A revista das oportunidades de negócios Janeiro/Fevereiro de 2009 - Ano XV - Nº 130 AGRONEGÓCIO Cultivo de morangos do Sul de Minas ganha impulso moda Oficina de design ajuda confecções em Divinópolis CULTURA Projeto dá novos rumos à produção em Cataguases Incentivo à inovação Programa aproxima pesquisa científica do mercado, com estímulo à criação de empresas e transferência de tecnologia carta ao leitor Cultura da Inovação Empreendedores e gestores têm papel decisivo neste processo A Gláucia Rodrigues inovação é indispensável para a sobrevivência e para a competitividade das micro e pequenas empresas. Inovar é fazer diferente. É incorporar conhecimentos e tecnologias para criar ou melhorar produtos, processos e serviços. A inovação é uma forma de aumentar o número de clientes, os lucros e os postos de trabalho. No mercado atual, o concorrente pode estar do outro lado da rua ou do outro lado do mundo. Se o empreendedor não perceber as mudanças no comportamento do consumidor e as tendências de mercado, a empresa corre o risco de desaparecer. A inovação tem sido uma preocupação constante do SEBRAE-MG. Diversas ações estimulam a cultura da inovação nas micro e pequenas empresas (MPEs). Uma delas é o Programa de Incentivo à Inovação (Pii), tema da matéria de capa da Passo a Passo. A reportagem mostra os resultados consistentes do programa, uma parceria entre o SEBRAE-MG e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Foram selecionados 60 projetos nas universidades federais de Juiz de Fora (UFJF), de Itajubá (Unifei) e de Lavras (Ufla) e 8 projetos do Pii Agroenergia, a primeira experiência setorial do programa. Para 2009, a previsão é que mais 60 projetos sejam selecionados, totalizando 128 projetos. Os grandes estímulos para transformar idéias em bons negócios foram o aumento do volume de crédito para pesquisas, o apoio técnico, gerencial e a qualificação de recursos humanos. Estes trabalhos mostram a importância de unir o conhecimento científico criado nas universidades com as ações para promoção do empreendedorismo e geração de negócios. A criatividade de nossos pesquisadores pode ser a base para o desenvolvimento de produtos e serviços de sucesso e de empresas competitivas. Temos à frente um grande desafio, pois o número de empresas que investem em inovação tecnológica e de gestão ainda é reduzido. O SEBRAE-MG trabalha firmemente no apoio às MPEs para que elas tenham conhecimento da necessidade da inovação. Os empreendedores também têm um papel decisivo neste processo. A capacidade de liderança contribui para disseminar a cultura da inovação dentro das organizações. A sobrevivência e a prosperidade das empresas no cenário atual dependem dessas iniciativas. Afonso Maria Rocha Diretor-superintendente do Sebrae-MG Passo A Passo cenário Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE-MG). Registro no Cartório Jero Oliva n° 931. Conselho Deliberativo do SEBRAE-MG BB, BDMG, CDL-BH, CEF, Cetec Ciemg, Faemg, Fapemig, Fecomércio-MG, Federaminas, Fiemg, Indi, Ocemg, Sebrae e Sede Presidente do Conselho Deliberativo do SEBRAE-MG Roberto Simões Superintendente Afonso Maria Rocha Diretor Técnico Luiz Márcio Haddad Pereira Santos Diretor de Operações Matheus Cotta de Carvalho Conselho Editorial Albertino Corrêa, Aline de Freitas, Andréa Avelar, Luciana Patrícia Rezende da Silva, Carolina Xavier, Daniela Almeida Teixeira, Danielle Fantini, Edelweiss Petrucelli, Victor Antônio de Almeida, Gustavo Moratori, Jefferson Ney Amaral, José Márcio Martins, Karinne Mendes, Léa Paula Fonseca Ribeiro, Lilian Botelho, Március Marques Mendes, Maria Gorete Cordeiro Neves, Paulo César Barroso Veríssimo, Regina Vieira e Wellington Damasceno de Lima. Coordenação editorial Lauro Diniz Jornalistas responsáveis Aline de Freitas e Andréa Avelar Gestão Editorial Nascentes Comunicação Estratégica Diretor de Redação Adriano Macedo 07 08 10 12 16 18 Passo A Passo CONSULTORIA icas para montar D site empresarial e registrar patentes NEGÓCIOS Empresas mineiras contempladas com o Prêmio MPE Brasil ENTREVISTA José Paschoal Rossetti afirma que o país é maior que a crise AGRONEGÓCIO Produtores de morangos do Sul de Minas obtêm melhores resultados MODA Oficina de design capacita empresas em Divinópolis REPORTAGEM DE CAPA Programa de inovação integra conhecimento e empreendedorismo 24 28 30 32 36 38 ARTESANATO Artesãos de Maria da Fé investem em design e criam peças sofisticadas EDUCAÇÃO PEs são capacitadas M a negociar com grandes empresas QUALIDADE Certificação da cachaça melhora desempenho do produto no mercado CULTURA Produtores e artistas aquecem a economia de Cataguases DEU CERTO Empreendedora de Congonhas inventa amaciante de couro ARTIGO Vera Helena Lopes escreve sobre o novo perfil do consumidor Editor Executivo Jorge Fernando dos Santos Chefe de Reportagem Breno Lobato Redação Poliana Napoleão e Wagner Concha Colaboraram nesta edição Carlos Eduardo Cherem, Ellen Dias e Eliza Caetano Consultoria Editorial Valério Fabris - Margem 3 Comunicação Estratégica Projeto Gráfico e Diagramação Sandra Fujii Reeleição de diretores e conselheiros Foram reeleitos por unanimidade para o biênio 2009/2010 o presidente do Conselho Deliberativo do SEBRAE-MG (Roberto Simões), a diretoria executiva (Afonso Maria Rocha, diretor-superintendente; Matheus Cotta de Carvalho, diretor de Operações e Luiz Márcio Haddad Pereira dos Santos, diretor Técnico), os membros do Conselho Fiscal (Heli de Oliveira Penido, Domingos Gatti Bavuzo e Luiz Gonzaga Viana Lage) e respectivos suplentes (Raimundo Mariano do Vale, João Ribeiro Ferreira Filho e Raimundo Sérgio Campos). O compromisso é fazer da entidade um centro de inteligência e referência nacional em projetos inovadores para as MPEs, que hoje representam mais de 98% dos estabelecimentos formais, gerando 55% dos empregos com carteira assinada em Minas. Redesim visa reduzir burocracia Em breve, o empreendedor brasileiro poderá constituir empresas e obter registros, licenças, alvarás, informações e orientações pela Internet. Sistemas de cerca de 20 mil órgãos públicos envolvidos na abertura e formalização de empresas trabalharão integrados, compondo a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), instituída pela Lei 11.598/07 e em construção no país. Para formalizar a empresa pela Redesim, o empreendedor deverá apenas fornecer, via on-line, o nome do empreendimento, o ramo de atividade e o endereço do negócio. Fotos: Marcelo Albert Ignácio Costa Sumário Reunião de diretores e conselheiros. Em destaque, Matheus Cotta de Carvalho, Roberto Simões e Afonso Maria Rocha Escrituração fiscal on-line Está disponível no site do Confaz (www. fazenda.gov.br/confaz) a lista das empresas obrigadas a aderir à Escrituração Fiscal Digital (EFD). Aquelas não relacionadas poderão optar pelo regime, solicitando o credenciamento junto à Secretaria de Fazenda estadual. A EFD substitui todos os livros fiscais por arquivos digitais, integrando as entidades tributárias federais, estaduais, e do Distrito Federal. O uso da EFD será obrigatório para todo contribuinte de ICMS e de IPI, que assim fica dispensado, a critério de seu Estado, das obrigações acessórias instituídas pelo Convênio ICMS n° 57/95, que dispõe sobre a emissão de documentos fiscais e a escrituração de livros fiscais. Fotografia Gladyston Rodrigues, Gláucia Rodrigues, Ignácio Costa e Marcelo Albert Imagem da capa Corbis/Latin Stock Administrativo e Financeiro Bárbara Monteiro e Sandra Lúcia de Paula Impressão Gráfica Brasil Periodicidade Bimestral Tiragem 15 mil exemplares Cartas para a redação [email protected] Endereço: Av. Barão Homem de Melo, 329 Nova Suíça - Belo Horizonte - Minas Gerais CEP: 30460-090 - Telefone: 0800-5700800 www.sebraemg.com.br Microempreendedor individual Foi sancionada em dezembro de 2008 a lei que cria o Microempreendedor Individual (MEI) e faz ajustes à Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Ela entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009, exceto o MEI, programado para 1º de julho do mesmo ano. As medidas beneficiarão cerca de 11 milhões de empreendedores, a maioria devido à criação da figura do MEI, voltado aos negócios informais existentes no país. Podem se tornar MEI empreendedores com receita bruta anual de até R$ 36 mil e que normalmente não pagam tributos e que poderiam se enquadrar nas atividades permitidas pelo Simples Nacional. Além de legalizar o negócio, eles pagarão mensalmente apenas uma taxa fixa de R$ 45,65 de INSS para aposentadoria pessoal, R$ 1 de ICMS ou R$ 5 de ISS. Produção de mamona Agricultores de Conceição da Barra de Minas, no Campo das Vertentes, e de Claro das Poções, no Norte do Estado, comemoram as primeiras vendas do cultivo de mamona em conjunto com alimentos. Produtores de Claro das Poções comercializaram 11 mil quilos de mamona sem beneficiamento para a Petrobras. Em Conceição da Barra de Minas, cinco toneladas foram vendidas à Universidade Federal de Lavras (UFLA), que utilizará a oleaginosa em pesquisas. Os produtores são apoiados pelo projeto de produção de biodiesel do SEBRAE-MG. Passo A Passo biblioteca do empreendedor tome nota Consultoria Dicas Livro O que o cliente quer que você saiba De Ram Charan Editora Elsevier,143 páginas A obra mostra a importância de ouvir o cliente e entender seus problemas. Destaca também a possibilidade de crescimento de receita e aumento das margens de lucro a partir do relacionamento sólido com os clientes. Livro Marketing eletrônico De Joel Reedy e Shauna Schullo Editora Thompson, 525 páginas Os autores ensinam como integrar os recursos eletrônicos ao processo de marketing, principalmente no varejo eletrônico e no marketing pela Internet, além de dar dicas para escolher melhor as ferramentas promocionais. DVD Como o líder pode reinventar a sua empresa De Marco Aurélio Ferreira Viana Apontado como um dos 10 principais pensadores da Administração no Brasil, Marco Aurélio Viana apresenta o papel do líder empreendedor e mostra como utilizar a visão estratégica para liderar. A Biblioteca do Emprendedor funciona na sede do SEBRAE-MG (avenida Barão Homem de Melo, 329, Nova Suíça, Belo Horizonte) e fica aberta ao público para consulta de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30. Para pesquisar os títulos disponíveis, os interessados também podem acessar o espaço da Biblioteca no site www.sebraemg.com.br. No caso dos DVDs, é importante verificar a disponibilidade pelo telefone (31) 3371-9048. Passo A Passo Liderança Criado para atender à necessidade de identificar e capacitar lideranças em municípios carentes, o curso Liderança para o Desenvolvimento Local, realizado desde setembro de 2008 pelo SEBRAEMG, também terá turmas em 2009. Para saber as datas e as cidades onde o curso será ministrado e efetuar inscrição, os interessados devem procurar os pontos de atendimento do Sebrae ou acessar o site www.sebraemg.com.br . Fomenta Minas De 13 a 15 de abril, Ouro Preto será palco do Fomenta Minas. Fruto de uma parceria do Sebrae-MG, Governo de Minas e Sebrae Nacional, o evento proporcionará o encontro de micro e pequenas empresas (MPEs) e suas entidades representativas com grandes compradores da administração pública direta e indireta (governos federal, estadual e municipal). Também serão realizadas oficinas, seminários e palestras, e os participantes assistirão a um concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. As inscrições, que são gratuitas, podem ser feitas a partir de março. Mais informações no site www.fomenta.org.br . Consultoria Resultado de uma parceria entre o Sebrae-MG e a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Software e Internet de Minas Gerais (Assespro-MG), o Ponto Tecnológico oferece consultoria na área de Tecnologia da Informação (TI) para empresários de qualquer segmento. As dúvidas vão desde indicações de softwares a criação de infra-estrutura de informática na empresa. O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e deve ser agendado pelo telefone (31) 3281-4220. A consultoria tem duração de duas horas e o custo por esse período é de R$ 55. Gerenciamento Destinado a donos, gerentes, coordenadores e supervisores de micro e pequenas empresas (MPEs) com no mínimo um ano de experiência, o Programa de Desenvolvimento de Habilidades Gerenciais, promovido pelo SEBRAE-MG, apresenta ferramentas gerenciais eficazes, que capacitam os participantes para atuar de forma mais efetiva no processo de transformação das empresas. O curso é composto pelos módulos Novos padrões para uma gerência eficaz e O gerente e sua equipe de trabalho. Os interessados podem cursar os dois ou apenas um. Informações: www.sebraemg.com.br ou (31) 3269-0180. Bússola Sebrae O Sebrae desenvolveu um método que visa aperfeiçoar a escolha do melhor lugar para a abertura de um empreendimento. A Bússola Sebrae é um sistema de georreferenciamento que informa a viabilidade de um negócio em determinada área. A ferramenta, que será usada no atendimento aos clientes, também mostra estudos de perfil socioeconômico e demográfico da população, o porte e o setor de empresas locais. A Bússola é capaz de fornecer informações de pessoas físicas e jurídicas dos mil maiores municípios do Brasil. eventos Sebrae em Ação Programado para fevereiro, em Belo Horizonte. Informações: 0800-5700800 Clínica de Design Dias 9 e 10 de fevereiro, em Cachoeira de Minas. Informações: (35) 3449-7211 Consultoria de gestão De 3 a 6 de fevereiro, em Uberlândia. Informações: (34) 3237-2224 Como montar um site empresarial? Há cinco importantes passos a serem seguidos. O primeiro é o registro do endereço do site. O domínio escolhido deve estar diretamente ligado ao nome da empresa e precisa ser definido com critério, evitando a repetição de letras e endereços longos, que dificultem a busca na Internet. O segundo passo é estabelecer as ferramentas de gestão do site. Qual será a freqüência de atualização? Será necessário um banco de dados? O ideal é buscar um fornecedor que tenha conhecimento de tecnologia e de construção da ferramenta de gestão de conteúdo, mas que também contribua com idéias e sugestões para incrementar o número de acessos e a melhoria do design, entre outros aspectos. Em seguida, saber escolher o servidor de hospedagem, que dê suporte técnico e forneça conexão satisfatória. O penúltimo estágio é definir serviços e formas de interação disponíveis no site, como cadastro de clientes, busca de informação, mapa, entre outras seções. Por fim, fazer a divulgação na própria rede. Para isso, sugere-se criar em redes sociais como o Orkut o espaço da empresa ou manter contato com clientes por meio de um blog. Isso permitirá o surgimento de novas oportunidades de negócios no Brasil e no exterior. Outras informações no blog de Daniela Teixeira, responsável pelo portal do SEBRAE-MG: http://danielaalmeidateixeira.wordpress.com. Como registrar patentes de produtos? O registro de propriedade intelectual é dividido em cultivares (sementes e mudas), desenho industrial, marcas, patentes e programas de computador (softwares). O Serviço Nacional de Produção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é responsável pelo registro de propriedade intelectual no setor agropecuário. Já os desenhos industriais, marcas, patentes e softwares são registrados no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), que analisa pedidos de depósito de patentes e concede o registro. Primeiro, é preciso fazer uma busca no site do INPI e verificar se a invenção é inédita. Depois, preencher um formulário e descrever a tecnologia ou invento, informando as novidades e os benefícios do produto para a sociedade. Os técnicos do INPI vão analisar a proposta e decidir se ela é viável economicamente. Cumpridos todos esses requisitos, a patente será concedida. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) apóia inventores independentes por meio do Projeto Inventiva, que auxilia a construção de protótipos por meio de parcerias com instituições como Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e SEBRAE-MG. Outras informações nos sites www.fapemig.br; www. inpi.gov.br e www.agricultura.gov.br . Passo A Passo negócios Competência premiada Seis empresas de diferentes regiões do Estado conquistam o Prêmio MPE Brasil 2008 Poliana Napoleão D 2008 em Minas Gerais, na categoria Serviços de Educação. Criado pelo SEBRAE-MG, em 1993, com o nome Prêmio Excelência Empresarial, a iniciativa concede anualmente o reconhecimento às micro e pequenas empresas de Minas que se destacaram por investirem em processos de gestão, obtendo mais qualidade, produtividade e competitividade no mercado. Em 1997, a premiação passou a contar com a parceria da Gerdau. Em 2008, passou a ser denominado Prêmio de Competi- Divulgação iante da falta de profissionais qualificados, experientes e com capacidade de inovar, a Caça Talentos, empresa de consultoria e treinamento empresarial de Belo Horizonte, investiu R$ 10 mil na criação do Laboratório de Serviços Contábeis e Administrativos, inaugurado em dezembro de 2008. Os alunos põem em prática o conhecimento adquirido nas aulas teóricas, trabalhando com sistemas e tecnologias de ponta. O investimento na gestão e em ações inovadoras qualificou a empresa para ganhar o Prêmio MPE Brasil tividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil). Mais de 20 mil empresas já participaram da iniciativa no Estado. Em 2008, foram mais de 3,4 mil inscrições em nove categorias. Os prêmios foram entregues em novembro a empresários de seis categorias que apresentaram vencedores.Em 2009, eles vão disputar a etapa nacional com os ganhadores de outros estados. Outro destaque da premiação mineira de 2008 foi a Consultoria e Assessoria a Médias e Pequenas Empresas (Campe), vencedora da categoria Serviços. Criada há 16 anos, ela foi a primeira empresa júnior do mundo a obter a certificação ISO 9001/2000 pela qualidade e eficiência nos processos. Entidade sem fins lucrativos, funciona na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e é gerenciada por 27 alunos da Faculdade de Economia e Administração. A empresa desenvolve projetos de consultoria administrativa e econômica nas áreas de marketing, finanças, recursos humanos, produção, gestão, organizações e métodos. Segundo o aluno de Administração e presidente da Campe, Bruno Figueiredo, a obtenção da certificação ISO 9001 foi um dos motivos que levaram a empresa a disputar e conquistar o Prêmio MPE Brasil. Em 2007, ela participou pela primeira vez da disputa, mas não ficou entre os finalistas. Na ocasião, os estudantes receberam o relatório do SEBRAE que apresenta o diagnóstico da empresa, apontando pontos fortes da gestão e oportunidades de melhoria para o negócio. “Trabalhamos os pontos indicados”, diz Bruno. “Um deles foi a qualidade dos servi- ços dos fornecedores. Desenvolvemos práticas de avaliação e seleção.” Categoria indústria A Chinelos Puff, que além de chinelos produz pantufas e roupões, foi premiada na categoria Indústria. Classificada pela terceira vez consecutiva como finalista, a empresa de Muriaé, na Zona da Mata, apostou nas dicas dos relatórios enviados pelo SEBRAE em edições anteriores. Algumas práticas diárias foram alteradas, como a organização do fluxo de caixa e das atas de reunião, que já existiam, mas não eram oficializadas. “Queremos ser um modelo em gestão, oferecer atendimento diferenciado e tratamento especial aos funcionários”, diz o dono da empresa, Adão Carlos Rúbio. Ele promove uma reunião quinzenal apelidada de “momento de descontração”. Todos discutem os problemas, trocam informações e realizam estudos que possam levar a soluções. A forma de lidar com as pessoas na organização foi justamente um dos itens que credenciaram a Chinelos Puff à conquista do prêmio. Vencedores do Prêmio MPE Brasil 2008 em Minas Gerais A Chinelos Puff, empresa sediada em Muriaé, na Zona da Mata, seguiu a orientação do Sebrae-MG e foi premiada na categoria Indústria Passo A Passo CATEGORIA VENCEDOR CATEGORIA AGRONEGÓCIO J. Ida Agropecuária Ltda. (Andradas) CATEGORIA COMÉRCIO Manipullare - Manipulação Magistral (Carangola) CATEGORIA INDÚSTRIA Chinelos Puff (Muriaé) CATEGORIA SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial Ltda. (Belo Horizonte) CARANGOLA CATEGORIA SERVIÇOS CAMPE Consultoria e Assessoria a Médias e Pequenas Empresas (Juiz de Fora) CATEGORIA DESTAQUE DE BOAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Tamanduá Ecoturismo Ltda. (São Roque de Minas) Fonte: Sebrae-MG BELO HORIZONTE Passo A Passo Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes entrevista | José paschoal rossetti Otimismo diante da crise internacional “O governo reagiu com agilidade, bom direcionamento e atenção a setores mais reduzidos, apesar da falta de estatura na área fiscal” Wagner Concha O Brasil está preparado para enfrentar os reflexos da crise internacional com um “conjunto de pontos de conforto” e é um dos países que têm as menores chances de serem atingidos fortemente pela recessão. A avaliação é do professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, José Paschoal Rossetti, que também é consultor de empresas especializado em ambiente econômico nacional e internacional. Diante 10 Passo A Passo do atual cenário mundial, o economista acredita que as micro e pequenas empresas (MPEs) devem apurar seus controles e enxugar os custos com capital de giro, já que os juros tendem a ficar cada vez mais elevados. Aos interessados em abrir o próprio negócio, ele aconselha acompanhar o movimento dos concorrentes. “Aquisições talvez possam ser uma alternativa à abertura de uma empresa”, sugere. Quais são as alternativas para as pequenas empresas num momento de escassez de crédito? As micro e pequenas empresas agora têm que apurar cada vez mais os seus controles. Geralmente, elas têm um nível de controle inferior ao das grandes empresas, tanto em termos de custos quanto de resultados, de desempenho no mercado ou da concorrência. As MPEs devem se estruturar melhor para enxergar o que está acontecendo. É importante ter um olhar para fora e outro para dentro, cada vez mais apurados. Muitas pequenas empresas tomam empréstimos para ter capital de giro. Com a crise, os juros aumentaram. Como o empresário pode minimizar o problema? A palavra-chave é enxugamento. Se o custo do capital de giro sempre foi um dos mais altos para a pequena empresa, agora ele está expandido por causa do aumento das taxas de juros. Deve-se promover um enxugamento drástico de capital de giro, no limite em que não prejudique seriamente as operações. Como será o cenário em 2009 para as empresas que lidam com o mercado externo? As empresas exportadoras têm o benefício de uma taxa de câmbio realinhada. Essa taxa não voltará aos padrões anteriores devido à fuga de capitais, à redução da balança comercial e à diminuição dos investimentos estrangeiros diretos no país. Haverá uma pressão sobre o câmbio no sentido de mantê-lo, se não nos níveis atuais, pelo menos bastante acima do que estava até julho de 2008, por exemplo. As empresas terão agora o benefício do câmbio. Por outro lado, terão dificuldade nos mercados re- cessivos para os quais exportam. Nos mercados menos recessivos, essa taxa de câmbio pode ser um benefício tão bom que você pode, de alguma forma, negociar lá fora um rebaixamento de preços em dólar. Há quem diga que, no Brasil, os efeitos da crise mundial não serão tão assustadores como em outros países. Muitos defendem que a situação de falta de crédito pode ser resolvida em alguns meses. O senhor acredita nisso ou estamos mesmo no olho do furacão? Não estamos no olho do furacão. O Brasil tem um conjunto de pontos de conforto: sistema financeiro mais sólido e regulado que o de outros países; “As empresas exportadoras têm o benefício de uma taxa de câmbio realinhada” um banco central rigoroso, competente e sério no controle dos indicadores bancários; alta diversidade da estrutura produtiva; matriz interna de suprimentos essenciais, o que nos dá segurança; dispersão das correntes de comércio internacional, com saldos positivos. Ou seja, poucas empresas no país têm saldos negativos. Também temos liquidez internacional, com reservas cambiais mais de quatro vezes superiores à dívida externa de curto prazo. Nossa dívida externa líquida tem sido decrescente. Nunca as reservas cambiais foram do tamanho da dívida externa total e maiores que a dívida externa de médio e longo prazos, como agora. O governo reagiu com agilidade, bom direcionamento e atenção a setores mais reduzidos, apesar da falta de estatura na área fiscal. Por tudo isso, o Brasil é um dos países que hoje têm menores chances de serem atingidos fortemente por essa recessão. Entretanto, acredito que viveremos um período com redução do crescimento do PIB e de maiores níveis de incerteza em relação a esse incremento, que deverá ficar entre 1,5% e 2,5%. Dizem que toda crise traz oportunidades. No caso atual, quais seriam essas oportunidades? Há oportunidades no mercado de capitais, com prêmios e baixos níveis de risco se você operar em médio prazo e não a curtíssimo prazo, porque senão a volatilidade pode surpreendê-lo. Você terá oportunidades com a redução geral dos preços dos ativos, de aquisição de empresas concorrentes menos fortes que a sua. São oportunidades decorrentes de desprecificações abaixo dos valores reais de mercado. O que o senhor diria hoje para aqueles que estão interessados em montar uma empresa? Se os negócios são bem fundamentados estrategicamente, se a análise da concorrência for bem feita e mostrar que está mais aguerrida, se as cadeias de suprimento estão mais favorecidas, em vez de montar a própria empresa, talvez seja melhor verificar se não há empresas do próprio setor onde você pretende atuar que estejam em dificuldade. Aquisições talvez possam ser uma alternativa à abertura de uma empresa, mantendo o sistema vivo. O fechamento de uma empresa é sempre lamentável. A aquisição por alguém que acredite ter condições de mantê-la viva pode ser uma alternativa melhor que a abertura de um novo negócio. Passo A Passo 11 agronegócio Morangos em pauta Central de Negócios cria novas perspectivas para a produção do Sul de Minas Eliza Caetano O Fotos: Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes morango é uma cultura delicada, pois cada planta exige cuidado especial. A fruta não pode ter contato direto com a terra, que por isso mesmo tem que ser coberta por uma lona depois do plantio. Em época de chuvas, a horta recebe uma engenhosa cobertura para evitar excesso de água. Na hora da colheita, não se pode tocar o centro da fruta, pois faria com que ela apodrecesse rapidamente. “É como cuidar de uma criança. Dá trabalho, mas vale o esforço”, diz José Antônio dos Santos, produtor do bairro dos Garcias, em Bom Repouso, Sul de Minas. Na comunidade que fica entre as montanhas da Serra da Mantiqueira, maridos, mulheres e filhos cuidam de morangos como se fossem Embalagem deve ser adequada, para ajudar na conservação do produto 12 Passo A Passo da própria família. No entanto, o esforço não se traduz em resultado financeiro enquanto cada um trabalhar por si. Os 19 quilômetros que separam a comunidade de quase 80 famílias da rodovia Fernão Dias são vencidos diariamente por caminhões de atravessadores, que batiam às portas das pequenas propriedades em busca de morangos. Como a fruta perece rapidamente, resistindo entre três e quatro dias sem refrigeração depois de ser colhida, os produtores eram obrigados a vender tudo pelo preço que fosse oferecido. “Não tínhamos como questionar. Era vender ou perder a colheita”, lembra o produtor Silvanei César da Silva. A conversa mudou de tom com a implantação da Central de Negócios, uma das atividades do projeto que o SEBRAE-MG desenvolve desde março de 2007 naquela região. Hoje, os 54 integrantes do grupo reúnem um volume médio semanal de 6 mil caixas de morangos, que são entregues para que a central negocie de forma conjunta. Ninguém mais vende direto aos atravessadores. “No início, apresentamos as bases da cultura da cooperação. Os produtores também passaram por programas de capacitação rural para reconhecer e administrar suas proprie- Qualidade dos morangos salta aos olhos e dá água na boca do consumidor Passo A Passo 13 Caminho sem volta Depois de colher os frutos do trabalho em grupo, os produtores de morango de Bom Repouso entraram numa vereda sem volta, que não termina com os benefícios da Central de Negócios. Eles perceberam que agora têm mais poder. Juntos, acabam de comprar um baú que será adaptado para se tornar uma câmara fria. O equipamento é estratégico para um produto de vida breve, e que por isso mesmo se torna susceptível às oscilações de mercado. A produção depende diretamente da meteorologia. Exposta ao sol quente, a fruta amadurece depressa. Se o tempo esfria, ela precisa de mais dias antes de ser colhida. “Quem define é São Pedro”, brinca Silvanei. Mas a câmara fria ajuda bastante. Depois que uniram forças, os pequenos agricultores da localidade conseguiram, junto à prefeitura, um terreno e material para construir um galpão onde deverá funcionar a nova sede do grupo, já que a atual ficou pequena. Agora eles lançam mãos à obra no pouco tempo livre que lhes resta. Outra boa notícia é que a associação pôde negociar condições especiais com o Banco do Brasil para financiamento de um caminhão para o transporte do morango, o que vai diminuir ainda mais a dependência de atravessadores. O nome Coração do Vale vai distinguir o morango da região. Por meio do Programa Sebrae de Design, que apóia grupos de pequenos empreendedores que precisam ter acesso a serviços de profissionais da área, a associação já tem marca e embalagens desenhadas. “Um dia, teremos uma agroindústria. Antes, o máximo que eu almejava era vender o morango melhor”, afirma a lavradora Márcia Cristina Monteiro. Ela sempre trabalhou para ganhar o dinheiro do dia. Agora, percebe a mudança não apenas no jeito de trabalhar, mas em si mesma. “Eu levava a vida deixando o vento tocar. Queria, no máximo, uma roupa nova, um utensílio para casa”, lembra. Márcia Cristina diz que agora quer o melhor para si mesma, para os filhos, para a casa e para a plantação. Também quer que os filhos vivam no campo. “Que aprendam, estudem, saibam mais sobre o morango e não tenham que ir para a cidade grande para ter uma vida melhor”, ressalta. 14 Passo A Passo Márcia Cristina Monteiro já sonha com uma agroindústria dades como um negócio. Depois, tratamos do problema para alcançar o mercado”, explica o técnico do SEBRAE-MG na região, Rodrigo Ribeiro Pereira. A partir desse trabalho, foi criada a Associação de Pequenos Produtores dos Garcias. Um computador ligado à Internet ajuda a monitorar o preço da fruta no mercado paulista e assim os produtores têm maior subsídio para negociar um valor justo. Graças a essa estratégia, a média de preço da caixa de 1,2 quilos saltou de R$ 2,30 para R$ 4,50 e o montante total negociado por mês é de R$ 65 mil. Outros passaram a entrar em contato com a central para saber o preço do dia. “Ainda que pequeno, o grupo ajuda a regular a oferta no mercado local”, destaca o coordenador de fruticultura do SEBRAEMG, Cláudio Wagner de Castro. Os compradores também tiveram vantagens com a iniciativa, pois a entrega do produto e sua qualidade são garantidas. “As coisas melhoraram muito. Em setembro de 2007 vendíamos a caixa de 1,2 quilo por apenas R$ 1. O preço triplicou”, afirma José Aureliano de Morais, que hoje colhe cerca de 150 caixas de morango por semana – e quer aumentar a produção. Boas perspectivas A compra de insumos passou a ser feita em conjunto. Para os associados, produtos como lonas, adubos e nutrientes saem com desconto de até 20%, com prazos entre 30 e 90 dias para pagar e nenhuma burocracia. Para outros agricultores da região, o preço é o de mercado, e o lucro é usado na manutenção da Central. Minas é o Estado que mais produz morangos no país, com 1.698 hectares de área plantada. Segundo o IBGE, Bom Repouso é o município de lavoura mais extensa, com 460 hectares e maior colheita, 24.840 toneladas. Se depender dos agricultores do bairro dos Garcias, os números vão crescer, pois 75% deles pretendem ampliar as lavouras. “Agora vale a pena investir”, afirma José Antônio dos Santos. Seus canteiros, que eram ocupados por 4 mil pés, agora têm 11 mil. “Trabalho consciente de que terei resultado”, comemora. Em 2009, o SEBRAE-MG vai ampliar sua atuação na fruticultura de morango com apoio a um grupo de produtores de Alfredo Vasconcelos, município próximo de Barbacena. Sustentabilidade Silvanei César da Silva é o primeiro produtor do Sul de Minas a ter a lavoura de morango certificada para agricultura orgânica no grupo. Ele sabe bem qual o principal motivo para investir na produção ecologicamente correta. “O que preservamos, primeiro, é a nossa própria saúde. Não preciso mais trabalhar com agrotóxicos”, diz o agricultor. Segundo ele, o produtor também ganha no bolso, já que a produção chega a ser duas ou três vezes mais barata que a convencional. O manejo diferenciado garante que a lavoura dará resultado. A preocupação com a saúde e com a qualidade do produto agora é de todos. A associação contratou um agrônomo para orientar a transformação do morango da comunidade em produto orgânico. “Queremos trabalhar num meio sustentável, respeitar a natureza e viver dela”, afirma Márcia Cristina. Passo A Passo 15 moda Oficina de design melhora capacitação Confecções de Divinópolis recebem apoio para modernizar a gestão e aprimorar o atendimento Poliana Napoleão H Fotos Gláucia Rodrigues Rosália Costa, dona da Sassafrás, encontrou solução para os problemas que enfrentava na empresa 16 Passo A Passo á 17 anos no mercado, a Sassafrás, indústria de roupas femininas sediada em Divinópolis, enfrentava gargalos na produção. Até outubro de 2008, o atraso na conclusão das peças causava dor de cabeça na dona da empresa, Rosália Costa. A história começou a mudar depois que ela e dois empregados participaram da Oficina de Design 2008, organizada pelo SEBRAE-MG em parceria com o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd). O objetivo era capacitar empresas no desenvolvimento de produtos, na estratégia gerencial e na melhoria de qualidade e produtividade. Com duração de três meses, a oficina foi realizada em 2008, com grande sucesso. Participaram 10 empresas. Sete optaram por aprimorar o desenvolvimento do produto e três, entre elas a Sassafrás, pela melhoria na produtividade. Primeiro os empresários participaram de uma reunião para apresentação da Oficina de Design e seus objetivos. Em seguida um consultor faz uma visita a cada confecção para definir, em conjunto com o empresário, o que deve ser melhorado ou implantado. Proprietários e empregados participam de um treinamento e depois há um período de imersão dos consultores em cada confecção, orientando os empresários nas soluções. As empresas que participaram da oficina obtiveram resultados significativos, como definição do foco de mercado, diminuição de estoques, redução de custos de produção e mais acerto no mix de produtos. Tempo menor O programa é aplicado em três áreas da confecção: produto (design e comercialização), processo produtivo e modelagem. Para realizá-lo, o SEBRAE-MG contratou o Senai-Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil), um dos principais centros de formação profissional de serviços e consultorias para a cadeia produtiva têxtil no Brasil e no mundo. Se antes de outubro os nove empregados da Sassafrás produziam cerca de 600 peças por mês, agora o número chega a quase 900. Segundo Rosália, a expectativa é produzir 1 mil peças ainda este ano, sem sobrecarregar os profissionais. Ela explica que o salto na produção é resultado da oficina de design. “O consultor deu dicas de como produzir mais em menos tempo, mudando coisas que não observávamos, como por exemplo o layout da fábrica”, ressalta. “As equipes foram posicionadas de modo que os profissionais ficassem mais próximos e isso agilizou a produção e uniu os grupos de trabalho.” Orientação e planejamento Uma dica que fez a diferença foi colocar lotes menores de pano para as costureiras. “A idéia era que elas fizessem cerca de 300 peças por semana. Antes, colocávamos na máquina a produção de toda a semana, acreditando que seriam produzidas mais peças em menos tempo, o que não ocorria”, diz Rosália Costa, dona da Sassafrás. Num dia normal de trabalho eram confeccionadas cerca de 30 peças. A partir da Oficina de design, foram feitas 75. “Agora conheço a capacidade da fábrica, sei de quantos funcionários preciso para produzir o volume necessário e quanto tempo será gasto nesse processo”, afirma a empresária. Na Dyfteria, indústria de Divinópolis que produz moda teen feminina, a Oficina de Design ajudou a melhorar o processo de desenvolvimento de produtos. “Com a visita da consultora, foi possível conhecer melhor o cliente e, a partir daí, lançar a coleção Alto Verão 2009 para atendê-lo com mais qualidade”, garante o dono, Cassius Ribeiro (foto). A estilista da empresa, Cíntia dos Santos, participou da oficina e diz que foi feita uma pesquisa com funcionárias e clientes das lojas para definir o públicoalvo da empresa. Passo A Passo 17 reportagem de capa Apoio inédito à pesquisa científica Programa de Incentivo à Inovação dá subsídios ao desenvolvimento tecnológico no Estado Wagner Concha Fotos Ignácio Costa Geraldo Vitral e Nádia Rezende festejam resultados 18 Passo A Passo D outorando em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFRJ), o médico Geraldo Vitral pesquisou durante quatro anos um produto que pudesse ser usado na identificação de lesões suspeitas de câncer. Até então, a técnica utilizada aplicava contraste à base de iodo, com margem de erro entre 5% e 10%. Nos experimentos com um polímero, produto que não é absorvido pelo corpo humano, ele encontrou o que procurava. “A cirurgia agora é mais precisa e eficiente. A lesão é extraída em poucas horas”, comemora. Outra vantagem é a detecção a olho nu da área onde a substância foi injetada. Juntamente com a pesquisadora Nádia Rezende Barbosa, Geraldo é um dos participantes do Programa de Incentivo à Inovação (Pii), iniciativa inédita no Brasil, criada pelo SEBRAE-MG em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes). Ele recebeu subsídios para desenvolver um kit estéril descartável à base de silicone para estereotaxia (procedimento que permite diagnosticar doenças degenerativas e tumores), com agulha e seringa adequadas e dosagem correta da nova substância para a realização do procedimento. Em agosto, Geraldo recebeu o reconhecimento da comunidade médica internacional ao conquistar o Idea to Product Latin America 2008, em São Paulo. Participou ainda do Idea to Product Global 2008, que reuniu em outubro 18 universidades estrangeiras em Austin, nos Estados Unidos. Na etapa Inovação Tecnoló- Maria José Valenzuela Bell integrou equipe que desenvolveu equipamento detector de adulterações no leite Passo A Passo 19 gica, o kit foi o grande vencedor. Na etapa final, a pesquisa obteve o segundo lugar mundial. A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ficou ainda com o terceiro lugar da etapa latino-americana. Também com recursos do Pii, o mestrando em Física Wesley Willian Gonçalves do Nascimento, juntamente com os pesquisadores Maria José Valenzuela Bell e Virgílio de Carvalho dos Anjos, desenvolveu um equipamento que detecta adulterações no leite. Por meio de condutividade elétrica, ele verifica a adição de água, sal e água oxigenada no alimento. Projetos em andamento O kit estéril montado por Geraldo foi patenteado e uma multinacional brasileira está realizando testes clínicos. Já o aparelho para análise do leite poderá ter a tecnologia transferida a partir do primeiro semestre de 2009. As empresas interessadas poderão contatar o Centro Regional de Inovação e Inovação de Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF. Desde 2006, o Pii tem permitido que 60 projetos se tornem de fato inovações. Além da UFJF, o programa contemplou a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Em 2009, serão contempladas mais 68 propostas, totalizando 128 projetos beneficiados. “O Pii é um programa único, pois transforma o conhecimento das universidades em possibilidade de negócio, seja com o nascimento de empresas de base tecnológica ou pela transferência de tecnologia de forma profissional e acompanhada”, afirma o gerente da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia do SEBRAE-MG, Anízio Vianna. 20 Passo A Passo Exemplo da Coréia do Sul “Inovação é a questão central para a prosperidade econômica.” A frase de Michael Porter, considerado a maior autoridade mundial em estratégia competitiva, é levada à risca na Coréia do Sul, uma das maiores potências em inovação. O país asiático encoraja a geração de conhecimento e sua aplicação no sistema produtivo por meio de benefícios fiscais para empresas que criam centros de pesquisa e desenvolvimento. A Coréia do Sul dá atenção especial à pesquisa desde a década de 1980. Com a crise financeira de 1997, o setor se tornou prioritário, assim como o estímulo à inovação nas pequenas empresas. “Isso resultou na criação de cerca de 5 mil centros de pesquisa em cinco anos”, destaca o professor Pedro Vidigal, coordenador da Inova, incubadora de empresas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, há mais de 12 mil centros de pesquisa em pequenas empresas sul-coreanas, contra apenas 700 em grandes corporações. Pedro cita a Coréia do Sul como exemplo de país no qual a inovação fortalece a competitividade. Na opinião dele, políticas públicas de longo prazo permitirão que o conhecimento alcance o nível estratégico nas organizações brasileiras: “Deve-se incluir a reestruturação do aparato administrativo público, agregar, ampliar e monitorar todas as ações de incremento de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil”. Uma iniciativa de incentivo à cultura da inovação foi a promulgação da Lei Federal nº 10.973, de 2004. Além de fomentar a pesquisa com recursos para a inovação, ela permite o relacionamento entre empresas e instituições científicas e tecnológicas (ICTs). Em janeiro de 2008, o governo de Minas editou a Lei Estadual nº 17.348, que garante recursos extras para um fundo de investimento em inovação e prevê que 1% da arrecadação do ICMS seja destinado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A Lei Geral das micro e pequenas empresas prevê que no mínimo 20% do orçamento público destinado a investimentos em tecnologia sejam revertidos para ações de apoio aos micro e pequenos negócios. O Estatuto das MPEs, de 1999, já previa esse repasse, porém, apenas em âmbito federal. A Lei Geral foi mais longe, incluindo os recursos estaduais, do Distrito Federal e os municipais. Apoio aos pequenos As leis também beneficiam pequenos empresários com recursos nas parcerias com ICTs. O inventor independente pode solicitar apoio a uma ICT para proteção e desenvolvimento de sua criação, que inclui, entre outras ações, testes, desenvolvimento de protótipo e estudos de viabilidade técnica, econômica e comercial. Em contrapartida, os royalties vindos da exploração da invenção serão divididos. Pedro lembra que o inventor independente pode recorrer à Fapemig para auxílio no depósito de patentes ou na transferência de tecnologia, mas ressalta que o uso de laboratórios pelo pequeno empresário ainda é incipiente. Para ele, o desconhecimento dos incentivos e a falta de interesse dos empreendedores para criação de novos produtos são os principais entraves. Leis específicas de inovação são essenciais, mas fazem parte de ações isoladas, na visão do professor. O ideal seria a integração com o setor privado. “O poder público e as empresas precisam reconhecer a pesquisa como instrumento de desenvolvimento, geração de riqueza e garantia da soberania nacional”, afirma. Empresa de base tecnológica A pesquisa acadêmica nem sempre resulta na transferência de tecnologia para uma empresa fabricar e comercializar um produto. Para pôr em prática seus conhecimentos, pesquisadores têm a opção de criar uma empresa de base tecnológica. Denominada spin off, esse tipo de empresa nasce a partir de grupos de pesquisa de universidades, institutos de pesquisa ou dentro de outras empresas. A Solmic – Soluções Inovadoras em Microeletrônicas é uma spin off fundada em fevereiro de 2008 pelos professores Tales Pimenta e Robson Moreno, do grupo de Microeletrônica da Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Eles trabalham há cinco anos no desenvolvimento de circuitos integrados com a tecnologia de Arranjos de Portas Programáveis em Campo (FPGA, na sigla em inglês). Esse tipo de circuito reconfigurável permite que o usuário defina as funções que serão exercidas pelo chip, garantindo maior versatilidade no uso. A maioria dos chips encontrados em televisores e rádios, por exemplo, é pré-programada durante a fabricação dos equipamentos. Tales lembra que a tecnologia já existe há bastante tempo, principalmente no exterior, mas no Brasil ainda é uma novidade devido ao alto preço. “Comparadas às tecnologias tradicionais, as FPGA custavam caro e ofereciam pouca capacidade e baixa velocidade de operação”, explica. Baixos custos Com a Solmic, a produção de FPGA será mais acessível para empresas brasileiras, pois os custos cairão consideravelmente. Para se ter uma idéia da economia potencial, a conversão de uma FPGA por um circuito de aplicação específica pode reduzir o custo em até 95%, dependendo do volume de produção. A spin off, que surgiu com aporte financeiro do PII, está em fase de com- pra de equipamentos e vai oferecer aos clientes benefícios como exclusividade, proteção de informações digitais, aumento da confiabilidade do produto, redução de consumo de energia e minimização de circuito. Inicialmente, a Solmic concentrará suas atividades no pólo de Santa Rita do Sapucaí e nas demais cidades da Rota Tecnológica da BR-459, que liga o Sul de Minas a São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo com a empresa ainda em formação, Robson Moreno acredita na rápida conquista de clientes. “Esse tipo de serviço tem muito potencial por aqui. Num segundo momento, também poderemos fazer todo o circuito integrado, de acordo com a necessidade do cliente”. Robson Moreno é membro do grupo de Microeletrônica da Unifei Passo A Passo 21 UFJF 70 projetos inscritos 20 projetos selecionados 13 projetos receberam recursos 2 projetos já transferidos R$ 535 mil de aporte financeiro total* UNIFEI 39 projetos inscritos 20 projetos selecionados 11 projetos receberam recursos 1 projeto em fase de start-up (trocar) de empresa Marcelo Pereira e Carlos José Pimenta descobriram bioprotetor para o café Bioprotetor natural Pequenos e médios produtores de café serão os grandes beneficiados por uma inovação desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Empresa Agropecuária de Pesquisa de Minas Gerais (Epamig). Doutor em Qualidade e Microbiologia de Alimentos da UFLA, Marcelo Pereira, juntamente com o professor Calos José Pimenta, criou um agente obtido naturalmente de frutos e grãos de café que age como bioprotetor contra fungos que deterioram a qualidade dos cafeeiros. O agente biológico estimula a produção das enzimas pectinolíticas, que aceleram a digestão da polpa do café. Os fungos podem afetar a qualidade do café com a produção de toxinas ou com a ação direta nos grãos, modificando sabor, cor e odor do fruto. A tecnologia desenvolvida por Marcelo aperfeiçoou o manejo das lavouras, fazendo com que ao menos um terço dos frutos seja protegido dos fungos. Para evitar alterações na qualidade do café, a técnica envolve pulverizações na pré-colheita, a partir do início do amadurecimento dos frutos ou no terreiro com pulverizador pré-pressurizado, a baixo volume, para não comprometer a secagem dos grãos. Para a produção de uma bebida de qualidade, com preço 30% acima do normal, os cafeicultores dependem de uma secagem eficiente dos grãos, que envolve a degradação da polpa do café. A trituração deve ser rápida, para evitar a ação de microorganismos. Os grandes produtores, com recursos para aquisição de novas tecnologias, usam o processamento “via úmida”, que envolve a lavagem e o despolpamento do fruto, reduzindo as chances de contaminação. Já os pequenos e médios cafeicultores processam o café “via seca”, ou seja, separam e secam os grãos em terreiro, sem usar um lavador. O agente bioprotetor desenvolvido com aporte do Pii terá preço reduzido, por utilizar resíduos agrícolas como substrato, além de ter fácil aplicação e grande resistência a condições climáticas adversas. Marcelo diz que o programa estadual foi fundamental para a continuidade do estudo, que há mais de duas décadas vem sendo realizado pela pesquisadora da Epamig, Sara Chalfoun, sua orientadora acadêmica. O projeto está em processo de transferência de tecnologia. 22 Passo A Passo 10 projetos em fase de desenvolvimento de protótipos R$330 mil de aporte financeiro total* UFLA 64 projetos inscritos 20 projetos selecionados 12 projetos receberam recursos 3 projetos pré-incubados 1 cultivar licenciada 2 cultivares em processo de licenciamento R$ 450 mil de aporte financeiro total* PII AGROENERGIA 11 projetos inscritos 8 projetos selecionados Até 5 projetos receberão aporte financeiro R$ 45 mil de aporte financeiro por projeto * Aportes do Sebrae, Sectes, Universidades e parceiros locais Agroenergia de ponta A discussão envolvendo o desenvolvimento de combustíveis renováveis ganha importância com a crescente preocupação ambiental. O Brasil é líder mundial na produção de etanol de cana-de-açúçar e defende sua produção como alternativa viável e ecologicamente correta de fonte de energia. Diante desse cenário, o Pii apresenta, em 2009 e 2010, o PII setorial Agroenergia, um desdobramento do programa original que focará suas ações na pesquisa de biocombustíveis. Destinado a pesquisadores da UFLA, o Pii Agroenergia aprovou oito projetos, que estão na fase de elaboração de estudos de viabilidade técnica, econômica, comercial e ambiental. Em 2009, serão selecionados cinco projetos, que receberão R$ 45 mil, cada um, para desenvolvimento de protótipos, processos ou serviços. “A grande vantagem do Pii de Agroenergia é fortalecer o setor, incentivando desde o melhoramento genético de plantas até estudos em outras áreas do conhecimento voltadas para a produção de biocombustíveis”, explica a pró-reitora de pesquisa da UFLA, Édila Von Pinho. Uma das propostas aprovadas foi a do engenheiro agrônomo Antônio Carlos Fraga, para aproveitamento de óleo de cozinha na produção de biodiesel. Ele trabalha há seis anos com biocombustíveis e há quatro estuda a possibilidade de usar óleos como matéria-prima. O pesquisador criou recentemente kits de reagentes químicos para avaliação imediata do óleo. Com o apoio de alunos de Ciência da Computação, Antônio desenvolverá um software gerenciador de informações obtidas nas análises. Outra preocupação é o aproveitamento de resíduos. “Esses resíduos que sujam o óleo de cozinha serão usados na produção de adubo orgânico”, acrescenta. No longo prazo, ele quer realizar um trabalho de educação ambiental, para que o óleo não seja jogado na rede de esgoto. PII SETORIAL AGROENERGIA 2009-2010 (UFLA) Relação de projetos em fase de estudo de viabilidade técnica, econômica, comercial e de impacto ambiental. Cinco deles serão selecionados para a segunda etapa, que envolve a prototipagem. Segundo o edital, é importante que o projeto seja voltado para a cadeia produtiva, e terá um peso maior na avaliação caso a proposta possa ser aplicada no Norte de Minas. Projeto - Reciclagem de óleos e gorduras residuais para a produção de biodiesel Autor - Antônio Carlos Fraga Sinopse - A reciclagem de óleo de cozinha permitirá a despoluição da água e a redução de entupimentos da rede de esgoto. O óleo residual de frituras será usado na produção de combustível renovável, biodegradável e ambientalmente correto Projeto - Otimização de ciclones para secagem de bagaço de cana-deaçúcar Autor - Jefferson Luiz Gomes Corrêa Sinopse - Busca uma configuração diferenciada do ciclone para melhorar a secagem do bagaço da cana, reduzindo o teor de água da biomassa Projeto - Poder calorífico do bagaço e palhiço num pequeno alambique, em diferentes épocas de corte na safra de cana-de-açúcar Autor - Luiz Antônio de Bastos Andrade Sinopse - Uso de bagaço e palhiço (ponta e folhas laterais) da colheita da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica em usinas e destilarias. Em alambiques, o bagaço e o palhiço podem substituir a lenha, aproveitando de maneira racional a biomassa vegetal Projeto - Transformação do glicerol residual da produção de biodiesel em novos produtos com valor agregado Autor - Luiz Carlos Alves de Oliveira Sinopse - Busca de novas aplicações para o glicerol produzido como subproduto do biodiesel. O glicerol residual poderá ser usado para a síntese de diferentes produtos químicos Projeto - Glicerina bruta em substituição ao milho para bovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar Autor - Marcos Neves Pereira Sinopse - Avaliação do uso de glicerina bruta para ruminantes em dietas usando silagem de cana-de-açúcar aditivada Projeto - Aproveitamento integral da biomassa do fruto de pinhão manso para produção de biocombustíveis Autor - Pedro Castro Neto Sinopse - Cascas e sementes do pinhão manso geram um óleo, que poderá ser usado na produção de biodiesel e álcool aproveitado em automóveis flex Projeto - Caracterização da cadeia produtiva, balanço energético econômico do pinhão manso para as condições de Minas Gerais Autor - Wilson Magela Gonçalves Sinopse - Desenvolvimento de uma metodologia adequada ao Estado de Minas Gerais, em termos de balanço energético e econômico, para a cultura de pinhão manso para produção de biodiesel Projeto - Novas cultivares de batata-doce com alto rendimento para a produção de etanol Autor - Wilson Roberto Maluf Sinopse - Pesquisa de melhoramento genético para uso de batata-doce na produção de álcool, dobrando o rendimento por hectare em comparação à produtividade da cana-de-açúcar Passo A Passo 23 Fotos: Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes artesanato Gente de muita fibra Criatividade e espírito cooperativo modificam a economia de Maria da Fé Ellen Dias N as mãos dos artesãos de Maria da Fé, no Sul de Minas, resíduos como papelão e tronco de bananeira se transformam em matéria-prima para a produção de luminárias, mandalas, baús, cestas e tapetes. Além de criatividade, as peças revelam diversas possibilidades da reutilização e da reciclagem aliada ao design. Ao longo de 10 anos, com a criação da Oficina Gente de Fibra, o artesanato se consolidou como a principal atração turística da cidade, que realizou entre 16 e 20 de julho de 2008 a primeira edição do Festival de Inverno – Artesanato & Design, com apoio do Sebrae-MG e da Prefeitura Municipal. Fábio Gonçalves acompanhou os avanços da Oficina Gente de Fibra e há quatro anos aderiu o artesanato. O primeiro passo foi transformar um cômodo de sua casa em ateliê. O diferencial veio dos filtros de ar de caminhão. Associados as fibras de bananeira, eles ganharam novas formas, texturas e utilidades. A residência do artesão entrou no circuito do Festival de Inverno com a exposição Tramas de Fibra e se tornou parada obrigatória para os turistas. “Vendo de oito a 15 peças por mês. Em cinco dias, foram negociadas 30 peças”, comemora Fábio, membro da Cooperativa Mariense de Artesanato (Com Arte). 24 Passo A Passo A diretoraadministrativa da Com Arte, Valéria Mendes, se diz satisfeita com os resultados da oficina do Sebrae-MG Passo A Passo 25 Resultados que entusiasmam Atividade artesanal emprega principalmente senhoras e jovens em busca de oportunidades de trabalho A proposta do evento ocorreu em outubro de 2007 como estratégia para incentivar o turismo local. “Como a cidade mais fria de Minas não tinha um festival de inverno? Rapidamente, a idéia se transformou em projeto e, em nove meses, tornou-se realidade”, explica o consultor do Sebrae-MG, Flávio Vitarelli. À frente do festival, 12 pessoas assumiram a tarefa de planejar as ações. Todos eles integram a Rede Empresarial Mariense (REM), criada em 2007 com o objetivo de formular oportunidades para a consolidação de Maria da Fé como destino turístico. “Desde a escolha do tema até a avaliação final, as estratégias foram construídas coletivamente”, afirma o diretor-gestor do Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas e coordenador da REM, Walter Santos de Alvarenga. A exposição “10 Anos – Oficina Gente de Fibra” foi o ponto de partida para a criação do roteiro cultural que mostrou a evolução do artesanato na cidade. “Além de expor novas peças, nosso objetivo foi contar a história dos artesãos”, explica a diretora-administrativa da Com Arte, Valéria Mendes. O evento atraiu cerca de 10 mil turistas. Ponto de partida Em 1998, devido a uma forte chuva, apenas seis pessoas puderam participar da reunião do Sebrae-MG em Maria da Fé. O objetivo era buscar alternativas de geração de emprego e renda para a população, que enfrentava dificuldades 26 Passo A Passo com a crise da batata, principal produto da região. A chuva não esfriou o ânimo do grupo, que se inspirou na reciclagem de papel para criar a Oficina Gente de Fibra. “Pedimos uma sala emprestada na sede da Sociedade São Vicente de Paulo e trouxemos liquidificadores de casa”, lembra Valéria. Para transformar papel artesanal em produtos como mandalas e cestos, as cinco donas-de-casa foram guiadas pelo artista plástico e idealizador da oficina, Domingos Tótora. Com a experiência, novas técnicas foram testadas, como a incorporação da fibra de bananeira, marca registrada do grupo. Em 1999, o grupo criou a Com Arte, que hoje congrega 64 pessoas de diferentes oficinas, incluindo 15 da Gente de Fibra. Muitos participantes são jovens, que buscam no artesanato uma oportunidade de trabalho. É o caso de Luiz Antônio Braga, que desde o início apostou na cooperativa. Aos 28 anos, ele é presidente da entidade e avança em negociações para vender as peças em outros países, como os Estados Unidos. Em 2007, a Com Arte atingiu a marca de 6 mil quilos de papelão kraft reciclados. Segundo a técnica do Sebrae-MG da microrregião de Itajubá, Pollyanna Calixto, a produção de lembranças da viagem a Maria da Fé foi o motivo inicial que levou a comunidade a investir no artesanato. Dez anos depois, “o trajeto pelos ateliês e oficinas é a principal atração turística”, afirma. Os preparativos dos artesãos para o Festival começaram em 2007. Além de ampliar a produção, o desafio foi buscar a inovação aplicada ao papel, cipó e fibra da bananeira. Por meio de um projeto-piloto para validar uma nova metodologia de design para artesanato, os integrantes da Com Arte participaram de oficinas para desenvolvimento de processo criativo e de produtos, promovidas pelo SEBRAE-MG. As peças criadas durante a oficina foram lançadas na Feira Nacional de Artesanato, realizada em novembro, em Belo Horizonte. Os encontros ocorreram de dezembro de 2007 a junho de 2008. “O objetivo foi que saíssem da inércia da criação, proporcionando maior autonomia dos processos”, diz a consultora do Sebrae-MG, Andréia Costa. Produtos confeccionados na Com Arte funcionam como belas peças de decoração Paralelamente à organização do Festival, os integrantes da Rede Empresarial Mariense (REM) também se mobilizaram para criar, com o apoio do Sebrae-MG, o Núcleo de Pousadas Domiciliares, que já resultou na ampliação de 20% do número de vagas. Outra ação importante foi a capacitação dos profissionais para o atendimento ao público. No balanço final, os negócios gerados chegaram a R$ 102 mil. As reuniões para o Festival de 2009 já começaram e a expectativa do grupo é de que as oportunidades de negócios cresçam. “O resultado foi muito positivo. Na segunda edição, com certeza, haverá maior envolvimento da população com a melhor estruturação dos serviços oferecidos e maior divulgação”, diz a técnica do Sebrae-MG, Pollyanna Calixto. O médico Plínio Cambauva, de São José dos Campos, não perdeu a oportunidade de conhecer de perto o artesanato de Maria da Fé e convidou a família para participar do Festival de Inverno. Mais do que turismo, a viagem resultou na abertura de uma loja no município paulista. “A organização dos artesãos e a forma como a reciclagem foi incorporada à arte me impressionam”, ressalta. Plínio encontrou o que estava procurando. De volta à sua cidade, formou sociedade com o advogado Emílio Souza Neto. Agora, as portas do novo estabelecimento estão abertas para a venda exclusiva de cerca de 200 produtos da Com Arte. Resgate cultural Para o artista plástico e idealizador da Oficina Gente de Fibra, Domingos Tótora, o Festival de Inverno de Maria da Fé foi uma oportunidade para a população local reconhecer e valorizar o artesanato. “Recebi a visita de vizinhos que nunca tinham entrado em meu ateliê”, revela. Na visão do presidente da cooperativa, Luiz Antônio Braga, o artesanato vem possibilitando o resgate da cultura regional com os detalhes incorporados aos trabalhos. “Muitas pinturas e esculturas retratam um pouco da nossa cidade, como o desenho dos barrados das paredes e dos ladrilhos do piso da Igreja de Maria da Fé. Fazemos isso para dar identidade às peças”, ressalta Luiz Antônio. Além da consolidação do evento no roteiro nacional, outra proposta da REM é a criação do Museu do Artesanato de Maria da Fé, ampliando o calendário e a estadia dos turistas no município. D É Passo A Passo 27 Fotos: Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes educação Dono da Simper, Márcio Kac atesta melhoria nos lucros e mudanças na cultura organizacional da empresa Solução para fornecedores Programa de Capacitação encurta caminho entre MPEs e grandes empresas compradoras Poliana Napoleão F ornecer produtos ou matériaprima a grandes organizações não é nada fácil, sobretudo para as micro e pequenas empresas (MPEs). Por outro lado, as grandes 28 Passo A Passo empresas têm dificuldades para encontrar um fornecedor que preencha os requisitos por elas demandados. Para resolver a questão, em 2007 o SEBRAE-MG retomou e remodelou o Programa de Capacitação para Fornecedores, aproximando pequenas empresas de grandes compradores. Implantado entre 1998 e 2002 em parceria com grandes empresas sediadas no Estado, como ArcelorMittal Aços Longos (antiga Belgo Mineira) e Gerdau Açominas, a iniciativa visa melhorar os processos das MPEs. “Nosso intuito é apoiar e dar condições para que elas tenham competitividade e possam fornecer mais e melhor para as grandes empresas, ou mesmo ampliar seus negócios e atender também às pequenas”, explica o gerente da unidade de Educação, Empreendedorismo e Cooperativismo do SEBRAEMG, Ricardo Pereira. Com duração aproximada de 12 meses e carga horária ajustada às necessidades de cada empresa, o curso é realizado em etapas, que incluem um seminário para apresentação do programa; o diagnóstico no qual é avaliado o modelo de gestão adotado pelas MPEs fornecedoras e identificados os pontos fortes e oportunidades de melhorias; a elaboração de um plano de capacitação personalizado para o desenvolvimento das competências gerenciais e empreendedoras; a certificação e o monitoramento desses processos. Na última fase, um consultor do SEBRAE-MG verifica a evolução no modelo de gestão e o atendimento a requisitos específicos, para só então conceder o certificado do programa. Balanço positivo Em 2008, teve início a capacitação de fornecedores das empresas Fiat Automóveis, Stola, Resil, Aethra e Holcim Brasil. No momento, o SEBRAE-MG está atendendo a 37 MPEs. O gerente de suprimentos da Holcim Brasil, Carlos Sona, afirma que todos se beneficiam com a parceria. Na unidade de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, 19 fornecedores começaram a ser capacitados em outubro. “A Holcim ganha com isso, porque contará com fornecedores mais alinhados com sua forma de trabalhar. Isso representa processos mais rápidos de fornecimento e melhoria na qualidade final”, destaca o gerente. “O fornecedor ganha porque melhora a gestão de seu negócio, ficando apto a negociar com empresas de todos os portes e setores de forma mais eficaz.” Ainda segundo ele, a Holcim Brasil pretende estender o programa às unidades de Barroso, na Região Central de Minas, e de Cantagalo, interior do Rio de Janeiro. Mudança na cultura Na Simper Indústria e Comércio Ltda., que fica em Contagem, o sucesso do programa se traduz no aumento do lucro e na mudança da cultura organizacional. “As melhorias foram significativas, principalmente quando falamos em organização em todos os sentidos e na conscientização dos colaboradores para melhorar a produtividade”, diz o dono da empresa, Márcio Kac. Para ele, a visão de negócios da empresa está bem melhor, “pois estamos mais abertos para iniciativas de entidades de classe e para capacitações”. Entre 2003 e 2004, a Simper participou do Programa de Capacitação, que criou condições para que se tornasse fornecedora da Petrobrás. As melhorias também possibilitaram à Simper conquistar a certificação ISO 9001/2000, que atesta o compromisso com a qualidade e a satisfação do cliente, bem como o comprometimento com a melhoria contínua de seus sistemas de controle de qualidade. A partir de 2004, a empresa que produz fixadores como parafusos e porcas, aumentou o faturamento em 20% a cada ano. Segundo Márcio, a meta para 2008 foi atingida em agosto. Passo A Passo 29 qualidade Um brinde à boa cachaça Certificação atesta qualidade e leva a aguardente nacional a ambientes requintados no Brasil e no exterior Wagner Concha Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes A gerente de produção da cachaça Dedo de Prosa, Jacqueline Calvo, diz que o selo do Inmetro é um grande diferencial 30 Passo A Passo C om mais de quatro séculos de história, a cachaça ganhou status de bebida nacional e já conquista paladares exigentes aqui e lá fora. Para alcançar padrão de qualidade internacional, produtores da bebida destilada participam voluntariamente do Programa Nacional de Certificação da Cachaça, uma iniciativa do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e do Sebrae Nacional. Das 29 marcas de cachaças certificadas em todo o país, quase a metade Surge novo profissional Quem pensa que a cachaça é uma bebida popular precisa saber que ela também freqüenta ambientes requintados. Restaurantes de alto padrão já têm cartas de cachaça e contam com um novo profissional, o cachacier, que indica a cachaça que melhor combina com o prato escolhido pelo cliente. A bebida também é usada como é produzida em alambiques mineiros. É o caso da Dedo de Prosa, feita na Fazenda Agroindustrial Serra Grande, em Piranguinho, no Sul do Estado, que recebeu a certificação em março de 2008. A gerente de produção, Jacqueline Calvo, diz que em pouco mais de um mês o produto recebeu o selo do Inmetro, que para ela é um grande diferencial no mercado. “Os clientes passam a nos ver com outros olhos, pois estão mais preocupados em adquirir um produto de qualidade”, ressalta. O técnico da gerência de Agronegócios do SEBRAE-MG, Rogério Galuppo, afirma que a certificação também traz outros resultados: “Os produtores passam a produzir a cachaça seguindo as normas estabelecidas por lei e isso melhora as vendas, valoriza a marca, o produto e a própria a empresa”. Ele salienta que os fabricantes se deparam com três grandes desafios. O primeiro é o alto custo de adequação do processo às normas exigentes, pois muitas vezes é preciso intervir na estrutura física do alambique. O segundo é o produtor entender quais são os benefícios da certificação. O terceiro é o consumidor saber qual a vantagem de adquirir cachaça certificada. ingrediente por renomados chefs de cozinha, que criam tortas de caipirinha e pratos especiais que acompanham carnes de diferentes tipos. A inserção da cachaça em eventos como exposições e festivais de gastronomia, bem como o surgimento de confrarias e academias da cachaça têm ajudado a disseminar o produto entre Investimento válido Jacqueline garante que o trabalho e os gastos em prol da certificação valeram a pena, pois além de conquistar novos clientes, os empregados do alambique passaram a ter maior cuidado na produção. Atualmente com distribuição restrita à região Sudeste do país, a Dedo de Prosa já pode ser encontrada em locais sofisticados de São Paulo, como o Shopping Iguatemi. A partir de 2010, será vendida em todo o território nacional. Aos poucos, a marca também vem conquistando o mercado externo, com vendas efetivadas para clientes da África, dos Estados Unidos e do Reino Unido, que representam 5% do faturamento atual da Agroindustrial Serra Grande. “Ainda estamos prospectando, mas queremos aumentar a nossa participação no exterior”, diz Jacqueline. Números do sucesso 29 marcas certificadas no país as classes mais altas. Como produto “premium” a cachaça também ganhou taça de cristal para degustação. “Essa taça ajudou a tirar o conceito de copinho rústico e elitizou a cachaça como bebida fina”, diz o diretor de Marketing da Expocachaça e presidente do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça, José Lúcio Mendes. Certificação passo a passo • Antes de solicitar a certificação, o produtor deve conhecer o Regulamento de Avaliação da Conformidade (RAC) da Cachaça, conforme a Portaria nº 126, de 24 de junho de 2005, publicada pelo Inmetro e disponível para consulta no site www.inmetro.gov.br/legislacao. • O produtor pode contatar um dos cinco organismos de certificação existentes no Brasil: IPEM (SP), Ibametro (BA), BRTUV (SP), Senai (SC) e Certifica (RS). • A certificadora realizará uma pré-auditoria, de acordo com os pré-requisitos estipulados pelo RAC da Cachaça. • São avaliadas condições de limpeza e higiene na fabricação do produto, cuidados com o meio ambientes, conformidade com a legislação trabalhista e boas condições de trabalho aos empregados. • Depois da avaliação inicial, será dado um prazo de adequação às normas. • Expirado o prazo de ajustes, a certificadora retornará para a auditoria e emitirá um laudo técnico. Caso o alambique seja aprovado, a empresa estará credenciada para a emissão do selo do Inmetro. 12 marcas certificadas em Minas Gerais 2 mil marcas registradas no país 30 mil produtores nacionais 1,5 bilhões de litros produzidos por ano no país Fontes: M inistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Sebrae • Por fim, serão realizadas auditorias periódicas (anuais ou semestrais) para avaliar se as normas do RAC estão sendo cumpridas. • Informações: www.sebrae.com.br ou [email protected]. Passo A Passo 31 Fotos: Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes cultura Jovens prestigiam exposição em homenagem a Humberto Mauro, o pioneiro do cinema nacional Deno futuro olho Incubadora cultural desenvolve conteúdo para novas mídias com jovens empreendedores de Cataguases 32 Passo A Passo Carlos Eduardo Cherem E les cresceram na era da Internet. O desenvolvimento de suas criações e o aprendizado de empreendedorismo e de negócios ocorre no ambiente das redes de comunicação criadas nas últimas décadas. Com amplo uso de novas tecnologias, já ensaiam o processo de convergência de mídias. São os jovens da Fábrica do Futuro, incubadora cultural que desenvolve conteúdo audiovisual para novas tecnologias, em Cataguases, na Zona da Mata, com ramificações em Juiz de Fora, Muriaé, Leopoldina, Ouro Preto e Belo Horizonte. “Para ser assistida num telefone celular, uma novela pode durar oito meses? As imagens e cenários, numa tela tão pequena, não terão que ser diferentes? As narrativas seriam outras?”, indaga César Piva, gestor executivo do Instituto Cidade de Cataguases, responsável pela Fábrica do Futuro. Ele explica que a incubadora Passo A Passo 33 Oficina de teatro ensina estudantes como Marlon a fazer e pintar bonecos 34 Passo A Passo avança na experimentação de conteúdos e formatos para a convergência de mídias, processo que considera inevitável. Com a participação do SEBRAE-MG, a Fábrica do Futuro é uma iniciativa do Instituto Cidade de Cataguases, organização não-governamental apoiada por órgãos públicos e pela iniciativa privada, com destaque para Vivo, Secretaria de Estado da Cultura, Ministério da Cultura (Minc), por meio do programa Cultura Viva, e o SEBRAE-MG. Entre os apoiadores locais estão a Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, da Energisa (antiga Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina); Instituto Francisca de Souza Peixoto, da Companhia Industrial Cataguases; a Fundação Simão José Silva, do Grupo Química Cataguases; e o Instituto Votorantim, da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Atualmente, 25 jovens entre 18 e 25 anos integram a Fábrica do Futuro. A incubadora é parte de um amplo trabalho de empreendedorismo cultural, que reúne uma rede de cooperação em Cataguases. César ressalta que o ambiente da Internet amplia as possibilidades de trabalho e a participação não se restringe a pessoas e entidades envolvidas com a incubadora ou com o Instituto Cidade de Cataguases. “As fronteiras estão borradas pelo diálogo no mundo globalizado”, destaca. “Uma música disponibilizada gratuitamente na rede pode garantir espaço para que uma banda realize seus espetáculos e remunere os músicos. Os modelos de negócios são inimagináveis.” A perspectiva de todas as instituições e iniciativa, em especial com o SEBRAE-MG, é a implantação de um pólo de criação e produção audiovisual na cidade, a partir de novo modelo de arranjo criativo e produtivo da economia da cultura, capaz de gerar impacto no desenvolvimento local, novas oportunidades, empreendimentos e negócios na região. Raiz modernista A atual efervescência cultural de Cataguases tem raízes no passado. A cidade respira cultura há quase um século. Lá, o movimento modernista da década de 1920 teve algumas de suas principais manifestações, como a publicação da Revista Verde por jovens poetas que trocavam cartas com Mário de Novo projeto aposta no cinema Um dos resultados do investimento em cultura em Cataguases foi a realização do Festival Ver e Fazer Filmes, entre 3 e 13 de dezembro de 2008. Foram exibidas produções de cineastas brasileiros e de outros países de língua portuguesa. No entanto, como o próprio nome indica, o evento não se limitou às sessões de cinema. Estudantes do Brasil e de Portugal tiveram a oportunidade de produzir curtas-metragens durante a realização da mostra. O SEBRAE-MG participou do festival, patrocinado pela Energisa, através das leis estadual e federal de Incentivo à Cultura. Desde agosto, foram realizadas várias oficinas para dar suporte à produção do festival de cinema. Cerca de 250 pessoas da região foram capacitadas em atividades relacionadas à área, como a criação de figurino, iluminação, fotografia (foto), direção de arte, representação, produção executiva e gestão cultural. A produção dos curtasmetragens ficou sob a responsabilidade de três equipes formadas por alunos de cinema e audiovisual da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, em Portugal. D É de cada uma dessas O desafio equipes foi realizar um curtametragem digital durante o festival, com base nos contos A Cartomante, O Diplomata e Chinelas Turcas, de Machado de Assis. Os curtas produzidos durante o Festival Ver e Fazer Filmes estrearam no último dia do evento e foram submetidos a um júri. As equipes de estudantes foram supervisionadas por profissionais de cinema convidados para a mostra, entre eles Nelson Pereira dos Santos, Dib Lutfi, Carlos Roberto Teixeira Pinto (Carlão Lenda) e Yurica Yamasaki, do Brasil; Zezé Gamboa, de Angola; e Fernando Vendrell, de Portugal. Nelson Pereira, Vendrell e Gamboa tiveram filmes exibidos durante a mostra. Houve também exibição das produções cinematográficas que influenciaram esses diretores, com sessões comentadas por eles. Andrade. Na mesma época, o cineasta Humberto Mauro tornou-se o grande pioneiro do cinema nacional. Na década de 1940, foi a vez da arquitetura moderna se destacar na cidade, que nos anos 1960 seria palco da arte experimental e de vanguarda. “Desde o início do século XX que as forças econômicas e políticas de Cataguases incentivam a cultura. Isso se tornou um aspecto importante da vida da cidade. Em meados da década de 1990, a atividade cultural foi identificada como uma das potencialidades econômicas do município. Com isso, estimulamos diversas iniciativas locais, ligadas ao Instituto Cidade de Cataguases”, explica a analista do SEBRAE-MG, Regina Faria. Ela afirma que a participação do SEBRAE-MG é resultado de uma decisão estratégica, a partir da evidência de que a cultura é a melhor fonte de geração de riquezas e oportunidades de emprego na região. “Com a adoção da Lei Rouanet, em 1991, as empresas da região, que já tinham a tradição de investimentos em cultura, tiveram condições de criar um ambiente propício para ampliar essa dinâmica. Com isso, as instituições envolvidas cresceram e se multiplicaram. Hoje, caminham com as próprias Apernas e a cultura se tornou um bom negócio na cidade e na região”, garante Regina. TA Passo A Passo 35 ® deu certo Espírito empreendedor Ex-secretária inventa e comercializa produto que amacia e hidrata peças de couro Wagner Concha Fotos Gláucia Rodrigues A curiosidade sempre foi um estímulo na vida da empresária Vera Lúcia Silva. Dona da Lavanderia Silva Araújo, em Congonhas, região central do Estado, ela buscava solução para a lavagem de peças de couro. Diante do desafio, começou a fazer testes e acabou inventando uma fórmula, que manteve em segredo. “O produto revitaliza e deixa o couro hidratado. A grande diferença é a proteção que ele dá às peças”, explica a empreendedora. Vera Lúcia preparava a mistura às escondidas, temendo que alguém descobrisse o segredo da fórmula. Ao testar a eficácia da solução em calçados e roupas, ficou convicta do sucesso, mas ainda não sabia do potencial da sua invenção. Um dia, sua nora, a farmacêutica bioquímica Amanda de Souza, a viu lavando uma bolsa de couro e perguntou se a fórmula do produto tinha sido registrada. Diante da resposta negativa, Amanda informou que era necessário patenteá-la. Ambas procuraram a Agência de Desenvolvimento de Congonhas (Adecon), que buscou informações no SEBRAEMG para orientá-las sobre o registro. O produto foi protocolado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e em pouco tempo surgiram as primeiras ofertas para transferência de tecnologia. Empresa mineira Vera Lúcia foi procurada por multinacionais, mas optou por uma empre36 Passo A Passo Hoje, Vera Lúcia se sente realizada como empresária, garantindo emprego para algumas de suas conterrâneas Mudança inesperada Vera Lúcia Silva era secretária e se sentia realizada profissionalmente no emprego, no qual trabalhava há cinco anos. No entanto, um problema familiar mudou o rumo de sua carreira. O filho caçula, Lucas Emanuel, enfrentou problemas de saúde logo depois de nascer. O bebê sofreu uma infecção generalizada após uma transfusão de sangue, permanecendo internado no hospital por quase um mês. Depois que ele recebeu alta, a apreensiva mãe de quatro filhos pediu demissão do antigo emprego para cuidar dele pessoalmente. Ela necessitava de uma fonte de renda alternativa e passou a trabalhar em casa, lavando roupas para outras famílias. “A demanda foi tanta que em pouco tempo estava com uma lavanderia e 25 ajudantes para atender todos os clientes”, lembra. Surgia assim a Lavanderia Silva Araújo. Fundada em 1995, a pequena empresa foi apenas o começo de uma trajetória empreendedora. Para viabilizar seu projeto e registrar patente, a inventora Vera Lúcia Silva buscou qualificação no Sebrae-MG sa mineira para que pudesse acompanhar o processo de produção bem de perto. Em fevereiro de 2008, assinou contrato com a Indústria Marquezani, de Belo Horizonte, que fabrica produtos para limpeza doméstica. Batizado com o nome de Classic, o novo amaciante e hidratante para couro já está à venda em grandes varejistas da capital. O início foi difícil, já que a ex-secretária não conhecia o ramo de prestação de serviços de lavagem de roupas e não tinha condições financeiras para investir em equipamentos. “Pagamos um preço caro por sucata”, lembra, referindo-se às primeiras máquinas usadas que adquiriu. Qualificação profissional Apesar das dificuldades, Vera Lúcia buscou qualificação profissional no SEBRAE-MG, onde fez cursos, como o Capacitar para Empreender, que lhe permitiram conhecer de perto grandes lavanderias de Belo Horizonte. Com o auxílio, ela pôde aperfeiçoar seu lado empreendedor e registrar o Classic, sua primeira invenção. Agora, estuda a melhor forma para patentear sua segunda invenção. Trata-se de um produto ainda sem nome, próprio para remover mofo. Segundo o diretor comercial da Indústria Marquezani, Geraldo Marquezani, a fórmula inventada pela empreendedora de Congonhas é inédita no mercado. “Pesquisei e não encontrei nada similar”, garante. Como se trata de um produto recém-lançado e inovador, a empresa preparou uma campanha em mídia de massa e vem realizando abordagens informativas em lojas. Passo A Passo 37 artigo | vera helena lopes* Objetivos estratégicos da segmentação de mercado Gladyston Rodrigues/Aocubo Filmes P * Administradora com especialização em Marketing pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e analista da unidade de Comércio, Serviços e Artesanato do Sebrae-MG 38 Passo A Passo ara conseguir posição favorável e se destacar frente aos concorrentes é necessário que a empresa defina um campo de atuação e seu cliente-potencial. Isto é segmentação de mercado. A definição começa com o entendimento do próprio mercado, quais são suas necessidades, seu comportamento e suas particularidades. A abordagem de segmentação mostra que as ofertas de marketing não podem ter a pretensão de oferecer de tudo para todos. Isso quer dizer que o objetivo estratégico da segmentação é analisar mercados, encontrar nichos e oportunidades e buscar uma posição competitiva superior. Como é impossível aproveitar todas as oportunidades, é necessário recorrer às escolhas estratégicas. Deve-se reconhecer que nem todas as pessoas ou empresas são consumidores potenciais para todos os produtos ou serviços; e saber controlar o composto de produtos para obter máxima eficiência. O desafio de marketing é não só atender eficientemente às necessidades dos consumidores, mas também estar à frente dos competidores. Às vezes os mercados são segmentados intuitivamente, ou seja, o empresário confia em sua experiência e na capacidade de julgamento para decidir quais segmentos existem num mercado e que potencial oferecem. Outros seguem o precedente dos concorrentes que já estão no mercado. Também é possível executar uma análise estruturada, freqüentemente apoiada em alguma pesquisa de mercado, a fim de identificar os segmentos e medir seu potencial. Essa abordagem, mesmo quando efetuada com um orçamento restrito, com frequência produz percepções e oportunidades que de outro modo passariam despercebidas. Três passos estão envolvidos na segmentação. O primeiro é identificar os desejos e potenciais existentes no mercado. O segundo é saber as características particulares entre os segmentos. O que os consumidores potenciais, que compartilham um desejo particular, têm em comum que os distingue de outros segmentos do mercado que apresentam desejos diferentes? O terceiro é determinar quem apresenta cada desejo. O passo final será calcular quanto de demanda ou potencial de vendas cada segmento representa. Essas previsões vão determinar os segmentos nos quais o atendimento valerá a pena. Como se vê, uma empresa pode segmentar seu mercado de diferentes maneiras. Além disso, as bases para essa segmentação variam de um produto para outro. Entretanto, o primeiro passo é dividir um mercado potencial em duas categorias: consumidores finais e usuários empresariais. Segmentar o mercado nesses dois grupos é muito importante do ponto de vista do marketing, pois ambos compram de modo diferente. A composição do mix de marketing de um vendedor dependerá do fato de ele estar voltado para o mercado consumidor ou empresarial. Novos horizontes para as micro e pequenas empresas “Nem todas as pessoas ou empresas são consumidores potenciais para todos os produtos ou serviços” www.sebraemg.com.br Novo Sebrae Diamantina: rua Campos Carvalho, 19 – Centro Para atender cada vez melhor os micro e pequenos empresários, o Sebrae/Diamantina mudou de endereço. Agora, para uma sede muito mais espaçosa e confortável, com os inúmeros programas e projetos voltados para o aumento da produtividade e eficiência da sua empresa. Novo Sebrae/Diamantina. De portas abertas para receber você. Sebrae/Diamantina - Rua Campos Carvalho, 19, salas 17 e 18, Galeria Marise, Centro – 39100-000 – (38) 3531-6167 Cultura O Sebrae incentiva e investe na produção cultural de Minas Gerais beneficiando diversas áreas, como a audiovisual, a musical, o artesanato, o design e a moda. Uma iniciativa que prepara os artistas para a gestão do próprio negócio, que incentiva a divulgação dos seus trabalhos em catálogos como os de artesanato e de moda, trabalhando para que todos tenham sucesso como empreendedores. Sebrae Minas. Trabalhar pela cultura é valorizar o talento. www.sebraemg.com.br