Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção A nota inicial vai, certamente, para os nossos novos estudantes, razão primeira para estarmos aqui. Porque são eles – com a renovação que ano a ano trazem – quem melhor simboliza o mudar de página que um novo ciclo académico sempre significa. Foi este ano um bom ano para o acesso ao Ensino Superior e portanto para o país. Houve mais alunos a entrarem, no que se espera represente uma nova tendência na procura de formação superior: porque Portugal precisa de mais gente qualificada e com melhor educação; e porque, do ponto de vista dos jovens e das suas famílias, há muito mais oportunidades para quem estuda. Importa assim que a sociedade, no seu todo, se convença de uma vez por todas disto: precisamos que as pessoas estudem; e vale a pena estudar! A UA procedeu a um criterioso trabalho, feito com os Diretores das Unidades Orgânicas, de redistribuição das vagas pelos cursos tendo por base fatores de atratividade e empregabilidade. Em mercê das circunstâncias deste ano, mas também desse trabalho, foi possível ultrapassar a barreira dos 98% no aproveitamento das vagas, em cada uma das nossas duas componentes, universitária e politécnica. Se a esta realidade somarmos os 12 Cursos Técnicos 1 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção Superiores Profissionais recentemente criados, totalizamos mais de 2300 novos jovens – espalhados pelos nossos Campi de Santiago, Crasto, Águeda e Oliveira de Azeméis – que escolheram a Universidade de Aveiro para prosseguirem estudos depois do ensino secundário. Agradeço a todos por essa escolha, esperando ser dignos dela e poder dar resposta aos sonhos e às ambições de cada um. Tenho privilegiado para esta sessão de abertura um tema, relevante na missão da universidade, e que possa servir de mote para um olhar e para uma mobilização especiais durante o ano académico que se segue. Por isso, por aqui desfilaram a Cooperação com a Indústria, a Investigação, o Ensino, o Desenvolvimento Regional; áreas temáticas que foram abordadas por especialistas com particular responsabilidade na matéria. Este ano, fruto até de dinâmicas já no terreno, pareceu-me apropriado abordar a relação Universidade-Cidade. Hoje, aqui, com incidência especial na relação UA-Aveiro; mas que depois terá também momentos nas outras duas cidades já citadas – Águeda e Oliveira de Azeméis –, onde temos Escolas Politécnicas; sem 2 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção esquecer Ílhavo onde não temos alunos em formação inicial mas não deixaremos de ter estudantes de pós-graduação e outros atores institucionais, associados ao Parque de Ciência e Inovação e ao ECOMARE, ambos em contagem decrescente para o início da atividade; ou, ainda, S. João da Madeira e Cantanhede, cidades em que estamos presentes – em parcerias no domínio da transferência de tecnologia e da incubação de empresas – através da Sanjotec e do Biocant, respetivamente; e no primeiro caso, também, através de um programa curricular de Língua Chinesa no ensino básico, que foi pioneiro no nosso país. Agradeço a sua disponibilidade, Sr. Presidente Ribau Esteves, para estar presente como orador neste ato. Sei que hoje é um dia especial para si, daqueles que a gente comemora uma vez por ano. É, aliás, prática minha dar o dia de aniversário aos funcionários da casa. Mas a si não o pude dispensar: o final da 3ª fase das matrículas tem determinado esta semana como a ideal para a realização desta sessão; e a tradição da 4ª feira fez o resto. Por isso quero sublinhar a sua compreensão para com esta prenda – pequena maldade – que lhe arranjei. 3 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção A razão do tema para hoje é óbvia: precisamos que a cidade onde estamos maioritariamente implantados nos olhe com a atenção devida; precisamos de uma Cidade que perceba, na sua verdadeira essência, o papel da Universidade; que trabalhe com ela; que a considere como sua; que tenha orgulho nela e nos estudantes que dão vida a essa mesma cidade; que a promova como e quando se promove a ela própria-cidade. É certo que o interesse na colaboração cidade - universidade vem das duas realidades. Mas compreenderão que eu me tente colocar aqui mais do ponto de vista da UA; até porque será razoável esperar que o prisma de observação do nosso convidado privilegie exatamente a visão complementar. Como é que a cidade Aveiro pode, então, ajudar a Universidade a ser melhor, a cumprir melhor a sua missão? A atratividade, que é um conceito complexo, que depende de muitas variáveis e encerra múltiplas interações, é a ideia imediata que surge. Um ambiente urbano atrativo, no sentido mais alargado do termo, ajuda a trazer mais e melhores estudantes, mais e melhores professores e investigadores, mais talento. Ao mesmo tempo a imersão num certo 4 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção contexto urbano valoriza e suscita várias dimensões da Universidade, na justa medida da complexidade e do valor das dinâmicas dessa realidade citadina. Os estudantes são alimentadores constantes da economia local, principalmente nos sectores do alojamento e da restauração, mas também no consumo de inúmeros outros bens e serviços; são praticantes ávidos de desporto e promotores de múltiplas atividades desportivas. E são utilizadores e produtores intensos de cultura nas formas mais variadas. Uma e outras realidades induzem lógicas de enriquecimento e valorização do contexto urbano – de animação urbana, no sentido lato e no sentido estrito – que por seu turno determinam uma crescente subida da própria atratividade. Esta, claro está, é fundamental para a internacionalização, em particular no que respeita a estudantes: ERASMUS ou aqueles que vêm para a UA para aqui obterem o seu grau. Ora a internacionalização é hoje uma pedra de toque das melhores universidades. É um reflexo da intensidade das parcerias e um indutor de mais colaborações com o estrangeiro. É um fator 5 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção presente em quase todos os rankings e causa principal, aliás, da melhoria do nosso resultado global que o Times Higher Education, recentemente, apresentou. No caso das universidades portuguesas a vinda de alunos estrangeiros é, ainda, uma oportunidade para compensarem a situação demográfica, tirando partido da capacidade instalada. Para Portugal a exportação de Ensino Superior é um dever face ao potencial existente nas nossas melhores universidades. E para os estudantes da UA, mais nacionalidades no Campus representam um ambiente vivo de línguas e culturas distintas, espaço essencial para ganhos pessoais em mundividência e noutras competências cada vez mais decisivas; um benefício também para a própria UA, enquanto comunidade. É por tudo isto que há uma estreita correlação entre a qualidade das instituições universitárias e o seu grau de internacionalização. Mas mais estudantes, professores e investigadores, pós-docs e visitantes estrangeiros vistos de outros ângulos significam, para Aveiro, um aumento do seu grau de cosmopolitismo e uma 6 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção valorização do seu ambiente urbano, realimentando o círculo virtuoso da atratividade. Contudo, a internacionalização requer uma boa capacidade de acolhimento na cidade. Este ano, por força do sucesso obtido na vinda de cada vez mais alunos estrangeiros, aumentámos a disponibilidade residencial na cidade para 296 camas, sempre sob a tutela dos Serviços de Ação Social, situando a nossa oferta global em 1100 camas. Assiste-se assim, a que, cada vez mais, os lugares de ensino, de residência e de vida social coincidem no espaço; pelo que estamos próximo do cenário “cidadela de educação”, concentrando essas funções numa área geográfica que não dista mais que da Estação de Caminhos de Ferro ao Crasto: com todas as vantagens que daí se anteveem. Naturalmente, a atratividade também se burila; e poderá ser melhorada através de marketing inteligente, apropriado: há aqui espaço para a promoção integrada de uma marca – Aveiro – que já vem sendo trabalhada com a região, e que queremos e precisamos aprofundar. 7 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção A missão da Universidade é, igualmente, ajudar ao desenvolvimento local e regional. Uma Universidade inovadora e empreendedora como é a UA necessita de uma parceria forte, com a cidade e com a região, para poder expressar-se ao mais alto nível no que diz respeito à investigação aplicada, à transferência de tecnologia, à incubação de empresas. A IERA – Incubadora de Empresas da Região de Aveiro é um bom exemplo desse grau de compromisso já alcançado. Tal como o são as Plataformas Tecnológicas – e são já oito – que temos vindo a pôr de pé; ou ainda a UARia e outros equipamentos e estruturas, alguns deles atrás mencionados. Podem também as cidades, elas em si mesmas, constituírem-se em laboratórios-vivos onde novas políticas, abordagens, práticas e produtos podem ser tanto testados como desenvolvidos, com cidadãos, utilizadores individuais ou coletivos, ou outras instituições interessadas. O Aveiro Digital, no início dos anos 2000, foi um marco nesse bom caminho de trabalho, à medida, para e com quem vai usar. 8 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção As parcerias Cidade-Universidade podem, ainda, ser determinantes na promoção da compreensão pública da ciência, isto é no trazer a ciência para mais perto de um público, crescentemente, mais vasto. A Fábrica Centro de Ciência Viva, aqui menos com a cidade e mais com a CIRA, a par de outros programas, serve esta preocupação. Como a Orquestra Filarmonia das Beiras, um consórcio alargado mas onde Aveiro e UA são decisivos, tem servido, com enorme sucesso, os propósitos da educação de públicos e da qualificação da oferta cultural existente. Não há relação sem tensões, conflito de interesses, ambivalência algumas vezes. A vida dos estudantes da cidade é um dos domínios onde mais facilmente podem surgir estas situações. A tolerância negociada é uma atitude e um instrumento poderoso nestes casos. O excelente exemplo, recente, de trazer de volta à cidade as festas dos estudantes – retirando-as do ostracismo longe da vista a que tinham sido votados – mostra que responsabilizar uns e suscitar a tolerância noutros, explicando o que está em causa, é a abordagem correta. E o mérito aqui foi da Câmara Municipal de Aveiro, muito por intervenção direta do seu Presidente; 9 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção e da Associação Académica, em particular, através do empenho do Presidente André Reis. Uma outra ambivalência, frequente, resulta da necessidade de conciliar excelência internacional e relevância local. Sendo ambas essenciais, as universidades encontram-se frequentemente na seguinte situação: têm que pensar diferente e com irreverência, continuando a empurrar as fronteiras do conhecimento e da inovação; mas, ao mesmo tempo, muitos esperam delas soluções rápidas e eficazes para os problemas concretos, locais, regionais ou nacionais. Para que isto não se transforme numa situação paradoxal, em que nunca se pode ganhar, há que organizar as coisas de modo a especializar agentes e instrumentos institucionais: porque cada um não pode estar em todas as frentes! A UA e a cidade de Aveiro, na sua demanda por uma melhor cooperação, contam já com um preciosíssimo aliado: a rede EUniverCities, onde se reúnem 13 cidades de média dimensão pertencentes a 11 países diferentes – com as suas universidades. Aprendemos aí em conjunto, trocamos experiências, desenhamos projetos para ir mais além. 10 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção Tenho, agora, uma expectativa mais positiva em relação ao que pode vir a ser feito em termos de política da cidade com a UA. E proponho-me assumir a minha quota-parte de responsabilidade no processo colaborativo: percebendo que do ponto de vista da atratividade de cada uma delas, UA e Aveiro, e de inúmeras dinâmicas coletivas se ganhará cada vez mais. A este respeito, a integração de roteiros UA-Cidade (para o Sal, Arquitetura, Espaços Naturais, etc) ou da agenda cultural (para as artes, congressos, exposições) constituem outros tantos exemplos do que já está em marcha ou de que se terá que vir a fazer. Algumas das coisas que partilhamos com Aveiro-Cidade, partilhamo-las igualmente com Aveiro-Região e Comunidade Intermunicipal. Em muitos aspetos será também o caso de alguns desígnios por que deveríamos lutar e que constituíssem marcas distintivas. Usar a divulgação da Ciência – já referida – e outros instrumentos educativos no fomento do gosto pelo estudo, no combate ao insucesso escolar, na construção de perceções sociais mais corretas, na integração das comunidades mais desfavorecidas, na promoção da mobilidade social. Fazer da cidade e da região um caso exemplar no que se refere à bicicleta e à 11 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção “economia verde”, tirando partido de pontos fortes únicos. Prosseguir a qualificação dos serviços prestadores de saúde de modo a estarem à altura da excelência de outros sectores da Região. Continuar a cuidar do laboratório-vivo que é a Ria, sem descurar competências que permitam ocupar o lugar que nos é devido no Mar. Apostar, consistentemente, no triângulo empresasregião-conhecimento sobre o qual assenta já muito do nosso trabalho conjunto. Entendo a relação Cidade-Universidade como parte inalienável do caminho para uma Universidade Cívica que entende que o sentido da sua missão é ser melhor para alguma coisa, e não apenas melhor em alguma coisa. Trata-se de uma Universidade ativamente envolvida na sociedade, promovendo a excelência e a colaboração, de forma inovadora, transversal e em função das necessidades identificadas pela comunidade. A fronteira que se esbate entre a academia e a sociedade exigirá uma capacidade de permanente adaptação às novas exigências, necessidades e desafios desta última. A Universidade de Aveiro pode constituir-se como uma Universidade Cívica de nível mundial 12 Sessão de Abertura do Ano Letivo 2015'16 21 de outubro Intervenção do Reitor da Universidade de Aveiro, Prof. Doutor Manuel Assunção se continuar a apostar na internacionalização, na excelência da investigação, na qualidade inovadora e pertinente da sua formação, e na relação inseparável com a comunidade local, nacional e internacional. No entanto, o que a distinguirá significativamente das outras instituições é a capacidade de se afirmar por uma articulação, intencional e estratégica, das suas funções. É isso que tenho tentado fazer ao longo destes mais de 5 anos. E continuarei a tentar. Com a Cidade, naturalmente! Muito obrigado pela vossa presença. Um bom Ano Académico para todos! 13