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Análise do Laboratório Bioqualitas, a pedido do DIA, nos produtos vendidos por ambulantes na
areia mostra que o melhor é fazer regime. Sanduíches, saladas de frutas, queijo coalho, mate...
Nada escapa das bactérias
Viviane Barreto
Bonitas e gostosas, elas são. Mas... O que os olhos não vêem, o estômago sente. É assim que as
comidas vendidas por ambulantes nas praias do Rio desfilam nas areias: convidativas, saborosas,
mas muito perigosas. A pedido do DIA, o Laboratório Bioqualitas analisou cinco guloseimas
compradas por banhistas em dias de sol. Os resultados são assustadores. O queijo coalho, o
sanduíche natural, a salada de frutas e a melancia promoveram uma disputa acirrada pelo Troféu
Eca, e nem mesmo o mate vendido em barril escapou. O camarão foi o único a passar no teste.
Diante disso, o jeito mesmo é seguir o conselho do gastroenterologista José Figueiredo Penteado:
“Façam regime nas praias”.
O campeão da péssima qualidade foi um sanduíche natural comprado em Ipanema. A aparência –
por incrível que pareça – era a melhor entre as de todos os produtos coletados. Entretanto, o
consumo dele resultaria – ou já resultou em algumas pessoas – em forte diarréia num período
mínimo de 12 horas. Isso porque técnicos do laboratório encontraram quantidade absurda de
bactéria Clostridium perfringens: 60 mil Unidades Formadoras de Colônias (UFCs) por grama,
quando o aceitável pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são apenas mil UFCs
por grama.
Grande quantidade de coliformes em sanduíche
Além das bactérias patogênicas – que causam mal à saúde – encontradas nos sanduíches, as análises
mostraram que o ingrediente predominante nesse produto não é nada apetitoso: coliformes fecais.
“O máximo aceitável pela Anvisa é de 100 UFCs de coliformes por grama. Encontramos mais de
2.400. Isso significa que os sanduíches estavam impróprios ao consumo”, explica a farmacêutica e
microbiologista Brigitte Bertin, do Bioqualitas.
O segundo lugar foi ocupado por um produto muito consumido: queijo coalho. Apesar de ir ao fogo,
a amostra comprada na Praia da Barra tinha 200 mil UFCs de Staphylococcus aureus – índice 400
vezes maior do que o aceitável pela Anvisa. A bactéria pode causar vômito, náusea, diarréia e dores
abdominal, de cabeça e muscular. “O ideal seria assar o queijo em temperatura de 65 graus por 15
minutos”, diz Brigitte.
Frutas não estão livres de contaminação
Se você pensa em migrar para as frutas para aliviar a fome sob o sol, é melhor mudar logo de idéia.
Tanto a melancia quanto a salada de frutas apresentaram problemas. Coletada na Barra, a salada
tinha 10 vezes mais coliformes fecais por grama do que o tolerado pela Anvisa. Sem falar nos 30
mil Staphylococcus aureus a mais do que o aceitável. Nesse caso, em vez de frutas, será que você
não comprou uma salada de bactérias? No mate, o número de coliformes totais também superou os
2.400. Evite matar a sede com ele.
Já a “ovelha negra da família” surpreendeu. O camarão – rejeitado por muitos banhistas – foi o
único a passar no teste. A quantidade de bactérias patogênicas estava no padrão. Mas a alegria dura
pouco para os ambulantes que vendem o crustáceo. As bactérias mesófilas – que medem o grau de
higiene – ultrapassaram o aceitável: na amostra de Copacabana, foram achados 3,3 milhões, quando
o tolerável são 300 mil. “Caso o camarão fosse consumido uma hora após a coleta, ele ofereceria
risco à saúde”, afirma Brigitte. É... As comidas são bonitinhas, mas ordinárias.
ONDE ESTÁ O PERIGO
QUEIJO COALHO
Muito apreciado pelos banhistas, o produto tem que ser submetido a uma temperatura de pelo
menos 65 graus por 15 minutos para eliminar as bactérias
SALADA DE FRUTAS
Engana-se quem pensa que a iguaria está livre da contaminação. Foram achados 30 mil
Staphylococcus aureus a mais que o recomendado. A bactéria causa vômito, diarréia, náusea e
dores abdominais, musculares e de cabeça
MELANCIA
O número de coliformes fecais encontrado ultrapassou o aceitável pela Anvisa: 150 – 50 a mais. O
grau de higiene também foi precário: 10 mil bactérias mesófilas
COLETA DE MATE
A presença de bactérias do Grupo Coliforme inutiliza o consumo da bebida. As 2,2 milhões de
mesófilas indicam más condições no manuseio
Como foi feita a pesquisa
Análises com tubos de ensaio, constatou-se a presença de coliformes fecais e de Clostridium
perfringens
As amostras foram coletadas em sacos esterilizados e transportadas em caixa térmica com gelo
reciclável para manter a temperatura baixa. No laboratório, foram dispostos 10 gramas de cada
alimento para 90 ml de água peptonada. Essa mistura (chamada de Solução Mãe 10 elevado a 1) é
colocada em outro saco esterilizado para, então, entrar no stomacher (máquina que simula a
digestão). Em seguida, coloca-se a mistura nos meios de cultura seletivos para a multiplicação de
cada bactéria. Após semear de 24 a 48 horas nos supostos meios de cultura, são realizadas provas
bioquímicas para a confirmação das respectivas bactérias.
Incentivo à ilegalidade
Diretor do Departamento de Controle Urbano da Secretaria Municipal de Governo – responsável
pela fiscalização nas praias –, Lúcio Costa diz que de nada adianta fazer repressão se os banhistas
continuam comprando os produtos das mãos dos ambulantes. “Com isso, cria-se mercado. É igual a
tóxico: só é consumido porque há quem compre. É preciso que a população ajude também”, diz
Lúcio, frisando que há fiscalização toda semana. “Quinta-feira, apreendemos 16 churrasqueiras
usadas por ambulantes para fazer queijo coalho, cuja venda é proibida, assim como o camarão e a
salada de fruta”, ressalta o diretor.
A atuação é feita em parceria com a Vigilância Sanitária Municipal. Superintendente do órgão,
Fernando Villas Boas avisa que, além de multa – que varia de R$ 300 a R$ 2 mil –, o ambulante
que for pego vendendo produtos irregulares está sujeito a infrações do Código de Defesa do
Consumidor e pode responder por crime contra a saúde pública.
Os perigos do camarão
Coletada na Praia de Copacabana, a amostra passou no teste da análise do Laboratório
Bioqualitas. A presença de bactérias patogênicas estava dentro dos padrões da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. No entanto, grande número de bactérias mesófilas foi
encontrado, o que significa falta de cuidado com a higiene. Especialistas recomendam que
banhistas evitem consumir camarão na praia – o alimento é altamente perecível e tem nível
elevado de toxidade. Em alguns casos, a pessoa pode enfrentar até uma internação
Para o nutricionista Leonardo Haus, o fato de o camarão não ter apresentado problemas foi uma
questão de sorte. “Essa comida é altamente perecível, além de ter elevado nível de toxidade. Pode
promover até uma internação. Provavelmente, a coleta foi feita logo após o preparo. Não aconselho
ninguém a comê-lo”, diz Haus. O gastroenterologista José Figueiredo Penteado faz um alerta:
“Pensem muito antes de consumir qualquer coisa na praia. As conseqüências podem ser sérias”.
Gerente de alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Cléber Ferreira afirma que
nenhum dos parâmetros estipulados pelo órgão poderia ser ultrapassado. “Caso contrário, os
alimentos oferecem risco à saúde”, explica. Luana de Assis, bióloga do Bioqualitas, acredita que a
maioria dos problemas se dá pela falta de informação de quem prepara a comida: “Os ambulantes
não vão à rua vender mercadoria estragada de propósito. Muitas vezes, as pessoas pensam que estão
usando as técnicas adequadas. Mas acabam fazendo errado sem querer”.
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Análise do Laboratório Bioqualitas, a pedido do DIA, nos produtos