LEIDIANE MORAES GARCIA CARACTERIZAÇÃO DO SEDIMENTO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA APA GAMA E CABEÇA DE VEADO, DISTRITO FEDERAL. Artigo apresentado ao curso de graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção de Título de Bacharel em Engenharia Ambiental. Orientadora: Profª. Drª. Luciana de Mendonça Galvão Brasília 2013 Artigo de autoria de Leidiane Moraes Garcia, intitulado CARACTERIZAÇÃO DO SEDIMENTO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA APA GAMA E CABEÇA DE VEADO, DISTRITO FEDERAL, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, em 28 de novembro de 2013, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: __________________________________________________ Prof(a). Drª. Luciana de Mendonça Galvão Orientadora Curso de Ciências Biológicas – UCB __________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Gonçalves Resende Examinador Curso de Geologia , UNB Brasília 2013 AGRADECIMENTOS A minha orientadora, Profa. Dra. Luciana de Mendonça Galvão, excelente pesquisadora, sempre entusiasmada e disposta ajudar, pela valorosa orientação. À toda equipe dos laboratórios do curso de Ciências Biológicas da Universidade Católica de Brasília; sem a ajuda de vocês não teria sido possível realizar este trabalho. À toda equipe dos laboratórios do curso de Química da Universidade Católica de Brasília; sem a ajuda de vocês não teria sido possível realizar este trabalho. Ao queridíssimo técnico do Laboratório de Ecologia, e um grande amigo Deidson Freire França Monteiro, que me acompanhou e ajudou em todos os meus momentos de necessidades. Ao Solon, por ter se disposto do seu tempo em me ajudar com as análises em laboratório. Ao meu noivo Igor Fabrício Ribeiro, pela sua paciência e compreensão. Aos meus pais e à minha família, pelo apoio incondicional. Com certeza esta caminhada não foi tranqüila e nem agradável, pois tive que ultrapassar barreiras entre o meu psicológico e o meu físico, cai várias vezes pensando em desistir. Achei que não ia conseguir chegar até aqui. Então agradeço a mim mesma por ter vencido o meu maior inimigo, EU! SUMÁRIO RESUMO: ................................................................................................................................. 5 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 8 2.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................ 8 2.2 COLETA DE AMOSTRAS ........................................................................................... 13 2.2.1 Granulometria ......................................................................................................... 14 2.2.2 Matéria orgânica ..................................................................................................... 14 2.2.3 Nutrientes totais ...................................................................................................... 14 2.2.4 Análises Estatísticas ................................................................................................ 17 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 17 3.1 GRANULOMETRIA ..................................................................................................... 17 3.2 MATÉRIA ORGÂNICA ................................................................................................ 20 3.2.1 Análise espacial do teor de matéria orgânica (M.O) ................................................ 20 3.2.2 Análise temporal do teor de matéria orgânica (M.O) .............................................. 22 3.3 NUTRIENTES ................................................................................................................ 23 3.3.1 Análise espacial dos nutrientes (NT e PT) ............................................................... 23 3.3.2 Análise temporal dos nutrientes (NT e PT) ............................................................. 26 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................... 28 ABSTRACT: ........................................................................................................................... 29 5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 30 5 CARACTERIZAÇÃO DO SEDIMENTO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA APA GAMA E CABEÇA DE VEADO, DISTRITO FEDERAL. LEIDIANE MORAES GARCIA RESUMO: Os sedimentos aquáticos fornecem informação sobre o status de conservação de ecossistemas e constituem substrato para os organismos bioindicadores, como macroinvertebrados bentônicos. Análises dos sedimentos ajudam a fazer uma avaliação da intensidade e das formas de impactos a que os ecossistemas aquáticos estão ou estiveram submetidos. O objetivo deste trabalho foi caracterizar os sedimentos de sistemas lóticos e lênticos da Bacia do Paranoá, APA Gama Cabeça de Veado, Distrito Federal, nos períodos de seca e de chuva de 2010, 2011 e 2012. Foram analisadas amostras de sedimentos de 15 estações em relação às frações granulométricas, concentrações de matéria orgânica e nutrientes (fósforo total e nitrogênio total). As frações granulométricas com maior percentual de contribuição foram areia média e pedregulho fino. Contudo, em períodos de chuva, foi detectada deposição de sedimentos, como no Córrego Gama 1 que recebeu entrada de 48% de argila, o que pode ter relação com a ausência de mata de galeria nesse trecho. Em alguns pontos, houve modificação da contribuição das diferentes frações granulométricas ao longo do período de estudo. Sedimentos orgânicos foram encontrados predominantemente nos sistemas lênticos, mas também ocorreram em sistemas lóticos, como os Córregos Cabeça-deVeado, Taquara, Monjolo, Pitoco e Roncador, com variações sazonais. Os sistemas lênticos provavelmente apresentaram sedimentos orgânicos em função da grande colonização por macrófitas aquáticas. Já nos sistemas lóticos, a composição orgânica deve ter influência do aporte de serapilheira e solos orgânicos das matas de galeria. As concentrações de fósforo total e nitrogênio total foram baixas, o que pode ter relação com o estado de conservação geral da bacia, sobretudo em função das matas de galeria, que são sistemas com grande capacidade de retenção dos nutrientes. Apesar da remoção das matas de galeria no Córrego do Gama e atividade agrícola nessa área, o sistema parece resiliente em relação a essa perturbação, não mostrando alterações expressivas em relação aos nutrientes. Os ecossistemas aquáticos da APA podem ser consideradas áreas de referência para características de sedimentos aquáticos de sistemas lóticos até 3ª ordem e pequenas lagoas rasas para o DF, em função do elevado estado de preservação da manutenção das características naturais. Palavras-chave: granulometria, nitrogênio total, fósforo total, matéria orgânica, sistemas lóticos, sistemas lênticos. 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) do Distrito Federal (DF) vêm sofrendo constantes impactos, principalmente por meio de remoção das matas de galeria ou por entrada de carga poluidora nos recursos hídricos, justamente causados pelo adensamento urbano ou agrícola no entorno ou mesmo dentro dessas áreas. Na APA do São Bartolomeu, por exemplo, Roig et al., (2009) mostraram que as atividades antrópicas em áreas de proteção permanente (APPs) corresponderam a 22,80% da área, o que significa que quase um quarto das áreas consideradas como de preservação permanente sofreram ações que 6 afetam diretamente sua estabilidade ecológica, como perda da cobertura original do solo, atividade agrícola e ocupação urbana ou exposição do solo. De modo geral, as unidades de conservação do DF (UCs) vêm se tornando ilhas limitadas em seu fluxo, ficando sujeitas a efeito de borda, que promove a introdução de nutrientes e contaminantes por meio difuso, podendo gerar alterações nas características físicas e nas concentrações naturais dos elementos químicos do sedimento aquático de córregos e pequenas lagoas. Por exemplo, Franz et al., (2012) avaliaram as planícies aluviais do Ribeirão do Torto, DF, que são áreas de proteção permanente (APPs), e destacaram que na década de 1950, o Ribeirão tinha um regime de sedimentos naturais, mas, a partir da década de 1960, esses sedimentos ficaram fortemente influenciados pela ação antrópica, tendo suas características naturais alteradas. A APA Gama e Cabeça de Veado foi criada há 27 anos pelo decreto de número 9.417/86. Possui uma área total de 23.650 hectares e está localizada no centro sul do Distrito Federal. Esta área tem a finalidade de garantir a integridade ecológica dos ecossistemas terrestres e aquáticos no intuito de preservar os mananciais de primeira e segunda ordem que integram a bacia do Paranoá. Dentro desta APA estão presentes as Estações Ecológicas do Córrego da Onça, Estação Ecológica Fazenda Água Limpa (EEFAL), a Reserva Ecológica do IBGE (RECOR IBGE) e Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília (EE-JBB) que formam o cinturão verde em meio à malha urbana do Plano Piloto (UNESCO, 2003). A integridade ecológica dos ecossistemas pode ser avaliada por um conjunto de métricas diversificadas. No caso de ecossistemas aquáticos, as análises das variáveis físicas e químicas da água, bem como de alguns grupos de organismos (bioindicadores) são ferramentas comumente empregadas (CALLISTO et al., 2001). Um compartimento, menos investigado, mas de grande importância para a avaliação da integridade é o sedimento de fundo de ecossistemas aquáticos. O sedimento de fundo é um compartimento onde se depositam todos os compostos orgânicos como estruturas de animais e vegetais, que não foram totalmente decompostos, e também os compostos inorgânicos, como fragmentos de rochas. Os sedimentos dos ecossistemas aquáticos continentais são formados por uma grande variedade de materiais orgânicos e inorgânicos de origem autóctone e alóctone. Licht (1998, citado por MOREIRA; BOAVENTURA, 2003) descreve o sedimento de fundo como sendo aquele material não consolidado, distribuído ao longo dos vales do sistema de drenagem e orientado a partir da interação constante e contínua dos processos de intemperismo e erosão. Esses processos, por sua vez, atuam sobre os diversos tipos de rocha e/ou seus produtos de intemperização in situ, localizados na bacia de drenagem. Como o sedimento de fundo representa o principal compartimento de acumulação, reprocessamento e transferência dos elementos, a partir da análise de suas características físicas e químicas é possível fazer uma avaliação da intensidade e das formas de impactos a que os ecossistemas aquáticos estão ou estiveram submetidos (ESTEVES, 1998) ou o nível de integridade. A composição granulométrica do sedimento de um ecossistema aquático é um fator importante na determinação dos padrões de distribuição da biota aquática, matéria orgânica e elementos químicos, como nutrientes. Além disso, a estrutura física dos grãos pode se correlacionar com a quantidade de compostos químicos no sedimento (SOLOMONS, FOSTNER, 1986; BAISCH, 1993). Por exemplo, os sedimentos de frações granulométricas menores têm uma maior capacidade de retenção de matéria orgânica, nutrientes e possíveis contaminantes no corpo hídrico. Por isso, as frações mais finas de sedimento são particularmente úteis para se estimar o grau de contaminação e distinguir fontes naturais das antrópicas. 7 Além da composição granulométrica, as análises químicas dos sedimentos aquáticos podem indicar as concentrações naturais ou antrópicas de certos elementos. No DF, Moreira e Boaventura (2003) conduziram um estudo na Bacia do Lago Paranoá exatamente para avaliar as concentrações de diferentes elementos químicos e estabelecer uma referência geoquímica para sedimentos dessa bacia. Está bem estabelecido que, quando os compostos acumulados no sedimento são nutrientes, como fósforo ou nitrogênio, estes têm a capacidade de fornecer indicação do estado trófico do sistema, ou seja, é possível determinar, ao longo da seção transversal do curso d’água, os resultados de uso inadequado do solo por atividade agrícola e outras atividades antrópicas numa seção perimetral próxima ao ambiente aquático. Por exemplo, as concentrações de nitrogênio total e fósforo total exibem uma clara relação com uso da terra. Os rios que drenam áreas agrícolas apresentam concentrações mais elevadas de nutrientes, devido os resíduos gerados por fertilizantes e os agrotóxicos, podem ter sua entrada no corpo hídrico na forma direta (escoamento superficial através da chuva) e indireta (pelo ar pelo processo de pulverização). Já em áreas florestadas o sistema de drenagem apresenta baixas concentrações naturais de nutrientes (FERNANDES, 2007) no Cerrado. No estudo de Moreira e Boaventura (2003), os autores obtiveram concentrações mais elevadas de P na forma de P associado à matéria orgânica do sedimento em um ponto do Lago Paranoá sob a influência do lançamento de efluentes da Estação de Tratamento de Esgotos Sul. Os autores salientaram também que as áreas previamente escolhidas como “referência geoquímica” (entre elas, o Córrego Cabeça de Veado) foram adequadas e realmente apresentaram um padrão “controle” com baixo ou nenhum impacto em termos de contaminação. Na atualidade, encontrar sistemas de referência de integridade ecológica é cada vez mais raro, sobretudo em função da rápida conversão das áreas naturais. Segundo Fernandes (2007), uma condição de referência define e quantifica ecossistemas saudáveis, ou seja, aqueles que apresentam pouca ou nenhuma influência de impacto antropogênico. A condição de referência é estabelecida pela amostragem de um número de locais minimamente expostos a estressores humanos, o que se espera que ocorra em UCs do Cerrado, tais como a APA Gama Cabeça de Veado, no DF. Em função da alta fragilidade da biota e o meio natural do Cerrado, a existência de uma rede de UCs pode proteger efetivamente os ecossistemas aquáticos e manter um alto nível de integridade ecológica local, impedindo ou reduzindo os efeitos do impacto antropogênico (RIBEIRO, 2007; AQUINO, 2009; FURLEY 2006, 1999; FELFILI, 2004). Contudo, apesar de possuir todo um manejo sustentável descrito por lei, a APA Gama Cabeça-de-Veado apresenta duas peculiaridades: a pressão demográfica na circunscrição da APA (na margem à esquerda do Ribeirão do Gama encontra-se o setor de Mansões Park Way e o setor de Mansões Urbanas Dom Bosco) e a pressão agrícola (Núcleo Hortícola Vargem Bonita ao longo do Ribeirão Gama, e o Núcleo Rural Córrego da Onça acima da nascente do Córrego da Onça). Além da pressão no presente, até a década de 1950, algumas áreas da APA tiveram uso agrícola ou para pecuária, fazendas desapropriadas a partir desse período para criação das unidades de conservação. A caracterização de sedimentos de fundo é, portanto, uma etapa importante para definição do real estado de integridade (ou de impacto) nos ecossistemas aquáticos da APA. No DF, estudos nessa linha ainda são incipientes, resumindo-se aos trabalhos de Moreira e Boaventura (2003), Fernandes (2007), Cardoso (2011) e Franz et al. (2013), basicamente. Em função desse contexto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar os sedimentos de fundo dos ecossistemas aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, quanto às concentrações de matéria orgânica e nutrientes, e composição granulométrica, nos períodos de seca e de chuva. 8 A caracterização e análise dos sedimentos de ecossistemas aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, apresenta-se como trabalho inédito, que objetiva gerar um banco de dados de suporte para outras pesquisas e para compor um índice de integridade dos ecossistemas aquáticos da APA. Este trabalho apresenta dados primários em relação ao sedimento aquático de um conjunto de sistemas lóticos e lênticos, em uma escala temporal sazonal, como uma contribuição nova. Este é um subprojeto vinculado ao Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), que propõe estudos ecológicos contínuos em áreas de preservação no Brasil e, especialmente no DF, na APA Gama e Cabeça de Veado. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 ÁREA DE ESTUDO Este estudo foi realizado na APA Gama e Cabeça de Veado, DF, localizando-se na região sudoeste do DF. Segundo a Unesco (2003), é a unidade de conservação do DF com maior número de áreas de preservação ou proteção em sua área de abrangência, mesclando áreas urbanas e rurais (MIRANDA, 2012). A APA foi criada com objetivo de proteção das cabeceiras dos cursos d’água que integram a bacia do Paranoá, sendo uma das zonas-núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado do DF. Fazem parte desta Reserva unidades de conservação e experimentação como a Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília (EE-JBB, que possui 5.000 hectares), Reserva Ecológica do IBGE (RECOR-IBGE, com área de 1.360 ha) e a Estação Ecológica Fazenda Água Limpa (EE-FAL, com 4.500 ha), que por sua vez formam unidades de conservação com graus variados de proteção (HENRIQUES et al, 1999). Essas unidades estão inseridas em uma geomorfologia de chapadas, constituída de áreas planas e suavemente ondulada, que correspondem à porção sul e sudoeste da APA. E, também, na área de depressão do Paranoá, representando regiões inclinadas e fracamente dissecadas, que partem da base das chapadas em direção aos vales dos cursos d’água. As drenagens se apresentam numa topografia que varia de 5 a 20% de declividade (UNESCO, 2003). Os solos predominantes nas zonas ripárias dos ecossistemas aquáticos são hidromórficos, estacionalmente inundáveis, como Gleissolos Háplicos, Cambissolos, Litossolos e até Latossolos. Portanto, os solos das matas de galeria apresentam condições favoráveis ao desenvolvimento de vegetação florestal, devido à umidade constante pela proximidade do lençol freático, ao longo do fundo dos vales, e ao elevado teor de matéria orgânica proveniente da ciclagem de nutrientes da própria mata (UNESCO, 2003). O clima que predomina é o típico tropical de Savana (CWA), segundo a classificação do Köppen, com períodos de seca, de maio a setembro, e os períodos de chuva, de outubro a abril. Em termos de totais anuais, a precipitação média interanual, no Distrito Federal, varia entre 1.200 mm e 1.700 mm, e com temperatura média anual variando entre 18º a 22ºC. Foram selecionadas 15 estações amostrais ao longo da APA, incluindo nascentes de córregos e lagoas (conforme indicado na Figura 1 e nas Tabelas 1 e 2). Os sistemas lóticos estudados são de baixa ordem (1ª a 3ª), nascentes de pequena profundidade e largura, margeados por mata de galeria, em geral. Os lênticos são rasos e de pequeno porte, lagoas alimentadas por lençol freático. 9 Figura 1 - Área de Proteção Ambiental Gama e Cabeça de Veado, DF, com detalhamento da localização da Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília, Reserva Ecológica IBGE, Estação Ecológica Fazenda Água Limpa e Estação Ecológica Córrego da Onça. 10 Tabela 1 - Sistemas lóticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, amostrados, incluindo algumas características e a classificação segundo o protocolo de avaliação rápida de habitats de Callisto et al., 2002. Fonte: Projeto PELD. Área Pontos de coleta Código Largura (m) Profundidade (m) Coordenadas Classificação FAL Córrego da Onça On 2,3 0,5 15°57'18,0"S 47°57''45,4"W Natural FAL Córrego Capetinga Cp 2,3 0,3 15°57'40,1" S 47°56''36,5" W Natural FAL Córrego Taquara Ta 0,4 0,1 15°57'15,2" S 47°53'43,8" W Natural JBB Córrego Cabeça de Veado (Ponto 1) V1 1,3 0,6 15°53'51,4"S 47°50'16,1"W Natural JBB Córrego Cabeça de Veado (Ponto 2) V2 1 0,5 15°53'43,3"S 47°50'41,8"W Natural JBB Córrego Cabeça de Veado (Ponto 3) V3 1,4 0,3 15°53'18,9"S 47°50'52,0"W Natural JBB Córrego Cabeça de Veado (Ponto 4) V4 2,4 0,4 15°53'20,4"S 47°50'33,6"W Natural IBGE Córrego Pitoco Pi 0,76 0,3 15°55'47,3" S 47°52'37,2" W Natural IBGE Córrego Monjolo Mo 1,75 0,22 15°55'47,5" S 47°52'55,9" W Natural IBGE Córrego Roncador Ro 1 1,1 15°56'12,95" S 47°53'12,1" W Natural APM Córrego Catetinho Ct 2,5 0,25 15°57'06,7" S 47°58'54,7" W Natural * Ribeirão do Gama (Ponto 1) G1 7 0,7 15°55'37,6" S 47°55'48,6" W Alterado * Ribeirão do Gama (Ponto 2) G2 7 0,6 15°53'08,7" S 47°54'21,3" W Alterado * Pontos amostrais coletados fora das Unidade de Conservação (UC's) . Tabela 2 - Estações amostrais dos sistemas lênticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, incluindo algumas características e a classificação segundo o protocolo de avaliação rápida de habitats de Callisto et al., 2002. Fonte: Projeto PELD. Área Pontos de coleta Código Largura Profundidade (m) (m) Coordenadas Classificação FAL Lagoa do Lourival Llo - 2 15°58'13,30"S 47°55'59,80"W Natural IBGE Lagoa do Roncador Lro - 2 15°56'48,6"S 47°52'04,9"W Natural A unidade hidrográfica do Ribeirão do Gama possui uma extensão de aproximadamente 14 km, da sua nascente no Córrego do Catetinho (Ct) até sua foz no Lago Paranoá, conforme ilustrado na Figura 1. Nesse sistema foram definidas três estações amostrais: o primeiro ponto foi o Córrego Catetinho (Ct), que fica dentro da área de proteção de mananciais (APM), monitorada pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB). O segundo ponto foi o Ribeirão do Gama ponto 1 (G1), cuja margem esquerda está predominantemente ocupada com a produção agrícola (hortaliças), no trecho que corta o Núcleo Rural Vargem Bonita. Nessa região, ocorreu um intenso desmatamento gerando diversas atividades erosivas nas margens. O último ponto foi o Ribeirão do Gama ponto 2 (G2), margeado à esquerda por uma área parcialmente urbanizada do Park Way, com predomínio de pequenas chácaras, e, um pouco mais ao norte, encontra-se a área do Aeroporto Internacional de Brasília. Na margem desta estação amostral encontraram-se algumas manchas de mata de galeria, em diferentes estados de preservação. A Figura 2 ilustra aspectos de cada estação amostral. 11 Figura 2 - Seção Principal do Ribeirão do Gama, DF. a) Córrego Catetinho; b) Ribeirão do Gama ponto 1; c) e Ribeirão do Gama ponto 2.Fonte: Projeto PELD a) b) c) A Estação Ecológica Fazenda Água Limpa (EE-FAL) é uma estação experimental da Universidade de Brasília - UNB com cerca de 1.200 hectares destinados a experimentos e produção agro-florestal, 2.340 hectares de preservação e o restante da área, cerca de 950 hectares, tem um bom estado de conservação. Nesta unidade foram selecionados como estações amostrais os córregos Taquara (Ta), Capetinga (Cp) e Onça (On), ambientes lóticos de 1ª a 3ª ordem. Também foi selecionada a Lagoa do Lourival (Llo) um sistema lêntico de pequenas dimensões e baixa profundidade, represado, abastecido por lençol freático, conforme ilustrado na Figura 3c. O Córrego Taquara (Ta) é um sistema que limita a RECOR-IBGE e EE-FAL; é margeado por mata de galeria preservada, mas sofreu um intenso incêndio em setembro de 2011, que destruiu quase 100% da mata em vários trechos. Trata-se de um sistema estreito (< 1m), bem encaixado. O Córrego Capetinga (Cp) é margeado por mata de galeria preservada com cerca de 18m de largura ou mais, em alguns trechos. O Córrego da Onça (On) apresenta uma mata de galeria preservada em todo o seu trecho perimetral, aduzindo uma peculiaridade em sua profundidade, com variação irregular de 0,5 m a 2,3 m; a nascente do Córrego localiza-se próximo ao Núcleo Rural Córrego da Onça (Tabela 2), onde a vegetação ripária foi removida. Figura 3 – Corpos hídricos na Fazenda Água Limpa (FAL), DF; a) Córrego da Onça; b) Córrego Capetinga; c) Lagoa do Lourival; d) e Córrego Taquara. Fonte: Projeto PELD a) b) c) d) A Reserva Ecológica do IBGE (RECOR-IBGE) é uma unidade de conservação permanente, criada pela presidência do IBGE em 1975. Foram monitorados os sistemas Monjolo (Mo), Pitoco (Pi) e Roncador (Ro), todos ambientes lóticos de 1ª e 2ª ordem e têm 12 suas nascentes dentro da RECOR (ver Tabela 2). Além disso, foi monitorado um sistema lêntico de formação natural, a Lagoa do Roncador (Lro), com uma profundidade de aproximadamente 2 m, (Tabela 1), alimentada por lençol freático, conforme ilustrado na Figura 4. Figura 4 – Corpos hídricos na Reserva Ecológica do IBGE, DF; a) Córrego Monjolo; b) Córrego Roncador; c) Córrego Pitoco; d) e Lagoa do Roncador. Fonte: Projeto PELD. a) b) c) d) A Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília (EEJBB) foi destinada para preservação de patrimônio ecológico e dos recursos naturais e tem como objetivo preservar os recursos hídricos importantes para o abastecimento de água potável. O Córrego Cabeça-deVeado possui uma extensão de 6,91 km. A CAESB utiliza as nascentes desse córrego para abastecimento público, sendo a água captada a partir de quatro barragens de nível (captações Cabeça de Veado I, II, III e IV). As amostragens ocorreram à montante das captações. Detalhes dos pontos de coleta podem ser visualizados na Figura 5. Figura 5 – Trechos do Córrego Cabeça-de-Veado, na Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília (JBB), a) V1; b) V2; e c) V3; d) V4. Fonte: Projeto PELD. a) b) c) d) 13 Todos os sistemas lóticos foram caracterizados por velocidade média de corrente de variando de 0,20 a 0,68m/s, águas com pH ácido variando de 4,55 a 6,25 e oxigenação variando de 4,27 a 6,33 mg/l. Na Tabela 3 mostra as médias, mínimo e máximos de pH da água, oxigênio dissolvido e velocidade da água de cada ponto amostral da APA (Fonte dos dados: Projeto PELD). Tabela 3 - Resultados das médias, mínimo e máximo dos dados de pH da água, Oxigênio Dissolvido (O.D) da água e velocidade da água, em todos os pontos amostrais da APA Gama e Cabeça de Veado, DF. Fonte dos dados do PELD Estações Amostrais Ct G1 G2 Llo Ta Cp On Lro Ro Mo Pi V1 V2 V3 V4 pH da água O.D da água (mg/l) Velocidade da água (m/s) Média (mínimo- máximo) 5,16 (4,76 - 5,72) 5,26 (4,70 - 5,8) 6,25 (5,43 - 6,8) 5,4 (4,97 - 5,82) 5,88 (4,60 - 5,46) 4,92 (4,60 - 5,46) 5,74 (5,33 - 6,15) 4,8 (4,50 - 5,30) 4,65 (4,08 - 5,22) 5,07 (4,12 - 5,96) 4,55 (4,12 - 4,89) 5,67 (4,74 - 7,54) 5,26 (4,58 - 6,42) 5,76 (4,79 - 6,58) 5,75 (5,35 - 6,09) 6,02 (5,18 - 6,97) 4,7 (1,87 - 6,28) 5,99 (5,54 - 6,31) 6,23 (5,72 - 6,74) 4,27 (3,79 - 5,12) 5,98 (5,59 - 6,29) 5,34 (4,62 - 6,57) 5,22 (4,46 - 6,31) 5,58 (5,00 - 6,50) 5,76 (5,26 - 6,56) 5,19 (4,57 - 5,80) 6,33 (6,18 - 6,49) 5,41 (5,21 - 5,51) 5,84 (5,02 - 6,36) 5,56 (4,58 - 6,97) 0,6 (0,47 - 0,70) 0,27 (0,23 - 0,30) 0,35 (0,20 - 0,50) 0,34 (0,30 - 0,45) 0,6 (0,30 - 1,10) 0,2 (0,10 - 0,30) 0,2 (0,10 - 0,30) 0,25 (0,20 - 0,30) 0,31 (0,23 - 0,40) 0,66 (0,10 - 2,00) 0,27 (0,10 - 0,70) 0,23 (0,10 - 0,60) 0,68 (0,30 - 0,95) 2.2 COLETA DE AMOSTRAS As coletas foram realizadas nos períodos de seca (Agosto a Setembro de 2010/2011) e chuva (Fevereiro a Março de 2011/2012). O sedimento foi coletado com corer (tubo de PVC, com 15 cm de diâmetro) enterrado a uma profundidade de 10 a 15 cm. O material coletado foi acondicionado em sacos plásticos e mantido congelado até a análise. Em seguida, as amostras foram secas em estufas, com temperatura de 100°C, e maceradas para promover a desagregação dos sedimentos. 14 2.2.1 Granulometria Para execução da análise granulométrica foram utilizados 100 g de sedimento de cada ponto. O procedimento aplicado foi o método do peneiramento (SUGUIO, 1973), com o agitador “RO-TAP” (Prototest-Rodotest). A granulometria por peneiramento utiliza uma série de peneiras de malhas padronizadas, empilhadas, em ordem decrescente de abertura das malhas. O tempo de peneiramento foi de 15 minutos na frequência 5. O material retido em cada peneira foi pesado numa balança de precisão 1,000 g. X i (%) mi 100 MT …(1) As quantidades retidas do sedimento nas peneiras foram determinadas por pesagens e as frações retidas em cada malha foram calculadas segundo Equação (1). Onde, indica a fração retida, massa retida na peneira e NT representa a massa total da amostra. 2.2.2 Matéria orgânica A análise de matéria orgânica, em cada ponto foi realizada em tréplicas das amostras, sendo utilizadas 10 g de sedimento pesados numa balança analítica de precisão de 1,0000 g. Os sedimentos foram postos em cadinhos de porcelana previamente numerados, e submetidos à temperatura 500ºC por 6 horas em um forno mufla. A temperatura e tempo indicados para a calcinagem da matéria orgânica apresentam o menor erro associado à medida, segundo Luczak et. al (1997). Após esfriamento, o sedimento foi novamente pesado para o cálculo da matéria orgânica, que utiliza a seguinte Equação (2): peso _ final 100 MO% peso _ total ...(2) O peso final equivale ao peso da amostra após a calcinação e o peso total equivale ao peso inicial da amostra antes do processo, que, neste caso é 10,0000g. 2.2.3 Nutrientes totais Na realização de análise de nutrientes foi utilizado o método de digestão ácida, que permite extrair um constituinte solúvel de um sólido, mediante um solvente. O processo pode ser realizado, quer para a obtenção de uma solução concentrada numa substância valiosa, quer para remover de um sólido insolúvel numa sustância solúvel com a qual esteja contaminado, segundo Cunha (1999) apud MELO (2008). Segundo Tedesco et al. (1995) apud PELOZATO, (2011), a metodologia descrita propõe a digestão de 0,07 g de sedimento fino em 5 ml de ácido sulfúrico (H2SO4) 98% (marca Merck) e 2 ml de peróxido de hidrogênio (H2O2) em tubos de 100 ml. A digestão das amostras foi realizada em tréplicas num bloco digestor por 15 minutos, a 320°C. As amostras 15 foram resfriadas por 30 minutos, e após esse período houve a adição de mais 2 ml de H2O2. As amostras foram novamente levadas ao bloco digestor para aquecimento a 320°C, onde permaneceram por 30 minutos. Após o resfriamento, o material apresentou uma coloração transparente como indicador de digestão completa. Em seguida, adicionou-se 70 ml de água destilada (AD) e acondicionou-se em fracos de vidro até o momento da leitura da concentração de nutrientes em espectrofotômetro. O extrato produzido no processo de digestão foi utilizado para a determinação de nitrogênio total pelo método de Nessler e a determinação de fósforo total pelo método de Murphy-Riley, 1962. 2.2.3.1 Determinação de nitrogênio total – Método de Nessler Para determinar o nitrogênio total nas amostras de sedimento, foi feito inicialmente a preparação das soluções de 10 g de Hidróxido de Sódio (NaOH), onde se dissolveu em 100 ml de água destilada (AD). Em seguida, preparou-se a solução de metassilicato de Sódio (Na2SiO3), com a dissolução de 10 g em 100 ml de AD; esta solução ficou em repouso por uma noite, e depois foi filtrada em papel de filtração semi-lenta. A solução tem a finalidade de evitar a turbidez na hora da leitura do espectrofotômetro. Essas duas soluções de NaOH / Na2SiO3 foram misturadas em partes iguais de 1:1. Utilizam-se balões volumétricos de 100 e 200 ml. Para preparar a solução de trabalho, colocou-se a solução de 1:1 em proporção de 1 ml e misturou-se 0,5 ml do reagente Nessler. Depois, adicionou-se 1 ml do extrato de cada amostra de sedimento digerido em copos de plásticos. Em seguida, avolumou-se com 20 ml de AD, e após 10 minutos procedeu-se a leitura em espectrofotômetro (Biospectro, SP-220) na faixa de absorbância de 480 nm, em cubetas de vidro de 4 ml. Foi construída uma curva analítica com sete pontos a partir da solução de 100 ppm em 1 L de Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) com concentrações de 1 a 2 ppm. Uma vez na posse de tais referências, gerou-se uma curva analítica através dos padrões colorimétricos, com gradiente de cor alaranjado ao amarelo, conforme a Figura 6. Figura 6 - Curva padrão de Nitrogênio (a), e o padrão de referência de Nitrogênio total pelo método colorimétrico (b). Absorbância N (a) a) 1 b) 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,031x + 0,003 R² = 0,997 0 5 10 15 20 25 30 35 Concentração de N (mg/L) O mesmo procedimento foi realizado para encontrar os resultados de nitrogênio, onde também foi gerada uma curva de calibração em triplicatas na faixa de concentração de 10ppm de nitrogênio amoniacal (N-NH3), conforme ilustrado na Figura 6. Obteve-se uma equação linear ( y 0,031 x 0,003) , por meio da qual foram obtidos os resultados de nitrogênio total (NT) em cada sistema. 16 2.2.3.2 Determinação de fósforo total – Método de Murphy – Riley, 1962 Para determinar o fósforo total (PT) nas amostras de sedimento, empregou-se a metodologia de Murphy & Riley (1962), que consiste em indicar baixas concentrações de fosfato através do método espectrofotométrico, que quantifica e relaciona a concentração com a absorbância através da Lei de Lambert-Beer. Para proceder à leitura foi preparada uma solução de 136 ml de ácido sulfúrico (H2SO4) em 1L de AD. Depois, diluiu-se 40 g de molibdato de amônia ((NH4)6Mo7O24.4H2O) em 1 L de AD. Em seguida, dissolveu 1,454 g de tartarato de antimônio e potássio (C4H4KO7Sb.1/2H2O) em 500 ml de AD. E, por fim, no momento da leitura, preparou-se a solução de ácido ascórbico (C6H8O6) com 2,64 g em 50 ml de AD. Cada uma dessas soluções foi feita em balões volumétricos. Para proceder a leitura, foi feita a solução de trabalho adicionando-se 250 ml de H2SO4 + 75 ml de (NH4)6Mo7O24.4H2O + 50 ml de C6H8O6 + 25 ml de C4H4KO7Sb.1/2 H2O e volumado até 500 ml de AD. Em seguida, pipetou-se 4 ml desta solução com mais 2,5 ml do extrato de sedimento digerido e avolumado com 25 ml de AD. Após 20 minutos, procedeu-se a leitura no espectrofotômetro (Biospectro, SP-220) na faixa de absorbância de 885 nm, em cubetas de vidro com volume de 4 ml. A curva analítica foi construída com oito pontos a partir da solução de 100 ppm de fosfato. Por meio desta obteve-se a solução de 10 ppm de concentrações (0,1, 0,3 a 0,6 ppm), e com a solução de 10 ppm preparou-se a solução de 1ppm com teores de 0,01, 0,03 a 0,6 ppm. Então, gerou-se uma curva analítica através dos padrões de referência, indicado em um gradiente de cor azul (Figura 7). Figura 7 - Curva Padrão de Fósforo total (a), Padrão de referência de fósforo total pelo método colorimétrico (b). Absorbância P (a) a) b) 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,472x + 0,014 R² = 0,998 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Concentração de P (mg/L) Para uma análise mais detalhada dos resultados de fósforo foi construída uma curva de calibração em triplicata na faixa de concentração entre 10 ppm e 1ppm de fosfato (PO4), conforme ilustrado na Figura 7. Que gerou uma equação linear ( y 0,472 x 0,014) , onde foram obtidos os resultados de fósforo total (PT). 17 2.2.4 Análises Estatísticas Os resultados obtidos das análises de matéria orgânica e nutrientes (nitrogênio total e fósforo total) e granulometria foram submetidos a teste de normalidade na distribuição dos dados (teste de Kolmogorov-Smirnov). Os dados não apresentaram distribuição normal. Em função disso, foram utilizadas análises não paramétricas, como correlação de Spearman para verificar possíveis relações entre as nutrientes, frações granulométricas e matéria orgânica. Além disso, foi utilizado teste Wilcoxon para avaliar possíveis diferenças nas medidas de tendências central (médias e medianas) entre os períodos amostrais (estações de seca e de chuva). O programa utilizado foi o Statistica for Windows’99 edition. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De forma geral, a caracterização dos sedimentos de fundo nos sistemas aquáticos da APA revelou padrão relacionado a diferenças espaciais e sazonais como fatores de influência importantes. Na escala espacial, as principais funções de força parecem relacionadas à presença ou não de mata de galeria preservada e uso do solo à montante do ponto de coleta. Na escala temporal, as precipitações pluviométricas concentradas parecem ter contribuído para mudanças na composição granulométrica, teor de matéria orgânica e nutrientes em alguns pontos. 3.1 GRANULOMETRIA Na escala espacial, os resultados das análises granulométricas revelaram predomínio, das frações arenosas médias, tanto nos sistemas de sistemas lóticos como lênticos, com fração de 0,25 – 0,60 mm e pedregulho fino de dimensões 4,76 – 19,0 mm, conforme Figura 8. Figura 8: Média das frações granulométricas dos sedimentos aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF. Para nomes dos pontos e siglas, consultar Tabela 1. 18 O particulado arenoso pode caracterizar e apresentar reduzidas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, segundo Mate et al. (2004, apud RANGEL 2008), sendo que areia pode ser considerada como um mineral de comportamento químico inerte ou que adsorve quantidades insignificantes de matéria orgânica e nutrientes. As demais frações apresentaram menor contribuição, sendo que as partículas finas como silte e argila apareceram mais expressivamente em determinadas áreas da APA, como, a RECOR-IBGE, que em todos seus pontos mostrou uma variação textural com percentuais de 3 a 30% de argila e silte no sedimento aquático. Essas percentagens mais elevadas de partículas finas no sedimento são comumente encontradas associadas a altas concentrações de matéria orgânica e podem ter relação com acúmulo de detritos advindos de fontes naturais ou, talvez, antrópicas. Por exemplo, na estação amostral G1, no período de chuva, em média, obteve-se entrada de 24,9% de argila no meio aquático, podendo ser resultado da remoção da mata de galeria e avanço das áreas agrícolas do Núcleo Rural Vargem Bonita (ver Figura 9). Figura 9: Média das frações granulométricas do sedimento aquático nas estações amostrais da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, nos períodos de seca e chuva. (Para nomes dos pontos e siglas, consultar Tabela 1). Na seção transversal do Ribeirão do Gama, o Ct apresentou resultados de distribuição das frações granulométricas bem similares entre as campanhas e períodos (Figura 9). A fração predominante foi arenosa (compreendendo percentuais médios de 37 a 39% de areia grossa, 15 a 21% de areia média e 9 a 14% de areia fina). Além disso, em períodos de chuva, o sedimento fino como silte e argila teve porcentagens abaixo de 1% do material, com predominância para pedregulho fino (41%). A proteção das margens por matas de galeria e a presença de lajes em grande extensão desse trecho podem ajudar a explicar a menor variação sazonal na contribuição das diferentes frações granulométricas, onde, mesmo nos períodos chuvosos parece ocorrer pouco aporte de sedimentos alóctones. Essas características foram muito diferentes nos pontos G1 e G2, que apresentaram maior variação sazonal na contribuição de diferentes frações granulométricas. G1 apresentou 19 composição argilosa bem superior no período de chuva (24,9%). No período de seca apresentou um valor considerável de material siltoso (15% na média). A flutuação temporal das diferentes frações foi expressiva, o que pode ter relação com a descaracterização das margens, sobretudo a remoção completa das matas de galeria, que podem filtrar a entrada de sedimentos nos sistemas aquáticos. Além disso, a ocupação agrícola, ainda sendo considerada de baixo impacto, como a horticultura e pequenas chácaras, se for realizada com uso inadequado do solo pode levar à lixiviação de massas em eventos de chuvas fortes. Isso pode explicar a maior deposição de sedimentos finos no período de chuva. Na estação amostral G2, observou-se uma heterogeneidade na fração fina, entre os períodos de seca e chuva, com proporções similares em silte, areia fina e areia média (aproximadamente 15%, 28% e 22%). Segundo Silva e Souza (2009), áreas com baixas declividades e baixas velocidades contribuem para uma maior deposição de sedimentos de partículas finas. Conclui-se que o predomínio expressivo de silte e das areias, pode estar associados à instabilidade da margem e ausência de mata de galeria no ponto G2, associado à baixa declividade da área. Na EE-FAL houve uma heterogeneidade na contribuição das frações granulométricas (Figura 9), onde o material grosseiro (areia grossa e pedregulho) teve predomínio nos pontos On e Cp, com percentuais elevados de areia grossa (20% a 31%), e pedregulho fino (30% a 65%), sendo que, no Cp na seca e na chuva registrou-se pedregulho médio com percentual de 36% a 58%. A carga de sedimentos grosseiros encontrados em maior quantidade nesses meios pode ser justificada pelas próprias características do canal, como a declividade do terreno que fica acima de 10%. Isso reduz a ocorrência de deposição e o acúmulo de partículas finas nestes sistemas, salientando também, a presença de mata de galeria bem preservada ao longo de todo o canal (UNESCO, 2003; SILVA, 2009), impedindo o assoreamento das bordas e margens. Os outros dois sistemas aquáticos da FAL apresentaram maior predomínio no material fino, como a estação amostral Ta, que indicou uma flutuação na contribuição das diferentes frações granulométricas, sendo que areia média obteve resultados de 37% a 39%. Mas as frações de argila, silte e areia fina tiveram variações sazonais, com mudanças expressivas. A prevalência do substrato fino se deu, provavelmente, pelo próprio reflexo da hidrodinâmica local. Segundo Burone et al. (2003) apud Subtil (2005), a deposição de sedimentos finos não é possível em áreas com fortes correntes. Como a velocidade do fluxo d’água do Ta apresentou médias de velocidades baixas (0,3 m.s-1), isso poderia explicar o resultado. Além disso, a presença de degradação vegetal também está associada na construção da fração fina do sedimento (FERNANDES, 2007). Contudo, a mata de galeria apresenta-se íntegra em todo o perímetro próximo ao ponto de coleta. Um dado importante é que a mata de galeria do Ta é circundada por campo úmido, nas duas margens próximas ao ponto de coleta. Campos úmidos, em geral, apresentam solos orgânicos e com elevada presença de sedimentos finos. Os resultados obtidos na Lagoa do Lourival (Llo) demonstraram o domínio de partículas finas (argila, silte, areia fina e média), o que indica a alta capacidade de adsorção de substâncias. A fração textural que mais se destacou foi o substrato de areia média, com valores médios de 46 a 68% dentre os períodos sazonais. Na RECOR IBGE, a fração de sedimentos finos (argila, silte, areia fina e média) foi predominante para todas as estações amostrais Mo, Pi, Ro e Lro. Por outro lado, a Lro apresentou pedregulho fino com percentual de 21%, no período de seca. No período de chuva, houve concentrações mais elevadas de areia fina (33%), indicando um aumento de entrada de substrato arenoso fino através do processo de lixiviação do solo das margens da lagoa pra dentro do sistema lêntico. Nos sistemas lóticos da RECOR- IBGE, em todas as campanhas ocorreu um predomínio de grãos finos como argila, silte, areia fina e média. Houve uma maior 20 contribuição de areia média na estação amostral do Mo, que no período seca e chuva obteve médias de 56%. Além disso, o Pi também apresentou valores similares de areia média nos dois períodos (30 a 56%). Mas na seca, o Pi apresentou valores de argila elevados, com porcentagens de 21% em relação ao período de chuva (17%). No ponto Ro da RECOR IBGE apresentou uma similaridade nas campanhas de seca e chuva, em todas as frações granulométricas. A fração argilosa resultou em contribuição de 25%, silte de 17%, e a composição de areia fina foi de 18%, e, por fim, areia média que teve uma faixa de variação média de 37 a 41%. No EEJBB houve uma heterogeneidade na contribuição das frações granulométricas, onde o material grosseiro (areia grossa e pedregulhos) teve predomínio nos pontos V1 e V4, com percentuais de areia grossa (20% a 30%), e pedregulho fino (47% a 57%), sendo que nos pontos V1 e V4 na seca registrou-se uma entrada de pedregulho médio (de 21% e 16%). A carga de sedimentos grosseiros encontrados em maior quantidade nesses meios pode ser justificada pelas próprias características do canal, como a declividade do terreno que fica acima de 10%. Isso reduz a deposição e o acúmulo de partículas finas nestes sistemas (UNESCO, 2003; SILVA, 2009). Também é importante salientar a presença das matas de galeria bastante íntegras e largas, bem como, por se tratar de áreas de nascentes, predomínio de lajes, sendo mesmo difícil coletar sedimento nestes locais. 3.2 MATÉRIA ORGÂNICA Segundo Esteves (1998), os sedimentos que possuem mais de 10% de matéria orgânica como conteúdo total são definidos como orgânicos, e os sedimentos abaixo de 10% são classificados como minerais. Os sedimentos dos pontos amostrais das UC’s da APA Gama e Cabeça de Veado são constituídos por uma diversidade granulométrica, destacando-se uma maior abrangência na fração arenosa nos respectivos pontos, conforme informado anteriormente. Portanto, essa diversidade influenciou as concentrações de matéria orgânica (M.O) nos sedimentos aquáticos da APA. 3.2.1 Análise espacial do teor de matéria orgânica (M.O) O conteúdo de matéria orgânica (M.O) no sedimento aquático, numa escala espacial na APA Gama e Cabeça de Veado, DF, variou expressivamente. Nove estações amostrais apresentaram concentração média superior a 10% (Figura 10). 21 Figura 10: Medianas, quartis e valores máximos e mínimos da matéria orgânica dos sedimentos de ecossistemas aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF. A linha vermelha indica o ponto de corte para sedimentos orgânicos, segundo Esteves (1998). Para nomes dos pontos e siglas, consultar Tabela 1. Neste estudo, os sedimentos da EE-FAL nos respectivos pontos, Llo apresentaram de 15,6% a 24,4% de M.O, e no Ta esse percentual foi de 23,5% a 39,5%, O acúmulo dos compostos orgânicos no substrato aquático, segundo Sewald et al. (2012), está diretamente relacionado à fração granulométrica fina. Entendendo, que quanto menor for a partícula de sedimento, maior será a tendência de adsorção do composto orgânico acumulado nos sistemas aquáticos. Na RECOR- IBGE, o ponto que apresentou uma variância elevada da concentração de matéria orgânica foi a Lro (5% a 23%), um sistema lêntico. Para Oliveira (2009), essa alta porcentagem de matéria orgânica em ambientes lênticos deve-se à presença de plantas aquáticas e material alóctone de fragmentos florestais ou da vegetação ripária. Neste estudo, os dados obtidos podem ser explicados pela grande colonização e ocupação do espelho d’água de Llo e Lro por diversos tipos de macrófitas aquáticas, desde submersas a emergentes. Outro ponto da RECOR IBGE que apresentou elevada concentração de matéria orgânica foi o Ro com 24% a 33%, em virtude da topografia moderadamente plana, o que favorece na maior capacidade em adsorver nutrientes e acumular matéria orgânica. O sistema é também muito encaixado e a mata de galeria é inundável, o que favorece o acúmulo da liteira (serapilheira) da mata no leito do Córrego. Nos córregos Mo e Pi da RECOR IBGE, houve variações nos teores de matéria orgânica, conforme indicado na Figura 10. Mo apresentou um maior teor de matéria orgânica em relação a todos os outros pontos, com percentual de variância entre 5% a 40%. Esse alto teor pode ser proveniente de uma contribuição de deposição de sedimento orgânico da vegetação da zona ripária. Como a mata de galeria recobre amplamente o Córrego, o aporte de serapilheira é bastante elevado. Essa informação também se dá para o ponto Pi apresentou uma variância de 10% a 20% de matéria orgânica, pois apresenta condições morfológicas similares com o ponto Mo. Na EE-JBB prevaleceu uma maior relação de teor orgânico com o particulado fino nos pontos amostrais V1, pois sua faixa de variação foi de 5% a 22%. Esse curso d’água tem calha bem encaixada, e é margeado por uma mata de galeria com dossel de cobertura vegetal de aproximadamente 70%, o que favorece a entrada de matéria orgânica através da deposição de folhiços, raízes e galhos no sistema aquático. Ainda na EE-JBB no ponto V2 o teor orgânico foi de 10 a 20%. Esse trecho foi também caracterizado com presença de folhiço, galhos e raízes dentro do curso d’água. A 22 própria formação física da calha do rio favorece a retenção desses materiais, assim contribuindo para a deposição de matéria orgânica no sedimento aquático. Uma análise geral em ambientes íntegros, o teor de matéria orgânica contido no sedimento aquático da APA obteve uma maior influência nos seguintes aspectos: as áreas que estão margeadas por mata de galeria preservada e densa, correspondendo um dossel de cobertura vegetal de 50% a 70%, permitiram a entrada de M.O de origem alóctone, natural; além disso, as condições físicas da APA também contribuíram para a retenção de maior teor de M.O, como, a topografia de formato moderadamente inclinado, o relevo moderadamente plano, e as drenagens que se apresentaram moderadas em seus fluxos d’águas; e, por fim, um predomínio de granulométrica fina no sedimento de fundo de alguns dos sistemas aquáticos. É importante salientar que sistemas impactados por efluentes domésticos, por exemplo, também podem apresentar elevada concentração de M.O nos sedimentos de fundo, como salientado por Fernandes (2007) em pontos do Córrego Papuda, Pipiripau e Mestre D’Armas, à jusante de lagoas de estabilização no DF. Moreira e Boaventura (2003) também obtiveram percentuais elevados para pontos no Lago Paranoá. Contudo, um fator de destaque é a diferença de fonte e carga de nutrientes dessa matéria orgânica em áreas impactadas e prístinas. 3.2.2 Análise temporal do teor de matéria orgânica (M.O) Em uma escala temporal, as médias das concentrações de matéria orgânica disponível no sedimento aquático variaram entre 5% a 20%. A sazonalidade teve um efeito significativo na concentração de matéria orgânica, principalmente nas diferenças obtidas entre o período de seca 2011 e chuva 2011 (Z = 2,15; p = 0,030), onde o maior teor foi obtido no período de seca (Figura 11). Figura 11: Média e desvio padrão de matéria orgânica contida nos sedimentos de ecossistemas aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, nos períodos de seca e chuva de 2010 a 2012. As barras verticais representam os desvios padrão. No período de seca, era de ser esperado um aumento de M.O no sedimento de fundo, devido à baixa mobilização da hidrodinâmica do sistema aquático, promovendo assim uma maior sedimentação do substrato orgânico no leito. Já no período de precipitação, ocorreu uma maior flutuação do escoamento superficial da massa d’água, promovendo, 23 provavelmente, o carreamento dos compostos sedimentados de volta à coluna d’água. Essa pode ser uma das razões para, em períodos de chuvas, ocorrer o decréscimo do teor de matéria orgânica no sedimento de fundo, e um acréscimo de sólidos particulados e solúveis suspensos no meio. A ampla variação nos valores de M.O entre as estações sazonais, de forma geral, pode explicar porque as diferenças nas concentrações de M.O entre os períodos não foram tão expressivas. De acordo com os estudos de Lira (2012), observou-se que as concentrações de matéria orgânica produzida no solo das zonas ripárias dos córregos Taquara, Monjolo e Pitoco apresentaram variações, mas não muito significativas entre os períodos de seca e chuva. As matas de galeria apresentam uma comunidade arbórea perenifólia, com produção de serapilheira ao longo de todo ano. Paiva (2008) e Silva (2012) obtiveram produção maior de serapilheira nas matas do Ro e V4 no período de seca. Esse maior volume de matéria orgânica produzida durante a seca pode ajudar a explicar as concentrações um pouco maiores no sedimento de fundo obtidas neste estudo. Em linhas gerais, as matas de galeria bem preservadas possuem uma grande importância na manutenção do equilíbrio dos sistemas aquáticos (MITRE, 2011), fazendo com que a sazonalidade não induza significativa variação da composição orgânica entre os períodos de seca e chuva nos corpos hídricos analisados na APA. 3.3 NUTRIENTES 3.3.1 Análise espacial dos nutrientes (NT e PT) A Figura 12 apresenta a distribuição espacial dos nutrientes da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, onde os valores variaram de 5,38 a 1.881,7 mg.kg-1 para nitrogênio total, e 115,5 a 331,9 mg.kg-1 para fósforo total. concentrações dos nutrientes (NT e PT) analisados nos sedimentos aquáticos não apresentaram valores elevados, ou seja, em quantidade capaz de causar prejuízo ao ambiente aquático segundo a RESOLUÇÃO CONAMA 344 (2004). Segundo Attiwil e Adams (1993) apud MIRANDA (2013), o funcionamento dos ecossistemas relaciona-se à produtividade e a ciclagem de nutrientes. Em ambientes de Cerrado, estes processos são controlados por interações entre a disponibilidade de água e nutrientes, que, por sua vez, sofrem influência do regime de queimadas e práticas de manejo do solo, além das características do solo e clima. O ciclo do nitrogênio depende de alguns fatores como densidade de plantas lenhosas, frequência de fogo, mudança no uso da terra, deposição de nitrogênio e fixação de nitrogênio (BUSTAMANTE et al., 2006) no Cerrado. Devido ao fato do Cerrado ser um sistema limitado pela disponibilidade deste nutriente, uma maior frequência de incêndios florestais e manejo inadequado do solo podem levar a mudanças nas concentrações deste nutriente. As concentrações de NT na APA Gama e Cabeça de Veado foram baixas, apesar de que, em determinados pontos amostrais da RECOR IBGE, indicaram teores maiores para o sedimento aquático. Por exemplo, Ro e Mo apresentaram teores de nitrogênio total (NT) no sedimento aquático mais elevados (Figura 13) que os obtidos nos outros sistemas lóticos (1881,72 e 1591,40 mg/kg, respectivamente). 24 Figura 12: Médias de concentrações de Nitrogênio Total (NT, mg/kg de sedimento), Fósforo Total (PT, mg/kg de sedimento) e Matéria Orgânica (M.O, em porcentagem) encontradas no substrato aquático das estações amostrais na APA Gama e Cabeça de Veado, DF, de 2010 a 2012. V4 V3 V2 V1 Pontos amostrais Pi Mo Ro Lro On Cp Ta Llo G2 G1 Ct 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 -1 Média NT (mg.kg ) a) 0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30 35 40 -1 Média PT (mg.kg ) Média M.O (%) Nos sistemas lênticos da APA também foram encontrados concentrações de NT mais elevadas, sendo Llo da EEFAL (814,52 mg.kg-1) e a Lro da RECOR IBGE (626,34 mg.kg-1), provavelmente em função da presença de bancos de macrófitas (AMORIM, 2009). Segundo Froehner (2008), os valores encontrados sugerem que a maior parte da matéria orgânica tem origem terrígena. Lagos que apresentam um grande aporte de plantas terrestres e aquáticas podem apresentar valores de nitrogênio total elevados provenientes da decomposição da matéria orgânica. Contudo, teores bastante inferiores de NT foram obtidos na EE FAL, no o Cp e o On (69,89 e 96,77 mg.kg-1), e também, na EE JBB no ponto V4 (10,75 mg.kg-1). As baixas concentrações podem ter relação com os sedimentos mais grosseiros típicos destes pontos, que promove a redução de deposição e o acúmulo de partículas finas e nutrientes, como visto no estudo de Silva (2009). A concentração de NT mostrou uma correlação alta e significativa com a matéria orgânica (R = 0,84; p <0,001). Esse dado pode indicar a importância dos aportes via matas de galerias, uma vez que o nitrogênio não está presente naturalmente em rochas. Mesmo apresentando uma contribuição para o aporte de nitrogênio, as matas de galerias também são altamente conservativas, retendo grande parte do elemento, sob suas diferenças formas. Esse fato foi constatado por Parron et al., (2011) na mata de galeria do Pi, onde o fluxo de N estimado da mata para o Córrego foi menos que 0,3 kg.ha-1.ano-1. Nesse sentido, as matas de galeria realmente parecem atuar como “filtros” retendo nutrientes e impedindo seu aporte aos ecossistemas aquáticos. Os baixos valores de nitrogênio obtidos apontam para a importância da conservação e proteção das UC’s da APA que evitam a entrada de poluentes difusos que poderiam causar um enriquecimento nos sedimentos aquáticos. Também para o possível “efeito de diluição” de sistemas que poderiam conter concentrações mais elevadas de NT, seja impacto antropogênico direto, como produção hortícola, indireto, como remoção das matas de galeria. Um exemplo seriam os pontos G1 e G2, que sofrem os dois tipos de impacto, mas apresentaram baixas concentrações de NT provavelmente por terem afluentes com baixa concentração de NT tanto no sedimento como na água, como Cp, por exemplo (para dados de concentração na água ver Fonseca et al., 2013). 25 Figura 13: Valores de medianas, percentis e máximos e mínimos de concentração de nitrogênio total (mg.kg-1) nos sedimentos aquáticos das Unidades de conservação da APA Gama e Cabeça de Veado, DF. NT 2200 1800 1400 1000 600 200 -200 CT G1 G2 LLO TA CP ON LRO RO MO PI V1 V2 V3 V4 Min-Max 25%-75% Median value A presença de fósforo nos sistemas aquáticos pode estar relacionada a processos naturais, como dissolução de rochas, carreamento de solo, decomposição de matéria orgânica, e também a processos antropogênicos, como lançamentos de esgotos, detergentes, fertilizantes e pesticidas (Parron et al., 2011). No caso do Cerrado, são esperadas concentrações naturalmente baixas de fósforo na água e em sedimentos aquáticos, uma vez que os solos são antigos, ricos em metais e, por isso, em geral, pobres nesse elemento. As rochas da região também costumam ser pobres em P, portanto, em condições naturais, sem aportes antropogênicos, seriam esperadas baixas concentrações desse elemento nos sedimentos aquáticos de fundo. Além disso, existe influência da concentração de oxigênio dissolvido (O.D) e pH na precipitação de P em sedimentos aquáticos (ESTEVES et al. , 2008). Além dos solos pobres em P, Parron et al. (2011) também indicaram que as matas de galeria do DF, como a mata do Pitoco, onde o estudo foi realizado, funcionam como sistemas altamente conservativos para os nutrientes de forma geral, especialmente o P, onde o fluxo estimado foi menor que 0,1 kg.ha-1ano-1. Na APA Gama e Cabeça de Veado, a maior variação das concentrações de fósforo total (PT) se deu na EE FAL nos pontos amostrais Ta e Cp (medianas de 383,47 e 334,75 mg.kg-1), e também, na RECOR IBGE no sistema lêntico o Lro (316,38 mg.kg-1). Em todos os outros sistemas aquáticos, os teores de fósforo total apresentaram valores intermediários, com menor modificação entre os pontos, conforme informado na Figura 14. As estações amostrais mencionadas anteriormente apresentam certas peculiaridades na variação dos teores de fósforo total no sedimento aquático. No ponto Cp, segundo a dados do projeto PELD, registrou-se uma média de O.D na água de 5,33 mg.l-1. Segundo Reddy et al. (1999) apud Santos (2011), o intemperismo produz argilas com altas concentrações de hidróxido de ferro e alumínio que se liga facilmente ao fósforo em ambientes aquáticos; na presença de oxigênio, esses compostos formam precipitados que se aderem aos sedimentos. Logo, o aumento de O.D reduz a disponibilidade de fósforo na água que volta a ficar disponível em condições anaeróbicas e de baixa concentração de oxigênio. 26 Figura 14: Valores de mediana, percentis e máximos e mínimos de concentração de fósforo total (mg.kg-1), nos sedimentos aquáticos das Unidades de conservação da APA Gama e Cabeça de Veado, DF. PT 450 350 250 150 50 -50 CT G1 G2 LLO TA CP ON LRO RO MO PI V1 V2 V3 V4 Min-Max 25%-75% Median value A importância do sedimento como fonte ou depósito de fósforo está relacionado à qualidade e a quantidade deste nutriente no substrato de fundo e aos processos que afetam o seu equilíbrio na interface água/sedimento. Portanto, ressalta-se que a determinação da relação entre a composição do sedimento e o fosfato a ele ligado, é fundamental para avaliar o potencial deste compartimento em liberar fósforo para a fase aquosa (FONTANA, 2008). Mesmo considerando os valores mais elevados obtidos nesse estudo, as concentrações são baixas, sem potencial para alterar o estado trófico dos sistemas. Em linhas gerais, nas estações amostrais G1 e G2 da seção principal do Ribeirão do Gama, esperava-se obter maiores concentrações de fósforo total e nitrogênio total, por estarem localizados próximos a áreas com ocupação agrícola e sem matas de galeria, com margens amplamente antropizadas, com resíduos sólidos urbanos e agrícolas. Portanto, o aporte de material alóctone, incluindo partículas de solos, às vezes enriquecidas com fertilizantes, poderia ter gerado maior acúmulo de fósforo e nitrogênio nos sedimentos aquáticos, mas esses pontos apresentaram teores baixos no substrato de fundo (G1=186,8 mgP.kg-1 e 274,2 mgN.kg-1; G2 = 174,4 mgP.kg-1 e 465,0 mgN.kg-1 ). Esse resultado pode estar relacionado com a capacidade de auto-depuração do meio, ou talvez à velocidade de corrente que afetaria as taxas de deposição dos nutrientes no sedimento e mesmo a um “efeito de diluição” mediado pelos afluentes provindos das UC´s. Contudo, os dados do projeto PELD sobre qualidade de água (Mendonça-Galvão, com. pessoal) indicaram aporte baixo desses nutrientes para todos os sistemas da APA. Mesmo com o uso de fertilizantes na área, pode ser que o uso ainda não seja muito intenso ou os nutrientes fiquem mais retidos no solo ou nos cultivos agrícolas, ou seja, rapidamente absorvidos por organismos produtores primários, como algas perifíticas, por exemplo, uma vez que é limitante para produção primária. 3.3.2 Análise temporal dos nutrientes (NT e PT) As médias das concentrações de NT disponível no sedimento aquático variaram entre 21,5 e 1.537,6 mg. kg-1 no período de seca, e 5,4 a 1.881,7 mg. kg-1 no período de chuva. O teor de NT obteve uma correlação alta e significativa com M.O no período de seca de 2010 (R = 0,84 ; p < 0,001). Na estação chuvosa de 2011, apresentou uma correlação também positiva com matéria orgânica (R = 0,56; p = 0,029). 27 As concentrações de NT total variaram entre estações seca e chuvosa nos sedimentos aquáticos, com valores médios um pouco maiores nas estações de seca. Sabe-se que a disponibilização de nutrientes em solos de matas de galeria dependente da mineralização da matéria orgânica (Parron et al., 2004) e essa advém, em sua maioria, da serapilheira depositada sobre o solo. Portanto, variações sazonais da qualidade e quantidade da serapilheira no solo podem influenciar a composição de nitrogênio total no sedimento aquático através de processos biogeoquímicos, como decomposição da matéria orgânica (Leff et al., (2012) apud Lira (2012). No período de seca era de ser esperado um aumento de NT no sedimento de fundo, devido à baixa mobilização da hidrodinâmica do sistema aquático, promovendo assim uma maior sedimentação do substrato orgânico ao fundo do leito. Já no período de precipitação ocorre uma maior flutuação do escoamento superficial da massa d’água, promovendo o carreamento do composto sedimentado de volta a coluna d’água. Assim, em períodos de chuvas deveria ocorrer o decréscimo do nutriente no sedimento de fundo, e um acréscimo deste dissolvido no meio aquoso. Dados do Projeto PELD, contudo, não confirmaram maiores concentrações na água sob influência sazonal. Figura 15: Média e desvio padrão da concentração de nitrogênio total (mg.kg-1) entre os períodos de seca (2010 e 2011) e chuva (2011 e 2012), no sedimento aquático da APA Gama e Cabeça-de-Veado, DF. As concentrações de PT no sedimento aquático variaram entre 18,4 e 383,5 mg.kg-1. Não houve efeito significativo da sazonalidade (sobretudo precipitação) ou do gradiente topográfico sobre tal variação. Observando-se a Figura 16, nota-se que há uma tendência de concentração maior de PT no período de seca, principalmente em 2010, e menor no período de chuva, principalmente em 2011. Isso poderia ter relação com aumento da entrada de serapilheira no período de seca e maior fluxo de água no período de chuva, reduzindo a sedimentação do PT. PT teve correlação positiva e significativa com teor de matéria orgânica nos períodos de seca 2010 (R = 0,54; p = 0,03) e chuva 2011 (R = 0,53; p = 0,04), indicando que a principal fonte desse elemento para o sedimento é, provavelmente, serapilheira da vegetação ripária. De acordo com os estudos de Lira (2012), observou-se que as concentrações de fósforo disponível no solo das zonas ripárias dos córregos Taquara, Monjolo e Pitoco apresentaram variações, mas não muito expressivas, entre os períodos de seca e chuva. Em linhas gerais, a estabilização das margens dos cursos d’àgua, as nascentes bem protegidas, funcionam como zona tampão, filtrando os sedimentos, substâncias químicas e nutrientes 28 (MITRE, 2011). Esse fator adicionado ao efeito conservativo de P das matas de galeria podem explicar teores obtidos e baixa influência sazonal. Figura 16: Média e desvio padrão de fósforo total (mg.kg-1) entre os períodos de seca (2010 e 2011) e chuva (2011 e 2012), no sedimento aquático das unidades de conservação. 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Os sedimentos aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, de um modo geral, mostraram que os teores granulométricos que prevaleceram em todos os sistemas, tanto lóticos quanto lênticos, foram areias médias e pedregulho fino, de origem do próprio intemperismo natural da calha hídrica dos ambientes. Mas, é claro que cada ponto amostral apresentou a predominância no substrato granulométrico, devido a influência da topografia local. Nas áreas mais preservadas, não houve efeito sazonal significativo no aporte de sedimentos alóctones. O material orgânico presente nos sedimentos é proveniente de processos de deposição alóctone das matas de galeria dos sistemas preservados. Além disso, os sedimentos da APA variaram de substrato tipicamente orgânico a minerais, dependendo das próprias características físicas e biológicas que proporcionam maior ou menor deposição de matéria orgânica. Houve diferença significativa entre os períodos de seca e chuva nas concentrações de matéria orgânica, sob influência, provavelmente, de maior produção e aporte de serrapilheira proveniente das matas de galeria. As concentrações de nutrientes apresentaram-se muito baixas comparadas aos teores permissíveis pela resolução CONAMA 344/2004. O nitrogênio total apresentou uma alta correlação com a quantidade de matéria orgânica em sedimentos finos, indicando a forte contribuição do acúmulo do material vegetal das matas de galeria na concentração deste elemento no sedimento aquático. A caracterização dos sedimentos aquáticos da APA Gama e Cabeça de Veado, DF, revelou que, em ambientes preservados, esse compartimento não se encontra impactado por atividades antropogênicas. Até, mesmo aqueles pontos amostrais que se apresentaram em zonas de ocupação agrícola e urbana mostraram características similares às de áreas preservadas. Logo, os ecossistemas aquáticos da APA podem ser consideradas áreas de referência para sedimentos aquáticos de sistemas lóticos até 3ª ordem e pequenas lagoas rasas para o DF, mantendo elevado estado de preservação das características naturais. 29 Recomenda-se manter o monitoramento dos sedimentos aquáticos da APA, ampliando o número de sub-amostras por estação amostral e coletando em períodos de transição entre as estações seca e chuvosa. Adicionalmente, a manutenção de coletas por vários anos consecutivos para avaliar as flutuações temporais e espaciais com base maior de dados. Recomenda-se também uma avaliação mais detalhada das diferentes formas de nutrientes no sedimento, bem como do carbono orgânico. Characterization of aquatic sediment ecosystems of the APA Gama Cabeça-de-Veado, Distrito Federal ABSTRACT: Aquatic sediments provide information about conservation state of ecosystems and are substrate for bioindicators, as benthonic macroinvertebrates. Analysis of sediments may help to evaluate intensity of past and present impacts on aquatic ecosystems. The main objective of this work was to characterize aquatic sediments of lotic and lentic systems from APA Gama Cabeça-de-Veado, Federal District, in dry and rainy seasons of 2010, 2011 and 2012. There were analyzed samples from fifteen sampling stations, for granulometric fractions, organic matter and nutrients concentrations (total phosphorus and total nitrogen). Medium and fine sand were the dominant granulometric fractions. However, in rainy seasons, deposition of clay was detected in some systems, as Gama 1 stream, where 48% of clay were loaded. This can be due to the total deforestation of gallery forests in this area. In some sampling stations, there were modifications on the contribution of granulometric fractions in the study period. Organic sediments have predominated in lentic systems, but it has also occurred in lotic ones, as Taquara, Monjolo, Pitoco and Roncador streams. The presence of organic sediments in lentic systems was due, probably, to large colonization of aquatic macrophytes. In lotic systems, organic sediments could be result of litterfall input and organic soil from the gallery forests. The total phosphorus and total nitrogen concentrations were low. This may be related to the basin conservation, chiefly, because gallery forests have great capacity of hold nutrients. Despite deforestation of gallery forests at Gama stream and agricultural activity, the aquatic system seems to be resilient to this perturbation, as no alteration in nutrients concentrations in sediments was detected. Aquatic ecosystems from APA can be considered reference sites for sediments characteristics, meanly for first to third order lotic systems and ponds of DF. Keywords: granulometric fractions, total nitrogen, total phosphorus, organic material, lotic systems, lentic systems. 30 5 REFERÊNCIAS AMORIM, M.A; MOREIRA-TURCQ, P.F.;Turcq, B.J; CORDEIRO, R.C. Origem e dinâmica de deposição dos sedimentos superficiais na várzea do Lago Grande de Curuai, Pará, Brasil. Acta Amazonica, vol. 39 (1), 2009, p. 165-172 AQUINO, F. G.; PINTO, J. R. R.; RIBEIRO, J. F. Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o Cerrado Brasileiro. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, Brasília, 2009. Disponível em < http://www.comciencia.br > Acesso em 22 de maio 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502 Rochas e Solos. Rio de Janeiro: ABNT, 1995. BAISCH, P.R.; HATJE, V.. Impactos antropicos na geoquimica dos sedimentos do rio dos sinos. In: Simposio Bras. Recursos Hídricos, Porto Alegre, v.4, p.414-424, 1993. BUSTAMANTE, M.M.C; MEDINA, E.; ASNER, G.P. 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