Title: Relational practices between schools and museums Subtitle: The new challenges and experimental practice within the space of a museum Author: Jorge Costa Director of the Centre of Contemporary Art Graça Morais Abstract: We are effectively far from the traditional concept of a museum that characterised the dawn of museology. Constantly questioning their own organization and the way they operate, constantly seeking answers to the increasing challenges created by the countless changes in society, museums have been significantly altering their strategies, both in their way of thinking and acting, in the way they relate to their audiences and, most particularly, in the way they communicate. As a privileged place for direct contact with works of art, the museum is now able to provide, in an informal setting, experiences of enjoyment, learning and experimentation that may act as a complement of a classroom-based learning. Meanwhile, as a space of artistic training, it seeks to understand the need to establish stronger ties with the educational community. Education in general and art in particular, on which our approach is entirely focused, cannot be confined to the space of the classroom, as this would be too limited. More than a theoretical essay, our aim is to present here an analysis that is based on what has been experienced in the real world, and to assess the role of the museum as an educational service, the importance of visits and the multiple activities that the museum now offers to its audiences, whether according to the syllabus or not. We will also analyse the importance that the teacher and educator, due to their privileged position, can have in triggering an effective approach between the school and the museum. CV Summary Jorge Costa Director of the Centro de Arte Contemporânea Graça Morais. Master Degree in Contemporary Art from the School of Arts at the Catholic University of Porto. Degree in Humanities from the Faculty of Philosophy of Braga. Secondary school teacher until 2006. Commissioner of Contemporary Art Exhibitions. Among others, he commissioned the exhibitions of some national and foreign artists, such as Paula Rego, Graça Morais, João Cutileiro, João Louro, Júlio Pomar, Santiago Ydáñez and Rui Sanches. He has signed several texts for catalogues and has lectured in the field of contemporary art. Título: Práticas relacionais entre as escolas e os museus Subtítulo: Os novos desafios e práticas experimentais no espaço museológico Autor: Jorge Costa Diretor do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais Resumo: Estamos efetivamente longe da conceção tradicional de museu que caracterizou os alvores da museologia. Numa interrogação constante à sua organização e ao seu modo de atuação, na procura de respostas aos permanentes desafios ditados pelas crescentes transformações da sociedade, os museus têm vindo a alterar significativamente as suas estratégias, seja no seu modo de pensar e de atuar, seja na sua forma de se relacionarem com os seus públicos e, de modo muito particular, no modo como comunicam. Como lugar privilegiado para o contacto direto com obras de arte, o museu é, hoje, capaz de proporcionar, em ambiente informal, experiencias de fruição, aprendizagem e experimentação, complementares ao ensino em contexto de sala de aula, ao mesmo tempo que, como espaços de formação artística, procura compreender a necessidade de estreitar fronteiras com a comunidade educativa. A educação, em geral, e a artística, em particular, sobre a qual centramos inteiramente esta abordagem, não pode estar redutoramente confinada ao espaço da sala de aula. Mais do um ensaio teórico, explana-se aqui uma análise que tem por base o experienciado em contexto real, avalia-se o papel do serviço educativo, a importância das visitas e da multiplicidade de atividades que o museu oferece hoje aos seus públicos, dentro ou não do planificado para a disciplina. Analisa-se ainda a importância que a privilegiada posição de professor e educador é capaz de desencadear na aproximação efetiva entre a escola e o museu. É ponto consensual que os espaços museológicos potenciam a aprendizagem, estimulam a criatividade e a imaginação e, por isso, não deixam de se instituir como um sistema educativo paralelo e complementar no complexo processo que constitui a formação geral dos alunos. Se, nas suas especificidades, escola e museu são ambos lugares privilegiados de construção e partilha de conhecimento, quando conjugados, podem potenciar, no campo da educação artística, experiências e aprendizagem únicas. No entanto, o contributo que um museu pode dar à formação da mais representativa franja de público que constitui a comunidade educativa depende de uma pluralidade de factores, onde, quase sempre, o professor desempenha um papel central. A educação, em geral, e a artística, em particular, sobre a qual centramos inteiramente esta abordagem, não pode, de forma alguma, estar redutoramente confinada ao espaço da sala de aula. A experiência da observação e fruição directa da obra de arte, pela diversidade de estímulos que tem associados, constitui-se como a fonte mais importante de inspiração artística no processo educativo. Estamos efectivamente longe da concepção tradicional de museu que caracterizou os alvores da museologia. Confrontados “com crescentes desafios que questionam a sua forma de organização, a sua atitude perante a sociedade”, os museus alteraram significativamente a sua “forma de olhar as colecções e a maneira de se darem a conhecer aos públicos”, bem como o seu modo de pensar, as suas estratégias e o modo como comunicam. Contudo, para uma significativa percentagem de alunos e professores, a imagem do museu permanece ainda como “um lugar onde se guardam objectos antigos” ou um espaço de “sacralização da obra de arte” e onde quase nada é permitido. A maioria dos museus dispõe actualmente de um serviço educativo que procura desenvolver estratégias de formação e educação estética dos seus públicos, desmistificando esse conceito. No essencial, não andam muito longe de actividades capazes de facilitar a descodificação das mensagens associadas às obras de arte e ao seu discurso expositivo, conseguindo, desse modo, dar cumprimento aos objectivos pedagógicos e educacionais previamente definidos para cada exposição. Isto significa, na maioria dos casos, que as actividades que se desenvolvem dentro do espaço museológico assentem exclusivamente na exploração da colecção ou exposição. No entanto, se em muitos casos a tradicional visita ao espaço expositivo se afigura como a valência ou o recurso mais utilizado na mediação da aprendizagem, a educação artística no museu vai mais longe, vai muito além da mera tradução do olhar. Alunos e professores têm hoje à sua disposição programas educativos e actividades de qualidade que os museus dinamizam especificamente para esta franja de públicos, embora, na verdade, esses programas nem sempre surjam concertados com os programas educativos ou mesmo com os objectivos traçados para a disciplina. Os museus conhecem bem as vantagens quando os programas que realizam vão ao encontro dos currículos, pelo menos, quando são capazes de dar respostas a necessidades concretas sugeridas ou solicitadas previamente pelos professores, particularmente os da comunidade educativa em que este se insere. Escola e museu ficam seguramente a ganhar. Importa então saber que esforço tem vindo a ser realizado neste âmbito: Que acções têm produzido os museus no sentido de ajustarem os seus programas educacionais aos currículos escolares? Que solicitações, em concreto, são requeridas pelos professores? Que esforço têm realizado os professores no sentido de colaborarem com os museus na planificação dos seus programas educacionais? Que espaço de formação disponibiliza a escola para que a educação artística seja realizada fora de portas, nomeadamente através das vistas aos museus? Como espaço de educação artística, cabe ao museu ser um lugar de fruição e de contacto com obras de arte autênticas, um espaço de aprendizagem e de mediação, de participação, um espaço capaz de conjugar educação e lazer, capaz de proporcionar uma experiência estética que dificilmente poderia acontecer noutro lugar. No entanto, em todo este processo, o papel de promotor cabe essencialmente ao professor, pois é ele quem, num posição privilegiada, se constitui como elo de ligação entre a escola e o museu, entre o programa expositivo e o programa educativo a realizar, mas, acima de tudo, é ele quem aufere de uma posição capaz de avaliar o modo como os museus podem complementar a insuficiência artística a que a escola não consegue dar resposta. Dito de outra forma, quantas vezes acabam por ser ignoradas oportunidades em que todos sairiam a ganhar, porque não existe este diálogo ou não é feito esforço de nenhuma das partes para criar sinergias. Longe da mera função de repositório de obras de arte, os museus centram cada vez mais a atenção nos seus públicos e socorrem-se de uma multiplicidade de estratégias capazes de contribuir para a sua formação e fidelização. A visita guiada é uma delas, continuando a afirma-se como uma estratégia orientadora de maior recurso e repleta de pontos positivos, fundamentais à aprendizagem, à partilha e à discussão. Tendo em vista todo um conjunto de factores e de variáveis, é fácil entender que não existem estratégias ideais para se realizar “a melhor visita” a uma exposição ou a um museu. O enquadramento da visita, a motivação dos alunos, a sua prévia preparação ou não, o tempo disponibilizado, as expectativas, o número de alunos por grupo, os níveis etários ou as áreas de ensino são sempre variáveis tomadas em conta para que não fique comprometido o seu êxito. Em qualquer caso, a visita a um museu de arte não tem necessariamente de estar dependente ou afecta a um programa curricular, a uma preparação prévia e exaustiva daquilo que os alunos vão ver, ou mesmo fazê-la com a obrigatoriedade de responder, depois, a um fastidioso questionário ou relatório, pois qualquer que seja o seu enquadramento ou motivação “uma visita de estudo a um museu de arte promove o desenvolvimento do aluno” e, por isso, deverá ser sempre entendida e valorizada como experiência educativa. O prazer e o lúdico não podem ser dissociados da visita ao museu. A maioria dos alunos assume o preconceito de que os museus são espaços demasiado sérios e enfadonhos. Caberá aos museus, com a ajuda dos professores e educadores, e às estratégias por eles implementadas, interromper esta ideia. Pondo o enfoque numa participação mais activa e informal dos alunos, os museus têm vindo a diversificar os modos de actuação, apresentando alternativas ou adequando a visita aos múltiplos tipos de público. Os estudos de Kelvin Miller sugerem que os alunos não retém mais do que 10% do que ouvem, mas retêm 85% quando se associa o ver e o fazer. Neste campo têm vindo a realizar-se visitas sob a forma de jogo, efectuada em equipa, estimulando simultaneamente a dinâmica de grupo e a descoberta, sugerida por um roteiro orientador que desafia o aluno, não apenas a olhar e a ouvir, mas a “ver” e procurar a informação. A mesma estratégia vem sendo aplicada a visitas de crianças com os pais, que, sem negligenciar a aprendizagem e o lúdico, reforça simultaneamente o contacto familiar. A visita ao museu de arte não tem que ser exclusiva dos alunos que a estudam ou no âmbito da disciplina de Educação Visual, pois a arte na educação em geral “não é treinar artistas e desenhadores profissionais, mas sim formar cidadãos visualmente instruídos, esteticamente sensíveis”, capazes de formularem os seus próprios juízos estéticos e até mesmo serem capazes de, individualmente, “dar expressão visual a ideias e sensações”. Centrada no aluno, que deverá ter, o quanto possível, papel activo no processo (no antes, no durante e no depois), cabe, afinal, ao professor despoletar todos os meios para que a visita efectivamente se realize. Significa isto, na prática, que a comunidade educativa, do pré-escolar ao ensino superior, visitará o museu se e quando o professor tomar a iniciativa. Numa continuada mudança de paradigma, que a experiência e a reflexão em torno da imagem e do papel dos museus na sociedade vêm fomentando, abrem-se consequentemente outros territórios, como o da experimentação. As oficinas de prática artística, nas suas múltiplas linguagens e técnicas, o encontro com artistas e críticos de arte, o conhecer e participar no processo de montagem de uma exposição, conhecer os bastidores de um museu, são algumas das formas possíveis, e que atestam a ideia do museu como um local ideal para motivar os alunos a gostar de arte. Fazer do espaço expositivo a sala de aula, ou trazer a sala de aula para o museu, experimentar técnicas, materiais e tintagens, facilitando a oportunidade de práticas que na escola não seriam possíveis é outro dos esforços realizados, hoje, por alguns museus, que procuram colmatar ou, pelo menos, atenuar algumas das necessidades da comunidade educativa. Mas dar respostas concretas a essas necessidades terá de partir do professor, uma vez mais elo vital de ligação entre as duas instituições. Quem melhor do que ele conhece as necessidades dos seus alunos e da sua escola, quem melhor pode desafiar os museus a serem capazes de, neste âmbito, responder positivamente às necessidades da sua comunidade escolar? É fundamental que os professores conheçam bem os seus museus, se envolvam nesta motivação e proponham iniciativas, do mesmo modo que caberá certamente ao museu ser um espaço dinamizador e impulsionador de projectos artísticos de qualidade, fora de portas. Conscientes de que o dinâmico processo da educação artística sai fortalecido na estreita ligação entre escola e museu, compete a todos desencadear processos capazes de explorar o potencial individual que cada instituição encerra, materializando-o em enriquecimento cultural. Bibliografia ALMEIDA, António – Visitas de Estudo. Concepções e Eficácia na Aprendizagem. Lisboa: Livros Horizonte, 1989 CASTELLS, Manuel – A Sociedade em Rede. Lisboa: fundação Calouste Gulbenkian, 2002 NEVES, José Soares – O Panorama Museológico em Portugal (2000 -2003). Lisboa: Instituto Português dos Museus / Observatório das Actividades Culturais, 2005 SANDELL, Richard – Museums, Society, Inequality. Londres e Nova York: Routledge, 2002 SEMEDO, Alice; LOPES, João Teixeira, coord. - Museus Discursos e Representações. Porto: Edições Afrontamento, 2006 SERRA, Filipe Mascarenhas – Práticas de Gestão nos Museus Portugueses. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2007 ZELLER, Terry – Museums and the Goals of Art Education. Art Education, 1987