Código Genético: Descodificar não é Transmitir Não será certamente por acaso que a sustentabilidade das organizações é tão falada nos dias de hoje. Se, por um lado, o desenvolvimento do conhecimento nos localiza com clareza na designada era do mesmo nome, por outro, a transmissão desse conhecimento pode não estar a ser efetuada com a mesma nobreza e fidelidade que tal desenvolvimento merecia. Desculpamo-nos a cada momento que a variável tempo tem acusado uma diminuição exponencial; essa variável seria, porventura, o veículo de transmissão do conhecimento, para que este se pudesse fazer de forma adequada. E quando aqui refiro adequada, queria dizer o necessário e suficiente, com a noção de que a substância ativa é mais importante do que o excipiente, para utilizar uma linguagem um tanto ou quanto mais químicofarmacêutica. Por tudo isto, porque não temos tempo, e porque não nos concentramos naquilo que é importante transmitir, prejudicamos a transmissão, ou melhor, a comunicação do que são os traços culturais identificativos da organização a que pertencemos, às gerações vindouras. E acentuo que não se trata apenas da transmissão de informação numa metodologia unilateral, mas sim num conceito de comunicação efetiva, o que pressupõe, naturalmente, uma interação, uma recolha permanente de um feedback. E um ajuste, em consequência disso, no sentido de uma melhoria constante da qualidade dessa mesma comunicação, requer tudo isto, não tanto mais tempo, mas, certamente, melhor tempo. Esta genérica organização em que todos – de uma forma ou de outra – encontramos o nosso lugar-comum, possui atributos discriminatórios, traços culturais ou um código genético – se assim se quiser designar – que o mundo de hoje tem uma maior preocupação em identificar, mais do que comunicar de forma fiel. Tal situação leva a que, na organização mais pequena que se conhece – mas nem por isso menos importante – a família, os valores e a história sejam de forma insuficiente transmitidos aos mais jovens elementos, para que a referida família tenha um percurso estratégico determinado, consistente e sustentado. Ao longo do relatado percurso é também mais frequente que se apontem objetivos de curto prazo, sítios a atingir, sem que se tenha verificado o calmo e agradável saborear do trajeto que nos permite chegar. Quando tal acontece, não podemos estranhar que no primeiro universo referido – o da família - aconteçam casos em que o elemento mais jovem da mesma fala uma linguagem diferente da dos pais, porque passa a maior parte do seu tempo com uma empregada a tempo inteiro de nacionalidade longínqua. Nem podemos da mesma forma estranhar que no segundo caso – o das organizações – alguém de pertença antiga refira que “no meu tempo, a organização comemorava com entusiasmo o dia do seu nascimento” e que “hoje, saídos que foram muitos dos elementos que a constituíam, tal data já não é sequer lembrada”. Quando da família passamos à organização empresarial, constatamos, em grande parte destas organizações, a facilidade com que se exclui – ao invés de acolher e chamar à pertença e alinhamento com a estratégia – impedindo que a simbiose desejável entre a experiência dos mais antigos e o entusiasmo e acreditar dos mais jovens constitua um fator crítico de sucesso, não só mas também porque é transmissor desse código genético. Em primeiro lugar, e procurando encontrar a melhor solução nos filósofos mais antigos, e considerando Sócrates como mestre de Platão, concluo que a excelência da comunicação em todos os sentidos e direções é um fator fundamental. Uma comunicação, como a referia Sócrates, teria de ser verdadeira, bondosa, e útil; e assim sendo, evitaria nas organizações o consumo de tempo inútil – ao que consta nas últimas estatísticas, é superior a 70% o tempo gasto na transmissão de informação entre pessoas, de conteúdo negativo, por vezes falso, na totalidade sem utilidade, acerca de outra qualquer pessoa. Então, que futuro desejável para a comunicação correta do particular código genético? Código Genético – Descodificar Não É Transmitir - 2 O segundo, e provavelmente o mais importante, repousará sobre o conhecimento profundo de cada uma das pessoas com quem se interage, no sentido de identificar e respeitar os seus indutores emocionais específicos e únicos. Se assim se fizer, conseguir-se-á um diálogo mais profícuo, verdadeiro e aceite, o que, por tal, tornará mais forte a cadeia de transmissão e comunicação do único código genético. Numa menção que se julga oriunda do meu Alentejo, conta-se a pequena história “deturpando” o ditado original que dizia “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”, que, numa visão mais bem-disposta, mas profunda, terá alterado para “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem É”. João Torres Pereira Partner Basilaris Código Genético – Descodificar Não É Transmitir - 3