PROCESSOS E PRÁTICAS EM JORNAIS DE ORGANIZAÇÕES
SOCIAIS DE PASSO FUNDO1
GT8: Comunicação Popular, Comunitária e Cidadania
Dr. Otavio José Klein2
Universidade de Passo Fundo - Passo Fundo – Brasil
[email protected]
Resumo
O presente texto é um estudo que partiu de uma pesquisa em instituições sóciocomunitárias na cidade de Passo Fundo-RS, Brasil, em Comunicação Comunitária
buscando compreender o contexto da sua comunicação impressa, os seus
processos e as práticas. A pesquisa foi realizada através do preenchimento de um
questionário em cada instituição mantenedora de veículo impresso e a coleta de
um exemplar da mais recente edição de cada um dos impressos. O texto foi
construído a partir do conceito de comunidade e de comunicação comunitária e os
critérios de análise dos meios impressos estudados foram tirados de MartinBarbero (2009) onde ele distingue o que são os meios alternativos, comunitários e
cidadãos. A pesquisa possibilitou trazer para o texto diversos dados sobre os
jornais pesquisados, mas principalmente a reflexão que possibilitou concluir de
que os jornais são principalmente alternativos e comunitários, mas pouco
cidadãos.
1
Texto apresentado no GT8: Comunicación Popular, Comunitaria y Ciudadanía do XII Congreso
Latinoamericano de Investigadores de la Comunicación, em Lima, Perú entre os dias 6 e 8 de
agosto de 2014.
2
Pesquisador e professor em Comunicação na Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul
– Brasil.
Palavras-chave: Comunicação Comunitária. Jornais. Passo Fundo.
Introdução
Em Passo Fundo3, no Rio Grande do Sul (Brasil), os jornais de organizações
sócio-comunitárias são destaque no universo comunicacional. O presente texto
apresenta e discute esta realidade buscando contextualizar esta forma de
comunicação, bem como, compreender seus processos e práticas. Com isso
busca contribuir com a produção de conhecimento em Comunicação Comunitária
Regional, ainda tímida no universo dos estudos comunicacionais.
O presente estudo emerge de um processo de reflexão no ensino e na extensão
em
Comunicação
Comunitária
nos
Cursos
de
Comunicação
Social
da
Universidade de Passo Fundo (UPF) (KLEIN, 2013), com destaque para a
disciplina de Comunicação Comunitária que figurava no currículo acadêmico como
disciplina obrigatória e atualmente figura como opcional, os Fóruns de
Comunicação Comunitária, na Universidade, que oportunizaram o encontro entre
a academia e a sociedade civil para refletir suas práticas comunicacionais, bem
como a capacitação de lideranças comunitárias em sua prática comunicacional na
radiodifusão.
Contexto dos meios de Comunicação Comunitária em Passo Fundo
A utilização de veículos impressos pelas comunidades no sul do Brasil está
intimamente ligada a característica comunitária presente nos diversos grupos
étnicos que aqui aportaram, mas está também presente nas atuais sociedades
rurais e nas comunidades dos centros urbanos.
3
Município do Rio Grande do Sul, polo regional, situado na região do Planalto Médio gaúcho, com
população próxima de 190 mil habitantes, sede episcopal da Igreja Católica, centro de ensino
superior, de saúde e de comércio.
A comunicação impressa no interior do Rio Grande do Sul, muito mais do que a
comunicação em outros meios (rádio e televisão), foi uma ferramenta de
resistência cultural e de fortalecimento comunitário. Dois são os exemplos de
mídia comunitária vinculadas étnica e culturalmente no Rio Grande do Sul, que
ainda hoje circulam e já ultrapassam os 100 anos de existência: o Jornal
semanário Correio Riograndense denominação atual do que foi o La Libertá
(1909) nas colônias italianas, editado no idioma italiano, em Caxias do Sul, nas
primeiras décadas de sua existência e a Revista Sankt Paulusblatt de 1912, criada
entre os de descendência germânica e editada até os dias atuais, em língua
alemã, em Nova Petrópolis. Estes dois impressos marcados étnica e culturalmente
foram e ainda são ferramentas importantes para a divulgação de atividades
ligadas a cada etnia e a formação cristã católica. Eles circulam, especialmente nas
comunidades rurais. Vale ressaltar que estes dois grupos de imigrantes passaram
a dominar regiões inteiras, onde o idioma da terra natal, bem como suas tradições
foram preservadas, resistindo por mais tempo. Outros veículos impressos
surgiram com esta mesma finalidade, mas muitos sucumbiram em suas
dificuldades. Outros continuam surgindo, alguns deles com pretensões menores,
mas outros, visando abranger amplas regiões e diversas comunidades com seus
objetivos.
A cidade de Passo Fundo surgiu a partir dos primeiros agrupamentos humanos
que aqui chegaram através do tropeirismo e da busca por terras para a criação do
gado e a produção de alimentos. Chegaram também imigrantes alemães, italianos
e de muitas outras etnias, principalmente de origem europeia. Atualmente ela é
um centro urbano com características multiculturais, constituída por uma
população
de
aproximadamente
190
mil
habitantes.
Existem
diversas
organizações sociais, entre elas associações étnicas de origem e tradição italiana,
alemã, negra, gaúcha, nordestina, mas também outros tipos de organizações, tais
como associações de moradores, instituições religiosas, movimentos populares,
clubes de lazer, além das agremiações político-partidárias. Várias delas possuem
veículo impresso, que integra o presente estudo. A comunicação impressa,
especialmente aquela com características comunitárias marcou época na cidade
de Passo Fundo. Um estudo de Bertol e Frosi (2013) sobre os jornais em Passo
Fundo destacou que nos seus primeiros 50 anos surgiram próximo de 25 jornais
na cidade, sendo que a maior parte deles foram criados por instituições sóciocomunitárias.
Para compreender os impressos em Passo Fundo
São destacados a seguir quatro esforços científicos brasileiros referenciados em
Comunicação Comuntiária que antecedem o presente estudo e que também o
inspiraram. O primeiro deles é o que foi realizado a partir de uma pesquisa em
jornais católicos no Brasil, coordenado por Gomes (1994) na Unisinos em São
Leopoldo no Rio Grande do Sul. Outro é o de Peruzzo (1998) que investigou a
comunicação nos movimentos populares destacando a variedade de meios
utilizados
no
Brasil
e
na
América
Latina,
especialmente,
a
partir
da
democratização do continente e Cogo (1998) analisou os veículos comunitários
radiofônicos no ano da criação da legislação específica no Brasil. Ambos não
destacam os meios impressos de instituições sociocomunitárias. Outro estudo
destacado é o de Dorneles (2004) que analisa o jornalismo comunitário em
cidades do interior do Rio Grande do Sul, porém, voltaa partir das empresas
jornalísticas4.
4
A Comunicação Comunitária no Brasil, nos últimos anos, tem tido um espaço cada vez maior nos
estudos comunicacionais. Em linhas gerais, destacam-se três centros de estudo e difusão de
conhecimento em Comunicação Comunitária no Brasil. Um deles na Universidade Metodista de
São Bernardo do Campo (Umesp), outro no Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária
(LECC) na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o terceiro
é o grupo de pesquisa de Mídia, Cultura e Cidadania do Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Comunicação da Unisinos em São Leopoldo no Rio Grande do Sul.
Compreender o que é uma comunidade ou o comunitarismo que referimos
anteriormente é necessário para entender o objeto deste estudo. A comunidade,
em linhas gerais, diz respeito à vida comunitária. Mas, o que é a vida comunitária?
Raquel Paiva (2003) refere que esta questão já foi preocupação menor, mas hoje
é temática, cuja preocupação alcança o global. Diz ela que “vêem-se sem
assombro, nos quatro cantos do planeta, os mais respeitados teóricos do
momento, das mais variadas áreas de pensamento, confluírem na direção da
valorização das estruturas de vinculação e pertencimento” (PAIVA, 2003, p. 10).
Uma preocupação inicial, segundo a autora, encontramos em Tönnies no século
XIX, com a sua distinção entre comunidade (Gemeinschaft) e sociedade
(Gessellschaft). Ele considerava a primeira um agrupamento de indivíduos,
estabelecido por laços naturais ou espontâneos, objetivos comuns e espírito de
cooperação e a segunda, ao contrário, estaria vinculada a convenções externas,
sendo regimentada por uma vontade racional ou arbitrária, que faria com que os
indivíduos privilegiassem seus interesses particulares.
Outras compreensões do que seja comunidade podemos encontrar em Vattimo
(2003) que se refere negativamente a ela dizendo que ainda existem visões de
comunidade no sentido tradicional, conforme Simmel, originárias da idade média,
em que a comunidade absorve completamente o indivíduo e tudo gira ao redor da
família, o que tira em muito da liberdade e da autonomia do sujeito. Outra
discussão feita por Baumann (2003) remete a comunidade como o lugar da perda
da liberdade, porém, o lugar da garantia da segurança.
Porém, o mesmo autor, em suas análises da sociedade moderna atesta o seu
enfraquecimento, no que diz respeito a sua organização social, sendo dele o
jargão “modernidade líquida”, onde segundo ele, as comunidades passam a ter
uma característica que ele denomina de “estética”. Seriam aquelas que se
articulam a partir de gostos e aparências possuindo uma fluidez que faz com que
hoje existam e amanhã deixem de existir.
Stuart Hall, citado por RIBEIRO (2004) aponta para outro tipo de comunidade, que
passa a se fortalecer nesta nova tendência da sociedade globalizada que são as
étnico-culturais, que visam fortalecer a sua identidade numa sociedade que impõe
de fora para dentro outro tipo de identidades.
Um sentido de comunidade fortemente presente na América Latina é aquele que
diz respeito às organizações sociais que buscam sua inserção nos espaços de
decisão atuando e ampliando o espaço público na perspectiva apontada por
Habermas (RIBEIRO, 2004) em sua teoria da ação comunicativa. Para ele essas
comunidades são denominadas de “comunidades jurídicas”, pois buscam a
soberania popular através de ações que viabilizam os seus objetivos. Neste
mesmo sentido aponta Muniz Sodré (2003, p. 17 e 18), dizendo que a comunidade
“tem uma significação mobilizadora de mudança social” e a partir dela é “possível
reprojetar comunitariamente o futuro”.
Para Raquel Paiva (2003, p. 26) a “comunidade é palavra posta no centro da nova
forma da questão social, esta em que a sociedade aparece extremamente
bipolarizada em matéria de classes sociais – muito ricos/muito pobres,
privilegiados/despossuídos” (2003, p. 20). Trata-se de “um novo sujeito coletivo”
que se articula e produz “comunicação a partir de uma experiência comum, fora
dos grandes circuitos do capital” (2003, p. 10).
Em meio a esta realidade ocorre a comunicação comunitária que ora acontece nas
comunidades, ora entre elas, ora voltada para elas. Para Cicília Peruzzo (2010),
“comunicação comunitária diz respeito a um processo comunicativo que requer o
envolvimento das pessoas de uma comunidade, não apenas como receptoras de
mensagens, mas como protagonistas dos conteúdos e da gestão dos meios de
comunicação”. Esta compreensão é encontrada em diversos autores latinoamericanos sobre comunicação comunitária. Um deles é Gilberto Gimenez, autor
mexicano que diz que a “comunicação comunitária implica a quebra da lógica da
dominação, e se dá, não a partir de cima, mas a partir do povo, compartilhando
dentro do possível seus próprios códigos”. Outro que, segundo Peruzzo (2010)
buscou uma definição para essa comunicação específica é Mário Kaplun,
estudioso uruguaio. Para ele trata-se de “uma comunicação libertadora,
transformadora, que tem o povo como gerador e protagonista. Os meios de
comunicação são instrumentos para uma educação popular como alimentadores
de um processo educativo transformador”. Ainda segundo Peruzzo, Regina Festa,
brasileira, define este tipo de comunicação como comunicação popular, dizendo
que “nasce efetivamente a partir dos movimentos sociais, mas sobretudo, da
emergência do movimento operário e sindical, tanto na cidade como no campo e
se refere ao modo de expressão das classes populares”.
Quando considera-se os meios de comunicação utilizados para a comunicação
nas organizações sócio-comunitárias é chave a contribuição de Martin-Barbero
(2009) que aqui será considerada para a análise dos veículos impressos: os meios
alternativos, meios comunitários e meios cidadãos. Para ele os meios alternativos
são aqueles pequenos e que significam uma alternativa aos grandes meios
comprometidos e entregues ao imperialismo. Os comunitários já significam a
democratização interna dos meios com a participação do povo. Enquanto os
meios cidadãos para ele são aqueles que falam da vida do bairro, do município,
olham para o país, têm coisas a dizer ao país. Trata-se de expressão da vida
cotidiana das pessoas, de um bairro, de um município, da zona mais dura da
guerra, mas interpelando o país.
Dados da pesquisa
Como é a comunicação impressa das instituições sócio-comunitárias na cidade de
Passo Fundo, quem a faz e qual é o contexto sociocultural em que ela ocorre?
Estas perguntas orientaram a coleta dos dados realizada através de um
questionário, fechado, em cada uma das instituições mantenedoras dos veículos e
a coleta de um exemplar da última edição de cada impresso. Essa tarefa foi
realizada entre março de 2011 e junho de 2012. A coleta das informações reuniu
dados objetivos dos impressos, mas também de dados subjetivos, pois tratou-se
de um encontro de sujeitos sociais em diálogo. Em várias instituições existem
registros sobre a comunicação realizada, o que faz com que as informações
colhidas sejam originadas do diálogo propriamente dito entre informante e
pesquisador.
As comunidades localizadas pela pesquisa constituem um conjunto muito
diversificado de instituições da sociedade civil. São organizações com visões de
mundo e finalidades diferentes, mas que têm em comum a prática comunicacional
impressa nas suas instituições. As organizações de Passo Fundo que têm no
jornal impresso o caminho preferido para fazer a sua comunicação são 23
instituições, entre elas, associações de moradores, clubes sociais, igrejas,
sindicatos, associações culturais e movimentos sociais.
A maior parte das instituições não tem seus objetivos formalizados para a
produção e circulação dos veículos impressos. Porém, pelas informações reunidas
através do questionário em palavras-chave ou categorias (BARDIN, 2010),
permitem afirmar que elas têm como principal objetivo informar o seu público. As
instituições fazem os seus jornais para principalmente informar os membros
associados, porém, algumas delas têm como segundo objetivo a formação, o que
ocorre principalmente nos impressos católicos, mas também no único impresso
vinculado
aos
movimentos
sociais.
Essas
instituições
tradicionalmente
desenvolvem também programas de formação de liderança para as tarefas
internas das organizações, mas também para o engajamento em outras
instituições da sociedade civil. O que chama a atenção é que nem as associações
de moradores e nem os sindicatos possuem este objetivo com os seus veículos
impressos, o que não quer dizer que não estejam realizando a sua missão neste
sentido.
As instituições que mais utilizam os veículos impressos são as mais tradicionais,
especialmente os clubes, as igrejas e os sindicatos. A maior parte das instituições
participantes da pesquisa, ou seja, 48% delas compõem redes em nível mundial.
Situam-se nesta característica as instituições que integram a igreja católica. Os
sindicatos, que são 17%, constituem rede em nível nacional, enquanto que as
associações de bairros constituem 13% dos impressos se articulam somente no
nível da cidade. Aquelas instituições que mais se articulam estão principalmente
as igrejas, sindicatos e movimento social. As associações possuem rede de
abrangência municipal, enquanto os clubes funcionam sem compor redes.
Quadro 1 - Relação das instituições comunitárias e seus veículos impressos
Instituição Mantenedora dos jornais comunitários
Nome do Veículo Impresso
Associação dos Moradores e Amigos do Centro - AMAC
Informativo AMAC
Associação de Moradores São Luiz Gonzaga
Informativo São Luiz Gonzaga
Associação de Moradores do Bairro Vera Cruz
Nosso Bairro Vera Cruz
Clube Caixeral
Caixeral Campestre
Clube Comercial
Clube Comercial
Clube Juvenil
Informativo Clube Juvenil
Comitato Piazza Itália e Centro Italiano de Beneficiência
La Gazzetta Italo-Gaúcha
Mitra Arquidiocesana de Passo Fundo (Igreja Católica)
Presença Diocesana
Igreja Assembléia de Deus
Jornal Visão
Um grupo de Igrejas Evangélicas
Veracidade
Paróquia Católica Nossa Senhora Aparecida - Catedral
O Peregrino
Paróquia Católica Nossa Senhora da Conceição
Matriz Conceição
Paróquia Católica Santa Teresinha
Paróquia Santa Teresinha
Paróquia Católica Santo Antônio
Paróquia Católica do Santuário
Aparecida
Paróquia Católica São Cristóvão
Fé e Vida
Nossa
Senhora
Eis me aqui !
Estamos Aí...
Paróquia Católica São José Operário
Mensageiro Paroquial
Paróquia Católica São Judas Tadeu
Movimento das Mulheres Camponesas do Rio Grande
do Sul
Câmara de Dirigentes Lojistas
Sincomércio (Sindicato do Comércio Varejista de Passo
Fundo
Simpasso (Sindicato dos Servidores Municipais de Passo
Fundo
Sindicato dos Bancários
Vida e Missão
Desperta Mulher
O Lojista
Informativo Sincomércio
Jornal Simpasso
Curtas e Novas
As instituições que têm jornais impressos no município de Passo Fundo, conforme
a figura 1, privilegiam o comunitário próximo, também definido como comunicação
ou meios de comunicação social de proximidade5. Quase a metade, 48% das
instituições fazem circular seus impressos no seu bairro e 22% o fazem no
5
Conforme Coelho (2005, p. 13), são “aqueles onde se pratica um jornalismo de proximidade,
cujos conteúdos resultam do estabelecimento de um pacto comunicacional entre (...) emissor,
receptor e comunidade”.
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Quanto ao número de páginas por edição, os impressos podem ser considerados
pequenos. Destacam-se os impressos comunitários de quatro páginas (39%) e os
de oito páginas (26%) e os de 12 páginas (18%). Os menores impressos são os
das associações de moradores. Todos eles possuem até oito páginas. Os
impressos das igrejas, em sua maioria, também possuem até oito páginas, porém
quatro deles têm 12 ou mais páginas. Os maiores impressos, em relação ao
número de páginas são os dos clubes sociais. Um deles tem 12, outro 16 e outro,
ainda, 64 páginas.
A existência da periodicidade regular foi utilizada como critério de inclusão dos
jornais na pesquisa. Os dados mostram que ela é diversa. Ela vai de mensal até
semestral. A maior parte deles, 48%, tem a sua edição mensal, 31% bimestral e
13% trimestral. Os impressos dos clubes têm a periodicidade maior (trimestral e
semestral), os impressos das associações de moradores são bimestrais,
enquanto, a maioria dos impressos das igrejas circulam mensalmente.
Com a pesquisa procurou-se saber a longevidade dos impressos comunitários
existentes na cidade. Os dados conforme a figura 3 apontam para uma existência
recente. A grande maioria, ou seja, 61% têm menos de 10 anos e somente um
deles tem mais de 30 anos de existência. Seis deles, 27%, surgiram nos últimos
30 meses, ou seja, praticamente durante o período da realização da pesquisa.
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sociais no município, porém, alguns deles contemplam também pessoas das
organizações aquém do território municipal. Exemplo disso são, especialmente,
dois jornais, um católico que é distribuído para uma população regional
(aproximadamente em 50 municípios) e o outro de movimento social de mulheres
camponesas, que possui abrangência estadual.
Quanto às dificuldades encontradas com a produção e a circulação dos jornais, a
maior parte das instituições sentiram dificuldades na resposta dessa questão no
questionário. Algumas não responderam e outras disseram que não existiam
dificuldades, entre eles estão dois sindicatos, dois clubes e duas igrejas. Três
instituições apontaram como principal dificuldade a produção do impresso. Uma
delas possui profissional e outras duas não, para produzir o seu jornal. Quatro
paróquias da igreja católica têm dificuldades na distribuição, ou seja, o ponto de
entrega, ou a entrega a domicílio, adotados para fazer o jornal chegar aos
receptores, não são suficientes. Uma instituição apontou a dificuldade para manter
a sua periodicidade regular, mesmo tendo a presença de profissional na produção
e a outra apontou a falta de apoio da comunidade. Mas a principal dificuldade
apontada foi a da sustentabilidade do veículo, o que foi referido por sete
instituições. Destas, seis instituições têm a publicidade como forma de sua
sustentação.
Quanto à questão da sustentação dos veículos foram constatadas, principalmente,
duas formas adotadas. A primeira delas é a venda de espaço publicitário. Esta é a
prática em 70% dos veículos. Uma parte significativa desta é de publicidade
comercial com 58% e a outra de publicidade de serviços, com 42%. Mas o que
mais interessa é a localização geográfica dos anunciantes em relação à
abrangência ou área de distribuição do jornal. Neste sentido, destacam-se dois
tipos de anunciantes, ou seja, aqueles que se localizam na área de abrangência
do jornal e aqueles que não têm vínculo geográfico com a instituição
mantenedora. O tipo de anunciante que aparece com maior percentual, ou seja,
70% dos anúncios dos jornais pesquisados são originários de anunciantes que
não têm proximidade geográfica com a instituição e o veículo, enquanto que 30%
dos anunciantes têm relação de proximidade, ou mais do que isso, são membros
das instituições patrocinadas. A segunda forma de sustentação é aquela em que a
instituição, por planejamento orçamentário inclui a comunicação em suas contas
ordinárias, ou seja, tem a comunicação impressa como parte de suas despesas
ordinárias. Neste formato encontram-se 13% dos veículos pesquisados. Foram
constatadas ainda outras três formas de sustentação, porém, com menor
incidência: a sustentação mista entre recursos da entidade e da venda de espaço
publicitário, onde se encaixam dois veículos, ou seja, 9%; a outra é através da
contribuição de doadores; e a última pela contribuição feita por assinantes.
Discussão dos dados
As organizações comunitárias que mantêm veículos impressos para a sua
comunicação na cidade de Passo Fundo são muito variadas. Elas fazem a sua
comunicação através de pequenos jornais, especialmente para informar e formar
os seus membros. Os jornais, resultado dos seus processos e práticas descritos,
têm quais das características apontadas por Martin-Barbero (2009)?
Os jornais em estudo possuem, principalmente a característica de serem um
espaço alternativo de informação e formação para os membros das organizações,
espaço esse que estas organizações não encontram na grande mídia. É comum o
dizer dos responsáveis, de que a comunidade necessita de informações que seus
membros não encontram na mídia comercial.
A característica comunitária dos veículos impressos em estudo é encontrada
principalmente nos seus objetivos, na abrangência, em parte na produção,
bastante presente na distribuição (ponto de entrega e distribuição à domicílio),
porém timidamente nas formas de sustentação. Nos objetivos e na abrangência
dos jornais estão presentes as preocupações de informar e formar os membros de
um grupo ou comunidade específica, o que nos leva a crer de que há sim ali uma
marca comunitária. Enquanto forma de produção percebeu-se uma menor
presença da característica comunitária nos veículos. O que vemos é, em geral, os
jornais sendo produzidos ou por profissionais, ou por equipes de voluntários, ou
ainda por ambos, mas não com a participação direta da comunidade. Neste
aspecto, os impressos tem uma forte marca de que são feitos de uns para os
outros, o que os faz menos comunitários. Outra categoria que nos permite analisar
a prática da comunicação através dos jornais é a sua distribuição. Neste sentido
percebemos práticas bem associadas à vida comunitária, ou seja, de fazer com
que os seus membros retirem o jornal no ponto de distribuição ou que alguém, em
alguns casos, um responsável por rua, faça chegar os impressos em cada um dos
domicílios. Porém, onde percebemos a menor participação das comunidades na
comunicação realizada através dos jornais é quanto à sua sustentação financeira.
Segundo os dados, a maioria deles são sustentados por venda de espaço
publicitário para financiadores fora da região de abrangência dos jornais. São
poucas as experiências de sustentação bem sucedidas na perspectiva
comunitária.
A característica cidadã dos meios de comunicação apontada por Martin-Barbero
(2009) está praticamente ausente nos jornais das organizações sócio-comunitárias
de Passo Fundo. O maior número das organizações delas que mantém veículos
impressos na cidade, não tem nem tradição e nem objetivos para o engajamento
social dos seus membros. Porém, esta dimensão pode ser percebida muito
claramente no jornal do Movimento das Mulheres Camponesas, e em alguns
veículos ligados à Igreja Católica e poucas Associações de Moradores.
Diante disso, vislumbramos uma luz na afirmação de Baumann (2003), de que nos
encontramos, também em Passo Fundo, e os meios de comunicação das
organizações sócio-comunitárias expressam isso, em uma recente e crescente
estetização da vida comunitária ou seja, a superficialização ou a artificialização
daquilo que é definido como comunidade ou organização sócio-comunitária. Neste
sentido as comunidades e seus meios de comunicação passam a ter característica
estéticas mais do que alternativas, comunitárias ou cidadãs, onde prevalecem os
gostos e aparências, possuindo uma fluidez que faz com que facilmente deixem
de existir. Poderá ser este um dos motivos para a pequena longevidade dos
impressos comunitários.
Considerações finais
Nota-se que as instituições, para resolver as dificuldades de sustentação de sua
comunicação, buscam financiamento fora dos seus membros, o que por um lado
fragiliza a comunicação que fica refém dos investimentos externos e por outro
descompromete a comunidade, que não participa do processo de sustentação
desta comunicação comunitária.
Os jornais das instituições estudadas são o reflexo da vida comunitária que ocorre
em seu interior. Primeiramente, pode-se concluir que o número de impressos
produzidos é o reflexo de um significativo número de instituições que tem a
comunicação impressa como canal importante para a sua comunicação. Porém,
as práticas e as consequentes dificuldades comunicacionais são o reflexo de
transformações da identidade de cada uma das instituições, que sofrem com a
erosão das marcas identitárias étnico-culturais e cidadãs, fazendo com que as
comunidades que outrora tinham uma vida comunitária, tenham somente
atividades, eventos ou comemorações para os quais os associados são
convidados por alguns remanescentes que lutam para não deixar morrer a
comunidade. Para que não morram as comunidades vem sendo tomadas pela
recente e crescente estetização, o que também pode ser notado nos jornais, onde
o conteúdo deixa de ser comunitário para se adaptar a valores, gostos
passageiros que vem substituindo a característica comunitária dos mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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