceió e do estado de Alagoas. O estudante Valdir C. de Siqueira, em nome do cursinho preparatório para a nova Universidade, foi o primeiro a discursar. O orador ressaltou a conquista que significava para Alagoas aquela nova unidade de ensino de nível superior, atribuindo-a ao cônego Teófanes, aos seus esforços, a sua dedicação e ao seu amor a Alagoas e ao Brasil. Ainda discursou em nome dos alunos do Colégio Guido o estudante Álvaro Jorge Machado (Gazeta de Alagoas, 13.9.1974): Nenhum alagoano desconhece os benefícios que a Universidade trará para nossa gente, ao tempo em que coloca nossa terra em posição de destaque no setor educacional do País, contribuindo para o engrandecimento e o fortalecimento da “terra dos marechais” junto aos demais Estados brasileiros. Representante do corpo docente da nova Universidade, o professor Juarez Marques Luz também destacou a importância da nova entidade (Gazeta de Alagoas, 13.9.1974): Resumindo tudo aquilo que há pouco tempo acabamos de ouvir, podemos dizer que uma nova era surge para o Estado de Alagoas. Uma nova era, sobretudo, porque o setor educacional está bastante servido com a autorização e o reconhecimento desta universidade, que vai beneficiar aqueles que não tinham possibilidade de receber as instruções devidas, em virtude da necessidade de trabalhar pelo dia. Muitas outras autoridades estiveram presentes e usaram da palavra para manifestar seu agradecimento à figura do cônego Teófanes e do senador Arnon de Mello, que na ocasião traziam, no dizer do então vereador Benedito de Lira − representando o prefeito João Sampaio, que se encontrava em Manaus −, “a carta magna para a instalação da Universidade Autônoma”. Dois discursos tiveram especial destaque, sendo publicados pela Gazeta de Alagoas 84 em 13.9.1974: os do cônego Teófanes e do senador Arnon de Mello. Presente também o presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Benedito Barreto Accioly (Fejal, 2006). O discurso do cônego Teófanes é de extrema generosidade. Após manifestar seu estado de espírito, naquele momento, como o de, incontestavelmente, um dos mais felizes dos homens, agradeceu a todos os que participaram da batalha de criação da nova universidade. Segundo ele, se levou adiante aquela ideia, foi porque teve colaboradores que o entusiasmaram, tendo sido eles que transformaram o sonho em realidade. Ao agradecer ao prefeito de Maceió, assim se referiu: “Quero assim salientar, primeiramente, meus caros amigos, o idealismo do prefeito João Sampaio, este jovem prefeito, talvez o maior que tenha tido a comunidade maceioense”. Ao deputado Tarcísio de Jesus, a quem se referiu como “nosso deputado”, atribuiu à autoria da ideia (inspirador) e reconheceu a batalha por sua criação. À Câmara de Vereadores, assim agradeceu: Quero também fazer um registro especial ao apoio maciço da Câmara de Vereadores de Maceió, que levou avante a nossa luta em função de Alagoas e não de partidos políticos, aprovando unanimemente os dois projetos de lei com vistas à criação da Universidade Autônoma. Ressaltou, ainda, o apoio do Conselho Estadual de Educação. Agradeceu ao governo federal e a “todos os demais”, a Hermann Torres, a Orlando Rocha Filho e àqueles que estiveram a seu lado. Abriu então o cônego Teófanes um parêntese para agradecer ao senador Arnon de Mello: Mas dos tantos que nos ofereceram ajuda, quero destacar a figura do senador Arnon de Mello, a quem tudo devemos. Foi ele quem arrancou esse decreto. Foi ele quem esteve sempre com o Ministro Ney Braga, da Educação, com os membros do Conselho Federal de Educação. Foi ele quem praticamente fez tudo para que hoje vivêssemos esses momentos de felicidade. Foi ele, em síntese, o baluarte desta grande vitória que hoje estamos a comemorar, tornando-se o agradecimento do povo alagoano pouco para simbolizar a gratidão que a ele devemos. E concluiu: Finalmente, quero externar a minha profunda gratidão a esses que ficaram ao meu lado nessa causa. A todos que confiaram em mim, na Universidade Autônoma, e que esperam, com tanta esperança, essa majestosa oportunidade que hoje passou de sonho a realidade. O discurso do senador Arnon de Mello foi a fala de um homem de visão, consciente do 85 seu papel enquanto político e de representante do povo de Alagoas. Deixa claro que, chamado a participar da causa, passou a sentir o anseio da sociedade, guiando sua atuação para a realização do desejo de saber da juventude trabalhadora de Alagoas. Transcreve-se, a seguir, parte deste documento, dada a sua relevância para a expansão universitária, mormente porque o fez num momento histórico difícil para o Brasil e para os brasileiros, em plena ditadura militar. […] logo atentei que havendo em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, tal direito, o mesmo privilégio também caberia a Maceió, considerando que um grupo que trabalha pelo dia deve ter o direito de estudar à noite. Isso mesmo eu disse no Senado, fazendo apelo ao Ministro Ney Braga, da Educação e Cultura, e ao Conselho Federal de Educação, ao qual pertence o eminente Professor Milton Sucupira. Ao Ministro e ao professor eu falei pessoalmente, expondo-lhes as nossas razões, e o meu pronunciamento no Senado me serviu para avaliar a profundidade do interesse da população de Maceió pela Escola Autônoma de Ensino Superior, pois não foram poucos os apelos no sentido de continuar lutando. Daí, então, passei a exprimir junto ao governo da República, não apenas o complemento dos que desejavam realizar a obra, mas a aspiração da juventude, que obrigada a trabalhar durante o dia, não queria desligar-se dos estudos, que faria à noite. Ainda há poucos dias, ao fazer uma conferência na Arena Jovem, dispus-me a responder às perguntas que me quisessem fazer, e a maioria delas foi sobre escolas de ensino superior que funcionarão à noite. Há, realmente, uma verdadeira fome de saber em nosso Estado e no País. O senador fez menção ao Movimento Brasileiro de Alfabetização − MOBRAL, quanto à erradicação do analfabetismo em Alagoas para 1975, já havendo a previsão dessa erradicação na Paraíba e Santa Catarina. Ao salientar a necessidade da ampliação do número de vagas no ensino superior, disse: […] pois o alfabetizado, como que desperta de um sonho, quer e deve ampliar o seu saber. E o aumento de faculdades de ensino superior fará com que não se restrinja a poucos o número de universitários. Em 1970 era ele de 150 mil, mas no ano passado subiu a mais de um milhão. Sobre os méritos a ele atribuídos na luta pela nova universidade, agradeceu a gentileza e disse serem estes do próprio cônego Teófanes, um homem de extraordinária capacidade de luta e, sobretudo, um alagoano que ama sua terra e luta como ninguém para transformar a vida dos jovens de Maceió. Mencionou também o prefeito João Sampaio e sua equipe. Destaque-se também o agradecimento especial que fez ao ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho. E sobre si, disse que a felicidade que os estudantes de Maceió expressavam, por meio daquelas manifestações, não era maior que a dele. Que se sentia honrado em poder colaborar para que pudessem eles obter o direito cívico de estudar. 86 1.3.3 A Instalação da Fundação Educacional Jayme de Altavila 1.3.3.1 Nasce o Cesmac Faltava, segundo Monteiro (Fejal, 2006), decidir como a Fejal iria gerenciar os quatro estabelecimentos de ensino, pois seria sua, de fato, a função de mantenedora das Faculdades e do Instituto autorizado a funcionar, não obstante constar do decreto autorizador do funcionamento dos cursos, como mantenedora, a Prefeitura de Maceió. A propósito disso, a Entidade, posteriormente, em 1976, requereu ao Conselho Federal de Educação a homologação da sua condição de mantenedora, tendo este, através do Parecer nº 5.323/76, declinado de sua competência em favor do Conselho Estadual de Educação. Fora ele quem concedeu, inicialmente, a autorização para o funcionamento dos cursos, concluindo este último Conselho (CEE) pelo reconhecimento da Fejal como real mantenedora das faculdades, isso em 17 de novembro de 1977. Da escritura pública de instituição da Fundação, entretanto, depreende-se ser sua manutenção, na forma do Decreto-Lei 200, com as alterações do Decreto-Lei 900, na proporção de 2/3 para o Município de Maceió. Isso representava, à época, 200 (duzentos) salários mínimos anuais. O outro terço ficaria a cargo do padre Teófanes, o que representava 70 (setenta) salários mínimos anuais. Esta cláusula nunca foi obedecida. No momento do dilema de gerenciamento da Fundação, visitava Maceió o professor Edson Franco, ex-membro do Conselho Federal de Educação, com vasta experiência na área, pois havia fundado em Belém do Pará uma entidade semelhante. O cônego Teófanes foi ao seu encontro no hotel onde se hospedava, acompanhado do Dr. Ivan Brito e de Hermes Cavalcante, para buscar instruções. Tudo discutido, por unanimidade foi escolhida a denominação do órgão que iria abrigar as Faculdades, o Centro de Estudos Superiores de Maceió − Cesmac, baseada no Centro de Estudos Superiores do Pará, hoje Universidade da Amazônia – Unama. Assim surgiu o Cesmac, gerenciador das faculdades criadas (Monteiro, 2006). A Fundação Educacional Jayme de Altavila instalou-se oficialmente no dia 31 de dezembro de 1974, no salão de despachos do Palácio Floriano Peixoto, em solenidade presidida pelo Governador Afrânio Lages, com a presença do governador eleito, Divaldo 87 Suruagy, do prefeito João Sampaio, do cônego Teófanes e de autoridades civis e militares. (Gazeta de Alagoas, 31.12.1974) A mídia divulgou também informações a respeito do primeiro vestibular, previsto para os dias 13 de fevereiro do ano seguinte (1975), com a prova de comunicação e expressão (português e literatura brasileira), dia 14 de fevereiro, história e geografia, estas a serem realizadas às 20 horas. No dia 15 de fevereiro, às 14 horas, prova de organização social e política do Brasil e educação moral e cívica; e no dia 17 de fevereiro, às 8 horas, prova de matemática e ciências física e biológica. As inscrições estariam abertas a partir de 6 de janeiro de 1975. No primeiro vestibular a instituição ofertou nove cursos e 450 vagas (site da Fejal). Monteiro (2006) narra que o início da Fejal foi muito modesto em termos econômicos, podendo-se depreender dessa assertiva que os cinquenta mil cruzeiros doados pelo município de Maceió para as primeiras despesas não eram suficientes à instalação em sede própria e à aquisição de equipamentos para o funcionamento dos cursos. As solenidades de instalação da Fejal/Cesmac ocorreram no Colégio Santíssimo Sacramento, com missa solene celebrada pelo bispo coadjuvante de Maceió, Dom Miguel Fenelon, tendo como pregador principal Dom Avelar Brandão Vilela, cardeal primaz do Brasil, em 1º de março de 1975 (ITB – 1994, p. 310- 312). À noite, no auditório do colégio, se deu a aula inaugural, precedida do discurso do cônego Teófanes de Barros, que fez uma retrospectiva da luta para a concretização de seu sonho. A aula inaugural foi ministrada pelo presidente do Conselho Federal de Educação, professor (e padre) José Vieira de Vasconcelos. O evento foi prestigiado pelo ex-governador Afrânio Lages, pelo prefeito João Sampaio, pelo Magnífico Reitor da Ufal, general e médico, Dr. Nabuco Lopes, e pelo cardeal primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Vilela (Fejal, 2006). Como os cursos ocorriam à noite, foi possível acomodá-los nos estabelecimentos de segundo grau existentes. De acordo com Monteiro, a Fundação se instalou em imóveis alugados (Fejal, 2006). A Faculdade de Direito de Maceió − Fadima teve início com duas turmas no Departamento de Odontologia da Ufal, outras no Seminário Metropolitano de Maceió, e depois, em salas de aula do Colégio Batista Alagoano. Foi seu primeiro diretor o magistrado Dr. Ivan Vasconcelos Brito, e secretário o advogado Dr. Orlando Rocha Filho, hoje magistrado e conselheiro nato da Fejal. 88 A Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Maceió funcionava no Colégio Sagrada Família. Teve como primeiro diretor o economista Luiz Fernando Oiticica, e como secretário, o professor Roberto Bonfim. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió − Fafima instalou-se em salas do Colégio Sagrada Família e do Colégio Madalena Sofia. Seu primeiro diretor foi o professor Elias Passos Tenório, e como vice-diretor, o professor Eduardo Almeida Silva. O Instituto de Psicologia de Maceió − IPM se instalou no Colégio São José e no Colégio Monsenhor Luiz Barbosa. O advogado Hermann de Medeiros Torres foi seu primeiro diretor, tendo como secretário o contabilista Hermes Cavalcante de Oliveira. A primeira turma que a Fejal/Cesmac formou foi a de Educação Artística, em 10 de setembro de 1977, curso da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió − Fafima. As solenidades de formatura se deram na Catedral Metropolitana de Maceió, com missa celebrada por D. Avelar Brandão Vilela e Aula da Saudade ministrada pelo Prof. Ernani Méro. O patrono foi o padre Teófanes, sendo paraninfo o governador Divaldo Suruagy. O orador da turma foi o maestro Benedito da Fonseca (Fejal, 2006). 1.4 Quem Foram os Precursores do Ensino Superior Fundacional Contribuíram para a atual configuração do ensino em Alagoas, especialmente para o ensino superior, um número incalculável de pessoas; entretanto, algumas se destacaram na criação do tipo de estabelecimento de ensino especial − o que ora estudamos: as fundações privadas. Não há como pesquisar sobre fundações sem situar sua criação e desvendar a personalidade e a importância de seus criadores. Em que contexto histórico foram concebidas, quem as antecedeu e sucedeu, quais os fatos definidores para sua criação, como era o contexto sociopolítico e econômico local e, sobretudo, quem eram os cidadãos motores desse ideal definidor da criação de instituições que mudaram a vida de tantas famílias e contribuíram, inquestionavelmente, para o desenvolvimento de cidades, estados e do próprio país. Este estudo proporciona um mergulho em ricas histórias de vidas. Vidas que foram dedicadas ao próximo, ao futuro, à juventude, à melhoria da qualidade de vida de pessoas e famílias, à minimização das desigualdades. Vidas dedicadas à inclusão social. 89 A leitura das biografias encontradas, as conversas com personalidades instituidoras de fundações educacionais e colaboradores proporcionaram a oportunidade de conhecer o menino pobre Raimundo Marinho. Filho de operário, pelo sonho, pela visão de futuro de seus pais e por seu esforço pessoal, chegou a prefeito de uma cidade histórica do interior alagoano, Penedo. Transformou-a, em termos de educação, marcando uma época e proporcionando um novo futuro para seus conterrâneos. Posteriormente, também para alguns maceioenses, instituidor que foi da Fundação Educacional do Baixo São Francisco, hoje com faculdades em Penedo e Maceió. Não foi incluída tal fundação neste trabalho, assim como a Fapec e a Fundepes, em face da necessária delimitação do tema. Destacamos aqui, a vida do homem dedicado a Deus e à educação, o padre Teófanes Augusto de Barros. Filho de pais com confortável situação financeira, que almejavam para seus filhos cultura e educação, e que assim o fizeram. Este, com o mesmo compromisso, não mediu esforços para trazer às famílias alagoanas o ensino e a possibilidade de uma vida mais culta e promissora. Buscou-se na inserção do contexto educacional alagoano da Fundação pesquisada o máximo de subsídios que permitissem contextualizá-la e evidenciar a importância dessa iniciativa da sociedade civil e a consciência social demonstrada por seus instituidores. Como dito, não há como pesquisar fundações sem passar pelo perfil de alguns instituidores. Esses representantes da sociedade civil marcaram uma época, e inquestionavelmente deixaram seu nome na história da educação em Alagoas. De suas biografias brotam histórias de vida dedicadas e comprometidas, seja com a educação, seja com a política, de toda sorte, repletas de responsabilidade social. 1.4.1 Instituidores da Fundação Educacional Jayme de Atavila − Fejal/Cesmac 1.4.1.1 PADRE TEÓFANES AUGUSTO DE BARROS - Padre Teófanes Padre Teófanes Augusto de Barros (padre Teófanes) foi um instituidor privado, obstinado pela criação da Fundação Educacional Jayme de Altavila. Sua biografia foi escrita por sua irmã, Teomirtes de Barros Malta, professora, escritora e poetisa, em livro intitulado “Padre Teófanes: caminhos de uma vida”, publicado em 2004 e que orientou toda esta nossa breve caracterização. 90 Nela, lê-se uma história de vida dedicada a Deus e à educação. Objetivos de vida já encontrados em familiares, visto possuir um tio padre, e suas irmãs e mãe já se interessavam por educação. Nascido em 13 de julho de 1912, faleceu em 21 de junho de 2001, antes de completar 89 anos. Padre Teófanes foi a pessoa mais importante entre as muitas que converteram em realidade o sonho de uma instituição educacional que pudesse ofertar seguimento aos estudos de trabalhadores. Foi um obstinado na criação de uma entidade de ensino superior que funcionasse pela noite, complementando a oferta da Universidade Federal de Alagoas, que era unicamente de cursos diurnos, possibilitando assim que aqueles que trabalhassem pelo dia pudessem também concluir seus estudos. Definido por Teomirtes como de espírito irrequieto e criativo, veio de uma família com situação financeira confortável. Seu pai, Teófilo Augusto de Araújo Barros, proprietário de terras e jornalista em São José da Lage, cidade do interior de Alagoas; sua mãe, Otília Barbosa de Barros, foi uma das fundadoras da Escola Joana d’Arc; e suas irmãs, fundadoras do Colégio Santa Inês, ambos na sua cidade natal, “na Lage”, como a chamam. Os irmãos mencionados na biografia eram todos ligados à educação, à exceção de Teófilo, que foi citado como jornalista dos Diários Associados e um dos diretores da antiga TV Tupi. Teônia, funcionária pública federal do Ministério da Educação e professora catedrática de geografia humana da Ufal; Teobaldo era professor catedrático de história da Ufal; Theógenes trabalhava no Ministério da Agricultura e foi pró-reitor de assuntos acadêmicos do Cesmac/Fejal; Theodyr, professor de história da Ufal. Aos 12 anos, em 1925, Teófanes Augusto ingressou no seminário de Maceió, lá cursando, após os anos que equivaliam ao ginásio, dois anos de filosofia e três anos de teologia, ordenando-se padre em 1935. Malta (2004) diz que Teófanes tinha um especial interesse pela juventude, inspirado na vida de Dom Bosco, que lera quando estudava no Colégio Diocesano, em Maceió, tendo essa influência completado seu ideal de sacerdócio. Delineava-se, a partir daí, a vida daquele que seria o mentor da constituição da Fundação Jayme de Altavila – Fejal/Cesmac, fincada em fortes raízes espirituais e familiares, daquele que foi um dos homens mais importantes para a evolução do ensino em Alagoas. Por 91 essa razão, para uma melhor compreensão da dinâmica de suas ações até chegar ao ensino superior, faz-se uma especial narrativa de sua vida, ainda que breve, se comparada à importância de sua trajetória. Sua história confunde-se com a da educação em Alagoas e vai desde a fundação de uma escola para alfabetização de adultos no fundo da paróquia onde servia, passando para a criação, juntamente com suas irmãs, de uma escolinha, depois transformada em um ginásio, e finalmente em um colégio. Coordenou a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, chegando com esse projeto a criar sessenta escolas cenecistas em todo o estado. Garantiu, assim, o direito à educação ginasial a milhares de adolescentes no interior. Através da Sociedade Guido de Fontgalland, entidade sem fins lucrativos criada por ele e seus irmãos, fundou a Faculdade de Filosofia de Alagoas, que foi absorvida pela Universidade Federal de Alagoas – Ufal, quando de sua criação. Finalmente, constituiu a Fejal, juntamente com o município de Maceió, que era administrado pelo então prefeito, Dr. João Rodrigues Sampaio Filho, hoje diretor presidente da Fejal e reitor do Centro Universitário Cesmac. A narrativa de sua irmã sobre as comemorações programadas por seu pai para a celebração da primeira missa em sua terra natal, início de sua peregrinação pela educação, clarifica o seu modo de vida e a formação que recebeu de seus pais e avós maternos. Eram estes D. Lica e o líder político local Francisco Barbosa Sobrinho, por quem foi criado. o casal já tinha um filho ordenado padre, o cônego Luiz Barbosa. Transcreveram-se com riqueza de detalhes os festejos da primeira missa de Padre Teófanes “na Lage” porque denotam a afetividade com que era tratado pela família, indicando ser proveniente do seio dela a formação do seu bom caráter e sua generosidade. Essas qualidades foram ressaltadas nos depoimentos escritos por pessoas que o admiravam e corroborados na mencionada biografia. Resta claro, também, o total despojamento do padre Teófanes, que viveu para a Igreja e a educação por vocação. Referindo-se ao pai, disse Teomirtes: Alugou em Maceió um carro de trem com capacidade para 40 pessoas, a fim de levar os convidados para a ocasião na Lage. O carro permaneceria na estação até o término do evento, quando levaria o pessoal de volta. O sítio Ipiranga, no final da cidade, com sua casa grande, embelezara-se para esse dia especial. As acácias em frente ao casarão estavam em flor, parecendo compartilhar a alegria da família. Dia oito de maio, uma quarta-feira. Nesse dia seria 92 celebrada a primeira missa de Teófanes. Nosso pai acomodou alguns hóspedes nas casas dos amigos que haviam se oferecido para isso. Os religiosos, na casa do Padre Xavier Thuet, pároco da cidade. Alguns chegaram na véspera, outros no mesmo dia. Saíram do trem e foram direto para a igreja. Padre Adelmo e Padre Beckmann iriam ajudar a celebrar a cerimônia. A igreja nova – assim chamada por ter sido construída há poucos anos − estava enfeitada. Havia flores em todos os altares. O coro dos doze seminaristas oriundos de Maceió cantou na ocasião (p. 9/10). Alguns convidados presentes ao evento foram referidos, revelando a intimidade de padre Teófanes e de sua família com pessoas cultas e prestigiadas à época. Isso talvez tenha influenciado a sua ascensão educacional e fortalecido a vontade de impulsionar também o maior número possível de jovens ao acesso à cultura e a seu estilo de vida. Estavam presentes ao evento, entre outros, padre Adelmo Machado, que posteriormente foi bispo; o seminarista Luiz Medeiros Neto, que viria a ser padre e professor da Universidade Federal de Alagoas; o professor Luiz Braga Neto; a declamadora Maria Alice Braga Neto; a pianista e professora Esther Costa Barros; o coronel Pedro Pierre; Dr. Mario Guimarães, conceituado médico e futuro deputado estadual; a pianista Laura Figueiredo e Olimpo Bezerra, pai de Ivanildo Bezerra, dono do hotel da cidade (São José da Lage), que não aceitou pagamento pelos hóspedes que acomodara em seu estabelecimento comercial (p. 10/11). Após o almoço, servido em três grandes mesas cobertas com toalhas brancas rendadas, postas na sala de jantar para servir o boi que seu pai havia mandado abater para a ocasião, o resto do dia foi de festa. À noite ocorreu o sarau: Ester Costa Barros, formada em Piano no Rio de Janeiro, prima legítima de nosso pai, tocou belas músicas eruditas em homenagem ao novo padre. A declamadora Maria Alice Braga Neto, prima de nossa mãe, recitou belos poemas de Jorge de Lima. Laura Figueiredo, que fora aluna de Esther, também tocou algumas peças ao piano. Nossa irmã Teonor interpretou a música Souveance de Schmall, sendo elogiada por nossa prima Ester. Os seminaristas, que já haviam cantado no almoço “Viva Pater Teófanes”, repetiram o hino criado por eles (p. 12). Assim vivia Padre Teófanes. Iniciada sua vida eclesial, seu tio, padre Luiz Barbosa, quis que o ajudasse na igreja do Rosário, em Maceió, para onde fora designado. Porém ele não se limitou ao auxílio na paróquia e criou nos fundos da igreja uma escola para adultos sem recursos que quisessem estudar, já antevendo a possibilidade da criação de um colégio. Segundo Teomirtes, “o ideal 93 de ensinar estava no sangue”. Auxiliado por suas irmãs Teolinda e Teônia, que já haviam ensinado no Colégio Santa Inês, em São José da Lage, criou o Colégio Guido de Fontgalland, em 6 de fevereiro de 1939, numa modesta casa, com carteiras emprestadas do Colégio São José e da igreja do Rosário. As irmãs mais moças ajudavam no jardim de infância e nos primeiros anos primários. O Colégio foi se firmando, ganhando credibilidade. O número de alunos era sempre crescente. Logo quis fundar o curso ginasial, e como era um obstinado, essa ideia não lhe saiu da cabeça até conseguir mudar-se para um casarão e travar grande luta com o Ministério da Educação para obter autorização. Finalmente, em fevereiro de 1940, realizou o primeiro exame de admissão ao ginásio, com quarenta candidatos, sendo abertas as matrículas para o então curso secundário. O Colégio Guido de Fontgalland foi muito importante para a Fundação Jayme de Altavila – Fejal/Cesmac, tanto porque de lá saíram os recursos para a sua constituição, quanto porque foi esta quem assumiu o Colégio após a morte do padre. Assumiu também seus débitos, num gesto de gratidão para com seu fundador, sendo a entidade, na ocasião, não mais empresa, e sim Sociedade Guido (pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos). Em contrapartida, seu prédio sede foi destinado à Fundação, e hoje o casarão abriga os cursos de educação e jornalismo (Malta, 2004, p. 54). Na formatura da primeira turma do ginásio, de que foi paraninfo, em certo trecho do discurso, deixou transparecer o instituidor da Fejal como pensava e o que era: um cidadão cônscio de sua responsabilidade social, um pacifista, alguém que queria que sua existência servisse além de unicamente para si. Narra Teomirtes: Ainda falou do sonho do jovem e do contraste do mundo lá fora, do flagelo da guerra que devastava a humanidade inteira, ensopando o solo da terra de sangue. O mundo estava sob o peso da 2ª Guerra Mundial. Mas por que esta guerra? perguntava ele. Os homens teriam enlouquecido? As ideias lutavam nos campos de batalha. Chegara a hora daquela encarnação de ideias de que falava o filosofo Chesterton. Ele continuava: Quereis ver a grande prova desta verdade? É suficiente um raciocínio sem fumaças de profunda sociologia. Ensinaram ao homem moderno que ele existia unicamente para si mesmo. Esvaziaram de conteúdo sobrenatural sua existência. O egocentrismo teve na ordem filosófica como corifeu o pai da filosofia moderna. Descartes, o primeiro dos grandes responsáveis, o homem que quis filosofar sozinho. Depois dizia: Haverá algo mais belo que a alma de um jovem? É a quadra rósea da vida humana. É a primavera com todos os seus encantos dentro de um coração. É a idade dos ideais e dos sonhos. É quando ferve o coração, quando sabe palpitar, célere, fremente por uma causa. Parti, caros moços. Parti iluminados pela fé e 94 vencereis. Parti cheios de esperança, ardentes de caridade do Cristo, e havereis de ir colhendo novos louros. Parti, meus bons e queridos afilhados, diletos filhos. É larga a Estrada da vida. Trilhai-a com passo firme e resoluto. Deus vos abençoe e acompanhe (Malta, 2004, p. 33). O instituidor privado da Fejal sempre surgia com novas ideias para incentivar a juventude, conta a biógrafa do padre. Grêmio, teatro, o Centro de Estudos Jacques Maritain, para jovens do Colégio Guido, que queriam discutir assuntos de valor filosófico e cultural, aos sábados. Realizou muitos seminários quando foi diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal de Alagoas. Criou cursos noturnos (ele sempre se preocupou com os jovens que trabalhavam durante o dia), primeiramente só masculino. Depois de três anos de fundados os cursos noturnos, criou turmas mistas, e posteriormente, um curso vespertino, exclusivamente feminino. Apoiou a criação da Revista “Mocidade”, dirigiu a Campanha Nacional de educandários gratuitos, depois chamada Campanha de Educandários da Comunidade. Também foi coordenador do Cenec (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade) para o Norte e Nordeste do Brasil. Instalou mais de sessenta escolas cenecistas, na capital e no interior do estado, conforme já mencionado, disseminando a oportunidade de curso ginasial, sendo convidado para muitas formaturas. Na primeira formatura do ginásio de sua terra natal, São José da Lage, assim discursou: Corações ao alto! Não sejais medíocres. Sede grandes. Sereis o que em vossos corações resolverdes ser. A Pátria tudo espera de vós. Sois nossos primeiros louros. Para a glória do Brasil e para a grandeza de Alagoas, para o engrandecimento da Lage, meus jovens: Sumsum corda - corações para o alto (p. 38). Padre Teófanes foi, ainda, diretor da Faculdade de Educação da Ufal, diretorpresidente da Fejal e diretor-geral de seu Centro de Ensino, Cesmac. Foi membro do Instituto Histórico de Alagoas e da Academia Alagoana de Letras. Recebeu algumas comendas, dentre elas a Comenda Desembargador Mário Guimarães, concedida pela Prefeitura Municipal de Maceió. Lá, em discurso, ele disse, segundo Malta (2004): O Filósofo Gabriel Marcel no seu livro Être e Avoir − Ser e Ter − mostra com muita clareza quanto vale mais o ser do que o ter. O que se tem é estranho a nosso ser. É-nos dado como por empréstimo. Como disse o Cristo: “O ladrão rouba, e a ferrugem consome”. O que se é se torna inerente à nossa personalidade. Nossa vida deve ser uma 95 constante demanda à plenitude do ser, pois de todos os seres da criação o homem foi o único incompleto e com a missão de realizar-se, de completarse, de plenificar-se (p. 60). Segundo Malta, o padre Teófanes fez várias viagens ao exterior. Era encantado por Portugal. Também foi a Paris, sendo recebido, em seu palácio, pelo Conde de Fontgalland, pai de Guido de Fontgalland, patrono de seu colégio. Na Espanha, admirou a arte mourisca. Em Roma, reviveu a Antiguidade clássica. Foi ao Japão, Estados Unidos, República Dominicana e Filipinas. Seja para estudar, palestrar, a convite de instituições de ensino, seja para conhecer o mundo. Fez questão de visitar o Brasil antes de ir a outros países, amando-o e afirmando ser o melhor de todos os que conhecera. Tais viagens, segundo Malta, foram mais bem descritas no trabalho produzido por Orlando Rocha Filho, conselheiro nato da Fejal e seu companheiro de luta pela criação da Fundação. Neste, constam viagens feitas pelo padre para a República Dominicana, em 1984, a convite do físico indiano Maharisch Maresch Iogue. Buscou conhecer a obra a ser implantada em Santo Domingo, em viagem de 14 dias, recheados de contatos culturais. Daí seguiu para Washington, onde visitou a sede da Maharisch Internacional University (MIL), a igreja católica local e alguns pontos históricos e turísticos. Três meses depois, a convite ainda do físico Maharisch, retornou à Republica Dominicana, depois seguindo para conhecer as cidades Miami, Chicago e Fairfield. Nesta última realizou conferência sobre o modelo educacional brasileiro e a importância de um intercâmbio entre países de níveis econômicos diversos. Num terceiro momento, viajou para Manila, capital das Filipinas, para realizar palestras, permanecendo por 16 dias e proferindo uma dezena de conferências no hotel onde esteve hospedado. De lá, dirigiu-se ao Japão, onde visitou a sede da universidade MIL, em Tóquio, e um centro religioso (Malta, 2004, p. 68/69). Padre Teófanes viveu 88 anos, falecendo em 21 de junho do ano de 2001, ocupando o cargo de presidente da Fejal e da Sociedade Colégio Guido de Fontgalland, tendo sido velado neste último (Malta, 2004, p. 70). 96 1.4.1.2 MUNICÍPIO DE MACEIÓ: PREFEITO JOÃO RODRIGUES SAMPAIO FILHO O município de Maceió, pessoa jurídica de direito público, representado pelo então prefeito, João Rodrigues Sampaio Filho, foi quem, juntamente com o padre Teófanes, assinou a Escritura Pública de Constituição da Fundação Educacional Jayme de Altavila, mantenedora do hoje Centro Universitário Cesmac. Criou-se, assim, a maior instituição privada de ensino superior de Alagoas, aquela que mais graduou alunos, depois da Universidade Federal de Alagoas, no estado (Escritura Pública de Constituição da Fejal, 1974). Sua pequena biografia foi escrita pelo diretor financeiro da Fundação, engenheiro e escritor Laércio Madson Amorim Monteiro, integrante do relatório de atividades da entidade educacional referente aos exercícios de 2001 a 2005. Publicada em junho de 2006, pela Fejal, dela se extrai o que segue. João Rodrigues Sampaio Filho − O Dr. João Sampaio, como é conhecido, não esteve, como o padre Teófanes, sempre ligado à área educacional. Foi, sobretudo, um jovem empreendedor da área agrícola, administrador de usinas bem-sucedido, o que lhe garantiu o convite para administrar a capital do estado de Alagoas, Maceió, pelo então governador, professor Afrânio Salgado Lages, exercendo o cargo de chefe do Executivo municipal de 1971 a 1975. Nasceu em Maceió, no bairro do Poço, no Sitio Sampaio, em 25 de setembro de 1938. Filho de João Rodrigues Sampaio e Úrsula Marinho Sampaio. Neto, por parte de pai, de José Vieira Sampaio, tabelião na Capital, e Maria Astéria Rodrigues Sampaio; e por parte de mãe, de Benevides Marinho da Gama Melo e Úrsula da Rocha Marinho. Cursou agronomia na Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, nos anos de 1960 a 1963. Estudou, anteriormente, em boas escolas. No interior do estado, na cidade de Murici, no Engenho Cavaleiro, onde se alfabetizou; e em Maceió, no Colégio Guido de Fontgalland, criado pelo padre Teófanes. Ainda estudante, já trabalhava na área que escolhera, com bolsa remunerada, como estagiário na Sudene, no Instituto de Micologia, da Universidade do Recife e no Instituto de Pesquisas Agronômicas do Nordeste − Ipeane. Foi monitor da cadeira de Geologia Agrícola, sob a orientação do professor José da Costa Lima, entre os anos de 1961 e 1963, tendo participado do Plano da Sudene de 97 Recuperação dos Solos de Tabuleiros: determinação de macro e micronutrientes, fruto de acordo entre a Sudene e a Universidade Rural, coordenado pelo professor Clóvis Silva. Tanto na vida profissional como na estudantil fez política. Foi vice-presidente do Diretório Acadêmico dos Estudantes de Agronomia do Recife, de 1960 a 1961, e secretáriogeral do Diretório Central dos Estudantes de Agronomia do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, entre 1961 e 1962. Realizou cursos no sentido de aperfeiçoar a aptidão política, como: Relações humanas no trabalho e Como transmitir conhecimentos e liderança em reuniões. Como engenheiro agrônomo, trabalhou em grandes grupos da área da cana-de-açúcar, carro-chefe da economia da região Nordeste. Participou de cursos e estágios preparatórios, ocupando diversos cargos, desde agrônomo do grupo Othon Bezerra de Melo a gerente de campo e diretor da usina Tiúma, em São Lourenço da Mata – Pernambuco, empresa do grupo José Ermírio de Moraes. Em 1968 foi convidado para assumir a gerência-geral das usinas Bititinga e Campo Verde de Alagoas, da Companhia Agroindustrial Omena Irmãos. Aí permaneceu até 1971, quando foi convidado, conforme antes dito, para assumir a Prefeitura de Maceió, pelo então governador do estado, num momento da história do País em que não havia eleições diretas para prefeito. Como chefe do Executivo de Maceió, João Sampaio implantou sua marca de prefeito jovem e impetuoso, recebendo as alcunhas de “João Sem Medo” e “João Rojão”. Dentre suas obras, entende esta pesquisadora de relevo mencionar, com base na relação indicada por Monteiro (Fejal − 2006): Projeto e execução do “Programa de Urbanização da Orla da Pajuçara”, que consistia em iluminação da área desde a zona portuária até o Clube Alagoinha, ajardinando e criando campos para esporte, em convênio com a Petrobras. Segundo o autor, foi a primeira parceria desse tipo entre essa empresa e o poder público no Nordeste, marco da modernização e urbanização dessa região da capital, incluindo-a no cenário turístico nacional. Ressalta-se também a elaboração de um novo código de obras e de postura, visando à preservação da orla marítima, limitando a altura para a construção de prédios na orla de Pajuçara, “não permitindo que a orla fosse transformada em um enorme paredão de concreto” (p. 15/16). Entre seus importantes feitos, enquanto prefeito, na primeira gestão iniciou-se, em parceria com o padre Teófanes, o mais importante de todos, segundo avaliação da autora desta 98 pesquisa: a criação de uma “Universidade Autônoma”. Embora não tenha encampado de início a proposta, após várias visitas do padre à Prefeitura, João Sampaio se decidiu a ouvir algumas pessoas do povo e comerciários sobre o tema. Concluiu pelo grande anseio do trabalhador de continuar os estudos. Resolveu engajarse na luta do padre Teófanes e atender a juventude que trabalhava pelo dia, abraçando definitivamente a causa do ensino superior noturno e complementando a oferta diurna da Universidade Federal de Alagoas. As dificuldades não foram poucas, porquanto já não era fácil atingir a faixa escolar de responsabilidade da própria municipalidade, o ensino primário. João Sampaio e o padre Teófanes lograram persuadir autoridades do âmbito federal, estadual e municipal, o governador, o reitor da Ufal e autoridades em geral da área de educação. Ao concluir seu primeiro mandato como prefeito, João Sampaio foi secretário de Agricultura do estado de Alagoas, na gestão do governador Divaldo Suruagy, de 1975 a 1978. Em 1978 foi o deputado estadual com maior votação (15.663 votos), para o mandato de 1979 a 1982, tendo exercido o mandato de vice-presidente e várias vezes assumido a presidência da Casa Legislativa. Em 1982 foi reeleito para o segundo mandato, de 1983 a 1986, tendo assumido, nesta gestão, a presidência da Comissão de Orçamento e Finanças e Tomada de Contas da Assembleia Legislativa. Em 1988 foi eleito vice-prefeito do então candidato a prefeito, hoje ministro do Tribunal de Contas da União, Guilherme Palmeira, assumindo novamente o cargo de prefeito de Maceió, em março de 1990, quando Guilherme foi eleito senador da República. Durante sua vida, na condição de engenheiro agrônomo ou de político, integrou várias instituições. No exterior fez viagens de observação e cursos, e no Brasil ministrou palestras e realizou trabalhos em geral, seja de cunho acadêmico, seja político, seja ocupando cargo público, seja dirigindo a Fejal. Dentre os muitos cargos que assumiu e instituições que integrou, presidiu a Associação dos Municípios de Alagoas; integrou a Liga de Defesa Nacional; presidiu o Conselho do Polo Nordeste – Unicone − AL; presidiu os Conselhos Executivos das seguintes empresas de economia mista: Companhia Progresso Agrícola de Alagoas – Copal, Companhia de Armazéns Geral e Entrepostos de Alagoas – Cageal, Companhia Beneficiadora de Lixo de Alagoas – Cobel e Companhia Industrializadora do Leite de Alagoas – Cila. Participou do 99 segundo ciclo da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – Adesg em 1971 e compôs o grupo de alunos da Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, em 1975. Participou da tarefa de “Desenvolvimento da Administração Municipal”, viagem à República Federal da Alemanha,em 1975, pela Associação Brasileira dos Municípios − ABM. Fez viagem de estudos aos Estados Unidos da América, promovida pela Escola Superior de Guerra, em 1975; participou da tarefa “A Relação Entre Estado e Administração Municipal Autônoma”, na República Federal da Alemanha, em 1981; fez viagem de estudos à União Soviética, em 1981, promovida pela ABM; viajou a Cuba, integrando comitiva de deputados do estado de Alagoas, para observar os sistemas de educação, saúde e economia daquele país, em 1988. Possui Dr. João Sampaio trabalhos e conferências escritas, a maioria na sua área de formação, a engenharia agronômica. Há também alguns na área política: Ecologia das Regiões Rurais; Integração das Forças Armadas; Conjuntura Política da Europa Ocidental; Razões de Insegurança; Implantação do Plano de Desenvolvimento Integrado de Maceió; Política Municipal como Fator de Desenvolvimento Urbano; Política Nacional e os seus Objetivos; Contribuição da Agricultura no Processo de Desenvolvimento Brasileiro; Poder Nacional, entre outros. Durante sua vida pública e na condição de dirigente da Fejal, hoje seu reitor, recebeu inúmeras homenagens, tendo enumerado Monteiro (2006) mais de 25 delas, que se configuram em diversas áreas. Destacam-se: comenda Eustáquio Gomes de Melo, da Prefeitura de Maceió, na gestão do prefeito Dilton Simões; título de “Cidadão Honorário” das cidades de Santana do Ipanema, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco, Coité do Noia, Anadia e Água Branca; diploma de Honra ao Mérito do Ministério da Educação e Cultura, do Instituto de Fisioterapia e Reabilitação de Maceió e da Sociedade dos Engenheiros; diploma de “Personalidade do Nordeste” e de “Homem de Ação do Ano”, da Crônica Social Alagoana; diploma de “Relevantes Serviços à Integração Nacional”, do Projeto Rondon; título de Reflorestador do Ano, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal do Estado de Alagoas – IBDF, entre outros. Em 4 de novembro de 2002, com a renúncia do presidente da Assembleia Geral da Fejal, para assumir a vice-presidência da Fejal, assumiu sua presidência, aí permanecendo até hoje, reeleito que foi por mais seis anos, quando concluiu seu primeiro mandato. 100 1.5 A Participação da Fejal na Expansão do Ensino Superior em Alagoas nos Últimos Cinco Anos Perfil e Atividades da Fejal em 2007 O relatório de atividades de 2007 da Fejal, apresentado à Promotoria de Justiça de Fundações, constante do processo nº 008/2011, complementando sua história de criação, traz algumas informações relevantes para este trabalho, tais como: formação de seu patrimônio, acomodação de cursos e sua administração, construção de laboratórios, oferta de serviços, número de cursos e alunos, servidores. Na introdução do relatório, quando trata da instituição de ensino, a administração, no intuito de demonstrar a evolução de suas atividades, faz referência à Fundação que iniciou suas atividades em 1975, ofertando nove cursos e 450 vagas. Em 2007, o quadro é o seguinte: Número de Alunos – Graduação Nº de Cursos de Graduação Nº de Faculdades que abrigam os cursos Professores Servidores administrativos Nº de Cursos de Pós-graduação em andamento Nº de alunos da Pós-graduação Bolsas de Iniciação Científica 13.168 25 6 748 673 51 2.262 60 Estão assim distribuídos, comparativamente com o ano anterior: Servidores Administrativos Administração Geral Faculdades Total O corpo docente se acha assim distribuído: 2006 406 203 609 2007 419 254 673 101 Professores FCBS14 FCH15 FECOM16 FADIMA17 FCSA18 FACET19 Total 2006 308 36 90 120 74 141 769 2007 304 34 86 103 77 144 748 Os professores, por ser a fundação de direito privado, não são concursados, sendo indicados por cada faculdade, observada a titulação e habilitação, e admitidos pela Fejal. A fundação já ofertou 222 cursos de pós-graduação, os quais ocupam suas dependências nos finais de semana, já que, durante a semana, as salas de aula destinam-se aos cursos de graduação, nos três turnos. Quando da confecção deste relatório, estavam abertas as inscrições para 27 novos cursos de pós-graduação e havia a previsão de oferta de mais trinta cursos no segundo semestre. A instituição encontra-se em fase de iniciação em pesquisa, tendo lançado o Programa Semente de Iniciação Científica – PSIC. Através deste oferta sessenta bolsas, quarenta delas financiadas pela Fundação, dez pelo CNPq e dez pela Fapeal, Fundação Estadual de Pesquisa do Governo de Alagoas. Há também um mestrado em biopsicologia, e previsão de lançamento de mestrado em educação. Além da importância observada da pesquisa na pós-graduação, é também inegável o relevo dos trabalhos monográficos realizados na conclusão de todos os cursos. A evolução de matrícula dos anos 2006/2007 tem se dado na proporção do quadro abaixo, segundo o relatório, com queda na graduação e evolução positiva na pós-graduação. A Fundação atribui o fato, em reuniões com a Promotoria, à concorrência de faculdades que têm se instalado, nos últimos anos, em Alagoas. 14 15 16 17 18 19 Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Faculdade de Ciências Humanas Faculdade de Educação e Comunicação Faculdade de Direito de Maceió Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas 102 1- Graduação FADIMA FCSA FECOM FCH FACET FCBS SUBTOTAL 2- Pós-Graduação Total de Alunos 2006 3.318 1.627 1.336 987 2.232 3.818 13.318 2.045 15.363 2007 3.232 1.571 1,351 1.050 2.243 3.721 13.168 2.262 15.430 A Fundação tem abrangência estadual, e seus cursos em Maceió funcionam em acomodações distribuídas em unidades no bairro Farol e no interior do estado, nas cidades de Marechal Deodoro, Arapiraca e Penedo. Em Maceió e Marechal Deodoro todos os cursos e laboratórios funcionam em prédios próprios. Os cursos da área de saúde – Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde – FCBS, à exceção do curso de medicina veterinária, que funciona em Marechal Deodoro, em edifício exclusivo, com clínica veterinária e fazenda-escola anexa, e os da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, estão instalados na Rua Cônego Machado, s/n, Farol, no complexo Eduardo Almeida. O Complexo Eduardo Almeida teve como semente um terreno medindo 87 metros de frente a fundo, onde estava edificado o antigo Colégio Estadual Cônego Machado, recebido em doação pela Fejal, do Governo do Estado de Alagoas20, para se instalar inicialmente. Constitui-se do Edifício Divaldo Suruagy, que compunha a doação, do prédio denominado Arnon de Melo, edificado em anexo, e do Edifício Ney Braga, construído na parte posterior do complexo. O conselheiro Orlando Rocha Filho, que foi o primeiro secretário da Fundação e participou de todas as etapas para a autorização e criação dos primeiros cursos, afirmou que essa doação possibilitou a construção de parte do mencionado Complexo Eduardo Almeida, que foi a primeira sede própria da Fundação, tendo sido os anexos construídos posteriormente, inclusive os pavimentos superiores. 20 Informação constante na Certidão de Registro do Imóvel − Cartório do 1º Registro de Imóveis e Hipotecas de Maceió, lavrado no Livro 2-A, folhas 168, número 1-299, em 9.2.1976, e Escritura Pública lavrada em 19.12.1997, nas Notas do Tabelião Público do 5º Ofício da Capital, Livro 346/20, folhas 182v/4v. Também há a averbação nº 2-299, na mesma data, 9.2.1976, da Cláusula de inalienabilidade e reversão ao patrimônio do Estado em caso de extinção da Fundação, em observância do art. 2º da Lei nº 3.494, de 3.12.1975, que autorizou a doação do imóvel. 103 Fração dos recursos para as primeiras construções foi doada pelo Ministério da Educação, quando então era ministro Ney Braga, tendo um dos prédios, o construído com frente para a Rua Radialista Odete Pacheco, recebido, na ocasião, seu nome. O restante do numerário para a obra, obtido por uma linha de crédito denominada operação 67, com recursos de origem italiana, através do Banorte, tendo como garantia os bens pessoais dos diretores. No edifício Ney Braga, com cinco pavimentos, estão acomodados os cursos de odontologia e fisioterapia do FCBS. Nas demais dependências do Complexo, estão os outros cursos do FCBS, a saber: nutrição, farmácia, biomedicina e enfermagem e os do FCSA: administração, administração pública, ciências econômicas, ciências contábeis e turismo. O curso de teologia, que também é desta faculdade, é ministrado em dependências exclusivas também no Farol, em Maceió. A Faculdade de Direito de Maceió − Fadima e a Faculdade de Ciências Humanas − FCH estão instaladas no edifício Padre Teófanes de Barros, situado à Rua Iris Alagoense, nº 437, Farol, Maceió. Este prédio foi construído em terreno próprio, adquirido com o superávit de suas atividades, com 22 salas de aula, dependências para duas secretarias, duas diretorias, salas de professores e coordenadores, biblioteca, consultório-escola, dentre outras. A ele foram incorporados os imóveis da Rua 1111, o de nº 50, uma casa, e o s/n, um terreno, medindo, respectivamente, dez metros e 13 metros de frente a fundo, ambos com dez metros de largura, adquiridos em 1995, com recursos próprios. Nessas instalações são ministrados os cursos de Direito e Psicologia. A sede da Fundação localizava-se em 2007 no prédio de nº 918 da Rua Cônego Machado, Farol, Maceió, adquirido com recursos próprios. Em 1985, tendo sido desocupado e demolido, foi no local construído o atual prédio da Biblioteca Central, fato acompanhado por esta pesquisadora, em razão de sua condição de veladora da instituição. Os prédios próximos à administração, situados na mesma rua, de números 889/893, foram adquiridos com recursos próprios, em 1993, e após reforma para adequação, destinados à tesouraria e ao Centro de Tecnologia de Informática – CTI. O imóvel de nº 917, ainda na Rua Cônego Machado, medindo 12 metros de largura na frente e nos fundos, por cinquenta metros de frente a fundo, conta com salas para a presidência, vice-presidência, secretarias, assessorias e recepção. Abriga atualmente, após reforma para adequação, a sede da 104 presidência e a Reitoria do Centro Universitário Cesmac. O setor de recursos humanos da Fundação está localizado na Rua Radialista Odete Pacheco, nº 79, Farol, Maceió, em prédio próprio, adquirido em 1993, medindo dez metros de largura, frente e fundo, por 88 metros de frente a fundo. Para acomodar os cursos que iam sendo criados pela fundação gradativamente foram adquiridos imóveis, adequando-os às necessidades, seja de instalação de salas de aula, seja de laboratórios. Para o curso de medicina veterinária foi criada uma estrutura nos imóveis da localidade denominada Sítio Boa Ventura, na AL 101 Sul, no município de Marechal Deodoro. Parte A, medindo 42 metros de frente, e de fundo, 74 metros, de frente a fundo do lado direito, 859 metros e de frente a fundo do lado esquerdo, 833 metros, adquirido no ano de 2000. Parte B, medindo 24,20 metros de frente e 821 metros de frente a fundo, nos dois lados, fazendo fundo com a lagoa Manguaba, adquirido em 1999. Os imóveis abrigam uma Fazenda Escola, uma Clínica Veterinária, com capacidade e equipamentos destinados a atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos para pequenos e grandes animais. Em face de a Fundação não possuir um único campus, tendo suas atividades e administração distribuídas, especialmente pelos bairros do Farol, tem sido prática das diretorias a aquisição de imóveis confrontantes ou que circundem os da Fejal. Foi adquirido em 1995 um lote de imóveis, mediante leilão judicial realizado na 5ª Vara de Órfãos e Sucessores da Cidade do Rio de Janeiro/RJ, num total de 11 imóveis confrontantes, localizados, três na Rua Íris Alagoense, quatro na Rua Itatiaia, dois na Praça General de Góes Monteiro, todos no Farol, em Maceió. Destes, alguns foram destinados a estacionamento, por terem localização estratégica, em frente à Faculdade de Direito de Maceió e à Faculdade de Psicologia. O de nº 29 da Rua Íris Alagoense abrigava, em 2007, o Projeto Social Crescer, da Fundação. Para acomodar os cursos da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas − Facet, em 1998 foram adquiridas cinco casas contíguas, na Rua Capitão Samuel Lins, paralela à Rua Cônego Machado. Foram demolidas para a construção um prédio de 11 pavimentos, denominado Edifício Alberto Antunes. Posteriormente, foi adquirido, em 1999, mais um imóvel na mesma rua, a casa de número 340, também incorporada ao prédio, como anexo. Na Rua da Harmonia, transversal da Rua Cônego Machado, foi adquirida uma casa 105 para abrigar o DCE. A Faculdade de Educação e Comunicação – Fecom está instalada em imóveis adquiridos do extinto Colégio Guido de Fontgalland, aquele que foi fundado pelo mesmo instituidor privado da Fejal, padre Teófanes Augusto de Barros. Trata-se do prédio da antiga Faculdade de Filosofia do Colégio Guido, na rua Dr. Bento Júnior, Farol, Maceió, com 16 salas de aula e acomodações para a administração dos cursos. Situa-se no antigo casarão onde era o Colégio, e em edifício com três pavimentos, na Rua Ângelo Neto, s/n, Maceió, construído pela fundação em terreno adquirido. Na Rua Dr. Bento Júnior, a Fundação adquiriu o imóvel onde se localiza a quadra de esportes da instituição. A Fecom abriga os cursos de pedagogia, letras, história, biologia, jornalismo e publicidade e propaganda. A Fejal possui outros imóveis adquiridos com destinação específica, como, por exemplo, para a instalação de secretaria-geral e a consequente desativação das secretarias setoriais, reduzindo-se os custos administrativos; a instalação de estacionamento em frente a Fecom, para melhorar a arrecadação e proporcionar ao aluno maior conforto e satisfação, imóvel que, pelas suas características de tamanho e localização, possibilita a construção de um campus. Enfim, a entidade possui investimentos que estão dentro do seu planejamento estratégico, bem como outros realizados pelas diretorias anteriores, que ainda não tiveram sua utilização discutida pela atual diretoria. Além das atividades estatutárias da Fejal, de ensino superior, outras na área cultural, de ação social e de práticas das atividades acadêmicas, são relevantes para a comunidade carente, seja do entorno da Fundação, seja da grande Maceió. Através do Núcleo de Projetos e Extensão − NPE, em 2007 foram desenvolvidas diversas atividades culturais envolvendo a comunidade acadêmica e a população em geral. Foi criado o coral Cesmac e organizada a exposição fotográfica denominada FotoFejal. Foi ainda formado um grupo de teatro, já com a estreia da primeira peça e ensaios de um novo espetáculo, com a participação de alunos, professores e funcionários. Há também a previsão do lançamento de um curso de extensão musical e a formação de um conjunto musical, além de atividades esportivas, com competições internas e participação em campeonatos externos. Na área de assistência social a Fejal/Cesmac executa o Projeto Crescer, que possibilita assistência a crianças, jovens e idosos do entorno da Faculdade e atende em seus consultórios, 106 escritórios e laboratórios de práticas, gratuitamente, esse público e pessoas carentes da comunidade. CURSO DE DIREITO Núcleo de Práticas Jurídicas Atendimentos: 249 ATIVIDADES: Eventos com a participação do NPJ Tipos de Ações ajuizadas: guarda, tutela, divórcio, medida cautelar, reconhecimento e dissolução de união estável/partilha, separação de corpos, investigação de paternidade/alimentos, retificação de registro civil, alimentos/revisão/exoneração, alimentos/execução, e outras ações civis. Dia de Campo em Arapiraca: 22.11.2007; Mutirão da 26ª Vara de Família: 24.11.2007- Fórum da Ufal; Dia Nacional da Conciliação: 8.12.2007 − CEAGB; Mutirão do Tribunal do Júri: 15.12.2007. Curso de odontologia Pessoas atendidas: 6.910. Principais Procedimentos Executados Foram executados 127 tipos de procedimentos, dentre eles, consultas, escariação, aplicação de selante de cavidade com cimento provisório, aplicação terapêutica de flúor, restauração com amalgama, com iônio de vidro e fotopolimerizável. No curso de fisioterapia, na Clínica Escola, foram atendidos em 2007, 2.555 pacientes nas diversas especialidades, somando 12.556 sessões, distribuídas na forma do quadro que segue: Atendimentos na Clínica Escola de Fisioterapia em 2007 Área de Pediatria Área de Neurologia Área de Cardiopulmonar Área de Traumato-ortopedia Total de Atendimentos 534 pacientes 658 pacientes 2.492 sessões 3.205 Sessões 440 pacientes 924 pacientes 2.556 pacientes 1.848 sessões 5.011 sessões 12.556 sessões Houve também pacientes atendidos em projetos, num total de 202, somando 7.424 sessões, nos seguintes projetos: PROJETO PÉ TORTO GINECO-OBSTETRÍCIA ESTIMULAÇÃO PRECOCE NEUROLOGIA TRAUMATO-ORTOPEDIA ATM Total PAC. 40 28 11 37 50 36 202 SESSÕES 1.600 1.128 352 1.480 2.000 864 7.424 107 No todo, foram atendidos 2.758 pacientes em 19.980 sessões, no ano de 2007, pelos alunos e professores de fisioterapia. PROJETO CRESCER O Projeto Crescer foi idealizado, segundo o relatório, para assistir às pessoas carentes de comunidades do entorno da Fundação – Comunidades do Bolão, Alto da Vitória, Vila Redenção, Reginaldo, Bom Parto, Jacintinho e outras. O trabalho realizado, envolvendo professores, servidores e alunos da Fundação, consiste em acompanhamento didático-pedagógico – alfabetização – na Escolinha Elias Passos Tenório, atendimento psicológico, nutricional, fisioterapêutico, cultural e jurídico. O atendimento nutricional e assistencial inclui café da manhã e lanche das 10 horas. A assistência cultural inclui palestras sobre sexualidade, drogas e comportamental, servindo os eventos para integração social dos assistidos e familiares, sob a supervisão de profissionais habilitados. Foram proporcionadas aos atendidos visitas culturais a Triken − empresa de produtos químicos −, ao circo, ao teatro, ao Jardim Municipal, a praças públicas, ao Shopping Iguatemi, aos bairros de Guaxuma e Riacho Doce e às cidades de Barra de São Miguel e Porto de Pedras. Alguns desses eventos foram abertos a familiares com o objetivo de promover a integração familiar. No ano de 2007 foram assistidas 66 crianças de quatro a sete anos; 42 jovens receberam tratamento odontológico e psicológico e qualificação profissional, fruto de uma parceria entre a instituição, através da FCH − Faculdade de Ciências Humanas, com o Sesc. Desses, 15 jovens estão cursando o ensino superior nos cursos de direito, fisioterapia, nutrição, engenharia, análises de sistema, letras, pedagogia, teatro e psicologia. Vinte e duas mulheres adultas – entre 22 e 55 anos – foram assistidas com os serviços ofertados pela fundação e já relatados. Foram viabilizados exames ginecológicos e de laqueadura para algumas, tendo sido ainda ministrados cursos de secretária do lar, culinária caseira. Trinta e oito pessoas foram contempladas com o curso de artesanato. 108 TERCEIRA IDADE Para os integrantes da terceira idade, a Fundação proporcionou, além dos serviços assistenciais próprios das clínicas da entidade, exames oftalmológicos e algumas cirurgias de catarata, palestras e atividades socioculturais desenvolvidas sob a supervisão dos profissionais da instituição e os contratados para tanto. Foram atendidos no período 78 idosos integrados em quatro grupos folclóricos: Boi Tucum, Baianas, Pastoril e o Grupo Musical Flor da Idade. Realizaram-se 13 casamentos. Muitas são as atividades da instituição que repercutem diretamente na vida da comunidade maceioense e na vida da comunidade acadêmica. Entre elas: Na Faculdade de Direito de Maceió – Fadima foi realizada a III Semana Jurídica e Seminários, dentro de um programa de seminários mensais, como atividade extracurricular, com o objetivo de discutir temas jurídicos de diversas áreas. Na área acadêmica criou-se o Portal Universitário, ferramenta didático-pedagógica; iniciadas contratações de mestres e doutores para adequar o número desses profissionais especializados às exigências da legislação; implantado laboratório de prática jurídica; alterado o regulamento de trabalhos de conclusão de curso – TCC; disponibilizado curso de atualização acadêmica gratuito para concluintes, com 120 horas, e simulado OAB, como preparação para o Exame da Ordem. Na área de Pós-Graduação, foram ampliadas as atividades do Núcleo, com o aumento do número de cursos de pós-graduação, lato sensu, concatenando graduação e pós; foi ampliado o acervo da Biblioteca Setorial, que conta com um total de 1.505 títulos, 4.486 livros e 20 periódicos; numa parceria da instituição com os órgãos, os alunos participaram de seleção e foram admitidos como estagiários do Tribunal Regional do Trabalho e Justiça Federal em Alagoas − subsecção de Arapiraca, dentre outras ações de igual importância. Na área de iniciação à pesquisa, evento destacado foi a associação da Fadima ao Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito. Na área de extensão, destacouse a prestação de serviços jurídicos para a comunidade, e em Arapiraca, através do Projeto Cesmac na comunidade, o atendimento de mais de 250 pessoas nas diversas áreas de assistência jurídica. O relatório de atividades 2007 destacou algumas ações da Faculdade de Ciências 109 Sociais Aplicadas − FCSA, entre elas: workshop, VII Ciclo de Debates Econômicos, evento aberto à comunidade; debates e encontros para discussão de temas como Lei de Responsabilidade Fiscal e Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal e sua importância para a economia brasileira, Programa de Aceleração Econômica e temas ligados à contabilidade, além de mencionar diversas palestras e cursos ministrados por professores do Cesmac e convidados. Especial destaque foi dado à criação dos Núcleos Laboratoriais nas áreas de hotelaria, planejamento, eventos e agenciamento, e alteração da grade curricular, dinamizando sua estrutura para torná-los mais atrativos. A empresa Júnior foi ativada com a eleição da nova diretoria, sendo realizadas diversas atividades acadêmicas e culturais para a comemoração do Dia do Administrador, do Economista e do Turismólogo. Foi lançada a logomarca Turismo Cesmac, e travados entendimentos entre a instituição e municípios das regiões Norte e Sul – Maragogi e Coruripe, respectivamente − para a atuação estagiária de alunos. Sobre a Faculdade de Educação e Comunicação − Fecom, a Fundação promoveu muitos eventos, tanto na área de educação quanto na área de comunicação: congressos, seminários, encontros acadêmicos, workshops, palestras, oficinas, feira, apresentações culturais, mostra de filmes, participação em Bienal de Livro, com lançamento e discussão de livro de autores ex-alunos da Fecom, além da realização de Semana Acadêmica. Na área de pesquisa e iniciação cientifica PSIC, a Faculdade aprovou nove projetos de alunos e um de uma professora. A Faculdade se destacou na área de extensão, com projetos de educação ambiental realizados por alunos e professores, em parceria com o Ibama, Semarh, Ufal e Escola Técnica Quântica, executados no município de Jequiá da Praia − AL, concluindo com o I Encontro de Manguezais, promovido pela Semarh. Foram relatadas ações de educação ambiental, tendo como beneficiários alunos da escola pública do município de Pilar − AL, e seminário sobre o peixe exótico pirambeba, discutindo-se sua introdução no complexo lagunar Mundaú/Manguaba, promovido pela Semarh; realização de Semana dos Povos Indígenas e desenvolvimentos de projetos ligados ao direito e à utilização de comunicação no processo de afirmação de indígenas: Projeto Formação e Capacitação do Povo Kalankó, apresentações de trabalhos em congressos, dentre 110 outras ações de igual importância, contando com a parceria da Ufal. Do mesmo modo, na área de gestão dos cursos, outras tantas atividades foram relatadas, como capacitação de gestores através da Consultoria Lobo & Associados; a capacitação com o Grupo Positivo de Ensino sobre o Sistema Portal Universitário; a implantação de laboratório multidisciplinar; o movimento de educação a distância e a participação de professores e alunos da instituição em congressos brasileiros e internacionais, bem como em mesas-redondas da Ufal. Sobre a Faculdade de Ciências Humanas − FCH foram relatadas atividades como: implantação do curso de Mestrado em Psicobiologia com o objetivo de qualificar os professores do curso de Psicologia; materialização possível em face de parceria entre a Unifesp/Uncisal/Cesmac e cursos de especialização, lato sensu, em psicologia jurídica e psicologia de saúde comunitária; programa de monitoria, workshop, projetos, reuniões e atividades com repercussão na vida dos alunos e da comunidade. Na área de pesquisa e iniciação científica, foi realizada a I Jornada de Iniciação Científica do Cesmac, formação de grupos de estudos e realização de curso de capacitação de docente em pesquisa e normas da ABNT. Na área de extensão, foram realizados atendimentos psicoterapêuticos à comunidade interna e externa, instituições, escolas, ONGs, dentre outras, através da Clínica Escola. Nesse laboratório foi considerado como ação pioneira o plantão psicológico para atendimento de urgências. Ação de relevo para a comunidade externa foi o desenvolvimento de projeto de orientação vocacional em escolas de Maceió e de Palmeira dos Índios, e aos inscritos no vestibular Cesmac. As atividades extracurriculares da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas − Facet, como nas demais Faculdades do Cesmac, foram desenvolvidas através de seminários, congressos, palestras, cursos, visitas e viagens técnicas. A Faculdade está integrada ao Programa Semente de Iniciação Científica com cinco projetos. Participou, também, da I Jornada de Iniciação Científica do Cesmac, sendo instalada uma base meteorológica, laboratório que permite aos alunos pesquisa na área ambiental. Além dos temas de relevo discutidos nos eventos acadêmicos, o relatório deu ênfase às ações de extensão importantes, como concepção, organização e apoio à criação da Facet Consultoria Junior. A empresa objetiva a aplicação dos conteúdos trabalhados em sala de aula 111 no mercado de trabalho. Outro trabalho foi um Projeto Paisagístico que visava à utilização dos espaços livres do Colégio Moreira e Silva para o cultivo de hortas, jardins, pomares e farmácias verdes. Diversas participações da Fundação, através de seus alunos e professores, em eventos internos e externos, foram narradas, como participação em Bienal, Jornada Científica e Concursos de poesia e ópera, e no concurso Reuni 2007. Ainda, foi desenvolvido projeto de levantamento iconográfico dos engenhos de açúcar do litoral norte de Alagoas, reconhecido pelo CNPq, com o apoio financeiro e institucional da 17ª Superintendência Regional do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Foi desenvolvido Projeto de Banco de Dados de Arquitetura e Urbanismo e Projeto de intervenção paisagística, a ser desenvolvido na Reserva Ecológica Osvaldo Timóteo. Na Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde − FCBS foram realizados também diversos eventos acadêmicos que contaram com a participação do corpo docente, discente, direção da Faculdade e da Fejal. Outros tantos realizados por outras faculdades e grupos de estudo, do mesmo modo, tiveram a participação da instituição através de seus alunos e professores. Destacam-se o IV Congresso Alagoano de Biomedicina e o I Encontro Regional de Citologia Clínica, o 20º Congresso Brasileiro de Parasitologia, a IV Semana de Enfermagem, a II Semana Acadêmica e o I Evento de Gastronomia, realizado pelos alunos do 5º Período, na disciplina Técnica Dietética I, com a participação de docentes e discentes dos cursos do FCBS. Movimentaram a Faculdade, também, reuniões, convênios, concursos, cursos, palestras, visitas, elaboração e execução de projetos e apresentação de trabalhos em eventos acadêmicos, como a I Jornada de Iniciação Científica, apoio a participação de alunos na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência − SBPC, dentre outros. A Fundação, quando do período de recesso escolar, é um canteiro de obras. São feitas todas as reformas necessárias em todas as faculdades, admitindo-se neste período servidores especializados em construção civil para reforçar o quadro permanente da Entidade. São realizadas pinturas e revisão de instalações. Foram então descritas as ações administrativas de investimentos em infraestrutura, como reformas e construções, destacando-se a construção de laboratórios e salas para a administração e para aulas. Houve a conclusão de prédio do Setor 112 de Embriões, a reforma da Clínica de Nutrição e a conclusão da construção da Escola de Farmácia e Laboratório de Análises Clínicas. Para a movimentação da Fejal no exercício de 2007, R$ 84.324.382,00 (oitenta e quatro milhões, trezentos e vinte e quatro mil, trezentos e oitenta e dois reais) foram disponibilizados. Realizaram-se despesas operacionais da ordem de R$ 77.418.544,00 (setenta e sete milhões, quatrocentos e dezoito mil, quinhentos e quarenta e quatro reais). Constatou-se um superávit de R$ 9.017.808,00 (nove milhões, dezessete mil e oitocentos e oito reais), empregados em aquisição de ativo permanente operacional, aumento das imobilizações e investimentos para formação de capital de giro − pouco menor que o do exercício anterior. No ano de 2006, para a execução de R$ 80.549.625,00 (oitenta milhões, quinhentos e quarenta e nove mil, seiscentos e vinte e cinco reais), houve uma despesa operacional de R$ 77.484.859,56 (setenta e sete milhões, quatrocentos e oitenta e quatro mil, oitocentos e cinquenta e nove reais e cinquenta e seis centavos). Obteve-se um superávit de R$ 9.284.298,00 (nove milhões, duzentos e oitenta e quatro mil, duzentos e noventa e oito reais). Em 2007 o órgão de deliberação máxima, denominado de Assembleia Geral pelo Estatuto da Fejal, estava assim composto: 1 - João Rodrigues Sampaio Filho; 2 - Jayme Lustosa de Altavila; 3 - Maria Teônia de Barros; 4 - Orlando Rocha Filho; 5 - Paulo José Santos Lima; 6 - Benedito de Lira; 7 Humberto Marinho Sampaio; 8 - Laércio Madson de Amorim Monteiro; 9 - Estácio Luiz Correia Valente; 10 - Clementino Verçosa Damasceno; 11 - Douglas Apratto Tenório; 12 Cleantho de Moura Rizzo; 13 - Beroaldo Maia Gomes Rego; 14 - Diógenes Tenório de Albuquerque; 15 - Teomirtes Barros Malta; 16 - Pedro Alves de Oliveira Filho; 17 - João Rodrigues Sampaio Neto; 18 - Renato Resende Rocha; 19 - Gilson Coelho Lima. Os integrantes da Diretoria no período são os seguintes: 1 - Presidente: João Rodrigues Sampaio Filho; 2 - Vice-Presidente: Jayme Lustosa de Altavila; 3 - 1º Tesoureiro: Laércio Madson de Amorim Monteiro; 4 - 2º Tesoureiro: Estácio Luiz Correia Valente; 5 - 1º Secretário: Clementino Verçosa Damasceno; 6 - 2º Secretário: Douglas Apratto Tenório; 7 - 3º Secretário: Maria Teônia de Barros. O Conselho Fiscal estava assim composto: Titulares: 1 - José Moacir Teófilo; 2- Jonas Bispo Pereira; 3 - Ronaldo Correia de Farias; 4 - José Sebastião Bastos; 5 - Wellington Spencer Peixoto. Suplentes: 1 - Jorge Souto 113 de Moraes; 2 - Sebastião Correia Ramalho de Alencar; 3 - José Iêdo Mota Mendonça; 4 Glauco José de Sá Leitão Argeiras; 5 - Fernando Luiz Andrade de Araújo. São advogados da Fundação, neste período, Michela Gray Araújo Monteiro e Alexsandre Victor Leite Peixoto; assessor de Comunicação: jornalista Jorge Souto de Moraes, responsável pela Contabilidade: Benício Toledo de Araújo. PERFIL E ATIVIDADES DA FEJAL EM 2008 Os órgãos de deliberação e fiscalização interna da Fejal, diretorias do Cesmac e de suas faculdades em 2008 continuam com a mesma composição de 2007. A Diretoria-Geral do Cesmac tem como atribuição as tarefas administrativas. Para essa incumbência o engenheiro João Rodrigues Sampaio Filho é assessorado pelos advogados João Rodrigues Sampaio Neto e Sílvio Rogério Dias Camelo. A Vice-Diretoria do Cesmac possui as atribuições referentes às atividades acadêmicas. Nessa missão, o Prof. Doutor. Douglas Apratto é assessorado pelos professores Maria Tereza de Jesus Salvador Santos e Paulo José Santos Lima. As seis faculdades do Cesmac eram dirigidas pelos seguintes professores: FCBS: Prof. Dr. Mauro Guilherme de Barros Quirino Martins; Fecom: Prof. Dr. José Bartolomeu Barros; FCSA: Prof. Dr. Lívio Lavagetti; FCH: Prof.ª Coralina da Rocha Lima Cavalcante; Fadima: Prof. José Pereira Neto; FACET: Prof.ª Tânia Maria Gomes Voronkoff Carnaúba; Coordenadoria do NPP − Núcleo de Programas de Pesquisas: Prof.ª Dra. Enaura Quixabeira Rosa e Silva. Assessoria de Comunicação – Ascom A Ascom tem especial importância para a instituição, tendo como missão comunicar para o público interno e externo as ações da Fundação e os fatos de seu interesse e da comunidade em geral, como serviço de utilidade pública. Realizou no ano de 2008 a cobertura do I Congresso Acadêmico do Cesmac, realizado de 27 a 31 de outubro, no Centro de Convenções de Maceió, tendo recebido alunos de todas as faculdades, reunindo cerca de 10.000 pessoas. Esse órgão de assessoria da instituição, através do departamento de design, produz e distribui as revistas científicas do Cesmac, folders, cartazes, filipetas, banners, faixas, 114 camisetas e outras produções para a área acadêmica e administrativa, sendo o setor de fotografias responsável pela cobertura de inúmeros eventos internos e externos realizados pela Fejal ou em parceria com a Prefeitura de Maceió, governo estadual e entidades privadas. A cobertura do I Congresso foi realizada diretamente do local do evento, tendo a Ascom se instalado, de forma estratégica, em uma das salas do Centro, produzindo informativos diários e transmitindo ao vivo para o site Cesmac, com imagens de vídeos e fotos das palestras, suprindo também a imprensa comercial local. Ainda, edita e leva ao ar o programa “Informativos Cesmac”, que não se resume a coberturas institucionais, abrangendo matérias de utilidade pública nos âmbitos municipal e estadual. Nesse período, veicularam-se as matérias aos estados de Sergipe e Pernambuco, e mais de 500 matérias foram exibidas em três canais de televisão aberta e dois canais fechados em Alagoas, sempre aos sábados e domingos, reprisados durante a semana. Em novembro a Ascom produziu clipping de todo o material produzido durante o ano, coletando e catalogando matérias jornalísticas veiculadas em jornais e sites, resultando num documento com mais de 1.000 páginas. Dirige a Assessoria de Comunicação o jornalista Jorge Souto Moraes. A Fejal operou em 2008 receitas na ordem de R$ 87.560.917,00 (oitenta e sete milhões, quinhentos e sessenta mil, novecentos e dezessete reais), sendo R$ 84.108.183,00 (oitenta e quatro milhões, cento e oito mil, cento e oitenta e três reais) de receitas operacionais e R$ 3.452.734,00 (três milhões, quatrocentos e cinquenta e dois mil, setecentos e trinta e quatro reais) referentes a outras receitas. Para movimentar suas atividades, as despesas operacionais orçaram em R$ 78.457.647,00 (setenta e oito milhões, quatrocentos e cinquenta e sete mil, seiscentos e quarenta e sete reais). Outras despesas na ordem de R$ 869.429,00 (oitocentos e sessenta e nove mil, quatrocentos e vinte e nove reais), totalizando R$ 79.327.075,00 (setenta e nove milhões, trezentos e vinte e sete mil e setenta e cinco reais) e auferindo um superávit de R$ 8.233.842,00 (oito milhões, duzentos e trinta e três mil, oitocentos e quarenta e dois reais). A Fejal possuía, no ano de 2008, 15.372 alunos, sendo 12.594 da graduação e 2.778 da pós-graduação. Ao final do período contava com 1.616 servidores, entre docentes e servidores administrativos. Desses, 686 eram mulheres e 501 estavam acima dos 45 anos; 11 eram portadores de necessidades especiais. Possuía, ainda, 83 estagiários, verificando-se 115 nesse ano um aumento do número de mulheres, de servidores acima de 45 anos e portadores de deficiência. O perfil do corpo funcional teve uma leve mudança, aumentando o número de pósgraduados, de 62 em 2007 para 70 em 2008; de graduados, de 131 para 141; graduandos, de 88 para 93. Aumentou também o número de servidores com o ensino médio, de 215 para 218; no fundamental, de 53 para 65; fundamental incompleto, de 215 para 237. Incluem-se aí os trabalhadores da infraestrutura, como marcenaria, construção, segurança e serviços gerais, inclusive os analfabetos, em número de sete, um a menos que no exercício de 2007. Já no que se refere à qualificação dos docentes, há uma visível melhoria do perfil, observando-se um considerável aumento no número de mestres, doutores e especialistas, bem assim, a diminuição de docentes graduados. Ano 2007 2008 792 785 Doutores 17 30 Mestres 95 120 Especializados 448 469 Graduados 232 166 Total de docentes Foram atendidos nos escritórios e clínicas da Entidade: pelo Escritório Jurídico, 197 pessoas; nas clínicas odontológicas, 8.576 pessoas; nas clínicas de fisioterapia, 1.507 pessoas; e em outros serviços da área de saúde, 3.345 pessoas. Na área de Assistência Social, no Projeto Crescer, nas ações já mencionadas, foram atendidas 111 pessoas, e no Projeto Terceira Idade, 145 pessoas. As Faculdades do Cesmac debateram no ano de 2008 os temas de interesse dos cursos, em pauta no País, no Estado e na Região, em eventos como os já mencionados (palestras, seminários, viagens de estudos, feiras e exposições), efetivando práticas em projetos de extensão e estágios, bem como reuniões do Núcleo de Programas de Pesquisa − NPP, o VI Seminário de Iniciação Científica, em 14 de fevereiro de 2008, quando foi lançado o VII Catálogo de Projetos de Pesquisa. Foram selecionadas vinte bolsas de iniciação científica: dez referentes à parceria Fejal/Fapeal e dez do PSIC (Cesmac), com vigência entre 1º de agosto de 2008 e 31 de julho 116 de 2009. PERFIL E ATIVIDADES DA FEJAL EM 2009 O relatório do exercício de 2009, apresentado na Promotoria de Justiça de Fundações, complementarmente à prestação de contas, constituiu o processo PJCEF Nº 010/2011. Como visto até agora, tais documentos registram a história da fundação ano a ano e nele constam informações importantes do período, o que possibilita às promotoras que velam pela Instituição e que fazem o seu acompanhamento uma ideia geral daquilo que não foi possível perceber, já que a atuação do Ministério Público se dá também nas demais fundações, não sendo possível a presença frequente na Entidade. Apresentando a instituição, no relatório, o seu presidente, João Rodrigues Sampaio Filho, faz um resumo do que é a Fejal e observa a posição desta no âmbito do ensino superior em Alagoas. Ressalta o respeito adquirido ao longo de 36 anos de existência e menciona ainda os avanços na área de pesquisa, dos laboratórios, da evolução do número de matrículas, dos três campi no interior – Arapiraca, Marechal Deodoro e Palmeira dos Índios. Alude ao acertado empenho para a realização do sonho do padre Teófanes, a criação da Fejal, contemplando aqueles que desejavam e não podiam dar continuidade a seus estudos por não existir uma faculdade no período noturno. Finaliza: Provando, com isso, que estava certo nos seus ideais, e o resultado é esse que nós todos estamos vendo, o CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC, a maior instituição privada de ensino superior no Estado de Alagoas. OS INTEGRANTES DOS ÓRGÃOS DIRETIVOS Ainda em 2009 ocupavam os cargos dos órgãos da Fundação e do Cesmac os mesmos integrantes de 2007 e 2008, à exceção do Conselho Fiscal, que sofreu alteração, ficando com a seguinte composição, integralizada com quatro titulares e quatro suplentes: O Conselho Fiscal: Titulares: 1 - José Moacir Teófilo; 2 - Jonas Bispo Pereira; 3 Ronaldo Correia de Farias; 4 - José Sebastião Bastos; Suplentes: 1 - Sebastião Correia Ramalho de Alencar; 2 - José Iêdo Mota Mendonça; 3 - Glauco José de Sá Leitão Angeiras; 4Fernando Luiz Andrade de Araújo. 117 Na Diretoria das Faculdades no ano de 2009 houve mudança na Faculdade de Direito de Maceió – Fadima, passando a dirigi-la o Prof. Dr. Pascoal Savastano Junior, mencionando ainda o relatório como Coordenador Financeiro, José Ivan Câmara Bandeira. OS RECURSOS E INVESTIMENTOS NO PERÍODO A Fundação movimentou, no ano de 2009, R$ 92.351.515,00 (noventa e dois milhões, trezentos e cinquenta e um mil, quinhentos e quinze reais). Destes, R$ 89.686.087,00 (oitenta e nove milhões, seiscentos e oitenta e seis mil e oitenta e sete reais), de receitas operacionais, o que corresponde a 97,11% das receitas, e R$ 2.665.448,00 (dois milhões, seiscentos e sessenta e cinco mil, quatrocentos e quarenta e oito reais) de outras receitas. A Fejal discriminou despesas totais do exercício na ordem de R$ 81.693.625,00 (oitenta e um milhões, seiscentos e noventa e três mil, seiscentos e vinte e cinco reais), sendo de despesas operacionais, R$ 80.651.027,00 (oitenta milhões, seiscentos e cinquenta e um mil e vinte e sete reais). O Diretor Financeiro da Fejal, Dr. Laércio Madson, menciona em sua fala no relatório o investimento no exercício na ordem de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais) em construções, aquisição de imóveis e equipamentos, para melhor atender ao aluno, utilizando recursos próprios, de resultado de suas atividades, acumulados durante os exercícios anteriores. Importante indicador foi apresentado no sentido de demonstrar a sensibilidade da Fundação quanto às condições financeiras do aluno, estas constatadas através de pesquisas de seus órgãos de planejamento. Quem procura a Fejal é, cada vez mais, o aluno com renda familiar baixa, necessitando, após longos períodos de inadimplência, de descontos em suas mensalidades, no final do período, para prosseguirem em seus cursos. Há também o desconto por adimplência, que estimula o pagamento em dia. Descontos concedidos – em R$ 2007 7.414.552, 20 2008 5.733.445,00 2009 8.053.871 A Biblioteca Central começou a ser construída na Rua Cônego Machado, nº 918, 118 Farol, com capacidade para exposição de 80 mil livros. O projeto previa ambientes climatizados e equipados com terminais de computação, com capacidade para atender 45 alunos, simultaneamente. O investimento estimado inicialmente foi da ordem de R$ 2.500.000,00 (dois milhões e meio), dos quais R$ 1.718.000,00 (um milhão, setecentos e dezoito mil reais) foram gastos no exercício de 2009. Foi adquirido o estacionamento denominado Tropical, também à Rua Cônego Machado, nº 1.043, medindo 47,86 m de frente e de fundos e 100 m de frente a fundos, pelo custo de R$ 1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil reais), com o objetivo de instalar uma Galeria de Artes. Esta recebeu o nome de Galeria Cesmac de Arte – Fernando Lopes –, que tem se mostrado um importante ponto de apoio cultural para a cidade de Maceió e para os artistas locais. Foram construídas ainda neste local, 18 salas de aula para acomodar cursos da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas − Facet, pois o prédio que acomoda tais cursos encontrava-se em reforma, com obras orçadas em R$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais) a serem aplicados no exercício de 2010. Também no período foram adquiridos mais dois imóveis na Praça do Centenário – o da antiga Casa Cláudio e anexo, contíguos ao estacionamento da Fadima e ao prédio do Laboratório − Escola de Farmácia, já demolidas. Custaram R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais), com projeto para a construção de um prédio de sete andares com dois níveis de estacionamento, e previsão de acomodação de seiscentos carros, destinado a sediar a Fadima, formando a área um complexo de prédios da instituição. As casas são as de número 993 e 993-A, ambas adquiridas em 16 de março de 2009, medindo uma, 14 m de frente e de fundos por 34 m de frente a fundos, e a outra, 16,90 m de frente e de fundos por 34 m de frente a fundos. Foi adquirido um terreno situado na Rua Francisco Padilha de Souza, Bairro Vila Maria, Palmeira dos Índios, recebido por doação do Município de Palmeira dos Índios, em abril de 2009, medindo 65,67 m de frente por 113,33 m de fundos. A Fejal adquiriu prédios residenciais situados na Rua Cônego Machado, nº 927, Maceió/AL, em 1º de abril de 2009, e o de nº 901 − contíguo ao prédio da Presidência e ao de nº 927. Também, a casa de nº 873, da mesma rua, adquirida em 21 de outubro de 2009, medindo 5 m de frente por 4,68 m de fundos por 41,10 m de frente a fundos, em ambos os 119 lados. A entidade comprou ainda o imóvel residencial situada na Avenida Moreira e Silva, nº 581, Farol – antigo estacionamento da Igreja Universal −, medindo 11,9 m de frente e 22,5 m de fundos e 129 m de frente a fundos, adquirida em 2 de setembro de 2009. Comprou ainda um terreno situado à Rua Íris Alagoense, nº 500/504, Farol, Maceió, medindo 22,25 m de frente por 22,3 m de fundos, 27,7 m de frente a fundos pelo direito e 33,6 m de frente a fundos pelo lado esquerdo. OS RECURSOS HUMANOS Perfil dos servidores no exercício Servidores no final do exercício Admissões no período Prestadores de serviço Nº de Mulheres na Fejal Servidores acima de 45 anos Estagiários Portadores de necessidades especiais 1.501 147 228 680 667 133 37 A Fundação apresentou quadro onde se observa que houve um aumento significativo no número de admissões de portadores de necessidades especiais, passando de 11 para 37, bem assim no número de estagiários, que passou de 83 para 133. Constata-se o aumento do índice de servidores com idade acima de 45 anos e o decréscimo do número de servidores, que passou de 1.616 para 1.501. Os 716 servidores professores observados em 2009 estão assim qualificados: Professores Doutores Mestres Especializados Graduados Total de docentes 2008 30 120 469 166 785 2008 4% 15% 60% 21% 100% 2009 28 132 522 34 716 2009 4% 18% 73% 5% 100% O Programa Institucional de Pesquisa − NPP estabeleceu como meta zerar o número de professores apenas com graduação em um ano e meio e reduzir pela metade os professores especialistas em dois anos. 120 Para qualificar internamente seus professores, a Fejal vem firmando convênios com instituições nacionais e internacionais para oferta de vagas em mestrado e doutorado. Como exemplo, a Universidade Cidade de São Paulo − Unicid, para oferta de mestrado em educação e fisioterapia, e a Universidade Stendhal Grenoble, da França, com intercâmbio de projetos de pesquisa envolvendo professores e alunos. A Fundação contratou consultoria para elaboração de projeto do Programa Permanente de Pós-graduação Stricto Sensu do Cesmac, com oferta anual de vagas. Qualificação do corpo Administrativo Pós-graduados (especializados, mestres e doutores) Graduados Graduandos Com ensino médio Com ensino fundamental completo Com ensino fundamental incompleto Não alfabetizados Total 88 137 106 238 82 123 11 785 11% 17% 14% 30% 10% 16% 2% 100% A Fundação matriculou, no período, 12.582 alunos na graduação, 12 matrículas a menos que em 2008, e 3.195 alunos na pós-graduação, 417 matrículas a mais que no ano de 2008, totalizando 15.777 matrículas. As matrículas estão distribuídas em suas faculdades da seguinte forma: 1- Graduação FADIMA FCSA FECOM FCH FACET FCBS SUBTOTAL 2- Pós-graduação Total 2009 3.236 1.305 994 1.105 2.306 3.636 12.582 3.195 15.777 2009 21% 8% 6% 7% 15% 23% 80% 20% 100% 121 AS AÇÕES SOCIAIS E ATIVIDADES PROJETO CRESCER CRIANÇAS O Projeto Crescer atendeu, no período, 62 crianças, entre cinco e sete anos, compreendendo o nível II (cinco anos) e o nível III (seis e sete 7 anos). As crianças recebem atendimento integral e as mesmas atividades e assistência dos anos anteriores. Neste exercício, o Projeto Crescer passou a ser campo de estágio para os cursos de nutrição, odontologia, enfermagem, biomedicina, fisioterapia, psicologia, direito, e da disciplina psicopedagogia da educação infantil. JOVENS No ano de 2009 foram atendidos, através do Projeto Crescer, 32 jovens, nas mesmas atividades mencionadas nos exercícios anteriores: palestras educativas, cursos profissionalizantes, visitas culturais, assistência psicológica e inserção no mercado de trabalho. GRUPO DE MULHERES Foram assistidas, nesse projeto, 27 mulheres nas atividades mencionadas nos exercícios anteriores: palestras educativas e culturais, cursos semiprofissionalizantes de curta duração − com os trabalhos manuais vendidos e o valor revertido para as alunas. Foram realizados exames ginecológicos preventivos de câncer. Despenderam-se recursos na ordem de R$ 369.915,00 (trezentos e sessenta e nove mil, novecentos e quinze reais) nesse projeto, no ano de 2009. PROJETO TERCEIRA IDADE Foram assistidos 128 idosos nas atividades relatadas nos exercícios anteriores, 122 recebendo atendimento nas diversas áreas previstas no projeto. Destes, 57 foram semiprofissionalizados em cursos de artesanato. As clínicas do Cesmac/Fejal atenderam gratuitamente nas diversas áreas ao número de pessoas mencionado no quadro a seguir: Pessoas atendidas Área jurídica Área de odontologia Área de fisioterapia Outras áreas 2009 202 6.997 797 3.306 A Clínica Escola de Fisioterapia funciona desde 2004 e dispõe de dez salas de atendimento e dois laboratórios específicos. Há uma interação entre os cursos da área de saúde, o que possibilita uma atenção integrada ao atendido pelos profissionais e alunos, a exemplo do Projeto de Assistência aos Distúrbios das Articulações Temporomandibular, assistência realizada em parceria com o curso de odontologia. É este serviço o primeiro gratuito no tratamento desse distúrbio no estado de Alagoas, e funciona desde o primeiro semestre de 2007. O Projeto Pé Torto, ao qual já nos referimos neste trabalho, desenvolvido pelo Curso de Fisioterapia, refere-se ao tratamento gratuito do pé torto congênito, coordenado por médico ortopedista que utiliza técnica inovadora no tratamento de crianças, em sua maioria procedente do interior do estado de Alagoas. Essas crianças recebem outras assistências na sala de espera, como palestras educativas ministradas por professores e alunos dos cursos de enfermagem e nutrição. Área Acadêmica No relatório de atividades desse exercício, o Vice-Reitor do Cesmac, Prof. Dr. Douglas Apratto, que também, estatutariamente, é o responsável pela parte acadêmica da instituição, fez uma descrição detalhada sobre as atividades administrativo-acadêmicas: A instituição teve em 2009 um ano muito produtivo em realizações em todas as áreas, o que culminou com a instalação de dois Conselhos Superiores: O Universitário e o de Ensino, Pesquisa e Extensão. Nesse sentido, a realização do Congresso Acadêmico constitui uma síntese viva desse momento especial de desenvolvimento acadêmico. 123 O congresso acadêmico teve o objetivo de integrar a comunidade interna e divulgar as produções de ensino, pesquisa e extensão “ora em franco desenvolvimento”. Realizou-se no Centro de Convenções de Maceió, durante quatro dias, abrilhantados com espetáculos de canto coral, teatro e música instrumental, com participação de integrantes da instituição e convidados. Foi encerrado com um festival de música popular, tendo a Assessoria de Comunicação – Ascom produzido informativo diário sobre as atividades do evento. A Biblioteca Central registrou a marca de 60.800 empréstimos de livros, tendo seu acervo sido ampliado em 1.600 títulos, havendo a previsão de inauguração de prédio próprio para as suas novas instalações, confortáveis, devidamente climatizadas e com capacidade para 80 mil livros. Ainda no período, o Cesmac publicou seis revistas acadêmicas, registrando a produção de discentes e docentes, além do VII Catálogo dos projetos de pesquisa do Programa Semente de Iniciação Científica − PSIC: Entre Aberta – publicação bienal de extensão cultural e comunitária; Ciência, Consciência e Humanismo – FCH em Ação – Revista do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Humanas; Pensamento e Conhecimento em construção – Volume IV; Revista Semente 2009 – Volume IV; e Revista Inconho – FCH, Fadima, Fecom. Em 2009 nove cursos foram avaliados pelo Conselho Estadual de Educação, e credenciadas duas novas faculdades: Faculdade Cesmac do Sertão e Faculdade Cesmac do Agreste. Foram autorizados seis cursos: Direito e Análise de Sistema na cidade de Arapiraca, e Administração, Enfermagem, Direito e Biologia na cidade de Palmeira dos Índios. Afirma o Vice-Reitor: Foram reestruturados o Plano de Desenvolvimento Institucional − PDI e os Projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação, com base nos resultados das avaliações e nas reflexões pedagógicas internas, o que adequou os documentos ao projeto institucional em curso e em permanente avaliação. A Faculdade de Direito de Maceió − Fadima O Núcleo de Ensino Pesquisa e Extensão − NEPE, da Fadima, é o órgão encarregado da orientação acadêmica dos alunos que estão na fase de elaboração e apresentação dos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC. Coordena a Revista Jurídica, promove eventos 124 culturais e acadêmicos e encaminha alunos para a Central de Estágio e para o Programa de Monitoria. Nesse período o Nepe realizou alguns eventos, uns tradicionais, como palestras sobre Dicas de Defesa de Trabalhos de Conclusão de Curso, Seminário Educar para a Pesquisa; Apresentação dos Trabalhos de Conclusão de Curso; Organização dos minicursos do Congresso Acadêmico; Português Forense; I e II Seminários de Direito Ambiental, em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral – TRE/AL; Ciclo de Palestras Diálogos Jurídicos: uma concepção interdisciplinar, abordando os seminários, tanto referentes à pesquisa quanto a diálogos jurídicos. Foram abordados diversos temas de grande importância, não só para os alunos, mas para a sociedade em geral, como: documentos online, contratos eletrônicos e relações jurídicas obrigacionais no ciberespaço, assédio moral na relação de trabalho, responsabilidade civil do Estado com moradores de rua em Alagoas e Lei Maria da Penha: um olhar aos mecanismos utilizados no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher em Maceió/Alagoas. Como a pesquisa, em face do grande volume de informações existentes sobre as atividades e realizações da Fundação, está sendo realizada por amostragem, conforme observado, o contido neste trabalho não exaure os temas discutidos neste ano, nem os projetos realizados, bem assim os investimentos feitos na área física e acadêmica. Em 2009, o Nepe registrou 180 projetos de pesquisa elaborados pelos alunos das turmas do 9º período, com diversos temas e títulos ligados à área jurídica, envolvendo também alunos bolsistas. Alguns títulos devem ser mencionados pela sua patente relevância. Como exemplo: os testes de verificação de alfabetização realizados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas e suas implicações no deferimento ou indeferimento no registro de candidatura dos postulantes a cargos eletivos; o registro civil e o reconhecimento de paternidade: estratégias de implantação; Assembleia Legislativa alagoana à luz de Maquiavel: um estudo sobre a corrupção e a democracia e análise dos problemas jurídicos e sociais advindos da aquisição de imóveis por estrangeiros. O Núcleo de Gerenciamento Acadêmico – NGA é responsável pelo Programa de Monitoria da Fadima e possuía, no ano de 2009, 14 bolsistas e dois voluntários. Foram relatadas como atividades deste órgão do Cesmac as seguintes ações: 125 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Organização da seleção para a monitoria; Divulgação do Edital de Monitoria; Contato com professores e alunos; Organização da documentação exigida pelo Edital para encaminhamento à Coordenação Acadêmica do Cesmac; Acompanhamento dos monitores; Elaboração do Plano Anual de Monitoria; Elaboração de Relatórios. O Núcleo de Prática Jurídica − NPJ confere vivência de prática jurídica aos alunos mediante atendimentos à sociedade, integrando o aprendizado acadêmico às necessidades da comunidade do entorno da Fundação e de atendidos carentes, com acompanhamento de docentes. No NPJ são realizadas consultas jurídicas, elaboradas ações e firmados acordos. São, também, encaminhados os atendidos a órgãos públicos ou privados capazes de solucionar suas dificuldades, quando não são de possível resolução pelo Núcleo. Foram destacados como de relevo neste núcleo os seguintes indicadores: Professores/advogados Servidores Estagiários Atendimentos e participações Ações ajuizadas Causas em andamento Audiências realizadas Outras atividades − Consultas/acordos Ações realizadas Edital de Seleção Seleção de estagiários 5 2 120 185 24 302 85 18 2 1 1 A Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas − FCSA desenvolveu durante o ano de 2009 dois grandes projetos. O Projeto Prova Padronizada Portfólio objetivou adequar os cursos da Faculdade às finalidades delineadas nos respectivos projetos pedagógicos; já o Projeto Esforço Enade visou melhorar o desempenho dos cursos nas próximas edições do Enade. A expectativa de resultado positivo foi grande em face do esforço da Faculdade e quanto ao resultado alcançado pelos alunos, constatando-se uma sensível diminuição de rejeição e até de boicote ao exame, e na mesma proporção, uma participação maior que as 126 detectadas nas edições anteriores. A Faculdade também patrocinou muitas palestras, seminários e visitas técnicas, destacando-se as seguintes: Palestras: A Crise Financeira Internacional: Reflexos sobre o Brasil e Alagoas; Aquecimento Global e Mudanças Climáticas; Os Dilemas da Globalização e o Nordeste; Globalização, Turismo e Economia; Visão Contemporânea sobre Cultura e Desenvolvimento: Redes e Parcerias; Cidadania e Políticas Públicas de Geração de Emprego, Renda e Inclusão Social. Eventos comemorativos e culturais foram realizados, como ações do Dia do Trabalhador, Semana do Museu Téo Brandão, 2º Arrastur: festejos juninos; e visitas à Pousada do Toque, em São Miguel dos Milagres/AL, ao Hotel Maceió Atlantic Suites, Maceió/AL, à Serra da Barriga − Comunidades Quilombolas e Hotel Palmares, dentre outras. A Faculdade de Educação e Comunicação – Fecom registrou como fatos marcantes do ano de 2009, para o curso de Comunicação Social, a Lei de Imprensa, que acaba com a obrigatoriedade de formação superior para o exercício do jornalismo. De igual modo, a realização da Conferência Nacional de Comunicação Social, a reformulação das diretrizes curriculares nacionais para o curso de Jornalismo, com repercussão em outras habilitações de Comunicação Social, e a campanha nacional de reabilitação do curso de Jornalismo. Pelo segundo ano consecutivo o curso de Publicidade e Propaganda foi mencionado no Guia do Estudante, da editora Abril, com a classificação de 3 estrelas, e citado no Guia de Melhores Universidades 2008 e 2009. Já o curso de Jornalismo foi destacado no Guia Imprensa Jornalismo e Comunicação, da revista “Imprensa”. Houve ainda no período, numa ação integrada dos corpos administrativo, docente e discente, a adequação das matrizes curriculares do curso de Jornalismo e Publicidade e Propaganda aos interesses da sociedade contemporânea e ao seu Projeto Político-Pedagógico. Muitos foram os eventos acadêmicos do período desenvolvidos. Selecionamos os seguintes para demonstrar a importância desta Faculdade: Durante o Encontro Pedagógico 2009, discutiu-se a Avaliação da instituição de Educação Superior − compromisso com a qualidade e a ação docente. Outras ações como a aula inaugural do Centro Cultural e de Exposições de Maceió, o Encontro de Comunicação para discutir a formação do Comunicador, a 3ª Semana dos Povos Indígenas, enriquecida com seminários, exposição fotográfica, debates, apresentação cultural de indígenas e relatório do 127 Núcleo de Comunicação – Nepac, reuniões de diagnóstico. Também ocorreu uma reunião para discutir a proposta de professores do curso de Jornalismo a ser encaminhada à Comissão de especialistas do MEC, como contribuição à reformulação das DCNs de Jornalismo. Foram aprovados pelo Núcleo de Programas de Pesquisa – NPP oito projetos de pesquisa para execução nos anos de 2008/2009, com temas ligados a radiojornalismo, jornalismo/deficiente visual/inclusão em ciberespaço, comunicação tradicional/tecnologia radiofônica, educação online, Português/Redação para a iniciação cientifica, cinema contemporâneo e guia fotográfico alagoano. Da Faculdade de Ciências Humana − FCH destacam-se as seguintes ações acadêmicas: 1. Seminário Integrador Sobre Violência; 2. Mesa-Redonda Sobre Abuso Sexual e Exploração Infantil; 3. Fórum de Psicologia da Violência; 4. Semana Acadêmica de Integração: Psicologia, Direito e Jornalismo; 5. Seminário O Corpo na Psicologia; 6. Seminário de Licenciatura em Psicologia: A Dimensão Humana da Docência; 7. Curso de Capacitação da Psicologia da Violência; 8. Fórum sobre Práticas Psicológicas nas Varas da Infância e Juventude; 9. I e II Fórum sobre Autismo; 10. II Seminário Integrado: Direito e Psicologia. A Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas − Facet trabalhou neste ano a visibilidade dos cursos de Arquitetura e Engenharia, apresentando-os em colégios para alunos do ensino médio. Na ocasião, foi exibido um vídeo do curso de Arquitetura na IV Mostra de Cursos Superiores do Colégio Marista de Maceió, com exposição de maquetes feitas pelos alunos de Arquitetura do Cesmac/Fejal e apresentação dos trabalhos de conclusão de curso de graduação. Também foi apresentado para os colégios São Lucas e Santa Úrsula o curso de Engenharia. A Facet relata a participação de Projetos de Pesquisa no Concurso “Opera Prima 2009”. Concorreram seis trabalhos da Graduação 2008 do Curso de Arquitetura e Urbanismo, um deles sendo qualificado para apresentação regional, além de seleções de alunos para estágio em diversos órgãos públicos e privados. 128 Houve a participação da Faculdade em Feiras, Exposições e Mostras, como: XIII Mostra de Arquitetura Alagoana; exposição fotográfica “Pluralidades do ver a cidade”, com trabalhos de alunos da disciplina Fotografia; Participação no IV Sepro/NE, em Fortaleza. A participação neste evento objetivava entendimentos prévios no sentido de Alagoas sediar o próximo Seminário, em 2010, consolidando no Nordeste o curso de Engenharia de Produção do Cesmac, já que seria a primeira vez que este evento seria sediado por uma instituição privada. Registra-se também a participação do curso de Engenharia de Produção no Congresso Acadêmico do Cesmac e na Semana Braskem de Tecnologia e Inovação, patrocinado pelo Senai, proporcionando a integração entre alunos e profissionais da área. A Faculdade realizou ainda, no curso de Engenharia Civil, as 6ª e 7ª Rodadas de Palestras da Construção Civil, com exposições realizadas por especialistas de Alagoas e Pernambuco, e o Simpósio Alagoano de Engenharia Civil. No Curso de Análise de Sistemas realizou-se Jornada Adobe CS4, promovida pela Action Criações, com a participação de palestrantes de São Paulo e do Rio de Janeiro; Seminário Técnico Free Software Night (Freeson), com a participação de palestrantes de Alagoas e Pernambuco; Seminário Técnico III Debian Festival, dentre outros. No período houve admissão para monitoria nas disciplinas de Desenho I e II e Maquetaria, para o curso de Arquitetura e Urbanismo; para as disciplinas Resistência dos Materiais I e Fenômenos de Transporte, do curso de Engenharia Civil; disciplinas Linguagem Técnica de Programação, Linguagem Técnica de Programação I (Extensão Arapiraca), dos cursos de Análise de Sistema e Matemática II, no curso de Engenharia de Produção. Viagens e visitas técnicas a empresas, lojas, construtoras e fábricas, em Maceió e em outras cidades, em companhia dos respectivos professores das disciplinas, foram realizadas com o objetivo de unir a teoria à prática. Foram convidados pelos professores das disciplinas arquitetos para dissipar dúvidas em áreas específicas; nesse sentido, também se buscou o responsável técnico das Tintas Sherwin Wiliams para proferir palestra sobre esta matériaprima dos arquitetos. Verificou-se ainda a formação da segunda turma do Curso de Pós-Graduação em Design de Interiores, no Curso de Arquitetura e Desenvolvimento de Aplicações para a Web 2.0 e Tecnologias Web para Negócios. Houve também a avaliação dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia 129 Civil, pelo Consede, no período de 9 a 13 de novembro de 2009, obtendo, ambos os cursos, nota 3 (três). Após o resultado, houve reunião com discentes, docentes e coordenação para analisar o relatório contendo o diagnóstico do curso e discutir soluções para os pontos fracos indicados. Além disso, aconteceu nessa Faculdade a avaliação do Curso de Análises de Sistema, com reconhecimento renovado até 2013 e nota de avaliação 4 (quatro). No Curso de Engenharia foram aprovados cinco projetos de pesquisa no PSIC 2009/2010 e um projeto de Extensão. A Faculdade de Ciências Biológicas − FCBS menciona palestras e eventos realizados, dentre os quais: Palestras sobre Spiral Taping e Miofibrólise Percutânea, ambas em parceria com a Empresa Vitalie Cursos; comemorações do dia do fisioterapeuta e das crianças; ações realizadas em Pilar/AL e no Projeto Pilares da Cidadania, envolvendo seis professores e sessenta alunos; apresentação de trabalhos no Congresso Brasileiro de Fisioterapia. Foram mencionados os seguintes indicadores dos projetos assistenciais do curso de Fisioterapia, realizados em pacientes de 38 municípios alagoanos: Portador de Disfunção temporomandibular Pacientes Sessões realizadas Alunos envolvidos 325 14 25 Pé torto congênito 518 10 100 845 Pacientes Sessões Realizadas 968 24 75 Total Fisioterapia em Ginecologia e Obstetrícia 66 Neurologia 3.331 91 Traumato-Ortopedia e Reumatologia 4.498 343 Pediatria 2.532 86 Respiratória 1.877 51 Desportiva 832 44 Dermato Funcional 71 16 Total de Atendimentos 767 14.952 Ações importantes foram referidas no Curso de Nutrição: comemoração do Dia Mundial da Saúde, com veiculação de informações sobre prática de alimentação saudável, no 130 centro de Maceió, envolvendo alunos e professora do Curso de Nutrição; caminhada pela vida sem glúten, nos bairros de Pajuçara e Ponta Verde, no Dia Internacional do Celíaco; apresentação do Programa Nutrição em Ação – Avaliação nutricional, no Hiper Bompreço Farol, Maceió; apresentação do Programa Nutrição em Ação – Dia da Fruta: aumente o consumo e melhore sua qualidade de vida, evento realizado na Praça do Centenário; 1ª Gincana Nutrição em Ação: Brincadeira de Criança − com arrecadação de leite e brinquedos para futuras doações. Em comemoração ao Dia do Servidor Público − Orientação nutricional para os servidores da Secretaria de Saúde do Município, na Praça do Jaraguá; Programa Sala de Acolhimento: projetos realizados na recepção das Clínicas de Nutrição, Fisioterapia e Odontologia, com informações sobre alimentação, saúde e qualidade de vida; Programa Corrida pelo Diabetes − na Praia de Pajuçara, com avaliação nutricional e de perda hídrica, dentre outras. Serviços Triagem Ambulatório de Nutrição Esportiva Ambulatório Geral Ambulatório Geral − Estágio Curricular Ambulatório de Materno-Infantil Visita Domiciliar Total Marcação 400 136 217 659 83 – 1.459 Atendimentos 284 101 139 479 59 117 1.179 No Curso de Biomedicina foram realizadas ações isoladas e em parceria com os cursos de Nutrição, Enfermagem e Fisioterapia, como o Projeto Ação na Escola, realizado na Escola Liceu Alagoano. Já o Programa Hiperdia tem como objetivo o acolhimento dos atendidos, apresentação da unidade, verificação dos sinais vitais, pesagem, medição de altura, circunferência da cintura, IMC e glicemia; palestra sobre o vírus H1N1. Na área de Odontologia, atividades de campo também foram relatadas, como busca ativa de câncer bucal nas cidades alagoanas de Atalaia, Flexeiras, Penedo, Pilar, Passo de Camaragibe e na cidade pernambucana de Jucati, envolvendo alunos e professores da disciplina Semiologia do Cesmac; atividades educativo-preventivas em ONG, Escola Pública e durante a IV Semana Acadêmica. Palestras, organização de eventos acadêmicos e participação no II Congresso Internacional de Odontologia da ABO-CE, realizado em Fortaleza, foram mencionadas no Relatório 2009. 131 Total de Procedimentos Exceto Consultas e Retorno Com Consultas e Retornos 1º Semestre 2º Semestre Anual 3.519 3.478 4.163 4.409 6.997 8.572 No Curso de Farmácia, outras tantas ações foram destacadas, como palestras de relevo para a área, seminários, miniexposição de plantas medicinais, Curso de Nivelamento em Química para alunos do 1º Período; Ação Cesmac, 36 anos de Educação, visando informar sobre o uso correto das plantas medicinais e do álcool gel. Na extensão destacou-se a Corrida contra o Diabetes: medição de glicose, orientação sobre a doença, seu diagnóstico e tratamento, evento ocorrido na praia de Pajuçara; Ação de Saúde no II Congresso Acadêmico, no Centro de Convenções: distribuição de fitoterápicos e cosméticos manipulados pelos alunos da Farmácia Escola. Foi relatada pelo Curso de Enfermagem a realização de palestras e cursos, participação em eventos e atividades de extensão. Na Associação Brasileira de Enfermagem foi realizada a Semana Brasileira de Enfermagem, sob a coordenação de professores do Cesmac; no Hotel Lagoa da Anta foi realizado o Congresso Brasileiro de Cardiologia Multiprofissional, sob a coordenação de professoras do Cesmac e da Associação Brasileira de Enfermagem − ABEn; Apresentação Educativa de Combate à gripe Influenza A , na Unidade Docente Assistencial − UDA, em todo o ano de 2009, por professores da disciplina Estágio Curricular I. Foram realizadas algumas campanhas pelo Curso de Enfermagem, como: Campanha de Prevenção da Tuberculose, ação efetivada no centro de Maceió e no CEAGB – Centro Educacional de Ensino, que agrega várias escolas estaduais, com o apoio da Coordenação Estadual de Tuberculose; Campanha de Prevenção da Hipertensão e Diabetes, junto à Unidade Docente Assistencial − UDA; atividade de imunização dos participantes do Projeto Crescer, em 2009. E em Extensão, projeto realizado na central de esterilização, Projeto Extensão em saúde mental, realizado no Hospital Portugal Ramalho, além de formação de Grupo de Pesquisa SAE e Saúde Pública e Grupo de Estudos sobre Práticas Integrativas e Complementares. A Produção da Unidade de Docente Assistencial − UDA está exposta no quadro abaixo: 132 Procedimentos e Consultas Puericultura Pré-Natal Prevenção de Câncer de Colo Uterino Citologia Atendimentos ao Diabético e Hipertenso Consultas e Enfermagem Curativos Retirada de Pontos Educação em Saúde − Palestras e Reuniões Visita domiciliar Total 4 24 118 110 100 135 10 6 41 812 Foram aplicadas 565 vacinas do tipo dT, 661 para hepatite do tipo B, 68 tríplice viral e 21 contra febre amarela. Na área de Medicina Veterinária, ações políticas e acadêmicas de relevo para a instituição foram mencionadas, como: participação na composição da Câmara Setorial para o Desenvolvimento da Bacia Leiteira de Alagoas, em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas; participação na Comissão Organizadora do Workshop Tecnológico da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados de Alagoas, evento realizado pelo Cesmac, em parceria com o Sebrae; participação no Ciclo Anual de Palestras da Associação Nacional dos Clínicos de Pequenos Animais de Alagoas; participação no 34º Congresso Mundial para Veterinários de Pequenos Animais; participação no Ciclo Anual de Palestras da Anclivepa − AL; participação na Campanha de Vacinação Antirrábica, em parceria com o Centro de Zoonoses e a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió; participação no Congresso Mundial para Veterinários de Equinos. Importante ressaltar que a participação em Congressos inclui a apresentação de trabalhos de pesquisa de professores e/ou alunos da instituição. Eis os Indicadores da Clínica de Medicina Veterinária. 133 Animais Ultrassonografia Radiologia Clínica e cirurgia Clínica e cirurgia de Necropsia Laboratórios de peq. animais grandes animais 144 839 15 69 102 148 4 - Caninos Equinos 60 17 Felinos Ovinos Animais Selvagens Animais Silvestres Ruminantes Caprinos Suínos Doenças infecciosas Doenças parasitárias Patologia Clínica Histopatologia Total 13 - 17 8 1 - 23 - 2 3 - - - - 140 - 7 - - - - 23 8 - 2 - 87 - - - - - 90 239 1.081 202 36 400 981 30 1.498 Núcleo de Programa de Pesquisa – NPP A Fejal introduziu, no período, mudanças significativas tanto na área administrativa quanto na pedagógica no NPP, criando o Programa de Relações Institucionais − PRI e o Programa Institucional de Pesquisa – PIP. O Programa Semente de Iniciação Científica – PSIC teve sua evolução mencionada no Relatório 2009: Bolsas FEJAL FEJAL+PIBIC/CNPq FEJAL+PIBIC/CNPq+FAP EAL FEJAL+PIBIC/CNPq+ FAPEAL 2004//2005 30 bolsas - 2006 40 - 2007 60 - 2008 - - 68 2009 97 A meta estabelecida pela Fejal para 2010 era de cem bolsas, sendo quase alcançada em 2009, com a colaboração e parceria do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico − Pibic/CNPq, a partir de 2006, que teve o incremento de dez bolsas; em 2007, de mais três. Ainda no mesmo 134 ano a Fejal estabeleceu parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas − Fapeal, recebendo desta, dez bolsas, aumentando em 2008 para 15 o número de bolsas no Programa de Iniciação Científica, somando a marca de 68. Em 2009 foram concedidas 97 bolsas. Desde 2007, bolsistas do PSIC/Cesmac têm apresentado trabalhos nas reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência − SBPC, o que para a instituição representa o reconhecimento da qualidade das pesquisas produzidas. Em 2009, pela primeira vez, os alunos do Cesmac participaram do Encontro Internacional de Produção Científica – EIPC, sediado no Centro Universitário Maringá, com três trabalhos de pesquisa, dois deles premiados. Indicadores importantes foram apresentados no quadro abaixo, referente ao número de projetos aprovados, por faculdade, o que possibilita o acompanhamento da evolução dos pesquisadores por área. Projetos Aprovados por Faculdade: Faculdade FCBS FADIMA FECOM FCH FACET FCSA TOTAL CNPq FAPEAL 3 4 3 3 13 5 1 1 2 1 10 PSIC Total 29 7 8 4 7 3 58 37 12 12 6 11 3 81 A instituição apresentou outro quadro com informações interessantes sobre a área de pesquisa: Orientadores e Alunos Bolsistas e Voluntários(2009/2010) Docentes e Discentes Bolsistas Voluntários Professores orientadores Professores voluntários CNPq 13 7 13 4 FAPEAL PSIC TOTAL 16 70 99 16 61 86 15 58 86 5 20 29 Programa de Relações Internacionais – PRI Ainda avançando na área de pesquisa, a Fejal/Cesmac firmou, em 2008, Protocolo de 135 Cooperação Acadêmica com a Universidade Stendhal Grenoble, da França, consolidando-se em 2009 o programa de cooperação com a elaboração de plano e cronograma de trabalho de pesquisadores, num intercambio que trouxe aluna e professora da França a Alagoas, e levou professores da instituição à França. Núcleo de Projetos de Extensão − NPE Desde 2007, este núcleo vem se desenvolvendo de forma harmônica para a implantação da pesquisa no Cesmac. Foram editados sete livros, incrementados projetos musicais e teatrais, e na área comunitária, os projetos passaram, desde então, de 13 para 26, todos de muito relevo social. Núcleo de Pós Graduação – NPG A pós-graduação lato sensu, até o final de 2008, havia concluído 272 turmas. Em 2009 iniciou 46 cursos e encerrou 27, ofertando no período o total de 92 cursos. Destes, sete ofertados no interior do estado, nas cidades de Arapiraca, Atalaia e Viçosa. Encerrou o ano com 3.100 alunos matriculados e o envolvimento de 313 professores, tendo sido emitidos 641 certificados de conclusão de curso. Incubadora Empresarial Tecnológica – IET A Incubadora Empresarial Tecnológica apoiou em 2009, 12 projetos empresariais das diversas áreas, de alunos da instituição e da comunidade. Sete deles seguem o modelo presencial, instalado na sede do Projeto. Recebem os projetos da IET, também, apoio financeiro do Sebrae, da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas, através do Instituto Euvaldo Ludi, e da Financiadora Nacional de Estudos e Projetos − Finepe, este, resultante de projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Alagoas − Ufal, Universidade Estadual de Ciências da Saúde − Uncisal e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial − Senai. 136 Central de Estágios O número de estágios vem aumentando ao longo dos anos, em face de ações do Cesmac em busca de parceiros. Passou de 4.440 estágios em 2008 para 5.255 em 2009, num incremento de 815 estágios. Atividades Esportivas O Cesmac vem desenvolvendo uma atuação na área esportiva, motivando alunos e destacando a instituição. Obteve, em campeonatos regionais e nacionais, expressivas colocações. Assessoria de Comunicação – Ascom A Ascom ocupa importante papel no Cesmac. Objetiva não só destacar as ações da Fundação, mas também dos alunos e professores, além de noticiar ações de interesse público, num quadro denominado “Serviço”. O órgão atingiu no período a marca de 200 programas “Informativos Cesmac”, gerados em moderno estúdio instalado na Faculdade de Educação e Comunicação – Fecom, também campo de estágio para os alunos de Comunicação Social − habilitação em jornalismo e publicidade e propaganda. Esses programas, exibidos em mais de uma emissora e em dias diferentes, tiveram mais de quinhentas inserções na TV. Produziu a Ascom ainda no período 600 publicações, entre impressos e colunas nos jornais, e 400 matérias em sites de Alagoas, constatando-se, através do Google Analytics, três milhões de visitas ao site do Centro Universitário Cesmac, de internautas do Brasil e de diversos outros países. Comitê de Apoio Executivo – Coape O Coape foi criado em 2008 com o objetivo de proporcionar a integração acadêmicoadministrativa da instituição, implantar a reestruturação prevista em seu novo Regimento Interno e aplicar o Planejamento Estratégico Institucional – PEI. Em 2009 redefiniu ações, 137 com o objetivo do cumprimento deste planejamento, acatando determinação da diretoria da entidade: a de sedimentar o Departamento de Planejamento da Fejal, incluindo a instituição, definitivamente, no plano da gestão planejada. Foram apresentadas algumas atividades dentre as inúmeras realizadas no cumprimento de suas finalidades, destacando-se: a construção e implantação da biblioteca central; elaboração e publicação na internet do Manual de Normas e Procedimentos; monitoração do planejamento estratégico, gerando indicadores importantes do departamento financeiro; análise das novas estruturas de centro de custo e plano de contas; Plano de Carreira e Salário Docente do Cesmac, em parceria com o Setor de Gestão com Pessoas. PERFIL DA FEJAL EM 2010 A Fejal apresentou Relatório de Atividades e Contábil do Exercício de 2010, registrando matrículas na graduação de 12.919 alunos e na pós-graduação, de 2.922 alunos, totalizando 15.841 alunos, assim distribuídos: FADIMA 3.418 FCSA 1.221 FECOM 1.034 FCH 1.198 FACET 2.422 FCBS 3.626 Subtotal 12.919 Pós-graduação 2.922 Total 15.841 A instituição auferiu, no exercício de 2010, receitas operacionais na ordem de R$ 97.789.371,00 (noventa e sete milhões, setecentos e oitenta e nove mil, trezentos e setenta e um reais), e decorrente de outras receitas – como estacionamento, biblioteca, aplicações financeiras, clínica veterinária −, o montante de R$ 1.885.625,00 (um milhão, oitocentos e oitenta e cinco mil, seiscentos e vinte e cinco reais). Registrou despesas operacionais correspondentes a 89.710.569,00 (oitenta e nove milhões, setecentos e dez mil e quinhentos e 138 sessenta e nove reais), com um superávit correspondente a R$ 8.868.415,00 (oito milhões, oitocentos e sessenta e oito mil, quatrocentos e quinze reais). Neste exercício as notas explicativas das demonstrações contábeis dão conta de que foram adquiridos imóveis para ampliação de instalações acadêmicas e reformados imóveis existentes, resultando na elevação do imobilizado de R$ 74.087.626,00 (setenta e quatro milhões, oitenta e sete mil, seiscentos e vinte e seis reais) para R$ 88.328.636,00 (oitenta e oito milhões, trezentos e vinte e oito mil e seiscentos e trinta e seis reais) e elevando o patrimônio social para mais de R$ 106.000.000,00 (cento e seis milhões de reais). Como consequência, as aplicações financeiras da Fundação baixaram de 8.794.558,00 (oito milhões, setecentos e noventa e quatro mil, quinhentos e cinquenta e oito reais) para R$ 1.255.360,00 (um milhão, duzentos e cinquenta e cinco mil, trezentos e sessenta reais). Ainda em 2010, também foi realizado trabalhado de inventário patrimonial de bens móveis e localização física nos prédios da instituição, elaboração de termos de responsabilidade assinado pelos tutores desses bens, separação e tombamento das peças inservíveis e conciliação de 4.000 mil bens, o que demonstra a preocupação com o controle patrimonial da instituição. Houve um aumento do nível de descontos concedidos nas mensalidades e negociações de mensalidades atrasadas de alunos de baixa renda, em relação aos anos anteriores, contabilizando-se a cifra de 9.422.219,00 (nove milhões, quatrocentos e vinte e dois mil, duzentos e dezenove reais) no ano de 2010, verificando-se ano a ano um crescimento considerável. Para manter a Fundação foram utilizados 1.551 servidores; desses, 647 são mulheres, 620 estão acima de 45 anos, 54 são estagiários e 45 são portadores de necessidades especiais, com o seguinte perfil de qualificação: PROFESSORES Nº Doutores 38 Mestres 182 Especialistas 467 Graduados Total de Docentes 17 704 139 SERVIDORES ADMINISTRATIVOS Nº Pós-graduados (espec./mestres/dout.) 68 Graduados 137 Com ensino médio 323 Com ensino fundamental completo 140 Com ensino fundamental incompleto 171 Funcionários não alfabetizados Total de servidores administrativos 8 847 O número de analfabetos deve-se ao fato de a instituição utilizar para a construção civil (reformas e edificações de prédios) operários, estando entre eles os servidores de mais baixa qualificação escolar. Foram adquiridos no exercício, para destinação específica, os seguintes imóveis: casa na Rua Cônego Machado, nº 955, Farol, Maceió (escritura pública − 9.2.2010); casa na Rua Ângelo Neto, nº 118 (sede da secretaria-geral do Cesmac), Farol, Maceió (escritura pública − 25.5.2010); casa na Rua da Harmonia, nº 11, Farol, Maceió (escritura pública − 4.8.2010); casa na Rua Cônego Machado, nº 825, Farol, Maceió (sede da pós-graduação e mestrado); terreno situado em Palmeira dos Índios −AL para a construção do campus da Faculdade Sertão. As Faculdades do Cesmac debateram no ano de 2010 os temas de interesse dos cursos, em pauta no País, no Estado e na Região, em eventos como os já mencionados, palestras, seminários, viagens de estudos, feiras e exposições, e realizaram práticas em projetos de extensão e estágios, tudo nos moldes já expostos em anos anteriores, para ilustrar a relevância do trabalho realizado pela Fundação. PERFIL DA FEJAL EM 2011 No Exercício de 2011 a Fejal matriculou 15.841 alunos, sendo 12.919 da graduação e 2.922 da pós-graduação, estando assim distribuídos: 140 1-Graduação 2010 FADIMA 3.418 FCSA 1.221 FECOM 1.034 FCH 1.198 FACET 2.422 FCBS 3.626 SUBTOTAL 2-Pós-Graduação TOTAL 12.919 2.922 15.841 A nova estrutura dada a partir de 2011, pela legislação que regulamenta a migração para o Sistema MEC de fiscalização e a nova condição de Centro Universitário do Cesmac, individualizou os estabelecimentos de ensino, ficando assim distribuídos os alunos: 1-Graduação 2011 Centro Universitário Cesmac 11.627 Faculdade Cesmac do Sertão 681 Faculdade Cesmac Agreste 759 Subtotal 13.067 2-Pós-Graduação 3.570 Total 16.637 O corpo funcional da Fundação no exercício esteve constituído por 1.417 pessoas; destas, 774 eram mulheres e 522 tinham mais de 45 anos. A instituição empregou 34 portadores de necessidades especiais e admitiu 57 estagiários; 773 eram servidores administrativos, e 641 docentes. O perfil de qualificação dos servidores administrativos não teve grandes alterações de modo a repercutir em seu funcionamento, enquanto o perfil dos docentes tem melhorado consideravelmente, merecendo ser destacado. 141 Docentes 2011 Doutores 40 Mestres 214 Especialistas 387 Graduados Total de docentes 0 641 Observa-se que a instituição não emprega mais em seu corpo docente graduados, diminuindo para 387 os professores especialistas e aumentando para 214 o número de mestres, quando no exercício de 2010 ainda empregava 17 graduados, 467 pós-graduados e apenas 182 mestres, acrescentando em dois o seu número de doutores neste exercício. Este quadro deve ser considerado como resultante de grande esforço da Fundação em face da escassez de mestres e doutores no Estado e da dificuldade de oferta dessa qualificação em Alagoas, tendo sido nos últimos anos a única ofertadora a Universidade Federal de Alagoas. O Centro Universitário Cesmac iniciou-se nessa seara da pesquisa stricto sensu no início do ano de 2012, tendo sido autorizada pelo MEC, em 2011, através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a promover Mestrado Profissional de Pesquisa em Saúde, disponibilizando 20 vagas. Foi a primeira instituição privada no Estado na oferta de mestrado, fato amplamente divulgado pela mídia local. No ano de 2011 a Fejal movimentou, no exercício de suas atividades, R$ 102.689.271,00 de receitas operacionais e R$ 1. 222.560,00 de outras receitas, totalizando um montante de R$ 103.910.830,00, que pagaram uma despesa de 92.956,719,00. O superávit dos exercícios é utilizado em investimentos para a instituição, seja em pessoal, seja em patrimônio. São reinvestidos em suas finalidades e representam, quando investimento, patrimônio social. A prestação de contas informa, como tipicidade do exercício, as despesas de manutenção e reforma de imóveis e aquisição de equipamentos, para adequar o Centro Universitário Cesmac às exigências da migração para o sistema do Ministério da Educação e Cultura − MEC, ou seja, passando para a fiscalização do sistema e saindo da tutela do sistema estadual (Conselho Estadual de Educação). A instituição informou descontos concedidos em favor do aluno, também neste ano em ordem crescente, de R$ 12.399.660,00, referentes a bônus por adimplência e renúncia de 142 valores quando da negociação de mensalidades atrasadas, possibilitando matrículas de alunos em dificuldades financeiras. 143 CAPÍTULO IV 1. O ESTADO DE ALAGOAS E A CIDADE DE MACEIÓ Para melhorar a compreensão da contribuição das entidades criadas pela sociedade civil em Alagoas e em sua capital Maceió, serão abordados, ainda que brevemente, sua origem, cultura e desenvolvimento. Isso ilustrará algumas atitudes do seu povo, que vem ao longo dos anos, com educação, absorção de novas culturas e auxílio de abnegados do ensino, das igrejas, dos governos e da organização social, se adequando à atual realidade mundial, em todos os aspectos. A pobreza da maioria dos alagoanos, as dificuldades decorrentes da cultura e origem, da falta de oportunidades, a distância dos grandes centros de desenvolvimento econômico, cultural e educacional, têm sido superadas pela personalidade forte de seu povo, sua coragem, sua inteligência e, sobretudo, por sua perseverança e solidariedade. 1.1 Alagoas Alagoas localiza-se ao leste da região Nordeste. Possuía, segundo o IBGE, em 2000, 2.819.172 habitantes, e em 2010, 3.120.922 habitantes. É composto de 102 municípios, espalhados por 27.779,343 km² de área, sendo o penúltimo menor estado do País, maior apenas que Sergipe. Em 2009, e segundo a mesma fonte, possuía taxa de analfabetismo de 24,6% para os habitantes com 15 anos ou mais, e 36,5% de analfabetos funcionais nessa mesma faixa etária. O Relatório de Gestão 2011 da Universidade Federal de Alagoas menciona que o estado de Alagoas possui os piores indicadores do País e registra alguns dados esclarecedores. É com essa realidade que o Estado tem lidado ao longo de sua história, persistindo um quadro de exclusão social, econômica e política: Índice de desenvolvimento humano: IDH: 0,677 (IPEA,2005) − o pior do Brasil; Renda per capita: USS 2.332,10 (IBGE-BACEN,2006); Miserabilidade: 47% da população sobrevivem com renda abaixo de R$ 88,00 por pessoa (FGV, Mapa do Fim da Fome em Alagoas, 2003); 69,4% da população ativa recebem até um salário mínimo (IBGE,2003); 144 Estado com maior proporção de pobres do Brasil: 62% (IPEA,2004); concentração de renda (GINI=0,571), a maior do Brasil; 70% de seus Municípios estão entre os 20% com menor IDH do País; Em 1999, sete dos dez municípios brasileiros mais pobres situavam-se em Alagoas, inclusive o mais miserável de todos, São José da Tapera, no Sertão alagoano. Ali, a taxa de crianças mortas antes de completar um ano de vida era uma das mais altas do Brasil: 192,43 por mil crianças (ONU, 1999); Acesso a água encanada: 48,80% (SNIS/CASAL, 2006), a segunda menor do País; coleta e tratamento de esgoto: 30,5% (PNAD, 2005); Trabalho infantil não remunerado: 71,9% do total de crianças em trabalho de 5 a 17 anos (IBGE-PNAD, 2001); Analfabetismo: 25,20% (PNAD, 2008); Analfabetismo Funcional: 38,30% (IBGE, 2008); Insuficiente formação/qualificação docente da rede pública municipal e estadual: 20.000 professores (CEE-AL/ Gazeta de Alagoas, 22.2.2004); Ensino Básico – número de matriculas em 2006 − 1.061.557 (INEP, 2006); nº de docentes em 2006 − 40.110 (INEP, 2006); Ensino Superior, dados de 2006: nº de instituições: 28; cursos: 205; docentes: 3.413; técnicos: 2.414; alunos matriculados: 43.607; concluintes: 6.460; vagas oferecidas: 18.767; inscrições no vestibular: 56.687; ingressos: 16.277; média de anos de estudo na faixa entre 18 e 59 anos: 6, 22 (INEP, 2006) (p. 25). Segundo Tenório (2007), as transformações sociais e políticas por que o País passava só serão percebidas com mais intensidade no estado no final da década de 50 e durante os anos 60. “Podemos entender a década de 50 como um período de passagem de uma sociedade em vias de se inserir no esforço brasileiro de industrialização, com suas contradições e conflitos” (p. 29). Transformam-se as relações sociais, a urbanização, os meios de transporte, a comunicação e a educação. Nessa vida moderna, importam-se modelos de propaganda e introduzem-se eletrodomésticos e novas formas de lazer. O crescimento urbano, a continuidade das correntes migratórias e a retomada do crescimento populacional estão diretamente ligados ao novo modelo de desenvolvimento econômico (Tenório, 2007, p. 29). Relata Tenório (2007) que de 1920 a 1940 houve um descenso populacional em 145 Alagoas. Enquanto de 1940 a 1950 a população passou de 951.300 habitantes para 1.093.137, no final da década já era a população alagoana de 1.271.062, intensificando-se o fenômeno da urbanização. Maceió passou de 100.000 habitantes em 1950 para 170.000 em 1960. A população, que era predominantemente rural, apresenta no censo demográfico de 1960 uma inversão. O fenômeno migratório também foi analisado pelo historiador, acusando 1.430.575 migrantes alagoanos para os grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba neste período. Os 37 municípios (90 distritos e 53 vilas) existentes na década de 50 se fragmentaram em 69 municípios até o final da década, configurando uma nova estrutura não só geográfica, mas também política. A precariedade de serviços públicos essenciais em 1950 verificava-se em todos os âmbitos. Apenas 3,86% da população possuía água encanada, 9,58% da população possuía energia elétrica, e somente 20.823 residências possuíam aparelhos sanitários instalados (Tenório, 2007, p. 30). Cria-se na década de 60 a Companhia de Eletricidade de Alagoas (Ceal); acentua-se a exploração da cana-de-açúcar de forma “altamente subsidiada”, com o reequipamento de suas unidades, aumentando a sua produção com elevado nível técnico; inicia-se o ciclo rodoviário; evidencia-se o declínio das indústrias têxteis, a partir da década de 50, importante fonte de emprego e renda do estado, contando à época com 11 fábricas de tecidos, pertencentes a dez empresas; fortalece-se a cultura do fumo, no município de Arapiraca; há um aprimoramento dos rebanhos bovinos. Houve, após 1957, um crescimento acelerado de bancos, tendo sido criados dez, em apenas oito anos. Observa-se ainda um aumento de despesas orçamentárias com o funcionalismo público dos três poderes, “evidenciando a expansão das atividades do Estado e, claro, da visão clientelista do populismo” (Tenório, 2007, p. 34). As pressões sociais para a ampliação dos serviços do Estado incluem as educacionais, instalando-se no governo de Osman Loureiro de Farias (de 1934 a 1940) vários serviços públicos, como o primeiro posto de saúde pública de Maceió, a inauguração do cais do Porto de Maceió. Em termos educacionais, construiu o Instituto de Educação e o Grupo Modelo, o Grupo Escolar Tavares Bastos e várias outras escolas no interior e na capital. (www.gabinetecivil.al.gov.br/institucional). Persistiu nos anos posteriores o esforço para o fornecimento da educação com a 146 criação, no bairro do Farol, em Maceió, do Centro Educacional, um grande campus inspirado nas ideias de Anísio Teixeira, abrigando escolas de diversos graus, “uma verdadeira cidade educacional” (Tenório 2007, p. 37). Quanto ao ensino superior, a criação da Universidade Federal de Alagoas, diz Tenório, é o marco da emergência da classe média, quando a educação “adquire definitivamente o caráter de conquista social, abrindo espaço na hermética sociedade alagoana aos indivíduos que não pertencem a família tradicionais”. A restrição do acesso é vista com clareza no censo de 1950, quando só havia 934 pessoas no Estado com nível superior; dessas, 837 eram homens brancos; apenas dois negros, 46 pardos e 49 estrangeiros. No período, apenas 69 mulheres possuíam curso superior, sendo 65 brancas, duas pardas e duas estrangeiras. Não havia mulheres negras com curso superior (Tenório, 2007, p. 38). Esse quadro ora traçado tem origem na forma e nas condições do povoamento do território. Alagoas nasceu no seio da Capitania Hereditária de Pernambuco ou Nova Lusitânia, lote de terra que se estendia desde o rio São Francisco, ao sul, até o Maranhão, ao norte, datando essa divisão de 1534, conforme Carta Régia de Dom João III. Chegou ao Brasil o primeiro donatário, Duarte Coelho Pereira, no ano seguinte, constituindo Alagoas a parte sul da capitania. Faoro (2001) explica que, não obstante o explicito interesse mercantil da Coroa Portuguesa pelo Brasil, esta não confiou a “empresa” a seus parceiros comerciais, optando por entregá-la a pessoas de sua confiança. Manteve desse modo os vínculos públicos, tendo sido escolhidos para a tutela do território brasileiro, sua povoação, defesa e exploração, “burocratas e militares, letrados ou guerreiros provados na Índia, a pequena nobreza, sedenta de gloria e riqueza” (p. 143), caracterizando a vida do Brasil no século XVI: Numa faixa de cento e noventa e cinco léguas de litoral, à borda do mar, de Itamaracá a São Vicente, desenvolveu-se toda a vida do século XVI. Aí se cumpriram os propósitos iniciais das capitanias: defesa da costa e internamento nos sertões, internamento paulatino e mediante autorização administrativa. O desbravamento da terra onde se localiza hoje o Estado de Alagoas ocorreu logo após o naufrágio da nau Nossa Senhora da Ajuda, em julho de 1556. Esta se dirigia a Olinda, vindo de Portugal, trazendo mais de cem pessoas, inclusive o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero 147 Fernandes Sardinha, e o Provedor-Mor Antônio Carlos de Barros, todos aprisionados e mortos pelos índios Caetés21, inclusive com atos de antropofagia (ITB, 1995) (site Wikipedia). A partir daí, organizou-se entre portugueses e índios tabajaras22, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque23, a “expedição de desforra” contra os Caetés, que durante cinco anos caçou e matou estes índios, destruindo suas tabas. Os remanescentes que conseguiram fugir se refugiaram nas terras que hoje compreendem o estado da Paraíba, sob o Édito Real que condenou os Caetés sobreviventes capturados a escravidão perpétua. Após o falecimento de Duarte Coelho Pereira, em 1554, assume a administração definitiva em 1.559, vindo de Portugal, seu filho, Duarte Coelho de Albuquerque. Começa daí o esboço do território alagoano, quando este direcionou sua administração para a interiorização, instituindo duas bandeiras: uma para o norte e outra para o sul, assumindo juntamente com seu irmão a direção sul. Explorou o litoral, desembocando no rio São Francisco e num penedo que localizou à sua margem esquerda, fundando uma feitoria para vigilância, dando origem a atual cidade de Penedo, numa estratégia para a preservação do território. A preocupação de D. João III quanto à pirataria e à formação de colônias por parte dos franceses no Brasil motivou a organização de expedições com a finalidade de patrulhar o litoral brasileiro e fundar feitorias. Entre elas, uma no porto do Francês em Alagoas. Esse cuidado da Coroa foi se acentuando, evoluindo para o sistema organizacional de sesmaria: As grandes extensões de terra que compunham as capitanias e a dificuldade de povoá-las, as exigências sociais e materiais das populações já estabelecidas e a conveniência da exploração sistemática do solo, propício a todas as culturas, aconselhavam a divisão destas em sesmarias, distribuídas aos colonos mais notáveis – os chamados “homens de qualidade” −, seguindo a política adotada por D. João III com respeito ao Brasil (ITB, 1995). Existia, além do inicial interesse português pela extração do pau-brasil, o de exploração econômica do açúcar. O sistema das capitanias concedia aos donatários poderes 21 22 23 Caetés, índios que ocupavam a Capitania de Pernambuco, a quem pertenciam as terras alagoanas; hoje, localizados desde as margens do rio São Francisco até as margens do rio Iguaçu (Cabo de Santo Agostinho). Tabajaras: índios que ocupavam a Capitania de Pernambuco, vizinhos aos Potiguaras, e eram encontrados na região que ia desde Porto Calvo, que hoje pertence às terras alagoanas, subindo para o atual estado de Pernambuco, até além da Ilha de Itamaracá. Jerônimo de Albuquerque, irmão da esposa do donatário Duarte Coelho, Dona Brites de Albuquerque. Este último, chegando ao Brasil em 1535, trouxe sua família, numerosos colonos, sementes de cana-de-açúcar, de algodão e de vários cereais. Casou o seu cunhado com a filha do cacique tabajara Arco Verde. Conhecido pelos atos de crueldade. Amarrou índios prisioneiros na boca de canhões, disparando-os à vista de todos. 148 públicos por delegação, constando tais poderes das cartas de doação e de forais24. Diz Verçosa (2001: p. 24/25): Agora, a colonização das novas terras através de plantação, e não mais através da simples extração de madeira, vem estabelecer em definitivo, no Nordeste do Brasil, um empreendimento de cunho capitalista − produção para o mercado −, ainda que dentro do espírito do “capitalismo mercantil e politicamente orientado” como o denomina Faoro, e que caracteriza o século XVI português. Faoro (2001), referendando ainda esse interesse mercantil da Coroa portuguesa pela exploração “social e econômica” do Brasil, escreve: O açúcar, depois de lançado o primeiro engenho em São Vicente, entrelaça, sem descontinuidade, a corrente mercantil, mais tarde, nas cartas de doação e nos forais, ao lado da garantia a exploração do pau-brasil. Vislumbra-se o incremento aos engenhos, financiados, como o de São Vicente, pelos capitalistas de Lisboa, portugueses e estrangeiros (Faoro, 2001, p. 130). A dispersão das capitanias, decorrente da grande extensão territorial do Brasil e da grande quantidade de terra destinada a cada capitania, a autoridade dos funcionários do rei e dos senhores das terras, culminaram com uma excessiva, e inadmissível para a Coroa, autonomia. Resolveu Portugal ajustar o modelo político-administrativo a seus interesses, instalando na Bahia, entre os dois polos mais prósperos da Colônia, as capitanias de São Vicente e de Pernambuco, em 1548, um governo-geral. Nomeou como primeiro governadorgeral, Tomé de Souza, mantendo, entretanto, as capitanias e a autoridade vitalícia e hereditária dos donatários, inclusive o poder público e o patrimonial, que incluía o de conceder sesmarias. Incorporou tais poderes ao sistema de governo, ou seja, abriu o governo, representante da Coroa, para os donatários, com as concessões necessárias, respeitada a manutenção regular dos interesses de Portugal. Esse modelo durou duas décadas (Verçosa, 2001, p. 26/27). Albuquerque (1939, p. 66) narra que devido, exatamente, à distância da sede da Capitania, os senhores, os grandes proprietários, eram a lei: mandavam, julgavam e castigavam. Surgiu a necessidade de uma comarca por estas bandas. Foi então endereçado a Pernambuco um reclamo popular, de autoria das câmaras de Alagoas − das atuais cidades de Marechal Deodoro, Penedo e Porto Calvo −, e a Corte, atendendo à solicitação do governo da capitania, criou em 1706 a comarca de Alagoas. 24 Regulamentos que outorgavam aos donatários credenciais para exercer o poder político e administrativo dos territórios recebidos, podendo distribuir terras, recolher tributos e todos os demais poderes, exceto os exclusivos da Coroa. 149 A instalação da comarca foi um fator propulsor para o seu desenvolvimento, além de acabar com o feudalismo, limitando a prepotência dos senhores e a autoridade dos representantes da metrópole, vilas e povoados. Alagoas se projetou no setor econômico e demográfico, estendendo-se no litoral e no interior, contando com, além das três vilas: Alagoas, Penedo e Porto Calvo, diversos povoados − hoje cidades − em pleno desenvolvimento. Em 16 de setembro de 1817, Alagoas emancipou-se da Capitania de Pernambuco. Em 27 de dezembro de 1818, chegou a Alagoas o seu primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, nomeado por alvará régio de D. João VI, datado de 16 de setembro de 1817. Assumiu o poder em janeiro de 1819, na Vila de Alagoas, sede do governo, escolhida por ser cabeça de comarca há mais de cem anos, em solenidade ocorrida na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, “em presença da câmara, de autoridades locais, do clero, da nobreza e do povo” (ITB − 1995, p. 44). Curiosamente, após oito dias de sua posse, o governador instalou-se definitivamente em Maceió, justificando sua decisão no fato da necessidade de melhor acompanhar as obras de fortificação e defesa militar do porto. O ano de 1821 foi de grandes agitações políticas em prol da independência e na província de Alagoas25. Os patriotas discriminavam os portugueses, gerando sérios problemas, tendo sido Alagoas a primeira província a se insurgir, ostensivamente, contra as cortes de Lisboa, constituindo um governo unicamente brasileiro, depondo os portugueses de sua Junta de Governo e de funções públicas (ITB – 1995, p. 37). A abdicação de D. Pedro I em favor de D. Pedro II foi comemorada em Alagoas. Enquanto os brasileiros festejavam, os portugueses se refugiavam em suas casas, nas igrejas e até nas matas, temendo excessos. O comércio, quase que totalmente de propriedade de lusitanos, fechou. Os portugueses passaram, então, dias trágicos em Maceió, até que o veleiro que, conforme determinação do Conselho, deveria levá-los embora, chegou ao porto. Muitos, fugindo à ira popular, foram para bordo, a nado. Outros, arrancados de suas residências, embarcaram sob insultos de impropérios da população (ITB, 1995, p. 38). Em 19 de abril de 1838 foi nomeado para presidir a Província, que se encontrava em 25 Atual cidade de Marechal Deodoro, primeira capital da Província. 150 lastimável atraso, o Dr. Agostinho da Silva Neves. Como descrevem os pesquisadores: Contava com vinte paróquias, cinco comarcas, quinze termos e quinze municípios (uma cidade e quatorze vilas). Havia trinta e oito cadeiras de instrução primária – trinta e uma para o sexo masculino e sete para o feminino; havia também cinco cadeiras de instrução secundária; uma de latim, uma de francês, em Penedo; cofre provincial exausto, a força pública com soldos atrasados, o funcionário público percebendo um terço de seus vencimentos e a receita de 98.089,754 réis contra uma despesa de 152.928, 623 réis. […] Quanto à ordem pública, era um desastre o que ia passando pelo interior, onde os próprios distribuidores da justiça, como o Dr. João José da Fonseca Lisboa, Juiz de Direito, eram apunhalados em meio da principal rua de Anadia e o banditismo florescia na zona da Mata, onde o uso de arma era normal (ITB, 1995, p. 67/68). Continua a obra narrando que em 1839, em meio a uma revolta da Câmara de Vereadores e dos moradores da Vila de Alagoas, devido à determinação do Presidente da Província, Agostinho da Silva Neves, de transferência da tesouraria da Capital – Marechal Deodoro − para Maceió ocorreu o seu aprisionamento no palácio e a renúncia forçada. Esta sublevação foi abafada pelo vice-presidente, João Vieira Lins Cansanção de Sinimbu − Visconde de Sinimbu −, que assumiu a presidência, instalando governo em Maceió, e com a ajuda de tropas da Bahia e de Pernambuco, reconduziu o presidente da Junta ao poder. Em 14 de novembro de 1839 este transferiu o cofre para Maceió, e já em 9 de dezembro de 1839 elevou-a à categoria de cidade e sede do governo provincial, tendo a capital sido inaugurada em 16 do mesmo mês e ano. 1.2 Maceió Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade. A memória coletiva de uma cidade, a preservação de seus bens e de sua história, é, inclusive, fator do bem-estar psíquico de sua população. Conhecer-se a si mesmo, estar consciente das origens, reconhecer-se nos lugares, dar luz ao passado, tudo isso é qualidade de vida, é riqueza interior (ITB, 1995, p. 10). 1.2.1 A Origem da Cidade Com o título de “Os primórdios de uma Cidade”, a publicação Maceió 180 anos de História, do Instituto Théo Brandão, narra com detalhes o surgimento de capital de Alagoas e diz que Maceió não surgiu nos primeiros tempos da civilização alagoana, quando da florescência dos seus núcleos formadores: Porto Calvo, Santa Maria Madalena da Lagoa do 151 Sul e Penedo. Albuquerque (1939) diz, entretanto, não haver entre os autores uma certeza sobre a origem de Maceió, mas afirma existir documento que menciona esta localidade. Trata-se de uma escritura de sesmaria de 1609, que Diogo Soares da Cunha doou a Manoel Antônio Duro, nela havendo referência a uma casa de telha, existente bem próximo à enseada de Pajuçara. Já em 1673, continua Albuquerque, Dom Pedro II, príncipe regente de Portugal, ordenou ao Governador-Geral do Brasil a fortificação do porto de Jaraguá, com o objetivo de evitar que os franceses continuassem levando pau-brasil e comercializando-o clandestinamente. Determinou que se povoassem as adjacências, região, aliás, onde já havia um engenho banguê, com escravos e gado, localizado às margens do riacho “Maçayaó”. Ficava ali a região denominada Reginaldo ou Salgadinho, atualmente bairro do Poço e o riacho Salgadinho, que hoje ainda existe: um córrego poluído, que deságua no oceano, na praia da Avenida, denominada Duque de Caxias. Tratava-se de grandes extensões de terra com difícil povoamento, como já mencionado. O livro Maceió 180 anos de História menciona documento de sucessão do padre Antônio Ferreira da Costa, datado de 25 de abril de 1787, lavrado pelo tabelião Francisco José de Andrade, em favor de Bento Guimarães, João Ferreira da Costa e Rita Maria da Boa Hora, seus afilhados. Constava entre os bens uma capelinha e o sítio Massayó, com todos os seus acessórios, não se fazendo, entretanto, nenhuma alusão ao engenho Massayó, “que foi o ponto de irradiação para o núcleo que se formou, pouco a pouco” (ITB, 1995, p. 34). Craveiro Costa assim descreve a topografia à época: Uma verdade, porém, é inconteste. A célula mater foi o engenho com sua ermida de São Gonçalo, que existiram na atual praça D. Pedro II. Aí vinham morrer os longos caminhos que serviam à fabrica – o que demandava a Lagoa do Norte e o Vale do Mundaú, e o que, marginando o litoral, conduzia à capital da capitania, por Porto Calvo e povoados circunvizinhos, que dela se iam emancipando (ITB, 1995, p. 34). A ermida referida é a capela contemporânea do Engenho Massayó, que tinha inicialmente, como orago, São Gonçalo do Amarante, porém em documento de 1762 já era citada como de Nossa Senhora dos Prazeres. Albuquerque (1939) descreve a seguir o surgimento de Maceió: Como tudo indica, a cidade de Maceió teve início na atual Praça D. Pedro II e se originou do tripé – casa-grande, senzala, capela − que no período colonial servia de 152 base para a formação da sociedade de grande parte do Nordeste. O trabalho e a religião foram, portanto, as características da capital e do nosso Estado, posto que essa nasceu ao som das moendas de engenho, mantidas pelo braço forte do escravo e ouvindo os hinos do louvor que os devotos de São Gonçalo de Amarante elevaram aos céus nas cerimônias religiosas, e depois nas festividades que se faziam a Nossa Senhora dos Prazeres, excelsa Padroeira de Maceió colonial e da próspera Maceió contemporânea. No local descrito, hoje se localiza a Assembleia Legislativa e a igreja matriz de Maceió, no Centro da Cidade. No final do século XVIII, Maceió era um pequeno povoado, sem ruas abertas, mas com várias localidades onde hoje se acham os bairros de Jaraguá, Poço, Bebedouro, Trapiche da Barra e Flexal (ITB, 2005, p. 34). O porto de Jaraguá, embora pequeno, forçou o progresso de Maceió, por ser passagem obrigatória e por ligar as vilas de Porto Calvo e Alagoas às principais da época. Os pesquisadores descrevem o motor deste desenvolvimento: Os carros de boi, com carregamentos de açúcar, algodão, madeira e cereais, procedentes do interior, abriram as estradas, que cortavam a localidade, propiciando seu desenvolvimento. Esses produtos eram comprados diretamente pelo comércio do povoado, que os revendiam aos veleiros que vinham ao porto de Jaraguá, de quando em quando, e destinavam-se a Salvador e Recife (ITB, p. 35). No final do período colonial, o sítio Maceió já havia se tornado povoado próspero com aspecto de núcleo urbano, um pequeno centro comercial. Em 5 de dezembro de 1815, foi elevado à categoria de vila, sendo desmembrada da antiga Vila de Alagoas. Porém a oficialização só se daria quando a comunidade instalasse, às suas expensas, a cadeia, a casa da câmara e “mais oficinas necessárias”. A sociedade maceioense se cotizou para cumprir as exigências, e a Vila foi oficializada em 29 de dezembro de 1816, realizando-se no dia seguinte o pleito para a composição da primeira Câmara Municipal. Nesta deveriam funcionar três vereadores, dois juízes ordinários, um juiz de órfãos e um procurador, eleitos pelos homens possuidores de bens, a serem empossados em 1º de janeiro de 1817 pelo ouvidor Batalha (Antônio José Ferreira Batalha). Em 5 de julho de 1819 foi criada a Freguesia de Maceió, instalada em 8 de janeiro de 1821. No mesmo ano, a Vila de Alagoas foi declarada oficialmente metrópole, cabeça da capitania. Foi enviada ao Governador uma representação reivindicando sua transferência para a instalação definitiva da primeira Junta de Governo, o que veio a ocorrer com a proclamação 153 da Constituição das Cortes portuguesas. Maceió elevou-se à categoria de Comarca em 1833 e, como antes dito, em 9 de dezembro de 1839 passou à categoria de cidade e sede do governo provincial. 1.2.2 O Nome de Maceió Existe um rio com nascente na parte alta da cidade de Maceió, no Tabuleiro dos Martins, formado por dois córregos, denominados Pitanga e Pau d’Arco. Este rio deságua no oceano Atlântico, mas não diretamente. Em face de obras de canalização, curva-se à direita e deságua na praia da Avenida Duque de Caxias, na altura onde hoje se localiza o Clube Fênix Alagoana (ITB, 1995). Os índios, argutos observadores das peculiaridades da natureza, designaram o rio de Maçai-ó-k, ou seja, o que tapa (ou represa) o alagadiço, vindo depois a ser modificado para Maceió, encontrando os autores em pesquisas a palavra escrita das seguintes formas: Massayó-k, massai-ó-k e Maçaió-k – “evocação do cenário pantanoso e selvagem de suas origens” (ITB, 1995). Este rio perdeu sua importância, denominando-se agora Salgadinho, ou Reginaldo, nome originado de Reginaldo Correia de Melo, dono das terras da entrada do atual bairro do Poço. Do estudo para a confecção do brasão de armas de Maceió, os pesquisadores assim descrevem a cidade, justificando sua denominação e resumindo suas características: Construída entre o Mar e a Lagoa, sobre a restinga arenosa − “Cidade Restinga”, como bem denominou o professor Ivan Fernandes Lima – foi o seu local, primitivamente, um MASSAIÓ, isto é, um alagadiço, formado pelas águas do mar nas grandes marés e pelas águas da chuva. Os Lagoeiros da Restinga deram, posteriormente, seu nome ao riacho que deságua no mar, e dele passou a denominação para o primitivo engenho, em seguida vila e, por fim, cidade de Maceió (ITB, 1995, p. 104). 154 CONCLUSÃO Este estudo partiu da hipótese de que a atuação das fundações privadas constitui relevante contribuição para a expansão do ensino superior, com base em sua crescente oferta de vagas, participando, juntamente com as instituições públicas de ensino superior, da evolução socioeconômica do País e do estado, porquanto foram e são parte de suas configurações ao longo da história. Pressupõe-se, ainda, que as reformas administrativas governamentais, ao redesenharem o conceito do papel do Estado e reservarem novos papéis para a sociedade, redirecionaram a participação social para a complementação de oferta de políticas públicas, através de entidades sem fins lucrativos (fundações e associações), desafio que vem sendo enfrentado. Foi feito este estudo mediante pesquisa bibliográfica e documental, tomando-se como caso a Fundação Educacional Jayme de Altavila, primeira fundação privada de ensino superior de Maceió − AL. Foram apresentadas também as ofertas de vagas e investimentos da Universidade Federal de Alagoas − Ufal, maior universidade pública do estado, concluindo-se pela contribuição efetiva das fundações privadas, do mesmo modo que as instituições públicas, para a atual configuração socioeconômica do estado de Alagoas. A conclusão do trabalho vai além da hipótese, já que para a solução do problema proposto foi feito um estudo da origem do estado, buscando a contribuição da sociedade, historicamente, para a atual configuração do ensino superior, chegando-se às razões para a criação e o desenvolvimento de pessoas jurídicas sem fins lucrativos no estado (associações, sociedades e fundações), em especial da Fundação estudada. Constatou-se que: 1- A formação de Alagoas deu-se a partir da Capitania de Pernambuco, sendo mantida a estrutura patrimonialista, desigual, com a escola como reprodutora da ideologia dominante. 2- As primeiras faculdades: Direito (criada em 1931, autorizada a funcionar em 1933), Medicina (1950/1951), Filosofia (1950/1952), Ciências Econômicas (1954), Engenharia (1951/1955), Odontologia de Alagoas (1955/1957) e Odontologia de Maceió (1956/1957), foram criadas pela sociedade alagoana, dada a ausência de oferta pelos Governos. Reproduziam o poderio de famílias, de lideranças econômicas e burocráticas em todos os âmbitos, sempre em detrimento da grande massa, as classes “inferiores”. 155 3- Com a criação da Universidade Federal de Alagoas (1961), após 28 anos da instalação da primeira instituição de ensino superior privada (Faculdade Livre de Direito), aquela absorveu as faculdades existentes, com suas estruturas, inclusive de pessoal e poderio interno, transformando-os em funcionários públicos federais. 4- Surge posteriormente a primeira fundação privada de ensino superior de Maceió (Fejal), após 13 anos da criação da Universidade Federal de Alagoas, com a participação de recursos particulares e municipais, mas de natureza privada e como iniciativa da sociedade civil. Desta feita, um padre, com o objetivo de, verdadeiramente, democratizar o ensino superior, não querendo apenas expandi-lo, mas atingir um público especial, até então esquecido, e excluído da faixa de atenção das universidades públicas: o trabalhador que necessitava de vagas noturnas, inexistentes à época. 5- Com o seu desenvolvimento, a Fejal passou a expandir suas atividades e, em ordem sempre crescente, a ofertar vagas para todos os horários, acolhendo o excedente da Ufal. Contava em 2007 com 13.168 alunos na graduação, enquanto a Ufal possuía 12.944. A partir de 2008, o Governo Federal lançou o Reuni (Programas de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), sendo a Ufal incluída. Desde então, vem expandindo e interiorizando suas ações, com investimentos na ordem de R$ 129 milhões de reais, para ser utilizados em cinco anos, em custeio e capital, o que tem possibilitado uma considerável expansão, não diminuindo, em importância, a contribuição dada até hoje pela Fejal/Cesmac. 6- O Cesmac/Fejal tornou-se Centro Universitário. Iniciou-se em pesquisa, tendo lançado já duas turmas de mestrado e aumentado o número de cursos de pósgraduação, migrando para a fiscalização do Ministério da Educação e Cultura, por imposição do Órgão. Em 2011 contava com 13.067 alunos de graduação e 3.570 alunos de pós-graduação, totalizando 16.637 alunos na instituição, no período. Suas ações sociais foram mencionadas no trabalho e são de grande relevo, pois atingem seu escritório jurídico, consultórios psicológicos, de enfermagem e odontológicos, clínicas de fisioterapia, laboratórios e projetos sociais as comunidades carentes da região. 7- A Fejal empregava, em 2011, 641 docentes e 774 servidores administrativos. Os alunos graduados na Fejal são absorvidos pelo mercado de trabalho e ingressam mediante concursos nos órgãos públicos, naturalmente, como os da 156 Ufal, de acordo com suas qualificações pessoais, sendo isso fato notório e observado no dia a dia. 8- A criação da Fejal, pelo Município de Maceió, com um terço de recursos privados, como pessoa jurídica de direito privado, conforme exigência do Ministério da Educação e da legislação federal (Decreto Lei 200/67, com as alterações do Decreto Lei 900/69), num direcionamento de descentralização das ações do governo federal e já com indicativos de minimização do Estado, deixa clara a intenção do governo federal de complementar suas ações de políticas públicas com as atividades de entidades criadas com recursos privados, pela sociedade. 9- Do mesmo modo, o Projeto de Reforma do Aparelho do Estado/1995, do Governo Fernando Henrique Cardoso, é explícito quanto à inclusão da sociedade civil organizada na elaboração, fiscalização e desenvolvimento de políticas públicas. Sedimenta, assim, um novo conceito de cidadão, obviamente que retocando o já esculpido na Constituição Federal de 1988, que referendou o anseio social de diretamente prover as suas próprias necessidades. Ressalte-se que o governo já vinha ao longo dos anos se omitindo na oferta de tais políticas; 10- Definitivamente ficou demonstrado, pelos números apresentados ano a ano e pelo contexto social em que se acha inserida, que a Fejal deu e continua dando uma efetiva contribuição ao ensino superior de Alagoas. O público beneficiário da Fejal, entidade estudada, era, pela sua própria condição socioeconômica, excluído: o trabalhador. Este laborava durante o dia, e para ele a universidade pública ou as faculdades privadas, até então, não haviam reservado lugar, negando-lhe as condições para melhores dias e mantendo, de forma subliminar, a ideia de desprezo aos que trabalham, relegando-os à condição de subcidadãos. Observaram-se, no tema estudado, algumas discussões que demonstram uma clara reserva de parte dos integrantes da academia à oferta do ensino superior privado. Para tanto, lançaram mão de diversos argumentos a fim de rechaçar o seu desenvolvimento, como o de mercantilização do ensino e de qualidade inferior à ofertada pelas universidades públicas. Todas essas discussões são relevantes porque incentivam debates e estudos como o que ora se apresenta. Entretanto, não há como não reconhecer nelas resquícios do discurso elitista. 157 Ainda que se concorde que haja discussões como as travadas em torno da expansão do ensino, sob as perspectivas de sua democratização e excelência inerentes ao próprio processo de “educação”, o que se revelou muito importante foi o ponto de partida para o desenvolvimento pessoal e profissional, ou seja, a oportunidade de ingressar em uma instituição de ensino superior, sem a qual haverá dificuldades intransponíveis para a igualdade sonhada pelos desiguais, que é frontalmente contrária às pretensões da secular e patriarcal burguesia alagoana. Nisso, as fundações privadas têm inquestionavelmente contribuído, desde a instituição das primeiras entidades desse tipo no país, como a Fundação Getúlio Vargas, constituída em 1944, em São Paulo, até a própria Fundação Educacional Jayme de Altavila, criada em Alagoas em 1974, conforme visto na pesquisa realizada. Se com a expansão do ensino de forma privada não se ultrapassaram as barreiras da falta de acesso ao ensino superior para a maioria, seguramente sem ela o panorama seria muito pior. Certamente. Basta olhar para a história da educação deste país. Não reconhecer a iniciativa (de interesse do governo ou não) que possibilita uma busca pela igualdade de oportunidades seria permanecer a preservar os interesses elitistas e o discurso daqueles que compreendiam, no passado, que o trabalho em geral não tinha mérito, cabendo tão só aos subalternos, aos pobres. Já o trabalho intelectual concernia aos “bons”, categoria em que eles e os seus se achavam incluídos. É de domínio público que as fundações privadas já graduaram e pós-graduaram (profissionalizaram) inúmeros servidores públicos e privados e profissionais liberais. Estes são parte da inteligência do país, conseguindo quebrar o mito de que unicamente as universidades públicas formam a sua nata intelectual. Espera-se mais dos que se insurgem contra as entidades sem fins lucrativos de ensino superior. Espera-se que tais pessoas se insurjam contra os governos que não ofertam vagas para todos, e não contra as pessoas, seus iguais, integrantes da sociedade que resolveram apresentar a alternativa possível. Espera-se, também, que essas pessoas se insurjam contra o MEC, que não exigiu, ao longo da história, a qualidade necessária, ou seja, a excelência, da iniciativa privada, embora afirme tê-la as universidades públicas, pois a sociedade não merece menos que a excelência. E 158 não se quer menos do que isso, estudando em uma universidade pública ou em qualquer instituição privada. Após este estudo, ficou patente para esta pesquisadora a necessidade de um debate aprofundado pela sociedade quanto a quais parâmetros estão sendo utilizados para avaliar as universidades públicas pelo governo, já que foi ele quem as instituiu, quem as classifica e fiscaliza, bem como classifica as demais (as privadas). Enfim, há de se reconhecer, com base no presente estudo, o esforço da sociedade, alagoana, representada pela Fejal, em fazer com que o maior número de pessoas tenha maiores oportunidades. De forma especial, as classes menos favorecidas, que não conseguiram vagas nas universidades públicas porque estão abarrotadas de egressos de colégios caros e de dispendiosos cursinhos preparatórias para o vestibular. É fundamental ampliar essa reivindicação no sentido de se exigir um ensino fundamental e médio público e gratuito de qualidade, que viabilize a competição igualitária do aluno carente com os oriundos dos grandes colégios. Só assim eles poderão integrar as escolas de ensino superior públicas. Ainda, que haja uma padronização de qualidade entre as iniciativas privadas e as escolas públicas de ensino superior e, sobretudo, que o currículos dessas escolas dispensem especial espaço ao esclarecedor estudo da política, da ética e da história humana, pois a questão não é a escola que se estuda, mas o que se estuda. 159 REFERÊNCIAS ALAGOAS. Plano Estadual de Educação 2006/2012. Maceió. 2006. ALMEIDA, Cláudia Cristina Medeiros. A Formação Docente na Educação de Jovens e Adultos: Uma análise discursiva. Maceió/AL: Q Gráfica, 2012. ALVES, Francisco de Assis. Associações, Sociedades e Fundações no Código Civil de 2002: perfil e adaptação. 2ª ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005. AZANHA, José Mário Pires. Caderno de pesquisa nº 85, maio de 1993, p. 70/78 – Políticas e Planos de Educação no Brasil: Alguns pontos para reflexão. www.educa.fcc.org.br/pdf/cp/n85a08.pdf BOSSARD II, Leo Charles Henri. 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Relatório Estadual de Avaliação dos Planos Diretores Participativos de Alagoas Nome do pesquisador responsável: Regina Dulce Barbosa Lins E-mail e telefone de contato: [email protected]; (082) 9983 7063; (082) 3355 1285 Outros sites consultados: www.duplipensar.net/dossiês/historia-das-eleiçoes/Brasil-eleição-presidencial-1969 .html www. fundaj.gov.br. Pesquisaescolar. Www.artigo.andes.org.br/cartilha_fundações.pdf Acessado em 8.2.2013 (www.abcdasalagoas.com.br/public_htm/verbetes/index/f Acessado em 10.2.2013 www-2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-41352-22-abril-de-1957380214publicacaooriginal-1-pe.html www.aministradores.com.br/artigos/economia-e-finanças/decada-de-30-os-anos-deincertezas/27596/ acessado em 8.2.2013. CARVALHO, Fátima Mendes − ARTIGO Década de 30 − os anos de incerteza. www.copeve.ufal.br www.ufal.edu.br