Título: O USO DA INFORMÁTICA EDUCATIVA NA CIDADE DE CRUZ ALTA Área Temática: Educação e Comunicação - Tec. Educacionais Autores: LILIANA MARIA PASSERINO (1) e CÉLIA MARIZE BUNDCHËN (2) Programa: Universidade Luterana do Brasil - Pós-Graduação Lato Sensu em Educação – Especialização em Informática na Educação Introdução A informática é uma das áreas do conhecimento humano que teve maior desenvolvimento nos últimos 30 anos, abrangendo quase todos os setores da sociedade. Existe uma real preocupação dentro da educação, para utilizar este recurso de maneira adequada dentro de um contexto atual, que favoreça o processo ensino-aprendizagem. A Informática Aplicada a Educação ganhou ênfase especial na década de noventa, com as novas tecnologias abrindo um leque de novos horizontes no setor educacional. Professores e alunos desejam ter acesso a essa tecnologia, cada um com pontos de vistas diferentes, mas com um objetivo comum: melhor aproveitamento no processo ensino e aprendizagem. O presente trabalho surgiu da necessidade de saber o que está acontecendo nas escolas da cidade de Cruz Alta, com respeito ao uso da Informática na Educação: Qual a metodologia usada pelos professores que atuam no ambiente da Informática. Os objetivos da presente pesquisa foram verificar em escolas estaduais, municipais, e particulares; como se dá o uso da informática aplicada na educação na cidade de Cruz Alta; qual a formação dos docentes nas escolas visitadas e que oportunidades essas escolas oferecem para aperfeiçoamento na área de Informática na Educação. Para definir o objeto da pesquisa foi relacionada uma amostra de aproximadamente 30% das escolas com maior número de alunos, atingindo professores, diretores e coordenadores de Laboratório que atuam diretamente com a Informática na Educação. Cabe destacar que a seleção foi influenciada pela disponibilidade dos diretores, em autorizar e encarregar alguém que apoie esta pesquisa. Contextualização da pesquisa Cruz Alta fica no planalto médio, mais a noroeste, do estado do Rio Grande do Sul, tem uma população de várias etnias em número de 71.753 habitantes no município . Destes habitantes, 64.959 estão na zona urbana e 6.176 na zona rural. Acusando 43.151 a população de homens, 36.984 de mulheres, segundo dados estimadas pelo IBGE local. Na Tabela 1 aparecem esses dados comparados aos do RS e Brasil. Apenas 0,73% da população do Rio Grande do Sul está em Cruz Alta. Segundo uma estimativa de 1997. Total Cruz Alta Rio Grande do Sul Brasil Total 71.135 Urbana 64.959 Rural 6.176 Homens 34.151 Mulheres 36.984 9.637.682 157.079.573 7.581.230 123.082.167 4.739.378 33.997.406 4.898.304 77.447.541 9.762.110 159.636.413 Tabela 1 estimativa para 01/07/97 - conforme diário oficial n.º 165 de 28/08/97 AG/IBGE - Cruz Alta Evidentemente as diferentes realidades econômicas de Cruz Alta influenciam diretamente no perfil de sociedade, o que reflete-se também no processo de ensino e aprendizagem. Por isso achou-se importante, conhecer como suas escolas estão aplicando a Informática na Educação e qual a capacitação dos seus professores com relação a esta área. Cruz Alta conta com 14 escolas municipais, 23 estaduais e 2 particulares. Das escolas particulares, a escola franciscana é a mais antiga, fundada em 1914, e localizada no centro da cidade, conta com cursos de ensino infantil, fundamental e médio. A outra escola particular pertence à Universidade, chamada de Escola de Aplicação e funciona no campus universitário fora da cidade. A cidade ainda possui diversas escolas maternais de cunho particular, que atendem alunos do Jardim da Infância. A sdistribuição da rede de ensino da cidade é apresentada na figura 1. Situação das escolas em Cruz Alta Estaduais 55% Estaduais Municipais Particulares Municipais 40% Particulares 5% Figura 1- Situação das escolas na cidade de Cruz Alta. Nas duas escolas particulares encontram-se 829 e 174 alunos, respectivamente. Hoje encontram-se 953 professores que estão atuando nas 42 escolas da cidade, atendendo 19.559 alunos distribuídos conforme a Tabela 2. Escolas Estaduais Municipais Particulares Nº de Escolas Nº de Professores 23 672 17 180 02 101 Nº de alunos 14013 4553 993 Tabela 2 - Números de professores e alunos nas escolas de Cruz Alta. Na tabela 3 apresentam-se dados sobre o perfil da população da cidade 4-6 anos 1269 634 0 0 0 8 Total Alfabetização de adultos Sem Declaraçào Pós-Graduação Ensino Superior Ensino Médio Ensino Fundamental Pré-escolar Idade com relação à escolaridade dos mesmos. 0 1911 7-14 anos 10718 207 0 0 22 1 10963 15 ou + anos 96 1957 2843 1197 07 23 22 6145 Idade ignorada 2 8 2 0 0 0 1 13 1392 13307 3052 1197 07 53 24 19032 Total 25 Tabela 3 Pessoas de 4 anos ou mais de idade que freqüentam escola contagem populacional de 1996- IBGE - Cruz Alta -RS .Escolaridade em numero de anos. Ao analisar a tabela 3 verifica-se que o maior número de escolaridade se encontra no ensino fundamental, entre alunos de 7 a 14 anos, justificando uma vez mais a importância da pesquisa. O Sistema de Ensino em Cruz Alta vem sendo ampliado desde os tempos de sua fundação. Hoje na era da informatização também é preocupação das escolas em equipar as mesmas para se tornarem mais condizentes com a realidade social. No entanto, não basta colocar computadores nas escolas dizendo que com isso acontece a informatização do ensino. A capacitação do corpo docente, que vai atuar junto a este instrumento de trabalho, é essencial para o sucesso da implantação de informática na educação. Hoje o perfil do educador exige aperfeiçoamento contínuo, espírito empreendedor que aceita desafios e procura evoluir tornando-se um profissional mais capaz, pois está inserido numa sociedade competitiva que está caminhando para a valorização do saber. Ao ser construído o caminho do saber com uma visão crítica nesta era da informática, aplicando-a ao processo ensino-aprendizagem, fazendo avaliação dos programas existentes e criando outros, integra-se o conhecimento aos recursos tecnológicos . A escola é o veículo que promove o ensino trazendo benefícios a sociedade, e nesta atuação vem ao encontro das suas necessidades primordiais. Visto a tecnologia estar presente em todos os segmentos da sociedade e exigir o conhecimento dela para a execução de operações informatizadas, urge que a escola esteja adequada aos novos paradigmas sociais. O uso do computador e seus aplicativos permitem ao professor e aluno interagirem construindo seus conhecimentos. O computador deve servir de complemento para o ensino através de um uso criativo e original e não apenas como um reprodutor de exercícios programados (SETZER, 1992). O uso de programas abertos permitem ao aluno a construção de atividades e o desenvolvimento do raciocínio favorecendo assim a aquisição do conhecimento. O grande desafio da educação para o próximo milênio é aceitar que o indivíduo não tem idade para aprender, que toda a idade é viável, desde que se tenha oportunidades. Segundo PIAGET (1975), o pensamento humano funciona em forma de espiral, vai acrescentando cada vez outros conhecimentos produzindo um saber maior. A grande capacidade humana de aprender está em aprender através da contradição e dos conflitos. Estes conflitos geram desestruturação, desequilíbrio e só depois acontece a acomodação e então acontece a aprendizagem no ser humano. Cada pessoa desenvolve as suas diferenças tendo uma história ontogenética quanto filogenética que são competências intelectuais, inseridas em um sistema de regras de funcionamento, conforme GARDNER (apud ISAIA, 1987, p. 28-36). A informática também causou e causa desestruturação nas pessoas que não tem acesso a essa tecnologia provocando uma série de sentimentos contraditórios. Os professores em particular enfrentam esse problema diariamente e sua solução passa não ser só em nível de investimento pessoal, como também em apoio concreto do sistema onde está inserido, ou seja escola, governo, comunidade. A Pedagogia e a Informática Aplicada na Educação podem caminhar juntas, desafiando os indivíduos para uma constante busca cognitiva.. A Informática na Educação deve incluir, sempre com maior ênfase, o desenvolvimento de técnicas de ensino em que o computador, longe de se tornar o centro das atenções, será incorporado de modo semelhante às outras tecnologias educacionais, como retro projetor, os audiovisuais, os procedimentos de psicologia de grupo, etc... (Becker, 1996, p. 224). Torna-se necessário entender o processo da atividades participativas e integradas, o professor precisa estar inteirado e fazer parte do processo junto com os alunos. Os instrumentos tecnológicos ajudam na interação da aprendizagem. O conhecimento constrói-se ativamente através da interação social e de onde o significado de uma ação pode ser trocado retrospectivamente por uma ação posterior de outras pessoas. (Neumann 92). As novas tecnologias estão aí para facilitar as formas de organização social, e representam um desafio para toda a comunidade escolar. Metodologia Para realizar esta pesquisa foi selecionada uma amostra representativa que envolveu aproximadamente 30% das escolas utilizando como critérios para essa seleção o número de alunos, o tipo da escola (estadual, municipal ou particular) e o grau de ensino (fundamental e médio). A pesquisa em parte quantitativa e em parte qualitativo-descritiva, contou com vários métodos utilizados, que consistiram em entrevistas, observações e aplicação de questionários a professores, supervisores, e diretores de escola. Muitas vezes, a observação direta não foi possível, ou porque a escola ainda não possuía nenhum laboratório de informática ou porque o acesso não era permitido. Os dados recolhidos mostraram que: Nas escolas estaduais apenas 8% tem laboratório de informática instalado e operando, mas não existem profissionais específicos na área de informática na educação para coordenar esses laboratórios, e os softwares e hardwares encontram-se desfasados (ambiente DOS e computadores XT). A freqüência de acesso ao laboratório pelos alunos é quinzenal. Apenas 34 % das escolas tem algum setor administrativo informatizado, através do sistema INE, fornecido pela Secretaria de Educação do Estado. Essas escolas compõem um total de 8, as outras 15 escolas ainda não tem acesso a Informática de nenhuma forma. Laboratório 02 Administração 08 Atendimento Especial 01 Total de Escolas 23 Tabela 4- Situação das escolas do Estado e a Informática. Nas escolas municipais, nenhuma possui laboratório de informática. Nas escolas particulares 100% das mesmas tem setores administrativos informatizados e possuem laboratórios de informática. A freqüência de acesso dos alunos aos laboratórios é semanal/quinzenal. O investimento na área é bastante importante por parte das instituições. 50% das escolas particulares tem acesso a Internet, mas apenas para pesquisa. Nenhuma escola da rede pública de ensino possuem acesso a Internet. Com relação aos professores, a maioria desejam ir em busca de aperfeiçoamento, contudo há muitos professores esperando que o setor governamental invista neles e crie situações para que eles possam ter acesso a novos conhecimentos, em parte devido ao custo de aperfeiçoamento versus salário. O conhecimento dos professores com relação à informática é na maioria (87%) básico, com cursos dentro do currículo universitário e outros de aperfeiçoamentos com uma carga horária média de 40 h/a. Como mostra a figura 2. Conhecimentos dos Professores com relação à Infromática na Educação 87% Básico 4% 9% Mais specífico Especialização Figura 2 – Formação de Professores e Informática Conclusão Toda esta pesquisa permitiu conhecer a situação das escolas na cidade de Cruz Alta- RS com respeito a Informática Aplicada a Educação. Numa análise completa da Rede de Ensino de Cruz Alta, apenas 9,52% das escolas possuem laboratórios de informática, metade deles estão desfasados consideravelmente e seu uso é limitado. De maneira geral as escolas particulares são as que contam com os melhores recursos mas elas atendem 5% da população da cidade. A Escola Franciscana é a que mais investiu no ano de 1998, equipando seu laboratório e instalando um salão multimídia com um projetor , permitindo que professores e alunos tenham uma visão mais amplificada dos programas a serem trabalhados. Isso levou aos professores buscarem mais aperfeiçoamento para poderem melhor trabalhar com os programas e preparar suas aulas com o uso de novas tecnologias. Nas escolas municipais constatou-se que há pouco investimento para a implantação da Informática Aplicada a Educação. A informatização no setor administrativo educacional foi implantada no final de 1998. A chegada da Informática nas escolas governamentais tanto estadual como municipal está em passos muito lentos, e não está acompanhando o desenvolvimento tecnológico da sociedade cruzaltense. Percebeu-se que o desejo de melhor qualidade no ensino e o desejo de aperfeiçoamento está claro para os professores, mas o perfil financeiro dos moradores da cidade de Cruz Alta não permite um investimento maior na área. Concluindo a pesquisa veio despertar o desejo de investimento e busca de maior qualidade educacional e a Informática. Muito há que se fazer para tornar realidade a Informática nas escolas. Os desafios para os professores e alunos são grandes para que se tenha oportunidade de aprendizagem com ferramentas mais atualizadas. Notas (1) Doutoranda do Programa PGEdu-ULBRA. Professora Depto. Informática/ULBRA. Professora da Especialização Lato Sensu em Informática na Educação/ULBRA. Coordenadora de Informática Educativa na Escola de 1o e 2o Graus Espírito Santo/Canoas. Endereço: Rua Almirante Barroso 336 – Canoas – RS Cep: 92.110-370 – Fone:(051) 475-3241 e-mail: [email protected] (2) Especialista em Informática na Educação/ULBRA. Professora de Informática na Educação no Colégio Santíssima Trindade de Cruz Alta. Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto 1426- Centro 98005-060- Cruz Alta RS. Fone: (055) 322 21 88 Fax (055) 322 4113. e-mail: [email protected] Referências bibliograficas BECKER, Bertilo F. Informática na educação ou computadores na Escola? INSTITUTO DE Informática - PUCRS- 224-237. Porto Alegre, 1989. ISAIA. Silvia Maria de Aguiar; MOSQUERA, Juan José Mouriño. Vygotsky ou Piaget? Uma polêmica de repercussões significativas. In: Psicologi : Reflexão e Crítica, v. 2, n. 12. p 28-36, PortoAlegre, 1987. NEUMANN, Denis. El impacto del ordenador em la organización de la escuel: perspectivas para la investigación. Comunicación, Leguaje y Educación. P. 13, 23-35, 1992. SETZER, Valdemar. Computadores na Educação : Porquê, Quando e Como. p. 211-223. Instituto de Matemática e Estatística : Universidade de São Paulo, 1992. PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança, Jogos e Sonhos, Imagens e Representação. 2 ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1975.