UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARCELO SILVA OSSAMI INTERFERÊNCIAS GEOTÉCNICAS NA ESCOLHA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS EM EDIFÍCIO DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS – O CASO DO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO ESPORTIVO FINASA OSASCO SÃO PAULO 2008 ii MARCELO SILVA OSSAMI INTERFERÊNCIAS GEOTÉCNICAS NA ESCOLHA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS EM EDIFÍCIO DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS – O CASO DO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO ESPORTIVO FINASA OSASCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: Profa. Dra. Gisleine Coelho de Campos SÃO PAULO 2008 iii MARCELO SILVA OSSAMI INTERFERÊNCIAS GEOTÉCNICAS NA ESCOLHA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS EM EDIFÍCIO DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS – O CASO DO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO ESPORTIVO FINASA OSASCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2008. ______________________________________________ Nome do Orientador(a) ______________________________________________ Nome do professor(a) da banca Comentários:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ iv Dedico este trabalho a toda a minha família, que sempre me apoiou, tanto na execução deste, bem como nas horas mais difíceis. A todas as pessoas que, de alguma forma, colaboraram com o desenvolvimento do trabalho, agregando conhecimento e maturidade para minha formação. A minha orientadora, Profª. Dr.ª Gisleine Coelho de Campos, que mostrou competência e sabedoria nas diretrizes passadas a mim. v AGRADECIMENTOS Agradeço à WTORRE por permitir a realização deste trabalho em sua obra, e a todos que contribuíram de alguma forma com o desenvolvimento da pesquisa. Ao Arq. Carlos Maruyama e ao Eng. Marcello Martini, por terem me orientado de forma clara e objetiva, propiciando uma melhoria da qualidade do meu trabalho. vi RESUMO O presente estudo destaca a importância da escolha correta das fundações na concepção de uma obra, seja uma construção de elevada estatura, ponte ou viaduto, que precisa adequar-se ao custo previsto, aliado à rapidez de execução, objetivando o cumprimento do cronograma. Procura ressaltar, igualmente, a necessidade do estudo das condições do solo, obtidas pela sondagem, cujas características são fundamentais na concepção de um projeto bem dimensionado. São apresentadas ilustrações de diversas fundações profundas existentes no mercado, com tabelas e quadros. Por fim é apresentado um estudo de caso, com ênfase na dificuldade surgida pela ausência de informações cadastrais que pudessem mostrar a presença de uma rede pluvial que atravessa o terreno, bem como a presença de água em talude e em elevado nível, presentes na construção do Centro Esportivo no município de Osasco. Palavras Chave: critério de projeto; fundação profunda; interferências. vii ABSTRACT This paper presents the importance of the correct choice of a foundation element in a construction (buildings, viaducts or bridges). This choice must consider the cost, schedules and deadline of the construction. The present study gives emphasys to soil conditions in a foundation project, showing a brief comparative analyses of different types of elements. A study case is presented, in which some interferences, like pipes and water level, forced the projetist change the original solution adapted to the Sports Center of Osasco. Key Words: project criterium; depth foundation; interferences. viii LISTA DE FIGURAS Figura 6.1 – Principais Tipos de Fundações Superficiais...........................................17 Figura 6.2 – Fundações Profundas............................................................................18 Figura 6.3 – Fundações Mistas..................................................................................20 Figura 6.4 – Seções transversais de estacas metálicas............................................21 Figura 6.5 – Seções transversais de estacas pré-moldadas......................................24 Figura 6.6 – Disposição da armadura em estacas pré-moldadas..............................25 Figura 6.7 – Emenda por solda de estacas pré-moldadas de concreto.....................26 Figura 6.8 – Estacas mistas de elementos pré-moldados de concreto e açoo..........27 Figura 6.9 – Fases de execução das estacas tipo Franki..........................................29 Figura 6.10 – Levantamento de estacas Franki vizinhas em argilas rijas ou duras...30 Figura 6.11 – Processo de execução de estaca Strauss...........................................32 Figura 6.12 – Fases da escavação das estacas com lama betonítica.......................36 Figura 6.13 – Limpeza do fundo da escavação..........................................................37 Figura 6.14 – Seqüência executiva para estaca hélice contínua...............................38 Figura 6.15 – Equipamentos para cravação de estacas hélice contínua...................39 Figura 6.16 – Seqüência executiva de estaca raiz.....................................................41 Figura 6.17 – Geometria de tubulão a ar comprimido................................................44 Figura 6.18 – Geometria de tubulão...........................................................................45 Figura 7.1 – Perspectiva das quadras do CDE Finasa Osasco.................................53 Figura 7.2 – Fachada do CDE Finasa Osasco...........................................................54 Figura 7.3 – Perfil de Sondagem SP 112...................................................................55 Figura 7.4 – Perfil de Sondagem SP 03.....................................................................56 Figura 7.5 – Poço com anéis de concreto para drenagem de água de mina.............58 Figura 7.6 – Descoberta de tubulação de concreto....................................................59 Figura 7.7 – Poço de visita da tubulação de concreto................................................60 Figura 7.8 – Presença de água em tubulão recém escavado....................................61 Figura 7.9 – Fossa séptica encontrada durante abertura de fuste do tubulão...........62 Figura 7.10 – Tubulação antiga X nova......................................................................63 Figura 7.11 – Execução de tubulão com anéis de concreto.......................................64 Figura 7.12 – Execução de tubulão com fôrmas de madeira e escoramento............65 Figura 7.13 – Captação de águas de talude..............................................................66 Figura 7.14 – Execução de estaca Strauss................................................................67 ix LISTA DE TABELAS Tabela 6.1 – Classificação de estacas metálicas ......................................................22 Tabela 6.2 – Classificação de estacas Franki ...........................................................32 x LISTA DE QUADROS Quadro 6.1 – Classificação das estacas ...................................................................19 Quadro 6.2 – Carga estrutural admissível .................................................................47 xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo CNPq Conselho Nacional Tecnológico CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ICSMFE International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering NBR Norma Brasileira Regulamentadora SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo LEED Leadership in Energy and Environmental Design de Desenvolvimento Científico e xii SUMÁRIO p. 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1 2. OBJETIVOS.........................................................................................................2 2.1 Objetivo Geral............................................................................................................. 2 2.2 Objetivo Específico ................................................................................................... 2 3. MÉTODO DE TRABALHO ..................................................................................3 4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................4 5 HISTÓRICO DAS FUNDAÇÕES .........................................................................5 5.1 Pré-História ................................................................................................................. 5 5.2 Idade Clássica ............................................................................................................ 6 5.3 Idade Média ................................................................................................................. 7 5.4 Séculos XVII e XVIII ................................................................................................... 7 5.5 História Moderna até 1920....................................................................................... 8 5.6 Fase Contemporânea ............................................................................................. 10 5.7 Fatos Marcantes no Brasil .................................................................................... 11 6 CONCEPÇÃO DE OBRAS DE FUNDAÇÕES ..................................................14 6.1 Elementos necessários e critérios de projeto ................................................. 14 6.2 Alternativas de Fundação ..................................................................................... 16 6.2.1 Estacas Metálicas.............................................................................................. 20 6.2.2 Estacas Pré-Moldadas de Concreto ............................................................... 23 6.2.3 Estacas Franki.................................................................................................... 28 xiii 6.2.4 Estacas Escavadas tipo Strauss ..................................................................... 30 6.2.5 Estacas Escavadas tipo Hélice Descontínua................................................ 33 6.2.6 Estacas Escavadas Tubadas........................................................................... 33 6.2.7 Estacas Escavadas com Lama Tixotrópica ou Bentonítica ........................ 34 6.2.8 Estacas Escavadas Tipo Hélice Contínua..................................................... 37 6.2.9 Estacas Injetadas Tipo Raiz e Microestacas................................................. 40 6.2.10 Tubulões.............................................................................................................. 43 6.3 Escolha da Alternativa de Fundação – Critérios Gerais ............................... 46 6.4 Concepção de Projeto e Condicionantes Especiais...................................... 48 7 ESTUDO DE CASO ...........................................................................................52 7.1 Características Gerais............................................................................................ 52 7.2 Características Geológico-Geotécnicas............................................................ 54 7.3 Alternativa de Fundação de Projeto ................................................................... 57 7.4 Ocorrências durante a execução das fundações ........................................... 58 7.5 Comentários.............................................................................................................. 62 8 7.5.1 Desvio da tubulação de águas pluviais existente......................................... 63 7.5.2 Presença de lençol freático em cota elevada ............................................... 64 7.5.3 Presença de água de mina e de talude de divisa......................................... 65 7.5.4 Estudo de fundação para muro de arrimo ..................................................... 66 7.5.5 Considerações finais ......................................................................................... 67 CONCLUSÕES..................................................................................................68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................70 ANEXO A - SONDAGEM............................................................................................1 ANEXO B – PROJETO DE FUNDAÇÃO EM ESTACA PRÉ-MOLDADA DE CONCRETO E PERFIS METÁLICOS ......................................................................25 xiv ANEXO C – PROJETO DE FUNDAÇÃO EM TUBULÃO, ESTACA HÉLICE CONTÍNUA E STRAUSS ..........................................................................................27 ANEXO D – PROJETO DE REFORMA DA REDE PÚBLICA DE ÁGUA PLUVIAL EXISTENTE ..............................................................................................................29 ANEXO E – DESENHO ESQUEMÁTICO DA EDIFICAÇÃO....................................31 1. INTRODUÇÃO Na construção das edificações e estruturas de modo geral, um dos aspectos de suma importância para a estabilidade global é o mecanismo de transferência dos carregamentos (que compreende o peso da estrutura e as cargas acidentais e de ocupação) para o maciço do solo, ou mesmo rocha, do local. Esta transferência, identificada comumente por interação solo x estrutura, requer a adoção de elementos de fundação adequados para cada caso. A escolha correta do tipo de fundação a ser utilizada é determinada em função de fatores como as características geomorfológicas do local, dimensões, uso e tipo da edificação, técnicas e serviços disponíveis, entre outros. Esse processo permite um melhor desempenho da obra do ponto de vista estrutural, com a garantia de adequado desempenho técnico, evitando, consequentemente, futuros problemas como recalques exagerados e necessidade de reforço de fundação. A melhor alternativa condiciona um maior equilíbrio da parte financeira e econômica, que, aliado à agilidade de execução, garantirá o correto cumprimento do cronograma estabelecido, garantindo um melhor resultado global para a obra. 2 2. OBJETIVOS Discutir a importância da escolha correta do tipo de fundação, descrevendo os diversos tipos, suas características e comportamento esperado. 2.1 Objetivo Geral Descrever o uso das fundações, desde a antiguidade, quando ainda usavam-se rochas como principal substrato, até os dias atuais, nos quais itens como a topografia do local, estudo das condições do solo, características e uso da obra são parâmetros determinantes para se escolher a melhor fundação para a construção de um edifício. 2.2 Objetivo Específico Apresentar os critérios para a escolha do tipo de fundação profunda mais adequada para a elaboração do projeto e execução de uma obra de múltiplos pavimentos, de forma a minimizar custos, atender ao cronograma estabelecido e garantir as condições de segurança e capacidade de suporte para as solicitações de carga da nova edificação. 3 3. MÉTODO DE TRABALHO A metodologia de trabalho foi pautada na pesquisa em revistas técnicas para análise e obtenção de casos de obra. Foi realizada pesquisa em livros da área de Fundações, Mecânica dos Solos, bem como a pesquisa em dissertações e teses. O meio eletrônico também constituiu base de consulta para o trabalho, com pesquisas aos sites da Fapesp, CNPq e CAPES. A pesquisa a essas fontes trouxe uma série de informações que propiciou um maior embasamento técnico, teórico e prático sobre as alternativas e tipos de fundações e fundamentou os conceitos quanto ao critério para a melhor escolha do elemento de suporte a ser utilizado. A consulta aos profissionais do setor serviu de base para o estudo de caso. Foram inseridas fotos, tabelas, quadros e imagens referentes à execução da obra como base para o trabalho. A busca por projetos com informações da sondagem do local, topografia e projeto executivo de blocos, sapatas, tubulões e estacas serviram para um melhor entendimento do tema, o que ficou evidenciado no desenvolvimento do estudo de caso. 4 4 JUSTIFICATIVA O bom desempenho de um edifício depende de um projeto bem equacionado, da execução eficiente e da facilidade de sua manutenção. Assim, cuidados devem ser tomados em todas as suas etapas. Na fase de projeto, a investigação do terreno e a posterior elaboração de projeto de fundações exigem atenção especial quanto aos parâmetros de resistência e deformação do solo. No Brasil observa-se que é dada pouca ênfase à fase de investigação do solo, fator determinante para a escolha do melhor método de fundação a ser empregado, elaboração de projeto e correta execução. O motivo principal para a elaboração desse trabalho relaciona-se ao interesse no aprofundamento do estudo das características do terreno. A inobservância da investigação do solo pode trazer problemas que exijam aumento dos investimentos nessa fase, reforços futuros, chegando, em alguns casos, até a demolição ou abandono da fundação. 5 5 HISTÓRICO DAS FUNDAÇÕES Todo o aspecto evolutivo das fundações remete à própria História, pois, tal como o homem teve de realizar transformações no método construtivo à medida que aumentava o porte das edificações, desde os primórdios da sua existência, a fundação também sofria o mesmo progresso, desde quando seu substrato eram restos de materiais até os dias atuais, onde há diversos tipos de fundação para os mais variados tipos de substratos. 5.1 Pré-História De acordo com Nápoles Neto (1998), desde o período Paleolítico o homem procurou abrigar-se em grutas e cavernas e, na impossibilidade, tratou de improvisar abrigos, chegando em alguns casos a ficar 2 metros abaixo do nível do terreno. No período Neolítico, após aprender a lascar a pedra, o homem passa a construir suas primeiras cabanas, demonstrando sinais de conhecimento ainda que empíricos, de aspectos como resistência e estabilidade dos materiais da crosta terrestre. Suas choupanas eram leves e construídas à margem dos lagos sobre estacas elevadas, denominadas palafitas. Com o desenvolvimento do tijolo cerâmico na Mesopotâmia e pedra no Egito, as construções ficaram maiores e mais pesadas (NÁPOLES NETO, 1998). Como não havia, até o momento, a prática de se construir uma base para o suporte da edificação, era freqüente o desmoronamento devido ao elevado peso das edificações, e os materiais provenientes das ruínas misturados a um solo apiloado passaram a ser utilizados como substratos para assentar palácios e templos. Após a implantação do código de Hamurabi, conjunto de leis que infligia duras penalidades aos construtores cujas obras fracassassem, os antigos passaram a aliviar o peso da estrutura, construindo faixas simples de caniços até fundações feitas com tijolos crus, secos ao sol e assentados com barro, muitas vezes utilizando-se também de mastique e betume. Com o tempo, descobriram que a adição de palhas à massa, 6 aliada ao cozimento dos tijolos, colaborava para a melhoria da resistência dos tijolos acompanhada da redução das trincas. Ainda segundo Nápoles Neto (1998), um tipo comum de construção encontrada desde o período Paleolítico e estendendo-se até a Antiguidade era o agrupamento de habitações em forma circular, muitas vezes escavados até 1 m abaixo do nível do terreno e com furos centrais ou periféricos para os postes que sustentavam o teto das cabanas. Nestes furos as fundações individuais eram ou o próprio terreno ou pedras, que depois evoluíram para paredes de pedra de 60 a 80 cm de altura. 5.2 Idade Clássica Os gregos trouxeram poucas inovações nos campos técnicos e material, exceto pelo uso do mármore e da pedra calcária no trato das pedras em geral (NÁPOLES NETO, 1998). Os palácios cretenses eram extensões de suas casas, chegando estas a até três pavimentos, fundadas sobre pedaços de pedras, paredes de tijolos crus com pilares de pedras e demais estruturas de madeira. Desta época datam as primeiras estradas calçadas à pedra, canais, aquedutos e pontes de madeira. Os pilares e pórticos dos palácios e templos gregos eram concentradores de carga nas fundações, que passaram a ser feitas de blocos superpostos, cujas partes superiores eram chamadas ortostatos: eram duas ou três camadas de blocos alongados de pedras, aparelhadas em ângulos retos, justapostos e grampeados um ao outro, e que garantiam uma melhor distribuição de carga nas fundações. A parte não visível era formada por pedras menos aparelhadas e misturadas com cascalho. As fundações menores, em vez de serem corridas, tinham sapatas isoladas e, em terrenos fracos, as escavações recebiam uma camada de terra misturada com cinzas de carvão, uma camada de terra apiloada ou mesmo uma mistura de calcário mole com pedregulho. Em Roma, houve um avanço significativo nas técnicas de construção em geral e das construções, segundo Nápoles Neto (1998), pois estas passaram a receber mais cargas em virtude de obras mais pesadas que as dos gregos, verificado com a introdução do arco e da abóbada, a preparação do cimento romano – proveniente da 7 mistura da pozolana com calcário – e daí o concreto, pela adição de pedaços de pedra ou de tijolos cozidos. Esse novo material, o concreto, passa a ser utilizado em fundações, na construção de arcos e domos. Os arcos permitiram a construção de aquedutos, pontes, portos, estradas e fortificações que serviram para marcar o aparecimento da engenharia civil e militar no mundo ocidental. 5.3 Idade Média De acordo com Nápoles Neto (1998), todos os progressos técnicos alcançados durante a Idade Clássica tiveram seu ritmo diminuído nos tempos medievais, tanto em cuidados com dimensões e situações como em materiais, notando-se um número considerável de colapsos de construções a despeito da beleza de suas fachadas. Muitas excederam a capacidade de carga de seus terrenos de fundação e as que não desapareceram apresentam-se hoje danificadas por trincas ou inclinações. As construções medievais eram grandes, como atestam seus castelos, e algum progresso se verificou, como as fundações com assoalhos de madeira no fundo das escavações levadas até o nível d’ água. Em construções de pontes, os cuidados de construção de fundações eram facilitados pelo bombeamento de ensecadeiras, pelos bate-estacas acionados por rodas de pé ou de água e pelo uso do cimento pozolânico italiano impermeável. No Renascimento, Leonardo da Vinci se destaca na arquitetura, construção e engenharia, apresentando projetos de bate-estacas e ensecadeiras, conforme apresentou Nápoles Neto (1998). Ainda de acordo com o autor, Galileu Galilei reuniu toda a ciência do século XVI para a arte da construção, com estudos sobre a flexão de vigas, sendo o fundador da Resistência dos Materiais. 5.4 Séculos XVII e XVIII Este período se iniciou com importantes eventos na Engenharia em geral e na Geotecnia em particular (NÁPOLES NETO, 1998). Os primeiros engenheiros civis 8 reconhecidos como tais são os de pontes e calçadas, o que leva a criação em 1747 da École des Ponts et Chaussées. Vitrúvio, importante engenheiro militar, escreve pela primeira vez recomendações quanto à escavação, assentamento, dimensões e verticalidade de muros de arrimos, principalmente quando utilizados como fundações. Segundo Nápoles Neto (1998), Vauban, primeiro grande nome do período, adquiriu grande experiência na construção de trezentas fortificações, algumas sobre argilas, onde experimentou as dificuldades desse material, atuando também nos canais mandados fazer por Luis XIV. No início do século XVIII, a experiência acumulada de Vauban começou a ser teorizada, no que seriam os primórdios da Mecânica dos Solos, caracterizada por teorias empíricas sobre pressões de terra baseadas no chamado ângulo de talude natural e no peso especifico do solo. Mais tarde, H. Gautier (1717) apud Nápoles Neto (1998) classificou a argila como material impermeável; B.F. Bélidor tratou teórica e numericamente das pressões de terra e ampliou os tipos de solos e rochas dividindo as areias em soltas e compactas, as terras em secas e úmidas e classificando as argilas como em terrenos com turfas inadequados para fundações. F. Gadroy (1746) apud Nápoles Neto (1998) tratou de pressões sobre muros, mas abordando, pela primeira vez, as superfícies de deslizamento e as fendas observadas à superfície de aterros arrimados reais, que ele tentou reproduzir em modelo em caixas de areia, mas de dimensões reduzidas. J.R. Perronet (1769) apud Nápoles Neto (1998) escreveu sobre pontes; foi marcado pelo pioneirismo em estabilidade de taludes de terra, distinguindo taludes naturais de aterros e apontando o efeito da água sobre sua instabilidade. Rondelet (1770) fez ensaios com modelos de muros de arrimo maiores que os de Gadroy, medindo vários ângulos de escorregamento. Baseando-se na observação e experimentação, J. H. Lambert (1772) foi o primeiro a tentar racionalizar o projeto de fundações por sapatas e estacas. 5.5 História Moderna até 1920 Segundo Skempton (1985) apud Nápoles Neto (1998) o período clássico da Mecânica dos Solos iniciou-se a partir da teoria de Charles Augustin Coulomb, 9 notável engenheiro e físico, autor da equação que iguala a resistência ao cisalhamento do solo à sua coesão mais a tensão normal vezes o coeficiente de atrito do mesmo solo. Moreau (1827) e Niel (1835) destacaram-se no uso de estacas de areia em substituição das estacas de madeira, bem como colchões de areia para adensar e aumentar a resistência de solos lodosos e argilosos, de acordo com Feld (1948) apud Nápoles Neto (1998). Também é atribuído a Moreau e Niel pesquisa de pressões aplicadas no solo pelas deformações nela induzidas, pesquisas estas que incluíam até provas de carga. Collin (1846) apud Nápoles Neto (1998) dedicou-se a taludes não arrimados de argila – cortes e aterros – e foi o primeiro a reconhecer a coesão c como resistência limite da argila na ruptura a curto e longo prazo, de acordo com a inclinação do talude e a ação do tempo (NÁPOLES NETO, 1998). W.J.M. Rankine (1859) desenvolveu uma teoria do campo de tensões, baseada no parâmetro φ (chamado por ele de ângulo de repouso); disse também que a coesão é algo temporário, destrutível pelo ar, água e pelas seqüências congelamento-degelo dos solos. Nos trabalhos de G.H. Darwin (1883) e J. V. Boussinesq (1876, 1883) afirma-se que φ, agora denominado ângulo de atrito interno, era variável nas areias, diferente e em geral maior que o ângulo de repouso. O início da Revolução Industrial firmou o uso do tijolo cerâmico nas construções, além das argamassas e do concreto, este especialmente nas fundações (NÁPOLES NETO, 1998). John Smeaton, construtor do farol de Eddystone, descobriu que misturas naturais de calcário impuros com argila davam um cimento impermeável como o pozolânico no uso nas fundações do farol, levando, em 1786, a uma patente com o nome de cimento romano. Misturas empíricas foram utilizadas para construção de canais na Inglaterra, porém, somente em 1824, surgiu o nome de Portland, nos Estados Unidos. Na construção de fundações, o concreto, segundo Nápoles Neto (1998), passou a ter enorme importância, provocando, inclusive, progresso nos equipamentos usados. Tal importância chegou ao máximo com o advento do concreto armado na França, 10 com a fabricação por J. Monier, em 1848, de cubas de concreto reforçado no interior com malhas de ferro para a plantação de laranjeiras. O concreto simples, o ciclópico e o armado tornaram-se o principal material de fundação, pois até os alicerces de tijolo-duplo para paredes de casas se assentavam sobre lastro de concreto. 5.6 Fase Contemporânea O período contemporâneo da história geotécnica começa com Karl Terzaghi, considerado o pai da Mecânica dos Solos (NÁPOLES NETO, 1998). Terzaghi analisou todo o acervo empírico até então, partindo para um programa de pesquisas destinadas a elucidar, complementar e descobrir, com base científica, os conhecimentos de uma nova Engenharia. A partir do estudo da permeabilidade da argila, Terzaghi descobriu seu baixo coeficiente e lento processo de percolação, tendo decisiva influência sobre o fenômeno da compressibilidade das argilas, o que levou o engenheiro, geólogo e cientista ao estudo desse fenômeno com o nome de adensamento, bem como sua influência sobre a resistência ao cisalhamento das argilas. Karl Terzaghi descobriu que o princípio das tensões efetivas condiciona os fenômenos do adensamento e cisalhamento, observou também o fato de que a coesão poder ser real ou aparente, esta desaparecendo por imersão ou total secagem do solo. Nas publicações “Modern Conceptions Concerning Foundation Engineering” (1925) e “The Science of Foundations” (1927) apresentou os marcos básicos da Mecânica dos Solos: coesão e atrito interno como resistências de argilas e areias típicas e a permeabilidade dos solos como fenômenos de percolação e capilaridade. Segundo Nápoles Neto (1998), com relação às fundações, realizou-se na Universidade de Harvard o I Congresso Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações (I ICSMFE, de sua designação em inglês), cujos Anais trouxeram inovações de ensaios in situ como o do cone holandês, variados estudos e aplicações sobre distribuição de pressões no subsolo, adensamento e recalques (pré-adensamento, adensamento secundário, por subsidência, por pré- carregamento, por rebaixamento do lençol d´água, etc.), melhoramento de solos (injeções, eletro-osmose) até solos expansivos, solos congelados e sobre a dinâmica 11 dos solos, incluindo liquefação e fundações de máquinas. O segundo evento do ICSMFE, realizado em 1948, trouxe trabalhos abordando todo o campo da geotecnia até então praticada, com destaque para estudos e ensaios sobre a resistência das argilas saturadas ao corte, com base na coesão, e o desenvolvimento de equipamentos de medidas para ensaios in situ como o ensaio de penetração contínua do cone holandês, hoje conhecido como CPT, e a apresentação do trado rotatório denominado Vane Test. O reconhecimento do subsolo teve maior relevância, assim como as sondagens para fins geotécnicos, pois até então as mesmas eram executadas em profundidade moderada, e, a partir de então se tratou de transformar as sondas geológicas de percussão num equipamento mais leve, principalmente para uso em áreas urbanas e restritas (NÁPOLES NETO, 1998). Procurou-se tirar proveito da amostragem que na mesma sondagem geotécnica se fazia por meio de amostradores padronizados, cravados por golpes de peso padronizado, caindo de altura também padronizada, para medir o que se convencionou chamar de “resistência à penetração”, isto é, número de golpes do peso para uma penetração também fixada, correspondente à capacidade do amostrador. Essa medida, conhecida atualmente como SPT (Standard Penetration Test), é a mais generalizada entre outros ensaios de campo. Houve também um notável desenvolvimento de amostradores para a obtenção de amostras indeformadas, em que se distinguiram Kjelllman, Kallstenius (argilas) e Bishop (areias). Para concluir, dois fatos que certamente coroaram toda a intensa atividade de ensino, pesquisa e desenvolvimento desse período foram a total e definitiva aceitação da nova ciência geotécnica, tanto por parte das universidades como dos profissionais da engenharia e, como conseqüência, a elucidação satisfatória das dúvidas ainda existentes quanto à resistência ao cisalhamento dos solos. 5.7 Fatos Marcantes no Brasil No Período Colonial, pouco se conhecia a respeito das fundações empregadas nas edificações do período, segundo Vargas (1998); o que se sabe é que as mesmas 12 eram constituídas por alicerces tradicionais, ou seja, constituídos por pedras socadas em valas escavadas ao longo das paredes. Com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, tem-se o início da fundação de instituições de ensino superior, e, em 1845, a implantação da escola de Engenharia Civil (VARGAS, 1998). Ainda no século XIX, surge o interesse pelos estudos geológicos devido principalmente à mineração de ferro, cujo primeiro registro data de 1874 no livro “Geologia e Geografia Física do Brasil” de Charles Frederick Hartt. Assim, constatou-se que no Império, a grande atividade de Engenharia foi a construção de estradas de ferro, na qual o projeto e a construção das fundações e das obras de arte faziam-se presentes. Nota-se também o surgimento de recalques nas construções de cais, que acabam por forçar ao emprego de novas técnicas para a execução das fundações, onde, pela primeira vez, empregam-se ensecadeiras e bate-estacas a vapor para a cravação de estacas de madeira. Os primeiros prédios com tijolos têm início em Pernambuco no ano de 1850, e o primeiro prédio com estrutura metálica surge em Recife no ano de 1870: o Mercado São José, reunindo paredes de tijolos e cobertura metálica. Outros prédios de grande importância surgidos no período são a Estação da Luz, em São Paulo, e o Teatro Amazonas, em Manaus (VARGAS, 1998). Esses prédios passam a substituir o alicerce por sapatas ou blocos de alvenaria de tijolo assentados sobre solo apiloado com argamassa de pedra a uma profundidade de, pelo menos, 1 metro. O advento do concreto armado nos primeiros anos do século XX permitiu a construção de edifícios mais altos e, consequentemente, com maior carga concentrada, de acordo com Vargas (1998). As estruturas eram apoiadas em sapatas de concreto armado ou blocos simples, enquanto que nas fundações profundas há o uso de estacas de madeira ou pré-moldadas de concreto armado. A construção do cais do porto do Rio de Janeiro inicia-se em 1903 onde, pela primeira vez, utilizam-se 134 caixões pneumáticos metálicos e armados a seco, com 25 m de comprimento, cuja cravação é realizada por meio de uma estrutura metálica montada num pontão flutuante, empregando-se, pela primeira vez no Brasil, ar comprimido. 13 Na década de 20, há o aparecimento da pesquisa tecnológica. Primeiramente, com o Gabinete de Resistência dos Materiais da Escola Politécnica de São Paulo, sendo transformado posteriormente no “Laboratório de Ensaios de Materiais”, no que viria a se tornar Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) onde, em 1934, surge a divisão de Mecânica dos Solos (VARGAS, 1998). As fundações de pontes rodoviárias e de edifícios altos, aliado à necessidade de projetar e construir novos equipamentos de sondagens para a exploração do subsolo, levou o IPT a desenvolver novas máquinas adequadas à nova necessidade. Ainda segundo Vargas (1998), a partir da década de 70, a Seção de Solos e Fundações do IPT e a Geotécnica S/A, passam a instalar marcos profundos de referência de nível e pontos para medidas de recalque ao correr do tempo. Problemas como recalque excessivo, conforme visto no prédio da Companhia Paulista de Seguros (onde se verificou um desaprumo de mais de 1 m em estaca cravada em silte mole), atentou para a necessidade da realização de sondagens para o projeto e execução de fundações de edifícios altos. A obra máxima da engenharia brasileira, de acordo com Vargas (1998) foi a Ponte Rio - Niterói, cujo projeto foi elaborado pelo Escritório de Engenharia Antonio Alves Noronha, em consórcio com projetistas ingleses. Nos tubulões de fundação da obra em questão foram realizados ensaios de prova de carga de até 200 MPa. A primeira dessas provas originou um desastre onde, em 1970, morreram dois engenheiros do IPT e outro do Consórcio Construtor da Ponte Rio - Niterói. Uma das grandes evoluções da Engenharia no Brasil, bem como em outros países da América Latina, foi a construção hidrelétrica acompanhada das fundações de torres de transmissão de energia elétrica (VARGAS, 1998). Como exemplo, pode ser citada a Usina de Jupiá, em São Paulo, onde tubulões escavados a céu aberto apresentaram bom desempenho do aspecto técnico e econômico aos solos porosos não saturados encontrados no Centro-Sul do país. 14 6 CONCEPÇÃO DE OBRAS DE FUNDAÇÕES Neste capítulo abordam-se os principais aspectos a serem considerados pelo projetista e discutem-se algumas das principais opções disponíveis para solução dos problemas de fundação. 6.1 Elementos necessários e critérios de projeto De acordo com Velloso e Lopes (1998), os elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de fundações são, resumidamente, topografia, dados geológico-geotécnicos, dados da estrutura a construir e dados das construções vizinhas. Com relação à topografia, segundo Velloso e Lopes (1998), deve-se possuir levantamento topográfico da área (planialtimétrico), dados sobre taludes e encostas no terreno que, eventualmente, no caso de um acidente, possam atingir o terreno, e dados sobre erosões ou evoluções preocupantes na geomorfologia. No aspecto geológico-geotécnico, deve-se realizar investigação no subsolo, preferencialmente em etapa preliminar e complementar, e possuir dados geológicos e geotécnicos como mapas, fotos aéreas e levantamentos aerofotogramétricos, artigos sobre experiências anteriores na área, da estrutura a construir, deve-se apresentar informações do tipo e uso destinado da nova obra, sistema estrutural e cargas nas fundações. Atenção especial deve ser dada às construções vizinhas, com informações referentes ao tipo de estrutura e fundações, número de pavimentos, carga média por pavimento, desempenho das fundações, existência de subsolo e possíveis conseqüências de escavações e vibrações provocadas pela nova edificação (VELLOSO; LOPES, 1998). Sabe-se que, nas zonas urbanas, as condições dos vizinhos constituem frequentemente, o fator decisivo na definição da solução de fundação. Quando da utilização de fundação profunda ou escoramento de subsolos 15 são previstos, o projetista deve possuir uma idéia da disponibilidade de equipamentos na região da obra. As solicitações a que uma estrutura está sujeita podem ser classificadas de formas diferentes, no âmbito das normas vigentes no Brasil e no exterior, segundo Velloso e Lopes (1998). No exterior, faz-se a distinção em dois grandes grupos: cargas vivas e cargas mortas ou permanentes. As cargas vivas são as ditas operacionais, provenientes da ocupação, armazenamento, passagem de veículos, frenagens etc.; as cargas ambientais são provenientes de ações da natureza como ventos, correntes etc., e cargas acidentais são as geradas por colisão, explosão, fogo etc. No exterior há um grupo adicional, chamado de cargas mortas ou permanentes (peso próprio, empuxo de terras e água etc.). No Brasil, de acordo com a norma NBR 8681 (2003), as cargas podem ser assim classificadas: a) ações permanentes: são aquelas que ocorrem com valores constantes durante praticamente toda a vida da obra, como o peso próprio da construção e de equipamentos fixos, empuxos, esforços devidos a recalques de apoios; b) ações variáveis: são aquelas que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno da média, como as ações devidas ao uso da obra; c) ações excepcionais: são aquelas que possuem duração extremamente curta e muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da obra, mas que precisam ser consideradas no projeto de determinadas estruturas, como, por exemplo, explosões, colisões, incêndios, enchentes e sismos. A norma NBR 8681 (2003) estabelece critérios para combinações dessas ações na verificação dos estados-limites de uma estrutura, a fim de se evitar um desempenho adequado às finalidades da obra, como forma de evitar os estados limites últimos, que podem gerar um colapso parcial ou total em determinada obra. Os estados limites de utilização também devem ser evitados, sempre que possível, pois, caso contrário, a estrutura pode apresentar fissuras, trincas, fendas e deformações comprometedoras ao bom uso da obra. 16 Um projeto básico de fundação deve apresentar, segundo Velloso e Lopes (1998), alguns requisitos básicos para um bom desempenho. O primeiro deles são as deformações aceitáveis que o elemento de fundação deva suportar, sob as condições de trabalho, verificando o estado limite de utilização que trata a norma NBR 8681 (2003). Outro fator importante no projeto é a segurança adequada ao colapso do solo de fundação. Em certos tipos de obras, um item adicional que deve ser considerado é a segurança adequada ao tombamento e deslizamento, nos casos em que forças horizontais elevadas atuam em elementos de fundação superficial, bem como o nível de vibração compatível com o uso da obra. 6.2 Alternativas de Fundação As fundações são, convencionalmente, separadas em dois grandes grupos: fundações superficiais ou diretas e fundações profundas, segundo Velloso e Lopes (1998). A distinção entre os dois tipos é feita segundo o critério de que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura da base não atinge a superfície do terreno, e, ainda segundo a NBR 6122 (1996), classifica as fundações profundas como aquelas cujas bases estão implantadas a mais de duas vezes sua menor dimensão, e a pelo menos 3 metros de profundidade. Quanto aos tipos de fundações superficiais, as mesmas podem ser classificadas em bloco, sapata, viga de fundação, grelha, sapata associada e radier (VELLOSO; LOPES, 1998). Bloco é um elemento de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. A sapata, construída com concreto armado, apresenta altura menor que o bloco, utilizando armadura para resistir aos esforços de tração. A viga de fundação é o elemento da fundação que recebe pilares alinhados, geralmente de concreto armado, podendo ter seção transversal tipo bloco (sem armadura transversal), quando são frequentemente chamadas de baldrames, ou tipo sapatas, armadas, enquanto que as grelhas são elementos de fundação constituídos por um conjunto de vigas que se cruzam nos pilares. A sapata associada recebe parte dos pilares da obra, sendo estes pilares 17 não alinhados, ao contrário da viga de fundação. O radier é o elemento da fundação que recebe todos os pilares da obra. Na Figura 6.1 estão indicados os principais tipos de fundações superficiais. Figura 6.1 – Principais Tipos de Fundações Superficiais: (a) bloco, (b) sapata, (c) viga e (d) radier (Veloso; Lopes, 1998). Já as fundações profundas são separadas, de acordo com Velloso e Lopes (1998), em estaca, tubulão e caixão. A estaca é o elemento de fundação profunda executada com auxílio de ferramentas ou equipamentos, cuja execução pode ser feita por cravação à percussão, prensagem, vibração ou por escavação, ou ainda, de forma mista, envolvendo mais de um desses processos. O tubulão possui forma cilíndrica, com a descida de um operário em, pelo menos, sua fase final de execução. O caixão é um elemento de fundação de forma prismática, concretado na 18 superfície e instalado por escavação interna. A Figura 6.2 mostra alguns tipos de fundações profundas. Figura 6.2 – Fundações Profundas: (a) estaca metálica, (b) estaca pré-moldada de concreto vibrado, (c) estaca pré-modada de concreto centrifugado, (d) estaca Franki, (e) estaca Strauss, (f) estaca escavada, (g) tubulão a céu aberto, (h) tubulão a ar comprimido com revestimento em concreto, (i) tubulão a ar comprimido com revestimento de aço (Veloso; Lopes, 1998). De acordo com Presa e Pousada (2004), as estacas podem ser do tipo cravadas, escavadas ou injetadas. O Quadro 6.1 apresenta a classificação dos tipos usuais de estacas, com ênfase no método executivo de acordo com seu efeito no solo. 19 Quadro 6.1 – Classificação das estacas. Fonte: Fundações em estacas (Presa; Pousada, 2004). As fundações mistas são aquelas que associam fundações superficiais e profundas, como tratam Velloso e Lopes (1998). Pode haver a associação de sapata com uma estaca, chamada de “estaca T” ou “estapata”, dependendo se há contato entre a estaca e a sapata, ou não. Há também os radiers estaqueados, que são os radiers sobre estacas, ou tubulões, que transfere parte das cargas que recebe por tensões 20 de contato em sua base e parte por atrito lateral e carga de ponta das estacas. Na Figura 6.3 estão indicados alguns tipos de fundação mista. Figura 6.3 – Fundações Mistas: (a) estaca ligada à sapata, (b) estaca abaixo da sapata, (c) radier sobre estacas e (d) radier sobre tubulões (Veloso; Lopes, 1998). 6.2.1 Estacas Metálicas No Brasil as estacas metálicas são constituídas por peças de aço laminado ou soldado, caracterizadas por perfis I e H, bem como tubos e trilhos, estes últimos reaproveitados após uso em linhas férreas, desde que não tenham redução de peso superior a 20% do valor teórico (PRESA; POUSADA, 2004). Os perfis e trilhos podem ser empregados como peças simples ou compostas, associando vários elementos. A Figura 6.4 mostra as seções transversais mais utilizadas: 21 Figura 6.4 – Seções transversais de estacas metálicas (Presa; Pousada, 2004). As emendas das estacas metálicas são feitas por solda utilizando talas, também soldadas, com eletrodos do tipo OK 46 e OK 48, segundo Presa e Pousada (2004). A ligação da estaca ao bloco de coroamento, quando se trabalha à compressão, é feita embutindo-se 20 cm da estaca no bloco e, em seguida, colocando-se uma armadura de fretagem em forma de espiral, posicionada por cima da armadura de flexão do bloco. Quando há trabalho de tração, é recomendado a soldagem de armadura da estaca no bloco, de forma a transmitir a solicitação correspondente por aderência ao concreto. As estacas metálicas apresentam custo relativamente elevado, quando comparados com as pré-moldadas, tanto quanto pelo próprio material como também pela diferença de comprimento necessário para transferir a carga ao solo (PRESA; POUSADA, 2004). Seu emprego no Brasil data da década de cinqüenta em muitas situações nas quais foi verificado que seu uso mostrava-se tecnicamente adequado com vantagens como a baixa vibração, desempenho à flexão e facilidade de manipulação, transporte, corte e emenda. 22 Atualmente não se enfrenta o problema de corrosão, pois o fato de as estacas permanecerem totalmente enterradas em solo natural evita que o oxigênio disponível nos solos gere reações químicas que possam gerar corrosão, segundo Alonso (1996) apud Presa e Pousada (2004). A norma NBR 6122 (1996) exige que da estaca metálica seja descontada uma espessura de 1,5 mm de toda superfície em contato com o solo, resultando uma área menor que a teórica do perfil. Uma solução quando a estaca entrar em contato com a água, em locais que sofra erosão ou em áreas atravessadas por aterros heterogêneos de rejeitos lançados, é o encamisamento em concreto armado dessa parte da estaca acrescida de uma extensão de 2 a 3 m dentro do solo natural. Na Tabela 6.1 são mostrados os valores máximos de cargas estruturais admissíveis de alguns perfis e trilhos, de acordo com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para uma tensão admissível para o aço de 1200 kgf/cm²: Tabela 6.1 – Classificação de estacas metálicas Perfil (CSN) Peso (N/m) Área (cm²) Carga Estrutural Adm (kN) H 6” x 6” 371,0 47,3 400 I 8” x 4” 273,0 34,8 300 I 10” x 4 5/8” 377,0 48,1 400 I 12” x 5 1/4” 606,0 77,3 700 TR 25 246,5 31,4 250 (200)* TR 32 320,5 40,9 350 (250)* TR 37 371,1 47,3 400 (300)* TR 45 446,5 56,8 450 (350)* TR 50 503,5 64,2 550 (400)* TR 57 569,0 72,6 600 (450)* * Valores para trilhos usados com redução máxima de peso de 20% Fonte: Fundações em estacas (Presa; Pousada, 2004). Uma das vantagens das estacas metálicas é a possibilidade de atravessar terrenos resistentes sem romper e sem grande risco de provocar levantamento de estacas vizinhas, devido a sua pequena seção transversal, aliada à sua elevada resistência (PRESA; POUSADA, 2004). Um inconveniente que pode surgir com freqüência durante a cravação das estacas, por percussão, através dos solos de baixa 23 resistência, é o encurvamento de seu eixo em decorrência da instabilidade dinâmica direcional, chamado também de drapejamento. Outro grave problema é a ocorrência de desvios notáveis, quando a ponta da estaca encontra camadas muito inclinadas de rocha dura ou blocos de rocha. Ainda segundo o autor, quando os perfis metálicos atravessam camadas espessas de argila mole e apóiam-se em solo de alta resistência ou rocha, recomenda-se aumentar sua área de ponta mediante solda de segmentos de perfis (PRESA; POUSADA, 2004). Esta solução não provoca amolgamentos, nem tampouco grandes deslocamentos transversais durante a cravação da estaca, evitando desconfinamento do fuste e minimizando os problemas de desaprumo e flambagem. 6.2.2 Estacas Pré-Moldadas de Concreto As estacas pré-moldadas de concreto são aquelas cuja moldagem é realizada em fábrica, onde se observam melhores condições de cura e adensamento do concreto, possuindo área adicional para moldagem e armazenamento (PRESA; POUSADA, 2004). Esses cuidados possibilitam a obtenção de estacas com concreto de maiores resistências de cálculo à compressão, da ordem de 6,0 a 11,0 MPa e que permitirem reduções da seção transversal para uma mesma capacidade de carga. São utilizados atualmente seções de 17 cm x 17 cm a 35 cm x 35 cm, que permitem cargas estruturais admissíveis da ordem de 400 a 1000 kN, cargas estas que somente podem ser adotadas se a estaca for cravada até profundidades compatíveis com a transferência de carga para o solo que lhe dará suporte. Ainda segundo os autores, as estacas pré-moldadas de concreto devem ser sempre armadas e com simetria radial, pois essa armadura é necessária para a resistência às tensões resultantes do transporte, manuseio e cravação. As estacas mais comuns são de seção quadrada, usando-se também as de seção octogonal e circular, conforme visto na Figura 6.5. Como o peso unitário das estacas maciças é proporcional ao quadrado do lado ou diâmetro, seu uso tem-se limitado praticamente a seções máximas de 35 x 35 cm, quando é quadrada, e de 40 cm de diâmetro, quando é circular. Para diâmetros maiores são utilizadas seções vazadas ou 24 anelares. Nos casos correntes, para reduzir ao máximo a armadura, tem-se usado a sistemática de levantar as estacas por um ou dois ganchos situados em pontos que permitam obter igualdade dos módulos dos momentos fletores máximos positivos e negativos. Para atender a esse critério, no caso de um gancho, o levantamento deve dar-se por um ponto situado a 1/3 da extremidade e, no caso de dois ganchos, o levantamento deve ocorrer por dois pontos situados a 1/5 da respectiva extremidade (levantamento pelos quintos). Figura 6.5 – Seções transversais de estacas pré-moldadas: (a) Retangular, (b) Octogonal, (c) Circular e (d) Anelar (Presa; Pousada, 2004). As estacas pré-moldadas de concreto podem ser confeccionadas em concreto armado (de uso amplo e generalizado) ou protendido, e adensado por vibração (de uso mais corrente) ou ainda por centrifugação (com seção vazada ou anelar), conforme Presa e Pousada (2004). O uso de estacas pré-moldadas de concreto protendido no Brasil data de 1958, e, dois anos mais tarde, começa-se a empregar estacas pré-moldadas de concreto centrifugado, inicialmente, com diâmetros de 25 a 40 cm e, posteriormente, de 20 a 70 cm, usando-se um sistema patenteado para emenda por solda, constituído por um anel de aço dotado de barras que servem para traspasse com a armadura longitudinal da estaca. As cargas estruturais admissíveis usualmente utilizadas nas estacas pré-moldadas centrifugadas variam entre 500 e 1700 kN, para diâmetros de 25 a 60 cm. O processo de adensamento por centrifugação ainda hoje é utilizado por poucas empresas no país, razão pela qual é pouco difundido. A Figura 6.6 mostra a disposição da armadura em estacas pré-moldadas. 25 Figura 6.6 – Disposição da armadura em estacas pré-moldadas (Presa; Pousada, 2004). Para permitir a desforma e o estoque das estacas mais cedo em fábrica, a cura inicial do concreto é feita a vapor, tanto nas estacas vibradas quanto nas centrifugadas, promovendo um ganho de resistência nas primeiras horas, porém sem diminuir o tempo necessário para que o concreto atinja sua resistência final, sendo necessário garantir que as estacas permaneçam armazenadas durante um período que independe do processo inicial de cura (PRESA; POUSADA, 2004). De um modo geral, as estacas pré-moldadas de concreto só podem ser cravadas no terreno, pelo menos, 21 dias após a concretagem, exceto se forem empregados cimentos de alta resistência, aditivos ou dosagens especiais que garantam a qualidade. As estacas pré-moldadas de concreto são recomendadas onde o subsolo apresente camadas de argilas moles e espessas, onde sua cravação empregue martelos pesados de 3 a 7 tf em queda livre, utilizando-se, sempre que possível, um capacete para a cravação em melhores condições e com maior penetração em solos resistentes (PRESA; POUSADA, 2004). Atualmente os fabricantes de estacas prémoldadas de concreto dispõem, normalmente, de juntas de ligação (emendas por solda, por luva ou por encaixe) que permitem construir e cravar estacas de grande comprimento mediante emendas de elementos padronizados (normalmente com 10 a 12 m de comprimento). Essas juntas para emendas também possuem aplicação nos casos de estanqueamento de profundidade variável, entretanto, como o uso de 26 emendas representa um custo econômico adicional e uma redução do rendimento, a sua utilização só deve ser feita quando seja imprescindível. Deve-se ressaltar que a norma NBR 6122 (1996) recomenda que a emenda seja do tipo soldável, conforme demonstrado na Figura 6.7, só tolerando emendas por luva ou por encaixe quando não haja esforços de tração, tanto na fase de utilização como na de cravação, de modo a evitar problemas como os que ocorrem, por exemplo, quando há levantamento devido à cravação de estacas vizinhas em argilas rijas ou duras. Figura 6.7 – Emenda por solda de estacas pré-moldadas de concreto (Presa; Pousada, 2004). A cravação em terrenos resistentes é executada com perfuração prévia com diâmetro pouco menor que o da estaca; em áreas que apresentem areias compactas pode-se empregar o processo da “lançagem”, onde são utilizados jato de água simultaneamente com a aplicação de golpes de martelo ou pilão, de acordo com Presa e Pousada (2004). Para a cravação de estacas pré-moldadas de concreto em perfis geotécnicos com camadas resistentes pode ser preciso utilizar uma estaca 27 mista, constituída por segmento pré-moldado de concreto ligado a outro metálico, onde a parte metálica é soldada na extremidade da estaca pré-moldada para garantir a cravação até determinada profundidade, permitindo um adequado embutimento numa camada de argila média a dura, sem provocar o levantamento de estacas próximas. Um outro caso consiste na aplicação do segmento metálico na ponta da estaca pré-moldada, para que a estaca seja cravada até atingir a rocha, sem romper o segmento de concreto. A Figura 6.8 ilustra o caso de estacas mistas de elementos pré-moldados de concreto e aço. Figura 6.8 – Estacas mistas de elementos pré-moldados de concreto e aço (Presa; Pousada, 2004). 28 6.2.3 Estacas Franki Desde seu surgimento no Brasil no ano de 1935, a estaca Franki sofreu diversas melhorias e adaptações, com ampla utilização até a década de setenta, segundo Presa e Pousada (2004). Com o término de sua licença de patente em 1960 a estaca passa para o domínio público. O procedimento de execução consiste fundamentalmente na cravação de um tubo metálico fechado na parte inferior por uma bucha ou tampão de brita e areia, mediante o impacto de repetidos golpes de um pilão contra a referida bucha ou tampão (PRESA; POUSADA, 2004). A profundidade final da cravação é controlada através da verificação da nega do tubo nos últimos metros de cravação. Terminada a cravação, o tubo é preso à torre do bate-estaca por meio de cabos de aço onde a bucha é expulsa, com posterior execução da base obtida apiloando-se fortemente (com energia mínima de 2,5 MNm/ 0,15 m³, para fustes de diâmetro < 45 cm, ou de 5,0 MNm / 0,15 m³ para fustes > 45 cm) pequenas e sucessivas quantidades de concreto (mínimo de 0,09 a 0,45 m³) para fustes com diâmetros de 30 a 60 cm. De acordo com Presa e Pousada (2004), após a execução da base alargada é colocada a armadura (sempre empregada por motivos de ordem construtiva, independente da necessidade estrutural ou não), ajustando-a para incorporá-la na base e ao mesmo tempo instalar o cabo de controle de armação numa de suas barras, iniciando-se a seguir a concretagem do fuste. Faz-se lançamento sucessivo de pequenas quantidades de concreto e simultânea recuperação do tubo à medida que se apiloam as camadas. A concretagem do fuste é estendida até cerca de 30 cm acima da cota de arrasamento. Deve-se atentar para o concreto utilizado na execução, pois o mesmo deve possuir um consumo mínimo de cimento de 350 kg/m³ e baixo teor água/ cimento (a/c = 0,25 para a base alargada e 0,45 para o fuste) resultando num concreto de slump 0 que permitirá o adensamento por forte apiloamento. Para a execução da estaca Franki é utilizada um bate-estaca de torre, com altura de 13 a 30 m, dotado de motor e guincho com capacidade de 70 a 180 N, bem como mecanismo de movimentação. Todo o processo executivo pode ser visualizado conforme Figura 6.9. 29 Figura 6.9 – Fases de execução das estacas tipo Franki (Presa; Pousada, 2004). Conforme Presa e Pousada (2004), a carga de trabalho das estacas Franki pode ser superior devido principalmente: • a cravação com ponta fechada isola o tubo de revestimento da água do subsolo; • base alargada, que garante maior resistência de ponta que todos os outros tipos de estaca; • o apiloamento da base, nos solos arenosos, compacta o solo e alarga a base em todas as direções, aumentando a resistência de ponta de estaca e, nos solos argilosos, com a expulsão da água; • o apiloamento do concreto contra o solo no momento da formação do fuste da estaca compacta o solo em volta da mesma, aumentando o atrito lateral; • o comprimento da estaca pode ser facilmente ajustado durante a cravação. 30 Os inconvenientes principais da estaca Franki são, segundo Presa e Pousada (2004): a) Estrangulamento do fuste, na concretagem através de camadas espessas de solos muito moles, devido a invasão de água ou lama no fuste; b) Ruptura por tração do concreto ou perda da continuidade no contato da base com o fuste devido ao lançamento, causado pela cravação de estacas vizinhas em terrenos de maior consistência, conforme visto na Figura 6.10. Figura 6.10 – Levantamento de estacas Franki vizinhas em argilas rijas ou duras (Presa; Pousada, 2004). 6.2.4 Estacas Escavadas tipo Strauss As estacas moldadas no local, tipo Strauss, são estacas executadas com revestimento metálico recuperável, de ponta aberta, para permitir a escavação do solo, podendo ser em concreto simples ou armado (BARROS, 2003). São usadas para resistir a esforços verticais de compressão, de tração ou ainda, esforços 31 horizontais conjugados ou não com esforços verticais. As principais características das Estacas Strauss são: • reduzida trepidação e, conseqüentemente, pouca vibração nas edificações vizinhas à obra; • possibilidade de execução da estaca com o comprimento projetado, permitindo cotas de arrasamento abaixo da superfície do terreno; • facilidade de locomoção dentro da obra; • permite conferir durante a percussão, por meio de retirada de amostras do solo, a sondagem realizada; • permite verificar, durante a perfuração, a presença de corpos estranhos no solo, matacões e outros, possibilitando a mudança de locação antes da concretagem; • capacidade de executar estacas próximas às divisas do terreno, diminuindo assim, a excentricidade nos blocos. O processo executivo se inicia com a abertura de um furo no terreno, utilizando o soquete até 1,0 a 2,0 m de profundidade, para colocação do primeiro tubo, dentado na extremidade inferior, denominado coroa (BARROS, 2003). Em seguida, aprofunda-se o furo com golpes sucessivos da sonda de percussão, retirando-se o solo abaixo da coroa. De acordo com a descida do tubo metálico, quando necessário, é rosqueado o tubo seguinte, e prossegue-se na escavação até a profundidade determinada. Na concretagem, segundo Barros (2003), o concreto é lançado no tubo até se obter uma coluna de 1,0 m e faz-se o apiloamento do material com o soquete, formando uma base alargada na ponta da estaca. Para formar o fuste, o concreto é lançado na tubulação e apiloado, enquanto que as camisas metálicas são retiradas com o guincho manual. A concretagem é feita até um pouco acima da cota de arrasamento da estaca, onde será colocado barras de aço de espera para ligação com blocos e baldrames na extremidade superior da estaca. Finalmente, remove-se o concreto excedente acima da cota de arrasamento, quebrando-se a cabeça da estaca com ponteiros metálicos. A Figura 6.11 demonstra o método executivo da estaca Strauss: 32 Figura 6.11 – Processo de execução de estaca Strauss (ABMS, 2004). Quanto ao dimensionamento, a determinação das seções, as localizações e profundidades serão fornecidas pelo calculista das fundações, com seu dimensionamento de acordo com a NBR 6118 – “Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado” e NBR 6122 - “Projeto e Execução de Fundações” (1996). As estacas do tipo Strauss estão disponíveis no mercado com cargas e características técnicas de acordo com a Tabela 6.2: Tabela 6.2 – Classificação de estacas Franki Diâmetro do tubo de Diâmetro da estaca Carga nominal revestimento (cm) x 10 kN 22 25 20 28 32 30 32 38 40 35 42 50 40 45 60 Fonte: Manual de Especificações (ABEF, 1999). A estaca Strauss apresenta vantagem pela leveza e simplicidade do equipamento que emprega, podendo ser utilizada em locais confinados, em terrenos acidentados ou ainda no interior de construções existentes, com pé direito reduzido (BARROS, 2003). O processo não causa vibrações, o que é de muita importância em obras em que as edificações vizinhas, onde de acordo a natureza e características do subsolo, 33 sofreriam danos sérios com essas vibrações. Por ser moldada no local, fica acabada com comprimento certo, arrasada na cota prevista, não havendo perda de material nem necessidade de suplementação. A facilidade de execução em solo acima do nível da água e o custo relativamente baixo são atrativos para a execução desse tipo de estaca. Como desvantagens a estaca do tipo Strauss apresenta dificuldade na execução abaixo do nível da água, além de apresentar menor capacidade de carga quando comparadas a estacas pré-moldadas de concreto e Franki além de dificuldade na cravação em solos com elevada resistência. 6.2.5 Estacas Escavadas tipo Hélice Descontínua Na década de 70 houve o surgimento dos primeiros equipamentos de trado espiral ou hélice descontínua, que escavam e extraem o material, utilizando como elemento de escavação e extração hélices ou lâminas (PRESA; POUSADA, 2004). O procedimento executivo consiste na introdução da hélice no terreno por giro até perfurar-se uma extensão igual ao equipamento da hélice, em geral 2 m, retirandose a mesma cheia do material, removido das lâminas por giro reverso. Há diversos tipos de hélice para cada valor da dureza do material a ser perfurado. Ainda conforme Presa e Pousada (2004), as vantagens do uso desse tipo de estacas residem na ausência de vibrações, bem como grande mobilidade e rendimento do equipamento, permitindo rendimentos de 80 a 100 m por turno. 6.2.6 Estacas Escavadas Tubadas Quando há a necessidade de contenção da perfuração mediante a entubação, surgem as vantagens da rotação a seco, onde um sistema disposto por máquinas especiais para a cravação de tubo executará o serviço (PRESA; POUSADA, 2004). Quanto à cravação, as estacas escavadas tubadas podem ser de dois tipos: 34 • martelos vibratórios ou percussão para cravação da camisa: sistema em que a camisa é cravada até a profundidade requerida mediante a aplicação de vibração ou percussão por martelos vibratórios, com o material retirado do interior do tubo por rotação a seco ou mediante uma colher de valvas ou cureta de valvas (semelhante a clam-shell para a seção circular), sendo, em seguida, introduzida a armadura. A concretagem é realizada à medida que o tubo é retirado pela máquina entubadora. Apesar da execução rápida, o sistema possui limitações em locais onde não seja permitida a cravação por vibração, como pedregulhos; • sistema Benoto de camisa metálica: concomitante com a escavação do sistema metálico faz-se a escavação interna do fuste. 6.2.7 Estacas Escavadas com Lama Tixotrópica ou Bentonítica A partir da década de sessenta tem início no Brasil o uso de estacas escavadas com lama bentonítica, empregadas em fundações de seção circular de grandes diâmetros, denominados estacões, e, posteriormente, em estacas de grande seção retangular (barretes), segundo Presa e Pousada (2004). Ainda segundo os autores, as principais funções da lama bentonítica na execução de estacas escavadas são: • contenção ou suporte das paredes e do fundo por ação hidrostática sobre as superfícies de contato, eliminando a necessidade de camisas no fuste; • facilidade de deslocamento; • facilidade de bombeamento pelo fato de o concreto ser mais fluido; • manutenção dos resíduos da escavação em suspensão, evitando a deposição no fundo da estaca ou nas tubulações do sistema. A lama bentonítica é obtida normalmente por mistura de bentonita em pó, concentrada cerca de 3% a 8%, com água através de misturadores de alta turbulência (PRESA; POUSADA, 2004), apresentando características como: 35 • estabilidade da mistura, gerada pela falta de decantação das partículas bentoníticas por longo período de tempo; • rápida formação de película impermeável, também chamada de cake, em contato com a superfície como a dos solos; • propriedade tixotrópica, ou seja, capacidade de apresentar comportamento igual ao de um líquido e de gel. A norma NBR 6122 (1996) fixa parâmetros para as características da lama bentonítica a se empregar nas estacas: • Densidade de 1,025 a 1,10 g/cm²; • Viscosidade de 30 a 90 s; • pH de 7 a 11; • cake com valor variando entre 1,0 a 2,0 mm; • Teor de areia menor ou igual a 3%. Quanto às características do concreto, a mesma NBR 6122 (1996) também estabelece os critérios para as características do concreto ao ser executado de forma submersa com o auxílio de tremonha: • abatimento ou slump de 20 ± 2 cm; • diâmetro máximo do agregado deve ser menor ou igual a 10% do diâmetro interno do tubo tremonha; • porcentagem de areia (natural) de 35% a 45% do peso total dos agregados; • consumo de cimento maior ou igual a 400 kg/m³; • fator água/cimento inferior a 0,60. As estacas escavadas com lama bentonítica, com diâmetros da ordem de 1,5 m a 2,0 m são denominadas estacões e permitem cargas estruturais admissíveis de 1,0 a 8,0 MN, segundo Presa e Pousada (2004). As estacas barretes são aquelas cujas seções são retangulares ou alongadas podem alcançar 2,50 m x 1,20 m podem apresentar também a mesma capacidade de carga dos estacões, diferindo somente quanto à forma de cravação, onde se utiliza equipamentos do tipo colher bivalve ou clam-shell. Estacas barretes de grandes dimensões retangulares podem alcançar elevadas tensões da ordem de 20 MPa. 36 A execução compreende, conforme a Figura 6.12, a (a) escavação com lama, (b) colocação de armadura, concretagem submersa com o auxílio de tubo tremonha (GOLOMBEK, 1985; SALES, 1996 apud PRESA; POUSADA, 2004): Figura 6.12 – Fases da escavação das estacas com lama betonítica (Presa; Pousada, 2004). A utilização de lamas possui alguns cuidados, como a limpeza do fundo da escavação antes do início da concretagem submersa e limitação em solos de grande permeabilidade, sendo o último devido ao fato de a lama se perder pelo terreno sem chegar a formar o cake na parede para uma melhor contenção da parede (PRESA; POUSADA, 2004). Em estacas apoiadas na rocha, deve-se realizar a limpeza utilizando-se o air lift para a garantia de melhor aderência entre o concreto com a rocha, segundo a Figura 6.13: 37 Figura 6.13 – Limpeza do fundo da escavação (Presa; Pousada, 2004). 6.2.8 Estacas Escavadas Tipo Hélice Contínua A partir da segunda metade da década de 1970, houve o surgimento e difusão da hélice contínua nos países desenvolvidos (PRESA; POUSADA, 2004). No Brasil essa técnica de deslocamento lateral do solo in loco, que descarta o uso de tubo de revestimento temporário, foi introduzida a partir da década de noventa do século XX. Quanto à execução, o método do sistema de hélice contínua consiste em perfurar o terreno com uma hélice de comprimento sempre superior ao da estaca a ser construída, segundo Presa e Pedroso (2004). A haste de perfuração é composta por uma haste espiral unida a um tubo central com diâmetro variando entre 10 a 13 cm, dispondo em sua extremidade inferior de uma tampa removível, presa a haste por uma corrente, permitindo sua recuperação no final da execução. A introdução da hélice continua é feita mediante a aplicação de um torque apropriado para vencer a resistência do solo atravessado. Alcançada a profundidade requerida para a perfuração, é iniciado o bombeamento do concreto através do tubo central, preenchendo a cavidade deixada pela hélice à medida que a mesma vai sendo 38 extraída do terreno, de modo a não girar ou girando lentamente no mesmo sentido da perfuração, conforme Figura 6.14. Figura 6.14 – Seqüência executiva para estaca hélice contínua (Fundesp, s.d). O fuste não fica desprotegido em momento algum da execução, visto que a estaca é concretada simultaneamente com a extração da hélice, trazendo junto o material escavado (PRESA; POUSADA, 2004). Essa metodologia de perfuração permite a execução em terrenos coesivos e arenosos, na presença ou não de lençol freático, atravessando até solos resistentes com NSPT da ordem de 30 a 50, dependendo do equipamento utilizado. Ainda segundo Presa e Pousada (2004), o concreto normalmente utilizado apresenta slump entre 20 e 24 cm, consumo mínimo de cimento de 400 kg/m³ e fck = 20 MPa. Após a concretagem a armadura, em forma de gaiola, é introduzida na estaca por gravidade ou com o auxílio de um pequeno pilão ou vibrador. O equipamento para a cravação da hélice no terreno é constituído por um guindaste de esteiras, sendo nele montada a torre vertical de altura apropriada à profundidade da estaca, conforme demonstrado na Figura 6.15. 39 Figura 6.15 – Equipamentos para cravação de estacas hélice contínua (Fundesp, s.d). Comercialmente, as estacas hélice possuem diâmetro de 35 a 180 cm, para cargas de trabalho de 400 a 15270 kN, respectivamente, porém, nota-se maior economia para diâmetros na faixa de 45-65 cm, o que explica a grande difusão alcançada por este sistema (PRESA; POUSADA, 2004). De acordo com Presa e Pousada (2004), a grande vantagem deste sistema reside em sua rapidez de execução, permitindo rendimentos com produtividade de até 150 metros por turno. Em contrapartida, a limitação desse sistema esbarra em solos muitos resistentes, o que eventualmente pode ser feito empregando-se a potência da hélice a ser usada. Outro fator que pode esbarrar é a altura da torre, fator limitante em interferências como linhas de transmissão, por exemplo. 40 6.2.9 Estacas Injetadas Tipo Raiz e Microestacas De acordo com Alonso (1998), no grupo das estacas escavadas injetadas estão inseridas estacas perfuradas e moldadas in loco, cujas técnicas acabam por diferenciá-las em estaca raiz e microestacas. As estacas raiz são aquelas em que, imediatamente após a moldagem do fuste, são aplicadas injeções de ar comprimido, ao mesmo tempo em que é removido o revestimento (ALONSO, 1998). Utiliza-se pressões baixas, inferiores a 0,5 MPa, visando garantir a integridade da estaca. A estaca raiz é uma estaca concretada in loco, com diâmetro acabado variando de 80 a 450 mm e de elevada tensão de trabalho do fuste, constituído de argamassa de areia e cimento, sendo inteiramente armada ao longo de todo o seu comprimento (Fundesp, s.d.). Caracteriza-se por atravessar terrenos de qualquer natureza, inclusive concreto armado, rochas ou matacões, podendo, inclusive, ser executada em direção vertical ou inclinada. Seu método executivo se faz com o uso de rotação ou rotopercussão com circulação de água, lama bentonítica ou ar comprimido (Fundesp, s.d.). Completada a perfuração com revestimento total do furo, é colocada a armadura necessária ao longo da estaca, procedendo-se a concretagem do fuste com a correspondente retirada do tubo de revestimento. A concretagem é executada de baixo para cima, aplicando-se regularmente uma pressão rigorosamente controlada e variável em função da natureza do terreno. Com este procedimento, além de se aumentar substancialmente o valor do atrito lateral, garante-se também a integridade do fuste, permitindo que se considere a resistência da argamassa no dimensionamento estrutural da estaca, conseguindo-se, deste modo, uma sensível redução na armadura e, consequentemente, no custo final da estaca. A Figura 6.16 mostra a seqüência executiva de uma estaca raiz. 41 Figura 6.16 – Seqüência executiva de estaca raiz (Fundesp, s.d). 42 Dentre os vários tipos de estaca injetada, com e sem pressão mantida, podemos afirmar que a estaca raiz apresenta a menor relação custo / carga, além de facilmente permitir o controle de qualidade realizado através de provas de carga (Fundesp, s.d.). Como principais vantagens técnicas, as estacas raiz, devido ao processo de perfuração, não provocam vibrações nem qualquer tipo de descompressão do terreno em conjunto com o reduzido tamanho do equipamento, o que torna seu uso apropriado em casos especiais como reforço de fundações, fundações de obras com vizinhanças sensíveis a vibrações ou poluição sonora, ou em terrenos com presença de matacões e para obras de contenções de talude. A existência de modernos equipamentos que permitem a execução de estacas raiz com altas médias de produtividade e o uso de cargas de trabalho de até 1500 kN aumentaram muito a competitividade da estaca raiz perante os demais tipos disponíveis no mercado, além de possuir a vantagem de resistir a cargas de tração muito elevadas, sendo ideal para as fundações de várias obras especiais, desde torres de linha de transmissão até plataformas de petróleo (Fundesp, s.d.). As microestacas são caracterizadas por empregar tecnologia de tirantes injetados em múltiplos estágios, utilizando válvulas múltiplas denominadas manchetes, onde, em cada estágio, a abertura das válvulas garanta a injeção de argamassa, de acordo com Alonso (1998). São armadas com tubo metálico, o qual garante a armação da estaca e posiciona as válvulas manchete para a injeção de argamassa. Para baratear o custo das microestacas, pode-se substituir o tubo de aço por PVC rígido, porém com a obrigatoriedade do uso de armadura, pois o PVC não possui função estrutural. As estacas escavadas injetadas diferenciam-se das escavadas e cravadas, segundo Alonso (1998), por apresentar três fatores: a) possibilidade de execução em inclinações maiores, podendo estar entre 0 a 90º; b) garantia de densidade de armadura superior às estacas de concreto armado, pois o processo de perfuração permite atingir grandes profundidades e em 43 terrenos de alta resistência, incluindo rocha, o que lhes confere maior nível de carga transmitida ao solo por atrito lateral, em comparação com outras estacas de mesmo diâmetro; c) possibilidade de utilizar a mesma carga de trabalho à tração e à compressão, desde que o fuste esteja armado. 6.2.10 Tubulões Os tubulões são elementos de fundação de grande porte constituídos por um poço, podendo possuir revestimento ou não, aberto no terreno e geralmente dotado de uma base alargada (ALONSO; GOLOMBEK, 1998), havendo a descida de operário para completar a geometria da escavação ou fazer a limpeza de solo. Basicamente, os tubulões são divididos em dois tipos básicos: céu aberto (normalmente sem revestimento) e a ar comprimido, podendo ser revestido com camisa de concreto ou por camisa metálica de aço. Os tubulões a céu aberto tiveram grande emprego com o surto da construção na região da Avenida Paulista, em São Paulo, e posteriormente em Brasília, segundo Alonso e Golombek (1998). Esses tubulões podem ser escavados de forma manual ou mecanizados, sendo executados com revestimento de concreto, onde o fuste apresenta seção circular com diâmetro mínimo de 70 cm para a entrada e saída de funcionário para a escavação manual da base, cujo formato pode ser circular ou em forma de falsa elipse. No caso de haver somente carga vertical, coloca-se somente armadura de topo para ligação com o bloco de coroamento. Os tubulões a ar comprimido são executados onde haja água e não seja possível sua retirada devido ao risco de desmoronamento das paredes do fuste, sendo empregados os tubulões revestidos com camisa de concreto ou aço (ALONSO; GOLOMBEK, 1998), conforme mostrado na Figura 6.17. Sua utilização se deu em larga escala a partir da década de 40 em obras de edificações e de arte, hoje sendo utilizada somente em obras de arte distante do perímetro urbano. Um cuidado a ser tomado refere-se à pressão máxima de ar comprimido empregada, devendo ser de 340 kPa, razão pela qual estes tubulões possuem profundidade limitada a 34 m 44 abaixo do nível d´água onde se verifica que profundidades superiores geram pressões mais elevadas, representando grandes riscos à saúde humana. Figura 6.17 – Geometria de tubulão a ar comprimido (Alonso; Golombek, 1998). De acordo com Alonso e Golombek (1998), basicamente os tubulões a ar comprimido podem ser divididos em ar comprimido com camisa de concreto e ar comprimido com camisa de aço. 45 No tubulão a ar comprimido com camisa de concreto todo o processo executivo, incluindo desde a escavação da camisa até a abertura e concretagem, é feita manualmente, onde os operários retiram a terra com o auxílio de um balde a céu aberto até se encontrar o nível de água e, a seguir, o processo continua sob ar comprimido (ALONSO; GOLOMBEK, 1998). Atingida a profundidade da base, a camisa de concreto deve então ser escorada durante o serviço de alargamento para evitar desmoronamentos de terra. Ainda segundo Alonso e Golombek (1998), na execução de tubulão a ar comprimido com camisa de aço, a cravação pode ser feita usando-se martelos vibratórios por percussão ou pelo sistema Benoto, que consiste na escavação interna do fuste utilizando-se uma espécie de clam-shell acoplado a um guindaste concomitantemente com a cravação da camisa metálica auxiliada por um equipamento auxiliar que impõe movimento rotacional oscilatório ao tubo, reduzindo o atrito lateral e realizando a cravação no terreno. Para tanto, a camisa metálica possui em sua extremidade inferior uma chapa dentada sobressalente denominada faca e, conforme vão se cravando as camisas, novos segmentos vão sendo soldados até que se atinja a profundidade para o alargamento da base. Com relação à base do tubulão, a NBR 6122 (1996) recomenda que a mesma seja dimensionada de modo a evitar alturas H superiores a 2 m, admitindo-se valores superiores somente em casos excepcionais, conforme demonstrado na Figura 6.18. Outra recomendação refere-se ao caso de tubulões com bases assentadas em cotas variáveis, os quais serão executados a partir da cota mais profunda até a mais rasa. Figura 6.18 – Geometria de tubulão (Alonso; Golombek, 1998). 46 Como principais vantagens da adoção de solução de fundações por tubulões destacam-se o baixo custo de mobilização e desmobilização, baixo nível de vibrações e ruídos, possibilidade de amostragem e classificação dos materiais do subsolo e também da alteração da geometria inicialmente prevista, ou seja, o diâmetro e comprimento de cada elemento. Um empecilho que pode surgir é a elevação de nível d´água na escavação do tubulão, o qual pode ser executado desde que a água seja eliminada do local por meio de bombeamento ou de forma manual, e que haja garantia para a execução da base sem riscos de desmoronamentos. 6.3 Escolha da Alternativa de Fundação – Critérios Gerais Algumas características da obra podem impor certo tipo de fundação (VELLOSO; LOPES, 1998). Se, por exemplo, em determinado subsolo se encontrou argila mole até uma profundidade considerável, pode-se concluir que uma fundação em estacas seja a melhor solução a ser empregada. Outras características podem permitir uma variedade de soluções, cuja escolha deve-se basear no menor custo e menor prazo de execução. Neste estudo de alternativas, podem-se incluir diversos tipos de fundação superficial – ou mais de um nível de implantação – bem como vários tipos de fundação profunda, de acordo com Velloso e Lopes (1998). Na avaliação de custos e prazos é prudente considerar escavações e reaterros. As sapatas e blocos são os elementos de fundação mais simples e mais econômicos (VELLOSO; LOPES, 1998). Os blocos são ainda menos onerosos que as sapatas para cargas reduzidas, quando o maior consumo de concreto é pequeno e justifica a eliminação de armação, não havendo, porém, restrição ao seu emprego para cargas elevadas. Uma fundação associada é adotada quando as áreas da sapata imaginadas para os pilares se aproximam uma das outras ou mesmo se interpenetram ou se deseja uniformizar os recalques, por meio de fundação associada. Ainda se as condições anteriores não forem suficientes para as 47 necessidades da obra, pode-se adotar sapata associada nesta área e fundações isoladas no restante da obra, ou ainda, caso o projetista assim desejar, optar-se pelo uso do radier, indicado quando a área total de fundação ultrapassar metade da área da construção, de acordo com Velloso e Lopes (1998). Há uma grande variedade de estacas para fundações, segundo Velloso e Lopes (1998) e, com certa freqüência, há a apresentação de um novo tipo de estaca no mercado, notando-se também uma evolução na técnica de execução das mesmas. A execução de estacas é uma atividade especializada da Engenharia, e o projetista precisa conhecer as firmas executoras e seus serviços para projetar fundações dentro das linhas de trabalho dessas firmas. O Quadro 6.2 representa a carga estrutural admissível em tonelada-força que cada uma das estacas pode suportar. Quadro 6.2 – Carga estrutural admissível. Fonte: Fundações em estacas (Presa; Pousada, 2004). Para a correta escolha da estacas deve-se ter em mente que as cargas de trabalho correspondem ao aspecto estrutural da estaca e que, de acordo com o fabricante, as cargas de trabalho podem variar para um mesmo tipo (VELLOSO; LOPES, 1998). Na escolha do tipo de estaca é preciso levar em conta o nível da carga dos pilares e a ocorrência de outros esforços além da compressão, como a tração e flexão. Características do subsolo podem interferir na escolha das estacas. Em argilas muito moles pode haver dificuldade na execução de estacas de concreto moldadas in situ. 48 Em solos muito resistentes, que apresentem alto grau de compactação ou com pedregulhos, pode haver dificuldade na cravação de estacas ou mesmo seu impedimento, verificando a mesma situação em solos com matacões e em terrenos onde o nível do lençol d´água seja elevado. Em aterros recentes sobre camadas moles, verificando-se o surgimento de atrito negativo (situação na qual há recalque na região circunscrito às estacas devido a rebaixamento de lençol freático ou o amolgamento de argilas moles), a melhor solução será o uso de estacas mais lisas com tratamento betuminoso. Ainda de acordo com Velloso e Lopes (1998), devem ser observadas as características do local da obra. Um terreno acidentado e com obstrução na altura pode dificultar o acesso de equipamentos. O custo do transporte de equipamento pesado pode ficar mais oneroso caso a obra seja distante de um grande centro. Deve-se também atentar-se à ocorrência de lâmina d´água. As construções vizinhas também podem contribuir na escolha do tipo das fundações, pois a existência de subsolos demanda em maior profundidade de fixação. O estado do imóvel pode ser determinante na escolha do melhor método, pois a presença de patologias, como trincas e fissuras, demandam uma maior sensibilidade aos tipos que requeiram cravação por vibração. 6.4 Concepção de Projeto e Condicionantes Especiais Segundo Velloso e Lopes (1998) é interessante estudar mais de uma alternativa de fundação e comparar custos e prazos de execução. A obra pode apresentar condições especiais que podem influenciar a concepção do projeto, como, por exemplo, a existência de pilares junto às divisas ou pavimento de subsolo no prédio. No caso de edifícios sem subsolos e afastados das divisas, não há condicionantes especiais e o projetista precisa considerar apenas os critérios gerais conforme mencionado anteriormente (Velloso e Lopes, 1998). Nesse caso, recomenda-se como primeira alternativa fundações superficiais isoladas, como blocos ou sapatas, indicando-se duas possibilidades de profundidade de implantação. A segunda alternativa é constituída por fundação superficial combinada, como por exemplo, 49 radier, e, como uma terceira alternativa, pode-se adotar fundações profundas, como estacas ou tubulões. Em edifícios sem subsolo e que se estendam até as divisas recomenda-se tratamento especial dos pilares junto às divisas, uma vez que ali o elemento de fundação não possui seu centro de gravidade coincidindo com o do pilar (VELLOSO; LOPES, 1998). Nestes pilares prevêem-se vigas de equilíbrio que os ligarão a pilares internos próximos. A fundação associada resultante tem carregamento centrado em relação aos elementos de fundação. Recomenda-se como primeira alternativa fundações superficiais, como blocos ou sapatas, indicando as vigas de equilíbrio e, quando esse elementos forem muito próximos, faz-se prudente adotar uma fundação combinada, como uma sapata associada ou uma viga de fundação. O radier pode ser adotado no caso em que não haja necessidade de viga de equilíbrio. Como terceira opção há a utilização de estacas ou tubulões, também associadas às vigas de equilíbrio. No caso de edifícios com pavimentos no subsolo, deve-se prever sistema de escoramento da escavação para execução desses pavimentos, segundo Velloso e Lopes (1998), podendo-se valer dos seguintes sistemas de escoramento vertical do tipo contínuo: a) paredes diafragmas; b) paredes de estacas pranchas de concreto, inviáveis se houver construção vizinha, devido a possibilidade do surgimento de fissuras nos imóveis pela cravação; c) paredes de estacas-pranchas de aço, ainda pouco utilizadas devido ao alto custo; d) paredes de estacas justapostas (ou tangentes); e) paredes de estacas secantes; f) tirantes ou ancoragens; g) estroncas, geralmente executadas em aço ou madeira; h) lajes da estrutura. 50 O método executivo de um edifício com pavimentos no subsolo pode ser do tipo direto ou convencional e invertido, segundo Velloso e Lopes (1998). No método tradicional a escavação avança até a cota final, com o escoramento horizontal promovido por tirantes ou estroncas e, numa segunda etapa, a estrutura do prédio começa a ser executada de baixo para cima, e os escoramentos provisórios passam a ser substituídos pelas lajes da estrutura. No método invertido, a escavação é executada até uma laje para permitir a escavação até a cota de uma outra laje num nível mais baixo, verificando-se, para tanto, a necessidade de escoramentos horizontais provisórios para as lajes, geralmente utilizando-se de estacas metálicas, raízes e escavadas. Questão importante a ser considerada nos prédios com subsolos que ultrapassam o nível d´água é a laje de fundo (VELLOSO; LOPES, 1998). Normalmente, esta laje é dimensionada para sub-pressão, porém pode haver casos especiais onde deva ser previsto um sistema permanente de alívio de pressões de água. Ainda segundo Velloso e Lopes (1998) nas fundações de edifícios pode haver a chamada fundação compensada, que são aquelas que tiram proveito do alívio de pressões do solo decorrentes da escavação de subsolos. Alguns projetistas utilizam em seus cálculos de recalques uma pressão líquida igual à pressão aplicada pela fundação menos a pressão de terra escavada. A compressibilidade do solo que fica abaixo de uma escavação é bastante reduzida uma vez que se trata de material sobre-adensado, além de um eventual sobre-adensamento natural. Na fundação de um edifício a ser erguido em encostas, cuidados devem ser tomados em função da superfície, profundidade mínima e presença de possíveis aqüíferos, segundo Velloso e Lopes (1998). Caso a encosta seja estável, as questões advindas da superfície do terreno são de fácil solução; caso contrário, deverá ser considerado, no cálculo da capacidade de carga, a inclinação do terreno. Deve-se também prever uma profundidade mínima de implantação, de tal modo que a fundação esteja protegida de movimentos das camadas superficiais, como o rastejo, geralmente associados a variações do nível d´água. É interessante estudar o perfil do terreno, seu(s) aqüífero(s), para então determinar a profundidade de 51 implantação das fundações. Em alguns casos, quando as sapatas não forem possíveis, os tubulões ou estacas de maior diâmetro poderão ser adotados. Ao se deparar com uma encosta estável para edificação, deve ser considerado o fator de segurança ao deslizamento a ser aceito, da mesma ordem do exigido para a perda da capacidade de carga da fundação, itens que acabam por elevar o custo dessas obras (VELLOSO; LOPES, 1998). Num estudo de estabilidade de encostas, o projeto deve possuir em seu escopo de trabalho medidas como corte para alívio do topo, bermas no pé do talude, drenagem profunda através de drenos sub-horizontais perfurados e suavização da encosta por meio de uma série de pequenos cortes, sendo de suma importância a drenagem superficial. 52 7 ESTUDO DE CASO O objeto de estudo deste trabalho focou o Centro de Desenvolvimento Esportivo Finasa Osasco. Inicialmente foi prevista estaca pré-moldada de concreto do tipo quadrada, porém, a dificuldade de se encontrar no mercado tal estaca aliado à possibilidade do surgimento de trincas e fissuras em imóveis da vizinhança pela cravação das mesmas, levou a optar-se por nova fundação, composta por estacas hélice e tubulões. A escolha levou em consideração aspectos como o estudo do perfil geológico-geotécnico do local, cronograma e melhor custo - beneficio. 7.1 Características Gerais O Centro de Desenvolvimento Esportivo Finasa Osasco é uma obra realizada pela prefeitura do Município de Osasco, com financiamento do Bradesco e Finasa. O CDE Finasa Osasco é uma obra pública e destina-se à formação de atletas do sexo feminino para a participação de campeonatos nas modalidades basquete e voleibol. A localização da obra fica na rua Álvaro Alvim x Thomas Antônio Gonzaga x Luís Antônio Padrão, no bairro Vila Osasco. Para um melhor entendimento, a área construída foi subdividida em três setores: • Setor A: Bloco composto por três pavimentos, traz em seu subsolo vagas de estacionamento para veículos e bicicletas. No andar térreo, há uma cozinha industrial, restaurante, salão de jogos, dormitórios para as atletas e uma piscina descoberta e, no primeiro andar, dormitórios com banheiros individuais. • Setor B: Bloco composto por três andares onde haverá salas de musculação, vestiários masculino e feminino no andar inferior, entre outras. Na parte localizada no térreo haverá a entrada para o público externo e um memorial e, no primeiro andar, espaço para a parte administrativa do complexo. • Setor C: Existência de quadras poli esportivas de basquete e voleibol, além de arquibancada, conforme demonstrado na Figura 7.1. 53 Figura 7.1 – Perspectiva das quadras do CDE Finasa Osasco (WTORRE, 2008). Uma característica notada na presente construção é a preocupação com aspectos ambientais: desde a concepção até a entrega definitiva da edificação, aspectos sustentáveis estão presentes em conformidade com a certificação internacional LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), destinada a edificações ambientalmente sustentáveis. Assim, na execução, aspectos como a destinação de resíduos, escolha de materiais ecologicamente corretos, separação e triagem de resíduos sólidos e reaproveitamento de águas de chuvas tornaram-se itens de grande importância. A localização da edificação tende a favorecer um maior aproveitamento de luz solar em função da utilização de materiais translúcidos na fachada, conforme demonstra a Figura 7.2. 54 Figura 7.2 – Fachada do CDE Finasa Osasco (WTORRE, 2008). A estrutura da edificação é de concreto armado convencional, as fôrmas e os escoramentos serão do tipo metálico. A cobertura das quadras será feita de estrutura metálica. 7.2 Características Geológico-Geotécnicas A partir das informações levantadas pela empresa de sondagem, foi realizada uma descrição do tipo de solo encontrado no terreno a partir dos pontos perfurados, de forma aleatória, sempre respeitando o mínimo de furos e as distâncias que Norma Brasileira estabelece. As características do solo em cada local foram decisivas para a escolha do melhor tipo de fundação: nos locais onde o solo apresentava turfa, areia e baixa coesão foram escolhidas estacas hélices contínuas; em solo argiloso optou-se pelo emprego de tubulões a céu aberto. Na Figura 7.3 é mostrado um perfil de sondagem onde a presença de argila orgânica (turfa) levou à escolha de estaca 55 hélice, a qual deve atingir uma camada de solo rijo, garantindo estanqueidade da fundação e posterior segurança à estrutura. Figura 7.3 – Perfil de Sondagem SP 112 (WTORRE, 2008). 56 Na parte mais baixa do terreno, em função a existência de um solo mais argiloso e coeso em nível mais elevado levou à escolha de tubulão a céu aberto, conforme demonstrado na Figura 7.4. Figura 7.4 – Perfil de Sondagem SP 03 (WTORRE, 2008). 57 Com relação ao uso de estacas hélices, em solos argilosos moles, a constatação da presença de NSPT de valor muito pequeno exige um controle rigoroso de execução, para se evitar estrangulamento do fuste, ou ainda a mistura de solo mole com o concreto a ser injetado na estaca. 7.3 Alternativa de Fundação de Projeto Após criteriosa análise do perfil da sondagem e tendo por base os critérios descritos anteriormente, foi determinado o elemento da fundação mais adequado às características do solo em cada ponto, segundo as informações da sondagem. No Anexo A encontram-se, detalhadamente, todos os perfis obtidos do solo local. Inicialmente, optou-se por estacas pré-moldadas de concreto de seção quadrada, porém a falta do material estaca no mercado e o elevado prazo de entrega para uma obra, com tempo de execução de 150 dias, acabou por inviabilizar sua utilização. Um fator preponderante para a alteração da base da edificação foi o método de cravação das estacas, por meio de bate estacas, o qual poderia gerar trincas e rachaduras nos imóveis na vizinhança, onde se observam construções antigas ou com mau estado de conservação. Assim, estudou-se a adoção de tubulões em todo o perímetro, porém a fragilidade e a baixa coesão do solo em alguns pontos do terreno levaram, novamente, a mudança de todo o projeto de fundações para estaca hélice contínua e tubulões. Em alguns pontos foram deixados poços de prova onde não se havia determinado a fundação adequada: após a constatação de solo orgânico algumas fundações foram alteradas de tubulões para estaca hélice. O curto prazo de execução da obra aliado à dificuldade de se encontrar, a prontaentrega, estacas pré-moldadas de concreto de seção quadrada e a possibilidade de fissuração de imóveis em torno da obra, devido à cravação, foram fatores decisivos para a concepção do novo tipo de fundação. Nos locais onde o solo apresenta coesão satisfatória, optou-se por tubulões, devido ao baixo custo, facilidade de monitoramente e simplicidade de execução. Nos pontos em que o solo apresentou turfas, instabilidade, presença de água e surgimento de areia, escolheu-se estaca do 58 tipo hélice contínua, fundação que apresenta rapidez de execução e cravação em elevadas profundidades, sem vibrações que pudessem intervir em edificações vizinhas. 7.4 Ocorrências durante a execução das fundações Diversas são as interferências encontradas durante a obra. De acordo com as particularidades, notou-se a necessidade de modificar o tipo de fundação empregada em alguns trechos. Um aspecto especial a ser mencionado foi a presença de uma mina d água no local, a qual aflorava constantemente uma água límpida e abundante, o qual fez pressupor ser proveniente de uma adutora outrora rompida. Para resolver o problema, em curto prazo, foi construído um poço constituído por anéis de concreto envolto com bica e rachão, para a contenção e drenagem da água para um lugar apropriado (Fig. 7.5). Figura 7.5 – Poço com anéis de concreto para drenagem de água de mina. (WTORRE, 2008). 59 Na fase de terraplanagem, durante a fase de corte do solo, foi descoberta a existência de uma tubulação de concreto armado de um metro de diâmetro, e dois poços de visita, percorrendo todo o terreno da construção (Fig. 7.6 e 7.7), com dois trechos que captavam águas pluviais de duas ruas para o terreno da obra. A sondagem, ainda que executada segundo os parâmetros exigidos pela Norma Brasileira, não detectou a presença da tubulação. Em consulta cadastral na Prefeitura e na Companhia de Saneamento Municipal, no caso, SABESP, não foram informados dados que comprovassem a existência da tubulação. Figura 7.6 – Descoberta de tubulação de concreto (WTORRE, 2008). A ausência de dados cadastrais geofísicos do local trouxe inúmeras conseqüências: foi ampliado o prazo de conclusão da obra em dois meses, ou seja, a entrega, que inicialmente seria em dezembro de 2008 passou para fevereiro de 2009, onde serviços como drenagem do terreno e obras de desvio da tubulação para a execução de estacas hélices acabaram por ampliar o cronograma e aumentar o 60 custo da edificação. A existência de ensaios geofísicos poderia auxiliar na localização das interferências e preservar o prazo de execução da obra. Figura 7.7 – Poço de visita da tubulação de concreto (WTORRE, 2008). Foi realizado um estudo de drenagem de águas pluviais em que foi proposta a construção de caixas de passagem para o desvio da tubulação de água pluvial existente, desativando um trecho hoje em operação e, com a construção de um novo, em que não houvesse concordância com a fundação hoje em execução. No instante da execução dos tubulões, no nível mais baixo do terreno notou-se um solo argiloso de boa qualidade, com pequenas quantidades de silte e pouca ou nenhuma presença de solo orgânico, porém, durante a execução, o elevado nível do lençol freático obrigou a utilização de bombas para a retirada e remoção do excesso do líquido, evitando-se assim a formação de lama e deformação das características de cada tubulão. Um exemplo da presença de água nos tubulões, em função da altura do lençol freático, pode ser conferido na Figura 7.8. 61 Figura 7.8 – Presença de água em tubulão recém escavado (WTORRE, 2008). Em alguns tubulões, dado o elevado nível do lençol freático, os tubulões apresentaram desmoronamento em virtude do excesso de água em sua área perimetral. A solução foi a limpeza do tubulão e a colocação de anéis de concreto para que o mesmo estivesse em acordo com o projeto. Durante as escavações para a abertura dos tubulões, no nível mais baixo do terreno foi encontrada uma fossa séptica que tangenciava a fundação, cuja localização não fora apontada previamente na sondagem (Figura 7.9), o que acabou gerando em reaterro do local e encamisamento do tubulão com anel de concreto. 62 Figura 7.9 – Fossa séptica encontrada durante abertura de fuste do tubulão (WTORRE, 2008). 7.5 Comentários A seguir são descritos algumas dificuldades encontradas durante a execução das fundações do Centro de Desenvolvimento Esportivo Finasa Osasco. 63 7.5.1 Desvio da tubulação de águas pluviais existente A falta de um cadastro que mostrasse todas as interferências das tubulações de águas pluviais, descobertas no momento da execução das estacas hélice e tubulões, exigiu novas etapas de trabalho que não constavam do escopo inicial da obra. Os serviços adicionais constaram do estudo de desvio de tubulação existente para a execução de estacas hélices, com retirada da tubulação antiga e a execução de uma nova, paralela à existente, conforme demonstrado na Figura 7.10, que não interferisse na fundação proposta em projeto. A execução desses serviços adicionais acabou por atrasar tanto as fundações profundas quanto a execução de fundações rasas e estruturas da obra, gerando alteração do cronograma da obra em dois meses, transferindo a entrega, inicialmente prevista para dezembro de 2008, para fevereiro de 2009. Figura 7.10 – Tubulação antiga X nova (WTORRE, 2008). 64 7.5.2 Presença de lençol freático em cota elevada A presença do lençol freático em cota muito elevada acabou por trazer alguns problemas na execução de alguns tubulões, onde a execução foi bastante prejudicada em função do excesso de água, que provocou desmoronamento de terra, o que dificultou sua execução. Uma solução foi adotar anéis com revestimento em concreto com diâmetro de um metro, fazendo-se posterior reaterro, como pode ser visto na Figura 7.11. Figura 7.11 – Execução de tubulão com anéis de concreto (WTORRE, 2008). Em outro caso, a presença abundante de água de lençol freático removeu boa parte do material em volta do tubulão, o que exigiu escoramento com formas e escoramento de madeira, cuja execução pode ser vista na Figura 7.12. 65 Figura 7.12 – Execução de tubulão com fôrmas de madeira e escoramento (WTORRE, 2008) 7.5.3 Presença de água de mina e de talude de divisa A presença de água em talude de divisa com escola vizinha trouxe a necessidade de estudo de captação e drenagem. Camisas metálicas foram introduzidas nos trechos de maior surgência de água, onde tubos corrugados conduziam o líquido para um poço, construído com anéis de concreto executado anteriormente, o qual também recebia a contribuição de uma mina existente anteriormente. A solução executada pode ser conferida na Figura 7.13. A captação proporcionou uma maior garantia de estabilidade ao talude, que acabou por reduzir pequenos desmoronamentos ao longo de sua extensão, minimizando a possibilidade de ruptura do muro de divisa. 66 Figura 7.13 – Captação de águas de talude (WTORRE, 2008). 7.5.4 Estudo de fundação para muro de arrimo Para a contenção de solo em talude vizinho, foi concebido o estudo de um muro de contenção, o qual contava inicialmente com estacas hélice contínua. Porém, a dificuldade apresentada pela máquina perfuratriz na execução da fundação em solo extremamente mole e argiloso, gerado por constantes atolamentos, exigiu nova solução onde, após criterioso estudo, optou-se por utilizar estacas Strauss na região próximo às arquibancadas. No momento da execução houve a necessidade da troca do solo orgânico por um de maior coesão, para a garantia da estanqueidade do equipamento de cravação de estaca Strauss. Mesmo com a substituição do solo, houve presença constante de solo orgâncio, como pode ser visto na figura 7.14. 67 Figura 7.14 – Execução de estaca Strauss (WTORRE, 2008). 7.5.5 Considerações finais Um aspecto interessante notado no projeto do Centro de Desenvolvimento Finasa Osasco é a diversidade de fundações presentes. O solo apresentou características bem diferentes para cada nível: na parte superior do terreno mostrou-se argiloso, mole e orgânico, com presença de lençol freático elevado em alguns trechos, enquanto que na parte inferior mostrava-se de boa qualidade, porém tendo como maior dificuldade a presença de água em alguns trechos. A variabilidade do solo e das cargas de projeto conduziu à adoção de vários tipos de fundação em uma mesma obra, decisivas para a escolha de hélice contínua, tubulão, sapata isolada ou estaca Strauss para cada trecho do terreno. 68 8 CONCLUSÕES Um projeto de fundações deve, ainda na fase de concepção, apresentar escolha criteriosa do tipo mais apropriado para cada tipo de obra, onde dados arquitetônicos, de locação de cargas e pilares na fundação, bem como levantamento topográfico planialtimétrico da região, são de fundamental importância. O reconhecimento do solo por meio de sondagens de simples reconhecimento e ensaios geotécnicos, bem como o conhecimento das condições do local a ser erguida a nova edificação (acessibilidade, interferências, tipos e estados das construções vizinhas, etc.), também são fatores que colaboram para a melhor determinação do tipo de fundação a ser empregada. De posse das informações necessárias, deve-se escolher a fundação que se mostre tecnicamente mais viável para a obra e que apresente bom desempenho aliado à segurança exigida, atendendo condições de custos e prazo de execução. É conveniente que o autor do projeto conheça o estado das edificações vizinhas à obra para que, em função de sua conservação, possa ser escolhido o tipo de fundação mais adequado, evitando o surgimento de patologias. Na obra do Centro de Desenvolvimento Esportivo Finasa Osasco notou-se que a escolha de fundações profundas trouxe a necessidade de conhecimento apurado das condições do solo. Assim, em função das características presentes em diversos pontos do terreno, optou-se por utilizar tubulão nos locais onde o solo apresentava maior resistência, e estaca hélice contínua onde o terreno exibia matéria orgânica. A escolha do melhor tipo de fundação também foi influenciada pelas construções vizinhas, cujo mau estado de conservação foi decisivo na substituição do método de estacas pré-moldadas de concreto por estacas hélices contínuas, cuja escavação trouxe poucas alterações no estado das edificações pré-existentes ao redor da obra. A escolha de variados tipos de fundação numa mesma obra é prática pouco usual, pois os variados elementos estruturais podem apresentar comportamentos distintos em função da distribuição de esforços e deformações. A presença de um solo orgânico extremamente mole e de baixa adequabilidade para as fundações requereu constantes mudanças de projeto, o qual se buscou obter a 69 melhor alternativa para a edificação. Apesar de a sondagem fornecida pelo cliente mostrar um solo com características orgânicas e com alto nível do lençol freático, foram efetuadas mudanças do tipo de fundação no decorrer dos serviços, ao passo que as dificuldades foram surgindo, fato que poderia ter sido evitada se, inicialmente, um maior tempo fosse empregado no estudo da tipologia do terreno. Outro aspecto de suma importância foi o estudo do terreno, cuja ausência de cadastro prévio acabou dificultando a execução das fundações. As interferências existentes, descobertas somente no decorrer dos serviços, aumentou os custos, pois até então serviços como drenagem e substituição da rede de águas pluviais existentes não constavam do escopo da concorrência. Através do estudo de caso, conclui-se que é de fundamental importância o acesso a todas as informações prévias do local da nova edificação, fornecidos por investigações geológico-geotécnicas e cadastro de obras enterradas ou possíveis interferências, com o objetivo de diminuir prazos, evitando-se assim a constante mudança de projetos e desgastes com a inclusão de serviços adicionais. 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEF – Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia. Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos. São Paulo: 2 Ed., 1999. ALONSO, U. Execução de fundações profundas. In: Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, 1ª. Ed., 1998, pg 361 a 363. ALONSO, U.; GOLOMBEK, S. Execução de fundações profundas. In: Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, 1ª. Ed., 1998, pg 400 a 405. BARROS, Mercia M.B. In: Fundações. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2003, pg 19 a 20. FUNDESP – Fundações Especiais Ltda. Manual de Fundações Especiais. Jandira: s/d. Geosonda S.A. Serviços de Engenharia, São Paulo, 2008. Disponível em: <www.geosonda.com.br> Acesso em: 15 out.2008. NAPOLES NETO, A. História das Fundações. In: Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, 1ª. Ed., 1998, pg 17 a 33. NBR 6122. Projeto e execução de fundações, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1996. NBR 8681. Ação e seguranças nas estruturas - Procedimento, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2003. 71 NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto - Procedimento, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2007. PRESA, Erundino Pousada; POUSADA, Manuela Carreiro. Retrospectiva e técnicas modernas de fundações em estacas. São Paulo: ABMS, 2 Ed., 2004. 106 p. HACHICH, Waldemar et al; Fundações Teoria e Prática. São Paulo: Pini, ABMS, ABEF, 1998. 760 p. VARGAS, M. História das Fundações. In: Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, 1ª. Ed., 1998, pg 34 a 49. VELLOSO, D; LOPES, F. Concepções de obras de fundações. In: Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, 1ª. Ed., 1998, pg 221 a 226. WTORRE ENGENHARIA. Obra Centro de Desenvolvimento Esportivo Finasa Osasco, 2008. ANEXO A - SONDAGEM 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 ANEXO B – PROJETO DE FUNDAÇÃO EM ESTACA PRÉ-MOLDADA DE CONCRETO E PERFIS METÁLICOS 26 27 ANEXO C – PROJETO DE FUNDAÇÃO EM TUBULÃO, ESTACA HÉLICE CONTÍNUA E STRAUSS 28 29 ANEXO D – PROJETO DE REFORMA DA REDE PÚBLICA DE ÁGUA PLUVIAL EXISTENTE 30 31 ANEXO E – DESENHO ESQUEMÁTICO DA EDIFICAÇÃO