18 Quarta-feira 8 de abril de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Editora: Paula Coutinho [email protected] OperaçãO Lava JatO Juiz defende a quebra de sigilo de José Dirceu Sistema caótico A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos tem alta probabilidade de ser aprovada no Congresso, mas não sem debates acirrados. A opinião é do deputado federal Afonso Motta (PDT). De acordo com ele, há um “sentimento de aprovação” entre os parlamentares, mas a proposta provavelmente vai parar no Supremo Tribunal Federal (STF). “Não vai se esgotar no Congresso. Há previsão constitucional de não abrir esse precedente, já que trata de uma cláusula pétrea”, diz. Motta, que é contrário ao texto, afirma que as prisões brasileiras não são suficientes nem para os adultos, quanto mais para os adolescentes. “O sistema prisional não atende os mínimos requisitos nem para aqueles que têm mais de 18 anos. Aí vamos agregar os jovens de 16 a 18 anos nesse sistema caótico?”, comenta. Caminho mais fácil FREDY VIEIRA/JC O deputado federal José Fogaça (PMDB, foto) participou do momento em que a Constituinte aprovou o artigo 228, que reconhece a prioridade e a importância da doutrina de proteção ao adolescente e à criança no Brasil. E ele lamenta os caminhos que o parlamento está tomando. “Este País, provavelmente, esteja fazendo uma opção pelo mais simples ou pelo mais fácil. E o que é mais fácil nem sempre é o melhor. Nós estamos abdicando, nós estamos desistindo de uma doutrina que foi estruturada, que foi erigida a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirmou. De acordo com ele, ao olhar para as estatísticas, o “caminho difícil” é o que direciona a diminuição da criminalidade. Mas a escolha foi outra. “O caminho mais fácil, talvez, mas o menos recomendável é o que parece que estamos seguindo”. Crise econômica O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, poderá ser convocado a prestar depoimento à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara para dar explicações sobre a “conjuntura político-econômica nacional”. De acordo com o autor do pedido, deputado federal Nelson Marchezan Jr. (PSDB), tudo indica que as dificuldades na economia são culpa do governo. “Em síntese, resta evidente que o Brasil vive o resultado de um desequilíbrio econômico, causado pela desorganização política e pela adoção de medidas contrárias às promessas eleitorais da presidente, contexto de má gestão e falta de planejamento, cujas consequências o cidadão será obrigado a suportar ao perder direitos trabalhistas e ter benefícios sociais cortados.” Empresa de petista era usada para receber propina de empreiteiras O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba (PR), defendeu, em ofício encaminhado ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, a legitimidade da quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), condenado no mensalão, e da JD Assessoria e Consultoria, empresa utilizada por ele para receber propina de empreiteiras envolvidas com o escândalo do petrolão, conforme disseram executivos presos pela Polícia Federal. A empresa do ex-ministro da Casa Civil do governo Lula (PT) faturou, conforme a Secretaria da Receita Federal, R$ 29,2 milhões com a prestação de serviços de consultoria de 2006, depois de ele deixar o governo Lula, a 2013, quando começou a cumprir pena pela condenação no julgamento do processo mensalão. Em verdade, Dirceu ganhou mais no período: R$ 39,1 milhões — os R$ 9,9 milhões a mais vêm de pagamentos feitos por empresas estrangeiras, que não constam da Receita. Em análise dos dados da Receita anexados ao processo do petrolão, é possível verificar que nenhum ano foi tão lucrativo para Dirceu quanto 2012: ele amealhou R$ 7 milhões. Foi neste ano que o ex-chefe da Casa Civil e homem-forte do governo Lula recebeu pena de 10 anos e 10 meses de prisão, depois revertida para sete anos e 11 meses no mensalão. Em 2013, nova enxurrada de dinheiro para a JD Consultoria: foram R$ 4,159 milhões. “Nas quebras de sigilo fiscal e bancário das empreiteiras, o que foi judicialmente autorizado, foram identificados vários pagamentos de contratos de FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR/DIVULGAÇÃO/JC Ano de 2012 foi o mais lucrativo do ex-ministro; amealhou R$ 7 milhões consultoria para a JD Assessoria e Consultoria Ltda., empresa de titularidade de José Dirceu de Oliveira e Silva”, relata Moro, que informa ainda que o acesso aos dados sigilosos do ex-ministro era “imprescindível” para se investigar se os serviços de consultoria, na verdade, eram uma das formas de as empreiteiras pagarem propina no esquema criminoso. “Diante da notória influência de José Dirceu de Oliveira e Silva no Partido dos Trabalhadores e da prévia verificação de que as empreiteiras teriam se valido de consultorias fictícias para pagamento de propinas, razoáveis as razões para a decretação da quebra de sigilo bancário e fiscal diante dos lançamentos de pagamentos identificados”, defendeu Moro. “Imprescindível para a investigação a quebra de sigilo fiscal e bancário, não havendo outro meio menos gravoso para esclarecer os fatos. Em investigações por corrupção e lavagem de dinheiro, imprescindível o rastreamento do fluxo financeiro e patrimonial”, completou ele. A manifestação do juiz Sergio Moro sobre a validade da suspensão dos sigilos como método de investigação ocorreu após despacho do desembargador federal João Pedro Gebran Neto, relator dos processos do petrolão na segunda instância. O ex-ministro José Dirceu recorreu ao tribunal contra a suspensão dos sigilos no dia 17 de março por considerar que a decisão que autorizou o acesso aos dados bancários e fiscais seria “ilegal”. Em decisão individual, tomada em 24 de março, o desembargador já havia rejeitado os argumentos de Dirceu de que parte das investigações da Operação Lava Jato teria sido direcionada para incriminá-lo. “O curso da denominada Operação Lava Jato demonstra que a atuação judicial não leva em conta pessoas, mas sim fatos. A tese de que o impetrante José Dirceu está servindo de instrumento de expiação dos males do País não se sustenta quando confrontada com a dinâmica da própria Operação Lava Jato”, disse Gebran Neto na ocasião. Projetos da Petrobras não foram afetados por atos ilícitos O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold Júnior, disse à CPI da Petrobras que nenhum dos projetos da estatal foi afetado com os “atos ilícitos” apontados pela Operação Lava Jato. Para ele, o esquema de corrupção deve ser tratado pelos órgãos policiais, já que foi descoberto pela Polícia Federal. “A corrupção diz respeito a pessoas e essas pessoas devem responder pelos atos ilícitos”, disse. Respondendo a perguntas do deputado Bruno Covas (PSDB-SP), Repsold evitou associar a corrupção na Petrobras a um “câncer”, como fez anteriormente. Em um evento em março, o diretor chegou a dizer que a empresa enfrenta neste momento um “câncer”. Repsold voltou a dizer que aditivos contratuais nas obras de construção do Gasene se deram por dificuldades técnicas verificadas na construção do gasoduto e não soube dar detalhes sobre a os trabalhos, a cargo da gerência de Pedro Barusco (Engenharia e Serviços). Ele repetiu que não houve irregularidades na execução da obra do Gasene.