CUSTO DE PRODUÇÃO DE ARROZ VERMELHO IRRIGADO EM APODI-RN1 J. F. B. Lira2; F. E. N. Maia3; A. R. F. Silva4; J. L. F. Medeiros3; J. D. J. Mendonça2; N. O. Miranda5 RESUMO: O trabalho foi realizado para determinar o custo de produção do arroz vermelho irrigado no Vale do Apodi, RN. O trabalho foi desenvolvido durante a safra de verão de arroz vermelho no ano de 2011 em parceria da UFERSA com EMBRAPA Meio Norte, o SEAPAC e STR de Apodi. Durante os levantamentos, foram entrevistados 18 produtores de arroz do Vale do Apodi, das comunidades de Baixa Fechada, Baixa Fechada II, Reforma, Trapiá, Comunidade Cipó, Comunidade Santa Rosa, Várzea da Salina, Juazeiro, os quais descreveram seus custos de produção desde o preparo do solo até a colheita. O custo de produção do arroz vermelho no Vale do Apodi, na safra de verão de 2011 foi de aproximadamente R$ 3745,00 por hectare. A produtividade média do arroz vermelho na região está em torno de 5000 kg ha-1, resultando em um retorno financeiro aproximado de R$ 755,00 por hectare. PALAVRAS-CHAVE: Oryza sativa L.; despesas; retorno financeiro. PRODUCTION COSTS OF IRRIGATED RED RICE AT APODI, RN, BRAZIL SUMMARY: The objective of this work was to determinate the production costs of irrigated red rice in the Apodi Valley, RN, Brazil. Activities were performed in the summer cropping season of red rice of year 2011 in a partnership of UFERSA, EMBRAPA, SEAPAC and STR of Apodi. Determinations were made by means of interviews with 18 red rice producers of some communities of Apodi Valley, RN, Brazil. Costs determined included those from soil tillage until harvest. Red rice production cost at Apodi Valley, in the summer cropping season of year 2011 was around R$ 3745.00 per hectare. Red rice mean yield at that region was around 5000 kg ha-1, resulting in a financial return of around R$ 755.00 per hectare. KEYWORDS: Oryza sativa L.; expenses; financial return. 1 Trabalho financiado pelo MDA e CNPq. Engenheiro Agrônomo. Bolsista do CNPq. UFERSA. Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN. CEP: 59.625-900. e-mail: [email protected]. 3 Estudante de Agronomia. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq/UFERSA. 4 Engenheiro Agrônomo. Mestrando em Agronomia. UEPB. Campina Grande-PB. 5 Professor Associado. Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas UFERSA. 2 J. F. B. Lira et al. INTRODUÇÃO O arroz vermelho (arroz da terra), forma espontânea de Oryza sativa L., tem porte alto, folhas verde-claras, decumbentes e pilosas, colmos finos, alta capacidade de perfilhamento e sementes com pericarpo avermelhado, aristas longas, alta taxa de dormência e debulha natural (Fonseca et al., 2008). Apesar do arroz branco ser preferido dos consumidores, a cor original do pericarpo do grão de arroz é a vermelha, tendo a cor branca se originado por mutação e se firmado como característica prioritária no melhoramento genético (Pereira et al. 2007). O pigmento vermelho do pericarpo (proantocianina) é característica dominante comum nos ancestrais selvagens do arroz, que melhora a digestibilidade e tem ação antioxidante benéfica para o sistema cardiovascular, além de ser repelente contra patógenos. Apesar do interesse dos consumidores, devido ao sabor, textura e valor medicinal, o arroz vermelho é a invasora que mais prejudicial em campos de produção de arroz branco (Sweeney et al., 2006). A importância econômica e social do arroz vermelho no sertão nordestino se deve a ser componente importante da dieta (Pereira, 2004) e por ser cultivado por pequenos agricultores com sementes nativas ou variedades tradicionais, com ampla base genética e adaptabilidade (Porto et al., 2007). A irrigação é feita por inundação, ou em várzeas úmidas, dependentes de chuvas (Pereira et al., 2007). A irrigação aumenta custos de produção (Medeiros et al., 2006), mas manter uma lâmina constante aumenta a produtividade e qualidade (Santos et al., 1999). Segundo Pereira et al. (2009), o arroz branco apresentou maiores produtividade e teores de amilose e menor tempo para cozimento, mas o grão de arroz vermelho polido se sobressaiu em teores de ferro e zinco, sendo alternativa para nutrição em populações carentes. O objetivo do trabalho foi determinar o custo de produção de um hectare de arroz vermelho irrigado, nas condições do Vale do Apodi, RN. DESCRIÇÃO DO ASSUNTO O trabalho foi desenvolvido durante a safra de verão de arroz vermelho no ano de 2011, no âmbito do projeto de pesquisa “Avaliação, introdução e difusão de cultivares de arroz de tipos especiais e tecnologia para produção no Vale do Apodi-RN”, conduzido pela UFERSA em parceria com a EMBRAPA Meio Norte, Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi (STR). Foram entrevistados 18 produtores de arroz do vale do Apodi, das comunidades Baixa Fechada I e II, Reforma, Trapiá, Cipó, Santa Rosa, Várzea da Salina, Juazeiro. Os itens considerados estão descritos e discutidos a seguir e os custos estão apresentados na Tabela 1. Aquisição de Sementes A provisão das sementes é feita logo após a colheita, quando os agricultores separam a quantidade de grãos necessária para o plantio seguinte (150 kg ha-1), mas entre eles acontecem caso de empréstimo ou venda de sementes. Por isto, considerou-se um custo de R$ 1,00 kg-1. Preparo do Solo As quatro horas/máquina necessárias para o preparo do solo custa R$ 80,00, sendo três horas por hectare de grade aradora e uma hora para construir os baldes (marachas) com arado de discos. O custo varia com potência do trator, tamanho do implemento, textura e teor de umidade J. F. B. Lira et al. do solo. A confecção de baldes em terreno muito desnivelado aumenta até 50% nos custos, pois os baldes são muito próximos, causando desuniformidade na irrigação e a secagem mais rápida do terreno, dificultando o manejo da irrigação e reduzindo a produção. O melhor nivelamento da área pode uniformizar a irrigação e facilitar o trabalho. O preparo do solo responde por 8,54% do custo de produção do arroz vermelho no Vale do Apodi. Tabela 1. Custo de produção de um hectare de arroz irrigado mecanizado no Vale do Apodi-RN. Safra de verão de 2011 Aquisição de Sementes Preparo do Solo Semeadura a lanço Aquisição de Herbicidas e Inseticidas Pulverização Aquisição de Adubo Mão-de-obra na adubação Irrigação/COSERN Mão-de-obra na Irrigação (4 meses) Colheita / Mão-de-obra Percentual da colheita (15%) Sacaria Mão de obra para ensacar Depreciação do Sistema de Irrigação Total H/D = homens/dia; H/M = hora/máquina. unidade kg H/M H/D Verba H/D Sacos H/D Mês H/D H/D % unidade H/D Verba - quantidade 150 4 0,5 1 1,5 7 3 4 15 2 0,15 100 1 1 - valor unitário 1,00 80,00 25,00 250,00 25,00 70,00 25,00 245,00 25,00 25,00 5000 0,8 25 200 - valor total 150,00 320,00 12,50 250,00 37,50 490,00 75,00 980,00 375,00 50,00 750,00 80,00 25,00 150,00 3745,00 valor % 4,01 8,54 0,33 6,68 1,00 13,08 2,00 26,17 10,01 1,34 20,03 2,14 0,67 4,01 100,00 Semeadura a Lanço A semeadura, em geral, é feita manualmente a lanço, gastando 150 kg ha-1 de semente. Alguns agricultores empregam sementes pré-germinadas, as quais são imersas em água por dois dias e, a seguir, deixadas à sombra por 24 as 48horas. Neste sistema, as plantas de arroz se desenvolvem antes das invasoras, que não toleram o encharcamento do solo. Aquisição e Aplicação de Herbicidas e Inseticidas Para este item os agricultores consideram um valor geral de R$ 250,00. Além dos gastos mínimos com inseticidas, o herbicida Propanil é utilizado contra plantas de folhas estreitas e largas, enquanto o 2,4-D é usado contra plantas de folhas largas. Um produto mais moderno e eficiente para combate às plantas de folhas estreitas e largas, o bispyribac-sodium, tem preço elevado. Observa-se que a aquisição de adubos e herbicidas corresponde ao terceiro maior custo de produção (18,76%). As pulverizações são realizadas por meio de pulverizadores costais manuais e consomem, em média, uma diária e meia, o que corresponde a R$ 37,50. Adubação Em relação à aquisição de adubos, observou-se que o adubo mais utilizado na região é a ureia, composta apenas por nitrogênio, do qual são aplicados, aproximadamente, 150 kg ha-1, ou sete sacos de ureia, com valor de R$ 490,00. Os nutrientes fósforo e potássio não são fornecidos. As três aplicações de adubo exige 3 dias/homem por hectare, ou R$ 75,00. Irrigação Os custos de irrigação incluem a energia para bombeamento, a qual é o maior custo (26,17%), além das despesas com mão de obra, que utiliza 15 homens/dia, ou R$ 375,00. Em quatro meses são gastos com energia ao redor de R$ 245,00 por mês, ou R$ 980,00. Por isto, J. F. B. Lira et al. são necessárias providências políticas para contornar problemas de tarifas e técnicos, como o aumento da eficiência energética de equipamentos. A irrigação é realizada por inundação, sendo difícil manter uma lâmina d’água constante devido ao mau nivelamento do solo e às perdas de água na condução e na distribuição. Estes problemas aumentam o custo de produção, pois implicam em maior quantidade de água fornecida para alcançar os locais mais altos. O subdimensionado do sistema de irrigação pode, muitas vezes, acarretar em custo maior com energia elétrica. A depreciação do sistema de irrigação é incluída devido às despesas frequentes com concertos no sistema de irrigação e aquisição de materiais hidráulicos, elétricos e de construção. Colheita Os custos com a colheita estão em segundo lugar entre os custos de produção, correspondendo a 20,03%. Na safra de verão de 2011 foi difundido o sistema de colheita totalmente mecanizado, o qual caracteriza uma parceria entre o agricultor e o proprietário da máquina, no qual o agricultor paga um percentual de 15% da produção colhida pela máquina. Entretanto, a colheita mecanizada exige ajustes no manejo do solo para aumentar a eficiência da maquina. Outros itens da colheita são a mão de obra para ensacamento e a aquisição dos sacos. Estes custos são mínimos, mas necessários, como os auxiliares que recolhem o arroz descarregado pela máquina e as pessoas que, após o arroz ter secado, ensacam e costuram. RECEITA OBTIDA A produtividade média do arroz vermelho está em torno de 5000 kg ha-1. Sendo R$ 0,90 o preço de venda do arroz em casca, a receita seria R$ 4500,00. Enquanto que, para custo de produção são R$ 3745,00, o retorno financeiro seria R$ 755,00 por hectare. É importante considerar que uma parte dos custos reverte para as comunidades, remuneração mão de obra e sementes, e que a produção do arroz vermelho faz parte de um sistema, que inclui culturas de subsistência e criação de animais alimentados com resíduos vegetais e rebrota do arroz. CONCLUSÕES O custo de produção do arroz vermelho no Vale do Apodi, na safra de verão de 2011, é de aproximadamente R$ 3745,00 por hectare. A produtividade média do arroz vermelho na região está em torno de 5000 kg ha -1, resultando em um retorno financeiro aproximado de R$ 755,00 por hectare. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONSECA, J.R., PEREIRA, J.A., SILVA, S.C., RANGEL, P.H.N., BRONDANI, C. Resgate de arroz vermelho (oryza sativa l.) nos estados da Paraíba e Ceará. Disponível em: www.cnpaf.embrapa.br/publicacao/serie documentos/doc_196/trabalhos/CBC-TRAB 5-2.pdf. Acesso em: 01 dez. 2008. MEDEIROS, R.D.; OLIVEIRA, J.A.; GUIMARÃES, R.M.; SOARES, A.A.; EVANGELISTA, J.R.E. Efeito do teor de água no solo sobre a emergência e desenvolvimento de plântulas de arroz. Revista Ciência Agronômica, v.37, n.1, p.55-58, 2006 PEREIRA, J. A. O arroz-vermelho cultivado no Brasil. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2004. 90 p. J. F. B. Lira et al. PEREIRA, J. A.; BASSINELLO, P. Z.; CUTRIM, V. A.; RIBEIRO, V. Q. Comparação entre características agronômicas, culinárias e nutricionais em variedades de arroz branco e vermelho. 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