UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
GIRLANE MAYARA PERES
ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL
GERAL
Palhoça
2011
GIRLANE MAYARA PERES
ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de
Graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de
Psicólogo.
Área de Concentração: Psicologia e Saúde
Orientadora: Ana Maria Pereira Lopes, Msc.
Palhoça
2011
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GIRLANE MAYARA PERES
ESTRATÉGIAS PSICOSSOCIAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES NO
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL GERAL
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e
adequado à obtenção do título de Psicólogo e aprovado em
sua forma final pelo curso de Graduação em Psicologia da
Universidade do Sul de Santa Catarina.
Palhoça, 24 de novembro de 2011.
Professor e orientador Ana Maria Pereira Lopes, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Prof. Saidy Karolin Maciel, Dra.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Enf. Luizita Henckemaier, Msc.
Hospital Universitário de Santa Catarina
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço à minha família, que esteve comigo em todos os
momentos, compartilhando experiências, sentimentos, emoções, vivências. Agradeço todo
apoio e solidariedade.
Ao meu esposo, Jeferson Rodrigues, pela compreensão, paciência, incentivo,
acolhimento, cuidado que teve comigo e pelos longos e profundos debates que tivemos , a fim
de me auxiliar nas análises. Jef, você é um grande homem.
Aos meus pais, Carlos José Peres e Rogéria de Sousa Peres pelo carinho, apoio,
confiança que em mim depositaram para a realização dessa graduação e pela torcida para que
tudo desse certo em minha vida. Pai e mãe, obrigada pelo exemplo.
Agradeço aos meus amigos, Lara de Bruchard Costa, Kariny Louise Moser, José
Roberto Lacerda Silveira e Betânia Pedroso pelos sorrisos, palavras, ajudas, abraços,
gargalhadas, visitas. Vocês proporcionaram momentos inesquecíveis.
Agradeço à minha orientadora Ana Maria Pereira Lopes, pois esse trabalho
também foi possível pela sua dedicação, persistência, habilidade, acolhimento, exigências e
torcida. Com todo seu jeitinho, proporcionou aprendizagem, descobertas, amadurecimento e
novas maneiras de observar o fenômeno humano.
Aos meus amigos de orientação Patrícia Viríssimo e Everton Morfim Pelegrini,
pelo apoio, trocas, descontrações e gargalhadas. Tive a sorte e a felicidade de ter vocês como
companheiros de orientação. Foram momentos singulares.
Agradeço, aos membros da banca Saidy Karolin Maciel e Luizita Henckemaier
pela contribuição, e por terem acrescentado na construção de uma psicóloga.
Gostaria de agradecer à secretária do curso, Lívia da Cruz, e a secretária do
Serviço de Psicologia, Gabriela da Silva Schmidt, pelo apoio, ajuda, compreensão, pois sei
que se esforçaram e possibilitaram que minha vivência durante o curso fosse inesquecível.
Obrigada!
Por fim, agradeço a todos que fizeram parte da minha vida durante esse período.
Cada um, a seu modo, possibilitou a construção e o desenvolvimento de uma nova pessoa.
4
Família.
Família...
Todos temos,
Dela viemos.
Nela nascemos...
Então crescemos.
Para uns,
a família é só o pai,
para outros, só a mãe,
muitos só têm o avô...
Mas é família:
sinônimo de calor!
Tem família
que é completa,
repleta,
discreta,
seleta,
aberta...
Outra,
é engraçada,
atiçada,
afinada,
engrenada,
esforçada,
empenhada...
Mas tem família
complicada,
indelicada,
desajustada,
desacertada,
debilitada...
Família...
Família é assim:
lá não temos capa
- nada nos escapa!
Máscaras, como usar?
Não, não dá prá enganar!
Às vezes queremos fingir,
mas isto é apenas mentir...
E, é lá dentro de casa
que surge, cresce, aparece,
o lobo voraz,
o urso mordaz,
elefantes ferozes,
(com trombas e tudo)
leões velozes
com unhas e dentes
inclementes...
Família...
Família é lugar
onde convivem os diferentes:
um é risonho, outro tristonho;
5
um é exibido, outro inibido;
um é calado, outro exagerado;
um é cabeludo, outro testudo;
um é penteado, outro descabelado...
Família...
Família é assim:
nunca é possível contentar,
pois onde há diferenças,
haverá desavenças.
como a todos agradar?
Mas entre todos os valores
Cultivados entre nós
Há algo como uma voz
Muito enfática a dizer:
Cultive a educação,
faça lazer, haja afeição;
dê carinho, tudo aos seus!
Noélio Duarte
6
RESUMO
A história do hospital caracteriza-se por uma centralidade corporal e orgânica das
pessoas, não sendo encontrado neste espaço um projeto de consideração da subjetividade.
Nesse processo, os familiares acompanhantes se fazem presentes, e ainda que esteja vigente
uma Política Nacional de Humanização (PNH) no país, suas necessidades biológicas e
psicológicas, não são alvo de consideração pelo hospital, sendo necessárias por parte destes a
intensificação de estratégias para enfrentar sua permanência no Hospital . Assim, esse
trabalho tem como objetivo geral caracterizar as estratégias psicossociais utilizadas por
familiares no acompanhamento aos pacientes internados no Hospital Geral. Buscou-se,
também, identificar o cotidiano dos acompanhantes, as formas de convivência com o
sofrimento da pessoa internada, as atividades dos acompanhantes que propiciem bem-estar ao
paciente e as condições físicas disponibilizadas pelo Hospital Geral. Foi realizada uma
pesquisa de natureza qualitativa, do tipo descritiva e exploratória, com entrevista semiestruturada com seis familiares acompanhantes de um Hospital Geral e, para a análise dos
dados, utilizou-se a análise de conteúdo. Os resultados indicam que algumas pessoas são prédispostas no seu sistema familiar a serem acompanhantes, e são definidas por corresponder ao
padrão de funcionamento familiar. Em relação às estratégias psicossociais pelos
acompanhantes, algumas ocorrem pela realização de atividades ocupacionais. As motivações
que levam às escolhas dessas atividades são singulares a cada um, no entanto, o ambiente
hospitalar limita as escolhas e possibilidades. Percebeu-se que as atividades que os familiares
fazem para com o paciente estão relacionadas à atenção física, emocional e de prevenção de
danos. Destaca-se a importância do acompanhante no hospital, que pode qualificar e dar
suporte a permanência do paciente nesse espaço e auxiliar no enfrentamento de dificuldades.
Todavia, ações convergentes à PNH no hospital, a partir dos entrevistados, ocorre de forma
paulatina. Isso pode ocorrer devido à necessidade de mudar a cultura hospitalar e propor uma
nova forma de se fazer a gestão do hospital enquanto um serviço de saúde encaminhado pela
perspectiva biopsicossocial.
Palavras-chave: Hospital Geral; estratégias psicossociais; família.
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LISTA DE ABREVIATURAS
AVC - Acidente Vascular Cerebral
CEP- Comitê de Ética em Pesquisa
DECS- Descritores em Ciência da Saúde
ECA- Estatuto da Criança e Adolescente
IBEG- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PIB - Produto Interno Bruto
PNH- Política Nacional de Humanização
PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
MDS- Ministério do Desenvolvimento Social
MS - Ministério da Saúde
NOB- Norma Operacional Básica
OMS- Organização Mundial da Saúde
SC- Santa Catarina
SUAS - Sistema Único de Assistência Social
TCC- Trabalho de Conclusão de Curso
UNISUL- Universidade do Sul de Santa Catarina
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1: Cotidiano dos familiares acompanhantes na internação.....................................46
QUADRO 2: Convivência com o sofrimento do paciente durante a internação......................47
QUADRO 3: Atividades realizadas pelos familiares acompanhantes junto ao paciente..........48
QUADRO 4: Condições disponibilizadas pelo hospital aos familiares acompanhantes..........48
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SUMÁRIO
1INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11
1.1 PROBLEMÁTICA ............................................................................................................................... 12
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................................. 15
2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 23
2.1 OBJETIVO GERAL:............................................................................................................................. 23
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................................. 23
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 24
3.1 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL .................................................................................................... 24
3.2 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL NO BRASIL .................................................................................. 26
3.3 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR ....................................................................................................... 27
3.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR ................................................................................................................ 31
3.5 ASPECTOS HISTÓRIOS DA CONSTRUÇÃO FAMILIAR ........................................................................ 34
3.6 FAMÍLIA BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE ........................................................................... 35
3.7 A FAMÍLIA FRENTE À HOSPITALIZAÇÃO ........................................................................................... 38
4. MÉTODO ............................................................................................................................ 42
4.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................................................... 42
4.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAÇÃO ............................................................................... 42
4.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS......................................................................................................... 43
4.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE ................................................................................................................... 43
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................................................................ 43
4.6 PROCEDIMENTOS ............................................................................................................................ 44
4.6.1 Da seleção dos participantes ou fontes de informação......................................................... 44
4.6.2 Contato com os participantes ............................................................................................. 44
4.6.3 Coleta dos registros de dados ............................................................................................. 45
4.6.4 Organização, tratamento e análise dos dados...................................................................... 46
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 49
10
5.1 COTIDIANO DOS FAMILIARES ACOMPANHANTES NA INTERNAÇÃO............................................... 49
5.2 CONVIVÊNCIA COM O SOFRIMENTO DO PACIENTE DURANTE A INTERNAÇÃO ............................. 54
5.3 ATIVIDADES REALIZADAS PELOS FAMILIARES ACOMPANHANTES JUNTO AO PACIENTE ............... 60
5.4 CONDIÇÕES DISPONIBILIZADAS PELO HOSPITAL AOS FAMILIARES ACOMPANHANTES ................. 65
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 74
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 78
APÊNDICES ........................................................................................................................... 85
APÊNDICE A – REVISÃO BIBLIGRÁFICA DE LITERATURA .................................. 86
APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ................................................. 89
ANEXOS .................................................................................................................................. 90
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................. 91
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E
GRAVAÇÕES ......................................................................................................................... 93
11
1INTRODUÇÃO
Esta pesquisa está articulada ao Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde e
vinculado ao Estágio Obrigatório de psicologia em Hospital Geral. Este estágio foi
desenvolvido no Imperial Hospital de Caridade no município de Florianópolis/SC, onde a
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) possui parceria para a realização do
mesmo. Assim, a realização do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) junto ao estágio
obrigatório possibilita o desenvolvimento de aprendizagens, teorias, habilidades e
experiências da pesquisadora/estagiária, visto que no hospital são realizados atendimentos
individuais e em grupo com pacientes, familiares e acompanhantes. Os atendimentos
distribuídos nos diversos setores como Unidade de Tratamento Intensivo, Unidade
Coronariana, Unidade Oncológica, Clínica Médica entre outras, envolvem intervenções desde
o pré e pós cirúrgico até o ritual de despedida e escuta qualificada com o objetivo de
minimizar a ansiedade e sofrimento.
Portanto, a partir de experiências pessoais e de estágio no hospital a pesquisadora
optou pelo tema “Estratégias psicossociais utilizadas por familiares no acompanhamento de
pacientes internados em Hospital Geral” por compreender que a atenção dada aos familiares
pela instituição hospitalar precisa de aprimoramentos, sendo necessárias pesquisas sobre o
tema. Compreender como os familiares criam estratégias psicossociais para permanecer no
hospital pode auxiliar a gestão hospitalar, equipe de saúde e os próprios familiares a pensar
nas formas de permanência no hospital do familiar. Além de auxiliar também na compreensão
de que no hospital é necessário desenvolver prevenção do desenvolvimento de doenças e o
cuidado de todos a partir das tecnologias de cuidado.
Este projeto de pesquisa será apresentado em capítulos da seguinte forma:
introdução contendo o tema da pesquisa, problemática e justificativa. No segundo capítulo
serão apresentados os objetivos da pesquisa, subdivididos em objetivos geral e específicos.
No capítulo seguinte o leitor encontrará a fundamentação teórica que se subdivide em seis
subcapítulos: 1) A história do hospital geral, 2) A história do hospital geral no Brasil, 3) A
humanização hospitalar, 4) Psicologia hospitalar, 5) Aspectos históricos da construção
familiar, 6) Família brasileira na contemporaneidade e 7) Família frente à hospitalização.
Neste capítulo também é apresentada a perspectiva para a análise dos dados, qual seja, a
abordagem sistêmica. No quarto capítulo é apresentado o método da pesquisa com
informações acerca do tipo de pesquisa, delineamento, participantes da pesquisa, local para a
12
coleta de dados, instrumento de coleta de dados, análise dos dados, entre outros. O capítulo
seguinte compreende a apresentação e análise dos dados, o qual divide-se em quatro
subcapítulos intitulados: 1) Cotidiano dos familiares acompanhantes na internação, 2)
Convivência com o sofrimento do paciente durante a internação, 3) Atividades realizadas
pelos familiares acompanhantes junto ao paciente e 4) Condições disponibilizadas pelo
hospital aos familiares. Nesses capítulos encontrar-se-ão às categorias e subcategorias.
1.1 PROBLEMÁTICA
Os primeiros registros sobre a existência de hospitais datam do século IV. Neles,
as ações praticadas, tinham funções de caridade e cuidados vinculados à Igreja Católica. Após
a Revolução Industrial, os hospitais iniciaram uma transição entre caridade e medicina
hospitalar. Assim, surgiram grandes hospitais em toda a Europa com objetivos de terapêutica.
Após a Segunda Guerra Mundial, os hospitais já representavam um espaço para examinar,
investigar e tratar as condições de saúde da população, sendo considerados o centro do
sistema de saúde (NETO, BARBOSA, SANTOS, 2008).
No século XXI se estabeleceu uma centralização do modelo de atenção em saúde
no hospital e que, consequentemente, propiciou uma série de dificuldades. Os principais
problemas apresentados são a fragmentação e verticalização dos processos de trabalho,
centralidade do trabalho nas práticas médicas e preparo inadequado para lidar com as
dimensões subjetivas e sociais pela equipe e gestão. Destacam-se ainda o baixo investimento
na
qualificação
dos
trabalhadores,
mecanização
da
relação
trabalhador-paciente,
distanciamento dos profissionais no contexto da formulação e acompanhamento das políticas
públicas, entre outros (BRASIL, 2004).
Dessa forma, em 2001, o Ministério da Saúde (MS), implementou nos hospitais o
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) que visa mudar a
forma de assistência às pessoas que utilizam os hospitais no Brasil. Esse programa tem como
objetivos difundir uma cultura de humanização na rede hospitalar, melhorar a qualidade da
atenção aos usuários dos hospitais, capacitar os profissionais, implantar iniciativas de
humanização para beneficiar usuários e profissionais, articular as estratégias de humanização
da rede de saúde, desenvolver indicadores de resultados ao tratamento humanizado e tornar as
instituições mais harmônicas e solidárias (BRASIL, 2001).
13
Corroborando com a PNHAH foi criado, em 2004, pelo Ministério da Saúde, a
Política Nacional de Humanização (PNH), que define o conceito de humanizar: “ofertar
atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com
melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho de profissionais” (BRASIL,
2004 p.6). Assim, a PNH é uma política que opera transversalmente em toda a rede do
Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o direito dos usuários e familiares (BRASIL,
2004). Este direito, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve a pessoa em
todas as suas dimensões, como a biológica, social, psíquica, espiritual, entre outras. Destarte,
a PNH pretende “olhar cada sujeito em sua especificidade, sua história de vida, mas também
olhá-lo como sujeito de um coletivo, sujeito da história de muitas vidas” (BRASIL, 2004, p.
9).
A PNH tem como diretrizes, nos hospitais, a garantia de continuidade de
assistência, cuidados domiciliares após a alta hospitalar, equipe multiprofissional para
atendimento dos pacientes, família e rede social, mecanismos de escuta para os pacientes,
familiares e trabalhadores, acolhimento aos usuários, grupos de trabalho de humanização e
garantia do paciente de ter visita aberta com a presença de acompanhante e de sua rede social.
Assim, a PNH envolve toda a população existente no hospital. Entretanto, percebe-se que a
família dentro da instituição hospitalar não é considerada pela PNH, PNHAH e MS, pois ela é
citada de forma esparsa, indicando tão somente que serviços hospitalares devem incluir a
família nas ações em saúde de acordo com cada instituição.
Segundo Ferrari e Kaloustian (1994) família é o espaço para o desenvolvimento e
proteção de seus membros. Ela que propicia a base afetiva e material com o objetivo de
promoção de bem estar. É no núcleo familiar que são transmitidos educação, valores morais,
éticos e humanitários, e aspectos culturais. Cada família tem uma dinâmica de funcionamento
própria, caracterizada por um “sistema que troca materiais, energia ou informação com o seu
ambiente” (ANDOLFI, 1996, p. 16). A família é um sistema formado por unidades, nela, ao
ocorrer a modificação em uma das unidades, propiciará a mudança das outras, e a mudança
dessas outras unidades refletirá na unidade primitiva. Assim, na medida em que a família é
maior do que a soma das partes, já que existe o aspecto relacional, cada tipo de tensão seja
intra-sistêmica ou intersistêmica irá repercutir “no sistema de funcionamento familiar e
exigirá um processo de adaptação, isto é, uma transformação constante das interações
familiares” (ANDOLFI, 1996, p. 20).
Essa interação familiar pode ser percebida no âmbito hospitalar. Com o
adoecimento de um de seus membros, a família modifica a sua forma de agir frente ao mundo
14
e na sua relação com a família. A família, como faz parte do sistema, também se modifica,
alterando a relação entre as pessoas e tendo que se readaptar ao novo sistema. “Dessa forma,
os papéis são reajustados conforme modificações das pessoas individuais, das condições
internas, relacionais, e, às externas ao grupo como um todo” (ROMANO, 1999, p. 71).
Portanto, frente à internação de uma pessoa, as necessidades adaptativas dependerão de como
o evento se iniciou, dos recursos que essa família dispõe para lidar com essa crise e a
valorização que fazem dessa internação (O’CONNOR, 1983 apud ROMANO, 1999).
A hospitalização de um dos membros da família é um evento que gera estresse.
Como o equilíbrio do sistema é interrompido pelas necessidades internas e pelas
solicitações externas, a hospitalização é percebida como ameaçadora. Se o equilíbrio
não é restaurado, tem-se uma crise. As estratégias adaptativas usadas e seu sucesso
em restaurar o equilíbrio do sistema podem ser medidas pelas respostas individuais,
tanto motora quanto afetivas (ROMANO, 1999, p. 73).
Geralmente, a ansiedade da família ou do acompanhante familiar são devido a
incerteza sobre o prognóstico, falta de privacidade e de individualidade, ambiente
desconhecido e por vezes aterrorizante, separação física e/ou distância de casa sem amigos ou
outro familiar, entre outros. Esse afastamento tem como conseqüências a mudança nos papéis
da família, quebra das rotinas, sentimento de isolamento e de perda do controle (ROMANO,
1999). Nesse sentido,
[...] os profissionais devem estar atentos para o fato de que os membros de uma
família correm o risco de doenças físicas, diminuição da atenção, irritabilidade e
comprometimento da sua capacidade de decisão. Dessa forma, pode estar
comprometida a habilidade de entender políticas, rotinas e procedimentos do
hospital que parecem lógicos e racionais para a equipe. Apesar de ser reconhecido
por consenso o papel da família durante o processo do adoecer, não há uma
profissão da saúde que tome como seu este tema. É de todos e de ninguém. A
interação com a família é habitualmente vista como estressante, limitada e menos
que satisfatória, devido à falta de tempo (porque a atenção primeira é cuidar do
paciente) e também pela falta de formação e informação de como lidar com ela
(DUNKEL, 1983 apud ROMANO, 1999, p. 74)
Foucault (2006) afirma que o hospital é o lugar especializado das partes do corpo,
em que a pessoa é vista fragmentada tanto pela equipe como por ela mesma. Assim, decorre
da visão do autor, que pela natureza do hospital, muitas vezes a instituição se coloca em
direção inversa à visão integral da pessoa, que abrange dimensões, dentre elas, a familiar.
Além disso, o hospital é um lugar destinado ao tratamento e reabilitação, sendo as ações de
promoção e prevenção da saúde menores dentro de seus objetivos. Logo, o familiar
15
acompanhante, que pode precisar de ações de cuidado pode não receber, já que no hospital o
lugar para ele é reduzido, mas ampliado para a doença.
Entretanto, o familiar é uma pessoa presente no hospital e que acompanha o
paciente e está “internado” juntamente. Neste contexto, a inclusão da família no processo de
cuidado do paciente, depende da forma como a instituição concebe e formula ações de
acompanhamento hospitalar para a família. Depende também da maneira como a gestão do
serviço de saúde integra a família dentro da organização do processo de trabalho da equipe, e
como a equipe e família se relacionam no acompanhamento e cuidado ao paciente internado.
Os aspectos psicossociais do paciente e familiar fazem-se presente no hospital e, logo, as
pessoas devem receber atenção da equipe de saúde em relação a essas dimensões a fim de
proporcionar o cuidado integral. O termo psicossocial surgiu da idéia de que às mudanças das
pessoas e da sociedade ocorrem nos níveis físicos, psicológicos e sociais. E a partir disso,
ocorreu transformação relacionada à prática-médica na tentativa de integração da dimensão
social presente nas pessoas hospitalizadas. O temo psicossocial aparece como uma ruptura do
modelo biomédico vigente ao incluir as dimensões psíquicas e sociais na complexidade
humana (HALLIDAY, 1948).
Logo, as estratégias psicossociais que as famílias utilizam neste contexto para
vivenciarem o acompanhamento com o paciente permitem conhecer uma realidade que
possibilite ao familiar ter uma melhor qualidade de vida e no cuidado do paciente. Assim,
pergunta-se: quais as estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para
acompanhar os pacientes internados no hospital geral?
1.2 JUSTIFICATIVA
A política de Estado voltada para a Atenção à Saúde tem preconizado a inclusão
da família no processo de acompanhamento e participação nas ações em saúde, tendo em vista
que a família é co-participante do tratamento, desde diagnóstico ao tratamento da doença.
Referente a isso, de acordo com a Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2004), a
equipe deve se importar com o vínculo aos usuários e familiares e garantir seus direitos, além
de disponibilizar horário para atendimento à família e/ou à sua rede social. Entretanto, como
se tratam de diretrizes, a implementação dessa política depende de cada realidade e política da
instituição hospitalar, o que não garante atenção à família durante a internação do paciente.
16
Concomitante à PNH, as diretrizes da PNHAH (BRASIL, 2001) em relação à
família apontam a criação de um sistema de apoio psicológico e social a usuários e familiares;
implementação de formas de participação dos familiares dos usuários no cuidado e de apoio
às suas necessidades, assim como orientação e acompanhamento. Todavia, espaços para a
família ao acompanhamento e cuidado do paciente na internação hospitalar podem não ser
universais como recomendado, necessitando de aprofundamentos a partir de realidades locais.
É afirmado no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) no Art.
12 a permanência de tempo integral de um dos responsáveis pela criança, bem como cabe ao
hospital proporcionar condições para a permanência desse cuidador. Semelhante ao ECA, o
Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) Art. 16, indica o direito do idoso em ter um
acompanhante, o qual, legalmente, deve receber condições adequadas para a sua permanência
em tempo integral. Na carta dos direitos aos usuários da saúde, no terceiro princípio, que
assegura às pessoas atendimento acolhedor, tem-se escrito que o paciente tem “direito ao
acompanhamento por pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e internações”
(BRASIL, 2007, p. 5). Em 2005, foi implementado a Lei Estadual em Santa Catarina (SC,
2005), n. 13.324. Esta informa que se o paciente desejar, ele tem o direito ao acompanhante
tanto nas consultas quanto nas internações. No entanto, é ausente nas diretrizes políticas da
saúde sobre os direitos e deveres dos familiares dentro das unidades hospitalares. Dessa
maneira, os familiares podem encontrar dificuldades para se empoderarem e criarem melhores
estratégias psicossociais em relação ao acompanhamento do paciente no hospital.
A relação paciente-família-equipe justifica-se, pois a família no processo de
internação hospitalar, por vezes, encontra-se fragilizada, desabilitada de suas funções
cotidianas, em desconforto tanto físico quanto psíquico. Este momento exige um atendimento
com inclusão e atenção além de uma escuta qualificada em que o familiar sinta-se pertencente
no processo saúde-doença-cuidado (PIERRE, 2006).
A ausência da inserção da família na atenção em saúde pela equipe de saúde
hospitalar tem como conseqüência a tensão, o conflito e a inexistência de vínculo entre o
familiar e a equipe de saúde.
Dessa forma, é necessário “pensar e articular espaços
institucionais para analisar, refletir, discutir e exercitar modelos de assistência pautados na
coordenação do processo de cuidar que incluam a família” (DELL’ACQUA, 2008, p. 118), já
que o processo de humanização pauta a valorização dos sujeitos implicados no processo de
bem estar do paciente e seu familiar.
No entanto, para Foucault (1987) a disciplina e vigilância têm sido atributos que
se destacam na prática hospitalar, pois o exercício de manter o controle sobre as ações das
17
pessoas internadas requer um modelo pautado em normas sem flexibilidade. Logo, a família
seria um elemento de ameaça, porque influencia no êxito deste controle com o paciente. Por
outro lado, quando a equipe compreende que a família deve ser incluída no processo de
cuidado com a pessoa internada, o familiar contribui apenas com uma parcela de
responsabilidade do próprio hospital promovendo em conjunto a recuperação do
paciente/familiar (MARCON, et al, 2005).
Na pesquisa de Moreno (2007) com enfermeiros, estes apontaram que quando a
família está junto com paciente durante o processo de internação, há demonstração pelo
paciente de maior adesão ao tratamento, o que aproxima a relação entre paciente-família no
tratamento após a alta. Todavia, o “estar junto” do familiar nos cuidados em saúde no hospital
para que qualifique ainda mais a adesão do paciente ao cuidado, faz com que, por um lado, o
familiar contribua positivamente, mas por outro lado ele pode se sentir sobrecarregado. A
sobrecarga familiar pode gerar estresse emocional repetido, podendo torná-lo doente e
dependente como aquele de quem está sendo cuidado (BRITO, RABINOVICH, 2008).
É importante neste contexto a reflexão que o familiar faz sobre seus sentimentos,
emoções e ações no acompanhamento do paciente, pois esta análise implica na forma como o
familiar se percebe e se posiciona em relação ao espaço que está inserido. Tendo em vista que
o lugar onde o familiar se reconhece necessita de reflexão crítica para que novas estratégias
psicossociais sejam propostas e a rotina não se torne uma dificuldade ainda mais no
acompanhamento.
Além disso, compreendendo as formas possíveis de vivenciar a situação, o
familiar poderá criar suas próprias estratégias psicossociais para a permanência no hospital e,
após alta hospitalar, inclusive para dar suporte ao paciente e a outros familiares. Portanto,
pesquisar a forma como a família vivencia o acompanhamento e cuidado do paciente na
situação de internação, a partir de sua perspectiva justifica-se, pois estas estratégias podem se
tornar novas formas de cuidado pela equipe e melhorar a qualidade da assistência à famíliapaciente.
Na busca por estudos que subsidiassem esse projeto foi feita uma pesquisa por
meio dos radicais das palavras família e hospital no DeCS (Descritores em Ciência da Saúde)
da biblioteca Virtual em Saúde, os quais foram acessados artigos nacionais indexados nas
bases de dados scielo1 e bireme2. Em uma primeira tentativa, procurando por palavras no
título e assunto, foram encontrados 589 artigos.
1
2
www.scielo.com.br
www.bireme.com.br
Destes, 559 foram descartados porque
18
apresentavam temas sobre hospital psiquiátrico, pré-natal, saúde mental na atenção básica,
relação enfermeiro/paciente, relação da equipe de enfermagem, criança hospitalizada,
violência doméstica, neoplasias, entre outros. Foram selecionados 30 artigos publicados entre
1997 e 2010 que encontravam-se próximos ao objeto da pesquisa3. Optou-se por manter os
estudos de crianças acompanhadas, ainda que estes possuam direitos legais nacionais para o
acompanhamento, enquanto que os adultos não. A permanência desse grupo populacional na
pesquisa deu-se pelo fato de que acompanhantes de crianças também necessitam criar
estratégias para a permanência no hospital.
Os estudos de Pereira e Graças (2003), Beuter, Brondani, Szareski et al (2009),
Leite e Cunha (2007), Valadares e Paiva (2010), Henckemaier (2002) destacam-se, pois as
demandas que a família apresenta durante a internação hospitalar não é vista pela equipe de
saúde como sua atribuição. Isso ocorre já que o foco da atenção está na pessoa doente e não
no familiar, que está ali, conforme os autores, para auxiliar a equipe. Assim, percebe-se que
os cuidados às famílias preconizados pela PNH (BRASIL, 2004) e PNHAH (BRASIL, 2001)
podem não ser cumpridos. Isso pode ocorrer por vários motivos, dentre esses o não interesse
do hospital na família, número insuficiente de profissionais para atender a demanda familiar,
falta de capacitação dos profissionais, entre outros.
Valadares e Paiva (2010) destacam que existem poucos estudos que apontam as
estratégias da equipe de saúde em relação à inclusão da família como demanda. Entretanto há
trabalhos voltados para a relação enfermagem e família. Henckemaier (2002) diz que a equipe
de enfermagem está preparada para atender a patologia e não às pessoas que estejam
internadas ou família. Este fato ocorre, dentre outros fatores, segundo Henckemaier (2002) e
Moreno (2007) quando na formação profissional não há a sensibilização e/ou preparo do
aluno/enfermeiro sobre a temática família, ficando estes profissionais com uma lacuna na
formação. Consequentemente, caso os profissionais não busquem qualificação e/ou seja
inexistente a educação em serviço pela gestão, terão dificuldades de atender o familiar ou
sequer percebê-lo como parte do trabalho.
Ainda sobre o preparo profissional, Monticelli e Boehs (2007); Tavares, Queiroz e
Jorge (2006); Pinho e Kantorski (2004); Pinto, Ribeiro e Silva (2005); Escher e Cogo (2005);
Moreno (2007); Silva (2008) Centa, Moreira, Pinto (2004) e Andraus, Minamissava, Munari
(2004) afirmam que o hospital e a equipe de saúde, apesar de verem a família como demanda,
não estão preparados para atendê-la.
3
Foi construída uma tabela contendo os seguintes tópicos: ano, autor, título para que se pudesse demonstrar a
realidade das produções científicas referentes ao objeto de estudo (Anexo I).
19
Além do preparo profissional, Tavares, Queiroz e Jorge (2006) informam que a
implementação da prática hospitalar que envolva o familiar encontra dificuldades relativas à
organização dos serviços, políticas que apóiem mudanças necessárias, bem como a
capacitação profissional e infra-estrutura hospitalar, já que, a instituição é caracterizada por
estruturas rígidas e normativas. Corroborando com esse autor, Andraus, Minamissava, Munari
(2004, p.207) dispõem que a equipe de saúde pouco valoriza as interações com a família e que
a implementação de ações para a família encontra muitos “desafios de ordem operacional, em
razão da infra-estrutura e da organização dos serviços, bem como das condições políticas,
econômicas e culturais”. Além de constatar a necessidade do melhor preparo técnicocientífico dos profissionais de saúde para atender o familiar. Dessa forma, conclui-se que
identificar as estratégias psicossociais dos familiares acompanhantes durante a internação
pode auxiliar a equipe e hospital na capacitação dos profissionais de saúde e, assim, cumprir a
PNHAH (BRASIL, 2001).
Na perspectiva da família, os estudos de Escher e Cogo (2005) afirmam que o
familiar acompanhante encontra, além das dificuldades do não reconhecimento da sua
demanda de sofrimento, condições precárias de infra-estrutura. A identificação pelos
familiares da forma como estes enfrentam as possíveis dificuldades em relação à infraestrutura, permite à gestão hospitalar pensar em formas de cuidar dessas pessoas nessa
condição. Silva (2008) complementa que na prática institucional as informações prestadas
pela equipe não superam as necessidades do familiar, gerando aflição e angústia. Centa,
Moreira, Pinto (2004) afirmam, mesmo com as informações prestadas, os familiares sentem
mais necessidade de informação, orientação, aconselhamento e apoio.
Costa, Mombelli e Marcon (2009); Tavares, Queiroz e Jorge (2006); Crepaldi e
Varella (2000); Pinho e Kantorski (2004); Pettengill (2005); Leite e Cunha (2007); Escher e
Cogo (2005); Henckemaier (2002); Silva (2008); Montefusco, Bachion e Nakatani (2008)
salientam em suas pesquisas, os sentimentos apresentados pelos familiares durante a
internação. Costa, Mombelli e Marcon (2009, p. 321), em seu artigo sobre o acompanhamento
das mães com crianças durante a internação hospitalar, apontam que o estado afetivo delas é
demonstrado por sentimentos tais como “temor, ansiedade, desespero, impotência, saudade,
solidão, preocupação, insegurança, medo, tristeza, entre outros”. Percebe-se que as pesquisas,
em geral, apresentaram sentimentos dos familiares que possuíam crianças internadas, pessoas
na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e de familiares que alteram o cuidado com outros
familiares, dividindo a responsabilidade. Entretanto, ainda são necessários estudos para
20
identificar sentimentos do familiar acompanhante de adultos que permanecem internados
junto ao paciente no hospital.
Escher e Cogo (2005) afirmam que o familiar acompanhante expressa vários
sentimentos como o medo e insegurança de assumirem alguns cuidados e prazer e satisfação
de poder estar ajudando no cuidado. Crepaldi e Varella (2000) afirmam que os familiares de
crianças internadas demonstram vivenciar um estado de ansiedade generalizado não sabendo
nomear o profissional que os atendeu além de lembrarem de informações fragmentadas das
suas necessidades imediatas. Pettengill (2005) concluiu que, na internação de uma pessoa do
núcleo familiar, a família sente sua autonomia ameaçada, ficando vulnerável já que são
retirados seus poderes e as possibilidades de escolha, visto que têm que se submeterem à
situação de internação.
Leite e Cunha (2007) apontam quatro mudanças significativas nos familiares
acompanhantes: a emocional, social, financeira e impacto nas atividades rotineiras.
Complementando, Montefusco, Bachion e Nakatani (2008) informam que 100% dos
familiares entrevistados demonstraram tensão devido ao papel de cuidador, 75% das famílias
sentiram-se prejudicadas no que tange a comunicação verbal, 66% prejudicada a manutenção
do lar, 66% apresentaram ter processos familiares prejudicados e 25% dos familiares
alegaram que a interação social estava prejudicada. Henckemaier (2002, p.404) aponta que
são constantes as experiências da equipe vividas com famílias nervosas, descontroladas e
fragilizadas com a situação da doença, além de terem “de fazer parte de uma instituição cujo
ambiente é sombrio, diferente e permeado de normas e rotinas a serem respeitadas a partir do
momento da internação, também causa transtornos à vida familiar”.
Costa, Mombelli e Marcon (2009, p. 318) afirmam que há, ainda, outras
preocupações que advém dos filhos, esposo/esposa, trabalho e outras que se apresentam fora
do ambiente hospitalar. Assim, a internação hospitalar constitui, por vezes, um fator
conflitante para a família, visto que exige desta uma nova organização. “A família, então,
defronta-se com duas tarefas: cuidar da criança doente e lidar com as emoções, a maioria das
vezes inconscientes, que passam a transformar as relações entre seus membros”.
Em relação às estratégias utilizadas pela equipe para o atendimento familiar
Bomfim e Bastos (2007); Oliveira (2004); Soares e Leventhal (2008); Carneiro (2008);
Gomes, Erdmann e Busanello (2010); Dell’Acqua (2008); Carvalho e Rossi (2006); Pinto,
Ribeiro e Silva (2005), Pettengill e Angelo (2006) apontam que a instituição hospitalar e a
equipe de saúde tem influência durante o acompanhamento do familiar e que devem
apresentar às famílias alternativas psicossociais para melhorar a qualidade de vida e/ou
21
reforçar as já existentes. Em relação a isso, Bonfim e Bastos (2007) informam que esse
objetivo deverá ser atendido com eficácia se a instituição tiver profissionais específicos para
esse fim, como o psicólogo hospitalar.
Pinto, Ribeiro e Silva (2005) informam que mesmo que a equipe não tenha
conhecimento de como cuidar da família, esta última aciona os profissionais no intuito de
minimizar seu sofrimento. Entretanto, a equipe de saúde deve estar atenta quando a
manifestação do familiar apresenta-se por agressividade, medo, dificuldade de compreensão
da situação, pois isto requer do profissional uma qualificação que desmistifique tais
comportamentos. Assim, mesmo que a equipe esteja qualificada, esta qualificação deve vir ao
encontro de como o familiar se organiza, estrutura e enfrenta a situação hospitalar, para
posteriormente ter um atendimento pela equipe de saúde.
Soares e Leventhal (2008, p. 327) identificaram as principais estratégias utilizadas
pela equipe de enfermagem para o atendimento ao familiar como “manter diálogo, transmitir
confiança técnica, compreender e respeitar o outro e respeitar as normas do hospital”.
Carneiro (2008) informa algumas estratégias utilizadas pelo enfermeiro para o atendimento à
família, salienta que o enfermeiro não precisa dispor de um tempo além do já disponibilizado
e que o profissional deve fazer um bom uso das palavras proporcionando carinho, segurança e
conforto, sendo a estratégia ouvir a pessoa, estar disponível e ter interesse pelo outro.
Corroborando com Carneiro (2008), Gomes, Erdmann e Busanello (2010, p.146)
dizem da importância da sensibilidade do enfermeiro em compreender os sentimentos dos
familiares que vivenciam a internação, sendo que este deve estar alerta às necessidades e as
novas demandas do familiar. A presença do familiar “requer que os profissionais de
enfermagem realizem uma avaliação da unidade familiar com dados sobre seu ciclo vital, sua
composição, uso dos recursos sociais, econômicos e pessoais, suas crenças e cultura”.
Carvalho e Rossi (2006, p.252) dizem que a família precisa ter comunicação com
a equipe, segurança emocional e serviço de apoio disponíveis. É necessário “que a própria
equipe de saúde permita uma maior aproximação com os familiares para ouvi-los, conhecêlos, apoiá-los, explorar seus recursos e dificuldades, trocar saberes e ajudá-los”, além de
auxiliarem no papel de cuidado da pessoa internada, minimizar seu sofrimento.
Destaca-se o estudo de Oliveira (2004) por apresentar proximidade com o objeto
de pesquisa. Este relata algumas estratégias de psicossociais dos familiares, contudo se refere
a familiares de internados em UTI. Dentre os entrevistados, 94% dos familiares apresentam
reavaliação positiva, sendo este um mecanismo de enfrentamento que está baseado nas
estratégias aprendidas baseadas nas experiências de vida, 88% utiliza o suporte social, 84%
22
resolução de problemas, 78% auto-controle, 78% fuga-esquiva, 54% aceitação de
responsabilidade, 32% confronto com a realidade e 30% afastamento do problema. Assim, é
preciso que o profissional fique atento às formas de enfrentamento da família para dar o
suporte necessário.
Portanto, constata-se com esta revisão de literatura, que as estratégias
psicossociais utilizadas pelas famílias que acompanham as pessoas internadas necessitam de
pesquisas e produções que contribuam com a prática profissional em face da presença de
famílias de pessoas internadas com vistas às políticas de humanização na internação.
23
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL:
Caracterizar as estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para
acompanhar os pacientes internados no Hospital Geral.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Descrever o cotidiano dos familiares durante o acompanhamento de familiar
internado no Hospital Geral;
• Identificar formas de convivência com o sofrimento do acompanhante familiar
advindas da patologia do paciente durante a internação hospitalar;
• Identificar atividades realizadas pelos familiares acompanhantes que propiciem
bem-estar ao paciente;
• Identificar as condições disponibilizadas pelo Hospital Geral aos familiares
acompanhantes de pacientes internados.
24
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL
Na Grécia Antiga, aproximadamente no século VI a.C., Hipócrates criou uma
corrente na medicina, cujo objeto era a pessoa doente em sua totalidade, ou seja, observava
aspectos como o temperamento da pessoa, ambiente em que ela estava inserida, aspectos
sócio-culturais. Assim, a doença se manifestava a partir da reação global da pessoa, em que a
terapêutica objetivava “restabelecer a harmonia da pessoa com seu ambiente e consigo
mesma” (RIECHELMANN, 2002, p. 175). No entanto, no século I d.C., Galeno propôs outra
corrente à medicina, a qual tinha como objeto a doença, vista como algo autônomo em relação
à pessoa, sendo a terapêutica localizar a doença e extirpá-la (RIECHELMANN, 2002).
Os primeiros registros de aparecimento do hospital no mundo ocorreram no
século IV depois de Cristo. Estes funcionavam a partir da orientação religiosa cristã, que
coordenava a organização interna, administração e o cuidado à pessoa. Muitos desses
estabelecimentos eram conhecidos como “Casas de Deus” ou “Casas de misericórdia”, em
que destacavam a “cura” espiritual em relação à física. Entretanto, tais hospitais
desempenhavam também o papel de exclusão social, retirando a população enferma do
convívio social e a acolhendo. Assim, o hospital representava um espaço exclusivo para
pobres que apresentavam ameaça a coletividade (FOUCAULT, 1979).
No final da Idade Média o modelo hospitalar vigente começou a passar por
modificações políticas, econômicas e sociais conseqüentes da transição social da época. A
assistência hospitalar começou a perder o enraizamento cristão, não sendo administrado
exclusivamente pela Igreja, mas também pela cidade (ROSEN, 1980). A partir da Revolução
Industrial surgiu um novo olhar à assistência hospitalar devido às transformações econômicas
e sociais. Surgiram grandes hospitais gerais em toda a Europa e o foco estava nas pesquisas,
experiências e modernização hospitalar (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008). Nesse
período, a orientação adotada para a reorganização era a vigilância e registro constante das
pessoas que estavam internadas na instituição (FOUCAULT, 1979).
O passo seguinte da história hospitalar consistiu na conquista médica do espaço na
instituição, não sendo mais um espaço de caridade. Destarte, as pessoas que possuíssem
qualquer patologia passaram a ir ao hospital em busca da cura, e o hospital ganhou o status de
medicalizador. Essas foram às circunstâncias em que se formou o hospital moderno. Nele a
25
intervenção terapêutica orientou-se por uma nova perspectiva, qual seja, centrada no exame
clínico do paciente. Em relação ao locus da medicina, lugar o qual Porter (2004, p. 165) faz
analogia: “o hospital de hoje está para a medicina como a catedral para a religião e o palácio
para a monarquia”.
O médico tinha como dever ensinar às pessoas as regras de higiene e, em
contrapartida, estes precisam respeitar em benefício da sua própria saúde e da dos outros. No
entanto, as desordens do hospital, a dificuldade de tratar efetivamente os doentes e a precária
vigilância médica fizeram do hospital um instrumento inadequado. Por isso, foram elaboradas
duas novas propostas: ajustar o hospital em um espaço urbano, hospitais grandes para acolher
uma população numerosa, os cuidados seriam agrupados a fim de facilitar o controle e ter
menos gastos, ou construir hospitais pequenos, onde os doentes seriam melhor vigiados e os
riscos de contágio seria menor. Outra modificação ocorreu no sentido da disposição interna do
hospital, “de modo a torná-lo medicamente eficaz: não mais um lugar de assistência, mas
lugar de operação terapêutica”. O controle estava fazia-se presente nos espaços sociais,
exemplo disso são o suprimento dos fatores que o tornavam perigoso para os doentes como
problemas de circulação de ar e lavagem da roupa de cama, sistemas de observação,
anotações e registros (FOUCAULT, 1979, p. 205).
O século XIX é marcado por um período de descobertas científicas da medicina,
principalmente pelo surgimento de áreas como a medicina anatomoclínica, bioquímica e a
microbiologia, que solidificaram a relação hospital e medicina moderna. A partir da
incorporação de novos instrumentos e técnicas para a realização dos exames físicos a
intervenção terapêutica orientou-se pela perspectiva centrada no exame clínico do paciente,
observando sintomas e sinais apresentados. “A instituição hospitalar passa, então, a
representar o espaço ideal para que os médicos examinem, tratem e investiguem essas
condições mórbidas” (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 674).
O período que se segue à Segunda Guerra Mundial é, portanto, de difusão e
radicalização de um determinado padrão de assistência à saúde, fundado no hospital
moderno, organização idealmente projetada em edificações arrojadas, que abriga um
grande número de leitos, que busca reunir o mais amplo e diversificado corpo de
especialistas e concentrar o mais atualizado e completo parque de equipamentos
(NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008, p. 676).
Após a Segunda Guerra Mundial, os hospitais foram considerados os centros do
sistema de saúde; estes, por sua vez, classificados de hospitalocêntrico. O hospital como
centro consiste em um “modelo de atenção à saúde em que prevalece a hegemonia das
26
práticas hospitalares e curativas, em detrimento de práticas extra hospitalares, em especial de
atenção primária4, tanto preventivas quanto curativas” (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008,
p. 677).
3.2 A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL NO BRASIL
A fundação do primeiro hospital no Brasil deu-se em 1543, na cidade de Santos,
São Paulo, com o nome de Hospital de Todos os Santos, que posteriormente mudou para
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008).
No Brasil, a explosão do desenvolvimento dos hospitais ocorreu, principalmente, nas décadas
de 1940 e 1950, quando estes utilizam a maior parte dos recursos financeiros destinados à
saúde. No entanto, este modelo de saúde baseado no hospital levou à crise no sistema
econômico do país, visto que, os hospitais passaram a consumir grandes parcelas do PIB.
Logo, no século XX, o âmbito da assistência médico-hospitalar possuía preocupação de
ordem econômica e de racionalização dos gastos. Destarte, foi o início da “formulação de um
novo modelo de organização do cuidado à saúde” criando um sistema integrado de serviço de
saúde em que a atenção básica passa a ser o centro do sistema da saúde (NETO; BARBOSA;
SANTOS, 2008, p. 679). Assim, com as ações na Atenção Básica, o foco passou a ser a
promoção da saúde e prevenção da doença, e quando necessário o atendimento ambulatorial,
ou mesmo o hospitalar.
Após a Constituição de 1988 uma série de práticas do poder executivo do setor
saúde do Estado foi ofertada à população e com novas características como: o esforço por
constituir serviços voltados à proteção, aos direitos humanos, à atenção integrada,
interdisciplinar, transdisciplinar e intersetorial e a promoção à saúde. No entanto, essas novas
práticas de cuidado, que inclusive foram tensionadas ao modelo de saúde hospitalar, são
novidades no cenário de saúde e social. Por conseguinte, profissionais não se encontram
preparados para essa forma de atendimento, além de predominar toda uma lógica hospitalar
de saúde (NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008).
Nessa nova reorientação, os hospitais deveriam fazer parte de um nível de atenção
em saúde onde o paciente deve permanecer o menor tempo possível dentro da instituição, isso
com o intuito econômico, e também de não afastá-lo de seu meio familiar e social
4
Em 1978, ocorreu a Conferência Internacional da Atenção Primária intitulada de declaração de Alma-Ata. Esta
reafirma que a saúde é a principal meta do governo e que todas as pessoas têm direito, dando destaque a Atenção
Primária em Saúde (ALMA- ATA, 1978).
27
(STOECKLE, 1995 apud NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008). Deslandes (2004) aponta
algumas dificuldades psicossociais apresentadas pelos hospitais, destacam-se
a deficiência do diálogo, a debilidade do processo comunicacional entre
profissionais e usuários e entre profissionais e gestores, repercutindo de forma
negativa no cuidado prestado. O desrespeito à palavra e a falta de troca de
informações, a debilidade da escuta e do diálogo promoveriam a violência,
comprometeriam a qualidade do atendimento e manteriam o profissional de saúde
refém das condições inadequadas que não raro lhe imputam desgaste e mesmo
sofrimento psíquico (DESLANDES, 2004, s/n.)
É com base na crítica às instituições hospitalares como espaços de não
cumprimento à integralidade foi implementado, em 2001, o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH)
3.3 A HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR
Em 2001 foi implementado pelo Governo brasileiro o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) (BRASIL, 2001, p. 14), cujo objetivo
refere-se à criação de uma nova cultura hospitalar, em que propõe uma nova forma de ser e
fazer os serviços de saúde, seja ela o respeito à pessoa, melhores condições de trabalho aos
profissionais, melhor qualidade no atendimento, capacitação dos profissionais para um novo
conceito em saúde pautado pela humanização. Além desses, são também objetivos da
PNHAH “conceber e implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que venham a
beneficiar usuários e os profissionais de saúde”, fortalecer e articular as formas de
humanização já existentes na rede de saúde, estimular a realização de parcerias de troca de
experiências. A PNHAH também objetiva, desenvolver indicadores de resultados e incentivos
ao tratamento humanizado e “modernizar as relações de trabalho no âmbito dos hospitais
públicos, tornando as instituições mais harmônicas e solidárias”. No entanto, esse programa
“depende da vontade política dos dirigentes [dos hospitais] em participar de ações efetivas e
permanentes de transformação da realidade hospitalar” (BRASIL, 2001, p. 12).
Geralmente emprega-se a noção de "humanização" para a forma de assistência que
valorize a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao
reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e referências culturais.
Implica ainda a valorização do profissional e do diálogo intra e interequipes
(DESLANDES, 2004, s/p.)
28
A proposta do MS é a criação de uma rede entre os hospitais públicos do país e de
Grupos de Multiplicadores de Humanização Hospitalar. Esses grupos irão trabalhar com o
intuito de treinamento e capacitação de pessoas que levarão o processo de humanização aos
hospitais com apoio das Secretarias de Saúde. Além desses grupos, deverão ser formados
Grupos de Trabalho de Humanização Hospitalar constituídos pelos próprios trabalhadores do
hospital e são dispositivos para as mudanças institucionais como a cultura hospitalar e a
promoção e respeito às pessoas. Eles deverão:
difundir os benefícios da assistência humanizada; pesquisar e levantar os pontos
críticos do funcionamento da instituição; propor uma agenda de mudanças que
possam beneficiar os usuários e os profissionais de saúde; divulgar e fortalecer as
iniciativas humanizadoras já existentes; melhorar a comunicação e a integração do
hospital com a comunidade de usuários (BRASIL, 2001, p. 16).
O processo de trabalho dos Grupos de Trabalho de Humanização Hospitalar se
expressa em quatro planos: pedagógico, político, subjetivo e comunicativo. O primeiro
contribui com a educação permanente, bem como a promoção de eventos educativos e
treinamentos. O plano político dá-se pela realização da democratização das relações de
trabalho, permitindo a expressão de todos os setores, ouvindo reclamações e críticas. O
terceiro plano está relacionado aos trabalhadores, em que reflete com eles como e para que se
trabalha em uma organização hospitalar. Por último, o plano comunicação, em que o grupo
deverá criar fluxos de informação aos profissionais sobre o tema humanização (BRASIL,
2001).
O processo de humanização é o rompimento da separação mente e corpo e a
concepção de um novo paradigma, já proposto por Hipócrates, seja ele, o olhar para a pessoa
como um todo, que valoriza os aspectos históricos, subjetivos, culturais e biológicos da
pessoa que está sendo assistida. “Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética”, ou
seja, a dor e o sofrimento expressos pelas pessoas em palavras necessitam ser reconhecidas
pelo outro (BRASIL, 2000). No entanto,
ainda não são consensuais os contornos teóricos e mesmo operacionais do que se
convencionou designar como humanização, sua abrangência e aplicabilidade não
estão inteiramente demarcadas. Considerando a organização e estrutura física das
instituições de saúde da rede pública, a formação biomédica, as relações de trabalho
e sua lógica de produção, haveria espaço para mudanças estruturais e para a
implementação de novos conceitos e práticas, voltados para a humanização da
assistência (DESLANDES, 2004, s/p.)?
29
Para isso, Merhy (2002) propôs práticas de cuidado, as quais valem para todos os
lugares onde se pensa em humanização. Na perspectiva de Merhy (2002), ele buscou
compreender as tecnologias de cuidado, sendo elas a leve, leve-dura e dura. A tecnologia leve
é a parte da relação entre a pessoa que recebe o cuidado e o profissional. A tecnologia levedura dá-se pelos saberes e conhecimentos técnicos, enquanto a dura está centrada nas
máquinas e procedimentos. Dessa forma, uma tecnologia de cuidado complementa a outra,
entretanto, a tecnologia leve deveria conduzir todo o trabalho, visto que a humanização
depende do diálogo entre cuidador e cuidado (BRASIL, 2000); (DESLANDES, 2004). Assim,
mesmo quando for necessário realizar uma intervenção de tecnologia dura, deve-se ser
realizado a leve também. Conforme o Ministério da Saúde
as tecnologias e os dispositivos organizacionais, sobretudo numa área como a da
saúde, não funcionam sozinhos – sua eficácia é fortemente influenciada pela
qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre profissionais
e usuários no processo de atendimento (BRASIL, 2001, p.5).
Merhy (2002) utiliza a idéia do trabalho vivo que está ligado às três tecnologias e
pautado na relação, produção de vínculo, acolhimento, conhecimento técnico, equipamentos,
entre outros. Para exemplificar pode-se fazer referência ao trabalho do médico: a tecnologia
dura deste profissional é o momento que ele medica, prescreve; a leve-dura é quando ele fala
das relações que a pessoa pode ter com o consumo de sal; já a tecnologia leve é quando ele
escuta a pessoa buscando suas possibilidades de compreensão e relação com a prática
estabelecida. Portanto, se em um atendimento não passar pelas três tecnologias, e o
profissional não se relaciona com a pessoa atendida, é considerado um trabalho morto.
Desse modo, não há como realizar uma intervenção apenas com tecnologia dura,
pois esta caracterizar-se-ia como violenta. Por exemplo, se uma pessoa chega a um serviço de
saúde para ser atendida e o trabalhador não a olha, não explica qual o procedimento que será
realizado, não informa, entre outros, isso pode ser considerado um tipo de violência. Concluise que a pura tecnologia dura no cuidado é violência. Tal como aponta Merhy (1999, p.3): o
usuário sente-se “desinformado, desamparado, desrespeitado, desprezado, depreciado”
Corroborando com Merhy (1999), Deslandes (2004. s/p.) diz que resgatar a
humanização é ir contra a violência tanto física como psicológica “que se expressa nos ‘maustratos’, seja simbólica, que se apresenta pela dor de não ter a ‘compreensão de suas demandas
e suas expectativas’ ouvidas e compreendidas”. Portanto, se a equipe de saúde entender esse
30
processo de cuidado, estará cuidando das pessoas. Em relação ao cuidado, o Ministério da
Saúde aponta que, para os usuários
a forma do atendimento, a capacidade demonstrada pelos profissionais de saúde para
compreender suas demandas e suas expectativas são fatores que chegam a ser mais
valorizados que a falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais, a falta de
medicamentos (BRASIL, 2001, p. 5)
Assim, além da PNHAH o Ministério da Saúde desenvolveu a Política Nacional
de Humanização, que abrange todos os níveis de atenção (PNH) (BRASIL, 2004). A PNH
tem como intuito romper as barreiras do modelo centrado na técnica trazendo a
transversalidade como princípio levando a mudanças da cultura vigente. Este último ponto é
corroborado pelo PNHAH. Dessa forma, para a PNH, humanização envolve o cuidado as
esferas da pessoa como
garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular a que eles se
coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social,
mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho
de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co-gestores
de seu processo de trabalho (BRASIL, 2004, p. 7).
Portanto, a PNH planeja potencializar, mobilizar e autonomizar os atores sociais,
pois poderão transformar a realizada existente na saúde. Para isso, como a PNHAH, a PNH
tem como a rede de saúde uma estratégia para a implementação da política. Nela, devem
participar todos os atores sociais como usuários, cidadãos, gestores, trabalhadores da saúde,
trabalhadores da assistência social, entre outros. Essa rede tem como proposta “olhar cada
sujeito em sua especificidade, sua história de vida, mas também de olhá-lo como sujeito de
um coletivo, sujeito da história de muitas vidas”.
Essa política tem como princípios norteadores a
1- Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e
gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de
compromissos/responsabilização;
2- Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção
de sujeitos.
3- Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade.
31
4- Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em
conformidade com as diretrizes do SUS.
5- Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos
espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e
coletivos (BRASIL, 2004, p. 10).
Dessa forma, espera-se que tenham transformações em quatro marcas, a primeira
é de que seja do conhecimento dos usuários os seus profissionais de referência, outra marca é
a informação dos profissionais para com os usuários; a diminuição da fila e tempo de espera, e
por último, a garantia de gestão participativa aos trabalhadores e usuários, bem como a
educação permanente aos profissionais. É proposto pela PNH formas de implementação desta
política tanto na Atenção Básica, Especializada como na Hospitalar. Em relação ao nível
hospitalar, existem dois padrões de adesão: B e A (BRASIL, 2004).
No padrão B para a implementação da política o hospital deve criar grupos de
trabalhos de humanização, garantir a visita aberta ao usuário respeitando a dinâmica de cada
unidade hospitalar, acolhimento aos usuários, escuta da população e trabalhadores, equipe
multiprofissional para o atendimento à família e a rede social, mecanismos de
desospitalização do usuário e garantia de assistência nos outros níveis de assistência com
sistema de referência e contra-referência. Em relação ao padrão A, é acrescentado do padrão
B a ouvidoria em funcionamento, existência de um conselho gestor local, acolhimento com
avaliação de risco nas áreas de acesso e educação permanente do tema de humanização
(BRASIL, 2004).
3.4 PSICOLOGIA HOSPITALAR
Um dos itens que se destaca para a efetivação da implementação da PNH e do
PNAH é o atendimento multiprofissional. Em relação aos psicólogos, eles têm um papel no
hospital que abrange a Psicologia Preventiva e de Tratamento. Nessas instituições, sua
atuação abrange a psicologia clínica, social, organizacional e educacional, já que estar doente
impede a pessoa de trabalhar, divertir-se, descansar, tira-o do convívio da família, dos amigos,
cotidiano, logo, acaba isolando a pessoa. Entende-se que “cada um vive a sua dor; por mais
que os outros se esforcem para compreendê-lo, ninguém sentirá o que ele sente. A experiência
de estar doente é sentida de uma forma sempre única” (CAMPOS, 1995, p. 42). Portanto, o
psicólogo trabalha no sentido de reconhecer e acolher essa dor.
32
Campos (1995) aponta algumas dificuldades que experienciou ao longo de sua
carreira hospitalar. Refere-se à forma particular de cada pessoa adoecer e reincidir na doença,
outras pessoas apresentavam-se eternas queixosas e, outras reagiam bem frente à cirurgia, mas
ainda outras se mostravam infantilizadas diante do adoecimento. Em alguns momentos, a
autora refere que alguns pacientes não sabiam ao certo o que estava acontecendo com eles,
com os seus corpos, já alguns pacientes reagiam de forma negativa ao atendimento, outros
negavam a doença. Dessa forma “o paciente queria não só ser visto e examinado como
também ser ouvido, ser entendido na sua linguagem oculta e o atendimento psicológico fazia
com que ele se percebesse melhor” (CAMPOS, 1995, p. 12).
Diante do processo de adoecimento e recuperação da saúde, o paciente tem sua
forma peculiar de entender o processo que está passando principalmente quando esse
apresenta inúmeras dificuldades psicossociais, algumas delas são: “Ameaça à integridade
narcísica” como o controle sobre seu destino, “medo de estranhos” como membros da equipe
do hospital, outro paciente que esteja no quarto, “ansiedade de separação” de casa, da família
do trabalho, animal de estimação, entre outros, “medo da perda de amor e aprovação” em que
surge a partir de sentimentos de desvalorização devido a dependência de outras pessoas,
“medo da perda de controle de funções adquiridas durante o desenvolvimento infantil” como
a fala, marcha, esfíncter, “medo de perda de alguma parte do corpo” e ‘culpa e medo de
retaliação” dos profissionais de saúde (PENNA, 1992, p. 367).
Outras características hospitalares que refletem no paciente estão relacionadas à
“invasão” do corpo, quando ele fica submetido ao tratamento, sente-se manipulado e
invadido, sem muita oportunidade de opinar sobre si. Como conseqüência o paciente fica
passivo ou agressivo, podendo demonstrar raiva durante a internação.
Essas reações podem ocorrer, na maioria das vezes, pela dificuldade em aceitar não
só sua doença, mas todo o processo de hospitalização e tratamento. São mecanismos
de defesa que procurar preservar a integridade do seu eu (ISMAEL, 2005, p. 26)
Campos (1995) identificou que a doença das pessoas está relacionada à sua
história de vida e sua forma de se relacionar com o mundo. Logo, quando a pessoa está
hospitalizada ela não trás apenas partes do seu corpo, ela está ali por inteiro, e deve ser
atendida desse modo. Portanto, Freitas (1980) pontua que fenômenos psicossociais podem
alterar a doença, afirmando que quando a pessoa apresenta estados de estresse ou depressão o
organismo diminui a capacidade de reconhecer células ou órgãos que estão apresentando
alguma patologia. Desse modo, o estresse é prejudicial ao bem-estar da pessoa. Em relação à
33
dimensão física, pode contribuir para o aumento da pressão arterial, doenças cardíacas,
redução do sistema imunológico, modificações de neurosubstâncias, tendo como
conseqüência alterações emocionais e cognitivas e aumentar a vulnerabilidade às infecções,
cicatrização de ferimentos, entre outros (CAPITÃO, SCORTEGAGNA, BAPTISTA, 2005).
Assim sendo, “esse é um dos motivos pelos quais quando o sentimento de culpa é muito
intenso, é necessária ajuda psicológica para evitar que o estado emocional impeça de
responder positivamente ao tratamento” (FREITAS, 1980, p. 45).
Em relação à atuação do psicólogo no hospital, este deve realizar algumas ações
assistenciais de forma individual ou grupal em “espaços reservados, junto ao leito do paciente
ou em outros espaços hospitalares, conforme a pertinência do atendimento” (TONETTO;
GOMES, 2007, p.44). No ambiente hospitalar o setting5 terapêutico é peculiar, visto as
diferenças dos espaços para atendimento na clínica; o atendimento dá-se, muitas vezes, no
quarto, pois o paciente pode estar acamado, caso haja outro paciente no mesmo quarto ou
familiar, o psicólogo deverá ter o bom-senso da forma de conversar com o paciente e/ou
familiar e o limite adequado para a intervenção. Um exemplo do atendimento hospitalar é
dado por Ismael (2005, p.21).
O médico entra no quarto para avaliar o paciente, ao mesmo tempo, a enfermeira
chama o paciente para um raio X, a família não quer sair do quarto e temos de
atender o paciente no meio de mais outros 10 em uma grande enfermaria, onde há a
impossibilidade de se manter o sigilo.
A atuação do psicólogo visa diminuir a ansiedade e estressores que estão
presentes no paciente. Dessa forma, prestar informações desmistificando algumas crenças do
paciente e possibilitar a autonomia deste ajuda o paciente a aumentar o controle da situação.
Outra forma de atuação do psicólogo juntamente com outros profissionais, dá-se pelos grupos
educativos cujo objetivo é o de conscientizar o paciente e sua família da doença e de formas
de tratamento (ISMAEL, 2005). Nesse sentido, a orientação ao paciente e familiar tem como
metas a prevenção e o tratamento (CAMPOS, 1995).
Para Tonetto, Gomes (2007, p.44) a intervenção psicológica tem diversos
objetivos como:
Avaliar o estado emocional do paciente; esclarecer sobre dúvidas quanto ao
diagnóstico e hospitalização; amenizar angústias e ansiedades em situações
5
Setting terapêutico é o espaço singular que se oferece à pessoa, o qual propicia vínculo e a possibilidade
realizar o atendimento psicológico (WOLF, 2009).
34
desconhecidas; (...) preparar para a cirurgia; garantir adesão ao tratamento; auxiliar
na adaptação à nova condição de vida imposta pela doença; (...) facilitar o
enfrentamento de situações de morte e de luto.
Nas unidades de internação, o psicólogo irá abordar o paciente e sua família sobre
aspectos da descoberta da doença, história de vida do paciente, a relação dele com a doença,
estressores que a hospitalização trouxe, entre outros. Para isso, o psicólogo deverá estar
totalmente disponível à pessoa e promover a expressão do outro, ouvir sem críticas e mostrar
a intenção de compreender o outro (ISMAEL, 2005). Portanto, o psicólogo deve fazer com
que o paciente e/ou familiar perceba suas potencialidades, perceba suas atitudes e suas
experiências, quando tiver, de hospitalizações anteriores, para fortalecer estratégias
psicossociais de lidar com a internação e buscar diminuir o sofrimento. Destarte, a
intervenção ajudará o “paciente a sentir-se compreendido, aceito e assistido como um todo,
tomando consciência dos seus problemas, de seus medos, fantasias e perdas, refletindo o
significado do ser adoecer” (CAMPOS, 1995, p.91).
3.5 ASPECTOS HISTÓRIOS DA CONSTRUÇÃO FAMILIAR
Rudinesco (2003) afirma que há três grandes períodos na evolução da família, são
eles: a família tradicional, família moderna e família contemporânea. Em relação à família
tradicional, esta tinha com função a transmissão do patrimônio. Nessa época o casamento
ocorria a partir do arranjo entre os pais, sendo que eram poucos considerados os desejos e
gostos dos filhos.
A família brasileira constitui-se a partir dos modelos da Europa, principalmente
por Portugal, já que este colonizou o Brasil. Esta construção familiar brasileira deu-se pelo
processo de formação econômica e social do país e da miscigenação racial. Em que o
casamento ocorria pela aliança econômica e política. A família patriarcal desenvolve-se,
principalmente, no período colonial. Fazia parte dela, além dos pais e filhos, parentes,
afilhados e escravos. Nela ocorria uma divisão severa das funções, em que o homem era o
dominador da família, pois estava ligado às funções militares e ao espaço público, logo era
mais valorizado socialmente. Já, a mulher, era submissa ao marido e restringia-se ao âmbito
privado da casa (COSTA, 1983).
Desde o final do século XVIII a família construiu-se a partir do arranjo do
noivado entre as duas partes, mulher e homem. O casamento, nesta época, tinha como
35
ideologia a intimidade e o amor do casal. No entanto, ambos fenômenos não eram
desenvolvidas antes do casamento, assim, o casal não era preparado para a expectativa social.
Outra fonte de sobrecarga emocional se deu pela domesticalização da mulher, as quais eram
ensinadas para criarem seus filhos, serem companheiras do marido e executar tarefas
domésticas (PONCIANO, 2002).
A segunda fase, chamada de família moderna, ocorreu entre o final do século
XVIII e meados do século XX. Em que se sobressaia o amor romântico. Entretanto, conforme
Ariès (1981), ainda existiam problemas nas relações carnais entre os casais: quem, quando,
como, onde se tocariam. Assim, a sexualidade tornou-se um grande problema, principalmente
por não poderem ser expostos os desejos. Ponciano (2002) afirma que esses desejos carnais
eram sanados a partir do casamento. Outra alteração que ocorreu a partir do século XVIII diz
respeito à responsabilidade não só dos pais, mas também do Estado com relação às crianças.
Da fase contemporânea, ou pós moderna, que ocorreu a partir do ano de 1960,
adveio uma transição de valores, principalmente com a emancipação econômica e sexual da
mulher. Então, ocorreu o início da inserção da mulher no mercado de trabalho, bem como sua
responsabilidade para com o sustento da casa. Assim, outras formas de família, além da
nuclear, foram aceitas socialmente (ARIÈS, 1981).
3.6 FAMÍLIA BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE
Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2006) revelou
mudanças nas características da família brasileira. Em relação à região Sudeste, entre os anos
de 1995 a 2005, o percentual de famílias com filhos diminuiu de 56,6% para 48,5% e das
famílias chefiadas por mulheres cresceu 35% nesse período, mesmo nas famílias em que há
presença do esposo. Esse índice ocorreu por vários fatores, dentre eles, as mudanças culturais
e de papéis na família, em que ocorreu a idéia de “chefia compartilhada”. Além disso, no
Brasil em 2005, havia seis milhões de pessoas morando sozinhas. Outra alteração no Brasil
entre os anos de 1995 a 2005 deu-se pela diminuição do número de pessoas que compõe a
família, “de 3,9 para 3,4 componentes no Nordeste e de 3,4 para 3,1 no Sudeste” (IBGE,
2006, s/p.).
Entre os anos de 1995 e 2005, a população com 12 anos ou mais de estudo dobrou
e a de ensino superior triplicou. “Esse aumento ocorreu particularmente na população
feminina, que atualmente é maioria nas universidades, bem como representa 56,1% da
36
população” (IBGE, 2006, s/p.). No entanto, as estatísticas apresentaram que 92% das
mulheres que possuem trabalho remunerado cuidam dos afazeres domésticos. Enquanto, os
homens apresentaram apenas aumento de dois (2) pontos percentuais nessas mesmas tarefas.
A análise desses indicadores mostra que ainda está longe uma divisão igualitária de
tarefas entre homens e mulheres no ambiente doméstico: em média as mulheres
gastavam 25,2 horas semanais nessas atividades contra 9,8 horas dos homens
(IBGE, 2006, s/p.).
Portanto, a partir das alterações econômicas, culturais e sociais, no século XXI
desenvolveram-se várias formas de família algumas delas são: família nuclear constituída por
pai, mãe e filho(s), família de recasamentos em que se forma novos casais. Nos recasamentos
puderam ocorrer a união de duas pessoas ambos com filhos do primeiro casamento, ou apenas
um com filho, ou ainda ambos sem filhos. Outra configuração é a família multinucleares, em
que os “filhos transitam por casas de dois ou mais casamentos dos genitores”, família
dissolvida, mas com a guarda compartilhada dos filhos, família uniparental, em que apenas
uma pessoa do casal cria o(s) filho(s), família de casal homossexual com ou sem filhos,
família de casais sem filhos, família de irmãos, entre outros (DAFLON, 2008, s/p.).
O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) aponta três tipos de
família, são elas: a família natural, família extensa e família substituta. A primeira constitui as
pessoas formadas pelos pais, ou por um deles e seus descendentes. A família extensa ou
ampliada corresponde aquela que vai além dos pais, filhos e do casal, englobando também os
parentes próximos em que são mantidos vínculos e afetividade. Por último, a família
substitutiva, que caracteriza-se pela adoção da criança ou adolescente por uma família
mediante guarda, tutela ou adoção.
A partir dessas mudanças sociais e culturais o Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS) a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
(NOB/SUAS) aprimorou o termo família, referindo-se como “núcleo afetivo, vinculado por
laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e
mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de gênero” e que tem como deveres a
educação de criança e adolescentes, bem como a proteção de idosos e portadores de
deficiência. A família é o núcleo social básico, a qual é o foco do programa do SUAS
(BRASIL, 2005, p.17).
Corroborando com o MDS, Minuchin (1982) descreve que a família possui dois
objetivos: a proteção psicossocial de seus membros e a adaptação da cultura que estão
37
inseridos. Referente a isso, Ferrari e Kaloustian (1994) destacam que família é o espaço para o
desenvolvimento e proteção de seus membros, sendo esta a que propicia base afetiva e
material com o objetivo de promoção de bem estar. É no núcleo familiar em que são
transmitidos educação, valos morais, éticos e humanitários, e aspectos culturais. No entanto,
cada família tem uma dinâmica de funcionamento próprio caracterizada por um “sistema que
troca materiais, energia ou informação com o seu ambiente” (ANDOLFI, 1996, p. 16).
Destarte, a família é um sistema formado por unidades. A modificação em uma
das unidades propiciará a mudança das outras, o que refletirá na unidade primitiva
(ANDOLFI, 1996). Rosset (2007) complementa afirmando que na família existe um
movimento contínuo de trocas entre os indivíduos que formam esse sistema. É dentro desse
sistema que cada pessoa define uma forma específica e repetida de ser e reagir nas situações.
Entretanto, algumas pessoas podem atribuir tarefas e funções de outro membro da família,
assim, existem famílias que auxiliam os membros familiares de formas mais adequadas que
outras, caracterizados por famílias funcionais ou não funcionais. Deste modo, em famílias
funcionais cada pessoa sabe das suas funções, limites e espaço dentro da família, “quem é o
marido, quem é a mulher, quem cuida de quem, quem faz parte de quais atividades”,
formando subsistemas familiares (ROSSET, 2007, p.67).
Um dos subsistemas familiares é o conjugal que
tem como funções básicas: ser o refúgio para os estresses externos que os dois
cônjuges sofrem no dia a dia; ser a matriz para contatos com outros sistemas sociais,
criando a forma específica desse casal se relacionar com as famílias e com o social;
possibilitar o desenvolvimento da intimidade e da sexualidade; favorecer
aprendizagem, criatividade e crescimento, pois é a relação de maior intimidade que
se tem (ROSSET, 2007, p.68).
Outro subsistema é o parental que ocorre quando o casal engravida ou tem filho.
Este subsistema diferencia-se do conjugal, pois o casal precisa além de apoiar um ao outro
precisa, em consonância, desempenhar a tarefa de socializar a(s) criança(s). Tem como
funções básicas a nutrição e controle e orientação dos filhos. O subsistema fraterno, ligado
aos irmãos, tem como função o desenvolvimento social. No entanto, podem apresentar
algumas disfunções tais como: a preferência de um dos pais por um dos filhos e ser alvo de
crítica de seu cônjuge, brigas entre os pais que utilizam o filho como instrumento de ataque,
pai e mãe unem-se e estão em intenso conflito com o filho, não possibilitando espaço para ele
na relação conjugal, entre outros (ROSSET, 2007).
38
Rosset (2007) descreve as funções básicas da família, são elas a função materna,
paterna, de aprendizagem e de historiador. A primeira está relacionada ao vínculo, afeto,
cuidado, de ser continente e alimentador. Essa é uma função materna, mas não da mãe, ou
seja, pode ser realizados por algum membro da família. A função paterna “significa lei,
organização, estrutura, palavra, autoridade; está ligada ao crescimento; leva à aprendizagem e
ensina regras e limites” (ROSSET, 2007, p. 69). Da mesma forma que a função materna, não
é tarefa exclusiva do pai, e deve ser desempenhada por alguém do sistema familiar. A função
de aprendizagem está relacionada à aquisição de conhecimentos e ocorre quando um membro
da família critica outro e este aceita a crítica e reformula-se a partir dela. Por último, a
“função de historiador contém a tarefa de passar história, raízes, base, continuidade; de fazer a
ligação entre passado, presente e futuro” (ROSSET, 2007, p.70).
A família busca por manter o equilíbrio, a homeostase, e para isso, depende da sua
capacidade de adaptação que é dinâmica e interativa. Assim, frente a um evento que provoca
crise, as alterações para a adaptação “dependerão de como o evento iniciou, dos recursos que
essa família dispõe para lidar com essa crise e com a importância, a valorização que fazem
desse acontecimento” (O’CONNOR, 1983 apud ROMANO, 1999, p. 72). Crise aqui é
entendida como uma situação não habitual em que as respostas habituais são inadequadas para
solucionar o problema. Portanto, a crise é o limite, já que “um sistema não pode permanecer
em um estado de desequilíbrio: alguma solução deve ser encontrada” para retornar à
homeostase (MOOS, 1984 apud ROMANO, 1999, p. 72).
3.7 A FAMÍLIA FRENTE À HOSPITALIZAÇÃO
A hospitalização de um dos membros da família é uma situação que pode gerar
crise à homeostase do sistema familiar. Isto ocorre devido ao interrompimento do padrão de
funcionamento do sistema familiar visto às necessidades internas e as solicitações externas
(ROMANO, 1999). Na crise, as estratégias adaptativas utilizadas sem sucesso para manter o
equilíbrio podem ser
dormir menos, com qualidade pior de sono, permanecer acordado ou dificuldade
para dormir; redução ou aumento na ingestão de alimentos, mudanças no padrão
alimentar (para pior); aumento do uso de cigarros, álcool e medicações
autoprescritas ou “indicadas” em balcões de farmácia (como analgésicos, aspirinas,
calmantes); ficar menos tempo vendo televisão e mais tempo conversando, rezando,
visitando o paciente, esperando, lendo; sentimentos de abandono, menos valia,
culpa, raiva. São manifestações universais de ansiedade (ROMANO, 1999, p. 73).
39
Essas respostas de ansiedade, que ocorrem pelo interrompimento do padrão de
funcionamento do sistema familiar, podem aparecer devido aos estímulos da ansiedade,
alguns deles são: súbito aparecimento da doença em um membro familiar, dúvidas do
tratamento, prognóstico, medo de que o paciente sinta dor ou morra, falta de privacidade e
individualidade tanto do paciente quanto do acompanhante, ambiente desconhecido,
separação social seja do trabalho, casa, amigos, vizinhos, parentes, animais de estimação,
entre outros. Logo, estes estressores levam a família e o paciente a mudanças nos papéis
familiares, por exemplo, se a mãe está hospitalizada, alguém deverá realizar o papel dela
dentro do sistema familiar. Outra alteração que ocorre a partir da mudança dos papéis
familiares é a quebra de rotinas, já que estão tendo que se adaptar a uma nova situação, assim
o familiar deve pensar nos cuidados às crianças, em outras pessoas que estão doentes,
despesas extras. Isso pode provocar sentimentos de perda de controle e de isolamento. “Logo,
paciente ‘incapacitado’ (mesmo que temporariamente) é igual à família incapacitada, ainda
que disponha de potencial interno para reorganiza-se rapidamente” (ROMANO, 1999, p.74).
Corroborando com Romano (1999), Moos (1984 apud ROLLAND, 1995, p. 378)
descreve algumas atitudes práticas universais ligadas à doença tanto do paciente quanto da
família, são elas: “aprender a lidar com a dor, incapacitação [...] aprender a lidar com o
ambiente do hospital e com os procedimentos terapêuticos relativos à doença e estabelecer e
manter bons relacionamentos com a equipe que presta cuidados”. Em relação à família,
atitudes universais são
criar um significado para o evento da doença que maximize a preservação de um
sentimento de domínio e competência, entristercer-se pela perda da identidade
familiar pré-enfermidade; buscar uma posição de aceitação da mudança permanente,
mantendo um sentimento de continuidade entre seu passado e seu futuro; unir-se
para conseguir a reorganização da crise a curto prazo e, perante a incerteza,
desenvolver a flexibilidade no sistema, tendo em vista objetivos futuros (MOOS,
1984 apud ROLLAND, 1995, p. 378).
Para Rolland (1995) as doenças podem apresentar-se de duas formas, uma gradual
como o Parkinson, e outra de início agudo como o infarto e derrames. Cada uma dessas
formas se apresentam de forma diferente para a família e o paciente, mesmo ambas
requerendo o ajustamento, troca de papéis e manejo da família. As doenças de início agudo
exigem da família a capacidade de se reestruturarem mais rapidamente e apresentam uma
tensão maior quando comparadas com as doenças que pioram gradualmente.
Para esse mesmo autor (ROLLAND, 1995), o curso das doenças pode ser dividido
em três: progressiva, constante ou reincidente. A primeira, que tem como doenças a artrite,
40
Alzheimer, entre outros, progride ao decorrer do tempo. Logo, a pessoa e a família se
defrontam com uma doença sem cura e que permanecerá ao longo da vida da pessoa. Deste
modo, é preciso da família uma contínua adaptação de papéis, além dos cuidadores
apresentarem crescente exaustão e o contínuo de acrescimento de tarefas. “Está em jogo a
flexibilidade familiar, em termos de reorganização interna de papéis e da disposição para
utilizar recursos externos” (ROLLAND, 1995, p.375).
A doença de curso constante tem um início agudo, mas é estabilizada. Como
exemplo de doença, tem-se o Acidente Vascular Cerebral (AVC), dano na medula espinhal
provocando a paralisia, amputação de um membro do corpo, entre outros. Assim, depois do
período inicial a pessoa apresenta algum déficit claro e permanente que leva a ela e a família a
uma possível exaustão, mas sem tensão de novas demandas do papel de cada membro familiar
(ROLLAND, 1995).
Por último, a doença de curso reincidente, como asma, enxaqueca, que se faz
presente em alguns momentos da vida da pessoa, podendo ser semanal, mensal, anual,
sazonal, entre outras. Esse tipo de doença mantém a rotina da família. No entanto, esta sabe
que a doença deverá aparecer novamente, e isso, pode causar ansiedade. Todavia, esse curso
requer menos cuidados contínuos da pessoa e redistribuição dos papéis quando comparados
com os outros dois cursos da doença (ROLLAND, 1995).
Assim, além dos diferentes cursos da doença, os diferentes tipos de incapacitação
que a doença implica na pessoa demandam à família diferenças nos ajustamentos específicos
necessários para a família.
Por exemplo, os déficits cognitivos e motores de uma pessoa, combinadas com um
derrame, exigem uma redistribuição de papéis familiares muito maior do que no
caso de uma pessoa que sofreu dano de medula espinhal, mas retém suas faculdades
cognitivas (ROLLAND, 1995, p.377)
Portanto, incapacitações das pessoas decorrentes de lesão medular ou AVC
exercem maior influência no início da crise, quando a pessoa e os familiares estão se
adaptando a nova situação. Já, nas doenças progressivas como esclerose múltipla e demência,
permite à família maior tempo para preparar-se para as mudanças além de possibilitar ao ente
da família com tal prognóstico, sua participação no planejamento familiar relativo à doença.
Dessa forma, ser familiar e acompanhante é uma tarefa difícil e sofrida, visto que,
apresentam expectativas, ansiedades, preocupações, entre outros sentimentos, bem como em
relação à infra-estrutura, que por vezes, é um local sem condições adequadas e sem o mínimo
41
de conforto. No entanto, a permanência nos hospitais do acompanhante é percebida pelos
familiares acompanhantes como importante para o paciente, pois este último pode ter a
sensação de apoio e segurança (FRANCO; JORGE, 2002).
42
4. MÉTODO
4.1 TIPO DE PESQUISA
A presente pesquisa se caracteriza como qualitativa, visto que compreende
fenômenos a partir de especificidades de relações complexas que requerem aprofundamento
de dados (MINAYO, 1999). A fim de responder ao objetivo geral e específico, a pesquisa foi
delineada com caráter exploratório e descritivo. A pesquisa exploratória tem como principal
finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos, com o objetivo de proporcionar uma
visão geral acerca do que se pesquisa.
Na perspectiva de uma pesquisa descritiva, buscou-se as características do
fenômeno a ser pesquisado (GIL, 1999). Fenômeno sobre o qual existem poucas pesquisas e
que precisa ter maiores informações ou “explorar uma realidade significa identificar suas
características, sua mudança ou sua regularidade” (LEOPARDI, 2002, p.111). Dessa forma,
descreveu-se as estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares acompanhantes durante a
internação do paciente no Hospital Geral.
O delineamento da pesquisa foi o de campo. Esse tipo de pesquisa, para Gil
(1999) possibilita o aprofundamento do fenômeno a ser estudado e ser fidedigno, visto que é
desenvolvido no próprio local em que a população a ser estudada se encontra. Outra
característica do estudo de campo dá-se pelo fato que esse delineamento estuda apenas um
único grupo, neste caso, os familiares acompanhantes no Hospital Geral.
4.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAÇÃO
Os participantes desta pesquisa foram seis familiares acompanhantes de pacientes
em um Hospital Geral da Grande Florianópolis, em que os pacientes fossem atendidos pelo
convênio SUS, ficassem, no mínimo três dias no hospital e permanecessem mais de seis horas
diárias.
Esse número de pessoas trouxe dados suficientes para a pesquisa chegando na
saturação condizente com os objetivos de uma pesquisa de iniciação científica. Saturação é
entendida pela repetição dos dados coletados pelos participantes da pesquisa, portanto, seis
pessoas foram suficientes para a coleta de dados (FONTANELLA, RICAS, TURATO, 2008).
43
Pessoa
P1
Idade
Tempo de Patologia
Idade
Grau
Paciente
internação
familiar
parentesco
61
12 dias
29
Filha
69
Irmã
Necrose
de Sexo
Tempo que Horas
acompanha
por dia
F
10 dias
24h
F
3 meses
12h
escrotal
P2
56
3 meses
Câncer
(seg-sex)
P3
79
4 dias
Trombose
54
Filha
F
4 dias
12h
P4
65
7 dias
Cardio
60
Concunhada F
3 dias
24h
P5
86
4 dias
AVC
38
Neta
F
3 dias
24h
P6
83
7 dias
Câncer
55
Filha
F
7 dias
10h
4.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS
O material utilizado para a coleta de dados foram gravador de voz, pilhas, caneta e
o TCLE. Os equipamentos utilizados posteriores à entrevistas foram computador, folhas,
caneta e impressora.
4.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE
Foi buscado junto ao hospital espaço para a entrevista. Este lugar foi adequado, ou
seja, reservado, que propiciou sigilo e sem interrupção, além de estarem sozinhos pesquisador
e entrevistado. Para isso, foi reservada a sala de professores, colocado aviso na porta e
permanecendo, no lado de fora, a secretária para o caso de dúvidas de pessoas que quisessem
entrar na sala.
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada (Apêndice B)
que abordaram aspectos da vivência do familiar acompanhante, como as dificuldades e as
44
estratégias psicossociais deste familiar. A entrevista semi-estruturada teve como objetivo
auxiliar o pesquisador por meio de um roteiro e, além disso, facilitar a abordagem, pois é um
claro norteador da entrevista (MINAYO, 2007). Durante a entrevista, a pesquisadora manteve
postura flexível em relação ao roteiro, seguindo o fluxo da entrevista. Foi realizada uma
entrevista piloto para certificar o instrumento de coleta de dados com a população
correspondente a qual será pesquisada. O roteiro da entrevista permaneceu o mesmo, pois
todas as perguntas foram necessárias durante a entrevista, perguntas foram feitas, quando
necessário, apenas para possibilitar o maior desenvolvimento da resposta da pergunta já
existente no roteiro da entrevista. Portanto, não foram acrescentadas perguntas no roteiro de
entrevista.
4.6 PROCEDIMENTOS
4.6.1 Da seleção dos participantes ou fontes de informação.
Os participantes foram familiares acompanhantes indicados pela equipe de saúde
de pacientes internados pelo SUS. A indicação por estes profissionais ocorreu por fazerem
parte da ala e saberem se existe algum familiar acompanhante no setor. A seleção também
ocorreu pela disponibilidade e presença das pessoas na ala da enfermaria.
4.6.2 Contato com os participantes
Com a concordância da instituição hospitalar, a pesquisadora se apresentou aos
enfermeiros das alas conveniadas pelo SUS, explicando a pesquisa e mostrando a aprovação
do Comitê de Ética e o projeto de pesquisa. Existindo familiares em potencial para a pesquisa,
conforme o item 4.2, e a partir do encaminhamento da enfermagem, a pesquisadora deslocouse até o quarto encaminhado. No quarto encontrava-se o paciente e familiar acompanhante,
assim, era apresentado o projeto de pesquisa para o familiar acompanhante, e com a
concordância deste ocorreu o deslocamento para sala já preparada.
No início da entrevista foram realizados esclarecimentos de que a pesquisa está
correspondente aos ditames éticos, já que foi submetida e avaliada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Unisul (CEP-UNISUL), bem como sobre a pesquisa ter sido apresentada à
45
Coordenação do Hospital que autorizou a coleta de dados. A pesquisadora também informou
que será mantido o sigilo da identidade, bem como que a participação é livre, podendo o
participante desistir a qualquer momento. Nesse sentido, foi apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A) no qual o entrevistado assinou as duas vias e
entregou à entrevistadora, ficando uma cópia para ambos.
A pesquisadora também explicou aos entrevistados que a entrevista seria gravada
e que seus dados serão passados para o computador e, posteriormente transcritos, tendo
contato com o material apenas a pesquisadora e o orientador. Desta forma, foi apresentado o
Termo de Consentimentos para Fotografias, Vídeos e Gravações (ANEXO B).
4.6.3 Coleta dos registros de dados
A coleta de dados foi realizada dentro dos moldes éticos com a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de Consentimento para gravações e
de acordo com a resolução CNS 196/96 do Conselho Nacional em Saúde (CNS). A
pesquisadora foi ao campo, conversou com os enfermeiros e técnicos de enfermagem de
algumas enfermarias e identificou os possíveis sujeitos da pesquisa, ou seja, familiares que
sejam acompanhantes em um Hospital Geral da Grande Florianópolis. Em seguida, foi
realizado contato com esses familiares na própria instituição hospitalar e feito o convite para a
participação da pesquisa, durante o convite foi dito que tratava-se de um Trabalho de
Conclusão de Curso, que a entrevista iria durar, aproximadamente, vinte minutos e que a
pesquisadora informaria para a equipe de enfermagem que o paciente ficaria sozinho por
alguns minutos. Foi perguntado também ao paciente se ele poderia ficar sozinho durante
alguns minutos. Com a concordância do familiar e paciente a pesquisadora e familiar se
deslocaram até a sala reservada e foi apresentado os objetivos e relevância da pesquisa bem
como. Foram esclarecidas dúvidas que as pessoas apresentaram .
Após as transcrições, as gravações foram salvas em um Compact Disc (CD) e
apagadas do gravador e computador, ficando armazenadas com acesso restrito ao pesquisador
e orientador.
46
4.6.4 Organização, tratamento e análise dos dados
A organização dos dados ocorreu a partir das transcrições e escutas do material,
possibilitando a identificação de dados que respondam à pergunta de pesquisa: Quais as
estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para acompanhar os pacientes internados
no hospital geral? A partir disso, os dados foram organizados em categorias centrais e
subcategorias a posteriori para facilitar a compreensão dos objetivos da pesquisa (Quadro 1),
(Quadro 2), (Quadro 3), (Quadro 4). Para isso foi realizado a decomposição do conjunto da
mensagem a partir das unidades de registro que podem ser frases ou palavras-chave. Além
disso, considerou-se também na análise o contexto do qual a mensagem fez parte. As
categorias foram construídas a partir de idéias próximas (GOMES, 1994). Os dados foram
analisados de acordo com os objetivos propostos para a pesquisa, bem como com o referencial
teórico de sustentação da pesquisa.
Os dados categorizados foram analisados por meio da técnica de análise de
conteúdo proposta por Gomes (1994). Esta técnica possui duas funções, uma trata-se da
verificação das hipóteses da pesquisa e a outra é a descoberta do conteúdo das falas que estão
ocultos. A análise de conteúdo abrange três fases consecutivas. Na primeira, chamada de pré
análise, é organizado o material a ser analisado, ou seja, a(s) unidade(s) de registro,
unidade(s) de contexto(s), trechos e categorias. A segunda fase é a de categorizar, em que as
falas com as mesmas idéias são unidas e colocadas na categoria, se necessário, poderão ser
construídas outras categorias. Na fase de tratamento dos resultados obtidos e interpretação,
última fase, desvenda-se o conteúdo oculto que está na fala dos entrevistados (GOMES,
1994).
Quadro 1 Categorização de análise – Cotidiano dos familiares acompanhantes na
internação
Categorias
Subcategorias
Motivos por acompanhar
Disponibilidade de tempo
Por ausência de outras pessoas
Por solidariedade
Licença do trabalho
47
Intimidade
Mudanças na rotina
Durante a internação
Após alta hospitalar
Compreensão de pessoas
Do trabalho
Do cônjuge
Quadro 2 Categorização de análise – Convivência com o sofrimento do paciente
durante a internação
Categoria
Subcategoria
Acompanhar a pessoa com patologia
Não aceitando normas hospitalares
A partir da complexidade da doença
Reorganização de aspectos da vida
Compromissos anteriores à internação
Organização emocional
Recorrendo às crenças
Realizando atividades
Estudar
Utilização de recursos audio-visuais
Conversar
Trabalhos manuais
Ajudar as outras pessoas internadas
Leitura
Tem como objetivo passar o tempo
48
Quadro 3 - Categorização de análise: Atividades realizadas pelos familiares
acompanhantes junto ao paciente
Categoria
Subcategoria
Suporte emocional
Ao paciente
Preservação da saúde mental do paciente
Cuidados realizados pelo acompanhante
Possibilitados pelo vínculo
Auxílio ao paciente
Lazer para o paciente
Nenhuma atividade
Atividade de leitura
Companhia
Crochê
Quadro 4 - Categorização de análise: Condições disponibilizadas pelo hospital aos
familiares acompanhantes
Categoria
Subcategoria
Condições de hotelaria
Atenção hospitalar adequada
Falta de infra-estrutura
Atenção da equipe aos acompanhantes
Orientação quanto a procedimentos
Falta de atendimento psicológico ao
acompanhante
Tecnologia leve da equipe de saúde
Política Nacional de Humanização
Implementação da PNH
Burocracia hospitalar
Dificuldade de acesso à saúde
49
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo são apresentados os dados da pesquisa, bem como a sua descrição e
análise, fundamentando com o referencial teórico levantado pela pesquisadora. Para responder
ao objetivo geral da pesquisa, qual seja, caracterizar as estratégias psicossociais utilizadas
pelos familiares para acompanhar os pacientes internados no Hospital Geral, o capítulo se
divide
em
quatro
subcapítulos
intitulados:
COTIDIANO
DOS
FAMILIARES
ACOMPANHANTES NA INTERNAÇÃO, CONVIVÊNCIA COM O SOFRIMENTO DO
PACIENTE DURANTE A INTERNAÇÃO, ATIVIDADES REALIZADAS PELOS
FAMILIARES
ACOMPANHANTES
JUNTO
AO
PACIENTE
e
CONDIÇÕES
DISPONIBILIZADAS PELO HOSPITAL AOS FAMILIARES ACOMPANHANTES.
Para realizar essa análise foram criadas categorias a posteriori que buscam responder
aos objetivos da pesquisa.
5.1 COTIDIANO DOS FAMILIARES ACOMPANHANTES NA INTERNAÇÃO
Este subcapítulo aborda três categorias e nove subcategorias de análise. Dessa forma, a
partir da fala dos familiares entrevistados abordar-se-ão as mudanças que ocorreram no
cotidiano dos acompanhantes durante a internação, bem como, os motivos de eles serem os
acompanhantes.
Em relação à primeira categoria, intitulada motivos por acompanhar, ela se
subdivide em cinco subcategorias, são elas: disponibilidade de tempo, por ausência de outras
pessoas, por solidariedade, licença do trabalho e intimidade. Percebe-se que os motivos por
acompanhar variam, não sendo apresentado um que seja significativo em relação aos outros,
visto que duas pessoas afirmaram ter disponibilidade de tempo, uma por ausência de outras
pessoas para acompanhar, três por solidariedade, duas por licença do trabalho e uma por
intimidade.
Em relação à disponibilidade de tempo, as duas pessoas entrevistadas não possuem
trabalho formal e estão em um momento da vida em que se dedicam mais à família. Relatam
que as outras pessoas da família possuem responsabilidades formais com o trabalho e
faculdade, não tendo as entrevistadas compromissos desse caráter. Dessa forma, concluíram
que são as mais dispostas da família para estarem acompanhando o paciente na internação.
50
Percebe-se, contudo, que há um cuidado da pessoa que se coloca à disposição para o
acompanhamento em relação às demais pessoas da família. Sobre isso, P4 diz:
Pra ajudar a família, porque na família dela... ela só tem duas filhas e essas duas
filhas... elas estudam trabalham, têm filhos né. Então é uma dificuldade pras filhas
largarem tudo lá e virem pra cá. E eu como não tenho grandes compromissos, sou eu
e meu marido em casa, daí eu venho (sic).
Portanto, esse sistema familiar se organiza no sentido de continuar a homeostase, em
que as filhas continuam a trabalhar exercendo suas atividades cotidianas. O sistema familiar
elencou a pessoa que melhor possibilita a continuação desse sistema para ser acompanhante
no hospital.
Além da disponibilidade de tempo, outro motivo de ser acompanhante é por
solidariedade, tanto ao paciente quanto a outro acompanhante. Em relação à solidariedade ao
paciente, a acompanhante refere gostar de ajudar as pessoas e, por isso, fica no hospital.
Como exemplo:
E, além disso, eu ainda gosto de ajudar, na família eu sempre participo, não sou uma
pessoa nova, mas o que eu puder fazer eu faço (sic). P4
Essa forma de pensar pode estar relacionada às crenças da pessoa ou padrão de
funcionamento, forma repetitiva para agir nas situações da vida, sendo, na maioria das vezes,
automática e inconsciente,apresentando-se na forma de ações, pensamentos, comunicação,
entre outros (ROSSET, 2008). A solidariedade a outro acompanhante pode ocorrer devido ao
vínculo e afeto que se tem com este, como na situação de P5 que diz:
A minha mãe não ia agüentar sozinha [acompanhar], então, ai tive que fazer isso
[pedir licença do trabalho para acompanhar]” (sic).
Assim, percebe-se que, por vezes, o familiar pode estar acompanhando, não pela
pessoa que está hospitalizada, mas por afeto a outro acompanhante e, por conseguinte, a um
sistema familiar inteiro. Essa forma de lidar com a internação dessa família é a que causa
menos prejuízo na sua reorganização e tendência a permanecer na homeostase. Nota-se uma
preocupação também da família com aquela pessoa que é acompanhante, quando para
protegê-la e cuidá-la estes fazem revezamento. Portanto, a família, nesse caso, cuida não só da
pessoa internada, mas de todos os seus membros.
O’connor (1983 apud ROMANO, 1999, p. 72) afirma que a família busca manter o
equilíbrio, sua homeostase, e para isso, depende da capacidade de adaptação que é dinâmica e
51
interativa. Assim, frente a um evento que provoca crise, as alterações para a adaptação
“dependerão de como o evento iniciou, dos recursos que essa família dispõe para lidar com
essa crise e com a importância, a valorização que fazem desse acontecimento”.
A intimidade entre paciente e acompanhante também é um motivo pelo familiar fazerse presente no hospital, como fala P1
Sou eu quem mais fico com ela porque ela pede. Eu e a outra filha. Tem neto, tem
mais gente, mas ela prefere a gente, mas intimidade (sic).
O paciente, durante a internação, pode vir a ter um acompanhante não próximo a ele e
dividir um quarto de hospital com essa pessoa durante horas. Isto pode fazer com que ele
tenha diversos sentimentos como insegurança, medo, vergonha, e não se sentir a vontade, pois
vai estar se expondo ao outro. A pessoa internada pode preferir ficar sozinha a ter que sentir
tais sentimentos. Portanto, não basta apenas ter alguém que acompanhe, mas sim que tenha
intimidade para que possa acolher a pessoa hospitalizada. Pois, o ambiente hospitalar passa a
ser um espaço de constante troca entre essas duas pessoas pelas próprias condições que a
internação impõe.
No entanto, pode ocorrer do paciente possuir poucos familiares. Assim, o motivo do
acompanhamento é devido à ausência de outras pessoas. Estes acompanhantes, como não
podem contar com a ajuda de outros familiares, precisam se ajustar à quebra de rotina e se
reorganizar rapidamente, visto que, o paciente pode estar dependente deles. Dessa forma, o
familiar pode, por vezes, ter sentimentos de perda de controle e de isolamento (ROMANO,
1999).
Sobre a ausência de outras pessoas para acompanhar o paciente, P5 diz
Porque ela só tem eu e a minha mãe. Não tem mais ninguém que possa cuidar dela
(sic). P5
Para ilustrar, P5 em sua história acompanha sua avó de 86 anos, e segundo o Estatuto
do Idoso, esta tem o direito de ter um acompanhante e, portanto, é obrigação da família estar
presente ou utilizar outros recursos como a contratação de um cuidador para estar com o idoso
(BRASIL, 2003). Assim, P5 precisou se reorganizar rapidamente.
As pessoas também devem articular os compromissos para poderem permanecer no
hospital, para isso, por vezes, é preciso que tenham licença do trabalho para acompanhar o
paciente. Em relação a isso P1 fala
52
Eu consegui folga no meu trabalho, pedi uma licença lá e ai eu consegui acompanhar
ele (sic).
Para isso as pessoas precisam contar com as Leis, são elas o Estatuto da Criança e
Adolescente, e o Estatuto do Idoso que dá o direito do acompanhamento em internação
hospitalar. No caso do Estado de Santa Catarina há ainda a Lei n. 13.324 que dispõe sobre o
direito dos pacientes em terem acompanhamento. No entanto, por vezes, as pessoas
desconhecem seus direitos e dependem da compreensão de pessoas. Dessa forma, destaca-se a
importância das pessoas conhecerem e se apropriarem de seus direitos, pois poderão fazê-los
se cumprir e não ficarem submetidas ao sistema do local que está inserida, neste caso, o
hospital.
Ampliando a compreensão sobre as mudanças de cotidiano dos familiares
acompanhantes, nas entrevistas, destacou-se que o familiar acompanhante precisa ter a
compreensão de pessoas seja do trabalho e do cônjuge para conseguir se readaptar frente à
nova estrutura apresentada. Em relação à compreensão de pessoas do trabalho, P5 diz
se fosse problema mesmo seria o meu trabalho por eu estar afastada, mas nesse
ponto está todo mundo entendendo que é uma situação complicada (sic).
Em relação ao cônjuge, ela afirma:
meu marido é tranqüilo em relação a isso, ele entende que só tem eu e minha mãe e
ele sabe como eu sou com a minha avó (sic). P5
Assim, conclui-se que faz-se necessário que o acompanhante tenha uma rede que dê
suporte a essa nova configuração do seu cotidiano a fim de que a pessoa consiga tanto ser
acompanhante como se adaptar e resolver suas atividades cotidianas. Portanto, fica claro que
para a pessoa se reorganizar a partir de um evento que gerou crise no sistema familiar é
necessária a compreensão de outras pessoas. Para Sluski (1997, p.37) as fronteiras do
sistema da pessoa não se limitam “à família nuclear ou extensa, mas incluem todo o conjunto
de vínculos interpessoais do sujeito: família, amigos, relações de trabalho, de estudo, de
inserção comunitária e de práticas sociais”, auxiliando nos processos psicossociais de
enfrentamento de situações como doenças, morte, necessidades cotidianas, entre outras
situações. Conclui-se que os familiares entrevistados parecem contar com a compreensão e
apoio de pessoas da sua micro-rede social, ou seja, aquelas pessoas mais próximas.
53
Em relação às atividades cotidianas, ocorrem mudanças na rotina do familiar durante
a internação por deixar de fazer algumas atividades realizadas antes como o trabalho, estudo,
ficando em um ambiente estranho, dormindo fora de casa, se ausentando de sua rotina por um
período em que não estava acostumada, ou seja, disponibilizando menos tempo para si. As
mudanças na rotina durante a internação pode ser percebida na seguinte fala:
Agora fico um pouco mais parada. Muda tudo né. A gente é acostumada a levantar
cedo e trabalhar durante o dia todo, daqui a pouquinho a gente ta aqui parada. Há,
como é difícil, demora pra passar. Sorte assim é que a gente desdobra com a outra
irmã pra gente agüentar, se não é difícil. E ai a gente deixa a casa da gente, já vem
pra casa dos outros, das outras pessoas. Muda tudo. Já faz 15 dias que eu to fora de
casa. No fim se torna cansativo, vontade de ir pra casa (sic). P3
Uma das alterações que ocorre a partir da internação de uma pessoa é a quebra de
rotinas, já que estão tendo que se adaptar à nova situação e vivenciar falta de privacidade e
individualidade, ambiente desconhecido, separação social seja do trabalho, casa, amigos,
vizinhos, parentes, animais de estimação, entre outros (ROMANO, 1999). Para Moos (1984
apud ROLLAND, 1995, p. 378), algumas atitudes da família para se adaptar são “aprender a
lidar com a dor, incapacitação [...] aprender a lidar com o ambiente do hospital e com os
procedimentos terapêuticos relativos à doença e estabelecer e manter bons relacionamentos
com a equipe que presta cuidados”.
Sobre as mudanças na rotina, percebeu-se que um familiar acompanhante fazia
planos após a alta hospitalar do paciente. Expressada na seguinte fala:
Eu tô pra acabar agora em novembro também parte das coisas do casamento ainda tá
tudo atrasado, falta um monte de coisa pra vê. Lá eu já tava vendo tudo pela internet
mesmo, mas agora eu não posso de jeito nenhum aqui (sic). P1
Conclui-se que ele assumiu responsabilidade com a pessoa que está internada, mas
isso não o impossibilita de fazer planos futuros de continuidade de sua vida. Preocupando-se
com o outro, mas consigo também.
Os dados permitem afirmar que o cotidiano dos familiares acompanhantes são
apoiados no fato de que algumas pessoas são pré-dispostas no seu sistema familiar a serem
acompanhantes, por comprometer menos o padrão de funcionamento, continuar a homeostase,
provocando menor crise na família. Tais características dos familiares acompanhantes
contribuem para manter a homeostase do sistema e precisa ser alvo de cuidado pelo hospital.
Percebeu-se também que todos os entrevistados acompanhantes eram do sexo feminino,
caracterizando uma divisão de gênero. Possivelmente isto ocorre pela associação da mulher
54
com a função materna, no entanto, para Rosset (2007) essa função poderia ser de qualquer
pessoa da família. Assim, nesse contexto, entre os membros da família, a mulher é a pessoa
pré disposta a estar cuidando da pessoa hospitalizada. Acredita-se que PNH e/ou PNHAH
precisaria discutir sobre a pré-disposição a fim de que ajudasse a família e o familiar em sua
reorganização, no sentido de se ter ampliada a ideia de cuidado possível dentro do sistema
familiar.
5.2
CONVIVÊNCIA
COM
O
SOFRIMENTO
DO
PACIENTE
DURANTE
A
INTERNAÇÃO
Neste subcapítulo é possível observar como o familiar convive e cria estratégias para
acompanhar o paciente no hospital. A partir da fala dos entrevistados foram criadas três
categorias, que mostram as formas de conviver com o sofrimento, são elas: acompanhar a
pessoa com patologia, reorganização de aspectos da vida e realizando atividades.
A primeira categoria sobre a forma do familiar conviver com o sofrimento, se dá por
acompanhar a pessoa com patologia, que diz respeito a ele participar do processo de
adoecimento e interagir exercendo funções maternas como o cuidado ao outro, vínculo e afeto
(ROSSET, 2007). Este ocorre, nesse contexto, de duas maneiras: não aceitando normas
hospitalares e a partir da complexidade da doença.
Em relação àqueles que acompanham não aceitando normas hospitalares é perceptível
que o vínculo, afeto e crenças são superiores ao cuidado de si mesmo e às normas
hospitalares, como diz P2, familiar que foi instruída pela equipe de enfermagem a não tocar
em sua irmã, pois a mesma apresenta uma bactéria resistente e está em isolamento:
Mas, eu toco nela, porque ela é minha irmã, não vou tocar na minha irmã? Sou
obrigada a tocar nela. Como é que eu não vou tocar na coitada que ta ali daquele
jeito (sic).
Percebe-se que há empatia da irmã acompanhante para com a irmã paciente, e o tocar
na irmã e arriscar-se pode ocorrer pela fidelidade e ligação simbólica entre elas. Dessa forma,
não tocar tornaria menos genuína sua ligação, e o toque legitima o afeto. Nesse caso, a
emoção se sobrepõe à razão, pois o familiar apresenta-se vulnerável devido ao estado da sua
irmã. Portanto, há uma resistência em seguir às normas da equipe hospitalar. Percebe-se que
há uma tentativa de prevenção da familiar por parte da equipe de enfermagem, no entanto,
55
questiona-se a forma que esse conteúdo foi passado à acompanhante e o monitoramento que é
feito. Nesse sentido,
(...) os profissionais devem estar atentos para o fato de que os membros de uma
família correm o risco de doenças físicas, diminuição da atenção, irritabilidade e
comprometimento da sua capacidade de decisão. Dessa forma, pode estar
comprometida a habilidade de entender políticas, rotinas e procedimentos do
hospital que parecem lógicos e racionais para a equipe (DUNKEL, 1983 apud
ROMANO, 1999, p. 74).
No entanto, para Foucault (1987) a disciplina e vigilância têm sido atributos que se
destacam na prática hospitalar, pois o exercício de manter o controle sobre as ações das
pessoas internadas requer um modelo pautado em normas sem flexibilidade. Logo, a família
seria um elemento de ameaça, porque influencia no êxito deste controle com o paciente, e
diante das normas parece não ser possível a inclusão desta na ação hospitalar. Assim, o rigor
da disciplina acaba por trazer prejuízos aos sujeitos que fazerem parte da situação de
internação, seja ele o paciente internado ou seu acompanhante. Destarte, talvez fosse
necessária a intervenção nas crenças dos acompanhantes que apresentam tais comportamentos
a fim de protegê-los ou clarear sua decisão entre tocar ou não na paciente e usar instrumentos
como a luva para sua proteção.
O acompanhamento da pessoa com patologia também ocorre a partir da
complexidade da doença, quando doenças paralelas à patologia principal levaram a uma
complexidade no tratamento. Isso pode ser percebido na seguinte fala:
Teve [outras internações], já fez quimio, caiu cabelo, agora tem que fazer quimio de
novo. Mas, ela não iniciou porque o pé dela está lesionado. (...) ela foi pra casa na
quinta, domingo ela voltou pra cá com o pé todo inchado. Tinha uma coisa no pé. O
pé todo assim, ficou preto, preto igual à beterraba. (...) Ai veio essa coisa do pé. No
dá pra fazer quimio porque o pé não sara. Amanhã a médica vai olhar o pé dela pra
poder fazer a quimio, enquanto não faz a quimio a doença tem se alastrado, está nos
ossos, nos braços, nas pernas, em tudo. Sabe, dolorido, é bem dolorido (sic). P2
Percebe-se que devido às dificuldades em realizar os atendimentos fisiológicos
aparecem incertezas e dúvidas quanto ao tratamento, prognóstico e a continuidade de
existência do paciente, gerando sofrimento ao familiar. E, apesar desse sofrimento, ele tem
que lidar com o sofrimento do outro que, talvez, esteja tão angustiado quanto ele. Assim, por
vezes, ele acaba desconsiderando seus sentimentos para lidar com as emoções do familiar
adoentado. No entanto, isso pode ter consequências para o familiar como o aparecimento de
doenças. Para Filho (1992, p.97) todo o processo de adoecer tem sempre motivação a partir da
história da pessoa, não acontecendo por acaso. Portanto, compreende-se “os processos de
56
adoecer, não como um evento casual na vida de uma pessoa, mas sim representando a
resposta de um sistema, de uma pessoa que vive”. Dessa forma, as relações sociais como
rompimento de laço familiar, privação de necessidades básicas, separação, entre outros, são
aspectos que potencializam os efeitos psicossomáticos (FILHO, 1992). Portanto, mais uma
vez parece ser necessário que o hospital tenha investimentos direcionados ao familiar a fim de
evitar e prevenir o desenvolvimento de doenças nestes, visto que a crise influencia
diretamente na saúde biopsicossocial da pessoa.
Outra forma de conviver com a internação hospitalar é reorganizando aspectos da
vida extra e intra-hospitalar, isso ocorre, por vezes, recorrendo às crenças, realizando
cuidados aos compromissos anteriores à internação e organização emocional ocasionados pela
internação.
Portanto, uma das formas de enfrentar a internação hospitalar, as dúvidas frente à
doença, a finitude da vida, o sofrimento é recorrendo às crenças, principalmente na sua fé em
um poder superior. Em relação a isso P2 diz:
A gente tem que deixar de olhar pra esse mundo, pra beleza desse mundo, nós temos
que olhar para o brilho de Deus, pro brilho que ele nos concede e o que Ele tem
preparado para cada um de nós. Então, temos que nos apegar nesse ponto que estás
agora porque aqui não vai ficar ninguém. (...) Eu tenho certeza que o amor remove
montanhas, então Deus sabe cuidar de mim. (...) É ali que nós podemos chegar mais
pertinho Dele, no sofrimento. Eu sempre digo: pessoa que não sofre não conhece a
Deus, de verdade. (...) Só mesmo com Deus no coração pra poder suportar essas
coisas (sic).
A crença em um poder maior é uma forma de explicar o fenômeno que está
acontecendo, ou seja, a doença acontece por algum motivo, mas que só um ente maior sabe,
tornando-se inquestionável a doença, pois foi esse poder maior quem determinou. A fé que se
tem nesse poder é o que possibilita suportar o momento de sofrimento, ou uma estratégia
adaptativa para manter o equilíbrio e voltar à homeostase. Para Kübler-Ross (1997) a pessoa e
a família, quando descobrem uma doença com possibilidades de finitude, passam por etapas
como a negação da doença, raiva de ter a doença e de ter que sofrer, barganha tendo esperança
de receber a cura de Deus, depressão, aceitação da doença e esperança, pois mesmo aceitando
a doença, a esperança faz parte da condição humana. Apoiar efetivamente famílias nesses
modos de defesa do sofrimento, inclusive compreendendo o processo de barganha, faz-se
importante, haja vista que somente a partir daí, de um apoio real, oriundo do ambiente
hospitalar é que se poderá perspectivar outros pontos de apoio, para além da barganha
enquanto defesa empreendida.
57
Em relação aos cuidados de compromissos anteriores à internação, para P6, é
necessário além de cuidar da mãe hospitalizada, prestar atendimento à sogra com 96 anos que
mora com ela, sendo este um compromisso anterior. Sobre isso ela diz:
Daí eu tenho a minha sogra que mora comigo, 96 anos também, ela quase não dorme
à noite. Ai o meu marido vai atrás de uma empregada, mas daí não tem. Muitos
problemas. (...) Mudou que eu to achando que eu to ficando cansada. E teve feriadão
e teve 10 pessoas na minha casa de visita lá de Santos, da família do meu marido, e
ai eu fico preocupada com elas, tem que fazer comida. Daí tu te preocupavas. Não
tem como tu relaxar, eu não consigo dormir também. Eu tomo remédio pra dormir,
eu tomo remédio pra pressão. Eu to fazendo tratamento para o esôfago. Vários
problemas. Eu sou muito nervosa (sic). P6
Costa, Mombelli e Marcon (2009, p. 318) afirmam que há preocupações que se
apresentam fora do ambiente hospitalar como as que advém dos filhos, esposo/esposa,
trabalho e outras. Assim, a internação hospitalar constitui, por vezes, um fator conflitante para
a família, visto que exige desta uma nova organização.
A hospitalização, que como já fora dito, é uma situação que pode gerar crise à
homeostase do sistema familiar, devido ao interrompimento do padrão de funcionamento do
sistema, visto as necessidades internas e as solicitações externas (ROMANO, 1999). Na crise,
as estratégias adaptativas utilizadas sem sucesso para manter o equilíbrio podem ser
alterações do sono, alimentares, entre outros.
A dificuldade de dormir e nervosismo, apresentado por P6, podem ser respostas
de ansiedade, que ocorrem pelo interrompimento do padrão de funcionamento do sistema
familiar. Percebe-se que tal sintoma estava pré disposto devido ao seu padrão de
funcionamento, que se apresenta nos pensamentos, ações, crenças, na comunicação verbal,
não verbal e no não dito. Portanto, sua forma de agir frente a essas situações é tendo insônia.
No entanto, outros familiares podem apresentar outros sintomas, cada qual de acordo com
suas crenças e padrões de funcionamentos (ROSSET, 2008).
Marcon (2005) e Brito e Rabinoch (2008) citam que mudanças no nível emocional
são vivenciadas pelas famílias que convivem com pacientes crônicos. Sentimentos como
“temor, ansiedade, desespero, impotência, saudade, solidão, preocupação, insegurança, medo,
tristeza, entre outros”. Henckemaier (2002, p.404) aponta que são constantes as experiências
da equipe vividas com famílias nervosas, descontroladas e fragilizadas com a situação da
doença, além de terem “de fazer parte de uma instituição cujo ambiente é sombrio, diferente e
permeado de normas e rotinas a serem respeitadas a partir do momento da internação, também
causa transtornos à vida familiar”.
58
Destarte, faz parte da reorganização de aspectos da vida a organização emocional.
Sobre isso, os entrevistados dizem:
No meu caso assim... tô tranqüila, tô passando... é cansativo né, a gente fica cansada
tem toda aquela coisa de ... é tua parente, mexe contigo, com o teu emocional, é o
desgaste físico, emocional, tudo junto (sic). P5
Tal tipo de sentimento ocorre, principalmente, devido ao súbito aparecimento da
doença, dúvidas do tratamento, prognóstico, medo de que o paciente sinta dor ou morra, falta
de privacidade e individualidade, tanto do paciente quanto do acompanhante, ambiente
desconhecido, separação social seja do trabalho, casa, amigos, vizinhos, parentes, animais de
estimação, entre outros (ROMANO, 1999). Diante desses sentimentos e da fala da
entrevistada anterior, parece ser possível que, ao terem reconhecido os efeitos emocionais tais
familiares passam a conviver melhor com eles - uma condição que parece precisar caber
dentro do espaço hospitalar, seja direcionado aos pacientes internados ou às famílias
acompanhantes.
Para conviver com essas dificuldades são criadas estratégias psicossociais
realizando atividades como estudar, conversar, utilizar recursos áudio-visuais, leitura,
trabalhos manuais, ajudar outras pessoas internadas, sendo que essas atividades podem
ocorrer com o objetivo de passar o tempo dentro do hospital. Em relação às estratégias,
respectivamente os entrevistados dizem:
Agora eu to estudando de novo pro vestibular. Agora eu quero fazer outra faculdade,
então eu to estudando. Então eu trouxe a minha apostila que eu to fazendo cursinho
lá em Chapecó, então eu trouxe ela junto comigo e uma revista de atualidade
também (sic). P1
(...) ai tem ali... paciente com outro acompanhante daí a gente conversa e assim
passa o tempo (sic) P5
Mas, assim, ver televisão, essa noite eu trouxe filme para ver no computador, coisas
assim (sic). P5
Eu tô lendo. A moça que ganhou alta ontem emprestou três livros pra mim e eu já
tenho a revista ali e mais outro livro. To lendo. Eu trouxe a bíblia de casa também,
de vez em quando... mas enjoa, daí já largo. Um pouco de cada coisa, é isso pra
passar o tempo (sic). P4
Tricô (...)Isso é bom porque te tira o pensamento da doença, faz pensar nos pontos
que ta faltando que ta fazendo, então isso tudo é muito bom. É muito importante
isso. Ajuda muito, ohh (sic). P2
59
Se tem outra pessoa que precisa de ajuda a gente ajuda. Como hoje de manhã a outra
senhora foi fazer exame eu ajudei segurando a cadeira, o soro dela, sabe. Então, é
isso que a gente está fazendo aqui (sic). P6
(...) É um passatempo. O tempo passa mais rápido. Então, se a gente fica sem fazer
nada o tempo demora a passar, e se agente fizer alguma coisinha, as vezes, passa
rápido (sic). P3
As motivações que levam às escolhas dessas atividades pelos acompanhantes são
singulares a cada uma, no entanto, o ambiente hospitalar limita as escolhas e possibilidades.
Visto que é um ambiente onde tem como regra a divisão de espaços. Portanto, é preciso que o
acompanhante concilie uma atividade que lhe dê prazer com as possibilidades desse espaço,
quase sempre um quarto dividido entre diversas pessoas. Assim, por um lado, o ambiente
hospitalar propicia o desenvolvimento de atividades pré dispostas pelos acompanhantes, as
quais ele pode sentir prazer, e por outro, ainda que propicie até mesmo certo
compartilhamento de estratégias, faz com que estas sejam também restritas.
Nessa direção de restrição, pode ser visto que a criação de estratégicas com o
objetivo de passar o tempo se fez bastante presente entre os entrevistados. Portanto, conclui-se
que o espaço hospitalar ao diminuir às possibilidades de estratégias, leva também ao ócio, que
por sua vez pode trazer novos sofrimentos para a pessoa.
Esse é um dos momentos da vida dos acompanhantes em que o hospital deve se
posicionar e propor estratégias e possibilidades ao familiar, buscando cumprir as diretrizes da
PNH. Isto poderia ocorrer por meio da realização de grupos de ajuda mútua, e
disponibilização de atividades de livre escolha que possa açambarcar em maior nível possível
as vontades pessoas. Relacionado ao cuidado com o familiar, faz-se necessário, sobretudo
neste contexto, o apoio à reflexão por parte do familiar sobre seus sentimentos, emoções e
ações no acompanhamento do paciente, pois esta análise implica na forma como o familiar se
percebe e se posiciona em relação ao espaço que está inserido. Isto pode levar a novas
estratégias psicossociais sejam propostas e a rotina não se torne uma dificuldade ainda mais
no acompanhamento.
Neste contexto, o apoio psicológico pode se voltar também ao luto que esse
familiar passa. Tais lutos para além daquele que pode ser antecipatório à perda de um
familiar, pode se referir às impossibilidades de realização de atividades e rotinas anteriores.
Destarte, o psicólogo poderá auxiliar o familiar acompanhante a perceber-se como
acompanhante, adaptar-se à nova condição imposta pela internação e enfrentar as situações
60
dessa permanência (TONETTO; GOMES, 2007). No entanto, é necessário que o hospital
tenha espaços com atividades para o familiar acompanhante, conforme a PNH.
5.3 ATIVIDADES REALIZADAS PELOS FAMILIARES ACOMPANHANTES JUNTO
AO PACIENTE
Este subcapítulo descreve e analisa como os acompanhantes cuidam de seus familiares
internados e as atividades que realizam para propiciar bem-estar a eles. Percebeu-se que estes
cuidados estão relacionados à atenção física, emocional e de prevenção. Dessa forma, as
atividades realizadas pelos familiares acompanhantes envolvem as ações de suporte
emocional, cuidados realizados pelo acompanhante e lazer para o paciente.
A primeira categoria intitulada suporte emocional elucida que o acompanhante,
devido ao vínculo e afeto para com o paciente, realiza inúmeras atividades de apoio a este.
Nelas, tenta proporcionar acolhimento, afeto, e dignidade à pessoa. Portanto, exerce a função
materna que está relacionada ao vínculo, afeto, cuidado, de ser continente e alimentador
(ROSSET, 2008).
A relação de apoio em função do vínculo e cuidado estão presentes e divide-se em
duas subcategorias intituladas ao paciente e preservação da saúde mental do paciente. Em
relação ao suporte emocional ao paciente, P2 diz:
Hoje foi um dia muito triste, que hoje ela soube que [o tumor] está nos ossos agora.
Chorei muito com ela, acalentei, deixei ela. Até não quero demorar muito por que
ela ta lá [sozinha] (sic). P2
Sobre esse cuidado, percebe-se que o acompanhante realiza com o paciente algo
correspondente ao que foi designado como uma tecnologia leve por Merhy (2002). O autor
indica acerca dos cuidados em saúde a necessidade do que chama de tecnologias leves, ou
aquelas pautadas na relação. E nessa direção o familiar indica que escuta a pessoa,
compreende o momento que está vivendo, acolhe, cria vínculo e possibilita que diminua os
estressores que a pessoa internada pode apresentar. Tal necessidade de acolhimento pode estar
relacionada ao tratamento e prognóstico, medo de sentir dor ou morrer, falta de privacidade e
individualidade, medo de ambiente desconhecido, separação social, “medo da perda de amor e
aprovação”, “medo da perda de controle de funções adquiridas durante o desenvolvimento
infantil” como a fala, marcha, controle do esfíncter, “medo de perda de alguma parte do
corpo” e ‘culpa e medo de retaliação” dos profissionais de saúde (PENNA, 1992, p. 367).
61
Portanto, faz-se necessário que os profissionais estejam atentos a essas dificuldades
das pessoas internadas. Diante delas, a presença de um acompanhante pode minimizar esses
medos e proporcionar bem–estar, uma vez que potencializado nessa direção. Segundo Merhy
(1997), para o usuário, a necessidade de saúde, neste momento, está sendo representada e
sentida como um problema que ele está vivenciando como sofrimento, ou risco de sofrimento,
e que a pessoa “traduz” como uma questão de saúde a ser enfrentada com a ajuda de alguém.
Nesse sentido, o processo de humanização pode estar sendo realizado pelos
familiares, visto que reconhecem a dor e sofrimento expressos pela pessoa internada,
garantindo a dignidade deles, bem como quando valorizam os aspectos históricos, subjetivos,
culturais e biológicos da pessoa que está sendo assistida (BRASIL, 2000). Condição que, ao
ter algum tipo de apoio e potencialização por parte do hospital, por meio das suas equipes de
trabalho, poderia trazer novos elementos nas relações estabelecidas nesse espaço.
Outra forma de cuidar da pessoa internada é a partir da preservação da saúde
mental do paciente quando são realizadas ações pelo acompanhante para preservar o paciente
de estressores, ansiedades e agressões próprias da hospitalização. Isto, por vezes, pode gerar a
necessidade do acompanhante se posicionar frente à equipe e às normas hospitalares, como
exemplifica P1 diante do pai que está com uma escara na parte escrotal, e provoca ao paciente
sentimentos de vergonha e intimidação:
Ainda mais que é uma doença bastante desconhecida, porque tem vezes que tem 5
ali no quarto, 5 meninas ali no quarto, enfermeira, técnico, vem tudo vê, não sei se é
pra acompanhar a evolução, sei lá. (...) minha irmã veio e viu 5 meninas dentro do
quarto, ela quase teve um treco, ela expulsou todas elas do quarto. A minha irmã
mais velha, pois foi uma coisa bem chata, eu nunca tinha percebido isso, toda vez
que vinha muita gente ali, ficava todo mundo olhando pra parte escrotal (sic). P1
Foucault (2006) afirma que o hospital é o lugar especializado nas partes do corpo,
em que a pessoa é vista fragmentada tanto pela equipe como por ela mesma. Assim, decorre
da visão do autor, que pela natureza do hospital, muitas vezes a instituição se coloca em
direção inversa à visão integral da pessoa, que abrange dimensões subjetivas. Dessa forma, o
hospital, por vezes, desconsidera a pessoa que está ali para ser atendida, colocando-a no papel
de objeto de estudo. E como o hospital é um local que exerce poder sobre a pessoa esta pode
não conseguir manifestar seus desejos e, nesse sentido, o familiar aparece, neste caso,
protegendo o paciente da disciplina divisória imposta pelo hospital.
Percebe-se que, por mais que o hospital tente implementar a PNH, há ainda uma
dificuldade da mudança, estando enraizadas no familiar acompanhante, no paciente, e até
62
entre os profissionais, o conceito de hospital centralizado nas práticas médicas. No tocante à
equipe, especificamente, esta centralização se dá por meio da mecanização da relação
trabalhador-paciente e preparo inadequado para lidar com as dimensões subjetivas e sociais
pela equipe de saúde (BRASIL, 2004). Portanto, a transformação da alteração desse conceito,
assim como a implementação da PNH ocorre de uma forma muito tímida.
Segundo Ferrari e Kaloustian (1994) família é o espaço para o desenvolvimento e
proteção de seus membros. Ela que propicia a base afetiva e material com o objetivo de
promoção de bem estar. Sobre isso P1 afirma que por tantos profissionais ficarem observando
e cuidando do ferimento, o paciente fica preocupado e assustado querendo olhar a escara,
como diz a fala a seguir:
Eu até tentei pegar um espelho [para ele ver a escara no saco escrotal], mas eu acho
melhor que até não, que agora ele está bem, vai que tem uma recaída, não sei se vai
ser bom. Acho melhor não. Ele fala assim, se cabem 4 gases lá dentro como é que
deve ta. Daí fico assim sem saber o que fazer.
Nota-se a tentativa da acompanhante pela preservação da saúde mental do
paciente, mas que apresenta dúvidas sobre a sua atuação. As questões sobre as atitudes do
acompanhante quanto sua ação no hospital podem ser comuns, portanto, faz-se necessário que
a equipe de saúde esteja preparada para esse tipo de atendimento e suporte, quando destacase a necessidade da qualificação do atendimento desses profissionais a fim de desenvolverem
habilidades, tais quais, mecanismos de escuta para os pacientes, familiares e trabalhadores,
acolhimento aos usuários, grupos de trabalho de humanização e garantir que o paciente tenha
visita aberta com a presença de acompanhante e de sua rede social.
Assim, justifica-se a necessidade de psicólogos estarem trabalhando nos espaços
hospitalares e capacitando os outros profissionais, viabilizando a educação permanente dos
profissionais. A educação vem ao encontro da PNH que, entre os seus princípios, afirma a
realização do “Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade”, bem como a potenciação do cuidado às pessoas
(BRASIL, 2004, p. 10).
A partir da fala dos acompanhantes, compreendeu-se que os cuidados realizados
pelo acompanhante são possibilitados pelo vínculo entre familiar e paciente. Conforme a
fala de P1
Porque o meu pai é uma pessoa assim sempre foi muito independente pras coisas.
Tem coisa que ele não aceita muito a ajuda. Ele toma antibiótico, tipo ele ta assim
com diarréia, a gente já esperava porque vai matar o microorganismo, mas vai
63
destruindo a flora intestinal, daí eu já esperava a diarréia dele. Tipo, daí pra eu
limpar primeiro ele não queria ajuda, e ia acabar... daí eu disse: olha pai seu curativo
está bem complicado, que fica na parte escrotal, não pode deixar contaminar, você
tem que me chamar pra você não prejudicar ainda mais a sua saúde, então me chama
por favor. Então a mim ele chama. (...) Eu fui dormir na casa de uma amiga minha.
Eu cheguei ele já tava todo defecado, ele tava num estado e ele não chamou
ninguém pra ajudar ele (...) (sic). P1
Percebe-se que o paciente sente vergonha de ser cuidado na parte genital e para tal
precisou sentir segurança, confiança e respeito pela outra pessoa. No entanto, acredita-se que
as pessoas, em sua maioria, sentem-se constrangidas, mesmo que diante de profissionais.
Assim, há necessidade da criação do vínculo entre paciente e profissional. Dessa forma, os
acompanhantes precisam criar estratégias que possibilitem a aproximação do paciente e a
minimização da sensação de desconforto e vergonha. Portanto, esse cuidado pode ter
ocorrido, visto que foi possibilitado pelo vínculo. No entanto, questiona-se se os
acompanhantes têm habilidades ou mesmo se devem realizar esse tipo de cuidado.
Outra forma de cuidar ocorre através do auxílio ao paciente pelo acompanhante.
Este auxílio ao paciente ocorre de várias maneiras, tais como ajudar o paciente a se alimentar,
tomar banho, trocar de roupa, cobri-lo, levá-lo até o banheiro, caminhar com ele, realizar
massagem, atividades de responsabilidades do paciente antes da internação, entre outros.
Como relatam os entrevistados:
Eu chego de manhã ela já está esperando pra tomar banho, ai eu levo ela no
banheiro, dou banho nela, ai depois eu coloco ela na cama, eu faço uma massagem
na perna dela, passo hidratante, lavo a cabeça, penteio o cabelo. Ai se a comida
chega ou um lanchezinho dou pra ela. (...) A gente vai caminhar um pouquinho com
ela lá no sol, mando ela colocar as mãozinhas no sol e fazer uma massagem que é
bom né (sic). P6
Banho, alimentação, levar no banheiro. Todas essas partes. Ela faz tudo sozinha,
mas tem que organizar, tem que ajeitar pra ela comer, ir ao banheiro. Ela senta
sozinha, mas... tem que levar ela porque ela não tem como caminhar sozinha, ela
está fraca assim, dessa forma (sic). P5
Eu vejo que o meu pai fica todo agoniado, pois agora minha mãe cuida de uma
farmácia, meu pai cuidava de outra. Os dois são farmacêuticos, então a que ele cuida
hoje está fechada e ai ele fica preocupado com as contas que tem pra pagar, daí a
gente fica toda aflita também e as contas vão vencendo. (...)Ai meu Deus, tudo
complicado pra gente. Então, acho, a parte mais aflita que a gente está sendo em
relação a isso. Que eu vejo ele aflito e acabo ficando aflita junto com ele (sic). P1
Percebe-se que todos os entrevistados realizam auxílio ao paciente, mas podem estar
contribuindo, ou não, para o bem-estar destes. Fica clara a importância do acompanhante no
64
hospital, pois sua ausência acarretaria o redimensionamento do número de enfermeiros,
auxiliares e técnicos de enfermagem. No entanto, por vezes, a presença de acompanhantes é
desconsiderada, questionada, ou indiferente pelo hospital.
Na pesquisa de Moreno (2007) com enfermeiros, estes apontaram que quando a
família está junto com o paciente durante o processo de internação, há demonstração pelo
paciente de maior adesão ao tratamento, o que aproxima a relação entre paciente-família no
tratamento após a alta. Todavia, o “estar junto” do familiar nos cuidados em saúde no hospital
para que qualifique ainda mais a adesão do paciente ao cuidado, faz com que, por um lado, o
familiar contribua positivamente, mas por outro lado ele pode se sentir sobrecarregado.
Sugere-se pesquisas sobre a sensação e sentimentos do paciente em relação à presença de um
acompanhante e a contribuição ou não da presença deles. E, também sobre qual a percepção
da equipe de saúde em relação a presença de acompanhantes no hospital.
O lazer para o paciente é outra atividade realizada pelos familiares que
proporcionam bem-estar ao familiar internado. Entre os entrevistados foram identificados
atividades como leitura, crochê, companhia. Apenas um acompanhante referiu realizar
nenhuma atividade de lazer para o paciente. Em relação às ações, os entrevistados
afirmaram:
A gente conversa bastante, assim, sobre tudo. E agora eu estou estudando também
ai... como ele está com muita dificuldade de ler, de vez em quando eu leio pra ele
alguma coisa de atualidade (sic). P1
Mais a companhia, que daí as enfermeiras fazem tudo né. Mas a companhia pra
gente ficar ao lado dela, vendo o que está acontecendo (sic). P3
Em relação às atividades realizadas junto ao paciente estas se referem àquelas
possibilidades possíveis de serem realizadas dentro do hospital, tal quais as próprias
atividades que são desenvolvidas pelo acompanhante para si mesmo. Além disso, nota-se que
parte da rotina do acompanhante é a de realizar cuidados ao paciente, diante do que há de se
ter avanços no sentido de se apoiar tal cuidado, não apenas zelando pela preservação da
integridade física dos pacientes atendidos, preparando e informando tais familiares, como dos
aspectos psicológicos envolvidos. Assim, há de se ter fortalecidos os vínculos em geral aí
desenvolvidos entre paciente equipe e acompanhante. Tal cuidado, uma vez perspectivado
pelo hospital, podem ser relacionados àquela função materna na família, e devem ser
problematizadas pelo hospital a fim de que possam dar suporte aos familiares acompanhantes.
Dessa forma, destaca-se, novamente, a importância da educação permanente aos profissionais
65
e da atuação dos psicólogos tanto com a equipe e paciente como com o familiar. No entanto,
por vezes, há dificuldades do hospital em cumprir essa questão na PNH, entre elas, destacouse o enraizamento da mecanização da relação trabalhador-familiar e o preparo inadequado
para lidar com as questões subjetivas.
5.4
CONDIÇÕES
DISPONIBILIZADAS
PELO
HOSPITAL
AOS
FAMILIARES
ACOMPANHANTES
Esse subcapítulo identifica, mais especificamente, como o hospital e equipe de
saúde destinam cuidados aos acompanhantes. Esses cuidados podem ocorrer de várias
maneiras como condições físicas, alimentares, de manipulação do paciente, tecnologia leve,
entre outros. Para realizar a análise, foram criadas três categorias intituladas condições de
hotelaria, atenção da equipe de saúde aos acompanhantes e condições disponibilizadas
pelo hospital geral correspondente à Política Nacional de Humanização.
A categoria condições de hotelaria ocorre, segundo às pessoas entrevistadas, de
duas maneiras: pela atenção hospitalar adequada, e falta de infra-estrutura.
Percebe-se
destaque em relação à primeira subcategoria, atenção hospitalar adequada, haja vista que
todos os entrevistados referiram ter atendimento com qualidade. Sobre isso, eles falam:
Eu acho que o jeito que está, tá ótimo. (...) Eu nunca pude reclamar de hospital
nenhum que eu fiquei até hoje. (...) [o que está bom?] O tratamento das pessoas, é a
comida, o café, o ambiente é bom porque, assim, é um silêncio. Não tenho queixa
nenhuma de nada, de nada. O que eu tenho pra te falar é que eu não tenho nenhuma
queixa. Isso é bom, porque se a gente fosse maltratada eu ia dizer, mas não né, está
tudo muito bom. A gente nem sabia que tinha comida pro acompanhante, que tinha
lugar pra gente dormir e tem tudo isso (sic). P4
Nessa ala aqui, não sei como é nos outros, mas aqui assim tu fica muito a vontade,
se tu quiseres deitar, se tu quiseres ficar sentada, ficar vendo televisão à noite toda,
se tu quiseres... é muito à vontade assim. Não é aquela coisa assim, não é imposta às
regras, assim... é uma coisa que você se sente bem a vontade (sic). P5
Percebe-se que os entrevistados encontram no espaço hospitalar o apoio para o
objetivo maior que é o de cuidado do paciente, e portanto focam o cuidado nele, não
alcançando reflexão sobre suas condições no espaço hospitalar. De certo modo, reproduzem
as regras hospitalares como o silêncio, não questionamento e impossibilidade de fazer outras
atividades. As escolhas afirmadas por P5 eram as de deitar, sentar e ver televisão à noite, no
entanto, ele refere que o hospital o deixa à vontade. Portanto, pergunta-se: o que é estar à
66
vontade no espaço hospitalar? Que poder é esse que impossibilita às pessoas de terem vontade
e de não perceberem isso?
Nota-se que essas regras estão internalizadas nas pessoas, o que não as possibilita
questionar, isso se dá pela própria construção do modelo hospitalar, e o que certamente tem
decorrências para instalação de quaisquer políticas de humanização nestas instituições. Para
Foucault (1979), na Idade Média, a orientação adotada era de vigilância e registro constante
das pessoas no hospital, em que a palavra chave era controle. Controlavam-se as pessoas, os
movimentos de locomoção, a disposição interna do hospital, a higiene, a forma da terapêutica,
tudo estava sempre vigiado. Essa forma de poder possibilita que o hospital objetifique às
pessoas, retirando a singularidade e subjetividade delas, pois todas devem reproduzir às ações
da mesma forma, para padronizar o atendimento pela instituição e esta conseguir controlar e
vigiar.
Conclui-se também que, junto a esse processo de objetivação em consonância
com as regras hospitalares, as pessoas não se apropriam da política enquanto direito, quando
recebem alimentação e têm um espaço para dormir é visto como um favor e não como direito.
Diante desse processo a percepção de uma garantidora destes e de mais direitos, 10.741 – O
Estatuto do Idoso que no Art. 16, indica o direito do idoso em ter um acompanhante, o qual,
legalmente, deve receber condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, e
ainda a Lei 13.324, que no seu Art. 26, garante a permanência do acompanhante nas consultas
e internações.
Identifica-se que o que é de direito do familiar é visto por eles de uma forma
assistencialista, como um favor que o hospital faz para ele. Isso fica claro na fala de P4:
“Isso é bom, porque se a gente fosse maltratada eu ia dizer, mas não né, está tudo
muito bom. A gente nem sabia que tinha comida pro acompanhante, que tinha lugar
pra gente dormir e tem tudo isso (sic)”.
Nesta percepção pode se fazer presente aquela relativa a ser o modelo hospitalar
criado com função de tirar os moribundos da rua e exercer caridade. Os antigos hospitais eram
conhecidos como “Casas de Deus” ou “Casas de misericórdia” e desempenhavam o papel de
exclusão social, retirando a população enferma do convívio social e a acolhendo. Assim, o
hospital representava um espaço exclusivo para pobres que apresentavam ameaça à
coletividade (FOUCAULT, 1979).
67
Apesar de não questionarem as regras e o poder que o hospital exerce sobre eles,
algum nível de questionamento sobre elas pode ser vista, timidamente, em uma fala sobre a
falta de infra-estrutura hospitalar. Sobre isso, P2 diz:
Eu tenho que sair prá fora até pra dar banho nela, porque não dá ali dentro. Não
cabe. Então eu acho isso uma coisa muito grave. (...) Ontem o filho dela veio e ficou
até meia noite, mas foi embora porque não dá pra dormir... os filhos dela são muito
grandes. Como é que vão dormir ali? Dai tem que trabalhar o dia inteiro e a cama é
muito pequena... não dá. O quarto também é pequeno. Não tem conforto, não tem
conforto. Não tem conforto pra nenhuma pessoa pobre que está doente (sic). P2
Percebe-se que os casos apresentam singularidades, como o acompanhante, que é
idoso, pela sua condição física, apresenta indisponibilidade física para acompanhar o paciente
quando comparado com pessoas mais jovens. Cabe ao hospital singularizar o cuidado integral
das pessoas, possibilitando bem-estar ao acompanhante.
Nessa mesma perspectiva, Escher e Cogo (2005) afirmam que o familiar
acompanhante encontra, além das dificuldades do não reconhecimento da sua demanda de
sofrimento, condições precárias de infra-estrutura. Outro ponto que se destaca no discurso de
P2 é que não há conforto para a pessoa sem provimentos econômicos. Assim, remete-se uma
perspectiva de que o sistema de saúde, que pela Constituição é universal, tem sua vertentes
diferenciadas para pessoas pobres, que no presente caso não tem o conforto necessário. Do
mesmo modo, a equidade como um dos princípios do SUS, aqui pode vir sendo descumprida
com os desiguais, para o paciente atendido, e com conseqüências para o seu acompanhante,
ou seja, em termos legais está previsto que todos os cidadãos têm direito ao bem estar.
Andraus, Minamissava, Munari (2004, p.207) dispõem que a equipe de saúde
pouco valoriza as interações com a família e que a implementação de ações para a família
encontra muitos “desafios de ordem operacional, em razão da infra-estrutura e da organização
dos serviços, bem como das condições políticas, econômicas e culturais”. Além de constatar a
necessidade do melhor preparo técnico-científico dos profissionais de saúde para atender o
familiar. (BRASIL, 2001). Em relação ao bem estar do paciente, P2 diz:
O que eu acho também é que a gente tem que sair daqui pra ir lá do outro lado fazer
o exame. Podia ter tudo aqui dentro do hospital para que o doente não precise sair
aqui de dentro. Se tem lá podia ter aqui, pra ter mais conforto pra pessoa que está
doente. A minha irmã foi anteontem pra lá, fui junto com ela duas vezes, lá numa
clínica, lá não sei aonde [fora do hospital] (sic). P2
A falta de algumas tecnologias hospitalares, relativas a equipamentos e
procedimentos traz sofrimento e dor às pessoas. Como no caso da irmã de P2, que apresenta
68
tumores no corpo e estes provocam dores. O deslocamento da pessoa, para outros setores e
ambientes fora do hospital, pode potencializar a dor. Portanto, para não ver seu familiar
adoentado sofrer, P2 questiona a falta de tecnologias no hospital. Por outro lado, o hospital se
articula na rede para suprir as necessidades da pessoa, neste caso, na realização de exames.
Mas, questiona-se: quais os cuidados feitos nesse transporte?
Qual o preparo dos
profissionais para a realização desse transporte? Na condição de acompanhante todos esses
questionamentos acerca da falta de infra-estrutura tem decorrências para sua função junto ao
paciente, trazendo-lhe sofrimentos. Em relação ao preparo dos profissionais para o cuidado ao
acompanhante,
a
categoria
atenção
da
equipe
aos
acompanhantes
destaca-se,
principalmente no que tange a tecnologia leve da equipe de saúde, identificada nas seguintes
falas:
Os enfermeiros... as pessoas trabalham muito bem, elas tratam a gente muito bem,
esse é o conforto que a gente tem no hospital (sic). P2
Com certeza [a equipe se preocupa com o acompanhante], hoje até eles me viram
estudando sentada naquele sofazinho que serve de cama também, daí trouxeram uma
cadeira. Acharam que eu estava meio torta. Daí eles dão alimentação, perguntam se
está tudo bem. Bem bacana, com certeza que se preocupam também com o
acompanhante (sic). P1
É assim... eles vêm, se preocupam, perguntam como é que agente está, como é que
está se sentindo. Tem a menina que passa no quarto, de vez em quando, pergunta
como é que a gente está se sentindo (sic). P3
Como já indicado, antes, a tecnologia leve é a parte da relação entre a pessoa que
recebe o cuidado e o profissional, sendo que esta deve conduzir todo o trabalho. Não há como
realizar uma intervenção apenas com tecnologia dura, ou aquela relativa aos equipamentos e
procedimentos, pois esta caracterizar-se-ia como uma relação violenta. Caso, uma pessoa
chegue em um serviço de saúde para ser atendida e o trabalhador não faça contato visual no
atendimento, não explica os procedimentos e se valha de uma suposta autorização hospitalar
para estabelecer contato com o corpo do paciente sem a sua aprovação, isto pode causar um
agravo ao seu sofrimento, e portanto é uma violência. A violência psicológica se expressa nos
maus tratos simbólicos que pode provar, no usuário, a sensação de desinformação,
desrespeito, desprezo e depreciação (MERHY, 1999). Na fala de P3, o profissional se
relaciona com a pessoa, a olha e a escuta, não realizando apenas os procedimentos
hospitalares padronizados, portanto ele realiza um trabalho vivo, pautado na relação,
produção de vínculo, acolhimento, conhecimento técnico, equipamentos, entre outros
69
(MERHY, 2002). Caso, ele apenas realizasse os procedimentos como injeção, verificação de
pressão arterial, consulta médica e não tivesse cuidado com a pessoa, seria uma violência
contra esta. No entanto, perguntar como a pessoa está se sentindo apenas para seguir um
protocolo, percebendo a pessoa como um objeto, não está sendo utilizada a tecnologia leve,
mas sim violência.
Soares e Leventhal (2008, p. 327) afirmam a importância de “manter diálogo,
transmitir confiança técnica, compreender e respeitar o outro”, ações que são chamadas por
Mehry (2002) de tecnologia leve. Esse cuidado do profissional para com o usuário, ou seja, a
tecnologia leve, precisa fazer parte dos procedimentos duros, ou daqueles que envolvem
grande tecnologia, não precisando tal dispor de um tempo além do já disponibilizado. O
profissional deve utilizar como estratégia ouvir a pessoa, estar disponível e ter interesse pelo
outro (CARNEIRO, 2008).
E essa postura de atenção disponibilizada ao paciente, por
extensão, deve também ser voltada ao familiar.
O interesse pelo outro e o cuidado da equipe pelas pessoas internadas é percebida
na fala de P1, em que, pelo fato do enfermeiro olhar para ela e levar uma cadeira, possibilitou
vínculo entre ambos. Portanto, faz-se importante a sensibilidade por parte da equipe de
enfermagem em ter empatia pelo outro e compreender os processos e sentimentos dos
familiares que vivenciam a internação, sendo que este deve estar alerta às necessidades e as
novas demandas do familiar (GOMES, ERDMANN e BUSANELLO, 2010)
O cuidado da equipe para com os acompanhantes perpassa também pela
orientação quanto aos procedimentos. No entanto, informar à pessoa, o que na perspectiva de
Merhy são as tecnologias leve-duras, ou tecnologias com médio grau de complexidade,
também precisam ser acompanhadas das tecnologias leves, caso contrário constituem-se em
apenas um protocolo hospitalar. Contudo, pode ser vista certa ausência dessa articulação entre
tecnologias, que pode estar ligado apenas a racionalização de procedimentos, conforme a fala
de P2:
Eles disseram o que tem que fazer. Usar luva, passar álcool nas mãos, cuidar com a
minha coluna, não tocar nela (sic). P2
O cuidado ocorre na relação entre as pessoas e desenvolve-se em tempo contínuo,
e além das tecnologias “abre espaço para negociação e a inclusão do saber, dos desejos e da
necessidade do outro” (PINHEIRO, 2009 p.113). Assim, não basta apenas informar os
procedimentos, mas perceber a relação do acompanhante com a internação e os significados
disso para ele.
70
Em relação aos atendimentos ao acompanhante, um entrevistado destacou a falta
de atendimento psicológico ao acompanhante, conforme a fala:
Assim, a parte vamos dizer emocional, a psicológica não. É mais você ali que vai
lidando com as situações, vai interagindo com o médico, vai perguntando... com a
equipe de enfermagem, se precisa de alguma coisa, mas assim, exclusivamente,
nesse ponto, não (sic). P5
A atuação do psicólogo faz-se necessária, para estabelecer a expressão da
dimensão subjetiva da pessoa. No entanto, para tal atuação é necessário que a enfermagem
esteja capacitada para identificar, acompanhar e direcionar a demanda subjetiva para o
profissional adequado. Entretanto, estas questões devem ser pactuadas em reuniões de equipes
multiprofissionais, quando nas discussões dos casos clínicos. A atuação do psicólogo
juntamente com outros profissionais pode ocorrer a partir de grupos educativos cujo objetivo
é o de conscientizar o paciente e sua família da doença e de formas de tratamento (ISMAEL,
2005). Nesse sentido, a orientação ao paciente e familiar tem como metas a prevenção e o
tratamento (CAMPOS, 1995).
Contudo, uma certa indiferença das pessoas entrevistadas em relação aos aspectos
emocionais que envolvem o acompanhamento pode ser visto nesse estudo. E isto pode ser
relacionado às crenças que os atendimentos prestados no hospital são para o corpo e não para
a pessoa doente, e muito menos para o seu familiar que está acompanhando, como fala P4:
Não, porque eu vou na frente e já pergunto [para a equipe de saúde]. Se eles forem
perguntar pra cada um que está aqui eles também não trabalham. Porque eles já vão
ali pra visitar e vê como é que está o paciente. E daí se eles forem fazer mais
pergunta pra todo mundo... não sei, eu penso desse jeito (sic). P4
Nota-se que a acompanhante afirma que os familiares não devem estar inclusos no
atendimento da equipe, isso pode ocorrer devido a um senso comum que naturaliza a forma de
interpretar a realidade vivenciada de que a equipe deve ser voltada ao cuidado do paciente.
Portanto, o familiar desconsidera, por vezes, seus sentimentos, vivencias e foca no paciente.
Essa é uma estratégia psicossocial do acompanhante para vivenciar a internação, que é
potencializada pelo hospital. Assim, o psicólogo, nesse espaço, pode, inclusive, proporcionar,
aos acompanhantes, percepções como estas, prestando informações, desmistificando algumas
crenças e possibilitando maior autonomia do acompanhante, aumentando o controle da
situação (ISMAEL, 2005).
71
A Política Nacional de Humanização, a partir da fala dos entrevistados, foi
possível de ser identificada nas condições disponibilizadas pelo hospital aos familiares. Esta
política pode ser discutida de três formas, são elas: implementação da PNH, burocracia
hospitalar e dificuldade de acesso à saúde.
A implementação da PNH no hospital, a partir dos entrevistados, parece ocorrer
de forma ainda muito insipiente. Isso porque é necessário mudar toda a cultura hospitalar e
propor uma nova forma de ser e fazer os serviços de saúde, seja ela o respeito à pessoa,
melhor qualidade no atendimento, capacitação dos profissionais para um novo conceito em
saúde pautado pela humanização. Sobre isso, os entrevistados relatam:
Peguei um livro pra ler que a moça passou, deixou um livrinho aqui e estou lendo.
(...) esse negócio do livro achei uma idéia muito interessante pra pessoa passar o
tempo de estar oferecendo um livro. Eu nem sabia que existia aqui dentro. Então eu
achei bem interessante... se preocupando com os pacientes, mas com os
acompanhantes também. E assim, a gente se sente muito a vontade (sic). P5
Aqui eles deixam colherinha, deixam faca pra trás. Elas são muito carinhosa, muito
gente fina com a gente, com as pessoas, com todo mundo, não só comigo. (...)
Então, aquele eu já não gostei e era um hospital pequeno, era uma clinica, mas não
me lembro. Assim, eles não deixavam nem uma faca pra gente descascar uma
laranja, pro acompanhante não davam comida nada (sic). P4
Estar em um hospital retira, por vezes, a autonomia da pessoa e essa fica a mercê
das regras e decisões institucionais. Portanto, ter empatia, reconhecer a necessidade do outro,
sua subjetividade e singularidade faz parte do processo de humanização hospitalar. Processo
que deve ser transversal e já fazer parte do hospital e não ser algo a ser implementado como
novo. Esses pequenos atos como emprestar um livro e deixar um talher fizeram diferença na
vivência desses acompanhantes de internação, pois o hospital validou e garantiu às
necessidades da pessoa e expressos em tais ações, garantindo o vínculo. No entanto, faz-se a
ressalva da necessidade de implementação de outras ações e atividades do hospital para com o
acompanhante e paciente. É necessário “pensar e articular espaços institucionais para analisar,
refletir, discutir e exercitar modelos de assistência pautados na coordenação do processo de
cuidar que incluam a família” (DELL’ACQUA, 2008, p. 118), já que o processo de
humanização pauta a valorização dos sujeitos implicados no processo de bem estar do
paciente e seu familiar.
No entanto, estão presentes no hospital o excesso de burocracia hospitalar como
documentos para se fazer um exame ou cirurgia, o tempo de espera para saber um
72
diagnóstico, os erros dos profissionais em relação a procedimentos de tecnologia dura, a
espera pelo atendimento médico, entre outros. Em relação a isso, os entrevistados dizem:
Até agora a enfermeira veio e disse que o médico veio e preencheu uma guia pra
fazer o pedido da angioplastia, ele já preencheu errado. Ela está esperando ele
chegar que é pra ela levar lá pra eles autorizarem. Ver o horário que ela [a paciente]
tem que entrar em jejum para ela fazer a cirurgia. Então, tudo demora. E a gente fica
preocupada, porque não sei se ela vai fazer (sic). P6
A burocracia hospitalar e a falta de informação podem deixar os acompanhantes
ansiosos e preocupados. Portanto, os profissionais devem atuar nesse sentido, criando
estratégias junto com os pacientes e acompanhantes para minimizar a ansiedade. Os
profissionais que atuam no hospital como enfermeiro, médico, psicólogo, assistente social,
entre outros, devem atuar em consonância com a PNH e possibilitar que os processos
burocráticos da internação não tragam mais sofrimento. Percebe-se isso na fala de P6 que
possui dúvidas quanto aos procedimentos que serão adotados na mãe, diante dos quais, quiçá,
alguns minutos que possibilitassem explicações do que estava acontecendo, pudessem
minimizar a ansiedade do acompanhante.
A subcategoria dificuldade de acesso demonstra a percepção que os entrevistados
têm da gestão do Estado em relação à saúde, afirmando que estão descontentes e voltam a
dizer que o SUS é assistência de saúde diferenciada para pessoas pobres economicamente,
como dizem os entrevistados:
Conforto, conforto no geral para os pacientes, porque quem é rico querida, sempre
paga, mas o pobre não paga, o pobre não pode pagar. Ai fica esperando pela cirurgia
(sic). P2
(...) dá vontade até de chorar, tu vê tanta coisa desse mundo que os políticos fazem.
Não fazem uns hospitais bons, não tem um lugar adequado pra colocar um
acompanhante do lado na hora do sofrimento. Não é fácil (sic). P2
O hospital em si, eu vou te falar o que os enfermeiros fazem o que podem, que é a
profissão deles. Mas o hospital em si, o hospital até se preocupa, mas os que
comandam é que não se preocupam, ou os lá de cima, o hospital não pode, eu não
sei. Eu coloco mais a culpa nos governantes, os governantes que não fazem uma
coisa adequada pra ter um hospital pra satisfazer o povo (sic). P2
Sobre isso Foucault (1979, p.194) afirma o crescente desenvolvimento de um
mercado médico centrado nos exames, diagnóstico e terapêutica individual. A medicina não
pode ser desassociada da organização “de uma política de saúde e de uma consideração das
73
doenças como problema político e econômico”. O autor sugere que o estado da saúde da
população foi definido como objetivo político e dessa forma, o Estado iniciou movimentos de
organização e controle sociais. No entanto, essa iniciativa não é restrita ao Estado, pois está
espalhada em toda a sociedade. A lógica da política de governo não é apenas controle do
Estado, todos a compartilham. E tem reflexo na organização da família e a utilização da
medicalização como primeira instância. Assim, o bem-estar físico da população, a ordem e o
enriquecimento são objetivos do Estado.
no momento em que os procedimentos mistos de assistência são decompostos e
decantados e, em que se delimita, em sua especificidade econômica, o problema da
doença dos pobres, a saúde e o bem-estar físico das populações aparecem como um
objetivo político que a ‘polícia’ do corpo social deve assegurar ao lado das
regulações econômicas e obrigações da ordem (FOUCAULT, 1979, p. 197).
A qualidade das ações e dos serviços dos SUS depende do desvelamento de uma
luta que envolve um conflito de interesses entre o Estado através de seus governantes, o
corporativismo profissional, movimentos sociais e sindicais e a organização dos usuários do
SUS. Assim, as pessoas, que fazem uso do setor saúde, em especial o hospital, ao estarem
esclarecidas dessa realidade, podem interferir com mais propriedade sobre essa mesma
realidade. E, ao se apropriarem da política, podem questionar os gestores sobre as ações do
hospital, fazendo-se cumprir seus direitos. Debates relacionados ao submetimento das pessoas
às regras hospitalares e a não existência de espaços para os familiares parecem ser necessários
de terem seu início, de modo que também acompanhantes possam desempenhar poder nesse
espaço para que ele seja aumentado em sua capacidade de atuação pautada no singular e na
integralidade.
74
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto histórico que envolve a Política de Estado voltada aos familiares que
acompanham pacientes internados em hospital geral é recente, ao passo que esta prática faz
parte da solidariedade e cooperação humana ao longo da história. Os familiares que
vivenciam o acompanhamento de pacientes em uma instituição hospitalar referem queixas
pelas condições estruturais do ambiente, agradecimento pelo cuidado da equipe, insatisfação
com o modo operado pela gestão hospitalar e, principalmente, encontra-se uma ausência de
consenso sobre quais os sentimentos e ações que envolvem as estratégias que esses mesmos
familiares realizam no momento de acompanhar o paciente internado.
Neste intuito, essa pesquisa objetivou caracterizar quais seriam as estratégias
psicossociais utilizadas pelos familiares para acompanhar os pacientes internados no Hospital
Geral e, para tanto, entrevistou-se seis familiares acompanhantes de pacientes internados em
um Hospital Geral da Grande Florianópolis.
Em relação ao cotidiano dos familiares durante o acompanhamento no Hospital Geral,
identificou-se que os motivos que levam o familiar a estar como acompanhante ocorrem por:
disponibilidade de tempo, ausência de outras pessoas, licença do trabalho e intimidade.
Destaca-se que algumas pessoas são pré-dispostas no seu sistema familiar a serem
acompanhantes, e assim são definidas por comprometer menos o padrão de funcionamento
familiar, continuar a homeostase e provocando menor crise na família.
No entanto, os familiares que acompanham precisam de compreensão de pessoas para
conseguirem realizar as atividades anteriores e hospitalares, tais quais o cônjuge, parentes e de
pessoas relacionadas ao trabalho. Assim, vê-se que é necessário que o acompanhante tenha
uma rede de cooperação que dê suporte a essa nova configuração do seu cotidiano, a fim de
que a pessoa consiga tanto ser acompanhante, como se adaptar e resolver suas atividades
cotidianas. Ficou claro que para a pessoa se reorganizar, a partir de um evento que gerou crise
no sistema familiar, precisa da compreensão de outras pessoas.
Identificou-se que, no cotidiano dos familiares acompanhantes, ocorrem mudanças
significativas, em que, por vezes, há um rompimento de todas as atividades realizadas
anteriormente, ficando o familiar acompanhante disponível apenas para a pessoa internada.
Algumas das atividades realizadas antes da internação eram: trabalhar, estudar, disponibilizar
tempo para si, lazer, ficar em casa, dormir em casa, entre outros. Isto, porque, há familiares
75
que, por vezes, permanecem no hospital preocupados com os compromissos anteriores à
internação.
Assim, os familiares acompanhantes reorganizam aspectos da vida em relação aos
compromissos anteriores e podem apresentar diversos sintomas que representam a ansiedade
frente à internação e a reorganização da vida. Percebe-se que os sintomas apresentados pelos
familiares estavam pré dispostos devido ao seu padrão de funcionamento, que se apresenta
nos pensamentos, ações, crenças, na comunicação verbal, não verbal e o não dito, ou seja,
cada familiar pode apresentar sintomas, cada qual de acordo com suas crenças e padrões de
funcionamentos.
Para conviver com o sofrimento, os familiares reorganizaram aspectos da vida
relacionados a compromissos anteriores à internação, organização emocional e recorreram às
crenças correspondentes à religião. Esses mecanismos são estratégias adaptativas para manter
o equilíbrio e voltar à homeostase provocada pela crise do sistema familiar, devido à
internação.
Outras estratégias psicossociais para a convivência com a internação e sofrimento da
pessoa internada ocorrem através de atividades como: estudar, ler, conversar, fazer trabalhos
manuais, ajudar outras pessoas internadas, utilizar recursos áudio-visuais. Essas atividades são
realizadas, por vezes, a fim de passar o tempo e possibilitar que seja mais agradável a
permanência no hospital. As motivações que levam às escolhas dessas atividades pelos
acompanhantes são singulares a cada um deles, no entanto o ambiente hospitalar limita as
escolhas e possibilidades. Isto porque trata-se de um ambiente que tem como regra respeitar o
espaço do outro, onde é preciso que o acompanhante concilie uma atividade que lhe dê prazer
com as possibilidades dentro do quarto.
Essas atividades podem ser utilizadas pelo hospital como proposta aos familiares que
estão acompanhando, pois este pode ser um momento em que os familiares podem
compartilhar sofrimento, e ser uma estratégia psicossocial para conseguir permanecer no
hospital com melhor qualidade de vida. O hospital, a partir da Política Nacional de
Humanização (PNH) deve utilizar esses recursos e ampliar a visão das pessoas para
escolherem entre participarem ou não das atividades, pois, já que estão para acompanhar,
talvez, alguns familiares recusem participar das atividades devido a crenças de não estar
realizando um papel adequado de acompanhante.
As atividades realizadas pelos familiares a fim de propiciar bem-estar ao paciente
estão ligadas ao suporte emocional, cuidados manuais e possibilitar lazer. O familiar
acompanhante realiza inúmeras atividades para a promoção de saúde e prevenção, sendo isso,
76
possibilitado pelo vínculo e afeto entre ambos. O familiar protege o paciente de agressões
próprias da hospitalização. Assim, entende-se a importância do acompanhante no hospital,
que pode ou não qualificar e dar suporte à permanência do paciente nesse espaço e para o
enfrentamento de dificuldades.
A identificação das condições disponibilizadas aos familiares acompanhantes
revelaram que os familiares dessa pesquisa se colocam submetidos ao poder hospitalar e
adaptados para reproduzirem as regras hospitalares como silêncio, não questionamento e
impossibilidade de fazer outras atividades. Nota-se que essas regras estão internalizadas nas
pessoas, o que não as possibilita questionar. Isso se dá pela própria constituição do modelo
hospitalar. Essa forma de poder tem como objetivo pelo hospital de objetivar as pessoas,
retirando a singularidade e subjetividade delas, pois todas devem reproduzir às ações da
mesma forma, para padronizar o atendimento pela instituição e esta conseguir controlar e
vigiar. Portanto, há uma retirada das possibilidades subjetivas das pessoas, que perpassa o
controle quanto à sua forma de permanecer no hospital. No entanto, por outro lado, percebe-se
que há a singularidade de cada acompanhante, assim, cabe ao hospital singularizar o cuidado
às pessoas, possibilitando bem-estar ao acompanhante.
Em relação à PNH esta é caracterizada pela tecnologia leve por parte da equipe, o
profissional se relaciona com a pessoa, a olha e a escuta, não realizando apenas os
procedimentos padrão, portanto ele realiza um trabalho vivo, pautado na relação, produção de
vinculo, acolhimento, conhecimento técnico, equipamentos, entre outros (MERHY, 2002).
Assim, a PNH foi percebida pela pesquisadora quando os acompanhantes têm por parte da
equipe pequenos atos como: emprestar um livro, deixar uma faca para descascar uma laranja,
trazer uma cadeira para estudar, entre outros. Esses pequenos atos fizeram diferença na
vivência de internação dessas pessoas, pois o hospital validou e garantiu às necessidades da
pessoa e expressos em tais ações, garantindo o vínculo. No entanto, faz-se a ressalva da
necessidade de implementação de outras ações e atividades do hospital para com o
acompanhante e paciente.
Nota-se que, para um acompanhante, os familiares não devem estar inclusos no
atendimento da equipe, isso pode ocorrer devido a um senso comum que naturaliza a forma de
interpretar a realidade vivenciada de que a equipe é destinada ao cuidado do paciente.
Portanto, o familiar desconsidera, por vezes, seus sentimentos e vivências, focando-se apenas
no paciente. Essa é uma estratégia psicossocial do acompanhante para vivenciar a internação,
que é potencializada pelo hospital.
77
Em relação às condições disponibilizadas pelo hospital aos familiares acompanhantes,
estes relataram que estão satisfeitos. Contudo, percebeu-se que os entrevistados foram
submetidos ao poder hospitalar, reproduzindo normas hospitalares, sem maiores
posicionamentos. Dessa forma, percebeu-se que as regras e o modelo hospitalar estão
internalizados e subjetivados nos acompanhantes, o que facilita ao hospital o cuidado às
pessoas, pois padroniza o atendimento, além de possibilitar que este controle e vigie às
pessoas.
É importante mencionar que houve facilidades e limitações para a realização dessa
pesquisa. Destacam-se como facilidades a comunicação com o hospital e enfermeiros das alas
do Hospital Geral, que facilitaram a localização de participantes para a pesquisa. Houve ainda
o facilitador destes participantes em contribuir com a concretização desta pesquisa e com o
avanço científico. As limitações ocorreram no sentido de encontrar familiares acompanhantes
que respondessem aos critérios de permanecer no hospital por mais de uma semana e por
menos de um mês, estarem entre 30 a 60% do seu dia no hospital, terem entre 21 a 60 anos e
serem do SUS. Dessa forma, diante da dificuldade, foi excluído o critério idade do familiar
acompanhante e alterado o tempo de permanência no hospital para, no mínimo, três dias e
mais de seis horas diárias, tendo como convênio o SUS.
Sugere-se novas produções científicas sobre a sensação e sentimentos do paciente em
relação à presença de um acompanhante e a contribuição ou não da presença deles, pois
poderá justificar ou não a presença do familiar no Hospital e contribuirá para a percepção da
importância da subjetividade no hospital, bem como para a implementação da PNH. Do
mesmo modo, indica-se o desenvolvimento de pesquisas sobre a percepção da equipe de
saúde em relação à presença de acompanhantes no hospital, para poder capacitá-los e
possibilitar atendimento integral ao paciente e acompanhante. Além disso, sugere-se também
pesquisas acerca da subjetivação do poder hospitalar sobre os pacientes e acompanhantes.
78
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mentos-expressos-no-setting-terapeutico&catid=42:artigos&Itemid=65.
85
APÊNDICES
86
APÊNDICE A – REVISÃ BIBLIGRÁFICA DE LITERATURA
Ano
Autor
Dalva
Irany;
1997 GRUDTNER,
CARDOSO,
Daniela
Eilert;
FARIAS, Luciana Aparecida
Muniz; BARCELLOS, Wanda
Beatriz Elsen.
1998 DUPAS, Giselle; CALIRI, Maria
Helena L. Maria; FRANCIOSI,
Conceição
1998 FRANCO, Maria Celsa
Título
Acompanhando por vinte e quatro horas a sua criança:
experiência de familiares em unidade de internação
Percepções de enfermeiras de uma instituição
hospitalar sobre a assistência prestada à família e à
criança portadora de câncer
Situaçäo do familiar que acompanha um paciente
adulto internado em um hospital geral
2000 CREPALDI, Maria Aparecida; A recepção da família na hospitalização de crianças
VARELLA, Patrícia Bittencourt
2001 NEMAN, Fabiana Augusto
Experienciando a hospitalizaçäo com presença da
família um cuidado que possibilita conforto
2002 HENCKEMAIER, Luizita
Dificuldades ao cuidar da família no hospital
2003 PEREIRA, Maria Isabel Marques; A co-existência com os familiares dos pacientes
GRAÇAS, Elizabeth Mendes das
hospitalizados: experiência do enfermeiro no seu
mundo-vida profissional
2004 PINHO, Leandro Barbosa de; Refletindo sobre o contexto psicossocial de famílias de
KANTORSKI, Luciane Prado
pacientes internados na unidade de emergência
2004 OLIVEIRA, Jennifer de França
Estratégias de enfrentamento (coping) dos familiares
de pacientes internados em unidade de terapia
intensiva.
Maria
Lourdes;
2004 CENTA,
MOREIRA, Elaine Cristhine;
PINTO, Magda Nanuck de
Godoy; HOLFFING, Ribas
2004 ANDRAUS, Lourdes Maria Silva;
MINAMISAVA,
Ruth;
MUNARI, Denize Bouttelet
A experiência vivida pelas famílias de crianças
hospitalizadas em uma unidade de terapia intensiva
neonatal
Desafios da enfermagem no cuidado à família da
criança hospitalizada
Myriam Vulnerabilidade da família: desenvolvimento do
2005 PETTENGILL,
Aparecida Mandetta; ANGELO, conceito
Margareth
2005 PINTO, Júlia Peres; RIBEIRO, Procurando manter o equilíbrio para atender suas
Circéa
Amália;
SILVA, demandas e cuidar dacriança hospitalizada: a
Conceição Vieira da
experiência da família1
87
2005 ESCHERB, Rafaela Bertoglio; Os familiares de pacientes adultos hospitalizados:
sua participação no processo de cuidar na enfermagem
COGOC, Ana Luísa Petersen
2006 TAVARES, Aurileide de Sousa;
QUEIROZ,
Maria
Veraci
Oliveira; JORGE, Maria Salete
Bessa
2006 CARVALHO, Fernanda Loureiro
de; ROSSI, Lídia Aparecida
Atenção e cuidado à família do recém-nascido em
unidade neonatal: perspectivas da equipe de saúde
Impacto da queimadura e do processo de
hospitalização em uma unidade de queimados sobre a
dinâmica familiar: revisão de literatura
Identificação da vulnerabilidade da família na prática
2006 PETTENGILLI, Myriam
Aparecida Mandetta; ANGELOII clínica
Margareth
2007 BOMFIM, Arlete C; BASTOS A família em situações disruptivas provocadas por
Ana Cecília; CARVALHO, Ana hospitalização
MA
2007 MONTICELLI, Marisa; BOEHS, A família na unidade de internação hospitalar: entre o
Astrid Eggert
informal e o instituído
2007 LEITE, Noélia Silva Ladislau; A família da Criança Dependente de Tecnologia:
CUNHA Sueli Rezende
aspectos fundamentais para a prática de enfermagem
no ambiente hospitalar
2007 MORENO, Vânia
A família do paciente em situação crônica de vida: a
visão deEnfermeiros de um hospital de ensino
2008 SOARES, Maria de Fátima; A relação entre a equipe de enfermagem e o
LEVENTHAL, Lucila Coca
acompanhante da criança hospitalizada: facilidades e
dificuldades
2008 CARNEIRO, Taize Muritiba
Vivenciando o cuidar e o curar como familiar em um
hospital
Marcos Do acolhimento a desconsideração da família no
cenário hospitalar pela enfermagem: a divergência de
modelos assistenciais e o sofrimento no trabalho, como
componentes intervenientes
Dimensão imaginativa dos familiares de clientes
2008 SILVA, Fabiola Soares da
Dissertação
internados em Unidade de Terapia Intensiva:
necessidades de acolhimento e informações sobre
saúde
MONTEFUSCO;
Selma
Avaliação de famílias no contexto hospitalar: uma
2008
Rodrigues Alves, BACHION; aproximação entre o modelo calgary e a taxonomia da
Maria Márcia; NAKATANI, nanda
Adélia Yaeko Kyosen
2009 COSTA, Jaquilene Barreto da; Avaliação do sofrimento psíquico da mãe
MOMBELLI, Mônica Augusta; acompanhante em alojamento pediátrico
MARCON, Sonia Silva
2008
DELL’ACQUA,
Lourenço Dissertação
Margrid; Perfil de familiares acompanhantes: contribuições para
2009 BEUTER,
BRONDANI, Cecília Maria; a ação educativa da enfermagem
SZARESKI, Charline; LANA,
Letice Dalla; ALVIM, Neide
88
Aparecida Titonelli
2010 VALADARES, Glaucia Valente; Estudos sobre o cuidado à famíla do cliente
PAIVA, Raquel Silva de
hospitalizado: contribuições para enfermagem
2010 GOMES, Giovana Calcagno; Refletindo sobre a inserção da família no cuidado
ERDMANN, Alacoque Lorenzini; àcriança hospitalizada
BUSANELLO, Josefine
89
APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
FICHA DEMOGRÁFICA
Unidade de Internação
Tempo que o paciente está internado:
Idade do acompanhante:
Você acompanhou ele durante todas essas
__ semanas?
Grau de parentesco com o paciente:
Quantas vezes por semana você
acompanha o paciente?
Patologia do paciente:
Quantas horas por dia você permanece no
hospital com ele?
Idade do paciente:
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1. Por qual motivo você é o acompanhante do seu/sua ___________?(preencher conforme
item grau de parentesco)
2. Acontece revezamento? Se sim, com quem são feitos? Se não, por que?
3. Durante o acompanhamento, você realiza alguma atividade de cuidado ao paciente?
Quais?
4. Durante o seu horário de acompanhamento você realiza alguma atividade com o
paciente? Qual (is)?
5. Quais as atividades que você faz para passar o seu tempo?
6. Como era a sua rotina antes da internação?
7. Como está a sua rotina agora?
8. Houve alguma mudança? Qual(is)?
9. Em relação à infra-estrutura, ela é adequada? Se não, por que?
10. Além daquelas atividades que você já me falou, existem algumas outras atividades que
você faz para sanar essas dificuldades? Se sim, quais? Se não, por que?
11. Você percebe que essas atividades que você realiza durante o acompanhamento são
suficientes para minimizar seu sofrimento? Se sim por que, se não o que falta?
12. O hospital ou a equipe de saúde, durante o acompanhamento, já prestou algum
atendimento ou cuidado em você? Se, sim qual(is)?
13. Você acha que o hospital se preocupa com o seu bem-estar? Por que?
14. O que o hospital poderia fazer para te ajudar?
90
ANEXOS
91
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
[email protected], (48) 3279.1036
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESLCARECIDO (TCLE)
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), em uma
pesquisa que tem como título “Estratégias Psicossociais Utilizadas Pelos Familiares Para
Acompanhar os Pacientes Internados No Hospital Geral”. A pesquisa tem como objetivo
caracterizar estratégias psicossociais utilizadas pelos familiares para acompanhar os pacientes
internados no Hospital Geral.
É muito importante pesquisar a respeito desse assunto, pois a tarefa de cuidar de
uma pessoa hospitalizada requer do familiar disposição física e emocional, já que estar em
uma instituição hospitalar pode ser desgastante. Esta pesquisa será realizada com oito
familiares acompanhantes neste Hospital Geral. As pessoas serão entrevistadas sendo que
perguntas serão feitas sobre as dificuldades psicológicas, sociais e ambientais da permanência
no hospital, bem como as possíveis estratégias criadas para minimizar essas dificuldades. A
entrevista será gravada, durará cerca de vinte minutos e será feita num lugar onde você possa
sentir-se à vontade para responder as perguntas. Depois o pesquisador fará a transcrição fiel
da gravação evitando mudar o que você disser na entrevista.
Você não é obrigado (a) a responder todas as perguntas e poderá desistir de
participar da pesquisa a qualquer momento (antes, durante ou depois de já ter aceitado
participar dela ou de já ter feito a entrevista), sem ser prejudicado (a) por isso. A partir dessa
pesquisa você estará contribuindo para a construção de conhecimentos acerca das estratégias
que utilizadas para permanecer no hospital e cuidar do seu familiar adoentado.
Como você, possivelmente, falará acerca de dificuldades psicossociais em relação
à hospitalização de seu familiar e estratégias para conviver ou sanar essas dificuldades, poderá
ocorrer desconforto durante a entrevista. Caso isso ocorra, é importante que diga isso a
pesquisadora para que ela possa auxiliá-lo (a).
92
Você poderá quando quiser pedir informações sobre a pesquisa à pesquisadora.
Esse pedido pode ser feito pessoalmente, antes ou durante a entrevista, ou depois dela, por
telefone, a partir dos contatos do pesquisador que constam no final deste documento.
Todos os seus dados de identificação serão mantidos em sigilo e a sua identidade
não será revelada em momento algum. Em caso de necessidade, serão adotados códigos de
identificação ou nomes fictícios. Dessa forma, os dados que você fornecer serão mantidos em
sigilo e, quando utilizados em eventos e artigos científicos, assim como em campanhas de
prevenção, a sua identidade será sempre preservada.
Lembramos que sua participação é voluntária, o que significa que você não poderá
ser pago, de nenhuma maneira, por participar desta pesquisa.
Eu, _______________________________, abaixo assinado, concordo em
participar desse estudo como sujeito. Fui informado(a) e esclarecido(a) pelo pesquisador
________________________ sobre o tema e o objetivo da pesquisa, assim como a maneira
como ela será feita, benefícios e os possíveis riscos decorrentes de minha participação. Recebi
a garantia de que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto me traga
qualquer prejuízo.
Nome por extenso:
_______________________________________________
RG:
_______________________________________________
Local e Data:
_______________________________________________
Assinatura:
_______________________________________________
Pesquisador Responsável Ana Maria Pereira Lopes
Telefone para contato: (48) 3279-1084
Outros Pesquisadores: Girlane Mayara Peres
Telefone para contato: (48) 8409474
93
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E
GRAVAÇÕES
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E
GRAVAÇÕES
Eu _____________________________________________________________
permito que os pesquisadores relacionados abaixo obtenham gravação de voz,de minha
pessoa para fins de pesquisa científica, médica e/ou educacional.
Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa
possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos
científicos. Porém, a minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por
nome ou qualquer outra forma.
As gravações ficarão sob a propriedade do pesquisador pertinente ao estudo e
sob sua guarda.
Nome do sujeito da pesquisa
e/ou paciente:
___________________________________________
_
___________________________________________
RG:
___________________________________________
Endereço:
Assinatura:
__________________________________________
Pesquisador Responsável Ana Maria Pereira Lopes
Telefone para contato: (48) 3279-1084
Outros Pesquisadores: Girlane Mayara Peres
Telefone para contato: (48) 8409474Data
Local onde será realizada a pesquisa: Hospital Geral
Adaptado de: Hospital de Clínicas de Porto Alegre / UFRGS
94
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universidade do sul de santa catarina girlane mayara peres