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24, 25 e 26 de julho de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
e palavras...
Livros
O CAFÉ DO PORTO
E A PADRE CHAGAS
Jaime Cimenti
[email protected]
Ficções, cotidiano e
nostalgias do Flávio Dutra
A coletânea Crônicas da mesa
ao lado (Belvedere, 96 páginas,
www.bartlebee.com.br, capa de
Cezar Arruê), do consagrado jornalista e blogueiro Flávio Dutra,
partiu do blog ViaDutra um descaminho (http://viadutras.blogspot.com.br) em 2009. Curtições,
comentários, compartilhamentos
e incentivos no Facebook e uma
avaliação de mais de 500 textos
por Diego Lock Farina originaram
o livro, de quatro capítulos. O prefácio é de David Coimbra, que diz:
“Gostaria de ter escrito algumas
crônicas do livro e talvez faça plágio não autorizado de outras”.
Flávio Dutra, porto-alegrense
formado em Comunicação Social
pela Ufrgs, especializado em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital, trabalhou nos principais jornais e emissoras de rádio e
TV do Rio Grande do Sul, presidiu
a Fundação Cultural Piratini (TVE
e Rádio FM Cultura), atuou como
secretário de Comunicação do governo do Estado, da prefeitura de
Porto Alegre e frequenta redes sociais, especialmente o Facebook.
Crônicas da mesa ao lado
apresenta crônicas e frases no final do volume, que revelam a habilidade, a síntese e a objetividade
do jornalista experiente, mescladas com o humor, a vivacidade e
o olhar dos cronistas de até pouco
tempo atrás, aqueles que biografavam o cotidiano sem se preocupar demais com o próprio ego ou
com emitir opiniões. Sim, a gente
sabe que a crônica se tornou, para
o bem e para o mal, um pequeno
artigo de opinião ou de egolatria.
Na primeira parte do livro,
que dá nome ao volume, o autor
conta histórias e adverte que nem
tudo é verdade. O gauchão que
financiava a modista; coquetel de
Viagra com Cialis; fetiches; o homem que amava panturrilhas e o
que amava joanetes e a estranha
senha a ser usada no motel são alguns dos temas com tom gostoso
de conversa de bar.
O segundo capítulo, Crônicas
do cotidiano, retrata a vida real,
por vezes com base em conversas
alheias. Fala de gafes, da estranha
exigência de um famoso cantor,
do homônimo do Flávio Dutra, da
história do Mário Cinco Paus e de
gauchismo, entre outros assuntos.
Crônicas da nostalgia é a terceira parte. Dutra fala dos filmes,
dos beijos e dos amassos no cine
Ritz; da turma de Petrópolis que
sequestrou o bonde Petrópolis
(Flávio nega que participou); do
romance e pedido de casamento
do coronel Dastro em meio à fuga
e perseguição do bandido Melara;
das aventuras de Toniolo com
PMs e, ao final, apresenta uma
mensagem na qual diz sentir nostalgia do futuro, do que não fará,
e desde já, bota a culpa no tempo
pelas coisas que não conseguirá
realizar.
Ouvido na mesa ao lado, parte final, fecha com graça e leveza,
com frases espirituosas, como
“Quem fica se achando é porque
não se procurou direito” e “tem
instituto de pesquisa que deveria
cair para a segunda divisão”.
É isso. Flávio Dutra falou e
disse. E muito bem. Com muita
ginga, inteligência e graça. Ótimo
para todos.
lançamentos
O Café do Porto da Padre Chagas, um dos filhos
da querida Cacaia Bestetti,
acabou de completar, em 18
de julho, vinte gloriosos aninhos. É um guri, ainda, perto do Café Tortoni, de Buenos Aires, que nasceu em
1858, e do Café de La Paix,
de Paris, que é de 1862, mas
deixa a pátina do tempo ir
caindo de leve, e o Café do
Porto, que começou pequeno, numa garagem, vai continuando sua trajetória como
uma instituição da cidade. É
um café que mudou a Padre
Chagas, o Moinhos de Vento
e também Porto Alegre.
A Padre Chagas, segundo os registros imobiliários,
tem cento e poucos anos e,
antes do Café do Porto, do
Jazz Café na Fernando Gomes (Calçada da Fama) e do
saudoso Azteca, na Padre
Chagas, há vinte anos, era
uma rua com casas residenciais, edifícios de apartamentos e poucos prédios
comerciais, com salas e algumas lojas. De noite e nos
fins de semana, tinha pouca
vida, a Padre, uma rua pequena, de aproximados 600
metros de extensão.
O Café do Porto e outros estabelecimentos que
vieram depois deram vida e
movimento ao bairro e, de
quebra, estudos mostram
que bares e restaurantes
propiciam mais segurança
aos moradores das redondezas.
Pois temos mais é que
comemorar o aniversário do Café, como gosta de
chamá-lo a Cacaia, e desejar
campai, longa vida para ele,
que já faz parte da nossa
família e do nosso cotidiano. Ele é a continuação de
nossa casa, de nossa sala,
onde podemos encontrar
parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, fazer
novos amigos, inclusive
novos amigos de infância, e
onde podemos, claro, passar
um tempo sozinhos, lendo,
trabalhando, pensando ou
simplesmente tomando espumante, vinho, cerveja ou
refri, assistindo ao incomparável desfile das deusas da
Padre Chagas, possivelmente a maior e melhor passarela de beleza do planeta.
Nas quartas-feiras,
quando os músicos Cláudio
Vera Cruz ou o Rosa Franco,
afinados, tocam e cantam, a
turma do Léo, Talasca, Papaléo, Telmo, Marcão, Zanatta,
Adonis, Bresolin, Nonno e
outros curtem uma happy
por lá, sempre conversando
sobre assuntos sérios e comportadíssimos, como convém a pais de família.
O publicitário, músico,
cronista e escritor Rubem
Penz vai ministrar uma
oficina de crônica no Café
do Porto, em versão café
espresso, mas, imagino, sem
prejuízo de outros líquidos
que o Café tem para servir.
Normalmente, as oficinas do
Rubem são regadas a cerveja e outras bebidas, no Apolinário, e a combinação tem
funcionado bem.
Pois é, o Café do Porto
já está no rumo da maioridade, dos 21, e já se tornou
patrimônio social, afetivo e
gastronômico da gente. Deus
o conserve, ilumine e lhe dê
mais uns 100 anos de vida.
Sempre é bom lembrar
que, assim como uma casa
não é um lar, um prédio não
é um café. Café que se preze
tem que ter alma, história,
pessoas, palavras, emoções
e sensações no passado, presente e futuro. Tipo assim o
Café do Porto.
a propósito...
››Mensagem (Ateliê Editorial, 192
páginas), de Fernando Pessoa,
edição, ensaio de apresentação
e notas de António Apolinário
Lourenço, da Universidade de
Coimbra, é a primeira edição, no
Brasil, da obra-prima com texto
atualizado, estabelecido e de
acordo com o acordo ortográfico
de 1990, que auxilia a compreender a rica e complexa simbologia.
Ilustrações de Kaio Romero.
››Ruína y leveza (Não-Editora,
208 páginas), romance da
jornalista, escritora e editora
porto-alegrense Julia Dantas, foi
finalista do Prêmio Açorianos de
Criação Literária. Narra a viagem
de uma jovem pelo meio da América do Sul, sem rota ou objetivos
claros. Ela carrega na mochila
um passado que ainda pesa. E
muito. Escrita densa, elaborada,
sedutora. Uma estreia madura.
››História da filosofia e da ética
(Edifieo, 120 páginas), do professor doutor Ival de Assis Cripa,
docente da Unifieo, discute o
papel da ética e da filosofia na
formação de indivíduos críticos
e conscientes de seus direitos e
de seus deveres profissionais e
como cidadãos. Mostra o diálogo
da ética com filosofia, história,
direito, antropologia, economia e
sociologia.
Pesquisas recentes mostraram que o consumo moderado de café é saudável
para o coração, além ser útil
para fortalecer a imunidade,
proteger o fígado, ajudar no
diabetes, cálculos e prevenção de câncer e também para
auxiliar na conservação da
memória. Ah, pesquisa recente mostrou que duas ou três
xícaras de espresso contêm
cafeína suficiente para poder melhorar a situação de
pessoas deprimidas, que são
muitas atualmente. Mas deguste com moderação, beba
devagarinho, curta o aroma,
a aparência e o gosto do café,
convide os parentes e amigos,
consulte seu médico e seja
cada vez mais feliz. Cafezinho, preferência nacional.
(Jaime Cimenti)
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Jaime Cimenti