A UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA-UNICRUZ ABERTA AOS
IDOSOS
Carmen Anita Hoffmann1; Marília de Rosso Krug2; Mônica Vestena
Tagliapietra3; Patrícia Viana da Rosa4;Patrícia Dall’Agnol Bianchi5; Solange
Beatriz Billig Garces6
Resumo
O período de 1975 a 2025 foi estabelecido pela Organização das
Nações Unidas como a Era do Envelhecimento. Isso se deve pelo fato de que a
população de idosos do mundo inteiro vem aumentando e o ciclo da vida em
que ocorre o processo de envelhecimento está se estendendo em pelo menos
20 anos. O envelhecimento humano, então torna-se mais uma questão social
em que as instituições precisam dar conta. Assim, as Universidades como
instituições sociais precisam atender também estas demandas. Ciente de seu
papel social a Universidade de Cruz Alta, desde o inicio de 2008 implantou,
através do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano, o
Programa Universidade Aberta à Terceira Idade. Portanto, o fio condutor deste
artigo será o envelhecimento como questão social, a Universidade como lócus
de discussão de novas demandas sociais e o relato desta experiência na
Universidade de Cruz Alta.
Palavras-Chave: Envelhecimento. Universidade. Educação. Saberes Sociais.
Abstract
1
Profª M.Sc.em História. Colaboradora do Programa UNATI-UNICRUZ
Profª M.Sc. em Ciências do Movimento Humano – Integrante do Programa UNATI-UNICRUZ,
Pesquisadora do GIEEH-UNICRUZ
3
Acadêmica do Curso de Pós-Graduação Lato sensu Especialização Interdisciplinar em Saúde –
UNICRUZ e Licenciada em Educação Física pela UNICRUZ
4
Profª Dr. em Gerontologia Biomédica – Integrante do Programa UNATI – UNICRUZ; Pesquisadora e
Líder do GIEEH-UNICRUZ
5
Profª Dr. em Fisiologia – Colaboradora do Programa UNATI – UNICRUZ; Pesquisadora do GIEEH­
UNICRUZ
6
Profª M.Sc. em Ciências do Movimento Humano;Doutoranda em Ciências Sociais –UNISINOS;
Integrante do Programa UNATI – UNICRUZ – Pesquisadora e Vice-Líder do GIEEH-UNICRUZ
2
The period from 1975 to 2025 was established by the World Nations
Organization as the Aging Era. This is due to the fact that the world population
of elderly is increasing, and the life cycle where the aging process is taking
place is being extended in at least 20 years. Human aging, then, becomes
another social matter that the institutions must care about. Universities, as
social institutions, must fulfill these demands. Aware of its social role the
University of Cruz Alta, since the beginning of 2008, has implanted, through an
inter-disciplinar Human Aging Study Group, the Third Age Open University
Program. Thus, the main goal of this paper will be the aging process as a social
matter, the University as the locus for the discussion of new social demands
and the reporting of this experience at the University of Cruz Alta.
Keywords: Aging. University. Education. Social Knowledge
Introdução
O envelhecimento humano é um processo contínuo e irreversível e
abrange a todos, independente de etnia, sexo, classe social ou formação. No
entanto, o que diferencia este processo são as experiências pessoais em
termos físicos, cognitivos, afetivos e sociais.
De fato, o envelhecimento tem se tornado uma questão pública e social,
pois o ciclo da vida em que este processo ocorre é mais acentuado,
o qual
está estabelecido pela idade cronológica iniciando aos 60 anos em países em
desenvolvimento e aos 65 em países desenvolvidos, tem aumentado, embora
este critério de idade cronológica não seja o mais apropriado em razão da
categoria idoso ser socialmente construída (CAMARANO; KANSO; MELLO,
2004). Portanto, este aumento na expectativa de vida gera demandas
econômicas, políticas, e sociais, principalmente no que se refere à área da
saúde, educação e lazer.
Dados demográficos confirmam que a expectativa de vida vem
aumentando nas últimas décadas, inclusive com aumento de idosos
centenários. Isto reforça a informação de que o Brasil até 2025 ocupará a 6ª
posição no mundo de nações com maior número de idosos (IBGE, 2000).
Este fato então gera novas possibilidades, expectativas e demandas por
parte desta população que surge como os novos atores sociais nas arenas
públicas e, consequentemente as instituições sociais precisam dar conta desta
questão. Como instituição social, de cunho educacional, integrante de uma
comunidade regional que apresenta um elevado número de população idosa a
Universidade de Cruz Alta, também insere-se neste processo, dando
visibilidade a uma questão social que já é parte integrante da esfera pública
mundial.
Portanto, o fio condutor deste artigo será a reflexão sobre o
envelhecimento como questão social, a Universidade como lócus de reflexão
sobre as questões universais que fazem parte das demandas político sociais e
a metodologia de ação em andamento, através da Universidade de Cruz Alta,
para o atendimento desta demanda que surge no cenário da Modernidade,
denominada
por Giddens (1996; 2001;2005) como Alta Modernidade,
Boaventura de Souza Santos
por
(1999a;1999b; 2005;2008) como Pós-
Modernidade Inquientante e de Oposição ou, por Morin (1991; 1999;2000)
como Sociedade Complexa.
Envelhecimento como questão social
A preocupação com a velhice no Brasil surge a partir da década de 90,
reflexo das discussões que estavam a acontecer no mundo, como por exemplo,
a I Assembléia Mundial do Envelhecimento (AME) que ocorreu em Viena, na
Áustria, no ano de 1982. Desta Assembléia surge o I Plano Internacional sobre
o Envelhecimento onde são tratadas questões como saúde e nutrição,
emprego,
habitação,
família,
bem-estar,
educação
e
proteção
aos
consumidores idosos. Com este planejamento é possível perceber que as
preocupações centram-se em questões que atingem apenas os idosos de
países desenvolvidos. (GARCES, 2009a; GARCES, 2009b)
No entanto, estas críticas somente foram superadas vinte anos depois
com a realização da II Assembléia Mundial do Envelhecimento, realizada no
ano de 2002, em Madri, na Espanha, onde então foram discutidas questões
pertinentes aos idosos de países em desenvolvimento e subdesenvolvidos ,
referendando assuntos como direitos humanos, provisão de necessidades
básicas, acesso à renda, cobertura integral dos serviços de saúde, educação e
moradia em condições dignas, apoio à cuidadores em função de epidemias,
principalmente a AIDS, que atinge os idosos de forma mais intensa
no
Continente Africano.(CAMARANO;PASINATO, 2004).
Estas autoras comentam que na Europa, as políticas públicas ao idoso
têm a preocupação de enfocar a necessidade em assegurar a plena integração
e participação dos idosos na sociedade. Nas regiões da Ásia e do Pacífico,
garante-se o acesso a novas tecnologias e na América Latina e África as
preocupações são com as necessidades sociais básicas e cuidados em relação
a epidemias, como a AIDS, por exemplo.
Assim, a velhice torna-se questão social pública no Brasil a partir da
década de 1990 quando se institui a Política Nacional do Idoso através da Lei
nº 8.842 de 1994, regulamentada em 1996, embora os primeiros sinais de
preocupação com esta questão social tenham-se demonstrado através da
Constituição Federal de 1988 onde se institui o idoso como sujeito de direito; a
Lei de Assistência Social – LOAS – nº 8.742/1993 – que regulamentou a
concessão do benefício de prestação continuada às pessoas com mais de 70
anos pertencentes a famílias com renda mensal per capita inferior a ¼ do
salário mínimo. Em 1998, a idade foi reduzida a 67 e em 2004 para 65 anos,
cuja demanda atual é a redução desta idade para 60 anos. Em 2002, institui-se
o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso; em 2003, o Estatuto do Idoso – Lei
nº 10.741/2003; em 2004, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa –
resolução nº 145/2004 do Conselho Nacional de Saúde; e em 2006, durante a I
Conferência Nacional do Idoso se propõem como política pública, a RENADI –
Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa, que veio como uma
proposta inovadora, embora em março de 2009 tenha acontecido a II
Conferência Nacional do idoso para avaliação desta política e viu-se que ainda
não se efetivou na maioria dos municípios e estados brasileiros (GARCES,
2009b).
O envelhecimento torna-se então, questão social sustentada
pelos
indicadores demográficos, como o aumento da expectativa de vida, a qual tem
como principais causas a diminuição da mortalidade e da natalidade, bem
como o avanço da ciência, principalmente através da medicina e a
universalização da aposentadoria; a migração dos idosos do campo para as
cidades em busca de melhor qualidade de vida através do acesso à saúde,
tornando o fenômeno urbano um fator de preocupação em razão de que muitos
idosos encontraram-se morando em condições precárias em periferias nas
cidades de médio e pequeno porte ou favelas nas grandes metrópoles, em
razão de seu baixo poder aquisitivo e gastos elevados com tratamentos de
saúde ou medicação de uso contínuo em razão de doenças crônico­
degenerativas que geralmente aparecem nesse ciclo da vida (GARCES,
2009b).
Neste sentido, este fenômeno do prolongamento da vida em pelo menos
20 anos, observado desde metade do século passado, provoca ajustes na
esfera pública e privada, principalmente em questões de recursos públicos e
novos arranjos familiares. Assim, outro fator a levar-se em conta, nesta
situação é que muitos idosos acabam sendo os chefes de família, neste
contexto em que os mais jovens estão desempregados e a aposentadoria do
idoso acaba sendo a única fonte de renda, servindo assim para o sustento da
família inteira. É o que Camarano et al. (2004) chama de convivência
intergeracional em um processo de verticalização. “Os seus membros se
ajudam na busca do alcance do bem-estar coletivo, constituindo um espaço de
‘conflito
cooperativo’
onde se
cruzam
as
diferenças
por
gênero
e
intergeracionais. Daí surge uma gama variada de arranjos familiares”(p.137).
De fato, essa situação mostra que o enfraquecimento das relações
familiares, principalmente em famílias com maior carência econômica, não
acontece; ao contrário, assim há um fortalecimento dos laços familiares e isto
confirma-se em estudo
do IPEA, através de Camarano et al.(2004)
demonstrando que as famílias mostram-se uma instituição “resistente”.
“Pobreza, desemprego e outros choques demográficos, como a epidemia de
HIV/AIDS, associados a efeitos não esperados de políticas, têm contribuído
para o ‘fortalecimento das famílias”. (p. 163).
Portanto, o suporte familiar é extremamente importante aos idosos, pois
em caso de doenças e inatividade do idoso é a família quem dá o suporte em
relação aos cuidados. O Estado, através de políticas públicas recentes,
transfere grande responsabilidade com o cuidado ao idoso para a família,
colocando-a com um papel de destaque nas políticas públicas voltadas a esta
população, principalmente na área da saúde, através do atendimento e cuidado
domiciliar do idoso.
Contudo, de acordo com o IPEA, através do estudo de Camarano et
al.(2004) percebe-se que problemas como o menor número de membros nas
famílias devido a baixa fecundidade, a entrada da mulher no mercado de
trabalho e o aumento no número de divórcios tem sido preocupações, já que
tradicionalmente nas famílias a mulher responsabilizava-se pelo cuidado ao
idoso e demais membros da família.
Outro fator que reforça a importância da família e da comunidade para
os idosos é a política estabelecida no Plano de Madri, através da II Assembléia
Mundial do Envelhecimento (AME), onde se reforça a importância da
solidariedade. De acordo com Goldani (2004) esta política propõe assegurar
um entorno propício para os idosos, onde “a solidariedade entre as gerações,
em todos os níveis – família, comunidade e Estado – , é fundamental para se
alcançar uma sociedade para todas as idades”(p. 214).
Deve-se levar em conta que o período do envelhecimento é marcado por
incapacidades funcionais, herança de hábitos de vida inadequados, como o
tabagismo, a má alimentação e o sedentarismo, por exemplo. Assim, o
engajamento do idoso em diferentes atividades torna-os autônomos para gerirse tanto fisicamente quanto em relação a sua própria vida social e econômica,
dependendo das experiências vivenciadas. Percebe-se então,
que o
envelhecimento é um processo universal, porém heterogêneo e ocorre de
acordo com as experiências vivenciadas por cada indivíduo ao longo de sua
trajetória de vida e isto é que possibilitará ao idoso tornar-se um sujeito ativo ou
não. Portanto, ao pensar em políticas públicas essa característica de
heterogeneidade do processo de envelhecimento deve ser levada em conta.
De fato, o país traz em sua história uma preocupação com o processo
de envelhecimento, investindo, desde as orientações do Plano de Viena e de
Madri em ações sociais, principalmente nas áreas de saúde.
Um fator que colaborou para a emancipação do sujeito idoso dando-lhe
possibilidade de tornar-se ator social, como fala Dubet (1994) e Touraine
(2007)7 foram as políticas públicas. A universalização da aposentadoria com “o
7
Dubet (1994), desenvolve em sua obra Sociologia da Experiência, baseado nas categorias
ação social e subjetividades. Segundo ele o que designa as condutas individuais ou coletivas
desenvolvimento da seguridade social tem desempenhado um importante
papel na construção do bem-estar dos indivíduos nessa etapa da vida”
(CAMARANO; PASINATO, 2004, p.287), pois até o século passado a velhice
estava associada a carência de renda, em razão da incapacidade para o
trabalho e limitações físicas e mentais.
Assim, as políticas públicas são disponibilizadas na forma de direitos,
mas precisam ser positivados e um direito só se positiva quando se luta e
reivindica na esfera pública para que este se efetive em seu favor. Nesta
direção, a Universidade tem um papel preponderante para que os idosos
tornem-se atores sociais, conhecedores de seus direitos e capazes de
reivindicá-los em seu favor.
Universidade como lócus de discussão de novas demandas sociais
A Universidade é o lócus de discussão de um “universo” de questões,
razão de seu nome. Assim, o processo de envelhecimento que neste século
tornou-se um fenômeno de preocupação social e econômica globalizado, e que
surge como demanda na arena das políticas públicas
também deve estar
presente neste espaço.
O envelhecimento é um período do ciclo da vida em que há um declínio em
vários setores. Além do declínio nos aspectos físicos e mentais, há perdas afetivas,
sociais e econômicas.
Camarano, Kanso e Mello (2004) explicam que já é esperado que a
partir dos 55 anos os rendimentos médios da população masculina comecem a
decrescer. Se comparados os rendimentos das mulheres idosas em relação
aos homens idosos, o rendimento das mulheres são maiores e isso se deve às
pensões por viuvez.
Por muito tempo a velhice estava associada apenas a carência, pobreza,
incapacidades e limitações conforme já referenciado anteriormente. Com a
universalização da previdência social e o aumento de políticas públicas
dos atores sociais é a heterogeneidade. Touraine é um intelectual francês que atribui as atuais
mudanças sociais não mais ao paradigma político ou econômico e social, mas sim a um novo
paradigma que chama de “cultural”. A proposta de Touraine centra-se na idéia de sujeito ser
inseparável da idéia de relações sociais e por isto chama-se ator social; para ele o Sujeito é a
vontade de um indivíduo de agir e de ser reconhecido como ator.
voltadas à esta população a situação tem melhorado, entretanto ainda muitos
idosos vivem em situações de exclusão e desigualdades sociais, nas periferias
das cidades e favelas das grandes metrópoles.
Entende-se, então que a educação é uma categoria que pode superar
desigualdades sociais, amenizando impedimentos como o desemprego, o
analfabetismo, a migração, o pauperismo, a miséria e a vulnerabilidade de
sujeitos que não tiveram as mesmas oportunidades sociais.
Assim, a Universidade tem um papel social extremamente relevante,
visando amenizar a exclusão social do idoso, que em situações de
vulnerabilidade
e
precarização
tornam-se
mais
evidentes.
Mas,
nos
questionamos: se temos toda uma legislação favorável aos idosos porque isso
não se efetiva?
Entende-se
que
as
mudanças
objetivas
só
acontecem
se
transformações subjetivas ocorrerem, visando possibilitar processos de
reflexividade para que estes sujeitos tornem-se atores sociais. Nesta direção a
Universidade contribui com os idosos na medida em que lhes possibilita e lhe
dá condições de tornarem-se atores sociais ou sujeitos de ação desfrutando
de sua liberdade positiva.
Segundo Bobbio (1995) a vontade positiva tem o princípio da realização
para o bem comum, na esfera coletiva, já a negativa é para a realização da
vontade do indivíduo no mundo privado. No processo de liberdade negativa há
restrição para a ação e na liberdade positiva , ao contrário, não há restrição
para a ação, o sujeito é auto-determinado. Porém o modelo universal humano é
o modelo liberal (burguês), que segundo Heller (1977) explicaria o sentimento
de vergonha e de medo, principal causa geradora da incapacidade para a
ação ou da impotência para a ação. Todavia, quando a ação acontece na
sociedade, além das reivindicações privadas se realiza a ação pela esfera
pública comum. O que Heller (1977) evidencia é a lógica liberal robustecendo a
vontade negativa, incentivando a liberdade civil em detrimento da vontade
positiva, desmotivando a luta pela mudança que estaria na esfera pública
comum.
Nesse sentido, entende-se que o papel da Universidade é então
trabalhar a subjetividade dos atores sociais, despertando a sua reflexividade
para a busca de seus direitos. Além disso, incentivá-los com situações que
melhorem e/ou preservem sua capacidade física e mental,
tornando-os autônomos, o que
é extremamente relevante. Pautado nestas
considerações é que o Programa UNATI entende ser um contribuinte para a
emancipação do idoso em todos os aspectos que contribuem para tal.
Nesta acepção, através do Programa UNATI – Universidade Aberta à
Terceira Idade da UNICRUZ, cujo objetivo é desenvolver junto a Universidade
um programa em que a universidade possa receber o idoso, como acontece
em várias Instituições de Ensino do País e do mundo, permite às pessoas
idosas o acesso à Universidade numa perspectiva de educação permanente, e
nesta perspectiva, estimula o cidadão idoso a encontrar outras formas de
reinserção social e valoriza sua experiência de vida(UNIVERSIDADE DE CRUZ
ALTA, 2008, p.03).
Metodologia de ação
UNATI – uma experiência na Universidade de Cruz Alta
As Universidades da Terceira Idade surgiram na década de 1970, na
França, mais especificamente na Universidade de Toulouse, através do médico
Pierre Vella (JACOB JACINTO, 2009). Segundo o autor os princípios básicos
destas universidades, que se mantém inalteráveis ainda hoje são: desenvolver
o convívio salutar e útil entre os idosos, combater a exclusão social e
proporcionar aos mais velhos a possibilidade de aprenderem ou ensinarem
(promovendo a andragogia ou seja a arte e a ciência de ajudar os adultos a
aprender); combater o isolamento e a exclusão social dos mais velhos;
incentivar a participação dos idosos na sociedade; divulgar os direitos e
oportunidades que existem para esta população e reduzir o risco de
dependência, sendo portanto um pólo de convívio social. Mais especificamente,
Jacob Jacinto (2009, p. 9) traz os objetivos das Universidades Abertas à
Terceira Idade:
- Incentivar a participação e organização dos seniores, em atividades
culturais, de cidadania, de ensino e de lazer;
- Divulgar a história, as ciências, as tradições, a solidariedade, as
artes, a tolerância, os locais e os demais fenômenos socioculturais
entre os seniores;
- Ser um pólo de informação e divulgação de serviços, deveres e
direitos dos seniores;
- Desenvolver as relações interpessoais e sociais entre as diversas
gerações;
- Fomentar a pesquisa sobre os temas gerontológicos.
Os europeus chamam esse programa de atendimento aos idosos nas
universidades, como um projeto de educação permanente, ou seja, uma
educação ao longo da vida.
No Brasil as primeiras experiências com a educação
e cultura com
idosos iniciou com o SESC/São Paulo em 1963, sendo que conforme
Camarano e Pasinato(2004, p. 284) “a primeira escola aberta de Terceira Idade
ocorreu por iniciativa do corpo técnico do SESC, projeto iniciado em 1977”.
Além de contar com a experiências dos Centros de Convivência que já haviam
na Instituição(SESC) também contou com o apoio da Universidade de
Toulouse, que foi a primeira Universidade Aberta à Terceira Idade do mundo.
Outra Universidade que foi pioneira na preocupação com os idosos foi
a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que iniciou este trabalho na
década de 1980, com o professor Américo Piquet Carneiro, o qual idealizou um
Centro de Convivência voltado para o estudo da população idosa dentro da
Universidade, como um lócus de formação qualificada para profissionais da
área da saúde e demais áreas pertinentes. Em 1996,
a UNATI da UERJ
transformou-se em um Núcleo da Universidade, em uma área de 800m2 , onde
desenvolvem-se atividades destinadas aos idosos, aos estudantes e a
população externa não idosa, que seja voluntária no Programa. Quanto ao
atendimento aos idosos desenvolvem-se serviços de saúde, atividades
socioculturais e educativas e de integração e inserção social; para os não
idosos a universidade oferece capacitação, principalmente para os cuidadores;
para os estudantes e professores a Universidade oferece a possibilidade de
pesquisas na área, com um centro de documentação. O Programa UNATI da
UERJ também se preocupa em dar visibilidade a este oferecendo atividades de
extensão, programa de voluntariado e participação na construção de políticas
públicas.
De acordo com o Ministério da Educação (2002 apud CAMARANO;
PASINATO, 2004, p. 284) em 2002 constavam“ 85 instituições de nível superior
envolvidas com o desenvolvimentos de atividades voltadas para a terceira
idade no Brasil. Destas, 52 são públicas e 33 de iniciativa privada. A maior
parte está localizada na região Sudeste do País.”
No Rio Grande do Sul algumas Universidades se destacam nas
iniciativas de ações voltadas ao envelhecimento humano, sendo a maioria as
Universidades Comunitárias, como a Universidade de Caxias do Sul, que
apresenta um Programa UNATI onde os idosos também participam das aulas
de graduação. Na Universidade de Passo Fundo encontra-se um professor
pioneiro no trabalho com idosos, o professor Agostinho Both. Por muitos anos
esta Universidade vem desenvolvendo um trabalho com idosos e atualmente
prepara profissionais, através de um programa Stricto sensu na área. O papel
atuante de uma Universidade Pública nesta área do envelhecimento é o da
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. Cabe destacar que várias
universidades gaúchas (UNIFRA, UFSM, UFRGS, PUCRS, IGG-PUCRS, Ulbra
de Canoas, UNISINOS, FEEVALE, UNISC, UNIVATES - Lageado, FECCAT –
Taquara, URCAMP, UNIJUÍ, UPF e UCS) e também a UNICRUZ participam do
Fórum Gaúcho das Instituições de Ensino Superior com Ações Voltadas ao
Envelhecimento.
Se compararmos a experiência das demais Universidades que se
destacam no atendimento ao idoso, no Brasil e no RS, com a Universidade de
Cruz Alta, o trabalho aqui realizado ainda é acanhado, porém cabe destacar
que a UNICRUZ vem desenvolvendo ações voltadas ao envelhecimento de
forma mais
formalizada desde o ano de 2000, quando institui-se o Grupo
Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano, cujo objetivo se define
a partir de três frentes: o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade
voltada ao processo do envelhecimento humano.
No que se refere ao ensino os diferentes cursos trabalham disciplinas
específicas sobre gerontologia, principalmente os da área da saúde, como o
caso do Curso de Enfermagem que apresenta um perfil voltado para a
gerontologia e também na pós-graduação, através do Programa Lato sensu em
Ciências do Movimento Humano – 1ª edição desenvolveu uma linha de
pesquisa voltada ao envelhecimento humano de forma interdisciplinar entre a
educação física escolar e a aptidão física e saúde.
Em relação a extensão a Universidade, através do GIEEH desenvolveu
seminários sobre envelhecimento em conjunto com o programa de PósGraduação em Ciências do Movimento Humano – 1ª edição e cursos de
capacitação para os profissionais que trabalham com idosos nos Grupos de
Convivências, além de ter um Programa permanente de atividade física
(ATIVE-SE), onde participam um elevado número de idosos e agora mais
especificamente com o UNATI. Também, através do GIEEH, em 2006/2007 a
Universidade de Cruz Alta desenvolveu em convênio com a Prefeitura
Municipal de Cruz Alta um projeto PIBEX intitulado (Re)Significando o trabalho
dos Grupos Organizados da Terceira Idade em Cruz Alta através da arte, do
esporte e da socialização.
No que se refere a pesquisa a Universidade vem demonstrando um
acentuado crescimento de sua produção nesta área. O GIEEH, procura
desenvolver atividades de pesquisa através dos Editais de pesquisa internos e
externos à UNICRUZ. Em 2006 a 2008, se engajou em uma pesquisa
financiada
pelo
Ministério
da
Saúde(SUS,
através
do
Edital
do
CNPq/PPSUS/FAPERGS) para avaliar a qualidade dos serviços de saúde
pública prestados aos idosos nos municípios dos COREDES Alto Jacuí e Alto
da Serra do Botucaraí, com resultados gerais já divulgados e atualmente ainda
está trabalhando na produção dos resultados parciais. Cabe destacar também
que o grupo anualmente tem projetos aprovados por consultores externos no
Edital PIBIC e também no PAPCT da UNICRUZ, além dos Trabalhos de
Conclusão de Curso que são orientados pelos pesquisadores do grupo que são
portanto, desenvolvidos nas linhas de pesquisa do GIEEH. Assim, a produção
científica do grupo cresce a cada ano consolidando e fortalecendo cada vez
mais essa área de pesquisa na Universidade.
Dessa forma então, entende-se que esta historicidade na área justifica a
criação do UNATI, na UNICRUZ, como um Programa que ainda precisa ser
consolidado, mas que apresenta profissionais preocupados em construir o
conhecimento local e global sobre o processo do envelhecimento como
questão social atual que é, mas agora trazendo o idoso para dentro da
Universidade.
O recém-nascido Programa UNATI,
implantado na Universidade de
Cruz Alta em 2008, tem a participação de 25 idosos, cujo pré-requisito para
participar é ter idade acima de 60 anos. O Programa, inicialmente, se
desenvolve através de oficinas de saúde, dança e alfabetização digital. Os
encontros de realização do programa acontecem três vezes por semana. O
projeto é desenvolvido com a colaboração de professores e acadêmicos dos
Cursos de Educação Física, Dança, Letras e Ciências da Computação, tendo,
portanto, um caráter multidisciplinar.
O Projeto do UNATI/UNICRUZ apresenta como objetivos:
- Possibilitar a integração de profissionais de diversos cursos da
UNICRUZ e da comunidade local e regional, que vêm trabalhando
nas áreas de geriatria e gerontologia, em um trabalho interdisciplinar;
- Construir um processo de promoção e prevenção á saúde,
conduzindo ao empoderamento dos idosos e a melhora de sua
condição de saúde;
- Desenvolver um processo de formação voltado a utilização da
informática como ferramenta de educação e construção de inclusão;
- Estimular o desenvolvimento de atividades de leitura e redação, a
partir do relato das experiências pessoais como elementos
transformadores. . (UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA, 2007, p.03).
De acordo com Camarano e Pasinato(2004) esta experiência com a
Universidade Aberta à Terceira Idade “[...] cria o que poderia chamar de uma
‘cultura da terceira idade’[...].O termo cultura da terceira idade é um conjunto de
valores e práticas voltadas para a demonstração de que é possível ser jovem
em qualquer idade.”(p. 284)
O projeto demonstra portanto, preocupação em desenvolver as
habilidades pertinentes à sociedade tecnológica nos idosos, que muitas vezes
se desengajam da vida social por imaginarem que não apresentam
capacidades de se adaptarem aos processos que a sociedade da Alta
Modernidade está a exigir.
De acordo com Jacob Jacinto(2009, p. 2):
As Universidade da Terceira Idade (UTIs) são o modelo de formação
de
adultos
com
mais
sucesso
no
mundo
e
em
Portugal.Consideramos as Universidades da Terceira Idade como a
resposta social, que visa criar e dinamizar regularmente atividades
sociais, culturais, educacional e de convívio, preferencialmente para
e pelos maiores de 50 anos. Quando existirem atividades educativas
será em regime não formal, sem fins de certificação e no contexto de
formação ao longo da vida.
Percebe-se que na Europa, especialmente em Portugal a preocupação
em oferecer atividades para a terceira idade é no sentido da integração e com
acepção de prevenção, pois aceitam adultos maiores de 50 anos. Portugal
segue o modelo inglês, onde também os professores são voluntários e não há
certificação. Já no modelo de Universidade Aberta à Terceira Idade, na França
estes espaços são criados por universidade tradicionais, tem professores
remunerados, garante certificação e segue um modelo de educação mais
formal, explicita Jacob Jacinto (2009).
A Universidade de Cruz Alta segue o modelo das UNATIs do Brasil, que
se apóiam no modelo francês, porém elas tem um caráter mais voltado para a
saúde e integração social do idoso, promovendo a saúde e desenvolvendo a
cultura, a educação e a cidadania.
As Universidades Abertas à Terceira Idade devem ser modelos de
formação de adultos, neste caso específico é destinado aos idosos, com idade
igual ou superior a 60 anos, residentes no município de Cruz Alta e as vagas
para cada oficina estão estabelecidas em trinta.
O Projeto da Universidade de Cruz Alta, o qual chamamos de
Universidade Aberta à Terceira Idade , busca oportunizar aos idosos do
município
a
participação
em
atividades
diferenciadas,
vinculadas
a
Universidade e que tem como objetivo permitir às pessoas idosas o acesso à
Universidade numa perspectiva de Educação permanente, e nesta perspectiva
estimular o sujeito idoso a tornar-se um ator social, tornando-o reflexivo, pois
segundo Giddens (2005) a reflexividade que o processo de globalização impõe
aos sujeitos traz a necessidade de estes estarem sempre pensando, ou
refletindo a respeito das circunstâncias em que suas vidas de desenrolam.
Esta, portanto é a perspectiva que norteia o trabalho que vem sendo
desenvolvido com os idosos, para que os mesmos possam encontrar formas de
reinserção social e valorização de sua experiência de vida, bem como
possibilidade de engajamento em atividades que lhes possibilitem estar
atualizados com os novos processos sociais e tecnológicos que a Modernidade
de certa forma impõe, tornando-se atores sociais.
Camarano e Pasinato (2004, p. 283) evidenciam que :
Essas estratégias pressupõem que a última etapa da vida deve ser
desfrutada em condições de estabilidade econômica e pessoal,
através de uma ativa participação na vida familiar e social e com
uma boa avaliação da própria saúde. Essa visão contrapõe-se ao
estereótipo de que a idade avançada é apenas uma fase da visa
marcada pela senescência e preparação para a morte.
Por se caracterizar como um projeto de extensão de caráter
multidisciplinar e permanente, um dos seus objetivos é possibilitar a integração
de profissionais de diversos Cursos da UNICRUZ e da comunidade local e
regional, que vêm trabalhando nas áreas de Geriatria e Gerontologia em um
processo interdisciplinar.
Portanto, a metodologia de ação
se efetiva através de módulos
semestrais, com carga horária distinta, e se desenvolve por meio de atividades
das oficinas permanentes, sendo elas, oficina
de saúde, de dança e de
inclusão digital. Estão previstas para serem incluídas nos próximos semestres
oficina de música, de educação e cidadania, de produção textual, de arte e
geração de trabalho e renda.
Os cursos envolvidos atualmente nesta proposta são Educação Física,
Fisioterapia, Dança, Letras e Ciência da Computação através da Vice-Reitoria
de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, estando previstas a chamada aos
cursos de Serviço Social, Economia, Direito e Pedagogia.
Os recursos humanos que o Projeto envolve são: um docente e um
bolsista por oficina, havendo ainda a participação de professores e bolsistas
voluntários que auxiliam no desenvolvimento das atividades.
Resultados, ações concretizadas e possibilidades de ação
A oficina de dança possibilita o desenvolvimento e a continuidade da
capacidade funcional do idoso melhorando sua condição física, que lhe
possibilite a continuidade de sua autonomia e independência funcional. A
oficina de inclusão digital deseja fazer com que o idoso possa se sentir um
sujeito incluído nas questões da modernidade, como a tecnologia, por exemplo.
Ao aprender como trabalhar com estas tecnologias eles se sente sujeito de
ação e consegue estabelecer vínculos e relações sociais de forma igual,
principalmente com as gerações mais novas.
A oficina de educação e cidadania prevê a possibilidade dos idosos se
defrontarem com temas atuais sobre educação, saúde e direitos sociais. A
oficina de educação e cidadania já teve algumas aulas no primeiro semestre
através de palestras voltadas à área da saúde e no segundo semestre estas
atividades serão permanentes, através de oficinas onde se discutirão questões
de direitos e cidadania a fim de que o idoso conheça estes direitos, possa lutar
por eles a fim de positivá-los em seu favor. Isto é extremamente relevante, na
medida em que, conforme explicita Bóbbio (1995) só teremos direitos se
conseguirmos positivá-los em nosso favor.
Além disso, o Programa vem atendendo o que preconiza a Política
Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso no que se refere à criação de
programas e projetos que promovam a participação e inclusão social do idoso,
numa perspectiva de emancipação dos sujeitos envolvidos, tornando-os
sujeitos reflexivos e de ação, sendo estes, portanto os resultados esperados.
Assim, entende-se este Programa (UNATI) como sendo de promoção de um
envelhecimento saudável e ativo e, portanto, uma política pública que está
sendo atendida pela Universidade de Cruz Alta.
As oficinas de arte, música e produção textual são imprescindíveis no
desenvolvimento da
socialização, integração, sensibilidade, emoção e
criatividade dos idosos, aspectos que são de fundamental importância para a
manutenção de suas capacidades cognitivas, principalmente na memória e
auto-estima, que também ajudam a evitar a depressão, algo comum nesta fase
da vida.
A oficina de geração de trabalho e renda é uma proposta que ainda é
incipiente no grupo e precisa amadurecer, mas é uma possibilidade de ação
vislumbrada para atender aqueles idosos que apresentam condições de maior
vulnerabilidade.
Outra possibilidade de ação pensada para o Programa é a inserir os
idosos em cursos de graduação da Universidade, o que ainda está sendo
estudado pela Universidade.
Considerações Finais
Entendemos que este deve ser o papel da Universidade Comunitária,
inserir-se na comunidade local, olhando para as necessidades de sua região e
vislumbrando possibilidade de atender as demandas mais prementes. Porém,
este é um olhar que a Universidade faz como instituição social globalizada que
busca atender as necessidades mundializadas que chegam em fluxos, como o
processo de envelhecimento, por exemplo.
O papel principal da Universidade é a educação, porém a educação
atualmente precisa atender as características de uma sociedade complexa e
globalizada. Como a característica principal da educação é a humanização,
entendemos que com esse processo estamos ensinando os alunos que o
conhecimento atual precisa ser interdisciplinar, mas sobretudo solidário.
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Universidade de Cruz Alta aberta aos idosos