TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Econômica INTENÇÃO DE CONSUMO DAS FAMÍLIAS VOLTA A REGISTRAR RECUO EM FEVEREIRO Bruno Fernandes Economista As famílias voltaram a apresentar menor intenção de consumo em fevereiro. A ICF registrou recuo tanto na comparação mensal quanto na anual. O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento sazonal dos gastos pessoais, pela manutenção de um nível elevado de endividamento e pelo custo do crédito. Indicador fev/14 Emprego Atual Perspectiva Profissional Renda Atual Compra a Prazo Nível de Consumo Atual Perspectiva de Consumo 134,3 134,1 144,7 132,5 100,0 134,7 Momento para Duráveis ICF 128,5 129,8 Variação Variação Mensal Anual -0,9% -2,2% +1,8% -1,7% -3,3% -2,0% -2,5% -6,6% -10,2% -3,6% -5,2% -0,8% +16,3% -0,9% -12,2% -4,2% A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou recuo de 0,9% (129,8 pontos) na comparação com o mês imediatamente anterior e queda de 4,2% em relação a fevereiro de 2013. O aumento sazonal dos gastos no início do ano, além da manutenção de um elevado nível de endividamento e de maior dificuldade de aquisição de crédito, manteve a intenção de consumo em um ritmo inferior ao do ano passado. Apesar do resultado, o índice mantém-se acima da zona de indiferença (100,0 pontos), indicando um nível favorável. Na comparação mensal, dois componentes da pesquisa apresentaram variações positivas – Perspectiva Profissional e Momento para Duráveis. O maior comprometimento da renda no início do ano com gastos relacionados a transporte, moradia e educação influenciou o resultado em fevereiro. Na comparação anual, a ICF novamente apresentou variação negativa, puxada por todos os componentes da pesquisa. Nível elevado de endividamento e crédito mais caro vêm se refletindo em uma maior moderação do consumo no período. Na mesma base de comparação, o último resultado positivo foi em dezembro de 2012. Março de 2014 2 Por faixas de renda, os cortes mostram que o resultado do índice na comparação mensal foi sustentado principalmente pela queda da confiança das famílias com renda até dez salários mínimos, com recuo de 1,1%. As famílias com renda acima dez salários mínimos apresentaram crescimento (0,1%). O índice das famílias mais ricas encontra-se em 133,1 pontos, e o das demais, em 129,3 pontos. Na mesma base comparativa, os dados regionais revelaram que a retração do índice nacional foi puxada principalmente pelas capitais do Sul e do Norte, que registraram, respectivamente, variações de -7,0% e -1,8%. Assim, essas regiões apresentaram níveis de confiança de 136,0 e 127,5 pontos, na ordem respectiva. Mercado de trabalho: Apesar da baixa taxa de desemprego, confiança registra recuo Satisfação com o Emprego Atual Menos seguro 12,8% Mais seguro 47,1% Igual ao ano passado 28,9% Não sabe / não respondeu 11,1% O componente Emprego Atual registrou retração em relação a janeiro (-0,9%) e queda de 2,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O percentual de famílias que se sentem mais seguras em relação ao Emprego Atual é de 47,1%. Apesar do recuo, a sustentação de uma taxa de desemprego baixa vem alimentando o nível de confiança em um patamar favorável. O componente relacionado à renda apresentou redução de 3,3% na comparação mensal. Em relação a fevereiro de 2013, o item Renda Atual obteve queda de 2,0%. O menor crescimento real da massa salarial e uma recuperação mais lenta da atividade comprometeram a confiança em relação ao emprego e à renda. Entretanto, apesar da desaceleração, a manutenção das condições favoráveis do mercado de trabalho, com baixa taxa de desemprego, deverá sustentar o otimismo das famílias em um nível favorável nos próximos meses. Em relação às regiões pesquisadas, Centro-Oeste, Nordeste e Sul têm as famílias mais confiantes em relação ao Emprego Atual (150,1, 140,4 e 139,1 pontos, respectivamente), com variações anuais de -0,4%, +5,3% e -9,0%, na ordem respectiva. Por outro lado, as regiões Norte e Sudeste registraram menor nível de confiança, contabilizando 126,7 e 128,1 pontos, respectivamente. Trabalhos Técnicos Março de 2014 3 Consumo: Alta mensal ainda não indica recuperação do consumo de bens duráveis O componente Nível de Consumo Atual apresentou queda de 10,2% na comparação mensal. Em relação a fevereiro de 2013, o item recuou 3,6%. O maior percentual de famílias declarou estar com o nível de consumo igual ao do ano passado (38,0%). O índice (100 pontos) Momento para Duráveis Mau 32,0% Bom 60,4% Não sabe / Não respondeu 7,6% alcançou o segundo mais baixo resultado da série. O crédito mais caro e o nível de endividamento ainda vêm impactando negativamente a intenção de compras a prazo. O componente apresentou recuo de 2,5% na variação mensal e 6,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O item Momento para Duráveis apresentou aumento de 16,3% na comparação mensal. Esse resultado ainda não indica uma reversão da intenção de consumo desses bens, haja vista a base fraca de comparação no período. No ano, o item obteve uma queda de 12,2%. Aumento das taxas de juros, um novo patamar de taxa de câmbio e a ausência de medidas de estímulo vêm mantendo a intenção de consumo em um nível inferior ao do mesmo período do ano passado. Por corte de renda, as famílias com renda até dez salários mínimos registraram avanço mensal no quesito Momento para Duráveis, com variação de +16,0%, enquanto aquelas com renda acima de dez salários mínimos aumentaram 17,8%. Regionalmente, esse indicador variou de 153,2 pontos (Sul) a 117,5 pontos (Norte). Expectativas: Famílias ainda cautelosas em relação aos próximos meses As famílias apresentaram maior otimismo em relação ao mercado de trabalho na comparação mensal (1,8%). Esse resultado, mais uma vez, Perspectiva Profissional Positiva 63,4% Negativa 29,3% Não sabe / não respondeu 7,4% Março de 2014 não foi suficiente para elevar o otimismo em relação ao mesmo período do ano passado (-1,7%). A maior parte das famílias (63,4%) considera positivo o cenário para os próximos seis meses. O índice situou-se em 134,1 pontos, indicando um nível favorável de satisfação. Trabalhos Técnicos 4 Entre as classes de renda, destaque para a redução de 2,1% nas expectativas das famílias com renda abaixo de dez salários mínimos na base de comparação anual. O item Perspectiva de Consumo registrou recuo de 5,2% em relação a janeiro. Na comparação anual, o índice apresentou recuo de 0,8%. Nessa mesma base de comparação, as famílias com renda até dez salários mínimos registraram aumento de 1,4%, ao passo que aquelas com renda acima de dez salários apresentaram queda de 9,7%. As regiões Nordeste (156,5 pontos) e Norte (141,9 pontos) lideram o ranking regional de otimismo em relação ao consumo. Analisando as condições atuais e as perspectivas futuras da economia doméstica, a previsão da Divisão Econômica da CNC é que o volume de vendas do varejo obtenha um crescimento ao redor de 5,0% em 2014. Sobre a Intenção de Consumo das Famílias: A pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é um indicador antecedente que tem como objetivo antecipar o potencial das vendas do comércio. O indicador tem capacidade de medir, com alta precisão, a avaliação que os consumidores fazem dos aspectos importantes da condição de vida de suas famílias, tais como capacidade de consumo atual e de curto prazo, nível de renda doméstico, condições de crédito, segurança no emprego e qualidade de consumo presente e futuro. Os resultados da ICF podem ser avaliados sob dois ângulos. O primeiro é o grau de satisfação e insatisfação dos consumidores, por meio de sua dimensão, já que o índice abaixo de 100 pontos indica uma percepção de insatisfação, enquanto o acima de 100 (com limite de 200 pontos) indica o grau de satisfação em termos de seu emprego, renda e capacidade de consumo. O segundo ângulo é o da tendência desse grau de satisfação e insatisfação, por meio das variações mensais da ICF total. A ICF é composta por sete itens. Quatro deles – Emprego Atual, Renda Atual, Compra a Prazo e Nível de Consumo Atual – comparam a expectativa do consumidor em relação a igual período do ano passado. Os demais itens referem-se a perspectivas de melhoria profissional para os próximos seis meses, expectativas de consumo para os próximos três meses e avaliação do momento atual quanto à aquisição de bens duráveis. Para o comércio, a ICF cumpre um papel altamente relevante, ao fundir as percepções pessoal e familiar, capturando informações em todas as unidades da Federação. Tais Trabalhos Técnicos Março de 2014 5 informações são obtidas a partir de 18 mil questionários analisados mensalmente. Outro fator que destaca a ICF ante outros indicadores antecedentes baseados na percepção do consumidor é o seu caráter de curto prazo. As avaliações do consumidor em relação ao futuro são tomadas em um horizonte que varia de três a seis meses. Março de 2014 Trabalhos Técnicos