ESPECIALIZAÇÃO A DISTÂNCIA:
Pontos fortes e fracos
Faustino, Regina Helena 1.2, Silva, Monica Ferreira da12,
Schmitz, Eber Assis 1.2, Alencar, Antonio Juarez Sylvio Menezes de 1.2,
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro/PPGI, Rio de Janeiro, Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro/NCE, Rio de Janeiro, Brasil
2
Abstract - This research aims to analyze the strengths and
weaknesses pointed out by students of the course of
Media in Education, offered in distance mode, by the
Ministry of Education in partnership with the Federal
University of Rio de Janeiro. The platform used was
eproinfo. The research was based on a qualitative analysis
of the responses of a questionnaire applied at the end of
the course. The responses were provided by teachers who
were students in this course.
Index Terms – VLE, Virtual Learning Environment,
Analysis of content, eproinfo, LDE
Resumo – Esta pesquisa tem como objetivo analisar os
pontos fortes e os pontos fracos apontados por alunos do
curso de Mídias na Educação, oferecido na modalidade a
distância, pelo Ministério da Educação e Cultura em
convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A plataforma utilizada foi a eproinfo. A pesquisa baseouse numa análise qualitativa das respostas fornecidas por
professores, participantes deste curso, ao questionário
aplicado ao término do mesmo.
Palavras-chave – AVA, Ambiente Virtual
Aprendizagem, análise de conteúdo, eproinfo, EAD.
de
I – INTRODUÇÃO
A crescente oferta de cursos de capacitação a distância
tem beneficiado o profissional que, outrora, por fatores
ligados a tempo e/ou distância, não tinha chance de
frequentar cursos oferecidos presencialmente. Mas, nem
sempre este profissional está apto para acompanhar a
dinâmica imposta por cursos nesta modalidade.
O curso Mídias na Educação, oferecido pelo Ministério
da Educação e Cultura - MEC em convênio com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, no ano
de 2011, foi um desses cursos, na modalidade a distância,
que proporcionou a 392 professores da rede pública do
Estado do Rio de Janeiro, a oportunidade de se
capacitarem dentro de sua área de atuação.
O principal objetivo deste curso foi destacar as mídias
existentes e suas aplicações nos processos de
aprendizagem em sala de aula.
A presente pesquisa teve como objetivo: levantar os
pontos fortes e fracos deste curso, a partir da percepção
dos professores que concluíram o mesmo; e analisar
como foi a adaptação desses professores a um método de
ensino, todo baseado na metodologia EAD – ensino a
distância.
Os dados utilizados neste artigo foram coletados a
partir das respostas dadas a um questionário aplicado no
final do curso para aqueles que chegaram à fase de
elaboração da monografia. A pergunta específica, alvo
desta investigação, foi: “Em sua opinião, quais os
principais pontos fortes e pontos fracos do curso?”.
II - DESCRIÇÃO DO CASO
O curso Mídias na Educação foi um projeto do
Governo Federal, oferecido pelo Ministério da Educação
e Cultura e dirigido a professores da rede pública de
ensino. Seu objetivo era: desenvolver estratégias de
autoria e de formação do leitor; destacar o uso das mídias
existentes e suas aplicações nos processos de
aprendizagem em uma sala de aula; e incorporar
programas governamentais da Secretaria de Educação ao
projeto político-pedagógico dos professores, como: TV
Escola – um canal de educação, eproinfo – um ambiente
colaborativo de aprendizagem e Rived – Rede
Internacional Virtual de Educação.
Sua carga horária foi de 360 horas/aula, dividida em
três níveis: básico, intermediário e avançado. Sua
estrutura foi baseada em módulos que visavam
proporcionar uma formação continuada no uso das
diferentes mídias existentes, tais como: TV, vídeo,
computadores e rádio.
A edição de 2011 foi realizada em parceria com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro e oferecida a
professores do Estado do Rio de Janeiro. No módulo
avançado foram inscritos 392 professores.
É perceptível que a modalidade EAD tem se
transformado na grande oportunidade para profissionais
de diversas áreas crescerem em suas práticas
profissionais.
Mas, diante de todas as vantagens
existentes em um curso a distância, cabem as perguntas:
x Até que ponto esta metodologia é bem aceita pelos
profissionais que, na maioria das vezes,
desconhecem sua dinâmica?
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x
x
De que forma esses profissionais enfrentam os
desafios e as dificuldades que surgem ao longo do
curso?
Quais foram os pontos fortes e fracos, na opinião
deles, no uso dessa metodologia?
III – METODOLOGIA UTILIZADA
O questionário aplicado continha 20 questões, objetivas
e subjetivas. As perguntas abordavam desde a adaptação
dos alunos à plataforma de ensino até as expectativas dos
mesmos no uso das mídias em suas práticas educacionais.
Para análise dos dados foi utilizada a abordagem
multimétodo [1], uma opção metodológica que busca o
diálogo entre a análise qualitativa e quantitativa,
explorando as diferentes visões de cada uma.
As pesquisas científicas, de uma forma geral,
empregam métodos quantitativos e/ou qualitativos em
suas análises. As que se baseiam na análise quantitativa,
utilizam dados estatísticos como cálculo de médias e
testes de hipóteses, para aferição dos resultados de um
estudo.
O referencial existente em uma análise
quantitativa é a frequência com que surgem certas
características do conteúdo. Já a análise qualitativa
utiliza, na maioria dos casos, a análise do conteúdo como
método de pesquisa.
Para analisar o conteúdo das respostas dadas à questão
subjetiva “Em sua opinião, quais os principais pontos
fortes e fracos do curso?” do questionário, foi utilizado,
como método, a análise do conteúdo das mesmas. De
acordo com Bardin [2]: “A análise do conteúdo (seria
melhor falar de análises de conteúdo) é um método muito
empírico, dependente do tipo de ‘fala’ a que se dedica e
do tipo de interpretação que se pretende como objetivo.
Não existe o pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas
somente algumas regras de base, por vezes, dificilmente
transponíveis. A técnica de análise de conteúdo
adequada ao domínio e ao objetivo pretendidos tem que
ser reinventada a cada momento, exceto para usos
simples e generalizados, como é o caso do escrutínio
próximo da decodificação e de respostas a perguntas
abertas de questionários cujo conteúdo é avaliado
rapidamente por temas.”.
Os dados desta pesquisa, analisados qualitativamente,
foram categorizados e quantificados a partir de sua
proximidade semântica, sendo depois transformados em
tabelas e gráficos, para que fosse possível a realização da
análise.
Os pesquisadores que utilizam este método estão
sempre em busca das informações escondidas nos dados
coletados.
Eles perceberam que a exigência de
objetividade torna-se cada vez menos rígida.
A prática da análise do conteúdo percorreu um longo
caminho na história da humanidade, quando foi
necessária a análise de documentos históricos (cartas,
recortes de jornais etc.). Mas a partir de 1960, de acordo
com Bardin [2], surgiram três fenômenos que afetaram a
investigação e a prática da análise do conteúdo:
programas de computadores que permitiram uma análise
mais detalhada dos textos; os estudos relacionados à
comunicação não verbal, que através da Semiologia
iniciou a exploração dos sistemas de signos não
linguísticos e a inviabilidade de precisão dos trabalhos
linguísticos.
Ainda de acordo com Bardin [2], a análise de conteúdo
tem duas funções:
x Função heurística: analisar o conteúdo de uma
pesquisa enriquece a tentativa exploratória e aumenta
a propensão à descoberta;
x Função de administração da prova: analisar as
hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações
provisórias que, ao servirem como diretrizes apelam
para o método de análise sistemática.
Na prática essas duas funções se complementam.
IV - ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este artigo focou suas análises nas respostas dadas à
pergunta subjetiva que solicitava que os alunos
indicassem quais foram os pontos fortes e fracos
encontrados ao longo do curso. A intenção foi captar,
dos concluintes do curso, de que forma eles interagiram
com a metodologia utilizada, o a EAD, e quais foram as
dificuldades que encontraram neste método de ensino,
que era novo para a grande maioria deles.
Na edição de 2011, da UFRJ, foram inscritos 392
professores. Desse total de inscritos, 226 concluíram as
disciplinas, perfazendo um total de 166 evasões (42,34%
dos inscritos) ao longo do curso. Dos 226 concluintes,
apenas 164 (72,56%) defenderam a monografia, sendo
que deste total, um foi reprovado. O questionário
aplicado foi respondido por 94 professores, dentre os
professores que concluíram todas as disciplinas.
Na pesquisa foi possível identificar quais pontos fortes
e fracos do curso foram os mais destacados nas respostas
analisadas. Do total de itens citados pelos professores,
72,88% foram de pontos fortes, contra 27,19% de pontos
fracos.
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Nos pontos fortes, o item com maior relevância foi o
referente à qualidade dos textos indicados pela equipe
acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
as atividades propostas por esta equipe, aos alunos,
durante o curso. Foram 26,74% de indicações. De acordo
com o declarado, esse aspecto positivo despertou a
reflexão sobre o uso das novas mídias no espaço escolar.
Outro ponto positivo que mereceu destaque foi a
atuação dos tutores ao longo do curso. Todos servidores
da UFRJ e de escolas públicas, com grau de
especialização em seus históricos. Foram 16,28%, as
indicações para este ponto. Segundo a grande maioria, os
tutores foram dedicados e dinâmicos. Em uma das
respostas dadas a este ponto, um dos alunos afirmou: “...
tivemos excelente apoio dos tutores que nos
acompanhavam de uma forma cerrada. Por várias vezes
e em muitas madrugadas, foi possível contatar o tutor via
plataforma ou MSN”.
Vários outros aspectos positivos mereceram destaque,
conforme tabela acima: a interação através do fórum da
plataforma, com os demais alunos; as atividades
realizadas nos fóruns; as atividades propostas ao longo do
curso; e o acesso ao conhecimento das novas TICs.
Já nos pontos fracos, os destaques foram: a falta de
tempo para realizar as atividades propostas, em 21,88%
das respostas analisadas. Já 15,63% mencionaram a
demora no início dos níveis e o tempo estabelecido para a
elaboração da monografia, ao final do curso.
Os outros aspectos negativos citados foram: o uso da
plataforma eproinfo; e a distância geográfica do curso.
Os resultados apontam que não basta ser oferecido
curso de especialização com qualidade, quando os
professores possuem uma carga horária muitas vezes
acima do possível e se sentem pressionados. Querem se
especializar, mas não conseguem acompanhar a dinâmica
de um curso, mesmo sendo este a distância.
Novas pesquisas poderiam explorar outras respostas
abertas do questionário e buscar perceber se a prática de
ensino em sala de aula foi alterada pelos professores
concluintes de um curso desse gênero. Ou ainda, tentar
quantificar as razões que levam à evasão de um curso
desta natureza.
Para Moran [3]: “A educação a distância, antes vista
como uma modalidade secundária ou especial para
situações específicas, destaca-se hoje como um caminho
estratégico para realizar mudanças profundas na
educação como um todo. É uma opção cada vez mais
importante para aprender ao longo da vida, para a
formação continuada, para a aceleração profissional,
para conciliar estudo e trabalho”.
Neste estudo foi possível perceber que, apesar do curso
ter sido oferecido pelo MEC na modalidade a distância,
ainda há muito a ser feito para que os frutos dessas
iniciativas gerem os resultados esperados. Moran [4] nos
alerta: “As condições de gerenciamento de muitas das
escolas públicas são precárias. Infraestrutura deficiente,
professores mal preparados, classes barulhentas. É
difícil falar em gestão inovadora nessas condições.”.
O Artigo 80 da nova LDB/96 [5] incentiva as
modalidades de ensino a distância e continuada, em todos
os níveis. A atual integração das mídias eletrônicas pode
nos ajudar na criação de inúmeras modalidades de ensino,
necessárias para que seja dado um salto na qualidade da
educação, na formação permanente de educadores e na
reeducação dos desempregados.
Segundo Moran [6], nos atuais projetos brasileiros
existentes, podemos observar algumas dimensões
positivas, mas também alguns problemas são possíveis de
serem detectados. Pelo lado positivo é possível verificar
a motivação, o interesse dos alunos pelas aulas, pelas
pesquisas, pelos projetos. No entanto, ainda existem
inúmeros problemas: dificuldade de conexão, repetições,
demora.
Vale observar também que a adoção de uma tecnologia
não se limita à qualidade técnica oferecida, mas à
interação humana que essa tecnologia proporciona. Em
concordância com pesquisas anteriores Dias [7] e Silva
[8], foi verificado que os pontos fortes mais destacados
estavam associados a alguma interação com os tutores,
coordenação ou equipe acadêmica do curso.
V - CONCLUSÃO
A presente pesquisa, baseada na análise das respostas
dadas à questão subjetiva: “Em sua opinião, quais os
principais pontos fortes e pontos fracos do curso?”, nos
mostrou que o método de ensino utilizando EAD ainda
tem muito a evoluir e ser aceito e compreendido por
aqueles que construíram sua vida de aprendizado com
base em cursos presenciais.
De uma forma geral, foi possível aferir, neste curso
“Mídias na Educação”, um maior destaque para os pontos
positivos, 72,88% de citações, contra 27,19% para os
pontos fracos.
Apesar de muitos alunos não terem experiência em
educação a distância, quando do início do curso,
apontaram em suas respostas o conteúdo disponibilizado
e a interação com o tutor como fatores positivos do curso,
o que nos levou a concluir que, apesar do distanciamento
que há em curso a distância, entre alunos e professores,
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este não foi o fator que atrapalhou a dinâmica do
aprendizado e a construção do conhecimento. E sim o
fator que humanizou a relação entre participante e
tecnologia utilizada.
Já nos pontos negativos apontados foi possível perceber
que os professores, mesmo o curso sendo na modalidade
EAD, sofrem com a falta de tempo para acompanhar as
atividades propostas, e ainda estão muito presos à
estrutura do ensino presencial, ao apontarem como
negativa a distância geográfica do curso
De acordo com Moran [6], para se atingir resultados
significativos, ao se utilizar a internet para ensino, os
mesmos só acontecerão quando estiverem integrados a
um contexto estrutural de mudança do processo de
ensino-aprendizagem, com professores e alunos
vivenciando
formas
de
comunicação
abertas,
participações interpessoais e grupais efetivas.
A Internet sozinha não mudará os rumos da educação,
mas, com certeza, ela é e será uma grande aliada para a
construção de um novo paradigma educacional, como
afirma Moran [6].
REFERÊNCIAS
[1]
[2]
[3]
[4]
DIAS, D.S.; Silva, M. F.; Como Escrever uma Monografia:
manual de elaboração com exemplos e exercícios. São Paulo:
Atlas, 2010.
BARDIN, L.; Análise de Conteúdo. Edições 70. 1977.
MORAN, J. M.; Como Utilizar a Internet na Educação. Brasil,
v.26, n.2, 1997.
MORAN, J. M.; Gestão Inovadora da Escola com Tecnologias.
2003.
[5]
[6]
[7]
[8]
LDB/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no.
9.394, de 20 de dezembro de 1996.
MORAN, J. M.; A Educação a Distancia como Opção Estratégica.
2011.
DIAS, D. S.; Motivation for Using Microcomputers. In: Mehdi
Khosrow-Pour (ed.). Encyclopedia of Information Science and
Technology, v.4, Idea Group Publishing. 2005, p. 2030-2035.
SILVA, M. F. da; Fatores Humanos e sua influência na Intenção
de Uso de Sistemas de Informação. Tese (Doutorado).
COPPEAD/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 2006.
AUTORES
Faustino, Regina Helena. Universidade Federal do
Rio de Janeiro/PPGI e NCE, Rio de Janeiro, Brasil
(e-mail: [email protected]);
Schmitz, Eber Assis. Universidade Federal do Rio
de Janeiro/PPGI e NCE, Rio de Janeiro, Brasil (email: [email protected]);
Alencar, Antonio Juarez Sylvio Menezes de.
Universidade Federal do Rio de Janeiro/PPGI e
NCE,
Rio
de
Janeiro,
Brasil
(e-mail:
[email protected]);
Silva, Monica Ferreira. Universidade Federal do Rio
de Janeiro/PPGI e NCE, Rio de Janeiro, Brasil (email: [email protected])
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