EJA e Cultura Local
Alfabetizandas da Universidade de Cruz Alta interpretam
fragmentos da obra de Erico Veríssimo
Sandra Battilana da Silva Oliveira
Maria Aparecida Santana Camargo
Taíse Camara Bottega
Débora Borges Dias da Costa
Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ/RS
No ano em que se comemora o centenário de nascimento do escritor cruz-altense, um grupo
de alunas em processo de alfabetização da Educação de Jovens e Adultos da Escola de Ensino
Médio/UNICRUZ/RS, conhece a obra de Erico Veríssimo através da encenação de fragmentos
retirados das histórias contadas e lidas por suas professoras.
Depois de duas visitas à casa onde nasceu o escritor cruz-altense e de cerca de dois meses
de aula, as alunas, com idades entre 30 e 70 anos, devidamente caracterizadas e maquiadas,
representaram cenas vividas por personagens marcantes como Ana Terra e Bibiana, da trilogia O
Tempo e o Vento. As alunas se identificaram muito com as personagens, por considerar que estas
tinham muito a ver com o universo feminino da qual elas fazem parte.
A representação teatral gravada em vídeo foi a estratégia utilizada pelas professoras
responsáveis pelas disciplinas de Alfabetização, Ensino de Arte, Linguagem e Comunicação e
Dança, para incentivar e desenvolver a expressão artística e, principalmente o interesse pelo
mundo das letras, tanto da leitura quanto da escrita.
A idéia inicial surgiu a partir do Projeto Portal Erico Veríssimo desenvolvido por todas as
turmas, onde alunas e as professoras envolvidas nessa turma de Alfabetização se utilizaram das
resenhas de livros e das Histórias em Quadrinhos que foram publicadas no jornal Zero Hora, que
abrange toda a Região Sul.
Todas as atividades foram filmadas por uma jovem estudante, para que essas senhoras não
ficassem constrangidas e se sentissem mais à vontade, sendo valorizadas e respeitadas em seus
saberes. Ao final foram selecionadas algumas imagens e produzido um vídeo de quase 20
minutos, visto e aprovado pelas alunas, em que a câmera passeia pela sala de aula os ensaios, a
trajetória e as etapas vivenciadas por elas para a construção do trabalho, que também traz
depoimentos das mesmas a respeito da temática desenvolvida.
Para a alfabetizanda Teresa de Almeida, 70 anos, que sentada em uma cadeira de balanço e
com um xale sobre os ombros interpreta a personagem Bibiana, essa foi uma experiência que ela
nunca poderia imaginar que um dia viveria: ser artista.
Ao lado de outras turmas da EJA, as alunas, emocionadas, assistiram ao vídeo exibido no
telão da sala onde aconteceu a Mostra dos Trabalhos desenvolvidos durante o primeiro semestre
de 2005. Com relação aos outros colegas, o vídeo serviu de suporte para despertar reflexões a
respeito da diversidade e das discriminações que às vezes ocorrem no espaço escolar.
O objetivo da atividade foi levar a obra de Erico Veríssimo ao conhecimento dessas alunas,
num trabalho de inclusão, facilitando o acesso e a permanência na escola. Uma delas declarou
que o primeiro livro que quer comprar e ler será Ana Terra, personagem vivida por ela e pela qual
se interessou muito. Essas alunas, mesmo não tendo o domínio do mundo letrado, ao mesmo
tempo se sentiram perfeitamente incluídas no processo.
Segundo as professoras orientadoras, com esse trabalho foi possível mostrar que mesmo
sem saber ler fluentemente é possível que as alunas em fase de alfabetização possam conhecer e
participar ativamente da programação desenvolvida no Estado e na cidade em torno da obra
referente a Erico Veríssimo. É a democratização do conhecimento. Além disso, o vídeo produzido
com efeitos de áudio intercalados com a voz das estudantes, traz a vantagem de poder ser visto e
revisto sempre que desejarem, abrindo assim a possibilidade para a auto-crítica e outros
direcionamentos e análises. Foi uma situação de aprendizagem que mostrou o quanto são
diversas as maneiras de adquirir conhecimentos e de fazer com que as alunas tenham sucesso em
sua trajetória escolar, não importando a idade que tenham.
Após lerem o próprio nome na ficha técnica e ao som dos aplausos dos colegas e
professores, o vídeo termina com uma das alunas interpretando as palavras de Ana Terra:
Nada impedirá o meu caminho!
Nem o tempo e nem o vento!
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