14 JORNAL DE BRASÍLIA Política&Poder. Brasília, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015 J. F. DIORIO/AE OPERAÇÃO LAVA JATO Denúncia chega a Conselho de Ética PPS representa contra ministro e pede investigação sobre orientações dadas por ele a advogado das empreiteiras O PPS ingressou ontem com re- como aconselhar o advogado da presentação contra o ministro da empresa investigada a recuar no Justiça, José Eduardo Cardozo, na acordo delação premiada, o denunComissão de Ética Pública da Presi- ciado está infringindo o Código de dência da República. O partido de Conduta [do Governo Federal]", oposição quer que a comissão in- afirma Bueno no documento. vestigue os encontros de Cardozo O líder do PPS também questiona advogados de empreiteiras o fato de o encontro com os investigadas na Operação advogados não ter Lava Jato, como a Caconstado na agenda margo Corrêa e a UTC oficial de Cardozo. Engenharia. O ministro admitiu encontros teve Cardozo No pedido de inos encontros, mas com advogados das vestigação, o líder do afirmou que houve empreiteiras da PPS na Câmara, Runo sistema eletrôniLava Jato bens Bueno afirma que co falha que impediu os encontros não seguiram o lançamento das aua conduta ética do Governo Fediências em sua agenda. deral, pois a Polícia Federal, que investiga as empreiteiras, é subordi- FEREM DECRETO nada ao Ministério da Justiça. Segundo Bueno, os encontros fe"Resta evidente que, ao ditar co- rem decreto que trata das audiênmo será a continuação da Operação cias de autoridades do governo feLava Jato, utilizando-se do cargo de deral. "A violação é clara, já que não ministro da Justiça que ocupa, bem houve pedido formal de reunião 3 Panelaço para protestar Manifestantes ligados ao grupo "Vem pra Rua", que faz oposição ao governo, organizaram um "panelaço" em frente ao prédio onde mora o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em São Paulo. Em um vídeo divulgado pelo WhatsApp, o grupo acusa Cardozo de querer "limitar as investigações" da Operação Lava Jato e pede sua demissão imediata do cargo. O apartamento de Cardozo está vazio porque o ministro cumpri agenda em Brasília. Seu pai, de 83 anos, a mãe, de 81, e uma tia de 76, que também moram no imóvel, saíram na terça-feira. OAB TRAZ APOIO Apesar de ser alvo dos manifestantes, o ministro recebeu mensagens de apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A entidade alega que o diálogo de Cardozo com os advogados das empreiteiras é uma prerrogativa constitucional é que "não é admissível criminalizar o exercício da profissão" O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Antônio César Bochenekj, tam- bém saiu em defesa do ministro alegando que até agora não há notícia de interferência do Executivo na Lava Jato. "O ministro, desde os tempos de estudante, sempre lutou para garantir, na Constituição, o direito de livre manifestação", diz Marco Aurélio Carvalho, coordenador do setorial jurídico do PT. com a identificação do requerente e o assunto que seria tratado por ele. Além disso, o decreto deixa claro que as audiências sempre devem ter caráter oficial, ainda que fora do local de trabalho, e que o agente público deverá estar acompanhado de, pelo menos, outro servidor, o que não ocorreu", disse Bueno. A exemplo do ex-ministro Joaquim Barbosa, o líder do PPS defende que Cardozo se afaste do cargo por considerar que houve interferência do ministro nas investigações. "Ou assume uma atitude mais digna ou pede para sair do ministério, já que Dilma não demite ninguém", criticou Bueno. O ministro da Justiça teve ao menos três encontros só neste mês com advogados que defendem empresas acusadas por investigadores da Operação Lava Jato de pagar propina para conquistar obras da Petrobras. Cardozo: pressões da oposição contra interferência nas apurações TENTATIVA DE CONVOCAR 1 Em outra frente, o PSDB anunciou ontem que vai tentar convocar o ministro a explicar, no Congresso, seu encontro com advogados de empreiteiras sob investigação na Operação Lava Jato. 2 Os tucanos vão pedir a convocação do ministro na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na CPI da Petrobras criada na Câmara, além da futura CPI mista da Petrobras (com deputados e senadores). 3 A ideia é que Cardozo seja obrigado a comparecer às comissões para falar sobre o encontro, como previso nas convocações de ministros. 4 Se os congressistas aliados do governo conseguirem transformar as convocações em convites, Cardozo fica dispensado e prestar depoimento no Legislativo. 5 A senadora e ex-ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), saiu na tarde de ontem em defesa do ministro José Eduardo Cardozo. "É obrigatório isso, isso é da função dele. Portanto, não houve nenhum problema ele ter recebido os dois advogados da Odebrecht, porque esses advogados queriam fazera reclamação sobre o que achavam que eram irregularidades na operação", afirmou a senadora petista. JOSÉ CRUS/AGÊNCIA BRASIL Juiz Sérgio Moro: Cardozo não é responsável pela investigação Ação da defesa é “intolerável”, acusa Moro O juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, afirmou em decisão de ontem que é "intolerável" a iniciativa de advogados de empreiteiras de se reunirem com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo para "obter interferência política" e endossou críticas feitas pelo ex-presidente do (Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. A argumentação foi feita por Moro para justificar uma nova ordem de prisão preventiva contra os empreiteiros Ricardo Pessoa (UTC), Eduardo Hermelino Leite (Camargo Corrêa), Dalton Avancini (Camargo Corrêa) e João Auler (Camargo Corrêa), sob o entendimento de que as empreiteiras têm tentado interferir nas investigações. DISCUSSÃO NOS AUTOS Moro citou as notícias sobre os encontros de Cardozo para também fazer críticas ao episódio. Afirmou que a prisão dos executivos deve ser discutida "nos autos" e que não há qualquer empecilho para que ele mesmo receba os advogados constituídos, o que, segundo o juiz, ele faz "quase cotidianamente". "Intolerável, porém, que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas", afirmou o juiz. E continuou: "Mais estranho ainda é que participem desse encontros, a fiar-se nas notícias, políticos e advogados sem procuração". Moro ressaltou que Cardozo não é responsável pelas investigações, não fazendo diferença reunir-se com ele. "Não socorre os acusados e as empreiteiras o fato da autoridade política em questão ser o ministro da Justiça. Apesar da Polícia Federal, estar vinculada ao ministério, o ministro da Justiça não é o responsável pelas ações de investigações".