CONT R A-CORRENTE
A análise da conjuntura econômica na visão e linguagem do sindicalismo classista e dos movimentos sociais
Boletim mensal de conjuntura econômica do ILAESE
Ano 04, N° 51 - 15 de Dezembro de 2014
O financiamento de
campanha nas eleições de
2014
Em um ano eleitoral tão acirrado, devemos pensar sobre o financiamento de
campanha, pois mesmo sendo adversário nas urnas, parecem que na conta
bancária a coisa não é tão diferente assim
por Eric Gil Dantas
E
ste foi mais
um
ano
eleitoral,
agora com uma árdua
disputa para a Presidência
da
República,
com
embates
entre
três
grandes
concorrentes.
Mas uma coisa não
mudou, os financiadores
destas campanhas.
Com o estouro do
escândalo da Petrobras
e a Operação Lava Jato,
mais uma vez ficaram
evidentes as relações
promíscuas
entre
políticos e empresários,
quase
todas
as
empreiteiras envolvidas
nos atos de corrupção
eram financiadoras de
campanha
eleitoral,
doando centenas de
milhões de reais.
Com isto, o Boletim
Contra-Corrente
de
dezembro encerra o
ano de 2014 discutindo
financiamento privado
de campanha e as suas
conseqüências para o
nosso sistema político.
Dividimos
este
boletim em mais duas
partes, com a primeira
expondo dados sobre
doações de campanhas
por parte de diversas
empresas dos principais
setores da economia
e o segundo sobre as
conseqüências disto.
Desejamos a todos
os nossos leitores boas
festas e um ano de 2015
com muitas vitórias para
os trabalhadores.
Ano 04, N° 51 - 15 de Dezembro de 2014
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02
A Bancada dos patrões
70% da Câmara dos Deputados foi financiada pelos dez principais doadores de campanha
M
arx, ainda
no século
X I X ,
disse que “o governo
do Estado moderno
não é se não um comitê
para gerir os negócios
comuns de toda a classe
burguesa”. Isto parece
mais explícito ainda
quando
analisamos
o financiamento das
campanhas
eleitorais
por parte das empresas.
A maior bancada no
Congresso Nacional não
será nem a do PT, nem a
do PMDB e muito menos
a do PSDB, ela será
a dos grandes grupos
econômicos. Para se
ter uma ideia, 360 dos
513 deputados federais
eleitos, 70% do total,
foram financiados pelos
dez maiores doadores de
campanha.
A
JBS,
que
recebe
empréstimos
subsidiados bilionários
do Governo Federal, é
a maior financiadora de
campanha, investindo,
neste ano, 61,2 milhões
de reais para 162
deputados eleitos.
O Grupo Bradesco
também investiu pesado,
com R$20,3 milhões
para 133 deputados
eleitos por 16 partidos,
ficando a frente do
Itaú- Unibanco, maior
banco privado do país,
que contribuiu com a
eleição de 84 deputados
federais.
Já as empreiteiras,
setor
com
forte
dependência do Estado,
são as que figuram entre
as maiores doadoras de
campanha, tendo 50%
das empresas do “top
10”: OAS, Andrade
Gutierrez,
Odebrecht,
UTC
Engenharia
e
Queiroz Galvão.
O Grupo Vale, uma
das maiores empresas
do país, também não
ficou de fora e foi
o grupo econômico
com a terceira maior
bancada na Câmara,
desembolsando R$17,7
milhões.
Mas vejamos um
raio-x das contas de
uma destas empresas,
especificamente: o ItaúUnibanco.
Um caso exemplar
O
Itaú-Unibanco
até o final do segundo
turno
da
campanha
eleitoral investiu R$
26.525.500,00,
tendo
como mediana uma
doação no valor de 50
mil reais por político.
No total foram 199
candidatos,
de
23
partidos (ou seja, ¾
dos partidos) sendo
candidatos a deputado
estadual,
federal,
senador e presidência
da República, em 21
estados mais o Distrito
Federal. Aqui já não
tratamos apenas dos
candidatos eleitos, e sim
do total de candidatos no
pleito.
Este Banco, que
era tido como inimigo
da
candidatura
da
Presidente
Dilma,
acabou por doar a
mesma
quantidade
para ela e para Aécio
Neves, quatro milhões
de reais para cada. Mas,
além de Marina Silva
que recebeu dinheiro
do Itaú, nem o José
Maria Eymael (PSDC)
escapou,
também
recebendo 50 mil reais
para sua campanha.
De fato, eles não
gostam de arriscar e
financiam todos os que
de algum jeito queiram
dar o retorno deste
investimento, seja com
maiores taxas de juros
para os bancos, seja com
financiamentos públicos
para bancar empresas
privadas.
Ano 04, N° 51 - 15 de Dezembro de 2014
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03
Financiamento e “benefícios”
A lista de maiores doadores coincide com a lista das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato
É
d i f í c i l
chamarmos o
ato de financiar
campanhas eleitorais de
“doações”, pois não é algo
unilateral, e sim uma troca, ou
melhor, um “investimento”.
A necessidade do
fim do financiamento
privado para as campanhas
eleitorais está ligada ao fim
dos benefícios dados pelos
governos a estes grupos
econômicos.
Como estamos vendo
agora na mídia, a Operação
Lava Jato é a expressão
trágica
desta
relação
promíscua entre interesses
públicos e privados. Oito
empreiteiras
envolvidas
neste escândalo doaram
R$277,2 milhões de reais
para 28 partidos diferentes,
dos 32 existentes – os únicos
partidos que ficaram de fora
foram os considerados de
extrema esquerda: PSol,
PSTU, PCB e PCO. Dilma
ficou com a maior parcela,
R$ 41,8 milhões, já Aécio
recebeu R$ 2 milhões.
Ambos ainda receberam
doações das empreiteiras por
meio dos partidos: Aécio, R$
15,2 milhões e Dilma, R$
EXPEDIENTE
Fonte: Gazeta do Povo
45,9 milhões.
A
lista
destas
empreiteiras coincide (será
coincidência?), em muito,
com a das maiores doadoras
de campanha, como vimos
na página anterior. Este é
apenas mais um exemplo
dentre inúmeros outros.
Ano passado, foi
publicado mais um estudo
sobre as conseqüências deste
tipo de financiamento de
campanha. Os pesquisadores
Sérgio Lazzarini (Insper),
Aldo Musacchio (Harvard),
Rodrigo Bandeira-de-Melo
(Fundação Getulio Vargas)
e Rosilene Marcon (Univali)
fizeram a correlação entre
os doadores de campanha e
receptores de empréstimos
do BNDES. A pesquisa,
que envolve um dos cofres
mais cobiçados no país pelo
empresariado, conclui que
as empresas que elegem
mais políticos recebem mais
recursos do BNDES. Ou
seja, não os que doam mais,
de forma aleatória, mas os
que elegem mais políticos.
Esta é uma das
evidências que devemos
levar em consideração para
analisarmos de que lado os
governadores estarão nas
próximas disputas entre
trabalhadores e patrões.
Se estes são financiados
pelos que se apropriam do
lucro, por que defender a
quem interessa o salário?
E se quem financia são os
banqueiros que ganham com
o grande superávit primário,
que vai para o pagamento
de juros e rolagem da
“dívida”, por que defender
o servidor público, o qual
representa um maior gasto
público com seus salários
e, consequentemente, a
diminuição do pagamento
destes juros?
Na aparência, esta
democracia se mostra com a
máxima: “um indivíduo, um
voto”, no entanto, quem será
que vale mais, o assalariado
ou o patrão, o dono da
Odebretch – o qual financia
cada um dos principais
deputados, senadores e
governantes – ou o peão de
obra?
Contra-corrente é uma publicação mensal elaborada pelo ILAESE para os sindicatos, oposições sindicais e movimentos sociais.
Coordenação Nacional do ILAESE: Antonio Fernandes Neto, Arthur Gibson, Bernardo Lima, Daniel Kraucher, Daniel Romero, Eric Gil
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