Capital Social, Religiosidade e Desenvolvimento no Sul do Brasil
IX Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
Daniel da Silva Becker1, Alessandra Heller Reis2, Valdir Pedde1 (Orientador)
1
Centro Universitário Feevale, 2 Centro Universitário Feevale
Resumo
Este projeto de pesquisa pretende investigar e analisar as relações existentes entre
religiosidade (pentecostal e neopentecostal) e capital social na tradição de Robert Putnam,
comparando os resultados entre duas regiões do Rio Grande do Sul (Conselho Regional de
Desenvolvimento - COREDE Vale do Sinos e Nordeste do Estado). Assim, os resultados
desta pesquisa comparativa entre essas regiões do Estado podem apontar a forma pela qual o
fenômeno religioso está associado ao capital social e, conseqüentemente, ao desenvolvimento
local, alinhado ou não a ele.
Introdução
A partir da queda do Muro de Berlim, o capitalismo foi compreendido por alguns estudiosos
do fenômeno social como a única alternativa concreta e viável para o desenvolvimento
econômico, humano e social. Porém, mesmo com financiamentos de algumas organizações
mundiais para projetos de desenvolvimento sócio-econômico, os resultados não têm
alcançado os objetivos inicialmente propostos (Rattner, 2003). A questão que emerge desse
quadro é a necessidade da construção de uma política social e econômica alternativa. Nesse
sentido, o conceito de capital social tem crescido em importância nos debates de
pesquisadores.
Ao mesmo tempo, no Brasil, tem-se observado o crescimento das instituições religiosas de
cunho pentecostal e neopentecostal nos últimos decênios. O seu aumento numérico e o
considerável poder de aglutinar os fiéis em torno de seus projetos têm permitido a sua
incursão em várias esferas da sociedade, inclusive no campo político, midiático e social.
Nossa questão de pesquisa consiste em analisar o impacto exercido pelo fenômeno religioso
IX Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2008
sobre a composição do tecido social, mais especificamente, investigar a relação existente
entre religiosidade e capital social. Considerando a amplitude do espectro religioso
contemporâneo,
restringiremos
nossa
pesquisa
às
denominações
pentecostais
e
neopentecostais, enfocando as três mais representativas no Rio Grande do Sul: Igreja
Assembléia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja Universal do Reino de Deus.
Metodologia
Este projeto de pesquisa utiliza tanto a pesquisa quantitativa quanto a pesquisa
qualitativa, buscando desenvolver uma triangulação na coleta de dados. No que se refere a
primeira, utilizamos dados da pesquisa “Democracia e capital social na Região do Vale do
Rio dos Sinos” 1, aplicada em 14 cidades do COREDE Vale do Sinos, em 2007, na qual foram
entrevistados 596 indivíduos. Além disso, será utilizado o banco de dados do COREDE
Nordeste organizado pelo professor Hemerson Pase da Universidade de Caxias do Sul. Esta
pesquisa é um estudo de caso.
As técnicas utilizadas na pesquisa de campo serão as da observação direta dos momentos
cultuais, com descrição dos mesmos e de entrevistas, realizadas tanto com lideranças das
denominações em estudo, quanto junto aos participantes ativos destas comunidades. Tal
procedimento objetiva identificar opiniões e experiências de vida, bem como descobrir os
fatores que influenciam essas opiniões, sentimentos e condutas dos entrevistados. Para tanto,
serão utilizadas entrevistas semi-estruturadas, que possibilitam uma interação mais livre com
os entrevistados.
Resultados (ou Resultados e Discussão)
Já existem estudos suficientes comprovando que o conceito de capital social é importante para
promover o desenvolvimento regional e reduzir a pobreza. Assim, as ações de planejamento e
de políticas de desenvolvimento não podem ignorar as redes de informação elaboradas pelos
próprios grupos locais, ou seja, deve levar em conta esse conceito. Neste projeto, utilizamos a
dimensão teórica de capital social proposta por Robert Putnam (2000) que trabalha com a
idéia de capital social como um bem comunitário.
Para Putnam (2000), capital social são práticas sociais, normas e relações de confiança que
existem entre cidadãos numa determinada sociedade, bem como sistemas de participação e
associação que estimulam a cooperação. Deduz-se dessa conceituação que, quanto maior for a
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capacidade dos cidadãos de confiarem uns nos outros para além de seus familiares, assim
como quanto maior e mais rico for o número de possibilidades associativas numa sociedade,
mais concentração de capital social haverá.
Como o capital social é determinado por redes de cooperação destinadas a produção de bens
coletivos, podemos destacar como hipótese, a participação de denominações religiosas na
construção dessa rede, uma vez que a religião acaba por estabelecer laços de confiança e
solidariedade em um determinado grupo de indivíduos. Seguimos a tradição Weberiana, na
qual, a religiosidade de viés protestante está associada ao desenvolvimento do capitalismo
moderno. Entre outros aspectos, isto se deve ao fato de que, para Max Weber (2004),
historicamente, este determinado credo religioso fomentou e estimulou laços de solidariedade
e confiança mútua, ou seja, capital social de acordo com Putnam (2000), fundamental para a
estruturação e o desenvolvimento capitalista.
Conclusão
Dessa forma, considerando que “na religião encontram-se as principais dimensões da cultura
de uma sociedade ou grupo social” (Pedde, 2003), e o crescimento das instituições religiosas
de cunho pentecostal e neopentecostal nos últimos decênios no Brasil, um estudo sobre a sua
relação com o capital social torna-se imprescindível. Além disso, os resultados desta pesquisa
possibilitarão ao poder público, se este assim o desejar, entender e estreitar vínculos com
quais tipos de religiosidade poderão contar para o desenvolvimento de atividades junto às
comunidades atendidas ou o estabelecimento de alguma política pública que vise o
desenvolvimento local.
Referências
PEDDE, V., Durkheim, Weber e a questão religiosa. In: KUHN JÚNIOR, N. (org.). Reflexões Sociológicas: o
avesso da ordem e da desordem. Novo Hamburgo: Feevale. 2003.
PUTNAM, R., Comunidade e Democracia. A experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: editora FGV.
2000.
RATTNER, H., Prioridade: construir capital social. Revista Espaço Acadêmico: Vol. 2, N° 21 (2003).
Disponível em http://www.espacoacademico.com.br/021/21rattner.htm. Acesso em: 28 abr. 2008.
WEBER, M., Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo: Vol. 1 e 2 (2004).
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Dados elaborados pelo CPP/Feevale.
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61015 - Daniel da Silva Becker