APLICAÇÃO DA ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO NA IDENTIFICAÇÃO DE CONTAMINANTES. Elisabete V. Costa, José Luís Amaral. *RAIZ- Instituto de Investigação da Floresta e do Papel, Quinta de S.Francisco, 3801-501 Eixo. Introdução A ocorrência de contaminações nos processos de produção da pasta e papel pode afectar negativamente a eficiência das operações. A identificação expedita da natureza das contaminações, bem como o diagnóstico das causas e condições que propiciaram a sua formação, constituem uma ferramenta imprescindível para a resolução e prevenção destes problemas. A Espectroscopia de Infravermelho pode ser um auxiliar precioso na identificação das contaminações, particularmente quando integrada numa metodologia de abordagem sistemática que faz apelo ao conhecimento da química dos processos e a técnicas complementares de análise e extracção diferenciada. Metodologia A abordagem sistemática consiste numa primeira análise dos contaminantes do ponto de vista físico e microscópico (microscópios Leitz e Sistema de Aquisição de Imagem IM 500), seguido do primeiro despiste químico por análise qualitativa através de testes de solubilidade e reacção específica. A informação química ao pormenor resulta da análise por espectroscopia de infravermelho FTIR e FTIRATR com microscópio acoplado para identificação de contaminações na ordem dos 50 µm (EQUINOX 55 e IR-SCOPE da Brucker). De acordo com a complexidade do material, são utilizadas técnicas de extracão selectiva para separação de componentes. Complementarmente podem utilizar-se outras técnicas de análise ( ICP, SEM-EDXA. HPLC, GC-MS). Resultados Apresentam-se dois exemplos de aplicação em fábricas portuguesas. Situação1. O aparecimento de sujidades numa impressora offset levou a que o utilizador do papel remetesse a origem destas para o processo do respectivo produtor. A fábrica de papel recolheu amostras de papel com contaminantes por ela produzido e um depósito encontrado no tinão da máquina de papel, solicitando a identificação de naturezas químicas e possíveis relações entre as diferentes amostras e a reclamada. Da análise por observação microscópica verificou-se que a estrutura física da reclamação diferia da das contaminações do papel e da do depósito, evidenciando um carácter homogéneo contra a heterogeneidade das restantes. A realização de alguns testes de solubilidade e de reacção específica confirmou estas diferenças. No entanto, relativamente aos contaminantes do papel, verificou-se que as propriedades físicas e estruturais pareciam ser semelhantes às do depósito do tinão. A segunda análise estrutural, qualitativa, foi efectuada por aplicação de Espectroscopia FT-IR. A análise foi efectuada directamente, utilizando a objectiva ATR, tendo em conta a micro escala das sujidades e dos contaminantes do papel. Sujidades da impressora Depósito do tinão Contaminantes no papel Verniz da impressora 4000 3500 3000 2500 2000 Wavenumber cm-1 1500 1000 500 Fig. 1. Espectros por infravermelho das amostras. Tabela 1. Identificação química das amostras. Identificação de aditivos do processo de fabrico de papel e composição química das amostras. Grupos funcionais cm-1 Hidrocarbonetos alifáticos C=O ésteres (1740) C=O Cetonas (1720) Insaturação Grupo carbonilo (1710) Silicato Éter: Amido Éter: Celulose Carbonato Sujidade impressora √ √ Contaminante Depósito papel máquina √ √ √ √ √ √ vestígios √ √ √ Verniz √ √ √ √ √ √ vestígios √ √ √ Contaminantes no papel e depósito AKD hidrolisado √ Talco √ PCC minoritário Amido de massa minoritário Pitch minoritário Sujidades da impressora e verniz Resina alquídica √ Da análise da tabela 1, os grupos funcionais identificados mostram que a natureza dos contaminantes se relaciona na integra com a do depósito do tinão, diferindo da das sujidades. Recorrendo a técnicas de extracção selectiva do depósito e da análise espectral do extracto e do material após a exracção, conseguiuse simplificar os espectros, identificando todos os aditivos associados. Relativamente à natureza da sujidades, os grupos identificados não se coadunaram com nenhum aditivo do processo de fabrico, relacionando-se com o espectro da resina alquídica (biblioteca de polímeros). Confirmou-se a presença desta num verniz usado na impressora. Situação 2. Identificação de depósito recolhido no cilindro da pré-secaria e do mecanismo da sua formação. Da análise microscópica constatou-se a heterogeneidade da estrutura. A análise biométrica e qualitativa de despiste identificaram fibra celulósica e a presença de ferro. Na análise por FT-IR, a complexidade espectral foi resolvida recorrendo a técnicas de separação selectivas e efectuando-se a análise por infravermelho dos extractos e dos materiais após a extracção. Identificou-se a componente orgânica por comparação com a biblioteca espectral dos aditivos e análise de grupos funcionais. Identificaram-se os metais presentes na amostra por espectroscopia de emissão ICP. Depósito Material após extracção Extracto Aditivos 3500 3000 2500 2000 1500 1000 Fig. 2. Espectros por infravermelho das amostras. Tabela 2. Identificação da composição química das amostras. Composição Composição (%) Extractável (28) Orgânica (66) Não extraído (38) FTIR Ésteres em estrutura alifática saturada e insaturada Inorgânica (34) Cinzas ICP % Fe2O3 3 PCC 27 Sais de ácidos carboxílicos CaCO 3 (80) Bentonite 1 Amido substituído quaternário Fe2 O 3 (8,7) Amido de massa 35 MgO (0,66) Sais de ácidos carboxílicos 3 Na 2O (0,35) Al2O 3 (0,30) SiO 2 (1,84) Cu (0,05) (ASA hidrolisada) Pitch 28 Identificada a presença de fibra Bibliografia 1. Pasto Johnson, Determinación de Estruturas Orgánicas, editorial Reverté, 1981. 2. Gess Jerome, Retention of filles and fillers during papermaking, Tappi Press, Georgia, 1975. 3. Smith Brian, Infrared Spectral Interpretation, CRC Press, 1999. 4. Reynolds Walter, The Sizing of Paper, TAPPI Press, 1989. 5. Au and Thorn, Applications of Wet End Paper Chemistry, Blackie A & P ,UK.