EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UMA VISÃO DOS ALUNOS SOBRE
OS CONCEITOS DE EAD E AUTONOMIA NO AMBIENTE
VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA)
Flávia Araújo da Cruz1
Tatianne Nascimento de Lima2
Maria Auxiliadora Soares Padilha3
RESUMO
Neste artigo apresentamos um estudo que pretende compreender a visão de
alunos de um Curso de Graduação a distância sobre o conceito de EAD e a
possibilidade de autonomia em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
em relação às categorias: mediação pedagógica, autonomia e interatividade.
Realizamos entrevistas semiestruturadas com alunos de uma turma do curso
de Pedagogia de uma instituição privada de ensino superior, cujos resultados
apontaram que os alunos veem as atividades propostas a eles no ambiente
virtual como uma possibilidade de maior autonomia para sua aprendizagem,
ainda que isso requeira mais atenção e planejamento por parte dos docentes.
Assim, entendemos que as atividades trabalhadas em Educação a Distância
são relevantes por atenderem as reais necessidades do alunado, tornando a
aprendizagem destes mais equiparada ao que enfrentam no cotidiano.
Palavras-chave: Educação a distância, ambientes virtuais de aprendizagem,
autonomia.
INTRODUÇÃO
A educação a distância (EAD) vem sendo mostrada como uma
alternativa com condições de atender de forma eficaz à grande demanda por
educação inicial e continuada de nosso país, à medida que abre possibilidade
para aqueles que não puderam frequentar a escola, além de propiciar
permanente atualização dos conhecimentos que são gerados em grande
quantidade e em uma velocidade cada vez maior dia a dia.
A EAD é considerada uma modalidade de ensino que agrega um
conjunto de recursos tecnológicos que são mobilizados para constituir novas
formas de pensar, trabalhar, pesquisar, educar e possibilitar ao aluno
1
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. [email protected]
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. [email protected]
3
Professora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino – Centro de Educação –
UFPE. [email protected]
2
autonomia para flexibilizar seus estudos, gerando uma relação de indivíduos mediadores e discentes, com o objetivo de aprenderem juntos, tendo como
bases a pesquisa e o diálogo.
A internet é um dos principais recursos de mediação da EAD
atualmente, e que aos poucos vem trazendo uma educação de mais qualidade
e mais acessível às diversas camadas da sociedade brasileira, ao possibilitar a
interação rápida entre alunos e professores, e entre alunos e alunos. Para
viabilizar esta modalidade atualmente, um dos principais recursos, na internet,
é o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Os AVA são sites ou plataformas
virtuais que possuem interfaces de comunicação e informação para mediação
do ensino e da aprendizagem.
A escolha do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) vai depender da
proposta pedagógica do curso. Nesse campo, emerge a grande preocupação
das instituições de ensino a distância em manter um padrão de qualidade
equiparado ou superior ao ensino presencial, em prol da superação das
barreiras geográficas e temporais existentes no ensino a distância.
Para atender a essa qualidade, as atividades propostas pelos
professores no ensino via EAD precisam ser bem planejadas e requerem ,
inclusive, estruturas físicas adequadas para suas realizações. De acordo com
as orientações do Ministério da Educação para o oferecimento de cursos a
distância, por exemplo, é obrigatório que as instituições de ensino superior
possuam laboratórios e bibliotecas, em pólos presenciais, para a realização
dessas atividades. É necessário, portanto, que discutamos sobre como estão
sendo viabilizadas essas atividades no ensino a distância e o que elas
representam para os alunos desses cursos.
Assim, através deste trabalho propomos discutir as reflexões pontuais
trazidas por alunos de um curso na modalidade a distância, via internet, a
respeito do conceito da EAD e da autonomia de estudo a distância. Nosso
objetivo, portanto, é verificar a compreensão dos alunos sobre a mediação de
atividades de um curso a distância e a relação destas com a possibilidade de
autonomia e interação proporcionadas pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Essas reflexões poderão também esclarecer alguns dos limites e possibilidades
encontrados pelos discentes, no processo de aprendizagem durante o curso
nessa modalidade, em relação a realização dessas atividades.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Entendendo o que é Educação a Distância (EAD)
A educação a distância se desenvolve através de recursos tecnológicos
que mediam os processos de ensino-aprendizagem, onde alunos e professores
se encontram em tempos e lugares diversos. Por isso é importante que o
processo de ensino-aprendizagem deva estar adaptado aos diferentes níveis
de conhecimentos dos alunos.
O artigo 1º do Decreto 5.622 de 2005 que regulamenta o artigo 80 da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) caracteriza a EAD
como uma
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de
meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou
tempos diversos (Referenciais de qualidade para EAD, 2007,
p.05).
Sobre o conceito de Educação a Distância, Moore e Kleasley (2007, p.1)
dizem:
A ideia básica de educação a distância é muito simples: alunos e
professores estão em locais diferentes durante todo ou grande parte
do tempo em que aprendem e ensinam. Estando em locais distintos,
eles dependem de algum tipo de tecnologia para transmitir
informações e lhes proporcionar um meio para interagir.
Sendo assim, na educação a distância, além de se compartilhar
conhecimentos, habilidades e atitudes, são necessários meios tecnológicos e
materiais didáticos de alta qualidade que possibilitem a aprendizagem dos
estudantes de diversos níveis e dispersos geograficamente, no entanto, isto
exige mais tempo, planejamento e maiores recursos financeiros.
Para alguns autores, a EAD vai acabar por colocar o professor em um
papel secundário, ou ainda, desnecessário. Este é o caso de G. Dohmen (apud
VIANNEY, 1998, p. 21), que crê também na importância do material didático,
junto com o professor. Para o autor citado
Educação a distância é uma forma sistematicamente organizada de
auto-estudo em que o aluno se instrui a partir do material de estudo
que lhe é apresentado, e o seu acompanhamento e a supervisão são
levados a cabo por um grupo de professores. Isto é possível de ser
feito a distância através da aplicação de meios de comunicação
capazes de vencer longas distâncias. O oposto de “Educação a
Distância” é a “Educação Direta” ou “Educação face-a-face: um tipo
de educação que tem lugar com o contato direto entre professores e
estudantes.
(G. Dohmen, 1967 apud VIANNEY, 1998, p. 21. Grifos do autor).
Esta é uma visão do caráter distributivo da educação a distância, uma
compreensão de aprendizagem como acúmulo de conteúdos. Concepção esta
já ultrapassada, tanto no ensino presencial como na modalidade a distância.
Embora esse conceito de EAD seja antigo, de 1967, ainda vemos, na
prática, muitas pessoas com essa visão. Alguns autores, entretanto,
contradizem a falta de importância do professor no processo de ensinoaprendizagem a distância. Para Ibánez (1986, apud ZAMLUTTI, 2006)
Definir o ensino a distância em função de que não é imprescindível
que o professor esteja junto do aluno não é de todo exato, embora
seja um traço meramente negativo. No ensino a distância, a relação
didática tem um caráter múltiplo. Há que se recorrer a uma
pluralidade de vias. É um sistema multimídia. O ensino a distância é
um sistema de comunicação bidirecional com o aluno afastado do
centro docente e ajudado por uma organização de apoio, para
atender de modo flexível à aprendizagem de uma população massiva
e dispersa. Este sistema somente se configura com recursos
tecnológicos que permitam economia de escala (p. 20).
Ibánez, (1984, apud VIANNEY, 1998) ainda afirma que "a educação a
distância complementa a educação presencial, apresenta-se com solução para
incorporar o enorme contingente de excluídos do ensino formal à vida social e
política, elevando a condição de cidadão livre" (p.24).
Para Cirigliano (1986) a EAD é tão importante como a modalidade
presencial. Para ele, "a educação a distância como modalidade e a educação
aberta, como ideal, são caminhos para converter em realidade a aspiração de
oferecer a todos o acesso ao saber em todos os níveis" (p. 01).
Este saber do qual Cirigliano trata, diz respeito ao novo indicador de
mudança no cenário educacional, pois cabe ao profissional do futuro refletir
sobre a importância das Tecnologias da Informação e Comunicação para a
Educação. O crescimento exponencial da informação que caracteriza o mundo
dos negócios moderno torna o aprendizado um desafio que parece quase
impossível e, neste ponto, os velhos modelos de aprendizado nos têm deixado
na mão. Vencer tamanho desafio requer um novo pensamento e novos
recursos.
Ao aliarmos nossa temática ao pensamento de diversos autores acerca
da Educação a Distância, acreditamos que seja importante estudar a
organização, utilização e pormenores dos recursos tecnológicos atrelados aos
cursos a distância via Internet, na medida em que estes são a “ponte” entre as
atividades a serem executadas pelos alunos e eles mesmos, durante o tempo
do curso, colocando em pauta a qualidade do ensino nessa organização.
Mediação pedagógica: o professor em EAD
Para se trabalhar as práticas docentes e discentes na EAD exige-se um
repensar na relação professor-aluno e dos meios de comunicação e interação
que poderão aproximar as pessoas, como também afastá-las. Para isso, é
importante que o Ambiente Virtual escolhido possibilite uma ação mediatizada
e interativa.
Segundo
Gutierrez
e
Pietro
(1991),
entende-se
por
mediação
pedagógica "o tratamento de conteúdos e de formas de expressão dos
diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo dentro do horizonte
de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e
racionalidade".
Nos tempos atuais, o professor surge hoje como um facilitador do ato de
aprender; pois além de trabalhar com conteúdos em sala de aula, ele também
procura compreender a necessidade de cada aluno, adaptar a aprendizagem
de certos conhecimentos à realidade daquele, buscar soluções juntamente com
os alunos no surgimento de problemas entre outros.
Freire (1981, p.79) já afirmava: "Ninguém educa ninguém, os homens se
educam entre si mediatizados por seu mundo". Os professores devem
contribuir na construção de uma educação que vise fazer com que os
educados absorvam conhecimentos e se desenvolvam sobre o processo de
construção de seu próprio saber e assim vão se capacitando, de forma
eficiente e agregando valores para atuar na sociedade tecnológica.
Sobre isto, Lemos (apud GOMEZ, 2004) afirma que "o educador que
organiza suas propostas de educação a partir da realidade dos participantes,
de suas palavras, de seus saberes, linguagem, desejos, curiosidade e sonhos
contribui com esse projeto de educação" (p.23). Nesse sentido, o ato de
mediar, como diz Masetto (2000), nada mais é do que a atitude, o
comportamento do professor que se coloca como um incentivador ou motivador
da aprendizagem, como uma ponte rolante entre o aprendiz e a aprendizagem,
destacando o diálogo a troca de experiências, o debate e a proposição de
situações.
As palavras de Masetto (op. cit.) dialogam com diversas características
encontradas hoje na educação dentro do mundo virtual, na Internet. A Web é
tida como uma grande rede que interliga várias pessoas através de
computadores, transpondo barreiras geográficas e temporais, além de permitir
a troca, aprendizado e reciclagem rápida de informações e conhecimentos. Tal
cenário traduz, com propriedade, funções relacionadas à Educação. Assim
sendo, a Educação a Distância via Web ganhou força e hoje figura como uma
das propostas mais utilizadas para esta modalidade de ensino.
Para Gomez “não adianta distribuir tecnologia sem ideologia, sem
formação, sem método, sem mudar o paradigma. E isso é aprendido na prática.
Aprender em rede supõe um paradigma educativo oposto ao paradigma
individualista, hoje dominante" (GOMEZ, 2004, p.14). Na EAD via internet, a
mediação pedagógica é, mais do que em qualquer outra modalidade de ensino,
mais cuidadosa, por exigir que os envolvidos no processo de desenvolvimento
e decorrer do curso oferecido tomem consciência do público-alvo a ser atingido
por eles, mesmo que não conheçam os estudantes pessoalmente, tampouco o
contexto em que estão inseridos.
A mediação em EAD faz com que o professor esteja muito mais atento
ao conteúdo trazido por ele aos estudantes; pois "o professor precisa buscar
caminhos alternativos que alicercem uma ação docente relevante, significativa
e competente" (BEHRENS, 2003, p. 67). Diante disso, o ambiente da EAD
tende a necessitar de estratégias de mediação da aprendizagem que dêem
conta de suas especificidades, enquanto modalidade de ensino. Na WEB, a
mediação pode ser feita por meio de vídeos, animações e simulações de
situações práticas, tanto com base no que é proposto pelos próprios alunos nos
fóruns, quanto com base nos textos indicados para leitura pelos professores.
Já nos pólos de apoio, o professor tem a grande oportunidade de fazer
uma mediação distinta da virtual. O professor deve ter a habilidade de
administrar bem o tempo disponibilizado tanto no ambiente virtual quanto nos
pólos, fazendo com que a carga horária dedicada a cada um desses espaços
seja usada da melhor forma possível; a fim de evitar que os estudantes
permaneçam com dúvidas acerca do conteúdo e que eles limitem-se só ao
AVA, acomodando-se no conhecimento trazido já pronto pelo professor.
Um dos grandes trunfos do professor em EAD é o de que ele tem a
oportunidade de engendrar nos estudantes o estudo pela pesquisa,
incentivando a capacidade de reelaboração do conhecimento, diante da grande
quantidade de novas informações que chegam dia após dia pela Internet e que
pedem que o leitor faça uma filtragem do que é relevante para o seu
conhecimento. Como afirma Behrens
A metodologia do ensino com pesquisa pode criar um ambiente
inovador e participativo na escola e na sala de aula, pois se torna
necessário reduzir espaços de aula expositiva para pesquisar,
buscando
informações,
acessando
recursos
informatizados,
e
literatura para instrumentalizar a elaboração de textos e a construção
de projetos (2003,
pp. 101/102).
Além disso, o docente precisa discernir quais conteúdos e/ou atividades
são ideais para serem realizadas no AVA ou nos pólos presenciais junto com
os alunos; em qual desses ambientes a discussão pode trazer maiores
resultados e agradar mais aos estudantes.
Faz-se necessário que a instituição de ensino juntamente com sua
equipe (coordenadores, professores, gestores) dedique-se a especificar
objetivos e possibilidades das intervenções feitas tanto no seu ambiente virtual
de aprendizagem quanto nos pólos presenciais de apoio para que o trabalho
com a Educação a Distância seja cada vez mais proveitoso e acessível a todos
os participantes desta modalidade educacional.
Assim, voltamos ao objetivo deste trabalho. Procuramos entender como
os alunos de um curso a distância conseguem perceber sua autonomia e a
interatividade na realização das atividades executadas através de um ambiente
virtual de aprendizagem. O formato de mediação a distância é o que mais
instiga aos que desconhecem a modalidade devido a prevalência da ideia de
que, no âmbito virtual, os atores do processo de aprendizagem (alunos e
professores) estão mais sujeitos a constantes mudanças nas informações
recebidas, sendo necessário que sejam explicitados quais procedimentos serão
utilizados para garantir a fidelidade da informação e seu bom uso.
O aluno em EAD
Em boa parte dos casos, o aluno que estuda na modalidade a distância
possui diversas expectativas: o andamento do curso, qual será o conteúdo
visto, de que forma o mesmo será repassado, como se darão as interações
entre ele e seus colegas, como também com o professor, e uma das principais
preocupações deste discente está ligada a aplicação do conteúdo trabalhado
nas aulas no mercado de trabalho.
Ao ingressar em um curso a distância, o estudante deve estar a par dos
procedimentos que ele terá de seguir para utilizar, de forma coerente, os
recursos a ele disponibilizados no ambiente virtual da instituição. De antemão,
é necessário que o aluno busque fazer bom uso das ferramentas das quais ele
dispõe; visto que o ambiente virtual, ao passo que promove a autonomia do
estudante, não traz o conhecimento acabado; o aluno precisa conscientizar-se
de que quem vai construir o conhecimento e administrá-lo será ele próprio.
Logo, as instituições precisam tanto disponibilizarem todos os materiais
necessários aos alunos como também deixar claro "tanto o que são, como usálos em aplicações de utilidade geral, mostrar como podem ser bem ou mal
empregados e quais os benefícios e malefícios que trazem à sociedade e aos
indivíduos" (SETZER, 19984).
Conforme Belloni (2003, apud TAVARES, 2006), essas mudanças
sinalizam para alunos mais autônomos, maduros e sempre prontos a aprender,
contudo, os ambientes devem prover as tecnologias e as facilidades para a
implementação da interação, que busca facilitar o processo de ensinoaprendizagem. É importante salientar, porém, que a interatividade é
determinada pelos atores que compõem o cenário virtual, objetivando a
construção do conhecimento, de forma colaborativa.
Mesmo que os alunos estejam constantemente em contato com
tecnologias, para que eles avancem no processo de aprendizagem, alguns
hábitos do ensino presencial são mantidos, como assinala Demo (apud
BEHRENS, 2003, p. 93):
É fundamental que os alunos redijam, escrevam, coloquem no papel
o que querem dizer e fazer, sobretudo alcancem a capacidade de
formular. Formular, elaborar são termos essenciais da formação do
sujeito, porque significam propriamente a competência, à medida que
se supera a recepção passiva do conhecimento, passando a
participar como sujeito capaz de propor e contrapor...Aprender a
duvidar, a perguntar, a querer saber, sempre mais e melhor. A partir
daí, surge o desafio da elaboração própria, através da qual o sujeito
que desperta começa a ganhar forma, expressão, contorno, perfil.
Deixa-se pra trás a condição de objeto (p.28 e 29).
Assim, um dos pilares da formação a distância é a interação. Propiciá-la
traduz-se em considerar que as diferentes formas de sentir, expressar e
comunicar a realidade pelos estudantes resultam em respostas diversas que
são trocadas entre eles e que garantem parte significativa de suas
aprendizagens. Em Gomez (2004, p.142) "Temos que é importante levar em
consideração o sentir dos alunos diante deste mundo novo, absolutamente
distante deles, mas que não o imobilizam, e sim os desafiam a se preparar
também no e para o espaço virtual”.
4
Disponível em http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/PqQdCo.html
A preferência do aluno por um modo particular de aprendizado, ou seja,
cooperativo, competitivo, ou individualizado também tem sido uma das
variáveis durante o processo de aprendizagem. No entanto, o aprendizado
eficaz requer tanto conhecimento do estilo do aluno como a preparação
avançada da parte do professor ou do orientador local.
O uso das novas tecnologias cria condições diferenciadas para que
todos repensem os papéis de professor e aluno nesse novo paradigma
educacional, analisando e revendo a maneira como planejam e participam das
atividades pedagógicas. Como já havia dito Freire "Ninguém nasce feito: é
experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos". (1993, p. 10).
Esperamos que o aluno de um curso a distância não se acomode diante
da praticidade promovida no momento em que ele tem autonomia para tomar
boa parte das diretrizes de sua aprendizagem. Nas palavras de Moran (20025),
a educação a distância é
...uma prática que permite um equilíbrio entre as necessidades e
habilidades individuais e as do grupo - de forma presencial e virtual.
Nessa
perspectiva,
é
possível
avançar
rapidamente,
trocar
experiências, esclarecer dúvidas e inferir resultados. De agora em
diante, as práticas educativas, cada vez mais, vão combinar cursos
presenciais com virtuais, uma parte dos cursos presenciais será feita
virtualmente, uma parte dos cursos a distância será feita de forma
presencial ou virtual-presencial, ou seja, vendo-nos e ouvindo-nos,
intercalando períodos de pesquisa individual com outros de pesquisa
e comunicação conjunta.
A respeito da interação na EAD, Silva (2003) afirma ser imprescindível a
interatividade entre receptor, mensagem e emissor; onde o receptor tem papel
ativo, intervindo nos conhecimentos que adquire durante a sua aprendizagem.
No ensino a distância, boa parte da interação entre os estudantes faz-se
através das ferramentas de discussão dentro do ambiente virtual, como fóruns,
chat e blog; ou ainda por meio das atividades propostas para serem realizadas
fora do AVA, que visam estimular cada vez mais a comunicação e a troca de
ideias entre professor, alunos, ambiente virtual e materiais de apoio.
5
Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/
Kapelian (apud SILVA, 2003) ressalta que o diferencial do ensino a
distância é propor que cada aluno contextualize o conteúdo visto nas aulas de
forma que ele vivencie o mesmo de forma diferenciada dos demais, devido ao
fato dele construir seu conhecimento partindo do seu entendimento do mundo à
sua volta.
Ainda sobre isso, Silva (2003) afirma que “é preciso enfrentar o fato de
que tanto a mídia de massa quanto a sala estão diante do esgotamento do
mesmo modelo comunicacional que separa emissão e recepção” (s/ p.)
Dessa forma, compreendemos que alunos e professores estão em
busca de uma forma adequada para aprender e ensinar numa modalidade de
ensino não muito recente, como muitos pensam ser, mas que a cada dia
supera obstáculos e apresenta novas propostas de mediação e de
possibilidades de aprendizagem. É mister, pois, investigar a possibilidade de
autonomia e interatividade no ensino a distância através do ambiente virtual de
aprendizagem, sendo este um elemento muito importante no oferecimento dos
cursos a distância.
Ambientes Virtuais de Aprendizagem: recursos e materiais
A Educação a Distância em muitos pontos não difere da aula presencial,
ainda que possua suas particularidades. Uma delas é o ambiente de
aprendizagem, que na EAD existe em dois espaços: nos pólos presenciais e na
Internet. Geralmente, a grande preocupação dos novos alunos de cursos a
distância é a utilização dos recursos oferecidos pela instituição na web,
especificamente um: a navegação no ambiente virtual de aprendizagem (AVA).
As salas virtuais são ambientadas em plataformas ou em softwares
livres e contam com recursos de comunicação, auxílio, interação e
compreensão dos conteúdos das disciplinas e acompanhamento dos cursos,
facilmente acessados por gestores, coordenadores, professores e alunos;
tornando o processo educativo um trabalho conjunto.
Conforme Almeida (2003, apud KENSKI, 2005, p. 76), os ambientes
virtuais de aprendizagem são
...sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao
suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e
comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e
recursos,
apresentar
informações
de
maneira
organizada,
desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento,
elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados
objetivos. As atividades se desenvolvem no tempo, ritmo de trabalho
e espaço em que cada participante se localiza, de acordo com uma
intencionalidade explícita e um planejamento prévio denominado
design educacional,o qual constitui a espinha dorsal das atividades a
realizar, sendo revisto e reelaborado continuamente no andamento
da atividade.
Para garantir o acesso a todos os participantes em qualquer lugar que
possuam acesso a internet, as Instituições de Ensino (IE's) costumam adotar
plataformas que sejam de fácil uso, que exijam uma configuração mínima da
máquina (computador), como o ambiente Windows e o pacote Office. A
plataforma mais conhecida e utilizada hoje é o Moodle, um software livre
educacional que auxilia no gerenciamento das atividades propostas nas salas
virtuais.
Dentre os principais recursos existentes em um AVA estão os fóruns, os
blogs, bate-papo, o correio eletrônico, as vídeo-aulas em conferência,
biblioteca de mídia e biblioteca de textos indicados; tais recursos são mediados
pelo professor e aliados aos conteúdos teóricos trazidos pelo professor em
materiais extras não disponíveis no ambiente como artigos, matérias
jornalísticas, entrevistas entre outros.
No ambiente virtual, os estudantes realizam as atividades através de
situações reais propostas pelo professor e que constam também no AVA. A
partir daí, ele seguem debatendo entre si nos chats, realizando pesquisas,
trocando e-mails, enriquecendo os blogs entre outras ações; tudo sempre
mediado pelo professor, ao mesmo tempo em que é propiciado ao estudante
aprender ele próprio a administrar sua aprendizagem, sendo esta, portanto,
uma autonomia ‘assistida’.
Como recursos complementares; o ambiente virtual pode contar com
tutorial, algo como um guia para os alunos sobre como proceder com alguns
destes recursos de estudo; agenda, para que o estudante organize seu tempo
de estudo; e acompanhamento individual do desempenho, afim de que o
discente esteja a par do quanto está progredindo e o quanto necessita
melhorar.
A análise do conteúdo disponibilizado no AVA pelo professor deve ser
feita levando-se em consideração a diversidade do perfil dos estudantes, o
critério da distância física na maior parcela do tempo do curso, a velocidade da
renovação das informações; pois o mundo virtual é o mais suscetível às novas
ideias; e consequentemente a veracidade destas para dar confiabilidade aos
assuntos e recursos disponíveis aos discentes.
Os recursos e os materiais existentes ou não nos ambientes virtuais
devem andar em consonância com a percepção que os alunos vem tendo dos
conteúdos, da realidade vivenciada por eles, atentando ao alinhamento entre o
que é visto na rede (Internet) e o que é debatido nas aulas.
Nesse sentido, nosso objetivo busca compreender como os alunos
compreendem a EAD e a possibilidade desta fazer com que o aluno possa
aprender de forma autônoma dentro do ambiente virtual. Este estudo
contribuirá para compreendermos a mediação pedagógica proporcionada pelos
AVA’s, a partir da visão do aluno. Como eles se sentem? Como reagem as
orientações para as atividades sugeridas pelos professores em um curso a
distância?
Pólos Presenciais: apoio para atividades práticas
Além do ambiente virtual, o estudante de EAD no modelo semipresencial
também conta com os pólos presenciais de apoio, locais determinados para
que o aluno obtenha suporte às suas atividades acadêmicas durante seu curso.
Nos pólos, o discente deve contar com o apoio tanto pedagógico quanto
administrativo da instituição, além de infra-estrutura ideal e rede de
profissionais capacitados. Boa parte destes pólos estende-se a mais de um
município e dão conta da grande maioria das atividades de caráter prático dos
cursos.
De acordo com os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a
Distância (2007), dentre as estruturas físicas necessárias às instituições estão
os laboratórios de informática com internet banda larga, com configuração e
quantidade adequados ao número de alunos da instituição e às necessidades
dos mesmos, distribuídos em todas as unidades; salas para tutoria e avaliação
dos alunos; Secretaria, para a gestão administrativa; biblioteca atualizada e
também virtual; além de laboratórios de ensino.
Segundo Ferreira (2008) os alunos consideram os pólos presenciais
como elementos fundamentais para o bom desenvolvimento de suas atividades
em um curso a distância. Isto se deve tanto à presença do professor, que dá
apoio, tira dúvidas e acolher o aluno, como também pelo acesso aos
equipamentos tecnológicos para o desenvolvimento de suas atividades.
Nos pólos presenciais, enfim, alunos e professores mantêm contato
físico, visual e virtual. Assim, a prática dos conteúdos ganha maior estímulo. A
mediação aqui está muito mais acessível para ambas as partes: professor e
alunos. Os recursos usados nas aulas presenciais se equiparam ao ensino
tradicional: mural, portfólios, debates, seminários, testes, exceto por um
detalhe: o conteúdo visto em sala, fisicamente, também poderá ser acessado
posteriormente pelos alunos no AVA.
METODOLOGIA
Para nossa pesquisa, construímos uma metodologia baseada numa
pesquisa de campo em caráter de estudo de caso, por considerarmos que este
tipo de pesquisa seria mais relevante em função do que diz Yin (1989) quando
afirma que o estudo de caso deve ser entendido como um estudo empírico que
investiga um fenômeno em seu contexto real (p. 23); e Gil (2003) ao definir o
estudo de caso como um estudo profundo e exaustivo que permite o
conhecimento amplo do objeto de pesquisa.
Após a definição da natureza da pesquisa decidimos realizar nossa
investigação numa instituição de ensino que oferecesse cursos técnicos, de
graduação e sequenciais via EAD em caráter semipresencial. A instituição
escolhida foi a Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, que possui diversos
pólos espalhados pelo Grande Recife e interior do estado de Pernambuco,
devido ao fato de estar em evidência no cenário nacional, apesar de sua
recente criação.
A instituição pesquisada, a FTC, possui uma plataforma de ensino a
distância própria, mas que também assemelha-se bastante a já citada
plataforma Moodle, contando com diversos recursos que buscam otimizar e
garantir a interação dos estudantes com os professores e entre eles próprios,
tais como: correio eletrônico, chats, fóruns de discussão, aulas em
videoconferência (videostreaming6) com áudio e biblioteca multimídia entre
outros.
Entrevistamos 7 alunos da turma do 4º. período do curso de Pedagogia,
utilizando como técnicas de investigação para a obtenção dos dados a
aplicação de questionários semiestruturados e construídos a partir da realidade
vivenciada pelos alunos, com a finalidade de sabermos destes, suas
concepções sobre EAD, sua possibilidades de autonomia e interatividade no
Ambiente Virtual de Aprendizagem, mediados por seus professores. Estes
questionários foram aplicados pessoalmente aos alunos, que tiveram
conhecimento da pesquisa e de seus objetivos.
As entrevistas foram do tipo semiestruturada, pois esta “se desenrola a
partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que
o entrevistador faça as necessárias adaptações” (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p.
34). Portanto, para nós foi mais conveniente este tipo de entrevista porque
pudemos ampliar a possibilidade de expressão dos alunos entrevistados.
A análise dos dados foi feita a partir da Técnica de Análise de
Conteúdos na busca de compreender mais profundamente o fenômeno
investigado neste estudo, que foi a compreensão dos alunos sobre o conceito
de EAD e a promoção da autonomia no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Para Moraes (1999), na realização da Análise de Conteúdos é necessário
cumprir algumas etapas: preparação das informações, unitarização ou
transformação do conteúdo em unidades, categorização ou classificação das
unidades em categorias, descrição, interpretação.
Após a preparação das informações definimos as unidades de análise
dos nossos dados. A natureza das unidades foi estabelecida a partir das
6
Tecnologia de transferência de dados que permite aos alunos da modalidade a distância
assistir aulas, palestras e/ou seminários ao vivo ou gravados estando em qualquer localidade
devidamente aparelhada para tal.
Disponível em:
www.pgie.ufrgs.br/alunos_espie/espie/silviab/public_html/espieufrgs/glossario.html
questões formuladas aos alunos. Em seguida foi realizada a categorização.
Esta se classifica a partir do critério semântico, pois buscamos compreender os
sentidos das mensagens através das seguintes temáticas:
A) Concepção de EAD;
B) Preferência pelo curso a distância;
C) Autonomia do aluno em EAD;
D) Atividades práticas;
E) Interações no AVA.
ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS
A partir das respostas dos alunos à entrevista semiestruturada,
realizamos uma análise de conteúdos visando identificar os sentidos das
respostas dos mesmos em relação às suas compreensões sobre EAD e a
autonomia deles perante às atividades mediadas pelo AVA.
Segundo Moraes (1999) a técnica de análise de conteúdos (AC) nos
permite analisar adequadamente documentos e textos no sentido de conhecer
os “aspectos e fenômenos da vida social de outro modo inacessíveis” (p. 10).
Esta análise permite, ao investigador, compreender, interpretar e inferir sobre
os dados coletados nos documentos, entrevistas, textos, etc.
A partir dos dados coletados nas entrevistas, após a preparação das
informações (um dos passos da técnica de AC) descritas nas entrevistas,
realizamos a unitarização das mesmas (segundo passo, de acordo com
Moraes, 1999). Em seguida, categorizamos os dados (terceiro passo). A seguir,
realizaremos uma descrição (quarto passo), juntamente com a interpretação e
inferência dos dados (quinto e último passo da AC, segundo Moraes, 1999).
Para a análise, contamos com as respostas dadas por 7 alunos do 4º
período do curso semipresencial de Pedagogia da Faculdade de Tecnologia e
Ciências (FTC), localizado no bairro da Madalena, acerca de dez perguntas
subjetivas e objetivas a respeito da concepção dos alunos sobre a EAD e da
possibilidade de promoção da autonomia através do AVA. A aplicação do
questionário foi realizada num sábado, único dia em que os alunos se
encontram na instituição pesquisada para as aulas presenciais. No total a
turma possui 11 alunos; inicialmente tínhamos a pretensão de entrevistar todos
os alunos da turma, entretanto, no dia da realização da entrevista os demais
alunos da turma haviam faltado.
Dentre os pesquisados, seis eram do sexo feminino e um do sexo
masculino, com idades entre 28 e 50 anos; sendo 3 professores, 2 estudantes,
1 analista de sistemas e 1 estagiário em pedagogia. Identificamos os alunos
por letras: A, B, C, D, E, F, G, para melhor os visualizarmos na análise dos
dados. Todos os pesquisados possuem conexão de Internet em casa; com 4
estudantes conectados via banda larga, 3 via modem móvel e 1 através de
conexão via rádio.
De acordo com nossos dados e objetivos, estabelecemos as seguintes
categorias de análise:
A) Concepção de EAD
Inicialmente, perguntamos aos alunos sobre o que eles entendem por
Educação a Distância; 3 dos alunos entrevistados definiram a EAD como uma
possibilidade deles fazerem um curso de graduação no horário que lhes for
possível, ou seja, é dada a liberdade para que os discentes organizem seus
horários de estudo. Outros 3 estudantes enxergaram a EAD a partir de um de
seus objetivos, assim como lemos em Dohmen (1967, apud Vianney, 1998) e
Ibánez (1986), o de proporcionar ao aluno a aprendizagem estando ele e
professor separados fisicamente, no entanto, comunicando-se virtualmente, e
tornando a distância geográfica quase imperceptível. Ainda 2 alunos
consideraram a EAD enquanto modalidade de ensino, porém os mesmos
mantiveram a visão da Educação a Distância como promissora da autonomia
deles.
Também ficou evidenciado que apenas dois estudantes veem o ensino a
distância como fruto dos avanços dos recursos tecnológicos, no caso a
Internet, para possibilitar aos alunos e professores um melhor planejamento
para interagir, trocar conhecimentos, levantar questionamentos e esclarecer
duvidas no decorrer do curso, de forma eficaz. Sobre isto, Rosini diz: “Cada vez
mais a demanda por educação a distância (EAD) cresce, impulsionada pelos
avanços da tecnologia e pela necessidade de o aprendiz ter seu próprio tempo
e ritmo de aprendizagem” (2007, p. 64).
No geral, contudo, percebemos que os alunos possuem conceitos
parciais da EAD, não tendo apreendido totalmente o conceito geral de EAD e
todos os seus elementos: distância entre professor e alunos, flexibilidade de
tempo e espaço, diversidade tecnológica e metodológica para mediação
pedagógica.
B) Preferência pelo curso a distância
Questionamos também aos estudantes a respeito da motivação deles
por um curso superior semipresencial. 5 alunos colocaram a questão da falta
de tempo para cursar efetivamente uma faculdade tradicional. Um estudante
relacionou sua escolha à dificuldade de locomover-se para a faculdade todos
os dias da semana; e um último justifica sua presença num curso
semipresencial devido à praticidade e objetividade dos conteúdos a serem
trabalhados e por estes serem bastante necessários no seu trabalho,
envolvendo treinamento.
Prevaleceu nas respostas a busca para atender à demanda vinda do
mundo do trabalho, de que os trabalhadores estejam cada vez mais
atualizados e capacitados para as novas necessidades do mercado.
C) Autonomia do aluno em EAD
Uma de nossas maiores inquietações estava ligada à próxima questão,
relacionada ao fato de boa parte da carga horária do curso semipresencial ser
a distância, buscando saber dos alunos se tal fato pode vir a prejudicá-los no
decorrer da sua formação. Chamou-nos a atenção que 6 estudantes
responderam
acreditar
que
não,
demonstrando
ter
consciência
da
responsabilidade que eles tem sobre o próprio aprendizado ao afirmarem que a
EAD instiga, tanto quanto o ensino tradicional, a busca de informações, estudo
de outras fontes, pesquisas em grupo entre outros.
Além disso, um estudante falou que tal prejuízo não existe em função
dele poder se comunicar constantemente com o professor através do ambiente
e um outro aluno atribuiu a resposta negativa a qualidade dos conteúdos.
Apenas um pesquisado, o aluno C; 32 anos de idade, formado em
Magistério e que trabalha na área, falou que o aluno se prejudica, afirmando
que os assuntos ficam muito soltos por não ter um contato direto com o
professor. Nesta fala é possível perceber o quanto o discente ainda sente a
necessidade de enxergar o professor; e conclui que “[...] não há como
comparar alunos que têm aula uma vez por semana, com alunos que estão
todos os dias na presença de um professor. Este curso na minha opinião é um
paliativo”.
Para Kenski (2003), é crucial a presença do docente para os alunos,
afim de que percebam a atuação do/da professor/a no ambiente virtual. O
envolvimento e a integração às atividades propostas por parte do/da
professor/a estimula a participação de todos e colabora para a criação de um
ambiente acolhedor que favorece o sentimento de pertença ao grupo
(MAFESSOLI, 2003).
Conforme vimos em Masetto (2000); o docente mediador é um grande
incentivador que propicia a seus alunos o contato com uma aprendizagem mais
simples e conectada com o cotidiano dos alunos e não somente um
transmissor de informações.
D) Atividades Práticas
Ao responderem sobre as atividades práticas realizadas por eles e
propostas pelo professor, destacaram-se a pesquisa, leitura, seminários,
estágios entre outros. Alguns pesquisados citaram observação, planejamentos,
provas teóricas presenciais e pela internet, provas práticas, aulas extraclasse,
atividades de campo criativas e inovadoras, atividades presenciais após cada
aula pelo vídeo, textos dissertativos, relatórios, jogos, atividades lúdicas, visitas
a escolas e a comunidades, trabalhos em equipe entre outras. Constatou-se
que as atividades citadas pelos estudantes são idênticas as que se realizam na
modalidade presencial, o que não ficou claro nas respostas foi se através
dessas atividades os conteúdos são efetivamente colocados em prática.
Vimos um leque de atividades práticas propostas no curso e, como
disseram todos os alunos, tais tarefas reforçam ainda mais a responsabilidade
que cada um tem de dedicar mais atenção ao conteúdo estudado, de
aprimoramento de seus conhecimentos. Sobre a importância da prática no
ensino virtual, Kapelian (apud SILVA, s/ p.) diz que “a grande evolução é ter a
experiência, o que é diferente de ter (receber) a informação”.
Sobre a facilidade do acesso aos conteúdos no ambiente, 6 alunos
responderam que as orientações para a prática do conteúdo são simples,
diretas e dão condições para eles realizarem suas atividades autonomamente,
isto com o apoio das ferramentas do AVA. O aluno C, porém, afirma que nem
sempre isso ocorre, ao considerar que na maioria das vezes, tais recursos
incentivam o hábito de copiar e colar.
Ao darmos espaço para os estudantes darem sugestões para as
atividades práticas, 5 estudantes afirmaram não ter nada a sugerir por
considerar as atividades adequadas e possíveis de serem feitas com
tranquilidade; um outro aluno sugeriu maior disposição de material, e o aluno C
contesta a falta de um maior aprofundamento nas explicações e mais rigor nas
correções.
Ao serem questionados sobre a possibilidade de estudarem melhor os
conteúdos em um curso presencial, um estudante não vê diferença alguma
entre as modalidades citadas, 2 responderam negativamente pois o curso
semipresencial em nada deve ao ensino tradicional e que o mesmo não deve
ser muito diferente e 3 alunos acreditam ser possível, embora acreditem que
exista uma perda de tempo com certas disciplinas, como nos disse o aluno D;
50 anos de idade, formado em análise de sistemas e que está cursando
Pedagogia devido à exigência deste curso para que ele execute os
treinamentos dos funcionários da empresa onde trabalha: “É possível. Porém
no ensino presencial há muita perda de tempo com disciplinas ou assuntos de
pouca relevância. O EAD é sempre mais objetivo”.
Assim como fala Behrens (2003, p.67) a busca por uma aprendizagem
que traduza um significado para o aluno é de vital importância para o professor,
principalmente no que diz respeito ao ensino a distância, pois aqui existe a
necessidade de que esta modalidade de ensino acompanhe ou seja superior a
perspectiva de trabalho presente no ensino tradicional, afim de que o estudante
sinta-se satisfeito ao ter optado pela EAD.
E) Interações no AVA
No que diz respeito à promoção da interação no ambiente virtual, assim
como um melhor acompanhamento dos assuntos vistos durante o curso, todos
os alunos confirmaram a eficácia das ferramentas virtuais de estudo; sendo
ressaltados a possibilidade de comunicação com estudantes de todo o Brasil,
pertencentes à instituição (1); a possibilidade de melhoria da comunicação (1) e
a não obrigatoriedade de participação (1). Nesta última opinião, é importante
lembrarmos que o auxílio do ambiente virtual não implica numa atitude estática
perante os saberes já trazidos pelo AVA, o mesmo deve servir como um ponto
de partida para outras ideias oriundas da interação dos estudantes e da
consonância dos conteúdos com os recursos disponibilizados para a
aprendizagem, relação existente e confirmada por cerca de 6 estudantes na
nossa última questão do questionário; um desses alunos reforçou que a EAD
contribui bastante para tal envolvimento.
Como afirma Silva (2003), é característica de um ambiente virtual
interativo que ele promova a intervenção do estudante no conteúdo didático
presente no AVA, que também está sujeito a ser modificado e adaptado às
necessidades dos discentes.
Vale ressaltar que foi percebido, pelo aluno D, a importância do caráter
comunicativo no ambiente virtual, quando o aluno reforçou a necessidade de
melhorar a comunicação oferecida pelo ambiente quando o estudante diz: “[...]
penso que essa comunicação pode melhorar”.
Logo, ficou evidenciado que a interatividade diz respeito a um elemento
de comunicação e não do ramo computacional, pois o computador tão somente
é um meio de facilitar a ação de emitir e receber novas informações num curto
espaço de tempo; caso ele não disponha das ferramentas ideais para realizar
essa função, não haverá interatividade, pois o usuário não pode intervir na
informação que ele recebe, inviabilizando a comunicação.
Contudo, ficou claro nesta análise o quanto a Educação a Distância vem
avançando e demonstrando que a vontade de estimular um aprendizado de
qualidade está dos dois lados mais interessados: dos alunos, ao deixarem claro
que
o
compromisso,
a
responsabilidade
e
o
bom
andamento
do
ensino/aprendizagem, na EAD, dependem ainda mais de suas atitudes e
ações; e da instituição, ao buscar constantemente os melhores recursos para
atingir a excelência em sua metodologia e planejamento de ensino, superando
todos os entraves e barreiras colocados por aqueles que ainda têm receio
quanto à qualidade no ensino a distância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esperamos que este estudo tenha contribuído para uma melhor
compreensão das possibilidades da Educação a Distância no que tange à
aplicação do princípio da formação através da relação entre teoria e prática.
Decerto, o contato com os estudantes do curso de Pedagogia que
realizam suas atividades via AVA na FTC nos ajudaram a compreender quais
recursos e de que maneira os mesmos têm sido de valia para a formação
destes futuros pedagogos, além de enxergarmos se aqueles atendem a
demanda de cursos semipresenciais de qualidade e adequados ao mercado e
ao alunado, tomando por base as diferentes realidades das quais são oriundos.
A Educação a Distância sempre estará sujeita ao preconceito de grande
parcela da população que ainda crê tão somente no professor como o único
que pode prover conhecimentos aos alunos, da mesma maneira que só
enxergam uma aula como sendo uma atividade que acontece apenas num
espaço de quatro paredes, cadeiras e quadro.
As tecnologias, neste caso, vieram para trazer um novo cenário para a
Educação, uma nova inquietação para enriquecer e alinhar os conhecimentos
produzidos pelas instituições de ensino aos ideais recentes da maioria das
pessoas que almejam conhecimento.
Hoje, aprender não se restringe só a escola, aprende-se em todos os
lugares, seja pessoalmente, seja pelos mais diversos meios de comunicação. É
uma realidade que não pode ser negada; estudar, investigar e praticar não se
traduzem mais em ações ligadas ao plano presencial do ensino, mas sim a
todas as formas de instrução devidamente planejadas e capacitadas para
atender a quaisquer novas necessidades demonstradas nesta era da
informação.
Vimos, nas falas dos estudantes, que a mediação docente nos cursos a
distância contribui para uma maior autonomia do aluno em seus estudos como
também na promoção de atividades que podem ser realizadas com êxito
mesmo estando professor e discentes distantes na maior parte da carga
horária do curso.
Ainda que tenham sido poucos os pesquisados que demonstraram
compreender o que vem a ser a Educação a Distância em sua totalidade, com
a grande maioria destacando a realização do curso no tempo que lhes for
disponível, ficou clara a aprovação desta modalidade de ensino e da
metodologia a eles proposta partindo do pressuposto de que a mediação dos
conteúdos vistos nas aulas pelo professor foi tida como objetiva, clara e
relevante por boa parte do alunado para a aprendizagem.
Logo, esperamos que este trabalho tenha sido relevante para propor
melhorias e detectar os diversos benefícios por nós já citados da nova ordem
da Educação Tecnológica, em que as ditas barreiras de distância, investimento
financeiro, tempo disponível e impossibilidade de equiparação de conteúdos
em relação aos cursos tradicionais já não figuram como pretexto para o não
ingresso em qualquer curso a distância.
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