RESPOSTA DE CINCO CULTIVARES DE SOJA AO EXCESSO HÍDRICO EM UM GLEISSOLO Hendz, M. J.¹; Giordano, C.P.3; Junior, D.F.U.²; Zanon, A.J.²; Vian, A.L.3; Almeida, D.3; Turra, M.A.³; Silva, J.A.1; Bredemeier, C.4 Palavras-chave: rotação de culturas, solos hidromórficos, rendimento de grãos. INTRODUÇÃO O cultivo de soja em rotação com a cultura de arroz irrigado vem crescendo significativamente em solos de terras baixas, os quais representam 20% da área cultivada do estado do Rio Grande do Sul. Os solos são de característica hidromórfica, sujeitos a saturação por água e alagamentos periódicos, apresentando deficiência na drenagem natural, proporcionado pelo relevo plano, associado a um perfil de camada superficial pouco profundo (PINTO et al., 1999). A rotação de culturas com a soja nessas áreas promove a redução dos níveis de infestação por plantas daninhas, incremento no teor de matéria orgânica e incorporação de nitrogênio ao sistema (CORREIA et al., 2013). Uma alternativa de estimar o estado nutricional da planta em relação ao nitrogênio e o potencial produtivo in-situ é a utilização de novas técnicas de monitoramento na fase inicial de desenvolvimento das plantas por meio de sensores ópticos ativos de vegetação. Neste cenário, o presente trabalho objetivou estudar a resposta de cinco cultivares de soja ao excesso hídrico em solo característico de terras baixas do estado do Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS O experimento a campo foi realizado na safra 2014/2015, na Estação Experimental do Arroz (EEA) do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), em Cachoeirinha (RS), em solo classificado como Gleissolo háplico distrófico típico (STRECK et al., 2008). Foram utilizadas cinco cultivares de soja, sendo TEC IRGA 6070 RR e TEC 5936 IPRO (consideradas mais tolerantes ao excesso hídrico), e DON MARIO 5.8i RR, NA 5959 IPRO e NA 5909 (consideradas mais sensíveis ao excesso hídrico), as quais foram submetidas a condição de inundação do solo por quatro dias. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada unidade experimental foi composta por área de 20 m2, constituída por quatro linhas de 5 m de comprimento, espaçadas em 0,5 m. O alagamento, com lâmina de água de aproximadamente 10 cm, ocorreu quando as plantas estavam entre os estádios de desenvolvimento V6 – V9. A semeadura foi realizada em 20/11/2014, na densidade de 30 sementes aptas m-2. O rendimento de grãos foi obtido através da colheita de área de 3 m², o que corresponde às duas linhas centrais de cada parcela, descontando-se as duas linhas laterais das bordaduras. Após a trilha, foi determinado o peso de grãos por unidade experimental e extrapolado para rendimento de grãos (em kg ha-1), na umidade de 13%. Os componentes de rendimento analisados foram peso do grão, número de legumes planta-1 e número de grãos legume-1. A determinação do peso do grão foi realizada através da pesagem de três amostras de 50 grãos. O número de legumes planta -1 foi obtido pela contagem de legumes em amostra composta por 10 plantas de cada parcela. O número de grãos legume-1 foi determinado pela divisão do número de grãos pelo número de legumes das 10 plantas coletadas. Para proceder as leituras de reflectância (Índice de vegetação por diferença normalizada - NDVI) na área utilizou-se equipamento GreenSeeker, posicionado sobre as duas linhas centrais de cada parcela. As leituras foram realizadas entre os dias 05/01/2015 (um dia antes da inundação do solo) e 04/02/2015 (25 dias após a drenagem). 1 Acadêmico da Faculdade de Agronomia, UFRGS, Porto Alegre/RS, [email protected] Eng. Agr., Pesquisador do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), Cachoerinha-RS. Eng. Agr., Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, UFRGS - Porto Alegre/RS. 4 Prof. Adjunto, Departamento de Plantas de Lavoura, UFRGS, Porto Alegre/RS. [email protected] 2 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O rendimento de grãos nas cinco cultivares de soja submetidas à condição de excesso hídrico apresentou diferença estatística entre as cultivares (Figura 1). A cv. NA 5959 reduziu o rendimento de grãos significativamente se comparada as demais cultivares, sendo, neste estudo a cv. menos produtiva. Entretanto, entre as demais cultivares não houve diferença no rendimento de grãos em função do excesso hídrico. 4500 Rendimento de grãos (kg ha-1) 4000 a a a 3500 a 3000 2500 b 2000 1500 1000 500 0 TEC IRGA 6070 RR TEC 5936 IPRO DM 5.8i RR NA 5959 IPRO NA 5909 Cultivares Figura 1. Rendimento de grãos de cinco cultivares de soja submetidas ao excesso hídrico. Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Duncan, ao nível de 1% de probabilidade. Cachoeirinha, RS, 2014/2015. O baixo rendimento de grãos da cv. NA 5959 pode ser explicado pelo menor peso do grão e o menor número de legumes planta-1, sendo este o componente de rendimento mais afetado em função da inundação do solo (Tabela 1). A cv. TEC IRGA 6070 apresentou menor peso de grão, com 134,4 mg, sendo, entretanto, compensado pelo maior número de legumes planta -1. Já na cv. TEC 5936 o peso do grão foi de 190,6 mg, compensando o baixo número de legumes planta-1. O peso do grão, mesmo sendo uma característica fortemente determinada pelo genótipo, pode apresentar variações em função do ambiente (THOMAS & COSTA, 2010). Para o componente número de grãos legume-1, não houve diferença estatística entre as cultivares em função da condição de inundação do solo. A leitura do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) se mostrou como ferramenta promissora para avaliar resposta das cultivares ao excesso hídrico. As leituras realizadas 17 dias após retirada da água da área foram capazes de detectar diferença entre as cultivares (Figura 2). A cv. NA 5959 apresentou menor NDVI se comparada as demais cultivares o que refletiu em menor rendimento de grãos. Já a cv. Don Mario apesar de apresentar NDVI intermediário entre as cultivares, isto não se refletiu em diferença de rendimento. Tabela 1. Componentes de rendimento de cinco cultivares de soja submetidas ao excesso hídrico. Cachoeirinha, RS, 2014/2015. Legumes planta-1 Peso do grão Grãos legume-1 Cultivar (mg) (nº) TEC IRGA 6070 RR 134,4 c1 98,8 a 2,19 ns TEC 5936 IPRO 190,6 a 34,2 b 2,34 DM 5.8i RR 161,3 b 28,6 b 2,12 NA 5959 IPRO 171,1 b 20,1 b 2,26 NA 5909 163,1 b 37,3 b 2,19 5,0 35,4 4,7 2 CV (%) (nº) 1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade. 2 Coeficiente de variação. ns: não significativo (p>0,05). 0,90 TEC IRGA TEC 5936 Don Mario 5.8i NA 5959 NA 5909 0,85 Final do alagamento 0,80 0,75 a ns NDVI ab 0,70 b 0,65 c 0,60 0,55 0,50 -1 0 3 4 7 14 17 29 Dias após o início alagamento Figura 2. Variação do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) antes do alagamento (05/01/2015) e 29 dias após início do alagamento (04/02/2015). Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Duncan, ao nível de 1% de probabilidade. ns: não significativo (p>0,05). Cachoeirinha, RS, 2014/2015. CONCLUSÃO Neste estudo, a cv. NA 5959 apresentou maior sensibilidade ao excesso hídrico se comparada às demais cultivares. A utilização do sensor óptico de vegetação (NDVI) se mostrou como ferramenta promissora para identificar estresse nas plantas submetidas ao excesso hídrico no solo de maneira rápida e não destrutiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORREIA, S. L. et al. Estratégias de manejo da palha de azevém para cultivo do arroz irrigado em sucessão. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 37, n. 2, p. 512520, 2013. PINTO, L.F.S. et al. Caracterização de solos de várzea. In: GOMES, A.S.; PAULETTO, E.A. (Eds). Manejo do solo e da água em áreas de várzea. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 1999. Cap.1, p.11-36 STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EMATER RS, 2008. 222p. THOMAS, A. L., COSTA, J. A. Soja: manejo para alta produtividade de grãos. Porto Alegre: Evangraf, 2010. 248 p.