A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO SOCIAL E DIGITAL Elizabete Ramalho Procópio Faculdades Integradas de Cataguases [email protected] 1. INTRODUÇÃO O termo inclusão nos remete a diversas discussões. Inclusão social, inclusão de culturas, de crenças, de orientação sexual, de indivíduos com necessidades especiais, inclusão digital, dentre outras. No que se refere a inclusão digital, acredita-se que o acesso e a utilização das tecnologias da informação e comunicação devem estar acessíveis para a sociedade em geral e a escola nesse contexto precisaria integrar os meios digitais em sua prática. Para que essa integração aconteça é preciso que o futuro professor discuta e vivencie situações significativas do uso das TIC durante seu processo de formação para a docência. Essa formação não pode desconsiderar esse debate sobre tudo por se tratar da linguagem das novas gerações. A Educação a Distância aparece no cenário educacional como possibilidade de formação de professores que não tem oportunidade de freqüentar um curso presencial ou como opção dos mesmos por essa modalidade de ensino pela flexibilidade de horários que a mesma oferece. O tema formação de professores, bem como as possibilidades e desafios dessa formação, é de suma importância num país como o Brasil, onde lutamos ainda contra o analfabetismo e por melhores condições básicas de vida e trabalho. No limiar do século XXI, a formação de profissionais para atuar numa sociedade globalizada, multicultural, pós-moderna, necessita estar pautada na qualidade dessa formação e nas possibilidades de inserção e qualificação das pessoas na vida profissional. Essa formação não deve estar voltada apenas para a execução de tarefas, mas para auxiliar na constituição de um profissional reflexivo e capaz de transformar a realidade. O presente artigo pretende apresentar e discutir análises feitas a partir de um projeto de mestrado realizado no formato de um estudo de caso referente ao curso de Pedagogia oferecido pela UFJF no pólo de Cataguases. O objeto de estudo nesse trabalho é a prática docente dos professores formados por meio das tecnologias no pólo mencionado. Visamos investigar como os professores, que fizeram sua graduação no modelo a distância e que tiveram a oportunidade de lidar com tecnologias diferenciadas em sua formação, fazem uso da tecnologia em sua prática docente. O curso de graduação a distância em Pedagogia em questão foi fruto de um convênio firmado entre a prefeitura de Cataguases e a Universidade Federal de Juiz de Fora. A cidade de Cataguases, com aproximadamente 65.659 habitantes é considerada de porte médio, sendo basicamente de população operária. Situa-se a 300 km de Belo Horizonte e a 250 km do Rio de Janeiro. A proposta inicial do curso obedecia aos moldes do Consórcio CEDERJ1. Entretanto, esta foi reconstruída pela Universidade Federal de Juiz de Fora, na medida em que foram percebidas necessidades de adaptação. Por exemplo, o material didático era oferecido em formato de apostila e era disponibilizado aos alunos com antecedência, já para o semestre todo, conforme a orientação do consórcio. No entanto, percebeu-se a necessidade de reformulação dos textos a serem trabalhados. Houve a percepção do grupo que estava à frente da organização do curso, da necessidade de ênfase no processo de mediação pedagógica, o que seria conseguido mediante a interação de todos os que faziam parte daquela proposta. Havia também momentos de encontros presenciais na UFJF com tutores, professores e alunos de diversos pólos. É preciso destacar que a cidade em questão já possuía uma faculdade presencial de formação de professores. No entanto, a chegada do pólo da Universidade Federal de Juiz de Fora no local oportunizou opção pela modalidade de Educação a Distância com o respaldo da Universidade Federal. Os sujeitos da presente pesquisa são os professores que se graduaram por meio das tecnologias no curso a distância, no pólo da UFJF em Cataguases e que trabalhavam 1 O Consórcio CEDERJ reúne, desde 1999, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e as seis Universidades públicas sediadas no Estado: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal Fluminense (UFF);Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Também participam ativamente deste esforço as Prefeituras Municipais que sediam os pólos regionais do CEDERJ. Os objetivos do CEDERJ são: contribuir para a interiorização do ensino superior público, gratuito e de qualidade no Estado do Rio de Janeiro; concorrer para facilitar o acesso ao ensino superior daqueles que não podem estudar no horário tradicional; atuar na formação continuada, a distância, de profissionais do Estado, com atenção especial para o processo de atualização de professores da rede estadual de Ensino Médio; aumentar a oferta de vagas em cursos de graduação e pós-graduação no Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.cederj.edu.br/fundacaocecierj/exibe_artigo.php Acessado em: 19 de março de 2010. e continuam trabalhando como professores na cidade. O fato de estes alunos estarem em exercício anteriormente ao curso e prosseguirem na profissão após sua formação sugeriu sua escolha como sujeitos de nossa investigação. Pensamos que, a partir da análise de eventuais mudanças em suas práticas, no que se refere ao uso de tecnologias, poderíamos compreender o reflexo da dimensão da formação no seu dia a dia. Nossa expectativa era de que tais professores, por terem sido formados por meio das tecnologias, tenderiam a utilizá-las mais frequentemente e de maneira mais incisiva como recurso pedagógico. A EAD que propomos discutir no presente trabalho é, pois, uma modalidade de ensino aberta e que percebe ressignificação do tempo e do espaço no que se refere às relações humanas, na sociedade atual. As distâncias são questionadas e os espaços circunscritos em outros locais que não aqueles em que as pessoas estejam presentes fisicamente. Nessa abordagem de educação a distância, a possibilidade de levar o trabalho acadêmico a um local distante da universidade em que os docentes não teriam como freqüentar um curso presencial é uma realidade. 2. A EAD: CONCEITOS E POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A fim de realizar uma reflexão sobre a formação de professores por meio das tecnologias da informação e comunicação num curso de EAD e sobre as implicações dessa formação na prática docente, optamos pela realização de uma pesquisa com caracterização descritiva e adotamos o estudo de caso como método. Para o desenvolvimento da pesquisa de campo, optou-se pela utilização dos instrumentos questionário e entrevista semi estruturada. O questionário foi estruturado com 23 perguntas, com as quais se procurou investigar, além do perfil dos professores, a forma de utilização das mídias em geral por alunos docentes que se graduaram por meio das tecnologias da informação e comunicação. Procurou-se também identificar se os mesmos já possuíam computador antes do curso, se já utilizavam e de que maneira e principalmente se os mesmos utilizavam os recursos tecnológicos como recurso pedagógico, já que eles se graduaram por esses meios. Em seguida, foram realizadas entrevistas, com os 13 professores e os respectivos coordenadores desses sujeitos. Os coordenadores pertencem às 10 escolas onde os professores/sujeitos lecionam. Foram entrevistados 08 coordenadores, sendo que o critério para a seleção dos mesmos foi acessibilidade. Para o melhor entendimento do tema Educação a Distância faz-se necessário sua conceituação e uma pequena retrospectiva histórica. A presença de diferentes modelos, concepções e práticas de Educação a Distância hoje constituem um desafio para sua conceituação. Percebe-se que as primeiras experiências de Educação a Distância eram caracterizadas como uma modalidade de ensino com ênfase no instrucionismo behaviorista. Ainda hoje, coexistem propostas de EAD baseadas nos pressupostos fordistas com outras mais voltadas para a interação no processo de ensino-aprendizagem, numa visão flexível, principalmente no que diz respeito à autonomia do estudante, ao tempo e horário para estudar, bem como ao que significa o espaço da sala de aula. As definições de EAD enfatizam a distância física entre professor e aluno e muitas enfatizam a organização, no que tange aos procedimentos de ensino e no material didático a ser utilizado, para que o objetivo de aprendizagem aconteça. Para Rebel: Educação a distância é um modo não contíguo de transmissão entre professor e conteúdos de ensino e aprendente e conteúdos de aprendizagem – possibilita maior liberdade ao aprendente para satisfazer suas necessidades de aprendizagem, seja por modelos tradicionais, não tradicionais, ou pela mistura de ambos. (REBEL, 1983, apud BELLONI, 2009, p. 26) O desenvolvimento exacerbado das tecnologias da informação e comunicação e sua disponibilização para a sociedade principalmente, no que se refere, principalmente, à internet, possibilitou um fortalecimento da Educação a Distância, hoje se apresentando com uma definição mais aberta e mais completa. Segundo Belloni: A EAD é uma modalidade de ensino, ou seja, deve ser compreendida como um tipo distinto de oferta educacional, que exige inovações ao mesmo tempo pedagógicas, didáticas e organizacionais. Seus principais elementos constitutivos (que a diferenciam da modalidade presencial) são a discontiguidade espacial entre professor e aluno, a comunicação diferida (separação no tempo) e a mediação tecnológica, característica fundamental dos materiais pedagógicos e da interação entre o aluno e a instituição (Belloni, 1999). A aprendizagem aberta, por sua vez, é um modo de aprendizagem – novo no sentido em que é distinto das práticas na maioria de nossas instituições de ensino em qualquer nível – que requer um processo de ensino centrado no aprendente, concebido como um ser autônomo, gestor de seu próprio processo de aprendizagem. As principais características da aprendizagem aberta são a flexibilidade e liberdade do estudante (time free, place free, pace free) e oferta voltada para os interesses do estudante (flexibilização do acesso e dos procedimentos de ensino e de avaliação) (BELLONI, 2002b, p. 156- 157) A Educação a Distância, que se propõe num modelo mais aberto e flexível, considera mais a interação do estudante com os meios tecnológicos utilizados e com as pessoas envolvidas no processo (tutores, professores e outros estudantes). Se fizermos uma breve incursão na história da educação no Brasil e na formação dos professores para a educação básica, notaremos que essa formação aconteceu, segundo Gadotti (2000), nos primeiros 20 anos do século 20, nas Escolas Normais de formação de professoras primárias. Inspiradas nos ideais liberais e na crença do poder da educação, as bases dessa formação refletiam a ideia de que a ignorância do povo era a causa das crises do país. A lei 5692/71 veio a suprimir as escolas normais e as substituiu pelo curso de magistério, que se apresentava como uma opção no ensino profissionalizante. Nessa época, o professor que iria lecionar nas primeiras séries do ensino fundamental, fazia sua formação nos cursos técnicos de magistério, nas escolas de 2º grau. Segundo Scheibe e Aguiar na década de vinte: O curso de pedagogia foi criado no Brasil como conseqüência da preocupação com o preparo de docentes para a escola secundária. Surgiu junto com as licenciaturas, instituídas ao ser organizada a antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, pelo Decreto lei nº 1190 de 1939. Essa faculdade visava à dupla função de formar bacharéis e licenciados para várias áreas, entre elas, a área pedagógica seguindo a fórmula conhecida como “3+1”, em que as disciplinas de natureza pedagógica cuja duração prevista era de um ano, estavam justapostas às disciplinas de conteúdo com duração de três anos. (SCHEIBE; AGUIAR, 1999, p. 223) Direcionando o olhar para os debates realizados anos 70, percebe-se que a formação do professor e especialista em educação nessa época privilegiava o enfoque tecnicista, segundo o qual eram supervalorizados a organização e o planejamento para a obtenção de resultados instrucionais altamente eficazes e eficientes. Conforme propõe Pereira (2000), na década de 80, o enfoque do debate sobre a formação de professores muda para a reflexão sobre o caráter político da prática pedagógica e do compromisso do educador com as classes populares. Havia nessa época uma tentativa de superação da figura do especialista do conteúdo ou do técnico da educação dos anos 70 para o educador, que estaria menos preocupado com suas técnicas e métodos de ensino para atuar como um agente sócio-político. O debate se desenvolve e passa a vigorar a ideia de que o educador deveria ser “formado sob dois aspectos distintos e indissociáveis: competência técnica e compromisso político” (PEREIRA, 2000. p. 29) Percebe-se, na década de 90, uma expansão do ensino superior, principalmente em atendimento aos organismos internacionais. Por consequência, cresce a demanda por professores e, nessa linha, o debate sobre a formação dos mesmos. Esse momento é caracterizado pela criação dos Institutos Superiores de Educação e dos Cursos Normal Superior, bem como pela diversificação da oferta dos cursos de formação como Pedagogia, Licenciaturas, cursos especiais e Educação a Distância. A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 prevê que os professores, para atuar no Ensino Fundamental, tenham formação em nível superior. Porém, ela também faculta que essa formação possa ser feita em nível do Ensino Médio. A LDB trata também da EAD e abre caminho para ampliação dessa modalidade de ensino. Segundo Giolo: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – n.9.394, de 20 de dezembro de 1996) concedeu estatuto de maioridade para a educação a distância. Garantiu-lhe o incentivo do poder público,espaço amplo de atuação (todos os níveis e modalidades) e tratamento privilegiado no que se refere à utilização de canais de radiodifusão. Os requisitos para a realização de exames e registros de diplomas seriam dados pela União e as demais dimensões (produção, controle, avaliação e autorização) seriam regulamentadas pelos respectivos sistemas de ensino. (GIOLO, 2008, p. 1212-1213) O debate atual, no que se refere à formação de professores, inclui em sua pauta a EAD, suas possibilidades e desafios. No presente trabalho, investiga-se sobre as implicações da formação do professor por meio das tecnologias em sua prática escolar. O ensino presencial oferece possibilidades de diálogo, de trocas, de interações que o ensino a distância também pode proporcionar. Além disso, somente o fato de ser um ensino presencial não garante o diálogo, a troca e a interação entre as partes e o fato de ser ensino a distância não inviabiliza essa interação. A educação a distância, numa perspectiva de interatividade e de ampliação de espaço e de tempo, pode significar uma possibilidade de formação de qualidade para muitas pessoas que estão longe dos centros de formação ou que se identificam com essa modalidade de ensino. O reconhecimento legal da Educação a Distância no Brasil é relativamente curto. A LDB abriu os caminhos para que essa possibilidade realmente se efetivasse em nosso país. Segundo Neto (2006) os programas de Educação a Distância no Brasil, na Lei 5692/71, recebiam pareceres dos Conselhos Federal e Estaduais de Educação e eram classificados como “experimentais”. Hoje, o debate sobre educação a distância está presente também quando de fala de formação de professores. De acordo com Neto (2006), a pauta temática atual da EAD refere-se geralmente a três aspectos: 1. Suas possibilidades de abertura e ampliação de oportunidades de acesso a uma educação de qualidade, como resposta adequada às exigências de mais e melhor formação em uma modernidade globalizada e competitiva. 2. Sua consistência como solução de problemas e dificuldades colocadas pela falta de disponibilidade de tempo de candidatos a cursos de diferentes níveis e modalidades, pela exigüidade de espaços e carência quantitativa e qualitativa de agentes educacionais para seu atendimento. 3. Seu real valor como instrumento eficaz de renovação e mudança de paradigmas pedagógicos diante das ilimitadas potencialidades das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação. (NETO, 2006 p.400-401) O fato da LDB 9394/96 abordar o tema Educação a Distância como uma possibilidade de formação aos brasileiros, regulamentada, garante uma consistência nas ações e projetos dessa modalidade de ensino até então sujeitos a favoráveis e contrárias a ela. Outro momento importante na legislação, no que se refere à EAD, diz respeito ao Decreto 5622/ 2005. Ele absorve em seu corpo aspectos da Portaria do MEC nº 301 de 07 de abril de 1998, que estabelece normas sobre credenciamento de instituições para a oferta de EAD. A mudança de tratamento na caracterização da EAD, observada no texto no Decreto de 2005, evidencia um avanço na discussão da temática. O texto se refere à Educação a Distância como: Art. 1º- Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional no qual a mediação didático pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias da informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005)2 Ao final de 2005 começou a ser viabilizado o projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB). O projeto foi elaborado por intermédio da Secretaria de Educação a distância do Ministério da Educação, em consonância com as políticas públicas de expansão da educação superior. Foi feita uma chamada pública para a seleção de pólos municipais de apoio presencial e de cursos superiores de Instituições Federais de Ensino Superior na modalidade EAD para a UAB.3 Um curso de formação de professores precisa estar comprometido com os processos emancipatórios da população e com a promoção do humano. Segundo Pimenta (2008): Para além da finalidade de conferir uma habilitação legal ao exercício profissional da docência, do curso de formação inicial se espera que forme o professor. Ou que colabore para sua formação. Melhor seria dizer que colabore para o exercício de sua atividade docente, uma vez que professorar não é uma atividade burocrática para a qual se adquire conhecimentos e habilidades técnico-mecânicas. Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes fazeres docentes a partir de necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano. (PIMENTA, 2008. p. 18) Para entender profundamente o tema formação de professores e EAD, há que se promover um constante debate sobre as conquistas advindas da implementação da UAB e se fomentar o campo de pesquisas em tecnologias de informação e comunicação. O terreno fértil no qual se lançam as sementes do projeto UAB poderá propiciar a revisão de nosso paradigma educacional, em termos da modernização, gestão democrática e 2 Disponível em: http://homepages.dcc.ufmg.br/~bigonha/Legis/Legislacao/EAD/Decreto-5.622-ead.pdf. Acesso em: 19/03/2011 3 Rede Nacional Experimental voltada para a pesquisa e para a educação superior (compreendendo a formação inicial e continuada), formada pelo conjunto de IES públicas em articulação e integração com o conjunto de pólos municipais de apoio presencial. financiamentos, e provocará importantes desdobramentos para a melhoria da qualidade da educação, tanto na incorporação de tecnologias e metodologias inovadoras ao ensino presencial quanto nos possíveis caminhos de promovermos educação superior a distância com liberdade e flexibilidade. Ainda como uma retrospectiva histórica destaca-se que as primeiras experiências com EAD aparecem com os cursos de instrução pelo correio. Depois, as práticas de Educação a Distância privilegiaram sua difusão por meio do rádio e da televisão. Hoje, com o extremo desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, a EAD aparece como possibilidade de formação, em “classes e universidades virtuais baseadas em tecnologias da internet” (MOORE; KEATSLEY, 2007. p.25). É oportuno considerar a importância da oferta de educação superior por meio da modalidade a distância aos lugares mais longínquos do país. Essas ações, aliadas à constante reflexão, poderão contribuir para a inserção de diversas pessoas ao mundo acadêmico, melhorando assim, a qualidade do ensino no país. 2.1. A EAD como possibilidade de inclusão social Evidenciando a possibilidade de ampliação da oferta da educação superior no Brasil, cabe destacar o texto da constituição de 1988 que diz: a educação é um direito de todos, dever do estado e da família e que deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho. Apesar da clareza do texto constitucional, percebe-se que a luta em prol de uma escola de qualidade para todos ainda não é nossa realidade. Ao se pensar na formação daqueles que estarão diretamente em contato com os educandos, dialogando com eles, intermediando seu conhecimento, visando à transformação desse ser, há que se ter o cuidado de garantir-lhes uma boa formação em consonância com a sociedade e a cultura em que está inserido. Ainda nos remetendo ao texto constitucional, percebe-se que no que diz respeito ao “direito de todos e dever do estado e da família”, a EAD tem proporcionado, enquanto política pública, a inserção no mundo acadêmico de diversas pessoas que, por diferentes motivos, não poderiam freqüentar um curso presencial. O pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, presentes na constituição, se configuram num tema recorrente nas reflexões que se referem à modalidade presencial e também num curso a distância. A boa formação do professor deverá estar pautada em um compromisso de todos os que estão envolvidos no processo educacional, um compromisso que se renova a cada conquista, a cada passo dado por educador e educando. A pesquisa em educação com o tema formação de professores tem muito a contribuir nas reflexões sobre a qualidade da educação no Brasil. Como já mencionado acima, a formação de professores por meio das tecnologias é fruto de uma política pública que visa ao desenvolvimento de profissionais em serviço e que também visa proporcionar qualificação acadêmica a pessoas que, muitas vezes, estão distantes da possibilidade de freqüentar um centro universitário. A Educação a Distância vivida de uma forma interativa, que se apóia no papel do outro (colega, professor, tutor, grupo, ou outra denominação que se utilize) para a formação do aluno, futuro professor, certamente terá a contribuir para a construção de um profissional capaz de transformar a sociedade. Essa formação por meio das tecnologias, é temática essencial das pesquisas em educação visto que tem se configurado como possibilidade de formação por meio de instituições particulares e também por meio de políticas públicas de formação do educador. 2.2 – A formação de professores por meio da EAD e a inclusão digital Ao iniciar o processo de sua formação, mesmo considerando que seria um curso a distância e que, portanto, necessitariam de uma integração constante com os meios tecnológicos, muitos dos alunos não possuíam qualquer contato com o mundo virtual. Em resposta à entrevista, nove declararam possuir dificuldades no início de sua formação e dizem ter melhorado sua relação com as tecnologias ao final do curso; quatro disseram não possuir dificuldades de uso no início da graduação, mas declararam ter ampliado essa relação ao final de seu processo de formação. Esses dados nos revelam que a possibilidade de estar em contato com essa nova via de comunicação virtual (num ambiente diferente e de estranhamento para eles), certamente lhes proporcionou uma mobilização de questionamentos internos e reflexões acerca de sua própria formação e também o desenvolvimento de novas competências para atuação na sociedade informacional. Nesse sentido, o curso funcionou, mesmo sem ser este o objetivo principal, como oportunidade de inclusão digital. Este aspecto mereceria, em outros contextos, mais investigações. O formato de proposta interativa do curso a distância via computador, lhes oportunizou a imersão num mundo, que antes parecia distante para muitos deles. A declaração da professora H pode ilustrar esse dado. Ao ser perguntada se ela havia ampliado a utilização da tecnologia como recurso pedagógico, após o curso, ela declarou: Professora H: Sim, porque permitiu maior possibilidades de pesquisa, a descoberta de novos sites que foi daí que eu descobri o site de jogos de libras online, eu acho que foi muito válido. Na minha sala de libras trabalhei o ano passado com o computador, com relação à imagem... Porque eu necessito da imagem, do visual para estar trabalhando com os surdos e agora com as atividades de libras online, vai ser mais útil ainda... A busca pela formação a nível superior, num curso a distância por uma diversidade de alunos, de diferentes faixas etárias, como já foi dito acima, demonstra que a flexibilidade oferecida nessa modalidade de ensino pode fazer com que mais pessoas procurem por essa opção. Percebe-se que o perfil dos alunos que procuraram esse curso não evidencia facilidade com os meios tecnológicos, visto que grande parte dos entrevistados declarou ter dificuldades no início do processo de formação a distância. A professora B, ao ser perguntada sobre suas dificuldades no início do curso, declarou: Professora B: Ah! No início eu tive muita dificuldade porque como eu havia dito, eu não tinha... Eu não sabia nem mesmo passar e-mail. Então eu comecei mesmo, eu acho assim do zero... Dificuldade semelhante foi relatada pela professora M: Professora M: Nossa senhora quase que eu parei (risos), quase que eu desisti, tive muita dificuldade... Muita mesmo porque já tinha assim uns quinze a vinte anos que eu já estava parada então assim... Pra recomeçar foi difícil e eu tinha que recomeçar também assim com uma tecnologia... Também foi percebido nas entrevistas que apesar de declararem dificuldades no início da graduação, os entrevistados consideram que tiveram uma boa formação e que isso se reflete em sua prática de diversas maneiras. Os professores declararam que o curso de Pedagogia, enriqueceu sua forma de ver a criança e que as teorias estudadas no curso fortaleceram e embasaram suas atitudes em sala de aula. Sobre sua atuação após o curso podemos destacar a fala da professora B: Considero que foi ótima a formação. Eu aprendi muito e pude trazer da Pedagogia, para o curso de história que eu havia feito, porque a gente numa formação especializada igual assim direcionada para história, para matemática, para geografia, mas eu vou falar de história que é o curso que eu fiz, a gente tem essa parte pedagógica, mas eu acho que ela não atende do jeito que poderia atender... Ampliar mais até porque não é a modalidade do curso... Então isso veio a acrescentar na minha prática dentro de sala, da maneira deu expor a história mesmo para eu poder trabalhar, para eu poder modificar a minha prática, se eu via que o aluno não estava conseguindo aprender de uma forma, eu já introduzia outros métodos, como trabalhos mesmo deles, apresentação, eu percebia que uns tinham facilidade na oralidade, outros na escrita, outros através de um vídeo, então eu pude diversificar mais. Sobre a sua formação por meio das tecnologias, completou: Professora B: Acrescentou e muito porque assim, eu senti que é um recurso a mais, é um recurso favorável, tanto que eu estou fazendo um curso de pós-graduação a distância... E com os meus alunos, eu percebi que eu tenho uma linguagem... Que é a linguagem deles da informática. Por que antes eu não tinha, por exemplo, quando eu iniciei o curso, passar um e-mail, ter a facilidade de entrar num chat, então eu não tinha esse recurso... Muitas das palavras eu ainda tropeço, mas eu sei o q que é, e eu já sei... E eu não vejo aquilo como um bicho de sete cabeças, já não tenho aquele receio igual eu tinha antes... A professora M ao ser indagada sobre a importância da utilização das TIC na sala de aula respondeu: Professora M: Muito, é muito importante... Depois que eu fiz o curso, né, e que eu fiz a disciplina informática na educação, então eu acho que hoje em dia, isso tem que começar mesmo é lá em baixo no ensino fundamental, que aí a criança já vai evoluindo junto com a tecnologia, eu acho que é uma coisa que não pode faltar nas escolas... Considerando que o espaço e o tempo da sala de aula se ressignificaram, com vistas ao desenvolvimento exacerbado das TIC é importante verificar que professores em formação se debrucem sobre as possibilidades que se abrem nesse universo novo de possibilidades. O caminho para as mudanças se revela na reflexão e na ação dos que estão à frente do processo educacional. 3. CONCLUSÃO Percebe-se que o uso das tecnologias, principalmente os recursos da informática, está presente culturalmente no dia a dia desses professores, que declararam utilizar a internet para preparar aulas, como fonte de pesquisa, para se comunicarem em redes sociais e se divertirem. Vê-se que o ciberespaço está incorporado à vida dessas pessoas, que mesmo sem serem considerados “nativos digitais” transitam no meio tecnológico o que pode ter sido facilitado pela sua formação por meio das tecnologias. O fato de as TIC estarem presentes na sociedade e da linguagem dessas tecnologias ser essencialmente a linguagem dos jovens e das crianças do mundo atual implica uma integração das mesmas na escola. Nossa investigação partiu com a hipótese de que os professores que passaram por uma formação mediada pelas TIC tenderiam a utilizá-la de maneira mais constante como recurso pedagógico. Ainda que diversos fatores pudessem balizar o uso dos recursos tecnológicos no dia a dia da escola, acreditávamos que a experiência dos professores com esses recursos refletiria numa relação mais próxima com a tecnologia e em um uso mais freqüente da mesma. A partir de nossas análises e reflexões, podemos dizer que todos os professores entrevistados nesta pesquisa fazem uso das tecnologias no seu dia a dia. Entretanto, não é possível afirmar que todos fazem uso das TIC como recursos pedagógicos, pois a simples utilização de um ou outro equipamento não pressupõe um trabalho educativo ou pedagógico, propriamente. Percebeu-se que tais professores fazem uso dos meios tecnológicos em sua vida cotidiana e profissional, todavia, esse uso se configura mais na questão de preparação de aulas e na interação nas redes sociais e buscas de pesquisa. Foram levantadas também questões estruturais para o uso incipiente dos meios tecnológicos, como não existência de equipamentos nas escolas que viabilizem a utilização dos recursos em sala de aula e a falta de apoio dos coordenadores e diretores quanto a facilitação do uso desses recursos pelo o professor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2007. BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 5. ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2009. ___________________. (org) A formação na sociedade do espetáculo. São Paulo: Loyola, 2002a. ___________________. Educação a distância mais aprendizagem aberta. In: BELLONI, Maria Luiza. (org) A formação na sociedade do espetáculo. São Paulo: Loyola, 2002b. p.151-168 ____________________. Ensaio sobre educação a distância. Revista Educação e Sociedade, ano XXIII, n.78, abril. 2002c. GIOLO Jaime. A educação a distância e a formação de professores. Revista Educação e Sociedade Campinas, vol 29, nº 105. p.1211 a 1234, set/dez 2008 disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v29n105/v29n105a13.pdf Acesso em 14/02/2011. KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias. O novo ritmo da informação. Campinas SP: Papirus, 2007. ________________ Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas-SP: Papirus, 2003. MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a distância. Uma visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, 2007. NETO Francisco José da Silveira Lobo. Regulamentação da educação a distância: caminhos e descaminhos. In SILVA Marco. Educação on line. São Paulo: Loyola, 2006. PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. Formação de Professores: Pesquisas, representações e poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. PIMENTA, Selma Garrido. (org) Saberes pedagógicos e atividades docentes. São Paulo: Cortez, 2008. SCHEIBE, Leda.; AGUIAR, Márcia Ângela. Formação de profissionais da educação no Brasil: o curso de Pedagogia em questão. Revista Educação e Sociedade, Ano 20, n. 68, dez 1999. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a12v2068.pdf Acesso em 09/02/2010.