RESPEITANDO AS DIFERENÇAS E PROMOVENDO A
ALTERIDADE
PROJETO: CULTURA NEGRA NA ESCOLA
DIVERSIDADE RELIGIOSA BRASILEIRA: A FORÇA NEGRA
Adriana Candido Delphino1
Cleusa Schmidt Krüger2
JUSTIFICATIVA
O presente trabalho apresenta o projeto “Cultura Negra na
Escola” desenvolvido na E.M.E.F. Rodolpho Dornbusch de Jaraguá
do Sul/SC e de uma oficina Diversidade Religiosa Brasileira: “A
Força Negra” realizada na disciplina de Ensino Religioso na mesma
escola.
O projeto visa aproximar, identificar, visibilizar e ressignificar
olhares, leituras e práticas sobre a cultura afro-brasileira e verificar
como a temática vem sendo trabalhada e integrada na sociedade e
no cotidiano escolar. Os povos afro-brasileiros, nas últimas
décadas, passaram a ser reconhecidos como povos culturalmente
diferenciados, capazes de produzirem estilos próprios de
organização e desenvolvimento social.
Reconhecendo a diversidade afro-brasileira e a sua
contribuição para a formação do povo brasileiro, a escola
implementou em seu currículo a lei nº 11.645 de 10 de março de
2008 realizando o Projeto Cultura Negra na Escola.
Com o desenvolvimento do projeto objetivou-se ainda
sensibilizar educandos e educadores em relação a importância da
diversidade étnico-cultural no currículo escolar e de realizar o Dia
da Consciência Negra na Escola expondo trabalhos realizados
pelos alunos culminando com oficinas específicas da cultura negra.
Com isso, buscou-se estabelecer relações de diálogo
ressignificando o conhecimento e promovendo a alteridade entre a
diversidade cultural e religiosa afro-brasileira.
1
Licenciada em Ensino Religioso – FURB/SC. Especialista em Ciências da Religião:
Metodologia e Filosofia do Ensino – FIJ/PR. Professora da Rede Municipal de Jaraguá
do Sul/SC. E-mail: [email protected]
2
Licenciada em Ensino Religioso – UNIVILLE/SC. Especialista em Fundamentos e
Metodologias do Ensino Religioso em Ciências da Religião – FURB/SC. Professora da
Rede Municipal de Jaraguá do Sul/SC. E-mail: [email protected]
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O Ensino Religioso é um componente curricular e uma área
do conhecimento (Resolução da CEB/CNE 04/2010). É de matrícula
facultativa, parte integrante da formação básica do cidadão e
constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer forma de proselitismo (Lei
9.475/97). Portanto, sua ênfase deve estar no diálogo intercultural e
inter-religioso, de abertura e de respeito mútuo à identidade e à
alteridade de cada ser humano (MARKUS, 2002).
Essa disciplina é um espaço onde pode ocorrer essa
descoberta progressiva do outro ser, numa atitude de respeito,
justiça e solidariedade. Por outro lado, também é um espaço
democrático de aprendizagem mútua, pois só no encontro com o
diferente percebemos que culturas e religiões têm experiências e
sabedorias peculiares que, em si, são relevantes para os demais e
vão enriquecer não só o projeto do Ensino Religioso, mas toda a
comunidade escolar.
De acordo com Markus (2002) ao propiciar a abertura à
alteridade, pelo espírito inter-religioso e pelo diálogo, está
contribuindo para que ocorra a eliminação de preconceitos e se
desencadeie o respeito mútuo, que podem conduzir à solidariedade,
à justiça e à dignificação da vida.
Corroborando com Markus (2002) no que concerne a
eliminação de preconceitos, Ribeiro e Ribeiro (2008), afirmam que
“proporcionar uma educação com vistas a interromper a reprodução
de práticas discriminatórias e racistas é o desafio posto a todos os
educadores e educadoras, além de expressar o comprometimento
com uma escola de qualidade, centrada no respeito às diferenças e
na diversidade das crianças e adolescentes.
A partir do desafio de interromper a reprodução de práticas
discriminatórias religiosas e racistas, foi desenvolvido nas aulas de
Ensino Religioso o projeto: Diversidade Religiosa Brasileira: A Força
Negra,
Sendo assim, o Projeto teve os seguintes objetivos:
- Conscientizar os alunos acerca da liberdade religiosa no
Brasil e compreender o direito do outro de expressar a sua fé;
- Identificar a raiz africana em nossa cultura.
- Introduzir o conhecimento do candomblé e da umbanda,
suas origens, práticas, mitos e sua contribuição cultural.
Ao desenvolvermos o tema Diversidade Religiosa Brasileira
nas turmas do 4º ao 9º ano enfatizamos a contribuição dos negros
na diversidade religiosa em nosso país.
O projeto teve início com a abordagem do tema e dos
objetivos através de exposição dialogada.
Em seguida utilizamos o livro: Declaração Universal dos
Direitos Humanos (Adaptação de Ruth Rocha e Otávio Roth) para a
contação da história.
Estudamos o pensamento “Todas as pessoas têm o direito de
pensar como e o que quiserem... Elas têm o direito de trocar suas
idéias e praticar a sua fé em público ou em particular.” que resume
o artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos,.
Após este momento assistimos o DVD: Declaração Universal
dos Direitos Humanos (12 minutos) para discutirmos sobre o direito
da liberdade religiosa.
Realizamos o estudo de um texto intitulado “Diversidade
Religiosa e Direitos Humanos”, com o objetivo de aprofundar
teoricamente o tema.
Com a intenção de avaliarmos a aprendizagem dos
educandos propusemos atividades nas quais deveriam escrever
frases ilustrativas sobre a importância da diversidade e liberdade
religiosa.
Visando aprofundar a temática, trabalhamos a contribuição do
negro na diversidade religiosa brasileira assistindo o DVD:
Pluralidade Cultural abordando o tema “Mojubá – A Cor da Cultura”.
Estudamos alguns aspectos da história, mitos, símbolos e
práticas do Candomblé e Umbanda de forma diferenciada nas
turmas do 4º ao 9º ano.
Com os conhecimentos adquiridos pelos educandos fizemos
diversas atividades de aprendizagem como confecção de cartazes,
maquetes e máscaras, estas produções foram usadas para a
avaliação da aprendizagem, e expostas no dia da Consciência
Negra na Escola que foi realizado no dia 20 de Novembro de 2008.
Pelas atividades realizadas, observa-se que as atividades de
aprendizagem não ocorrem espontaneamente. O educador é
responsável pela seleção e problematização de temáticas
interessantes e necessárias ao pleno desenvolvimento dos
educandos, a partir dos educandos e seu cotidiano sinalizando
finalidades para sua execução e consequentes aprendizados. Isto
pode ser compreendido a partir do que é explicitado na Proposta
Curricular de Santa Catarina (2000), a qual afirma que, atividade de
aprendizagem é a atividade pedagógica na qual o educando
percebe um motivo e finalidade para aprender algo, uma relação do
assunto/tema a ser aprendido com a sua vida. O mesmo que se diz
a respeito de qualquer atividade, vale para uma atividade de
aprendizagem, ou seja, a atividade de aprendizagem é uma
atividade qualificada como especificamente de aprendizagem para
alguém.
No referido evento foram proporcionados aos educandos
diversas atividades3, dentre as quais a Oficina “Diversidade
Religiosa Brasileira: A Força Negra” de Ensino Religioso, que foi
organizada com a ajuda da Mãe de Santo Maria de Lurdes Vieira
Rosa, da “Tenda de Umbanda Estrela do Oriente”, localizada no
bairro em que a escola está situada. Obtivemos a ajuda também de
Cristiane Müller dona de uma loja de produtos religiosos “Estrela
Raio de Luz”, que nos emprestou alguns materiais religiosos.
Organizamos a oficina com alguns símbolos religiosos,
vestimentas, revistas, músicas da Umbanda e com alguns dos
trabalhos realizados pelos educandos.
Esta oficina despertou interesses e curiosidades dos
educandos, pois participaram com vários questionamentos durante
o desenvolvimento da oficina ministrada por Maria de Lurdes Vieira
Rosa e pelas educadoras de Ensino Religioso que foram
protagonistas deste projeto. Destaca-se o respeito com o qual os
educandos vivenciaram este momento. A repercussão foi tamanha
ao ponto de despertar curiosidades até nos educandos que não
estavam escritos nesta oficina, infelizmente, alguns deles tiveram
atitudes discriminatórias. Estas atitudes podem ser entendidas a
partir do pensamento de Souza e Souza (2008) ao afirmarem que:
“O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está
profundamente arraigado na sociedade brasileira por estas estarem
associados a um grupo historicamente estigmatizado e excluído, os
negros.”
As diferentes manifestações religiosas percebidas pelos
educandos com atitudes discriminatórias, de certa maneira é
compreensível pelo fato de que o “diferente” pode nos causar
3
Abertura com a apresentação cultural realizado pelos alunos; 10 oficinas nas quais
os alunos foram inscritos em duas oficinas. Almoço de confraternização: os
participantes do evento degustaram uma deliciosa feijoada na hora do almoço.
Encerramento do evento com um show de Hip Hop Gospel com o Grupo palavra
Sagra tendo como líder DNS do Rap (Denis). As oficinas foram as seguintes: Hip Hop
- Grafite (Denis - DNS do Rap); Basquete de Rua Dança Afro (Prof. Paulo Almuas);
Samba e Danças Brasileiras (Prof. Gerson); Trança Afro (Jéssica, Willian, Infância,
membros do Moconevi); Diversidade Religiosa Brasileira: A Força Negra (Adriana e
Cleusa); Mascaras Africana - argila (Professora Joice); Vivências de Capoeira (Prof.
Omar Forte); Capoeira Regional (Prof. Marcolla - Grupo Shekinah); Cocada (Sandra –
Servente da Escola Waldemar Schmitz).
estranheza e rejeição, para nos desvincularmos destes
preconceitos será necessário o conhecimento do “diferente” bem
como de sua história e isto não se constrói com a realização de
apenas um projeto, talvez, seja necessário muitos destes projetos,
muitas aulas no espaço escolar e na escola da vida, ou até mesmo
circunstâncias que nos fazem ver o outro e a religiosidade deste,
também de forma sagrada.
Nelson Mandela (2009) afirma que “a educação é a arma mais
forte que você pode usar para mudar o mundo”. Neste sentido o
Ensino Religioso é componente curricular e área de conhecimento
da educação. E pode ser agente de mudança. Por esse motivo
sonhamos com um mundo em que as pessoas compreenderão que
não se pode enquadrar o Transcendente, e que o sentimento
religioso transcende qualquer denominação religiosa.
AVALIAÇÃO
A abordagem que demos sobre o tema Respeitando as
Diferenças e Promovendo a Alteridade Projeto: Cultura Negra na
Escola Diversidade Religiosa Brasileira: A Força Negra nos mostrou
que o conhecimento propicia abertura para o respeito e valorização
das diferenças étnicas, culturais e religiosas superando a
discriminação e o preconceito e caminhando na direção de uma
sociedade mais democrática que é tarefa primordial do trabalho
educativo voltado para a cidadania e sua plenitude.
Neste sentido, a disciplina de Ensino Religioso, enquanto
componente curricular da escola possibilitou a reflexão crítica sobre
essa realidade, ajudando os educandos no desenvolvimento de
uma posição crítica diante dela e de uma vivência fundamentada na
solidariedade, nos direitos humanos, na justiça, na ética e na defesa
da dignidade do ser humano, para que possam assumir papel ativo
na sociedade num compromisso de se envolver na transformação
das causas injustas.
Se o nosso desejo é ter uma educação de qualidade, uma
educação que reconheça as diferenças individuais e atinja a
compreensão dos conteúdos trabalhados, podemos dar enormes
passos com os recursos de que dispomos.
A tarefa é difícil, mudar é doloroso. Nós educadores temos
que acreditar, apesar de tudo, que a melhoria do nosso ensino,
depende, se não exclusivamente, principalmente de nós.
Sendo assim, esse trabalho foi um pequeno esboço de
pesquisas, leituras e de práticas realizadas e que nos
proporcionaram conhecimentos os quais almejamos alcançá-lo
cada vez mais, sempre ressignificando nossa prática pedagógica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural e
Orientação Sexual. Brasília: MEC/SEF, 1997.
______. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional n. 11.645/08. Brasília. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11645.htm.
______. Ministério da Educação/ SECAD.
http://diversidade.mec.gov.br
/sdm/publicacao/engine.wsp?tmp.area=8.
Disponível
em:
FONAPER, Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso.
Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica da Escola,
2000.
GARCIA, R. L. Currículo emancipatório e multiculturalismo:
reflexões de viagem. In: SILVA, T. T. e MOREIRA, A. F. (orgs.)
Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e
culturais. Petrópolis: Vozes, 1995.
Grupo Editorial Scortecci. Frases e pensamentos. Disponível em:
http://www.amigosdolivro.com.br/materias.php?cd_secao=480&cod
ant. Acesso em: 26 set. 2009.
MARKUS, C. Cadernos do Comin – Culturas e Religiões:
Implicações para o Ensino Religioso. São Leopondo/RS, 2002.
Monografia (Especialização em Ensino Religioso). Instituto
Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, da Escola Superior de
Teologia.
Presidência da República. Casa Civil - Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Revista Diálogo. Cultura Indígena e Educação. São
Paulo: Paulus, ano XIV, n.53, p.50, fev/abril.2009.
RIBEIRO, A.S. T.; SOUZA, B. O.; SOUZA, E. P. História e Cultura
Afro-brasileira e Africana na Escola. Brasília: Ágere Cooperação
em Advocacy, 2008.
SACRISTÁN, G. J. Currículo e Diversidade Cultural. In:
MOREIRA, A. F. e SILVA, T.T. (Orgs). Territórios Contestados: O
Currículo e os Novos Mapas Políticos e Culturais. Petrópolis: Vozes,
1995.
Download

Anexo #1 - GPER Grupo de Pesquisa Educação e Religião