Revista de Biologia e Ciências da Terra
ISSN: 1519-5228
[email protected]
Universidade Estadual da Paraíba
Brasil
Soares Severino, Liv; Silva de Lima, Rosiane de Lourdes; de Macêdo Beltrão, Napoleão Esberard;
Rodrigues Sampaio, Lígia
Crescimento e teor de macronutrientes em mudas de mamoneira cultivadas em cinco substratos
orgânicos
Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 8, núm. 1, primer semestre, 2008, pp. 120-125
Universidade Estadual da Paraíba
Paraíba, Brasil
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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 8 - Número 1 - 1º Semestre 2008
Crescimento e teor de macronutrientes em mudas de mamoneira cultivadas em cinco
substratos orgânicos
Liv Soares Severino1, Rosiane de Lourdes Silva de Lima2, Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão3, Lígia Rodrigues
Sampaio4
RESUMO
A composição química do substrato é um dos principais aspectos a serem observados na produção
de mudas e depende fundamentalmente dos materiais usados em sua formulação. Este trabalho teve
o objetivo de avaliar a influência da composição química do substrato sobre o teor de
macronutrientes no tecido vegetal e a massa seca de mudas de mamoneira (Ricinus communis) cv.
BRS Nordestina. Mediu-se a massa seca e o teor de N, P, K, Ca, Mg e S da parte aérea de mudas de
mamoneira cultivadas em substratos compostos por mistura dupla de areia com bagaço de cana,
cama de frango, casca de amendoim, esterco bovino e mucilagem de sisal. Utilizou-se delineamento
inteiramente casualizado com 4 repetições e parcela experimental composta por dois saquinhos de
2,5L. Entre os cinco materiais testados, o substrato contendo esterco bovino possibilitou o maior
crescimento da massa seca da parte aérea de mudas. O teor de macronutrientes no tecido vegetal
apresentou ampla variação, mas não se correlacionou com o teor dos mesmos nutrientes na
composição do substrato. Somente o teor de K no tecido vegetal se correlacionou com a massa seca
da parte aérea das mudas de mamona.
Palavras-chave: Ricinus communis, nutrição mineral, matéria orgânica
Gowth and tissue macronutrients content in castor seedlings raised in five organic
substrates
ABSTRACT
The chemical composition of substrates is one of the most important aspects when producing
seedlings and it depends basically on the materials used for its composition. Shoot dry weight and
tissue content of N, P, K, Ca, Mg and S were measured in castor seedlings (Ricinus communis) cv.
BRS Nordestina growed in substrates composed by double blend of sand with sugarcane bagasse,
poultry litter, peanut hulls, bovine manure and agave mucilage. The trial was run on completely
randomized design with 4 replications and two 2,5L plastic bag as plot. Among the five organic
materials evaluated, bovine manure resulted in the highest seedlings shoot gowth. Macronutrients
content on vegetal tissue varied in a wide range, but whithout correlation to content of the same
nutrient in the substrate. Only the content of K in the tissue was correlated to the castor seedlings
shoot dry weight.
Key words: Ricinus communis, plant nutrition, organic matter
120
1 INTRODUÇÃO
Entre as oleaginosas cultivadas no Brasil,
a mamoneira destaca-se pela rusticidade e
tolerância à seca, pelo rápido crescimento,
elevada produção e considerável teor de óleo em
suas sementes. Segundo Ferreira et al. (2004),
produções de até 1.500 kg/ha têm sido obtidas
na região semi-árida utilizando-se as cultivares
BRS Nordestina e BRS Paraguaçu. Produções
acima de 2.500 kg/ha têm sido observadas nos
Estados de São Paulo e Minas Gerais quando se
faz correção da acidez do solo e adubação com
NPK.
Canecchio Filho & Freire (1958) relatam
que a mamoneira exporta da área de cultivo
cerca de 80 kg/ha de N, 18 kg/ha de P2O5 e 32
kg/ha de K2O, 13 kg/ha de CaO e 10 kg/ha de
MgO para produzir 2.000 kg de semente, sendo
estes resultados confirmados posteriormente por
Nakagawa & Neptune (1971), os quais
mostraram que a absorção de nutrientes pelas
plantas aos 133 dias após a germinação atinge
cerca de 156, 12, 206, 19 e 21 kg/ha de N, P2O5,
K2O,
CaO
e
MgO,
respectivamente,
evidenciando as necessidades nutricionais desta
cultura na fase inicial do ciclo. Referências
sobre o teor de nutrientes no tecido foliar de
mudas de mamoneira não foi encontrado na
literatura. Santos et al. (2004) mencionam que a
mamoneira tem forte demanda por nitrogênio,
podendo apresentar sintomas de deficiência no
início do crescimento se o suprimento deste
elemento não for adequado. Ferreira et al.
(2004) relatam que níveis insatisfatórios de P e
K retardam o crescimento inicial da mamoneira
e provocam redução considerável na
produtividade.
Diversos
materiais
orgânicos
e
inorgânicos têm sido utilizados na formulação
de substratos para a produção de mudas,
havendo necessidade de se determinar os mais
apropriados para cada espécie, de forma a
atender sua demanda quanto a fornecimento de
nutrientes e propriedades físicas como retenção
de água, aeração, facilidade para penetração de
raízes e não favorecer o surgimento de doenças.
O substrato precisa também ser um material
abundante na região e ter baixo custo, razão pela
qual geralmente se utilizam resíduos
agroindustriais (Lima et al., 2006a).
Este trabalho teve o objetivo de estudar o
crescimento inicial e o teor de macronutrientes
no tecido vegetal de mudas de mamoneira
crescidas em substratos formulados com
ingredientes de composição química variada.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de
vegetação, na Embrapa Algodão, Campina
Grande, PB, no período de maio a junho de
2004. Adotou-se delineamento em blocos ao
acaso, com 5 tratamentos e 4 repetições, sendo a
parcela experimental representada por 2 sacos
plásticos, cada um contendo uma planta. Cada
tratamento foi composto por uma mistura em
partes iguais (em volume) de terra e uma das
seguintes fontes de matéria orgânica: bagaço de
cana, casca de amendoim, esterco bovino,
mucilagem de sisal e cama de frango. A
composição química das fontes de matéria
orgânica é apresentada na Tabela 1.
Os substratos foram acondicionados em
sacos de polietileno com capacidade para 2,5L e
28 cm de altura. Foram utilizadas sementes de
mamona da cultivar BRS Nordestina. A
semeadura foi realizada diretamente nos
recipientes, plantando-se três sementes por saco
para posterior desbaste. As mudas foram
irrigadas diariamente e mantidas livres de
plantas daninhas.
Aos 43 dias após a emergência, a parte
aérea das plantas foi colhida, seca em estufa de
circulação forçada a 70°C por 72 horas, pesada
e moídas. Como o caule da muda compõe
significativa parcela do peso da parte aérea,
optou-se por realizar as análises em toda a parte
aérea e não somente das folhas, como é mais
comum. O material vegetal foi triturado em
moinho tipo Wiley com peneira de 20 mesh e
submetido a digestão nítrico-perclórica para
determinação dos teores de P, K, Ca, Mg e S. O
P foi medido pelo método da redução do
fotomolibdato pela vitamina C; o K, por
fotometria de chama; o Ca e Mg, por
121
espectrofotometria de absorção atômica e o S,
por turbidimetria do sulfato conforme
metodologia proposta por Malavolta et al.
(1989). O N foi medido pelo método microKhjedhal.
Os dados foram submetidos à análise de
variância (Teste F) e ao teste de Tukey (5%)
para comparação das médias, segundo
recomendação de Santos et al. (2003). Calculou-
se a correlação entre o teor do nutriente no
ingrediente utilizado para composição do
substrato e o teor do mesmo nutriente medido
no tecido vegetal da muda, assim como a
correlação do teor do nutriente no tecido vegetal
e a massa seca da muda. Os coeficientes de
correlação foram testados pelo teste t, a 5% de
probabilidade, segundo Gomes (1978).
Tabela 1. Composição química do bagaço de cana, cama de frango, casca de amendoim, esterco bovino e mucilagem
de sisal
N
P
K
Ca
Mg
Material
---------------------------------- % ---------------------------------Bagaço de cana
0,24
0,20
0,11
0,39
0,45
Cama de frango
2,95
3,97
1,10
4,71
6,93
Casca de amendoim
1,54
0,36
0,79
0,46
0,21
Esterco bovino
0,78
0,87
0,33
0,31
0,18
Mucilagem de sisal
0,12
0,01
0,10
0,40
0,24
Análises feitas no Laboratório de Solos da Embrapa Algodão
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O teor de todos os nutrientes e a massa
seca da parte aérea das mudas apresentou
diferenças significativas em função da
composição dos substratos. Os coeficientes de
variação situaram-se entre 3,88 e 11,55%. O
teor dos nutrientes no tecido vegetal e as
correlações entre o teor no tecido e no material
utilizado na composição do substrato
encontram-se na Tabela 2.
Lavres Júnior et al. (2005) descreveram os
sintomas foliares da carência de alguns
nutrientes, mas estes não foram observados no
presente estudo, exceto o menor crescimento da
parte aérea, sintoma típico da carência de N e
que foi observado nas plantas crescidas em
substrato contendo bagaço de cana, nas quais o
teor de N foi significativamente menor que nos
demais tratamentos.
O teor de macronutrientes no tecido das
mudas variou numa faixa ampla, principalmente
o Fósforo que oscilou entre 2,95 e 10,62 g/kg e
o Cálcio que variou de 2,0 a 7,05 g/kg. No
entanto, obtiveram-se coeficientes de correlação
não-significativos entre o teor do nutriente no
material orgânico utilizado para compor o
substrato e o teor medido no tecido das plantas,
sugerindo que o teor no tecido variou mais em
função de outros fatores que da disponibilidade
do nutriente no substrato.
Lavres Júnior et al. (2005) mediram o teor
de macronutrientes em diferentes partes da
planta de mamona crescidas em soluções
nutritivas completas ou com exclusão de um
nutriente e demonstraram que a disponibilidade
de nutrientes no substrato tem grande influência
sobre os teores medidos no tecido vegetal. No
entanto, a deficiência não se manifesta com a
mesma intensidade nas diferentes partes da
planta. A deficiência de P, por exemplo, causa
redução nos teores desse nutriente nos pecíolos
de forma bem mais intensa que no limbo foliar.
Lima et al. (2006a, b) demonstraram que o
crescimento de mudas de mamoneira depende
muito de outros fatores, além da composição
122
química do substrato, pois suas características
físicas são igualmente importantes. Quando o
substrato possui boa composição química, mas
suas características físicas são inadequadas, as
mudas têm crescimento insatisfatório e viceversa. As correlações baixas ou negativas foram
observadas porque, embora alguns substratos
tenham alto teor de nutrientes, podem não ter
oferecido condições adequadas ao crescimento
das plantas, interferindo na absorção desses
elementos.
Tabela 2. Teores de N, P, K, Ca, Mg e S no tecido vegetal, massa seca (MS) de mudas de mamoneira cultivadas em
diferentes substratos e correlação entre os teores do nutriente no ingrediente utilizado na composição do substrato e no
tecido vegetal da muda. Campina Grande, PB, 2004
N
P
K
Ca
Mg
S
Substrato
MS da
muda (g)
--------------------------- g/kg ------------------------------Bagaço de cana
23,80 c
7,62 b
21,25 c
2,40 bc
11,30 a
6,32 b
0,60 d
Cama de frango
40,40 b
6,92 b
25,07 b
2,00 c
7,47 bc
5,00 c
1,64 c
Casca de amendoim
51,50 a
4,50 c
27,00 b
2,90 b
8,17 b
7,75 a
2,60 b
Esterco bovino
47,27 a
10,62 a
32,00 a
2,60 bc
6,45 c
8,20 a
4,64 a
Mucilagem de sisal
50,55 a
2,95 d
25,75 b
7,05 a
11,20 a
5,37 bc
2,28 b
Média geral
42,7
6,52
26,21
3,39
8,92
6,53
2,35
Correlação entre teor no
substrato e teor no tecido
vegetal
0,13ns
0,24ns
0,10ns
-0,37ns
-0,34ns
-
-
Correlação entre massa
seca e teor no tecido
vegetal
0,69ns
0,39ns
0,99*
0,04ns
-0,69ns
-
-
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%).
ns e *: coeficientes de correlação não significativos e significativos pelo teste t (5%), respectivamente
Um exemplo deste fenômeno é
evidenciado ao se comparar a cama de frango e
o esterco bovino. O teor de todos os nutrientes é
mais alto na cama de frango (Tabela 1), mas
esse ingrediente somente compõe um bom
substrato quando misturado a um outro material
com boa porosidade (LIMA et al., 2006a). Entre
os materiais avaliados, o esterco bovino foi
aquele que resultou no substrato mais
equilibrado, propiciando mais altos teores de
nutrientes no tecido das mudas e,
consequentemente, maior produção de massa
seca (Tabela 2).
Deve-se ainda considerar que a
composição química dos ingredientes utilizados
na composição dos substratos (Tabela 1) referese ao teor total dos nutrientes, mas não
considera se os elementos estão disponíveis para
absorção pelas plantas. Como alertam Lima et
al. (2006a), os nutrientes contidos na casca de
amendoim, por exemplo, só estariam
disponíveis para as plantas após sua
decomposição, o que pode levar alguns meses
quando ele é adicionado ao substrato sem um
tratamento prévio para mineralização.
As mudas crescidas em substrato
contendo esterco bovino apresentaram os
maiores teores de P e K, em casca de amendoim
tiveram maiores teores de N e S e em
mucilagem de sisal verificaram-se os maiores
123
teores de Ca e Mg. Os menores teores de N e K
foram observados nas plantas cultivadas em
substrato contendo bagaço de cana, de P em
mucilagem de sisal, de Ca e S em cama de
frango e de Mg em esterco bovino.
As mudas com maiores valores de massa
seca foram cultivadas em substrato contendo
esterco bovino e as menores em substrato com
bagaço de cana. O crescimento da parte aérea
das mudas (massa seca) correlacionou-se apenas
com o teor de K (R = 0,99) no tecido vegetal,
mas com os demais macronutrientes não se
observou associação, demonstrando que o
crescimento das mudas de mamoneira não deve
ser explicado somente pelo teor dos nutrientes
no tecido vegetal.
4 CONCLUSÕES
Entre os cinco materiais testados, o
substrato contendo esterco bovino possibilitou o
maior crescimento da massa seca da parte aérea
de mudas de mamoneira.
O teor de macronutrientes no tecido das
mudas de mamoneira apresentou ampla
variação, mas não se correlacionou com o teor
dos mesmos nutrientes na composição do
substrato.
Somente o teor de K no tecido vegetal se
correlacionou com o crescimento em massa seca
das mudas de mamona.
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Campina Grande. Anais... Campina Grande:
Embrapa Algodão, 2004. CD.
AGRADECIMENTOS
Ao Consórcio CENP Energia e à Petrobras
pelo apoio financeiro concedido.
1
Pesquisador Embrapa Algodão, Campina
Grande, PB. E-mail: [email protected]
2
Doutoranda em Agronomia (Produção Vegetal,
FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP.
E-mail: [email protected]
3
Pesquisador Embrapa Algodão, Campina
Grande, PB.
E-mail: [email protected]
4
Química Industrial, Bolsista da Embrapa
algodão, Campina Grande, PB. E-mail:
[email protected]
125
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