Instituições, Estruturas Sociais e Meio-ambiente sob a ótica do Desenvolvimento Sustentável Por um quadro de análise do Vale do Ribeira Paulista Carolina Simões Galvanese [email protected] Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e atual aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Energia da Universidade Federal do ABC. Resumo O equacionamento do dilema entre crescimento econômico e conservação ambiental que constitui a base das reflexões acerca do desenvolvimento sustentável tem sido proposto, nos últimos anos, a partir de referências teóricas caracterizadas pela centralidade de dimensões analíticas que, ainda que fundamentais ao entendimento dos processos de desenvolvimento, não são capazes de explicá-los. A sustentabilidade envolve múltiplas dimensões, para além da econômica, ambiental ou institucional isoladamente, e exige, portanto, um quadro abrangente de análise. A necessidade desse aparato conceitual torna-se ainda mais evidente em casos como o do Vale do Ribeira paulista, que a despeito da presença da maior parte dos pré-requisitos destacados pela literatura como indispensáveis aos processos sustentáveis de desenvolvimento – proximidade de centros consumidores, sociedade civil organizada, abundância de recursos naturais e existência de instituições voltadas ao desenvolvimento regional – segue sem conseguir traduzir essas características em vantagens capazes de promover um dinamismo econômico e uma melhora das condições de vida de sua população. Este artigo buscará contribuir com a discussão acerca dos fatores responsáveis pela situação de estagnação da região e pelas concretas possibilidades abertas à sua mudança, através do esboço de um quadro de análise que busque agregar as diferentes dimensões e possibilite a formulação de estratégias compatíveis com a realidade e dinâmica locais. São Paulo, Maio/08 1. Introdução Desde o início dos anos 70, a questão ambiental vem cada vez mais tomando corpo nos debates sobre o desenvolvimento. Após um longo processo de institucionalização da questão e de tomada de consciência por parte da comunidade internacional, que se iniciou com a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo em 72, e teve seu auge na conferência realizada no Rio de Janeiro em 92, o consenso acerca do chamado desenvolvimento sustentável é inegável (GUIMARÃES, 1997). Esse consenso, porém, não tem sido acompanhado por uma convergência das reflexões sobre quais os caminhos capazes de promovê-lo. Inúmeras formas de equacionamento do dilema entre crescimento econômico e conservação ambiental têm sido propostas com base em diferentes aparatos explicativos sobre as formas de relacionamento entre economia e meio-ambiente, que enfatizam diferentes elementos como variáveis centrais em suas reflexões. É o caso, por exemplo, dos mecanismos de valoração ambiental como forma de mitigação dos impactos causados na natureza pelas atividades econômicas. Fortemente relacionadas ao aparato explicativo neoclássico, dominante na economia, essas estratégias baseiam-se na supremacia da esfera econômica sobre a esfera ambiental, esta passível de ser regulada pelo sistema de preços, incentivando a ação dos agentes econômicos em direção à substituição dos recursos produtivos escassos através de sua taxação monetária. Ou o caso de mecanismos de pagamento por serviços ambientais, cujas premissas convergem fortemente com as idéias de uma vertente que vem ganhando força na economia, após um longo período em que chegou a ser abolida dos manuais econômicos - a economia ecológica. Baseada na idéia de economia como capítulo da ecologia, essa vertente entende que, muitos dos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas naturais estão além da dimensão econômica e não podem ser regulados por ela, devendo ser, mais do que mantidos, subsidiados. Ou ainda, o caso das instituições como principal meio de se promover a sustentabilidade, idéia que, relacionada à Nova Economia Institucional e ao pensamento institucionalista na Ciência Política, foi responsável pela disseminação de um grande número de instituições voltadas ao desenvolvimento sustentável nos últimos anos, tanto no âmbito internacional – em organizações como o PNUMA, por exemplo – quanto em contextos regionais como o do Brasil, como forma de facilitar o diálogo e o estabelecimento de acordos e regras acerca do uso dos recursos naturais. Diante da pluralidade de propostas e reflexões acerca dos meios de promoção da sustentabilidade, cada uma com ênfase em um elemento-chave capaz de conduzir a mudança dos atuais padrões de uso dos recursos naturais – os preços e o sistema econômico para a economia neoclássica; a necessidade de mudança qualitativa nos processos de desenvolvimento rumo à conservação dos recursos naturais, para a economia ecológica; e o estabelecimento de instituições capazes de coordenar os agentes e incentivar atividades sustentáveis, para a Nova Economia Institucional e correntes institucionalistas na Ciência Política – o fato é que nenhuma delas, isoladamente, é capaz de prover um quadro analítico que dê conta de equacionar a multiplicidade de dimensões agrupadas sob o conceito de sustentabilidade. O foco em apenas uma delas – social, econômica, ambiental ou institucional – impossibilita a proposição de iniciativas de desenvolvimento que consigam, de fato, alcançar a tripla eficiência – alocativa, distributiva e ambiental - que constitui o principal resultado esperado de processos sustentáveis de desenvolvimento (SACHS, 2004; SUNKEL, 1980; VEIGA, 2005). Isso porque a configuração e a interelação entre essas dimensões é que devem ser entendidas e priorizadas na promoção da mudança necessária. Não só a presença desses elementos, mas suas múltiplas determinações (PZEWORSKI, 2005) podem explicar as diferentes trajetórias apresentadas pelas diferentes localidades e suas possibilidades de pôr em prática modelos concretos de desenvolvimento economicamente dinâmicos, socialmente includentes e ambientalmente sustentáveis, diferentemente dos modelos dominantes fundamentados no crescimento econômico como objetivo principal. A parcialidade das vertentes que se voltam à reflexão acerca das relações entre economia e meio-ambiente favorece o distanciamento entre o aspecto normativo envolvido na idéia de desenvolvimento sustentável e sua realidade concreta, já que à multiplicidade de dimensões envolvidas no conceito não corresponde uma multiplicidade de elementos considerados pelos modelos consagrados de análise. A falta de referência das estratégias econômicas e instituicionais de promoção da sustentabilidade às dinâmicas históricas, sociais e ambientais das regiões em que elas são implementadas pode responder pelo seu fracasso em conduzir mudanças significativas nos modelos de desenvolvimento experimentados até aqui. Torna-se assim necessária a construção de um quadro analítico abrangente que agregue as várias teorias e suas respectivas dimensões explicativas centrais em um modelo histórico e estrutural de reflexão acerca do desenvolvimento e suas relações com o meio-ambiente. Com esse intuito, o presente artigo buscará esboçar um quadro de análise de um caso empírico – o Vale do Ribeira, caracterizado pelos baixos indicadores sociais e econômicos e por um grande número de conflitos e disputas envolvendo o acesso e uso de recursos naturais – que seja capaz de entender como se dá o relacionamento empírico entre as dimensões agrupadas sob a idéia de desenvolvimento sustentável. Serão, inicialmente, apresentadas essas dimensões e as teorias que se dedicam a elas – economia ambiental e ecológica, reflexões sobre os estilos de desenvolvimento, a nova economia institucional e o institucionalismo histórico. Buscando suas complementaridades, a teoria dos campos será apresentada como forma de agregá-las entendendo como elas se relacionam e quais os motivos que poderiam responder pelo fracasso das iniciativas de desenvolvimento historicamente implementadas na região. Por último, o artigo conta com a apresentação de algumas hipóteses teóricas derivadas do quadro conceitual apresentado, e o apontamento de procedimentos possíveis para entendê-las em uma realidade concreta como a do Vale do Ribeira. 2. O contexto do Vale do Ribeira O Vale do Ribeira está localizado ao sul do estado de São Paulo, na fronteira com o Paraná. Diferentemente de outras regiões do estado que tiveram seus ciclos econômicos ligados à presença de um grande número de terras agricultáveis, a região, de relevo acidentado, caracterizou-se pela mineração durante os séculos XVI e XVII, atividade que entrou em declínio no século XVIII com a descoberta de importantes jazidas no estado de Minas Gerais. A produção de arroz passou, então, a ser a principal atividade econômica local durante o século XIX, muitas vezes voltada à exportação. O declínio dessa atividade - em virtude das dificuldades de acesso aos centros consumidores -, juntamente com o início, no século XX, da imigração japonesa, que concentrou as terras produtivas nas mãos de proprietários imigrantes e transformou a população local em força de trabalho, contribuiram para a manutenção do isolamento do Vale em relação às principais atividades econômicas – principalmente o café – desenvolvidas no restante do estado, assim como para uma alteração significativa na configuração das forças sociais locais. A construção da Rodovia Régis Bittencourt, no final dos anos 50, permitiu uma maior integração do Vale aos centros consumidores mais próximos, como São Paulo e Curitiba, ao mesmo tempo em que agravou a situação fundiária por um processo de valorização de terras com direitos de propriedade indefinidos, agravando a atuação de grileiros e favorecendo a reprodução de uma situação local de estagnação e pobreza (RESENDE, 2002). A partir de então, os períodos que se seguiram foram marcados por um grande número de iniciativas governamentais voltadas ao desenvolvimento da região 1 , simultaneamente à ascensão da questão ambiental que motivou a criação de inúmeras unidades de conservação 2 . Por apresentar a maior área de Mata Atlântica preservada do país – 21% do que resta do Brasil cobrem, aproximadamente 60% de seu território - , a questão ambiental no Vale do Ribeira tem sido, nos últimos 50 anos, alvo de ações tanto por parte do governo quanto de entidades ambientalistas interessadas na manutenção e preservação da área. As iniciativas públicas desencadeadas a partir dessa última etapa da história regional parecem ter contribuído para a contenção da degradação florestal, que vinha ocorrendo a passos largos. Porém, elas deram lugar a novos conflitos envolvendo, de um lado, as autoridades municipais locais - que passaram a vêlas como restrições às possibilidades de instalação de indústrias e ampliação da atividade agrícola, comprometendo o dinamismo econômico regional – e de outro, populações tradicionais que passaram a sofrer sérias restrições a seus antigos métodos de cultivo (RESENDE, 2002). Ao mesmo tempo, o crescente interesse na exploração do potencial hidrelétrico da região por parte de grupos privados favoreceu o acirramento dos debates acerca da questão ambiental e das formas de apropriação e uso dos recursos naturais locais. Proposta pela CBA – Companhia 1 Como a criação da Sudelpa – Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista – em 1969 que, pautada por um ideal progressista, tinha como meta a integração do Vale ao restante do estado através do fomento a grandes obras voltadas à produção industrial, em grande medida desrespeitando aspectos ocupacionais fundamentais da região, já que loteava as terras em desacordo com a realidade de muitas das comunidades ali residentes (RESENDE, 2002). 2 Entre 1959 e 1995 foram criadas doze unidades de conservação ambiental, sob diferentes regimes jurídicos, cada qual com regras específicas de acesso e uso de recursos (RESENDE, 2002).. Brasileira de Alumínio -, empresa do grupo Votorantin, a barragem de Tijuco Alto 3 começou a ser discutida nos anos 80, como estratégia para que a empresa alcançasse auto-suficiência energética para a produção do alumínio. Desde então, o processo de licenciamento junto aos órgãos ambientais – inicialmente as secretarias estaduais de meio-ambiente de São Paulo e Paraná, e posteriormente, o Ibama, considerado como instância legítima para análise do processo devido ao caráter federal do rio - passou por um grande número de avanços e retrocessos que culminaram na obtenção da licença prévia do Ibama por parte da CBA em 2007, após a realização de cinco audiências públicas nos municípios de Cerro Azul/PR, Adrianópolis/PR, Ribeira/SP, Eldorado/SP e Registro/SP. O parecer que outorgou a licença tem sido altamente questionado pelos movimentos ambientalistas e organizações locais contrárias à construção da barragem, já que estaria ignorando tanto as recomendações de aprofundamento dos estudos de impacto ambiental feitas pelo Ministério Público durante as audiências, quanto os posicionamentos contrários de grande parte da população local. As discussões regionais decorrentes do longo processo de licenciamento ambiental do empreendimento acabaram por transformar a questão da barragem em um epifenômeno dos debates sobre o desenvolvimento regional, contando com portadores de discursos opostos quanto ao uso dos recursos naturais locais e as formas de promoção do desenvolvimento: por um lado, grupos favoráveis à barragem enfatizam os benefícios provenientes de um empreendimento como Tijuco Alto, como os royalties recebidos pelos municípios atingidos e sua consequente dinamização econômica, com aumento de empregos durante o período de construção da hidrelétrica; por outro, grupos contrários que ressaltam a importância de manutenção da biodiversidade local, por meio da priorização de estratégias de desenvolvimento voltadas à conservação dos recursos e regularização de seu uso pelas comunidades locais (COELHO et al., 2007). Os dilemas acerca da construção da barragem constróem, assim, um fenômeno no qual se torna possível uma visualização dos posicionamentos das forças sociais locais com relação aos modelos de desenvolvimento concorrentes na região e uma apreensão das consequentes contradições do território, já que envolve uma pluralidade de agentes com diferentes discursos acerca do meio-ambiente. A questão fundiária somada às lutas contra as barragens e ao processo crescente de afirmação e reconhecimento de grupos étnicos locais 4 , criaram no Vale um ambiente hoje caracterizado por uma intensa mobilização da sociedade civil em organizações de orientações diversas – ambientalistas, sindicais, religiosas e voltadas ao desenvolvimento regional, além de comunidades tradicionais e grupos historicamente ligados à agricultura familiar (RESENDE, 2002; COELHO et al., 2007). Ao mesmo tempo a região assistiu, nos últimos vinte anos, à criação de 3 Uma das quatro barragens propostas como forma de aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio Ribeira de Iguape pelo estudo de inventário realizado nos anos 50 pelo antigo DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo. 4 O Vale conta com 12 aldeias Guarani Mbyá e Ñandeva, mais de 80 comunidades caiçaras, mais de 80 comunidades remanescentes de quilombos e agricultores familiares que se dedicam ao cultivo da banana e de roças de mandioca, milho e outros itens voltados à sua subsistência (www.socioambiental.org). espaços institucionais voltados à inclusão desses diferentes grupos na formulação de políticas para a gestão dos recursos naturais e promoção do desenvolvimento regional – como é o caso do Comitê de Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape (CBH-RB), que lida com recursos do Fehidro, ou do Consad - Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local ligado ao programa Fome Zero, que conta com financiamentos dos ministérios do desenvolvimento agrário, desenvolvimento social e meio-ambiente. Muitas das características apresentadas até agora - a grande concentração de remanescentes de Mata Atlântica, a proximidade de duas importantes regiões metropolitanas, organização da sociedade civil e a existência de instituições voltadas ao desenvolvimento regional - são entendidas como vantagens comparativas importantes para a maior parte da literatura que se dedica ao entendimento dos diferentes estilos de desenvolvimento e à elaboração de estratégias territoriais para sua promoção (ABRAMOVAY, 2006; SCHJETMAN & BERDEGUÉ, 2004; FAVARETO, 2007). De acordo com essas abordagens, processos efetivos de dinamização econômica e consequente melhora das condições de vida são possibilitados pela existência de elementos ambientais, sociais e institucionais semelhantes aos apresentados no Vale do Ribeira. No entanto, ao longo da história regional, o que se vê é a permanência da estagnação econômica e dos baixos índices locais de desenvolvimento humano, a despeito das inúmeras iniciativas de desenvolvimento ali implementadas, o que sugere que a simples presença desses elementos não é garantia de processos social, econômica e ambientalmente sustentáveis. 3. Discussão teórica Buscando evidenciar os fatores que respondem pela situação de estagnação e pobreza do Vale e pelas possibilidades concretas abertas à sua mudança, torna-se fundamental o esboço de um modelo de análise capaz de agregar as diferentes dimensões envolvidas nos processos de promoção do desenvolvimento sustentável. Esta seção do artigo estará voltada à apresentação das principais correntes teóricas que se dedicam ao entendimento das relações entre desenvolvimento e meio-ambiente, através de diferentes pontos de vista analíticos – econômico, ambiental ou institucional - que, em conjunto, podem fornecer importantes elementos à compreensão do contexto e dinâmica regionais. Cada uma delas enfatiza dimensões específicas e diferentes elementos como promotores da mudança em direção à sustentabilidade, e o que se buscará enfatizar são os ganhos teóricos provenientes de suas complementaridades na análise dos processos de desenvolvimento. 3.1. Crescimento econômico e sistema de preços como mecanismos promotores da mudança Os mecanismos de valoração como forma de equacionamento entre crescimento econômico e conservação ambiental estão centrados na idéia de que os instrumentos econômicos são capazes de mitigar os impactos ambientais causados pelas atividades econômicas, através da taxação de recursos não-renováveis de acordo com o sistema de mercado como forma de propiciar sua substituição por recursos renováveis e de exploração menos agressiva ao meioambiente. Como dito, essa linha de reflexões, designada como economia ambiental (Grossman & Krueger, 1990), tem por base a escola neoclássica, vertente dominante na economia que se desenvolve a partir de três pilares fundamentais: visão do sistema econômico como um sistema isolado, sem relações com a ordem estrutural ou ambiental dos contextos onde opera; pressuposição da idéia de que os agentes econômicos, dotados de uma racionalidade utilitária e maximizadora, agiriam mecanicamente em busca da satisfação de interesses supostamente universais, sem referência a contextos sociais e históricos específicos; e idéia de mercados enquanto sistemas completos de informação – os sistemas de preços – funcionando enquanto sinalizadores capazes de orientar as condutas econômicas em direção a um equilíbrio ótimo (NEE, 2005). Impulsionada pela necessidade de solução dos crescentes problemas ambientais nos países de capitalismo avançado, a economia ambiental assume as previsões otimistas da economia neoclássica acerca do sistema de preços como instrumento de informação fundamental na coordenação das ações econômicas, e constrói um modelo que entende a dimensão ambiental como conjunto de insumos indispensáveis à atividade econômica e passíveis de serem entendidos e monetizados como bens de mercado. Sobre o crescimento econômico, essa corrente o entende como principal meio de se atingir menores níveis de degradação ambiental, que diminuiria substantivamente após estabelecidos níveis mínimos de renda em uma sociedade. Tomando de empréstimo a curva de Kuznets 5 , Grossman & Krueger (1990) desenham a “curva ambiental de Kuznets”, uma representação gráfica da degradação ambiental em função do crescimento econômico que, uma vez atingindo um patamar mínimo, permitiria a sustentabilidade. Respondendo a questionamentos acerca das possibilidades efetivas de regeneração dos danos ambientais causados pelo crescimento econômico, a economia ambiental enfatiza a tecnologia como fator capaz de mitigá-los. A crença no desenvolvimento tecnológico é uma das marcas dessa vertente, que concentra suas reflexões sobre os instrumentos e pré-requisitos econômicos necessários à promoção da mudança em direção à sustentabilidade, entendida enquanto manutenção das bases de recursos necessárias às atividades econômicas. O sistema econômico estaria, então, inserido em um meio externo passivo, responsável por fornecer insumos e receber rejeitos aceitando razoavelmente bem, com ajuda da tecnologia, diferentes graus de degradação (MUELLER, 2007). 5 Expressão do comportamento das variáveis renda e desigualdade nos processos de crescimento econômico, foi usada durante os anos 50 para demonstrar a diminuição dos níveis de desigualdade a partir de um certo patamar mínimo de renda. 3.2. Potencialidades ambientais como variáveis-chave: economia ecológica e estilos de desenvolvimento Em resposta ao otimismo tecnológico e no sistema de preços da economia ambiental, bem como à sua visão de meio-ambiente enquanto fornecedor de insumos e receptor de rejeitos da atividade econômica, a vertente ecológica da economia (Georgescu-Roegen, 1973; Daly, 1996) a entende enquanto capítulo da ecologia. Contrariando as análises mecanicistas da economia neoclássica aplicadas à economia ambiental, esssa vertente utiliza-se de duas leis da termodinâmica – o princípio da conservação da energia e a lei da entropia – para analisar as relações entre o meio-ambiente e os sistemas econômicos. A lei da entropia postula que, em um sistema isolado, a energia disponível é contínua e irreversivelmente transformada em energia indisponível, até desaparecer completamente. Utilizada pela vertente ecológica da economia, ela resultou em reflexões acerca da insustentabilidade de longo-prazo dos sistemas econômicos, já que estes estariam baseados no uso de matéria e energia de baixa entropia contidos nos estoques terrestres, que estariam em processo de esgotamento através da aceleração entrópica representada por processos de desenvolvimento baseados na industrialização e uso intensivo desses recursos naturais (MUELLER, 2007). A economia ecológica de Georgescu-Roegen consiste em uma visão bastante pessimista do futuro do planeta, enxergando o colapso inevitável dos ecossistemas proveniente da contínua exploração de recursos não-renováveis e estoques energéticos pelas atividades econômicas (MUELLER, 2007). As reflexões que se seguiram à de Georgescu amenizam um pouco esse pessimismo, buscando saídas à degradação ambiental. A solução proposta por Daly (1996) enfatiza a importância de uma alteração na natureza do crescimento econômico. O estado estacionário proposto por essa vertente, seria uma situação não estática (como afirmaram muitos de seus críticos), mas de crescimento qualitativo, em que bens existentes passariam a ser substituídos por outros de qualidade superior. Além disso, o programa bioeconômico proposto por essa vertente conta ainda com soluções como banir a guerra e a produção de armas, reduzir a população mundial a níveis compatíveis com a agricultura orgânica, reciclar rejeitos e investir na produção de mercadorias duráveis. O que essa vertente não explica são as formas pelas quais se daria a mudança de comportamento necessária ao alcance desses objetivos, faltando, assim, o elemento responsável pela mudança. A economia ecológica realiza importantes avanços em relação à ambiental – visão de meio-ambiente, mais do que provedor de insumos, como provedor de serviços ambientais relacionados aos ecossistemas e preocupação com o uso dos estoques finitos de recursos materiais e energéticos pelas atividades econômicas – transformando a lógica que entende a questão ambiental enquanto restrição às atividades econômicas em uma visão que enfatiza as potencialidades dos sistemas naturais em fornecer importantes serviços às sociedades que neles habitam. Algumas vertentes voltadas ao estudo dos fatores que determinam diferentes trajetórias de desenvolvimento guardam semelhanças com a idéia de que as potencialidades ambientais respondem pela principal dimensão analítica e propositiva a ser enfatizada, como é o caso dos estudos de Jared Diamond – que buscam elencar os elementos naturais responsáveis pelos diferentes caminhos seguidos pelo Velho e Novo mundo no início das colonizações – e de Osvaldo Sunkel – que, através de uma ênfase nas particularidades ambientais e geográficas de cada região específica, relaciona a sustentabilidade a estilos de desenvolvimento ancorados nas bases de recursos disponíveis em cada sociedade. Tendo como ponto de partida o questionamento acerca dos motivos que levaram os europeus à colonização do Novo Mundo e não o contrário, e contrariando a idéia de que os diferentes padrões históricos entre os povos estariam relacionados às suas diferenças biológicas, o biólogo Jared Diamond enfatiza a dimensão ambiental dos processos de desenvolvimento com foco nos diferentes potenciais ambientais disponíveis aos diferentes grupos humanos, para além do tratamento do meio-ambiente pela via dos impactos provenientes da economia. A história teria seguido diferentes rumos para os diferentes povos devido às diferenças entre os ambientes em que viviam (DIAMOND, 2002). As diferenças continentais entre espécies de plantas e animais, e a existência de barreiras ecológicas mais ou menos transpassáveis influenciando o ritmo e o sentido da difusão de inovações tecnológicas consistiriam características iniciais das trajetórias continentais auto-reforçadas longo do tempo. Diamond desenvolve sua análise dos processos de desenvolvimento enquanto trajetórias históricas reforçadas pelo aprofundamento e acentuação das vantagens iniciais responsáveis pelos diferentes caminhos seguidos pelos países, entendendo essas diferenças como consequências das variadas bases de recursos apresentadas por eles no início dos processos de desenvolvimento, que condicionariam os investimentos em certos tipos de opções tecnológicas. Esses processos configurariam, assim, extensas cadeias causais que, se levadas em conta, podem contribuir com o entendimento dos diferentes estilos de desenvolvimento observados. Na linha das reflexões acerca das diferentes trajetórias apresentadas pelos países, principalmente entre o norte e o sul, destacou-se, no final dos anos 70 e início dos 80, no âmbito das análises desenvolvidas pela Cepal, uma vertente analítica voltada ao estudo das interelações entre os estilos de desenvolvimento e os problemas ambientais observados na América Latina, enfatizando a necessidade de estilos alternativos ao estilo dominante e capazes de promover melhores condições ambientais através de formas alternativas de uso dos recursos naturais disponíveis. Defendendo a necessidade de crescimento econômico para a melhora das condições de vida da população, essa vertente evidencia a importância de um estilo de desenvolvimento que incorpore a dimensão ambiental: 1) através de mudanças nos padrões de utilização dos recursos naturais, dependendo cada vez menos de fontes fósseis de energia e mais de fontes renováveis e menos contaminantes; 2) buscando tecnologias de uso intensivo de mão-de-obra e mais ajustadas à base de recursos naturais disponível, utilizando-se do reaproveitamento de resíduos e de conhecimentos e tecnologias apoiados em bases ecológicas; 3) baseando-se em formas administrativas e políticas descentralizadas e apoiadas em comunidades locais; e 4) atacando a expansão das cidades e os excessos do consumismo (SUNKEL, 1980). Ao contrário, o estilo ascendente norte-americano na América Latina teria suas bases no uso de recursos fósseis e não-renováveis, na mecanização dos processos produtivos industriais e agrícolas, na concentração geográfica de atividades produtivas traduzida nos intensos processos de urbanização, e na desigualdade da distribuição dos impactos ambientais (SUNKEL, 1980), além de uma falta de preocupação com as consequências ambientais de longo-prazo, o que teria levado à consolidação de um conhecimento parcial acerca do comportamento dos ecossistemas e suas reações aos impactos ambientais (SUNKEL, 1980). A planificação econômica e sua condução pelo Estado são, para Sunkel, indispensáveis para conduzir processos que satisfaçam as necessidades da população, bem como uma ampla participação dos setores sociais envolvidos na gestão dos recursos visando alterações nas formas produtivas rumo a processos de desenvolvimento menos predatórios. Essa vertente introduz a perspectiva ambiental do desenvolvimento reconhecendo que os processos de crescimento econômico devem ser condicionados pelo meio físico local, tanto porque este afeta o crescimento econômico, como porque é crescentemente afetado por ele à medida em que avança o processo de desenvolvimento (SUNKEL, 1980). Sunkel levanta a necessidade de análises integrais capazes de interpretar as interações entre os sistemas sociais e naturais, incorporando “as formas em que a ação antrópica influencia os sistemas, o grau em que se modificam atributos como estabilidade, elasticidade, etc, a comprovação de danos, os níveis de artificialização e sua capacidade de adaptação frente a mudanças de fatores climáticos, previsões em relação à eliminação de subsídios energéticos e comportamentos previsíveis, etc” (SUNKEL, 1980). As reflexões sobre os determinantes naturais do desenvolvimento enfatizam a importância de se tomar a dimensão ambiental para além dos impactos das atividades econômicas, invertendo o ponto de vista consagrado pelo mainstream econômico e partindo dela para pensar a economia, em vez do contrário. Processos sustentáveis estariam então - tanto para Diamond e Sunkel, quanto para a economia ecológica – relacionados à exploração das potencialidades ambientais de cada região específica, contra o estilo vigente que submete o meio-ambiente aos interesses do mercado. 3.3. Dimensão institucional como promotora da mudança A ênfase em arranjos institucionais como formas de promover processos sustentáveis de desenvolvimento ganha força a partir das reflexões da Nova Economia Institucional, que tem em Douglass North seu principal teórico. Buscando entender os processos desiguais de desenvolvimento econômico apresentados pelos diferentes países, North destaca o papel das instituições na configuração dos diferentes cenários observados. Entendendo-as como “the rules of the game in a society; more formally, they are the humanly devised constraints that shape human interaction. In consequence they structure incentives in exchange, whether political, social or economic” (NORTH, 1990), North se distancia dos postulados lançados pelas vertentes neoclássicas da economia – principalmente o equilíbrio de mercado proporcionado pelo sistema de preços e a ausência de custos de transação entre agentes econômicos dotados de informação perfeita. Ao contrário, enfatiza a existência de custos permanentes envolvidos nos processos de interação entre os agentes, que impediriam o equilíbrio dos mercados caso não existissem as instituições como mecanismos de regulação do comportamento dos agentes capazes de reduzir as incertezas envolvidas nos processos econômicos. Motivado pelo questionamento acerca dos motivos que responderiam pela permanência histórica de instituições pouco eficientes na garantia dos direitos de propriedade e na aproximação dos retornos individuais e coletivos, North utiliza-se da economia e das ciências da cognição para explicar os processos de path dependence responsáveis pelo aprofundamento de trajetórias institucionais particulares, motivados por mecanismos econômicos – retornos crescentes provenientes de investimentos em uma mesma trajetória com o passar do tempo – e por mecanismos cognitivos - que explicariam a tendência de os agentes buscarem soluções passadas para novos problemas, favorecendo, também, a reprodução de trajetórias institucionais já estabelecidas (NORTH, 2005). De acordo com ele, em contextos de complexa interdependência social, novas instituições representariam altos custos iniciais, explicados: a) pela existência de significativos efeitos de aprendizagem para as organizações que surgem em conseqüência de oportunidades oferecidas pelo aparato institucional corrente e passam a funcionar de acordo com ele; b) pelos efeitos de coordenação de uma instituição operante - via contratos com outras organizações ou investimentos em organizações complementares; e c) pelo processo de adaptação das expectativas dos agentes e organizações, já que a prevalência dos contratos baseados em uma instituição específica reduz as incertezas dos agentes sobre sua permanência (NORTH, 1990). Assim, uma matriz institucional produziria retornos crescentes em massa, incentivando a continuidade de investimentos em sua direção particular e dificultando a mudança de uma trajetória institucional específica através dos altos custos impostos à sua reversão. Seguindo essa mesma linha de argumentação, Elinor Ostrom irá delinear uma abordagem institucional aplicada às formas de acesso e uso dos recursos naturais. No livro Governing the Commons (1990), a autora se debruça sobre o desenvolvimento de instituições relacionadas ao uso de recursos hídricos, focando formas de arranjo institucional eficientes na solução dos dilemas envolvidos nos usos privados de recursos comuns. Nesse livro, Ostrom busca explicações para as formas pelas quais as instituições operam e como os indivíduos as mudam, através de uma análise dos CPRs (common-pool resources), suas regras de regulação, formas de interação entre os agentes e resultados favoráveis obtidos com esse tipo de arranjo. De acordo com ela, “neither the state nor the market is uniformly successful in enabling individuals to sustain long-term, productive use of natural resource systems” (OSTROM, 1990). Diferentemente de North – que entende o Estado como principal agente na garantia dos direitos de propriedade - ela vai buscar nas formas de coordenação criadas pelos atores a solução para os problemas relacionados à sustentabilidade dos recursos, limitando seu uso e garantindo sua viabilidade econômica de longo prazo. Criticando explicações consagradas acerca das regras de acesso e uso dos recursos - a tragédia dos comuns, o dilema do prisioneiro, e a lógica da ação coletiva – e as soluções delas decorrentes - governo centralizado ou privatização de recursos -, Ostrom sustenta que a alternativa está nas formas de coordenação criadas pelos próprios agentes, que garantiriam a manutenção dos recursos em longo prazo através de uma estratégia cooperativa. Esse modelo diminuiria os custos de transação e teria maior aderência aos comportamentos individuais. Assim, as “regras do jogo” influenciam na construção de formas eficientes de gestão do uso de recursos comuns, à medida em que diminuem os custos de transação entre eles, aumentam os incentivos para investimentos em determinadas direções e garantem o monitoramento do comportamento individual, evitando os comportamentos oportunísticos ou “free-riders” (OSTROM, 1990). Essa rápida exposição das principais idéias de North e Ostrom – importantes representantes da Nova Economia Institucional – permite perceber a centralidade atribuída às instituições como dimensões explicativas para os diferentes processos de desenvolvimento e para as possibilidades de construção de modelos eficientes de coordenação voltados ao uso dos recursos naturais. Entendidas enquanto mecanismos de incentivo capazes de direcionar os comportamentos dos agentes, elas responderiam pelas formas de interação entre eles e os resultados daí provenientes, sendo peça fundamental nos processos de desenvolvimento e na promoção de formas sustentáveis de relação com o meio-ambiente. 3.4. Dimensão histórica como variável explicativa Através da ênfase na dimensão histórica dos processos sociais, Paul Pierson desenvolve um diálogo com duas das linhas de análise institucional da ciência política – a teoria da escolha racional e o institucionalismo histórico – na busca da elaboração de um aparato conceitual centrado nos processos históricos de path dependence inerentes ao desenvolvimento institucional. Sem negar as contribuições oferecidas pelo pensamento econômico de Douglass North à análise histórica das instituições, Pierson discute os avanços e limites da utilização do aparato conceitual voltado a explicar o mundo econômico para o entendimento das instituições políticas. Para ele, a utilização desse referencial sem a ponderação das diferenças entre os dois universos teria acarretado inconsistências analíticas e suscitado questões que, mesmo que fundamentais para o entendimento do desenvolvimento institucional, não seriam as mais centrais para o estudo das possibilidades de mudança no campo político. Ele defende um aparato conceitual diferenciado que busque entender a mudança institucional a partir dos mecanismos responsáveis pela resiliência característica das instituições políticas. Os processos políticos, mais do que os econômicos, estariam sujeitos a mecanismos de positive feedback que o tornariam altamente resistentes à mudança. Esses mecanismos responderiam pelas persistências institucionais e pela crescente diminuição do número de alternativas possíveis resultante do aprofundamento de uma trajetória particular ao longo do tempo. As correntes institucionalistas da ciência política – de escolha racional e históricas – apesar de suas contribuições particulares, não teriam avançado, segundo Pierson, em direção às explicações acerca da origem e mudança institucional. De acordo com ele, o institucionalismo histórico teria se concentrado, até o momento, mais no desenho e funcionamento institucional e seus resultados políticos do que nas dimensões temporais dos processos analisados (PIERSON, 2004). Por outro lado, o institucionalismo de escolha racional teria por base a idéia de que a existência das instituições e os formatos que elas assumem seriam derivados diretamente dos interesses de quem as criou (PIERSON, 2004). As limitações desse tipo de abordagem se concentram, primeiramente, no fato de que nem todos os efeitos das instituições são antecipados ou previstos pelos agentes, o que impede que se entenda os resultados observados como conseqüências esperadas em sua criação. Além disso, os efeitos institucionais seriam, em sua maioria, resultados de extensos processos temporais, que complexificam as relações entre efeitos observados e causas funcionais aos interesses dos atores. Existem longas cadeias causais entre ações e resultados políticos que são responsáveis por constranger e direcionar o leque de possibilidades de alteração no curso de trajetórias institucionais estabelecidas, elementos que estariam fora do alcance das abordagens funcionalistas onde está ausente a dimensão temporal. Assim, Pierson e outros institucionalistas históricos como Theda Skocpol e Peter Evans, preocupados com os mecanismos responsáveis pelas persistências institucionais e possibilidades de mudança, e aproveitando os avanços que cada uma das abordagens em particular representaria para o estudo do desenvolvimento institucional – entendimento dos momentos de escolha institucional e influências do desenho nos tipos de resultados obtidos – desenvolvem suas argumentações acerca da path dependence em parâmetros analíticos diferentes do que aqueles tradicionalmente utilizados pela economia. Buscando o entendimento dos mecanismos e circunstâncias que conduziriam a padrões particulares de mudança nas instituições formais, Pierson olha para os arranjos institucionais através de um horizonte de longo-prazo, buscando iluminar os fatores temporais – timing e sequences - que seriam responsáveis pela estruturação das condições abertas à revisão institucional em cada momento histórico específico. Entender a mudança passaria, então, pelo entendimento dos fatores responsáveis pela inércia institucional que permitem a existência de continuidades ao longo do tempo, estabelecendo os contornos e limites dos eventuais processos de mudança que possam ocorrer. As análises institucionais devem estar, assim, voltadas aos processos históricos de desenvolvimento institucional, em busca dos mecanismos que fazem com que, em momentos específicos de uma extensa cadeia causal, certas trajetórias de desenvolvimento institucional sejam mais prováveis enquanto outras se tornem gradualmente inatingíveis. A principal contribuição desse tipo de abordagem acerca da path dependence para o objetivo aqui colocado está no fato de que ela coloca a história como dimensão explicativa central do argumento, buscando entender os processos institucionais para além de sua performance observada em momentos particulares, por sua vez entendidos como módulos de extensas cadeias temporais passíveis de serem observadas apenas sob a perspectiva de longo-prazo. Além disso, consiste em um referencial analítico que comporta explicações à mudança institucional, diferentemente das abordagens de North e da nova economia institucional que, apesar de terem contribuído fortemente com as reflexões acerca das instituições e processos temporais de longoprazo, não teriam fornecido elementos capazes de refletir acerca da mudança, mas da persistência institucional resultante dos retornos crescentes promovidos pelos investimentos em uma trajetória particular. A análise desenvolvida por Pierson enfatiza, assim, a necessidade de entendimento do desenvolvimento institucional enquanto processo histórico em que a cada momento particular corresponde uma configuração específica de fatores e mecanismos que, apresentando continuidades em relação aos momentos anteriores, limitam e direcionam as possibilidades de mudança institucional apresentadas aos agentes. As possibilidades de mudança são, assim, determinadas historicamente. 3.5. Vantagens e problemas Cada uma das teorias apresentadas dá atenção a uma das dimensões envolvidas na idéia de desenvolvimento sustentável. Isoladas, elas fornecem importantes contribuições ao debate acerca das formas de sua promoção, mas não dão conta do fenômeno como um todo, já que este requer um foco nas relações entre elas, para além de suas especificidades. Como dito, a economia ambiental enfatiza a importância de instrumentos econômicos na promoção da mudança rumo à sustentabilidade. Esses instrumentos podem ser importantes ferramentas para regular as trocas de bens de mercado. A questão é que os serviços prestados pelo meio-ambiente às sociedades não podem ser entendidos enquanto bens intercambiáveis nos mercados, o que restringe o alcance do modelo. Além disso, a sustentabilidade requer uma visão de longo-prazo, e a dimensão histórica está ausente nessas reflexões. No caso da economia ecológica e das análises sobre os estilos de desenvolvimento, os avanços apresentados são no sentido de se tomar a dimensão ambiental como ponto de partida para a análise da dimensão econômica do desenvolvimento, e não o contrário, como quer grande parte das análises ligadas às vertentes neoclássicas da economia. As bases de recursos condicionariam os estilos de desenvolvimento, que, para se aproximarem da sustentabilidade, devem estar de acordo com o potencial ambiental de cada localidade específica. Apesar dos avanços, porém, essas teorias não explicam os mecanismos capazes de promover a mudança necessária, propondo, apenas, o que seria o ideal do ponto de vista da conservação dos recursos, sem discorrer acerca dos meios que promoveriam a mudança de comportamento dos agentes econômicos necessária para operar as transformações em sua direção. Voltada também à explicação da mudança, a nova economia institucional enfatiza o papel central das instituições no incentivo e coordenação de agentes econômicos, contra a idéia de mercados enquanto sistemas transparentes de informação sinalizada através dos preços. Incorporando a dimensão histórica, North acaba por dar mais ênfase à persistência do que à mudança institucional, através da idéia de path dependence centrada em mecanismos econômicos e cognitivos de reprodução de padrões institucionais, e responsáveis pelas permanências observadas ao longo do tempo. Na mesma linha, Ostrom defende formas de coordenação entre agentes a partir de pressupostos econômicos acerca da racionalidade e de suas formas de ação. O estabelecimento de regras claras iria de encontro aos interesses dos agentes, consistindo uma solução para o problema do uso privado de recursos comuns. Porém, a autora não faz referência às estruturas sociais, responsáveis pela formação dos interesses e das diferentes formas de comportamento. Além disso, esses autores partem da premissa de que as instituições moldam as ações. Mas a forma como as instituições se relacionam e constrangem os comportamentos permanece obscura, ficando ausente do modelo explicativo um dos elementos centrais capazes de explicar os possíveis caminhos abertos à mudança. Apesar das contribuições à análise dos processos de desenvolvimento, vinculando-o às instituições que o dão suporte, a nova economia institucional prescinde de explicações mais consistentes acerca das relações entre regras institucionais e o repertório de comportamentos inscritos nas estruturas sociais onde elas operam. A abordagem histórica proposta por Pierson para o estudo da mudança institucional, por outro lado, enfatiza a importância central das dimensões temporais que acompanham os processos sociais, através da idéia de path dependence institucional, responsável pelas possibilidades abertas à mudança em momentos históricos concretos. Contudo, ao mesmo tempo em que reconhece a importância desses fatores na configuração dos resultados institucionais, ele desenvolve sua abordagem tendo por referência uma concepção de história sem agentes, o que resulta em uma reflexão que confere muito peso aos mecanismos de auto-reprodução inerentes à lógica institucional e poucas referências a agentes sociais concretos. Diante do fato de que os espaços institucionais e suas regras são, ao menos em parte, desenhadas pelos próprios agentes, torna-se necessária uma explicação que, para além de uma análise dos mecanismos institucionais e seus resultados sociais, entenda os agentes concretos que criam as instituições e que nelas atuam. 3.6. Teoria dos campos e o enraizamento social das instituições Na busca da agregação das diferentes dimensões apresentadas – econômica, ambiental, institucional e histórica – a teoria dos campos pode oferecer importantes ferramentas analíticas ao entendimento mais completo dos processos de desenvolvimento e da importância de reflexões que foquem as relações entre os sistemas econômicos, meio-ambiente, instituições e história, através da ênfase na configuração das estruturas sociais e suas dinâmicas concretas. Em suas análises, Bourdieu (2000) e Fligstein (2003) se concentram nas formas pelas quais as relações de poder influenciariam a formação de interesses e comportamentos dos agentes sociais e na concentração de formas de capital – social, informacional e simbólico – ou habilidades sociais (social skills) por grupos em posição de domínio na estrutura social. Em “Las estruturas sociales de la economía” (2000), Bourdieu desenvolve uma análise do que chama de campo econômico através de um instrumental teórico baseado nos conceitos de habitus, campos e estruturas de poder. De acordo com ele, a economia teria procedido à separação de “uma categoria particular de práticas da ordem social em que todas as práticas humanas estão imersas” (BOURDIEU, 2000), e isso teria resultado em abordagens que entendem o conjunto de disposições dos agentes econômicos como algo objetivo e universal. Sua reflexão baseia-se na defesa de modelos históricos para a análise das ações e instituições econômicas, entendendo que as disposições à ação são endógenas e guardam uma estreita relação com as posições ocupadas pelos agentes na estrutura do campo econômico. Diferentemente da visão neoclássica sobre a ação racional e auto-interessada, Bourdieu elabora uma explicação que entende o campo econômico como um campo de conflitos estruturado, regido por leis próprias, em que a cada posição de sua estrutura corresponderia um repertório limitado de possibilidades de ação. As disposições à ação são, nessa visão, socialmente construídas a partir de relações de força e da desigualdade de distribuição das diferentes formas de capital entre os agentes, que atuariam através de estratégias inscritas em pressões estruturais e adquiridas pela aprendizagem proveniente de um prolongado confronto com as regularidades do campo (BOURDIEU, 2000). Bourdieu propõe uma teoria social voltada a mostrar como se formam, histórica, política e culturalmente, essas disposições sociais à ação, entendidas enquanto resultados das estruturas sociais incorporadas nos agentes e que conformam tanto seu leque de possibilidades de ação como suas estruturas cognitivas e suas interpretações acerca do mundo onde vivem. Na mesma linha de raciocínio encontra-se Neil Fligstein, teórico que através da noção de campo elabora reflexões a respeito da cooperação entre os atores nas diferentes ordens sociais. A posse de habilidades envolvidas nas estratégias de busca pela cooperação de outros atores (social skills) é que atribui poder aos agentes, e acaba por configurar a estrutura dos campos em que eles estão inseridos. Dada a distribuição desigual de habilidades sociais num determinado campo, a cooperação social baseia-se, para Fligstein, na capacidade de alguns grupos em interferir nos processos de formação de significados acerca da ação social, elaborando as regras de acordo com seus próprios interesses e generalizando-as através de coalizões políticas que os conferem poder (FLIGSTEIN, 2003). As reflexões desenvolvidas pelos dois autores postulam a existência de mecanismos de reprodução das estruturas dos campos – disposições adquiridas ou habitus, no caso de Bourdieu, e habilidades sociais para Fligstein – resultantes de processos sociais que teriam como portadores agentes sociais concretos que não estão presentes nas reflexões de Pierson acerca dos processos de desenvolvimento institucional. Além da explicação sobre essa tendência à reprodução característica dos diversos campos que constituem a vida social, através da incorporação das estruturas sociais por parte dos agentes que neles atuam, a teoria dos campos fornece importantes elementos para a construção de um aparato teórico capaz de entender os processos de mudança social. Trata-se de uma abordagem histórica, compatível com os postulados de Pierson acerca da importância das dimensões temporais, à medida que as disposições dos agentes e suas repercussões para a manutenção ou a mudança social remetem à gênese e evolução dos campos. Além disso, caracteriza-se por um aparato conceitual que permite olhar para os agentes concretos inseridos nos processos de persistência institucional, complementando as análises que apresentam como foco as dimensões institucionais dos processos de desenvolvimento. 4. Considerações finais e implicações para um quadro de análise do caso proposto Como dito, o desenvolvimento sustentável envolve múltiplas dimensões que devem ser entendidas em suas relações pelas iniciativas voltadas a promovê-lo. O foco em exclusivamente uma delas, ainda que represente importantes contribuições analíticas, configura apenas módulos explicativos de um problema que requer um quadro abrangente de análise. Isso porque processos concretos de desenvolvimento referem-se diretamente às configurações sociais e históricas com que eles se deparam, e iniciativas que não as levem em conta dificilmente lograrão os êxitos esperados. Dessa forma, para o esboço de um modelo analítico capaz de refletir a complexidade encoberta pelo adjetivo “sustentável” do desenvolvimento, algumas hipóteses podem ser derivadas das teorias apresentadas: a) a limitação dos instrumentos econômicos de promoção da sustentabilidade; b) a necessidade de complementaridades entre as diversas instituições que operam em um ambiente institucional; c) a necessidade de ênfase na dimensão histórica das instituições e seus mecanismos de permanência (path dependence) para entender as reais possibilidades de mudança em cada momento específico de extensas cadeias de eventos; d) a importância da ênfase no enraizamento social das instituições e necessidade de aderência entre instituições e estruturas sociais para que elas se constituam, de fato, enquanto caminhos para a mudança; e) o reconhecimento de que, mais do que um alinhamento de diferentes interesses, as instituições refletem os interesses dos grupos melhores posicionados nas estruturas sociais que as baseiam, expressando desigualdades de poder e acesso a elas; e f) a necessidade de aderência dos processos de desenvolvimento à base de recursos de uma região como caminho para a sustentabilidade. No caso do Vale, essas hipóteses teóricas implicam olhar a questão da barragem de Tijuco Alto buscando entender como os parâmetros priorizados pelas diferentes disciplinas se relacionam em uma situação empírica. Como dito anteriormente, o caso de Tijuco Alto reflete os impasses vividos pelo território do Vale do Ribeira e apresenta muitos dos elementos citados na bibliografia selecionada. Diferentes grupos que portam interesses diversos e se relacionam por meio de redes distintas de interação, carregam posições opostas sobre a construção da usina tendo por base diferentes formas de uso dos recursos naturais. Por um lado, os grupos favoráveis à obra – como prefeitos municipais e sindicatos patronais - entendem que o potencial hídrico local deve ser utilizado com a implementação de grandes empreendimentos como Tijuco Alto, entendendo o meio-ambiente enquanto provedor de recursos necessários ao crescimento das atividades econômicas. Por outro, os grupos contrários à obra – como o Movimento dos Ameaçados por Barragens e as comunidades remanescentes de quilombos - evidenciam os danos sociais e ambientais que esse empreendimento poderia vir a causar, priorizando atividades sustentáveis de geração de renda possibilitadas pelo acesso a financiamentos que não passam pelas instituições locais voltadas ao desenvolvimento regional (COELHO et al., 2007). Como esses elementos se relacionam impossibilitando a solução do conflito deve ser o foco do quadro analítico proposto. Por meio das contribuições oferecidas pela teoria sociológica dos campos de Bourdieu e Fligstein, tornou-se evidente que a chave para entender a permanência dos baixos indicadores apresentados no Vale não pode estar somente nas instituições em si, mas no seu enraizamento social. Esse enraizamento poderia ser traduzido por uma hipótese geral resultante do quadro analítico proposto e que consiste em afirmar que o bloqueio à mudança que seria coerente com a retórica do desenvolvimento sustentável está na dependência de percurso de que é tributário o ambiente institucional local, na sua incoerência para com a estrutura de incentivos e sanções que se teria que erigir para materializá-la, e nas heranças particulares de cada uma das forças sociais hoje responsáveis pelos rumos da economia regional. Dessa hipótese geral, derivam duas hipóteses relacionadas às diferentes dimensões propostas à análise: 1) As instituições locais voltadas à promoção da sustentabilidade e desenvolvimento regional carregam uma inércia derivada do momento anterior à retórica do desenvolvimento sustentável e acabam por ser incoerentes com ele; 2) Os problemas não estão somente nas instituições mas também nas disposições à ação de cada agente, que em alguma medida também conflitam com a retórica do desenvolvimento sustentável. Assim, os procedimentos para o teste das hipóteses e do relacionamento entre as dimensões priorizadas por cada uma das teorias apresentadas poderiam contar com: a) um mapeamento das instituições voltadas a mediar o uso de recursos e os conflitos acerca da construção da barragem, buscando suas complementaridades e eventuais contradições; b) uma análise do desenvolvimento histórico dessas instituições no Vale, evidenciando suas permanências e rupturas; c) um mapeamento das forças sociais envolvidas com a questão da barragem e seu histórico nos conflitos do território; d) mapeamento dos interesses representados nas instituições locais verificando suas aproximações ou distanciamentos das dinâmicas regionais; e) entendimento das formas históricas de uso dos recursos naturais território e seu relacionamento com os diferentes discursos sobre o desenvolvimento regional. Duas principais conclusões podem ser levantadas a partir da reflexão aqui proposta. Sob o ponto de vista teórico, a multiplicidade de dimensões inerentes à idéia de desenvolvimento sustentável pede um aparato conceitual que ultrapasse os limites disciplinares e desenvolva uma visão enraizada dos processos de inércia institucional e de mudança capazes de promovê-lo nos diferentes territórios. Sob o ponto de vista empírico, pede abordagens que olhem não só para o desenho das instituições, mas para as disposições dos agentes sociais à ação e suas interações com elas, entendendo as formas pelas quais os sistemas estruturados de distribuição de poder em que se inserem os grupos locais operam no desenvolvimento institucional e na conseqüente configuração das dinâmicas regionais. Sobre o caso específico do Vale do Ribeira, este artigo ilumina, assim, as necessidades de se entender o território enquanto um campo estruturado, analisando a estrutura das posições sociais ali encontradas e a conseqüente desigualdade de distribuição de recursos materiais e cognitivos que lhe é característica e que confere, aos grupos melhor posicionados, poder e recursos simbólicos para a formulação e intervenção nas “regras do jogo” que acabam por refletir seus interesses específicos, dificultando o diálogo entre as diferentes forças sociais locais para a solução das questões relativas ao acesso e uso dos recursos naturais, como bem exemplifica a questão da construção da barragem de Tijuco Alto. 5. Bibliografia ABRAMOVAY, R. Para una teoría de los estudios territoriales. In: MANZANAL, M., NEIMAN, G., LATTUADA, M. (orgs.). Desarrollo rural – Organizaciones, instituciones y territorios. Buenos Aires: Fund. Centro Integral Comunicación, Cultura y Sociedad – CICCUS, 2006. BOURDIEU, P. 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