Os Olhos
que Ouvem
Os olhos
que ouvem
Trabalho realizado por:
Elisa de Castro Carvalho
Aluna n.º 22667
Universidade Portucalense
Porto, 28 de Março de 2008.
Int. Def. Visual – Doutora Fernanda Xavier
“O essencial é invisível para os olhos.
Só se vê bem com o coração.”
“O Principezinho”, Antoine de Saint-Exupéry
ÍNDICE
In t r o d u ç ã o ....................................................................................................................... 3
A S o c i e d a d e d a In f o r m a ç ã o .......................................................................................... 4
T e c n o l o g i a s d e A p o i o .................................................................................................... 6
A c e s s i b i l i d a d e V i s u a l .................................................................................................... 7
J A W S (J o b A c c e s s W i t h S p e e c h ) .............................................................................. 10
E d e r e p e n t e f e z - s e e s c u r o … ...................................................................................... 10
Conclusão ...................................................................................................................... 14
ANEXO ............................................................................................................................. 15
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 16
2
In tro du ç ão
Introdução
O presente trabalho estrutura-se em duas partes.
Numa primeira parte, procedemos ao enquadramento teórico das questões por
nós desenvolvidas. Reflectimos acerca do papel que as novas tecnologias desempenham
na Sociedade da Informação, assumindo-se como sinónimo de igualdade de
oportunidades. Numa sociedade em constante mutação e desenvolvimento tecnológico,
a escola e os professores deverão estar cada vez mais preparados para ensinar com e
através da tecnologia. No âmbito das necessidades educativas especiais, as tecnologias
possibilitam uma maior autonomia por parte do aluno, sendo por vezes o único meio de
interacção com o mundo à sua volta. É fundamental, portanto, a adopção de atitudes
abertas e receptíveis que possibilitem uma maior adequação dos métodos de ensino às
necessidades de cada um. As tecnologias de apoio, concebidas para ajudar
especificamente pessoas com determinado tipo de deficiência, assumem-se desde logo
como um inegável contributo para a superação de barreiras. No entanto, elas podem ser
por vezes factor de exclusão quando não têm em conta as limitações de pessoas com
deficiência. Daí que o conceito de Acessibilidade ocupe actualmente um lugar de
destaque, sobretudo na questão do acesso à informação. De que modo uma pessoa com
deficiência visual utiliza o computador? O acesso à informação é possível a qualquer
pessoa, independentemente das suas limitações?
Numa segunda parte do nosso trabalho, de carácter mais prático, tentamos
perceber de que modo o leitor de ecrã JAWS, enquanto tecnologia de apoio, facilita o
acesso ao computador e à informação por parte de alguém que não tem a capacidade da
visão. Tentamos perceber, num primeiro momento, o funcionamento do software em
questão para depois o testarmos através da realização de determinadas tarefas.
3
A S o ci e dade da I nf o r m aç ão
A Sociedade da Informação
A partir da década de 80, o mundo assistiu a grandes e inúmeras transformações,
tanto a nível económico como social. Estas transformações deram-se, sobretudo, ao
nível do desenvolvimento das novas tecnologias da informação e da comunicação. O
desenvolvimento tecnológico trouxe mudanças na Sociedade, principalmente com a
evolução da Internet. Esta veio modificar e alterar profundamente os hábitos da
população, e mais especificamente os hábitos dos nossos alunos.
De acordo com o Livro Verde para a Sociedade da Informação, e a propósito do
acesso à informação, “A educação deve facultar a todos a possibilidade de terem ao seu
dispor, recolherem, seleccionarem, ordenarem, gerirem e utilizarem essa mesma
informação" (1997, p. 44). Acreditamos que as novas tecnologias, sendo elas parte
integrante do nosso quotidiano, poderão ser instrumentos de grande utilidade para as
pessoas com deficiência e contribuir para o atenuar de desigualdades. Partilhamos as
ideias defendidas no mesmo documento, no que diz respeito às potencialidades das
tecnologias da informação para os cidadãos com deficiências físicas e mentais, sendo no
entanto necessário “desenvolver esforços que diminuam a desadaptação da tecnologia a
certos grupos de cidadãos com deficiência” (Idem, p. 19).
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 96/99, DR n.º 199, I Série B, de 26 de
Agosto de 1999 começa por referir que “A sociedade da informação tem de ser uma
sociedade para todos”, mais acessível e igualitária. Este documento salienta alguns
princípios que devem garantir aos cidadãos com necessidades especiais os seus direitos
de cidadania e de qualidade de vida. O artigo 4.5 faz referência à adequação do sistema
educativo às especificidades dos cidadãos com necessidades especiais. Salienta-se a
importância da “igualdade de acesso a uma educação adequada”, sendo necessário
equipar o sistema de ensino com todos os recursos necessários à correcta exploração das
tecnologias. No mesmo artigo propõem-se ainda três medidas:
- “Promover a utilização de computadores pelas crianças e jovens com
necessidades especiais integrados no ensino regular, criar áreas curriculares específicas
para crianças e jovens portadores de deficiências de fraca incidência e aplicar o teleensino dirigido a crianças e jovens impossibilitados de frequentar o ensino regular”;
- “Adaptar o ensino das novas tecnologias às crianças com necessidades
especiais, apetrechando as escolas com os equipamentos necessários e promovendo a
4
adaptação dos programas escolares às novas funcionalidades disponibilizadas por estes
equipamentos”;
- “Promover a criação de um programa de formação sobre a utilização das
tecnologias da informação no apoio aos cidadãos com necessidades especiais,
especialmente destinado a médicos, terapeutas, professores e outros agentes envolvidos
na adequação da tecnologia às necessidades dos cidadãos”.
Além de beneficiarem os alunos em geral, as tecnologias da informação e da
comunicação podem assim contribuir para uma maior autonomia dos alunos com
necessidades especiais, assumindo-se como um meio alternativo de comunicação e de
interacção com o mundo.
É um facto de que a escola tende cada vez mais a modernizar-se. Mais do que
um programa, o currículo deverá ser um projecto, flexível e concebido de acordo com
os contextos e necessidades dos alunos. As novas tecnologias possibilitam deste modo a
personalização do ensino, ao contemplarem diferentes ritmos de aprendizagem e
potenciando o desenvolvimento de capacidades de auto-expressão dos alunos.
Na nossa perspectiva, as novas tecnologias e a utilização de ambientes
informatizados trilharam novos caminhos em direcção a uma sociedade que se deseja
cada vez mais inclusiva. O computador é uma ferramenta que proporciona espaços de
cooperação e de partilha através da interacção. A utilização destas novas tecnologias
possibilitou a comunicação entre pessoas privadas de algum órgão sensorial. No caso da
visão, a pessoa vê-se privada de perceber imagens, gestos, cores…, e o computador,
quer através de sintetizadores de voz quer através de programas que ampliam o
conteúdo do monitor, possibilita aos deficientes visuais uma maior independência e uma
melhor qualidade de vida.
5
Te c no lo gi as de Apo i o
Tecnologias de Apoio
De acordo com o World Wide Web Consortium1, as “Tecnologias de apoio”
(“Assistive technology”) referem-se ao software concebido para ajudar especificamente
pessoas com deficiência ou algum tipo de incapacidade que as impede de realizarem as
actividades do quotidiano. Como exemplos destas tecnologias temos as cadeiras de
rodas, as máquinas de leitura, os dispositivos de preensão, entre outros. No caso da
acessibilidade Web, as tecnologias de apoio dizem respeito aos leitores de ecrã, aos
ampliadores de ecrã, aos sintetizadores de voz e software de comando por voz.
Relativamente às tecnologias de apoio através de hardware, temos como exemplo os
teclados e dispositivos apontadores alternativos.
As Tecnologias de Apoio são um contributo inegável para que as pessoas com
deficiência ultrapassem determinadas barreiras. No entanto, é preciso estar consciente
para o facto de que elas, por si só, não resolvem todos os problemas inerentes a uma
determinada deficiência. Elas assumem-se antes como um meio de reduzir as diferenças
e de contribuir para uma maior independência da pessoa com deficiência. A utilização
destas tecnologias por parte de alunos com necessidades especiais pode permitir a sua
inserção e propiciar momentos de aprendizagem de acordo com o ritmo dos alunos
inseridos em turmas regulares.
É inegável a importância das novas tecnologias ao serviço do ensino, sobretudo
de alunos com necessidades especiais. No entanto, há que estar consciente para o facto
de que muitas escolas dispõem de poucos recursos a nível informático e que estes ainda
são muito caros. Por outro lado, ainda há uma grande resistência por parte dos
professores no que diz respeito à utilização das novas tecnologias. Constituem uma
poderosa ferramenta educativa, mas o uso que delas se faz ainda é por vias muito
tradicionais e em demasiada consonância com os currículos e programas escolares. Na
teoria, o uso destas novas tecnologias assume grande relevância, mas na prática a sua
aplicabilidade é por vezes difícil devido à falta de formação dos próprios professores
que têm de trabalhar em contextos específicos.
1
O World Wide Web Consortium ou W3C é um consórcio fundado por Tim Berners-Lee, inventor e
criador da World Wide Web, que define uma série de directivas e recomendações acerca de como tornar
os conteúdos de um website acessíveis a pessoas com deficiência.
6
Ace s s i b i li dade Vi s u al
Acessibilidade Visual
Como é que um utilizador com deficiência visual utiliza o computador e a Web?
Esta é, porventura, a questão essencial do nosso trabalho. Tentamos perceber qual a
utilidade de um monitor e de um rato para alguém que não tem a capacidade de ver. De
facto, um invisual pode ser capaz de mover um rato, mas depara-se com o problema de
saber para onde pode movê-lo e onde clicar. Os leitores de ecrã são softwares
concebidos para converter texto em voz/fala sintetizada e permitem ao utilizador
invisual ouvir os conteúdos apresentados no monitor.
Os leitores de ecrã apresentam muitas vantagens e potencialidades para os
utilizadores que não vêem. No entanto, existem algumas limitações como o facto de
(ainda) não serem capazes de ler imagens. A leitura de uma imagem é apenas possível
se a mesma apresentar o atributo de texto alternativo (“alt text”). De acordo com o
documento Normas de Acessibilidade na Informática, editado pelo Ministério da
Educação, “Uma interface deve ser concisa, coerente e consistente de forma a reduzir o
esforço que o utilizador necessitará para trabalhar com o seu computador”. De facto, se
o computador permite às pessoas com deficiência a realização de tarefas que outrora
não conseguiam fazer, também é verdade que a informática coloca por vezes obstáculos
que seriam facilmente eliminados se os designers/programadores tivessem em conta os
princípios do Design Inclusivo2.
Cada vez mais difundida, tanto a nível físico como também na Web, a
acessibilidade refere-se aos “meios postos à disposição dos utilizadores que lhe
permitem o acesso (a um edifício, por exemplo, e no caso da Web, à informação)
independentemente das suas limitações físicas” (Figueiredo, 2004).
O símbolo de acessibilidade na Web foi criado pelo Estúdio Stormship em
Boston. Os websites que apresentam este símbolo foram, à partida, concebidos tendo
em conta determinadas funcionalidades que possibilitam a navegação nos mesmos de
pessoas com necessidades especiais.
O símbolo deverá ter a indicação de “Símbolo de Acessibilidade na Web” e
deverá aparecer na página inicial de um site. Aconselha-se ainda a sua descrição: “Um
2
De acordo com o European Design for All, o Design Inclusivo, também chamado de Design Universal
refere-se ao design para todos. É um termo europeu que promove a inclusão, a igualdade e o
desenvolvimento social sustentável. Apoia a usabilidade e o acesso aos produtos e centra-se no
envolvimento do utilizador.
7
globo inclinado, com uma grelha sobreposta. Na sua superfície está recortado um
buraco de fechadura”.
Baseamo-nos nos tópicos apresentados por Figueiredo (2004), que sintetizam as
directivas apresentadas pelo W3C relativamente à acessibilidade de conteúdos Web:
1. Proporcionar alternativas textuais a conteúdo áudio-visual, por exemplo,
colocar a descrição de uma imagem através do atributo “alt”. No caso dos
vídeos ou narrações sonoras, o utilizador deve ter também ao seu dispor uma
descrição;
2. ão depender e recorrer apenas à cor, ou seja, os elementos gráficos e o
texto devem ser perceptíveis quando vistos sem cor. As cores deverão ser
suficientemente contrastantes para assegurar a sua perceptibilidade por
pessoas com cromodeficiência.
3. Utilizar apropriadamente código e folhas de estilo, ou seja, sempre que
possível apresentar os conteúdos com recurso a codificação e não a imagens.
A introdução de tabelas, por exemplo, para dispor determinados conteúdos
na página, dificulta a navegação a utilizadores que dispõem de software
específico de leitura;
4. Clarificar a língua utilizada e fornecer por extenso o significado de
acrónimos e siglas. Se um webdesigner anotar, por exemplo, uma alteração
na língua do documento, os sintetizadores de voz podem passar
automaticamente para a nova língua;
5. Criar tabelas que se degradam harmoniosamente, isto é, dispor a
informação em tabelas de modo a que a sua leitura seja linear e
compreensível;
6. Transformar harmoniosamente páginas que usam novas tecnologias, ou
seja, assegurar que novas tecnologias como por exemplo animações em flash
sejam acessíveis a pessoas que não dispõem de programas adequados;
8
7. Assegurar o controlo de conteúdo temporizado, isto é, deve ser possível a
interrupção de qualquer conteúdo em movimento ou animado. Pessoas com
deficiência visual poderão não ter a rapidez necessária para ler texto em
movimento ou poderão mesmo não ser capazes de o fazer;
8. Assegurar a acessibilidade directa de interfaces integradas. Sempre que
se utilizem elementos da interface do utilizador, devem ser dadas alternativas
para poderem ser utilizadas sem teclado ou através de comandos de voz;
9. Assegurar a concepção independente de dispositivos, uma vez que os
documentos devem ser acessíveis, qualquer que seja o dispositivo utilizado
para a visualização e interacção;
10. Utilizar soluções temporárias, de modo a que as tecnologias de apoio ou
tecnologias ultrapassadas possam ser sempre acessíveis;
11. Utilizar as tecnologias e directivas do W3C, de forma a garantir a
acessibilidade do conteúdo;
12. Fornecer informação de contexto e orientação, bem como ajudas para a
orientação no caso de o documento ser muito complexo;
13. Fornecer mecanismos de navegação claros, tais como mapas de navegação
para que o utilizador não se perca no ciberespaço;
14. Assegurar a clareza e simplicidade dos documentos, através da
estruturação simples e consistente dos elementos gráficos.
Existem na Web endereços onde podemos testar a acessibilidade de uma determinada
página Web. O site sobre acessibilidade, disponível em http://www.acessibilidade.net
disponibiliza o avaliador automático “Cynthia Says”. O processo é simples: basta
digitar o endereço da página que queremos testar, clicar em “Testar” e aguardar o
resultado, apresentado sob a forma de uma checklist na qual constam os pontos a
corrigir.
9
JAWS ( Jo b Acce s s W i t h S pe e c h )
JAWS (Job Access With Speech)
O software JAWS é uma referência
para as pessoas com deficiência visual.
Fabricado pela empresa Henter-Joyce do
grupo Freedom Scientific, é com certeza o
leitor de ecrã mais conhecido no mundo.
No
site do Clube do JAWS
podemos encontrar vários documentos de
apoio à utilização do software, bem como
downloads das últimas versões.
O programa permite a navegação essencialmente através do teclado. Possui um
conjunto de atalhos pré-configurados para várias aplicações do ambiente Windows.
Visto tratar-se de um programa com muitos comandos, o nosso objectivo foi tentar
perceber os atalhos que, numa primeira abordagem seriam mais essenciais. Uma lista
dos mesmos pode ser consultada como anexo deste trabalho.
E de re pe nte fez- s e e s c uro…
E de repente fez-se escuro...
Depois de uma primeira parte teórica, o nosso trabalho reveste-se agora de um
âmbito mais prático. E se de repente perdêssemos a capacidade da visão? Seríamos
capazes de realizar as tarefas mais simples do nosso quotidiano como aceder ao nosso email ou simplesmente ligar o computador?
10
Foi nosso objectivo com este exercício tentar perceber (sentir) as dificuldades
que alguém com deficiência visual pode experimentar quando pretende executar
determinadas tarefas no computador.
Tarefas tão simples como fazer uma pesquisa na web ou aceder a determinado
site podem tornar-se bastante complicadas se, para isso, vendarmos os olhos. Tentamos
perceber de que modo é que o leitor de ecrã JAWS, enquanto tecnologia de apoio, pode
contribuir para a acessibilidade de um utilizador com deficiência visual. Salientamos o
facto de que o JAWS permite aceder ao ambiente Windows; no entanto, é nosso
objectivo tentar analisar apenas o acesso a conteúdos Web.
Propusemos a realização das seguintes tarefas:
1º Ligar o computador
2º Aceder à Internet
3º Consultar o e-mail em http://www.sapo.pt
4º Enviar uma mensagem para o endereço [email protected]
5º Consultar as notícias em http://www.jn.pt
6º Fazer uma pesquisa sobre “deficiência visual” em http://www.google.pt
7º Encomendar o livro “Introdução à Comunicação Aumentativa e
Alternativa” de Stephen Von Tetzchnen e Harold Martinsen em
http://www.webboom.pt
8º Pagar a conta da água em http://www.cgd.pt
Apresentaremos o relato da nossa vivência no escuro durante algumas horas e as
principais dificuldades sentidas.
Num primeiro momento procedemos à instalação do programa que durou alguns
minutos. Durante a instalação podia ouvir-se uma voz que lia todos os passos que
estavam a ser dados durante a instalação. Após inserirmos o CD a instalação inicia
automaticamente através de um ficheiro executável. Pensamos que o processo de
instalação não apresenta grandes dificuldades; no entanto, para uma pessoa que não vê
este processo deverá ser acompanhado por uma pessoa sem deficiência visual.
Depois de a instalação estar concluída tivemos de configurar a língua que se
ouve por defeito para a nossa, neste caso o software dispõe de português do Brasil.
Outras configurações e ajustes podem ainda ser feitos tais como a velocidade da voz,
mas parece-nos que os mesmos deverão ser feitos, tal como já dissemos, com a ajuda e
11
supervisão de alguém. O utilizador tem acesso ao programa durante 40 minutos, sendo
necessário efectuar a sua activação e validação através de um código.
Iniciamos então a nossa experiência tendo para isso os olhos vendados. Ligar o
computador foi tarefa fácil, uma vez que tínhamos a noção espacial do botão. O que se
passou a seguir foi algo que para nós é complicado traduzir em palavras. Por momentos
pareceu-nos que estávamos a ouvir alguém que não falava a nossa língua. A questão da
velocidade do discurso é muito importante, já que inicialmente tivemos dificuldade em
perceber a leitura dos ícones no ambiente de trabalho. Por outro lado, o facto de termos
mais ou menos a noção espacial da disposição das letras/teclas facilitou-nos todo o
processo, mas só em alguns aspectos. Um dos aspectos que nos chamou a atenção foi o
facto de a voz fazer a leitura sem ter em conta a pronúncia da língua, como no caso de
determinados programas como o “Microsoft Word” ou o “Paint” (neste caso o inglês).
A segunda tarefa que consistia em aceder à Internet também foi bem sucedida; no
entanto, demoramos cerca de 1 minuto até chegarmos ao ícone do Internet Explorer.
Conseguimos abrir então a página inicial do browser. De seguida, e para conseguirmos
aceder ao nosso e-mail tentamos digitar o endereço pretendido na respectiva barra.
Através das teclas de atalho Shift + Tab conseguimos finalmente, e após várias
tentativas, situar o cursor na barra de endereços onde digitamos o endereço. O primeiro
resultado obtido foi “www-.sapo.pt”, ou seja, não conseguimos aceder porque digitamos
o hífen erradamente. Numa segunda tentativa conseguimos finalmente digitar o
endereço correctamente. De seguida, e através da tecla Tab navegamos na página até
chegarmos à opção “Mail”. Devido à existência de muitos links na página e à
publicidade existente, não fomos capazes de aceder à caixa onde deveríamos digitar o
nosso e-mail. Chegamos a um ponto em que ficamos totalmente confusos com aquilo
que ouvíamos. Após várias tentativas optámos por desistir, tão grande era a confusão na
nossa cabeça. Assim, também não nos foi possível enviar uma mensagem utilizando o
e-mail. Em relação à tarefa n.º 5, a primeira tentativa resultou em “www.jm.pt”. No
momento em que tentávamos digitar a letra “n” pensamos que o estávamos a fazer
correctamente, pois pareceu-nos que a voz disse “n”; no entanto, tratava-se de um “m”.
De facto, a audição assume aqui um papel preponderante, já que por termos ouvido mal
fomos induzidos em erro. Numa segunda tentativa já conseguimos digitar
correctamente, mas agora colocamos a letra “n” duas vezes o que resultou em
“www.jnn.pt”. Como é óbvio fomos remetidos para uma página de erro, e tentamos
novamente de seguida, desta vez com sucesso. À medida que as páginas são carregadas
12
ouvimos a percentagem de carregamento, até aos 100%, altura em que a página está
totalmente aberta e pronta a ser navegada. A esta altura do processo ficamos igualmente
confusos, uma vez que a voz não parava de ler informação. Às tantas já nem sabíamos
quais os assuntos que estavam a ser noticiados na página. De seguida tentamos
posicionar-nos novamente na barra de endereços para digitarmos o endereço do Google.
Até chegarmos a esse ponto tivemos de ouvir várias vezes a indicação de “Tab – Link”,
e isto porque a página continha muitos links. À semelhança do que tinha acontecido
anteriormente, fizemos alguns erros na digitação até conseguirmos aceder à página do
Google. Demoramos cerca de 15 minutos até conseguirmos atingir o nosso objectivo
que era simplesmente clicar num link que nos remetesse para uma página acerca da
temática da deficiência visual. Relativamente às tarefas de encomendar um livro pela
internet e de pagar a conta da água através do site da CGD, também não nos foi possível
a concretização das mesmas. Por um lado, foi complicado para nós tentar perceber a
leitura dos conteúdos. Trata-se de duas páginas Web com muitos conteúdos e links que
a nosso ver, foram concebidas sem ter em conta as acessibilidades das pessoas com
deficiência. Não quer dizer que um utilizador já experiente não consiga navegar nelas,
mas de facto foi para nós muito complicado. Tentamos ver ainda a navegação em sites
que possuem o símbolo da acessibilidade e constatamos que de facto é bem mais
simples aceder a estes.
Durante este exercício tivemos de ser muito pacientes, perseverantes e
persistentes. Adoptamos uma espécie de política dos 3 P’s, que nos mostrou o quão
preciosa pode ser a ajuda de uma voz no acesso à informação. De facto, não fomos
capazes de executar determinadas tarefas, e outras houve que conseguimos realizar com
muito esforço. Concluímos que se não tivéssemos a ajuda desta tecnologia nem sequer
essas conseguiríamos concluir. É certo que não estamos habituados ao software, e que o
facto de possuirmos visão levou-nos muitas vezes a querer “espreitar” por debaixo do
pano. O ser humano tem a característica excepcional de se adaptar ao meio em que vive,
e por isso alguém que se veja privado da visão acaba por se adaptar. Acreditamos que
tal como o camaleão muda de cor como resposta às condições do meio, também alguém
que não vê terá necessariamente que criar mecanismos de vivência adaptados que
implicam uma grande capacidade auto-reguladora e um ajustamento automático a
condições variáveis do meio.
13
Conclusão
Conclusão
Foi nosso objectivo com este trabalho reflectir acerca do papel das novas
tecnologias de informação e da comunicação na sociedade actual. Abordamos a função
que estas podem desempenhar na aprendizagem, sobretudo quando falamos de pessoas
com necessidades educativas especiais. Cada vez mais é exigido à escola e aos
professores o contacto com esta nova realidade.
A recente Resolução do Conselho de Ministros n.º 51/2008 de 19 de Março vem
por novamente a tónica na importância da modernização tecnológica, que favorece a
promoção da cidadania e da inclusão. O acesso às novas tecnologias e as competências
para a sua utilização são cada vez mais um factor de diferenciação das oportunidades
sociais. Por isso, as pessoas com necessidades especiais devem ter também o acesso a
estas tecnologias já que para muitas, elas assumem-se como uma forma alternativa de
comunicação e consequentemente como um instrumento de inclusão: “as tecnologias da
sociedade da informação representam, em especial, para as pessoas com necessidades
especiais um meio propiciador de inclusão e participação social por excelência, podendo
e devendo estas tecnologias ser simultaneamente um factor de coesão social e de
combate à exclusão”.
As tecnologias de apoio, por serem concebidas para fins específicos constituem
uma mais-valia para as pessoas com deficiência. Neste trabalho falamos acerca do leitor
de ecrã JAWS, e tentamos perceber de que modo ele facilita o acesso à informação de
alguém que não vê. Concluímos que a execução de determinadas tarefas no computador
é facilitada através da audição de uma voz sintetizada. Sobre este assunto, julgamos ser
imprescindível o investimento no desenvolvimento de sintetizadores de voz em
português europeu cujo discurso sintetizado seja compreensível.
Torna-se absolutamente necessário incentivar o desenvolvimento de programas
de integração de pessoas com necessidades especiais. A sociedade da informação deverá
criar oportunidades de cidadania para estas pessoas, não apenas por uma questão de
solidariedade mas porque todos nós devemos participar nela de acordo com as nossas
características individuais.
14
ANEXO
Teclas essenciais do JAWS
Teclas de Atalho
Insert +
Insert +
Insert +
Page Up / Page Down
Ctrl
F5 ou Shift + F5
Tab ou Shift + Tab
H
F
T
B
L
I
1-6
Shift + Tecla rápida
Ctrl + Insert + Tecla rápida
Insert + F1
Insert + F5
Insert + F6
Insert + F7
Ctrl + Home
Ctrl + End
Alt + D ou F6
T
Ctrl + Alt +
/
/
/
Função
LEITURA
Ler tudo
Linha corrente
Anterior / próxima palavra
Aumentar/Diminuir velocidade de leitura quando no
modo Ler tudo
Parar leitura
Linha anterior
Próxima linha
Anterior/Próximo carácter
Voltar/Adiantar no modo Ler Tudo
Recarregar a página. Recomeçar tudo
AVEGAÇÃO
Navegar pelos links de uma página
TECLAS RÁPIDAS
Navegar pelos cabeçalhos
Navegar pelos formulários
Navegar pelas tabelas
Navegar pelo texto que não é link
Navegar pelos botões (ex.: botão de busca)
Navegar pelas listas
Navegar pelos itens de lista
Navegar pelos cabeçalhos de nível 1-6
Navegar pelos elementos em ordem inversa
Mostrar uma lista dos elementos
Ajuda para o elemento corrente
Lista dos elementos de formulários
Lista dos cabeçalhos
Lista de links
Topo da página
Fim da página
Barra de endereços do browser
TABELAS
Ir directamente para uma tabela
Navegar pelas células de uma tabela
15
Referências Bibliográficas
“Estratégias para a acção – as TIC na Educação”. Departamento de avaliação,
prospectiva e planeamento. Ministério da Educação. Lisboa: 2002
Missão para a Sociedade da Informação. “Livro verde para a sociedade da Informação
em Portugal”. Ministério da Ciência e da Tecnologia. Lisboa: 1997
FIGUEIREDO, Bruno. “Web Design – Estrutura, concepção e produção de sites Web”.
FCA Editora de Informática. Lisboa: 2004
“Normas de Acessibilidade na Informática”. Colecção Apoios Educativos, nº 8.
Departamento da Educação Básica. Lisboa: 2003
“Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação”. UMIC – Unidade
de Missão, Inovação e Conhecimento.
Sites consultados:
Centro de Inovação para Deficientes - http://www.cidef.org acedido em 17 de Março de
2008.
JAWS for Windows - http://www.blazie.com/fs_products/software_jaws.asp acedido
em 22 de Março de 2008.
Clube do JAWS - http://www.lerparaver.com/jaws/index.html acedido em 22 de Março
de 2008.
Tiflotecnia, Informática e Acessibilidade http://www.tiflotecnia.com/tecnica/jaws_atalhos.htm acedido em 22 de Março de 2008.
Freedom Scientific Products for the Visually Impaired http://www.freedomscientific.com acedido em 22 de Março de 2008.
World Wide Web Consortium - http://www.w3.org acedido em 22 de Março de 2008.
Web Content Accessibility Guidelines 1.0 - http://www.w3.org/TR/WAIWEBCONTENT acedido em 22 de Março de 2008.
Web Access Symbol - http://ncam.wgbh.org/webaccess/symbolwinner.html acedido em
22 de Março de 2008.
European Design for All - http://www.education.edean.org acedido em 22 de Março de
2008.
WebAim – Introduction to Web Acessibility - http://webaim.org/intro acedido em 22 de
Março de 2008.
16
Download

Deficiência Visual - Página Pessoal de Elisa de Castro Carvalho