CARGA E DESCARGA DE CAPACITORES O assunto discutido neste artigo, a carga e a descarga de capacitores, apareceu dois anos consecutivos em vestibulares do Instituto Militar de Engenharia (2001_2002 e 2002_2003). Neste estudo, serão mostradas as deduções das equações de carga e descarga, um dos exercícios do vestibular do IME será resolvido e o outro será deixado como trabalho para o aluno, juntamente com um exercício proposto pela Equipe SEI. Cabe ressaltar que, para o bom aproveitamento do estudo, são necessários conhecimentos em Cálculo (resolução de integrais definidas e equações diferenciais). Carregamento de capacitor O princípio básico da carga de um capacitor é o seguinte: em t = 0 o capacitor está ligado a algum circuito, mas descarregado. Por conta de uma fonte presente no restante do circuito, começa a fluir corrente elétrica. A parcela de corrente elétrica que chega ao capacitor é utilizada para carregá-lo. Logo, o primeiro objetivo para encontrar a equação de carregamento do capacitor é determinar qual é a corrente que chega até ele. Considere o circuito abaixo: Quando a chave S é fechada, começa a fluir corrente pelo circuito. Precisamos encontrar qual é a parcela desta corrente que chega ao capacitor C. Na figura (b), queremos encontrar a corrente I. Para isso, utilizamos as Leis de Kirchhoff. Sabemos que a capacitância é dada por: C= Q V Logo, percorrendo o circuito, podemos escrever: ε− q − I .R = 0 C (1) onde q é a carga acumulada no capacitor até o instante t e I é a corrente que passa pelo circuito neste instante. Com isso, a q parcela C é a diferença de potencial através do capacitor e I.R é a diferença de potencial através do resistor. Note que I e q são instantâneos e dependem do instante de observação. Em t = 0, a carga acumulada no capacitor é nula. Logo, pela equação (1), podemos perceber que a corrente é máxima neste instante. Logo, I0 é a corrente máxima que passa por este circuito. I0 = ε ( 2) R Muito tempo depois que a chave S foi fechada, o capacitor está carregado e, com isso, não flui mais corrente pelo circuito. Logo, a carga máxima Q acumulada no capacitor ocorre quando I = 0. Pela equação (1), podemos escrever: Q = ε .C (3) Isolando I na equação (1), temos: I= ε R q RC − Como a corrente que carrega o capacitor é exatamente I, podemos dizer que I= Assim, temos: dq dt dq ε q = − dt R RC ⇒ dq Cε − q dq q − Cε = ⇒ =− dt RC dt RC Multiplicando por dt e dividindo por - (q – Cε), temos: dq dt =− q − Cε RC Integrando os dois lados da equação, vem: q t dq 1 ∫0 q − Cε = − RC ∫0 dt ( 4) Observe os limites de integração. No instante t = 0, a carga acumulada no capacitor é nula. Logo, para t = 0, q = 0. Em compensação, no instante t, a carga acumulada é q. Encontraremos q em função do tempo t. Para resolver as integrais da equação (4), podemos, do lado esquerdo, fazer uma troca de variáveis. Usaremos f(q) = q – Cε. Como df = 1 , podemos simplesmente trocar dq por df. Assim, a equação pode ser reescrita como: dq q ∫ 0 Sabemos que ∫ t df 1 =− dt f (q) RC ∫0 df t q = ln f . Logo, temos: ln(q − Cε )]0 = − f RC ⇒ ln(q − Cε ) − ln(−Cε ) = − t t ⎛ q − Cε ⎞ ⇒ ln⎜ ⎟=− RC RC ⎝ − Cε ⎠ − − − q − Cε ⇒ = e RC ⇒ q − Cε = Cε .e RC ⇒ q = Cε − Cε .e RC Cε t t t − ⎛ q = Cε ⎜⎜1 − e RC ⎝ t − ⎛ ⎞ ⎟ = Q⎜1 − e RC ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ t ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ Acima, acabamos de encontrar a carga acumulada no capacitor em função do tempo. Se quisermos calcular a corrente que percorre o circuito, no instante t, podemos lembrar que I= I= Ao traçarmos os gráficos das funções q(t) e I(t), temos: dq . dt ε R e − t RC Descarga de capacitor Agora vamos considerar a descarga de um capacitor. Para isso, consideramos que o capacitor está totalmente carregado no início. Com a chave S aberta, toda a diferença de potencial Q C do circuito é através do capacitor, uma vez que I = 0. Com a chave S fechada, começa a fluir corrente pelo circuito, devido à descarga do capacitor. Percorrendo o circuito, podemos escrever: − Mas I= q − I .R = 0 C (5) dq , logo, temos: dt − R. ⇒ dq q = dt C dq 1 =− dt q RC Repetindo o raciocínio utilizado no carregamento do capacitor, vamos integrar os dois lados da equação. Porém, agora devemos perceber que q = Q em t = 0. q t 1 dq ∫Q q = − RC ∫0 dt ⇒ ln(q)]Q = − q t RC t ⇒ ln q − ln Q = − − t q t q ⇒ ln = − ⇒ = e RC RC Q RC Q q = Q.e Como I = − t RC dq , podemos calcular a corrente I em função de t: dt t Q − RC I =− .e RC Exercício resolvido (IME 2001_2002) Após muito tempo aberta, a chave S do circuito da figura 1 é fechada em t = 0. A partir deste instante, traça-se o gráfico da figura 2, referente à tensão elétrica VS. Calcule: a) o valor do capacitor C; b) a máxima corrente admitida pelo fusível F; c) a tensão VS, a energia armazenada no capacitor e a potência dissipada por cada um dos resistores, muito tempo depois da chave ser fechada. Dados (use os que julgar necessários): ln (0,65936) = -0,416486 ln (1,34064) = 0,293147 ln (19,34064) = 2,962208 ln (4) = 1,386294 ln = (10) = 2,302585 Solução O enunciado diz que a chave S estava fechada há muito tempo. Isto significa que o capacitor está descarregado em t = 0. Precisamos encontrar a corrente iC. i1 = iC + i3 Vs = 10.i3 20 = 90i1 + Vs (1) (2) (3) Além disso, temos a capacitância C, dada por: C= q q ⇒C = V Vs (4) Logo, isolamos i1 na equação (3), usando a equação (2). Na equação (2), isolamos i3. 20 − Vs (5) 90 V i 3 = s ( 6) 10 i1 = Substituindo (5) e (6) na equação (1), temos iC. iC = iC = 20 − Vs Vs − 90 10 20 − 10Vs 2 − Vs ⇒ iC = 90 9 iC = (7) 2−q C ⇒ i = 2C − q C 9 9C (8) Como iC = dq 2C − q dq , temos: . = dt dt 9C Q t dq dt dq dt ⇒ = ⇒∫ =∫ 2C − q 9C 2C − q 0 9C 0 (9) Fazendo a troca de variáveis, chamamos f(q) = 2C - q. Com a derivação de f(q) em relação à variável q, temos df = -dq. Com isso, temos: Q Q t t 1 df dt df −∫ =∫ ⇒∫ =− dt 9C 9C ∫0 f f 0 0 0 ⇒ ln(2C − q )]0 = − Q ⇒ ln(2C − Q ) − ln(2C − 0) = − t t ⎛ 2C − Q ⎞ ⇒ ln⎜ ⎟=− 9C 9C ⎝ 2C ⎠ − − − 2C − Q = e 9C ⇒ 2C − Q = 2C.e 9C ⇒ Q = 2C − 2C.e 9C 2C t ⇒ t 9C t t − ⎛ ⇒ Q = 2C ⎜⎜1 − e 9C ⎝ t ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ Porém, da equação (4), podemos dizer que: t − ⎛ 9C ⎜ Vs = 2⎜1 − e ⎝ ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ (10) Observando o gráfico da figura 2, temos as coordenadas do ponto onde ocorre mudança de comportamento de Vs. Neste ponto, temos o valor de Vs e o instante t. Substituindo tais valores na equação (10), temos: 18 − ⎛ 9C ⎜ 0,65936 = 2⎜1 − e ⎝ − − − 0,65936 0,65936 2 − 0,65936 = 1− e C ⇒ e C = 1− ⇒e C = 2 2 2 2 2 − ⎛ 1,34064 ⎞ 1,34064 ⇒ − = ln⎜ ⎟ ⇒e C = C ⎝ 2 ⎠ 2 2 ⇒ − = ln(1,34064) − ln 2 C 2 ⇒ ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ 2 2 Neste ponto, podemos olhar para os dados da questão e verificar ln(1,34064). Lembrando que ln4 = 2.ln2, podemos continuar. 2 1,386294 = 0,293147 − C 2 2 0,586294 − 1,386294 2 ⇒− = ⇒ − = −0,4 C C 2 ⇒− C = 5F b) A máxima corrente admitida pelo fusível F acontece quando ocorre a mudança de comportamento de Vs. Quando o fusível se queima, o ramo onde ele estava passa a não fazer parte do circuito. Ou seja, não passa mais corrente por aquele ramo. Observando o gráfico da figura 2, verificamos que isto ocorre em t = 18s. Da equação (6), temos como calcular i3. i3 = Vs 0,65936 ⇒ i max = 10 10 imax = 0,065936 A c) Muito tempo após a chave S ser fechada, o fusível F já queimou e o capacitor C já se carregou. Logo, o ramo do capacitor também funciona como chave aberta, ou seja, não passa mais corrente por ali. Sendo assim, não existe corrente no circuito. E capacitor Vs = 20V Presistores = 0 1 1 = CV 2 ⇒ E capacitor = .5.20 2 ⇒ E capacitor = 1000 J 2 2 Exercícios propostos 1. (IME 2002_2003) Um circuito composto por uma fonte, três resistores, um capacitor e uma chave começa a operar em t = -∞ com o capacitor inicialmente descarregado e a chave aberta. No instante t = 0, a chave é fechada. Esboce o gráfico da diferença de potencial nos terminais do capacitor em função do tempo, indicando os valores da diferença de potencial para t =∞, t = 0 e t = +∞. 2. (Equipe SEI) Determine a equação de carregamento do capacitor C, em função do tempo, sabendo que a chave S estava aberta por muito tempo anteriormente. Respostas 1. − t ⎞ 500C ⎛⎜ 1 − e 50 ⎟⎟ ⎜ 11 ⎝ ⎠ 11 2. q (t ) =