PROCESSOS E PRÁTICAS EM JORNAIS DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DE PASSO FUNDO1 GT8: Comunicação Popular, Comunitária e Cidadania Dr. Otavio José Klein2 Universidade de Passo Fundo - Passo Fundo – Brasil [email protected] Resumo O presente texto é um estudo que partiu de uma pesquisa em instituições sóciocomunitárias na cidade de Passo Fundo-RS, Brasil, em Comunicação Comunitária buscando compreender o contexto da sua comunicação impressa, os seus processos e as práticas. A pesquisa foi realizada através do preenchimento de um questionário em cada instituição mantenedora de veículo impresso e a coleta de um exemplar da mais recente edição de cada um dos impressos. O texto foi construído a partir do conceito de comunidade e de comunicação comunitária e os critérios de análise dos meios impressos estudados foram tirados de MartinBarbero (2009) onde ele distingue o que são os meios alternativos, comunitários e cidadãos. A pesquisa possibilitou trazer para o texto diversos dados sobre os jornais pesquisados, mas principalmente a reflexão que possibilitou concluir de que os jornais são principalmente alternativos e comunitários, mas pouco cidadãos. 1 Texto apresentado no GT8: Comunicación Popular, Comunitaria y Ciudadanía do XII Congreso Latinoamericano de Investigadores de la Comunicación, em Lima, Perú entre os dias 6 e 8 de agosto de 2014. 2 Pesquisador e professor em Comunicação na Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul – Brasil. Palavras-chave: Comunicação Comunitária. Jornais. Passo Fundo. Introdução Em Passo Fundo3, no Rio Grande do Sul (Brasil), os jornais de organizações sócio-comunitárias são destaque no universo comunicacional. O presente texto apresenta e discute esta realidade buscando contextualizar esta forma de comunicação, bem como, compreender seus processos e práticas. Com isso busca contribuir com a produção de conhecimento em Comunicação Comunitária Regional, ainda tímida no universo dos estudos comunicacionais. O presente estudo emerge de um processo de reflexão no ensino e na extensão em Comunicação Comunitária nos Cursos de Comunicação Social da Universidade de Passo Fundo (UPF) (KLEIN, 2013), com destaque para a disciplina de Comunicação Comunitária que figurava no currículo acadêmico como disciplina obrigatória e atualmente figura como opcional, os Fóruns de Comunicação Comunitária, na Universidade, que oportunizaram o encontro entre a academia e a sociedade civil para refletir suas práticas comunicacionais, bem como a capacitação de lideranças comunitárias em sua prática comunicacional na radiodifusão. Contexto dos meios de Comunicação Comunitária em Passo Fundo A utilização de veículos impressos pelas comunidades no sul do Brasil está intimamente ligada a característica comunitária presente nos diversos grupos étnicos que aqui aportaram, mas está também presente nas atuais sociedades rurais e nas comunidades dos centros urbanos. 3 Município do Rio Grande do Sul, polo regional, situado na região do Planalto Médio gaúcho, com população próxima de 190 mil habitantes, sede episcopal da Igreja Católica, centro de ensino superior, de saúde e de comércio. A comunicação impressa no interior do Rio Grande do Sul, muito mais do que a comunicação em outros meios (rádio e televisão), foi uma ferramenta de resistência cultural e de fortalecimento comunitário. Dois são os exemplos de mídia comunitária vinculadas étnica e culturalmente no Rio Grande do Sul, que ainda hoje circulam e já ultrapassam os 100 anos de existência: o Jornal semanário Correio Riograndense denominação atual do que foi o La Libertá (1909) nas colônias italianas, editado no idioma italiano, em Caxias do Sul, nas primeiras décadas de sua existência e a Revista Sankt Paulusblatt de 1912, criada entre os de descendência germânica e editada até os dias atuais, em língua alemã, em Nova Petrópolis. Estes dois impressos marcados étnica e culturalmente foram e ainda são ferramentas importantes para a divulgação de atividades ligadas a cada etnia e a formação cristã católica. Eles circulam, especialmente nas comunidades rurais. Vale ressaltar que estes dois grupos de imigrantes passaram a dominar regiões inteiras, onde o idioma da terra natal, bem como suas tradições foram preservadas, resistindo por mais tempo. Outros veículos impressos surgiram com esta mesma finalidade, mas muitos sucumbiram em suas dificuldades. Outros continuam surgindo, alguns deles com pretensões menores, mas outros, visando abranger amplas regiões e diversas comunidades com seus objetivos. A cidade de Passo Fundo surgiu a partir dos primeiros agrupamentos humanos que aqui chegaram através do tropeirismo e da busca por terras para a criação do gado e a produção de alimentos. Chegaram também imigrantes alemães, italianos e de muitas outras etnias, principalmente de origem europeia. Atualmente ela é um centro urbano com características multiculturais, constituída por uma população de aproximadamente 190 mil habitantes. Existem diversas organizações sociais, entre elas associações étnicas de origem e tradição italiana, alemã, negra, gaúcha, nordestina, mas também outros tipos de organizações, tais como associações de moradores, instituições religiosas, movimentos populares, clubes de lazer, além das agremiações político-partidárias. Várias delas possuem veículo impresso, que integra o presente estudo. A comunicação impressa, especialmente aquela com características comunitárias marcou época na cidade de Passo Fundo. Um estudo de Bertol e Frosi (2013) sobre os jornais em Passo Fundo destacou que nos seus primeiros 50 anos surgiram próximo de 25 jornais na cidade, sendo que a maior parte deles foram criados por instituições sóciocomunitárias. Para compreender os impressos em Passo Fundo São destacados a seguir quatro esforços científicos brasileiros referenciados em Comunicação Comuntiária que antecedem o presente estudo e que também o inspiraram. O primeiro deles é o que foi realizado a partir de uma pesquisa em jornais católicos no Brasil, coordenado por Gomes (1994) na Unisinos em São Leopoldo no Rio Grande do Sul. Outro é o de Peruzzo (1998) que investigou a comunicação nos movimentos populares destacando a variedade de meios utilizados no Brasil e na América Latina, especialmente, a partir da democratização do continente e Cogo (1998) analisou os veículos comunitários radiofônicos no ano da criação da legislação específica no Brasil. Ambos não destacam os meios impressos de instituições sociocomunitárias. Outro estudo destacado é o de Dorneles (2004) que analisa o jornalismo comunitário em cidades do interior do Rio Grande do Sul, porém, voltaa partir das empresas jornalísticas4. 4 A Comunicação Comunitária no Brasil, nos últimos anos, tem tido um espaço cada vez maior nos estudos comunicacionais. Em linhas gerais, destacam-se três centros de estudo e difusão de conhecimento em Comunicação Comunitária no Brasil. Um deles na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo (Umesp), outro no Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC) na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o terceiro é o grupo de pesquisa de Mídia, Cultura e Cidadania do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos em São Leopoldo no Rio Grande do Sul. Compreender o que é uma comunidade ou o comunitarismo que referimos anteriormente é necessário para entender o objeto deste estudo. A comunidade, em linhas gerais, diz respeito à vida comunitária. Mas, o que é a vida comunitária? Raquel Paiva (2003) refere que esta questão já foi preocupação menor, mas hoje é temática, cuja preocupação alcança o global. Diz ela que “vêem-se sem assombro, nos quatro cantos do planeta, os mais respeitados teóricos do momento, das mais variadas áreas de pensamento, confluírem na direção da valorização das estruturas de vinculação e pertencimento” (PAIVA, 2003, p. 10). Uma preocupação inicial, segundo a autora, encontramos em Tönnies no século XIX, com a sua distinção entre comunidade (Gemeinschaft) e sociedade (Gessellschaft). Ele considerava a primeira um agrupamento de indivíduos, estabelecido por laços naturais ou espontâneos, objetivos comuns e espírito de cooperação e a segunda, ao contrário, estaria vinculada a convenções externas, sendo regimentada por uma vontade racional ou arbitrária, que faria com que os indivíduos privilegiassem seus interesses particulares. Outras compreensões do que seja comunidade podemos encontrar em Vattimo (2003) que se refere negativamente a ela dizendo que ainda existem visões de comunidade no sentido tradicional, conforme Simmel, originárias da idade média, em que a comunidade absorve completamente o indivíduo e tudo gira ao redor da família, o que tira em muito da liberdade e da autonomia do sujeito. Outra discussão feita por Baumann (2003) remete a comunidade como o lugar da perda da liberdade, porém, o lugar da garantia da segurança. Porém, o mesmo autor, em suas análises da sociedade moderna atesta o seu enfraquecimento, no que diz respeito a sua organização social, sendo dele o jargão “modernidade líquida”, onde segundo ele, as comunidades passam a ter uma característica que ele denomina de “estética”. Seriam aquelas que se articulam a partir de gostos e aparências possuindo uma fluidez que faz com que hoje existam e amanhã deixem de existir. Stuart Hall, citado por RIBEIRO (2004) aponta para outro tipo de comunidade, que passa a se fortalecer nesta nova tendência da sociedade globalizada que são as étnico-culturais, que visam fortalecer a sua identidade numa sociedade que impõe de fora para dentro outro tipo de identidades. Um sentido de comunidade fortemente presente na América Latina é aquele que diz respeito às organizações sociais que buscam sua inserção nos espaços de decisão atuando e ampliando o espaço público na perspectiva apontada por Habermas (RIBEIRO, 2004) em sua teoria da ação comunicativa. Para ele essas comunidades são denominadas de “comunidades jurídicas”, pois buscam a soberania popular através de ações que viabilizam os seus objetivos. Neste mesmo sentido aponta Muniz Sodré (2003, p. 17 e 18), dizendo que a comunidade “tem uma significação mobilizadora de mudança social” e a partir dela é “possível reprojetar comunitariamente o futuro”. Para Raquel Paiva (2003, p. 26) a “comunidade é palavra posta no centro da nova forma da questão social, esta em que a sociedade aparece extremamente bipolarizada em matéria de classes sociais – muito ricos/muito pobres, privilegiados/despossuídos” (2003, p. 20). Trata-se de “um novo sujeito coletivo” que se articula e produz “comunicação a partir de uma experiência comum, fora dos grandes circuitos do capital” (2003, p. 10). Em meio a esta realidade ocorre a comunicação comunitária que ora acontece nas comunidades, ora entre elas, ora voltada para elas. Para Cicília Peruzzo (2010), “comunicação comunitária diz respeito a um processo comunicativo que requer o envolvimento das pessoas de uma comunidade, não apenas como receptoras de mensagens, mas como protagonistas dos conteúdos e da gestão dos meios de comunicação”. Esta compreensão é encontrada em diversos autores latinoamericanos sobre comunicação comunitária. Um deles é Gilberto Gimenez, autor mexicano que diz que a “comunicação comunitária implica a quebra da lógica da dominação, e se dá, não a partir de cima, mas a partir do povo, compartilhando dentro do possível seus próprios códigos”. Outro que, segundo Peruzzo (2010) buscou uma definição para essa comunicação específica é Mário Kaplun, estudioso uruguaio. Para ele trata-se de “uma comunicação libertadora, transformadora, que tem o povo como gerador e protagonista. Os meios de comunicação são instrumentos para uma educação popular como alimentadores de um processo educativo transformador”. Ainda segundo Peruzzo, Regina Festa, brasileira, define este tipo de comunicação como comunicação popular, dizendo que “nasce efetivamente a partir dos movimentos sociais, mas sobretudo, da emergência do movimento operário e sindical, tanto na cidade como no campo e se refere ao modo de expressão das classes populares”. Quando considera-se os meios de comunicação utilizados para a comunicação nas organizações sócio-comunitárias é chave a contribuição de Martin-Barbero (2009) que aqui será considerada para a análise dos veículos impressos: os meios alternativos, meios comunitários e meios cidadãos. Para ele os meios alternativos são aqueles pequenos e que significam uma alternativa aos grandes meios comprometidos e entregues ao imperialismo. Os comunitários já significam a democratização interna dos meios com a participação do povo. Enquanto os meios cidadãos para ele são aqueles que falam da vida do bairro, do município, olham para o país, têm coisas a dizer ao país. Trata-se de expressão da vida cotidiana das pessoas, de um bairro, de um município, da zona mais dura da guerra, mas interpelando o país. Dados da pesquisa Como é a comunicação impressa das instituições sócio-comunitárias na cidade de Passo Fundo, quem a faz e qual é o contexto sociocultural em que ela ocorre? Estas perguntas orientaram a coleta dos dados realizada através de um questionário, fechado, em cada uma das instituições mantenedoras dos veículos e a coleta de um exemplar da última edição de cada impresso. Essa tarefa foi realizada entre março de 2011 e junho de 2012. A coleta das informações reuniu dados objetivos dos impressos, mas também de dados subjetivos, pois tratou-se de um encontro de sujeitos sociais em diálogo. Em várias instituições existem registros sobre a comunicação realizada, o que faz com que as informações colhidas sejam originadas do diálogo propriamente dito entre informante e pesquisador. As comunidades localizadas pela pesquisa constituem um conjunto muito diversificado de instituições da sociedade civil. São organizações com visões de mundo e finalidades diferentes, mas que têm em comum a prática comunicacional impressa nas suas instituições. As organizações de Passo Fundo que têm no jornal impresso o caminho preferido para fazer a sua comunicação são 23 instituições, entre elas, associações de moradores, clubes sociais, igrejas, sindicatos, associações culturais e movimentos sociais. A maior parte das instituições não tem seus objetivos formalizados para a produção e circulação dos veículos impressos. Porém, pelas informações reunidas através do questionário em palavras-chave ou categorias (BARDIN, 2010), permitem afirmar que elas têm como principal objetivo informar o seu público. As instituições fazem os seus jornais para principalmente informar os membros associados, porém, algumas delas têm como segundo objetivo a formação, o que ocorre principalmente nos impressos católicos, mas também no único impresso vinculado aos movimentos sociais. Essas instituições tradicionalmente desenvolvem também programas de formação de liderança para as tarefas internas das organizações, mas também para o engajamento em outras instituições da sociedade civil. O que chama a atenção é que nem as associações de moradores e nem os sindicatos possuem este objetivo com os seus veículos impressos, o que não quer dizer que não estejam realizando a sua missão neste sentido. As instituições que mais utilizam os veículos impressos são as mais tradicionais, especialmente os clubes, as igrejas e os sindicatos. A maior parte das instituições participantes da pesquisa, ou seja, 48% delas compõem redes em nível mundial. Situam-se nesta característica as instituições que integram a igreja católica. Os sindicatos, que são 17%, constituem rede em nível nacional, enquanto que as associações de bairros constituem 13% dos impressos se articulam somente no nível da cidade. Aquelas instituições que mais se articulam estão principalmente as igrejas, sindicatos e movimento social. As associações possuem rede de abrangência municipal, enquanto os clubes funcionam sem compor redes. Quadro 1 - Relação das instituições comunitárias e seus veículos impressos Instituição Mantenedora dos jornais comunitários Nome do Veículo Impresso Associação dos Moradores e Amigos do Centro - AMAC Informativo AMAC Associação de Moradores São Luiz Gonzaga Informativo São Luiz Gonzaga Associação de Moradores do Bairro Vera Cruz Nosso Bairro Vera Cruz Clube Caixeral Caixeral Campestre Clube Comercial Clube Comercial Clube Juvenil Informativo Clube Juvenil Comitato Piazza Itália e Centro Italiano de Beneficiência La Gazzetta Italo-Gaúcha Mitra Arquidiocesana de Passo Fundo (Igreja Católica) Presença Diocesana Igreja Assembléia de Deus Jornal Visão Um grupo de Igrejas Evangélicas Veracidade Paróquia Católica Nossa Senhora Aparecida - Catedral O Peregrino Paróquia Católica Nossa Senhora da Conceição Matriz Conceição Paróquia Católica Santa Teresinha Paróquia Santa Teresinha Paróquia Católica Santo Antônio Paróquia Católica do Santuário Aparecida Paróquia Católica São Cristóvão Fé e Vida Nossa Senhora Eis me aqui ! Estamos Aí... Paróquia Católica São José Operário Mensageiro Paroquial Paróquia Católica São Judas Tadeu Movimento das Mulheres Camponesas do Rio Grande do Sul Câmara de Dirigentes Lojistas Sincomércio (Sindicato do Comércio Varejista de Passo Fundo Simpasso (Sindicato dos Servidores Municipais de Passo Fundo Sindicato dos Bancários Vida e Missão Desperta Mulher O Lojista Informativo Sincomércio Jornal Simpasso Curtas e Novas As instituições que têm jornais impressos no município de Passo Fundo, conforme a figura 1, privilegiam o comunitário próximo, também definido como comunicação ou meios de comunicação social de proximidade5. Quase a metade, 48% das instituições fazem circular seus impressos no seu bairro e 22% o fazem no 5 Conforme Coelho (2005, p. 13), são “aqueles onde se pratica um jornalismo de proximidade, cujos conteúdos resultam do estabelecimento de um pacto comunicacional entre (...) emissor, receptor e comunidade”. territtório urban no de Passo Fundo.. Mas, o que q chama a a atençã ão é que 26% 2 das instittuições pe esquisadass fazem circular c oss seus im mpressos rregionalme ente. As asso ociações de d moradores têm o seu públicco no bairrro, enquan nto que oss clubes fazem circularr os seus impressoss principalm mente na cidade. A As igrejas fazem f e distrribuem os seus impressos nos bairros (73%), na a região (1 18%) e na a cidade (9%)). Figura 1 – Abrangênccia dos jorn nais As instituiçõess pesquisa adas posssuem ao ttodo 598.3 316 memb bros filiado os, sem conttar os seuss depende entes. Esse e dado é surpreende s ente em re elação ao número de habitantes h da cidade.. O que levva a crer que q existe uma u influê ência muito o grande desttas instituições no seu s entorn no, atingin ndo várioss município os, o que e ocorre princcipalmente e com a Igrreja Católicca. O jo ornal é de longe o meio m maiss utilizado para a co omunicação das insttituições sócio o-comunitá árias em Passo P Fun ndo. A prin ncipal razã ão disso te em relação o com a sua menor ccomplexida ade, tanto o na pro odução, na n sustentação, co omo na distrribuição da a informaçção. Possib bilita tamb bém maiorr autonomiia e liberd dade, ao mesmo tempo o, que acompanha o ritmo da informaçã ão comunittária proprriamente al indepen nde de concessão c o e de maiores investimen ntos de dita. O jorna aestrutura, ao contrárrio do rádio o e da tele evisão. Em Passo Fu undo, constatou-se infra que quando o rádio e a televisão são busca ados como o veículos comunitáriios, isso ocorrre principa almente po or movime entos socia ais, ou seja a, aqueless denomina ados de popu ulares ou sindicais, que têm como c obje etivos também o aumento do espaço público e a tran nsformaçã ão social. o número de d exemplares por e edição a fig gura 2 mo ostra que 30% 3 dos Em relação ao ais possue em uma tirragem de até 1.000 exemplarres, 26% ttêm entre 1.001 e jorna 2.00 00 exempla ares. Outro o grupo de impressos (22%) possui entre 2.001 e 3.000 exem mplares po or edição.. Os dem mais estão distribuíd dos com p percentual menor, poré ém com nú úmero maio or de exem mplares, tais como: 13% têm en ntre 3.001 e 4.000 e 9% % possue em acima de 4.000 0. Os dad dos demon nstram qu ue a maio oria dos imprressos, ma ais da me etade, posssui até 2.000 2 exem mplares, e entre os quais q se situa am os jorn nais das associaçõe es de mo oradores e algumass igrejas. Os O dois veículos com maior número de exemplare e es são de instituiçõe es católica as, com 4.50 00 e 5.000 exemplare es, respecttivamente. Figu ura 2 – Núm mero de exe emplares po or edição Quanto ao número de páginas por edição, os impressos podem ser considerados pequenos. Destacam-se os impressos comunitários de quatro páginas (39%) e os de oito páginas (26%) e os de 12 páginas (18%). Os menores impressos são os das associações de moradores. Todos eles possuem até oito páginas. Os impressos das igrejas, em sua maioria, também possuem até oito páginas, porém quatro deles têm 12 ou mais páginas. Os maiores impressos, em relação ao número de páginas são os dos clubes sociais. Um deles tem 12, outro 16 e outro, ainda, 64 páginas. A existência da periodicidade regular foi utilizada como critério de inclusão dos jornais na pesquisa. Os dados mostram que ela é diversa. Ela vai de mensal até semestral. A maior parte deles, 48%, tem a sua edição mensal, 31% bimestral e 13% trimestral. Os impressos dos clubes têm a periodicidade maior (trimestral e semestral), os impressos das associações de moradores são bimestrais, enquanto, a maioria dos impressos das igrejas circulam mensalmente. Com a pesquisa procurou-se saber a longevidade dos impressos comunitários existentes na cidade. Os dados conforme a figura 3 apontam para uma existência recente. A grande maioria, ou seja, 61% têm menos de 10 anos e somente um deles tem mais de 30 anos de existência. Seis deles, 27%, surgiram nos últimos 30 meses, ou seja, praticamente durante o período da realização da pesquisa. Fig gura 3 – Tem mpo de exisstência doss jornais A maior m parte e dos jorna ais, 78% deles d é prroduzida por p uma e equipe, con nstituída princcipalmente e por volu untários. Outra O parte e, 22%, é produzida por um ma única pess soa respon nsável pella comuniccação. Todos os clu ubes posssuem equipe para prod duzir o impresso, en nquanto que q 82% d dos veícullos das ig grejas e 66% dos jorna ais das associaçõess de morradores e dos sindicatos têm m esta prá ática. A pressença de profissiona p ais da com municação na produ ução dos jjornais oco orre em 43% % dos veícu ulos. A maiior presençça ocorre n nos clubess (66%) e n nas igrejas s (36%). m e de distriibuição do os impresssos mais comum é a do po onto de A modalidade distrribuição qu ue aparecce em 57% % dos jorrnais. Algu umas com munidades utilizam somente o pon nto e outra as mesclam com ou utras moda alidades de e distribuiç ção, tais ega à dom micílio. Em segundo lu ugar é desstaque a en ntrega à como, o correio e a entre micílio que ocorre em e 44% das d entida ades. O ponto de distribuição é a dom mod dalidade prrincipal utillizada para a a circula ação dos im mpressos nas igrejas (73%) enqu uanto que a distribuiç ção à dom micílio apare ece em 64 4% dos seu us impresssos. Nas asso ociações de moradorres predom mina a enttrega à dom micílio (66%), enqua anto que nos clubes, o ponto p de distribuição d o é a moda alidade pre edominante e (66%). A maioria e os particcipantes ou u filiados das organ nizações dos impressoss é distribuída entre sociais no município, porém, alguns deles contemplam também pessoas das organizações aquém do território municipal. Exemplo disso são, especialmente, dois jornais, um católico que é distribuído para uma população regional (aproximadamente em 50 municípios) e o outro de movimento social de mulheres camponesas, que possui abrangência estadual. Quanto às dificuldades encontradas com a produção e a circulação dos jornais, a maior parte das instituições sentiram dificuldades na resposta dessa questão no questionário. Algumas não responderam e outras disseram que não existiam dificuldades, entre eles estão dois sindicatos, dois clubes e duas igrejas. Três instituições apontaram como principal dificuldade a produção do impresso. Uma delas possui profissional e outras duas não, para produzir o seu jornal. Quatro paróquias da igreja católica têm dificuldades na distribuição, ou seja, o ponto de entrega, ou a entrega a domicílio, adotados para fazer o jornal chegar aos receptores, não são suficientes. Uma instituição apontou a dificuldade para manter a sua periodicidade regular, mesmo tendo a presença de profissional na produção e a outra apontou a falta de apoio da comunidade. Mas a principal dificuldade apontada foi a da sustentabilidade do veículo, o que foi referido por sete instituições. Destas, seis instituições têm a publicidade como forma de sua sustentação. Quanto à questão da sustentação dos veículos foram constatadas, principalmente, duas formas adotadas. A primeira delas é a venda de espaço publicitário. Esta é a prática em 70% dos veículos. Uma parte significativa desta é de publicidade comercial com 58% e a outra de publicidade de serviços, com 42%. Mas o que mais interessa é a localização geográfica dos anunciantes em relação à abrangência ou área de distribuição do jornal. Neste sentido, destacam-se dois tipos de anunciantes, ou seja, aqueles que se localizam na área de abrangência do jornal e aqueles que não têm vínculo geográfico com a instituição mantenedora. O tipo de anunciante que aparece com maior percentual, ou seja, 70% dos anúncios dos jornais pesquisados são originários de anunciantes que não têm proximidade geográfica com a instituição e o veículo, enquanto que 30% dos anunciantes têm relação de proximidade, ou mais do que isso, são membros das instituições patrocinadas. A segunda forma de sustentação é aquela em que a instituição, por planejamento orçamentário inclui a comunicação em suas contas ordinárias, ou seja, tem a comunicação impressa como parte de suas despesas ordinárias. Neste formato encontram-se 13% dos veículos pesquisados. Foram constatadas ainda outras três formas de sustentação, porém, com menor incidência: a sustentação mista entre recursos da entidade e da venda de espaço publicitário, onde se encaixam dois veículos, ou seja, 9%; a outra é através da contribuição de doadores; e a última pela contribuição feita por assinantes. Discussão dos dados As organizações comunitárias que mantêm veículos impressos para a sua comunicação na cidade de Passo Fundo são muito variadas. Elas fazem a sua comunicação através de pequenos jornais, especialmente para informar e formar os seus membros. Os jornais, resultado dos seus processos e práticas descritos, têm quais das características apontadas por Martin-Barbero (2009)? Os jornais em estudo possuem, principalmente a característica de serem um espaço alternativo de informação e formação para os membros das organizações, espaço esse que estas organizações não encontram na grande mídia. É comum o dizer dos responsáveis, de que a comunidade necessita de informações que seus membros não encontram na mídia comercial. A característica comunitária dos veículos impressos em estudo é encontrada principalmente nos seus objetivos, na abrangência, em parte na produção, bastante presente na distribuição (ponto de entrega e distribuição à domicílio), porém timidamente nas formas de sustentação. Nos objetivos e na abrangência dos jornais estão presentes as preocupações de informar e formar os membros de um grupo ou comunidade específica, o que nos leva a crer de que há sim ali uma marca comunitária. Enquanto forma de produção percebeu-se uma menor presença da característica comunitária nos veículos. O que vemos é, em geral, os jornais sendo produzidos ou por profissionais, ou por equipes de voluntários, ou ainda por ambos, mas não com a participação direta da comunidade. Neste aspecto, os impressos tem uma forte marca de que são feitos de uns para os outros, o que os faz menos comunitários. Outra categoria que nos permite analisar a prática da comunicação através dos jornais é a sua distribuição. Neste sentido percebemos práticas bem associadas à vida comunitária, ou seja, de fazer com que os seus membros retirem o jornal no ponto de distribuição ou que alguém, em alguns casos, um responsável por rua, faça chegar os impressos em cada um dos domicílios. Porém, onde percebemos a menor participação das comunidades na comunicação realizada através dos jornais é quanto à sua sustentação financeira. Segundo os dados, a maioria deles são sustentados por venda de espaço publicitário para financiadores fora da região de abrangência dos jornais. São poucas as experiências de sustentação bem sucedidas na perspectiva comunitária. A característica cidadã dos meios de comunicação apontada por Martin-Barbero (2009) está praticamente ausente nos jornais das organizações sócio-comunitárias de Passo Fundo. O maior número das organizações delas que mantém veículos impressos na cidade, não tem nem tradição e nem objetivos para o engajamento social dos seus membros. Porém, esta dimensão pode ser percebida muito claramente no jornal do Movimento das Mulheres Camponesas, e em alguns veículos ligados à Igreja Católica e poucas Associações de Moradores. Diante disso, vislumbramos uma luz na afirmação de Baumann (2003), de que nos encontramos, também em Passo Fundo, e os meios de comunicação das organizações sócio-comunitárias expressam isso, em uma recente e crescente estetização da vida comunitária ou seja, a superficialização ou a artificialização daquilo que é definido como comunidade ou organização sócio-comunitária. Neste sentido as comunidades e seus meios de comunicação passam a ter característica estéticas mais do que alternativas, comunitárias ou cidadãs, onde prevalecem os gostos e aparências, possuindo uma fluidez que faz com que facilmente deixem de existir. Poderá ser este um dos motivos para a pequena longevidade dos impressos comunitários. Considerações finais Nota-se que as instituições, para resolver as dificuldades de sustentação de sua comunicação, buscam financiamento fora dos seus membros, o que por um lado fragiliza a comunicação que fica refém dos investimentos externos e por outro descompromete a comunidade, que não participa do processo de sustentação desta comunicação comunitária. Os jornais das instituições estudadas são o reflexo da vida comunitária que ocorre em seu interior. Primeiramente, pode-se concluir que o número de impressos produzidos é o reflexo de um significativo número de instituições que tem a comunicação impressa como canal importante para a sua comunicação. Porém, as práticas e as consequentes dificuldades comunicacionais são o reflexo de transformações da identidade de cada uma das instituições, que sofrem com a erosão das marcas identitárias étnico-culturais e cidadãs, fazendo com que as comunidades que outrora tinham uma vida comunitária, tenham somente atividades, eventos ou comemorações para os quais os associados são convidados por alguns remanescentes que lutam para não deixar morrer a comunidade. Para que não morram as comunidades vem sendo tomadas pela recente e crescente estetização, o que também pode ser notado nos jornais, onde o conteúdo deixa de ser comunitário para se adaptar a valores, gostos passageiros que vem substituindo a característica comunitária dos mesmos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros Bardin, L. (2010). Análise de Conteúdo. Lisboa / Portugal: Edições 70. Bauman, S. (2003). Comunidade – a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar. Coelho, P. (2005). A TV de Proximidade e os Novos Desafios do Espaço Público. Lisboa: Horizonte. Cogo, D. (1998). No ar... uma rádio comunitária. São Paulo: Paulinas. Dornelles, B. (2004). Jornalismo “Comunitário” em Cidades do Interior – uma radiografia das empresas jornalísticas: administração, comercialização, edição e opinião dos leitores. Porto Alegre: Sagra/Luzatto. Paiva, R. (2003). O espírito comum – Comunidade, mídia e globalismo. (2ª ed.) Rio de Janeiro: Mauad Editora Ltda. Peruzzo, C. (1998). Comunicação nos movimentos populares – A participação na construção da cidadania. Petrópolis: Vozes. Sodré, M. (2003). Prefácio à 1ª edição. Paiva, R. O espírito comum – Comunidade, mídia e globalismo. (2ª ed.) Rio de Janeiro: Mauad Editora Ltda. Revistas Bertol, S., Frosi, F. (2004). O Surgimento da mídia impressa no município de Passo Fundo/RS - os primeiros 50 anos. Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo. (1). São Bernardo do Campo. Gomes, P., & Kaster, I. (1994). A situação da imprensa católica no Brasil: carências e necessidades. Revista Verso e Reverso. (14), São Leopoldo: Unisinos. Klein, O. (2013). O processo acadêmico no surgimento de uma pesquisa em Comunicação Comunitária. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/R6-2664-1.pdf. Martin-Barbero, J. (2009). Uma aventura epistemológica. Matrizes, (2), 143-162. São Paulo: USP. Peruzzo, C. (2010). Revisitando os conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária. Disponível em: www.unifra.br/professores;rosana;Cicília+Peruzzo. Ribeiro, L. (2004). Comunicação e comunidade – Teoria e método. São Bernardo do Campo: XIII Congresso da Compós.