AFEGANISTÃO CONFISSÕES RELIGIOSAS1 Muçulmanos (99%) - Sunitas (80%) - Xiitas (19%) Outras Religiões (1%) 2 3 Refugiados (internos)*: 16.866 * Refugiados estrangeiros a viver neste país. População : 30.551.674 Superfície : 2 652.864 km 4 Refugiados Deslocados : (externos)**: 631.286 2.552.208 ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro. O Estado e a liberdade religiosa O Afeganistão é uma república islâmica que partilha fronteiras com o Turquemenistão, o Uzbequistão e o Tajiquistão a norte, a China a nordeste, o Paquistão a leste e sul, e o Irão a oeste. O país é um complexo de diferentes grupos étnicos que lutaram uns com os outros durante décadas 5 antes de finalmente se unirem num único país desde a queda do regime talibã em 2001. Os grupos étnicos mais importantes são os pashtun (42%), os tajiques (27%), os hazara (9%), os uzbeques (9%) e os turcomanos (3%). 6 Aproximadamente 99% da população é muçulmana, sendo a esmagadora maioria (80%) constituída por muçulmanos sunitas, enquanto os muçulmanos xiitas representam cerca de 19%, predominantemente dos grupos étnicos hazara e tajique. 7 A Constituição de 2004, promulgada após a derrota do regime talibã (1997-2001) declara que o país é uma república presidencial islâmica. A natureza religiosa do Estado é um dos elementos-chave da nova Constituição, embora isso seja atenuado por uma combinação de medidas, fruto de intenso debate, concebidas para prevenir a possibilidade de o país resvalar para uma interpretação fundamentalista da sharia. Mesmo assim, a sharia permanece como uma das principais fontes de Direito na sociedade, em particular nas zonas tribais. O Artigo 2 da Constituição afirma que o «Islamismo é a religião oficial do Estado», embora o segundo parágrafo do mesmo artigo também proclame a liberdade religiosa. O Artigo 3 estipula «a conformidade de todas as leis» aos princípios e normas da religião islâmica, tornando a sharia, embora não nominalmente, na primeira fonte da lei. 8 1 www.globalreligiousfutures.org/countries/Afghanistan http://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL 3 http://data.un.org/CountryProfile.aspx?crName=Afghanistan 4 www.unhcr.org/pages/49e486eb6.html 5 www.nytimes.com/2014/02/19/world/asia/afghan-ethnic-tensions-rise-in-media-and-politics.html?_r=0 6 Calendário Atlante De Agostini 2013 7 www.minorityrights.org/?lid=5429 8 www.constituteproject.org/constitution/Afghanistan_2004 2 Assim, na prática, em nome do respeito pela lei islâmica no país, é impossível uma pessoa converter-se a outra religião, professar livremente uma fé diferente, exibir símbolos religiosos ou envolver-se no trabalho de missionação. A situação dos Cristãos Além das restrições impostas pelo Estado e pela sociedade tradicional fortemente muçulmana, há também um clima de desconfiança em relação aos Cristãos. A principal causa são dez anos de controlo militar por forças internacionais. Uma década de guerra contra os talibãs deixou 2,7 milhões de pessoas a viver no exílio nos países vizinhos. Procuraram refúgio sobretudo no Paquistão e no Irão. Em 2012 – pelo 32.º ano consecutivo – o Afeganistão ficou em primeiro lugar na lista anual do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (UNHCR). Além do radicalismo dos talibã, que tem aumentado nos últimos anos com ataques e atrocidades contínuas, sobretudo contra civis, 9 um factor que nalguns casos fomentou o ódio em relação aos Cristãos e a outras religiões consideradas como ‘estrangeiras’ tem sido a presença contínua das forças militares internacionais. Um exemplo disto foi a queima de exemplares do Corão a 20 de Fevereiro de 2012 na base militar norte-americana em Bagram, no Norte do país, por soldados norte-americanos. O incidente desencadeou protestos violentos em todo o Afeganistão, ceifando dezenas de vidas e levando a manifestações em massa nas quais os manifestantes queimaram cruzes e outros símbolos cristãos, bem como cartazes gigantes do Presidente norte-americano Barack Obama. 10 O Governo afegão declarou a primazia do Islamismo sobre todas as outras religiões. Falando no Parlamento em Setembro de 2013, o deputado Nazir Ahmad Hanafi deu voz aos rumores de que havia muçulmanos afegãos a converter-se ao Cristianismo na Índia. «O povo Afegão», afirmou, «está a continuar a converter-se ao Cristianismo na Índia. Isto é uma afronta à lei islâmica e, de acordo com o Corão, devem ser mortos.» O presidente do Parlamento afegão, Abdul Rauf Ibrahimi, também condenou as alegadas conversões, pedindo ao comité de segurança nacional que «acompanhasse a questão com cuidado». 11 Não há dados fidedignos sobre o número preciso de não-muçulmanos no Afeganistão. Algumas organizações protestantes calculam que haja cerca de 5.000 cristãos afegãos, ou seja, convertidos do Islamismo, mas até agora este número nunca foi confirmado. 12 A Igreja Católica está presente no Afeganistão sob a forma de uma missão Sui Iuris, sob a direcção do sacerdote italiano barnabita Padre Giuseppe Moretti. Ao todo, o número de sacerdotes, e religiosos do sexo feminino e masculino a trabalhar no Afeganistão totaliza apenas quinze. O grupo com a presença mais firmemente estabelecida no país é o das Irmãzinhas de Jesus. Estas religiosas (quatro no total) foram respeitadas até pelos talibãs e estão a trabalhar em Cabul há cinquenta anos. A queda do regime talibã tornou possível que as Irmãs da Madre Teresa entrassem no país em 2006 e trabalhassem com os doentes e os pobres. Outro grupo respeitado e reconhecido pela população é a associação de caridade italiana para crianças Associazione Pro-bambini di Kabul, que trabalha com crianças órfãs e deficientes. Olhando para a questão da liberdade religiosa como um todo no país, a Constituição é baseada na sharia e isto torna quase impossível a melhoria da situação. O clima contínuo de 9 De acordo com estimativas da Missão da ONU para o Afeganistão (UNAMA), na primeira metade de 2013 o número de vítimas civis aumentou 23% em relação ao ano anterior. De Janeiro a Junho, o número de mortes ligado a incidentes de guerra aumentou de 1.158 em 2012 para 1.319 em 2013. Durante o mesmo período, o número de civis feridos aumentou de 1.976 em 2012 para 2.533 em 2013. 10 Cf. AsiaNews.it, «Afghanistan: i talebani preparano nuovi attentati. I timori dei cristiani», 14/03/2012. 11 Cf. Christian Today, «Afghan Member of Parliament: ‘Execute Afghan Christian converts’», 09/09/2013. 12 Cf. Frontline Missions International, «Afghanistan’s Mosque-to-Church Ratio as of June 2013», 25/06/2013. insegurança deu muito poder aos talibã e aos seus seguidores, não apenas nas zonas rurais, mas também na capital, Cabul. A intolerância em relação a outras religiões e aos costumes que não os do Islamismo foi reforçada pelas declarações contra as conversões ao Cristianismo por parte de alguns deputados e demonstrada pelas actuais circunstâncias de justiça sumária – por exemplo, casos de adultério punidos por apedrejamento. 13 13 www.reuters.com/article/2013/11/25/us-Afeganistão-rights-idUSBRE9AO0EB20131125