TEMA: POLÍTICAS PÚBLICAS E MEIO AMBIENTE Este estudo propõe revisar e avaliar repercussões dos sistemas de pagamentos por serviços ambientais (PSA) na agenda das políticas públicas dos estados brasileiros. A redefinição das estratégias de desenvolvimento local, a inclusão de novos indicadores de produtividade da propriedade rural e a consolidação de novos arranjos institucionais são alguns desses desdobramentos. Nas políticas ambientais, medidas compensatórias são concebidas para atender a inúmeros procedimentos de internalização dos custos e benefícios derivados das externalidades ambientais da atividade econômica. Produção e disponibilidade de água potável, regulação climática, potencial atual e futuro de biodiversidade, recreação, educação, controle biológico, recursos genéticos e medicinais, paisagens e fertilidade do solo, são ‘externalidades positivas’ que dependem da manutenção ou do incremento da qualidade e da quantidade dos recursos naturais. Sob o prisma do Princípio do Protetor Recebedor, preços são definidos para internalizar tais benefícios, não devidamente pagos, através de sistemas de pagamento aos provedores desses serviços ambientais. Bishop & Landell-Mills (2005) ressaltam que a criação de mercados para serviços ambientais constitui incentivos relevantes para conservação, gerando renda alternativa para populações rurais, com distribuição equitativa dos custos e benefícios associados à gestão da diversidade biológica. Na revisão dos fundamentos que permeiam as políticas de PSA, Mattos & Hercowitz (2009) observam a importância do atrelamento dessas políticas às estratégias sociais concebidas a partir dos arranjos locais. Para verificar como a construção desses mercados é viabilizada no mundo real, pretendemos examinar parâmetros e critérios adotados nos programas-piloto para implantação de PSA, e seu rebatimento nas bases legais implementadas e projetos de lei em tramitação, nos estados brasileiros. Os estados de Santa Catarina (Lei Nº 15.133, de 19 de janeiro de 2010), Minas Gerais (Lei n° 17.727, de 13 de agosto de 2008) e Espírito Santo (Lei n° 8.995, de 22 de setembro de 2008) dispõem de legislação específica para pagamentos por serviços ambientais, mas diversos projetos-pilotos, pautados na 1 idéia de que produtores rurais que preservam o meio ambiente devem receber incentivos financeiros pelos serviços ambientais prestados à sociedade, se antecipam à constituição de bases legais que definam regras claras, continuidade e fontes de recursos para a consolidação dessas políticas. O levantamento recente realizado pela TNC Brasil (Veiga, 2010), sobre a atual experiência brasileira com o desenvolvimento e implementação de programas de PSA aplicados à gestão das águas, é demonstrativo no que diz respeito aos arranjos institucionais que precedem a constituição do seu arcabouço legal. Na maioria das vezes, parcerias e articulações inéditas antecipam-se à constituição de bases legais que assegurem os esquemas de PSA. Essas iniciativas estão sendo desenvolvidas em parcerias envolvendo governos estaduais, prefeituras, consórcios de ONGs, comitês de bacias e, em alguns casos, usuários (empresas de água). Daí emanam parâmetros inovadores, materializados a partir de mecanismos de cooperação e acordos coletivos, sob a gestão do Estado. Na atualidade, aproximadamente 212 produtores rurais recebem pagamentos por prestarem serviços ambientais relacionados à qualidade/quantidade de água, no Brasil (Veiga, op.cit.). Na abordagem desses cenários, aspectos a serem examinados, no âmbito dos projetos de lei e da legislação em vigor, correspondem às diretrizes estabelecidas para a constituição dos sistemas estaduais de PSA; às fontes de recursos financeiros para sua implementação, gestão financeira dos recursos e outros recursos indiretos previstos; aos indicadores de monitoramento e estruturas de governança; e à abrangência do sistema, no que diz respeito à demarcação de prioridades nos planos, programas e projetos para a implementação dos sistemas de PSA. Para dimensionar tais repercussões no âmbito das estratégias locais implantadas e em processo de implantação, serão revisadas suas bases institucionais, interfaces com outros programas e políticas e a percepção social dos beneficiários em relação ao mecanismo. A evolução das estratégias de PSA, a partir da literatura e de iniciativas conduzidas no âmbito de organizações não-governamentais e de representações da sociedade civil, incide diretamente na gestão da pequena propriedade rural. Novos valores e atributos referentes à prestação de serviços ambientais englobam 2 conservação e melhoria da qualidade e da disponibilidade hídrica, conservação e incremento da biodiversidade, redução dos processos erosivos, fixação e sequestro de carbono para fins de minimização dos efeitos das mudanças climáticas globais. A literatura registra aspectos relevantes sobre a gestão desses mecanismos em diversos contextos internacionais, no que tange aos arranjos adotados, procedimentos de pagamento, resultados percebidos e lacunas. Com base nesses cenários, esperamos contribuir com reflexões sobre as repercussões sociais e ambientais dos sistemas de PSA nas políticas municipais de gestão ambiental. No contexto nacional, devido ao caráter incipiente dessas experiências, o foco adotado nesta análise destaca a articulação de interesses e arranjos institucionais adotados e o rebatimento dessas experiências na formulação e implantação de instrumentos legais que assegurem continuidade e consolidação dos sistemas de PSA, como alternativa consistente e efetiva para a conservação ambiental em propriedades privadas. Referências bibliográficas BISHOP, J. & LANDELL-MILLS, N. Serviços Ambientais Florestais: Informações Gerais. In: PAGIOLA, S., BISHOP, J. & LANDELL-MILLS, N. Mercados para serviços ecossistêmicos. RJ, REBRAF, 2005. MATOS, L. & HERCOWITZ, M. Capital social e controle social na gestão de políticas públicas. In: NOVION, H. & VALLE, R. (Org.) É pagando que se preserva? Subsídios para políticas de compensação por serviços ambientais. Documentos ISA 10, ISA, SP, 2009. VEIGA, F. (Coord.) Pagamentos por serviços ambientais água – levantamentos de projetos implementados e iniciativas promissoras. Relatório técnico. Programa de Conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais. TNC Brasil, Curitiba, Março de 2010. 3