ANEXO 1 ANEXO 1: CARACTERÍSTICAS DA POBREZA 1. Este anexo contém uma perspectiva geral da pobreza em Timor Leste, com base em dados indonésios recolhidos até 1999. 2. Durante 1999, 56% da população timorense estava classificada como pobre,1 2 implicando que cerca de 500.000 pessoas viviam em pobreza. A pobreza nas zonas rurais era significativamente mais alta do que nas zonas urbanas e, dada a distribuição da população, a maioria da população pobre vivia nas zonas rurais. Estas estimativas sobre a pobreza baseiam-se em fontes de dados indonésias, principalmente no SUSENAS, o inquérito socio-económico dos núcleos familiares nacionais. 3 A taxa de pobreza em Timor Leste era o dobro da taxa indonésia de pobreza, de 27,1%. As taxas de pobreza de 1999 reflectem o efeito da crise financeira. Mais importante ainda para a população pobre foi o aumento da inflacção, principalmente o enorme aumento do preço do arroz. O preço relativo dos alimentos aumentou 160% entre Fevereiro de 1996 e Fevereiro de 1999, contrariamente ao preço das componentes não alimentares do IPC, que aumentaram 81% ao longo deste período. O Anexo 1 apresenta ainda mais detalhes sobre o perfil da pobreza, com base nos dados até 1999. Educação do Chefe de Família 3. A pobreza é multidimensional – para além da pobreza em dispêndio, ela engloba ainda o acesso a educação e saúde, ambas importantes, tanto por si mesmas, como na capacidade que têm em garantir que os indivíduos podem tirar partido de oportunidades para melhorarem o seu nível de vida. Em Timor Leste, tal como em qualquer outro lugar, existe uma correlação forte entre a pobreza de dispêndio e os níveis baixos de educação. Com base nas depesas de consumo, quase três quartos dos chefes de família do quinto dos mais pobres não tem escolaridade (Tabela 1). Esta proporção, com base no dispêndio, cai para 28% no quinto superior da população. 1 Medições da Pobreza na Indonésia, 1996, 1999 e para Além, (2000), Menno Pradhan, Asep Suryahadi, Sudarno Sumarto, e Lant Pritchett, SMERU Working Paper, Jakarta. 2 Um núcleo familiar é considerado pobre senão for capaz de comprar um cabaz de alimentos básicos, que forneçam 2.100 kcals por pessoa por dia, bem como um cabaz de bens essenciais não alimentares (ver Pradhan, Suryahadi, Sumarto e Pritchett (2000) para a formação dos limiares de pobreza). 3 A SUSENAS era administrada pela agência indonésia de estatística e, até recentemente, era a única fonte de dados compreensivos sobre pobreza. A SUSENAS tem um módulo de concepção de núcleo rotativo. Os melhores dados para as estimativas sobre a pobreza baseiam-se no módulo de dados da despesa, realizado de três em três anos, sendo 1996 e 1999 os dois últimos anos do inquérito. Este inquérito é representativo para as províncias e para as suas desagregações urbano/rural. Além disto, realiza-se todos os anos um inquérito maior, chamado SUSENAS nuclear. Também se podem derivar estimativas de pobreza a partir deste inquérito, pois inclui uma parte que é um pequeno módulo de consumo. Os números apresentados para 1999 aqui apresentados, baseiam-se no módulo da despesa de 1999. 142 ANEXO 1 Tabela 1: Pobreza e Educação do Chefe de Família, Timor Leste 1998 Percentagem Quinto 1 Quinto 2 Quinto 3 Quinto 4 Quinto 5 Sem escolaridade Menos que primária Primária Pré-secundária Mais do que pré-secundária Total 74,6 12,7 7,1 3,1 2,4 100,0 71,2 13,4 8,1 3,7 3,7 100,0 67,0 10,7 11,3 4,8 6,3 100,0 49,0 13,9 12,4 7,1 17,7 100,0 27,9 7,7 13,3 10,3 40,9 100,0 Total 57,8 11,7 10,4 5,8 14,3 100,0 Fonte: Pedersen and Arnberg (1999) Ocupação do Chefe de Família 4. Cerca de 70% dos chefes de família referem a agricultura como a sua ocupação, enquanto que entre o quinto mais pobre da população, com base na despesa, 92% vivem em núcleos familiares cujo chefe está ocupado na agricultura. Esta fracção declina para 32% no quinto superior da despesa. Outros 20% da população vivem em núcleos familiares com chefes empregados em serviços e este sector é, em grande parte, aquele onde trabalham os que não são pobres. Do quinto inferior, somente 5% dos núcleos familiares pertencem a este sector e cerca de metade do quinto superior é liderada por chefes com empregos nos serviços. Estrutura Demográfica 5. Não existe uma relação discernível entre a pobreza e a idade do chefe de família. A presença de viuvez correlaciona-se com o nível de pobreza. 18% do quinto mais pobre tem um(a) viúvo(a), declinando para 11% no quinto mais rico. A pobreza está ainda fortemente correlacionada com a dimensão do núcleo familiar – com as famílias mais pobres a terem os núcleos maiores. Contudo, este resultado deve ser encarado com precaução, pois a análise não inclui economias de escala. 143 ANEXO 1 Figura 1: Pobreza por Distrito, Timor Leste, 1998 Incidência da Pobreza por Distrito, Timor Leste, 1998 60 51 48 50 40 39 37 35 38 31 30 37 30 30 23 17 20 13 11 10 AI LE U LIQ UI SA ER M BO ERA BO NA RO OE CU EA SS ST I TIM OR DI LI KO VA LIM A AI NA R M AN O UF AH VI I QU EQ UE LA UT EM BA UC M AU AN AT UT O 0 Percentagem de Pobres por Distrito, 1998 OECUSSI KOVALIMA AINARO BOBONARO MANUFAHI VIQUEQUE ERMERA LAUTEM LIQUISA AILEU DILI BAUCAU MANATUTO Fonte: Inquérito Socio-económico Nacional (SUSENAS) nuclear, 1998 Dimensão Regional da Pobreza 6. O SUSENAS nuclear tem a vantagem de ser representativo ao nível do distrito e, portanto, de permitir que se gerem estimativas ao nível distrital, embora o tamanho das amostras seja pequeno e os resultados devam ser interpretados com cautela. As estimativas indicam que Dili, o único distrito relativamente urbanizado, tinha a menor incidência de pobreza em 1998 (cerca de 10%), enquanto que Baucau tinha a maior incidência de pobreza e a maior proporção de pobres a habitarem no distrito (19%); mas 144 ANEXO 1 Aileu, com a maior incidência seguinte, tem somente uma proporção de 6% a viverem no distrito. Tabela 2: Indicadores de Educação por Distrito Taxa Bruta de Matriculação na Primária Distrito Taxa Bruta de Matriculação na Présecundária Mascul. Feminino Total Mascul Feminino Total 91,6 66,0 99,4 79,4 106,7 80,5 102,1 107,9 91,6 91,4 66,9 96,1 90,8 90,1 104,8 66,5 77,7 97,9 104,1 80,0 125,2 112,6 80,2 86,3 66,8 92,9 76,9 90,2 97,3 66,2 88,7 87,7 105,2 80,3 112,9 110,0 86,5 88,7 66,9 94,4 83,7 90,1 45,0 40,7 33,8 71,7 74,9 64,6 61,4 91,3 49,1 37,3 27,7 32,9 50,0 57,0 58,5 34,0 36,6 41,8 64,8 62,1 45,3 77,3 58,1 28,3 38,5 33,7 50,9 52,7 52,0 37,5 35,1 55,0 71,7 63,4 52,9 84,4 52,4 33,3 32,5 33,3 50,4 55,0 Kovalima Ainaro Manufahi Viqueque Lautem Baucau Manatuto Dili Aileu Liquica Ermera Bobonaro Oecussi Timor Leste Fonte: Inquérito Socio-económico Nacional (SUSENAS), 1998 Tabela 3: Indicadores de Saúde por Distrito Distrito Kovalima Ainaro Manufahi Viqueque Lautem Baucau Manatuto Dili Aileu Liquica Ermera Bobonaro Oecussi Timor Leste Percentagem de partos assistidos por pessoal médico moderno % de crianças vacinadas 14,8 8,3 13,6 10,8 19,0 12,3 42,8 54,5 14,0 17,3 7,3 12,7 15,4 22,2 79,5 58,6 70,8 51,5 81,0 78,6 90,3 90,4 95,9 87,8 63,0 67,1 86,0 86,4 7. Também existem indicadores ao nível distrital para educação e saúde. Estes indicadores estão correlacionados com as taxas de incidência de pobreza, embora a correlação não seja de forma alguma perfeita. A taxa bruta de matriculação na primária em Timor Leste, para rapazes e raparigas, era de 90% em 1998. Ainaro e Ermera tinham as taxas brutas de matriculação mais baixas (66% cada). Dili e Manatuto tinham as taxas 145 ANEXO 1 brutas de matriculação mais altas. A taxa bruta global de matriculação na pré-secundária era de 55%, com alguma diferença entre os géneros, com 57% para os rapazes e 53% para as raparigas. Dili continuava a ter a taxa bruta de matriculação mais alta (87%), com Ermera, Bobonaro e Liquiça a apresentarem as taxas brutas de matriculação mais baixas (33%). 8. Também existem alguns dados relacionados com a saúde no inquérito socioeconómico de 1998. Tal como para os indicadores de educação, Dili tinha os melhores indicadores tanto para a percentagem de partos assistidos por pessoal médico moderno, como para a percentagem de crianças vacinadas. Ainaro e Ermera foram igualmente maus com os indicadores de saúde. 146