MERCADO DE TRABALHO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL: APLICAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL Douglas Paz – mestrado em Economia Regional (UEL) - Universidade Estadual de Londrina – email: [email protected] Solange de Cássia Inforzato de Souza – doutora em Educação (PUC-SP) Universidade Estadual de Londrina – e-mail: [email protected] Katy Maia – doutora em Teoria Econômica (UnB) - Universidade Estadual de Londrina – e-mail: [email protected] Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise do nível de desenvolvimento do mercado de trabalho em 75 municípios da região sul do Brasil, sendo selecionados os 25 mais populosos de cada estado. Para tanto, foi utilizada a técnica da análise multivariada; foram selecionadas 15 variáveis que convergiram para dois fatores de análise, que em conjunto explicaram 90,43% da variância total das variáveis selecionadas. O presente estudo ainda condicionou a elaboração de uma classificação de desenvolvimento municipal, o que foi possível a partir da observação dos escores fatoriais de cada um dos 75 municípios considerados. Como resultado, destacaram-se positivamente os municípios de Curitiba, Porto Alegre, Londrina, Caxias do Sul, Joinville, Florianópolis, Maringá, Blumenau, Piraquara, São José dos Pinhais, Cascavel, Ponta Grossa, Itajaí, Chapecó, Pelotas, Novo Hamburgo, Jaraguá do Sul, Concórdia, Santa Maria e Campo Largo, os quais obtiveram escores positivos, isto é, apontaram níveis de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da média, bem como as primeiras colocações. Por outro lado, os demais municípios destacaram-se negativamente, ou seja, abaixo da média em relação aos demais, por terem apresentado escores fatoriais negativos. Nas cinco últimas posições ficaram os municípios de Esteio, Alvorada, Sapucaia do Sul, Sarandi e Balneário Camboriú, todos situados em regiões metropolitanas. Palavras chave: Região sul. Análise multivariada. Mercado de trabalho. Abstract: This job have goal to present a analysis of the development level work market in 75 districts of the south region Brazil, are selected 25 most populous each state. As such. Was used the multivariate approach, are selected 15 variables which converged two analysis factors, which group explained 90,43% of the total variance the selected variables. The present study still conditioned elaboration of a district development classification, that was possible starting from observation of the factorial scores each of 75 districts considers. As result, to stand out positively the districts of Curitiba, Porto Alegre, Londrina, Caxias do Sul, Jonville, Florianópolis, Maringá, Blumenau, Piraquara, São José dos Pinhais, Cascavel, Ponta Grossa, Itajaí, Chapecó, Pelotas, Novo Hamburgo, Jaraguá do Sul, Concórdia, Santa Maria and Campo Largo, which obtained positive scores, that is, pointed development levels of work market above average, as well as tha firsts positions. On the other hand, other districts to stand out negatively, tha is, below average in relation the others, for has presented factorial scores negatives. In 2 the five last positions stayed the districts of Esteio, Alvorada, Sapucaia do Sul, Sarandi and Balneário Camboriú, all situates in metropolitan regions. Key words: South region. Multivariate analysis. Work market. Classificação JEL: C38. Área Temática: Área 3 – Economia Regional e Urbana. 1 INTRODUÇÃO O Brasil passou por uma nítida reestruturação do mercado de trabalho nos últimos anos, sobretudo no que tange ao trabalho formal, no âmago de uma conjuntura macroeconômica internacional favorável até meados de 2007. Supervenientemente, a região sul, inserida nesse contexto, foi beneficiada, apresentando na década passada, indicadores, quer seja, de distribuição de renda, rendimento do trabalho, educacionais e de qualidade de vida genericamente, superiores à média nacional. A recuperação do mercado de trabalho foi acentuada nas principais cidades da região, visto que do total de empregos gerados entre 2002 e 2010, aproximadamente 60% concentrou-se em 75 municípios, os 25 mais populosos de cada estado, sendo que especificamente em 2010, a concentração foi de 66,5%. Reverberando, é notória a diferenciação sócio econômica e de desenvolvimento favorável aos principais municípios de cada estado. O conceito de desenvolvimento é muito amplo e vem sendo discutido com perspicácia pelos intelectuais, podendo ser tratado em várias esferas. No que tange às teorias de desenvolvimento regional, emergiram, sobretudo a partir de 1950, sendo que três conceitos chave destacaram-se: o conceito de pólo de crescimento de Perroux; conceito de causação circular cumulativa de Myrdal; conceito de efeito para frente e para trás de Hirschman. Os três conceitos convergem para o entendimento de que o desenvolvimento se difunde de modo desequilibrado (MELO, 2007). No estudo da economia regional e urbana, a cidade configura-se como centro gravitacional da percepção do crescimento e do desenvolvimento. O grau de desenvolvimento de uma região pode ser verificado com primazia a partir de cada município. A principal função da cidade é atender o interior próximo a ela. A cidade fornece bens e serviços centrais, isto é, comércio, serviços bancários, serviços administrativos, serviços de saúde, educação, entretenimento e diversão (RICHARDSON, 1981). Clemente (1994, p. 124), afirma que “o crescimento das cidades constitui questão particularmente interessante para a economia regional e urbana, sobretudo porque a formação de grandes centros urbanos significa também a concentração de gigantescos problemas, como desemprego, marginalização e poluição”. Nesse sentido, uma das principais preocupações das autoridades de cada lugar, é com respeito à geração de emprego e renda, ou seja, condições do mercado de trabalho, que segundo Ehrenberg e Smith (2000), funciona da seguinte maneira: do lado da demanda por trabalho ficam os empregadores, ao passo que do lado da oferta ficam os trabalhadores. O objetivo do presente trabalho é analisar o grau de desenvolvimento do mercado de trabalho nas principais cidades da região sul do Brasil, por meio da análise fatorial aplicada ao ano de 2010, elucidando o seguinte problema: quais as cidades sulinas com o mercado de trabalho mais bem desenvolvido e, por conseguinte, com as 3 melhores perspectivas profissionais para os trabalhadores? Como resposta, espera-se que as maiores cidades apresentem os melhores índices de desenvolvimento do mercado de trabalho. Este trabalho está dividido fundamentalmente em 5 partes, incluindo esta introdução.A seção 2 discorre acerca da dinâmica histórica do mercado de trabalho no Brasil, sendo também apresentado um panorama atual de indicadores de desenvolvimento para os estados do sul do Brasil. A seção 3 apresenta a metodologia da análise fatorial, utilizada neste estudo, e a seção 4 descreve e discute os principais resultados da pesquisa. Por fim, arremata-se com as considerações finais, na seção 5. 2 DINÂMICA HISTÓRICA DO MERCADO DE TRABALHO DO BRASIL E A REALIDADE SULINA Vários aspectos da formação do mercado de trabalho brasileiro são peculiarmente interessantes, sobretudo quando se traça uma perspectiva histórica. Durante o século XIX, o Brasil passou por substanciais mudanças políticas. Até 1808 foi colônia; de 1808 à 1888 foi império, conquistando a independência em 1822, de modo que 1888 também marcou o término da escravidão. De acordo com Theodoro (2005), até o advento da República, a economia brasileira foi fulcrada em artigos tropicais, como o café e o açúcar. Com o fim da escravatura, um quantum maior de população livre passou a se dedicar a atividades de subsistência, desencadeando em maior escala o processo de imigração. O autor explica que o processo de trabalho livre como base da economia, acompanhado pela entrada crescente de população trabalhadora no setor de subsistência e em atividades mal remuneradas, foi denominado posteriormente de setor informal. A decadência do sistema escravocrata brasileiro começou em 1850, mediante o fim do tráfico negreiro, sob a égide da Inglaterra, que buscava mercado consumidor para suas manufaturas. Outro momento importante foi a Lei do Ventre Livre de 1871 (THEODORO, 2005). Percebe-se que gradualmente a Economia Mercantil Escravista Cafeeira Nacional foi se inviabilizando. Por outro lado, o fluxo de imigrantes, paulatinamente foi ganhando impulso. O autor explica que o processo de trabalho livre como base da economia, acompanhado pela entrada crescente de população trabalhadora no setor de subsistência e em atividades mal remuneradas, foi denominado posteriormente de setor informal. A opção pelo trabalho dos imigrantes é uma questão bastante complexa, que segundo Theodoro (2005), apresenta várias respostas: população nacional livre pouco familiarizada com o trabalho assalariado, necessidade de acumulação de capital, nativos eram considerados inaptos ao trabalho regular, ideologia do embranquecimento da população etc. Por fim, a ascensão do trabalho assalariado marcou o incremento na urbanização das cidades a partir do final do Século XIX. Conforme Theodoro (2005), a partir de 1930 a indústria passou a ser a base do crescimento econômico. O Estado, por sua vez, passou a ser predominantemente intervencionista. Nesse contexto, o Estado iniciou a construção de grandes rotas inter regionais, permitindo maior integração entre as regiões do país. Esta integração beneficiou sobremaneira o eixo Rio-São Paulo. São Paulo passou a se beneficiar da sua posição de metrópole industrial mais importante do país. Em nível geral, o fenômeno da urbanização teve como resultado uma proliferação de cidades, bem como crescimento vertiginoso das regiões metropolitanas. Tanto que de 1940 a 1980, o número de cidades com mais de 500 mil habitantes passou de três para catorze (THEODORO, 2005). 4 A população da cidade de São Paulo, por exemplo, mais do que dobrou num período de 20 anos. Em 1920, a população da capital paulista era de 579.033 habitantes, enquanto que em 1940, a cidade já contava com 1.326.261 habitantes, chegando a 2.198.096 habitantes em 1950 (IBGE, 2011). Theodoro (2005), ainda explica que os anos 1930 marcaram o início da efetiva regulamentação do trabalho no Brasil. A legislação trabalhista do primeiro governo Vargas lançou as bases de uma estrutura complexa, que até hoje caracteriza as relações de trabalho no país. A propósito, Gonzáles et al (2009) afirmam que o modelo de relações de trabalho no Brasil foi marcado por três aspectos centrais: normatização dos direitos do trabalho pelo Estado, controle do conflito social e disponibilidade de uma ampla reserva de trabalhadores pressionando o mercado de trabalho. Nesse sentido, segundo Cardoso Jr. (2005), no período de 1930 a 1980, sobretudo após o término da Segunda Guerra Mundial, o Brasil sofreu em grande escala o fenômeno do êxodo rural, que aliado ao estrondoso crescimento demográfico, propiciou o surgimento de um excedente de mão de obra. Deste modo, informalização e marginalização de parte considerável da população rural recém urbanizada permearam um mercado de trabalho pouco estruturado no país (Baltar e Dececa, 1997, apud CARDODOS JR., 2005). Em 1966 foi criado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), com o escopo de flexibilizar o processo de demissão de trabalhadores, o que significou um eminente estímulo à rotatividade. Em 1970 foram criados o PIS (Programa de Integração Social) e o PASEP (Programa de Formação de Formação do Patrimônio do Servidor Público). No ano de 1975 foi criado o SINE (Sistema Nacional de Emprego), visando intermediar mão de obra, prover orientação e qualificação profissional, além de prestar informações sobre o mercado de trabalho. Já em 1986, foi instituído o Seguro Desemprego (TAFNER, 2006). A Constituição de 1988 corroborou e solidificou todo este sistema de amparo ao mercado de trabalho. Segundo Tafner (2006, p. 403), “pode-se afirmar que a CF de 1988 estabeleceu as bases para a organização de um efetivo programa de amparo ao trabalhador desempregado”. Como melhorias instituídas pela Constituição de 1988, pode-se citar: a ampliação da licença maternidade, garantia de aviso prévio, redução da jornada semanal de trabalho, aumento da multa por demissão sem justa causa etc. De acordo com Souza (1980) e Baltar (1985) apud Cardoso Jr. (2005), o mercado de trabalho pouco estruturado se caracteriza por abundante mão de obra, baixa qualificação técnica, sem organização sindical, empregos de alta rotatividade e com poucas possibilidades de ascensão profissional. Por outro lado, o mercado de trabalho estruturado oferece empregos mais estáveis, cujo nível de qualificação de entrada exigida é mais elevado, sendo mais promissoras as perspectivas de ascensão profissional. No Brasil, o apogeu do trabalho estruturado se deu de 1930 a 1980, fundamentalmente em razão do advento das atividades assalariadas formais. Durante a década de 1980, o mercado de trabalho brasileiro sofreu uma desestruturação acentuada, em função do cenário de crise econômica, com baixas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto e altas taxas de inflação (CARDOSO JR., 2005). Este viés de desestruturação seguiu no início da década de 1990 e, segundo Cardoso Jr. (2005), pode ser caracterizado por sete aspectos: crescimento patológico do setor terciário da economia; crescimento expressivo da informalidade; aumento da desocupação e desemprego; precarização dos postos de trabalho; estagnação relativa dos rendimentos médios oriundos do trabalho; piora na distribuição de renda e de 5 rendimentos do trabalho; modificação no padrão de mobilidade social intrageracional entre as décadas de 1920 e 1980. Nos anos 1990, segundo Chahad e Macedo (2003), o mercado de trabalho brasileiro evoluiu consoante com algumas transições. Conforme estes autores, a primeira transição foi de uma economia indexada e com altas taxas de inflação, para uma economia com estabilidade de preços; a segunda transição foi de uma economia relativamente fechada para uma economia bem mais aberta; a terceira transição foi a busca da tutela do Estado sobre as relações de emprego, isto é, sobre o mercado de trabalho; a quarta foi acerca da modificação do papel do Estado na economia, mais voltado à regulação, implementando privatizações; a quinta, de ordem demográfica, significou um acréscimo de cerca de 3% ao ano na PEA (População Economicamente Ativa); a sexta, por sua vez, foi o processo de inovação tecnológica, acelerado pela globalização. De acordo com Chahad e Macedo (2003), nas regiões metropolitanas, o crescimento da PEA entre 1992 e 2001 foi de 16%. Constatou-se que o emprego formal, neste período cresceu, acompanhando o ritmo da economia. Conforme Tafner (2006), há três determinantes ilustrativos do desempenho do mercado de trabalho: o primeiro, de ordem estrutural, é concernente às instituições regentes; o segundo é relativo às condições macroeconômicas; já o terceiro está ligado à capacidade do mercado de trabalho em providenciar grandezas absolutas de valor. Ao longo da década de 2000, de modo geral, o mercado de trabalho brasileiro seguiu viés de alta. No período de 2004 a 2008, em específico, segundo Baltar et al (2010), houve importantes reduções nas taxas médias de desemprego, expansão do emprego formal e nos setores mais organizados da economia. Ainda pode-se destacar a elevação substantiva do valor real do salário mínimo. Conforme Baltar et al (2010, p. 36), “outros pontos positivos que devem ser ressaltados são o aumento da renda média das famílias e a queda expressiva na magnitude da indigência e da pobreza”. Os autores argumentam que a estruturação do mercado de trabalho brasileiro depende da combinação da geração de empregos, sendo que o Estado tem papel preponderante nesse processo. 2.1. Emprego e população no sul do Brasil As Tabelas 1 e 2 apresentam um panorama geral da geração de empregos nos três estados do sul do Brasil, e nos 25 municípios mais populosos de cada estado, no período de 2002 a 2010. Tabela 1 – Geração de empregos no Sul do Brasil de 2002 a 2010 UF/ANO PR 2002 91765 2003 86147 2004 144683 2005 102032 2006 100695 2007 138601 2008 163475 2009 42051 2010 157329 TOTAL 1026778 SC RS SUL 47881 38331 177977 41776 33884 161807 83641 105501 333825 61912 21375 185319 53389 41769 195853 74964 67516 281081 93587 107033 364095 35872 31472 109395 106508 154231 418068 599530 601012 2227320 Fonte: CAGED, 2011. Tabela 2 – Geração de empregos nos 25 municípios mais populosos de cada estado do sul do Brasil UF/ANO PR-25 SC-25 RS-25 SUL-25 2002 44794 25435 14363 84592 2003 33558 23892 16611 74061 Fonte: CAGED, 2011. 2004 76696 49979 55206 181881 2005 57155 42995 26092 126242 2006 52797 36845 28641 118283 2007 71516 51942 47539 170997 2008 100221 63226 65630 229077 2009 28661 23622 18628 70911 2010 108345 73302 96509 278156 TOTAL 573743 391238 369219 1334200 6 No sul do Brasil, entre 2002 e 2010, foram gerados 2.227.320 empregos formais, sendo que somente em 2010 foram criados 418.068 novos postos de trabalho. Do total do período de 2002 a 2010, 1.334.200, ou 59,9%, foram criados nas 25 maiores cidades de cada estado da região. O pior ano foi 2009, em razão da crise financeira internacional, foram criados em todo o sul do Brasil, apenas 109.395 empregos, o que significou uma retração de 69,95% em relação ao ano anterior. Em compensação, em 2010, foram criados 418.068 empregos em toda a região sul, crescimento de 282,16% frente ao ano anterior. Os 25 municípios mais populosos de cada estado foram responsáveis por 66,53% do total de empregos gerados no sul, ou seja, 278.156 novas vagas (CAGED, 2011). O estado do Paraná foi o maior gerador de empregos na região sul entre 2002 e 2010. Foram gerados 1.026.778 (46,10% do total da região – Gráfico 1) empregos formais, sendo que somente em 2008 foram criados 163.475 novos postos de trabalho. Deste total, 573.743 vagas, ou 55,88%, foram criadas nas 25 maiores cidades do estado. A exemplo do que se verificou em esfera regional, no estado o pior ano também foi 2009, onde em razão da crise financeira internacional, foram criados em todo o estado, apenas 42.051 empregos, o que significou uma retração de 74,28% em relação ao ano anterior. Em 2010, foram criados 157.329 empregos em todo o estado, crescimento de 274,14% em relação ao ano anterior. Os 25 municípios mais populosos do estado foram responsáveis por 68,87% do total de empregos gerados no estado, ou seja, 108.345 novas vagas (CAGED, 2011). Gráfico 1 – Percentual da geração de empregos no sul do Brasil, no período de 2002 a 2010 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% PR 25,00% SC 20,00% RS 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Fonte: CAGED, 2011. O Rio Grande do Sul foi o segundo estado que mais gerou empregos na região. Foram 601.012 (26,98% do total da região – Gráfico 1) novas vagas em todo o estado gaúcho, sendo que as 25 maiores cidades foram responsáveis por 61,43% (369.219) deste montante. Logo em seguida, vem Santa Catarina com 599.530 empregos criados (26,92% do total da região – Gráfico 1), de modo que 65,26% (391.238) da geração de empregos no estado ocorreu nos 25 municípios mais populosos (CAGED, 2011). Na seqüência, discorre-se um pouco mais acerca da situação social nos dois maiores estados da região: Rio Grande do Sul e Paraná. Começando pelo Rio Grande do Sul, estado mais populoso e mais meridional da região, com 10,9 milhões de habitantes, cerca de 5,7% da população nacional. Concernente à renda domiciliar per capita do 7 estado, no período de 2001 a 2009 houve crescimento de 23,6%, passando de R$ 625,7 em 2001, para R$ 773,4 em 2009. O crescimento gaúcho foi maior do que o crescimento nacional (23,5%), porém menor que crescimento regional (30,4%). No caso do Brasil, a renda domiciliar per capita, saltou de R$ 511,50 em 2001 para 631,70 em 2009. Já no caso da região Sul, o indicador que era de R$ 597,20 em 2001, elevou-se para R$ 778,70 no ano de 2009 (CASTRO et al, 2012). Quanto ao índice de pobreza extrema, isto é, renda per capita inferior a R$ 67,07 por mês, o Rio Grande do Sul apresentou tendência de queda, pois o índice que fora de 4,7% em 2001, encontrava-se em 2,2% em 2009. Já o índice de Gini, utilizado para mensurar a distribuição de renda, declinou de 0,55 para 0,50 aproximadamente (CASTRO et al, 2012). No Rio Grande do Sul, a taxa de desemprego também caiu no período de 2001 a 2009, de 6,6% para 6%, sendo portanto, menor do que a taxa nacional que é de 8,2%. A remuneração do trabalho, por sua vez, que é mensurada pelo rendimento médio do trabalhador, no caso gaúcho, foi de R$ 1.087,5 à R$ 1.216,5 em 2009, expressando assim, expansão de 11,86%, ao passo que o crescimento nacional foi de 7,4% (CASTRO et al, 2012). Quanto à escolaridade, expressa pela média dos anos de estudo da população com 15 anos ou mais, no RS verificou-se índice semelhante à região sul e superior ao país: subiu de 6,8 para 7,8 anos de estudo (CASTRO et al, 2012). Passando para o Paraná, segundo maior estado da região, com uma população da ordem de 10,5 milhões de habitantes, ou 14,5% da população do Brasil, em relação à renda domiciliar per capita, foi registrado crescimento de 33%, visto que o indicador passou de R$ 553,04 em 2001 para R$ 735,33 em 2009. Relativo ao índice de pobreza extrema, apresentou queda satisfatória, pois o índice que era 7,1% em 2001, caiu para apenas 2,3% em 2009. O índice de Gini apresentou viés de queda no Paraná nos últimos anos, de 0,56 em 2001 para aproximadamente 0,52 em 2009. Contudo, para este indicador, o índice paranaense, a despeito de ser menor do que o índice nacional, é um pouco maior em relação ao índice da região Sul (CASTRO et al, 2012). Houve ainda, nítida queda da taxa de desemprego paranaense, de 7,5% em 2001 para 6% em 2009. A remuneração do trabalho, por sua vez, que é mensurada pelo rendimento médio do trabalhador, no caso do Paraná, revelou-se maior do que em âmbito nacional. No ano 2001, o rendimento médio do trabalho do Paraná foi de R$ 1.086,90; em 2009 havia subido para R$ 1.239,50. Isto equivale a um aumento de 14%, enquanto que o crescimento nacional foi 7,4% (CASTRO et al, 2012). Quanto à escolaridade, expressa pela média de anos de estudo da população com 15 anos ou mais, no Paraná verificou-se índice semelhante à região Sul e superior ao país. No Paraná, a média de anos de estudo subiu de 6,6 anos para 7,9 anos (CASTRO et al, 2012). A região Sul do Brasil – representada na Figura 1 - é constituída pelos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Tem como limites, ao norte, as regiões Sudeste e Centro Oeste; ao sul, o Uruguai; ao leste, o oceano Atlântico; ao oeste, Argentina e Paraguai. O clima da região é o subtropical úmido, marcado por estações bem definidas, com calor no verão e invernos rigorosos. 8 Figura 1 – Região Sul do Brasil em destaque Fonte: IBGE, 2011. O censo 2010 do IBGE revelou que o sul do Brasil contava naquele ano com uma população na ordem de 27.384.815 habitantes – a terceira mais populosa do Brasil. Consoante com o IBGE (2011), a densidade demográfica da região em 2010 era 47,59 habitantes por quilômetro quadrado, sendo que a região, a menor do Brasil, ocupa uma área equivalente a 576.409,6 quilômetros quadrados. Segundo o censo 2010 do IBGE, o município mais populoso da região Sul é Curitiba, com 1.746.896 habitantes, seguida de Porto Alegre com 1.409.939 moradores. A Tabela 3 apresenta as 25 cidades mais populosas da região. Tabela 3 – Os 25 municípios mais populosos do Sul do Brasil Município Curitiba Porto Alegre Joinville Londrina Caxias do Sul Florianópolis Maringá Pelotas Canoas Ponta Grossa Blumenau Cascavel São J. dos Pinhais Fonte: IBGE (2010). Pop. 1.746.896 1.409.939 515.250 506.706 435.482 421.203 357.077 327.778 324.025 311.611 309.214 286.205 264.210 Pos. 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º Município Santa Maria Foz do Iguaçu Gravataí Viamão Novo Hamburgo São Leopoldo Colombo São José Rio Grande Alvorada Criciúma Passo Fundo Pop. 261.027 256.088 255.762 239.234 239.051 214.210 212.967 210.513 197.253 195.718 192.236 184.869 Pos. 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º A maior região metropolitana é a de Porto Alegre, que compreende 32 municípios, onde vivem 3.979.561 pessoas. Curitiba é a segunda maior região metropolitana da região, com 3.168.980 habitantes em 26 municípios (IBGE, 2010). 9 Conforme a hierarquia urbana do IBGE, o Sul contém 2 metrópoles regionais: Porto Alegre e Curitiba; 1 capital regional A: Florianópolis; 9 capitais regionais B: Joinville, Londrina, Caxias do Sul, Maringá, Blumenau, Santa Maria, Cascavel, Chapecó e Passo Fundo; Criciúma, Ijuí, Novo Hamburgo/São Leopoldo, Pelotas/Rio Grande e Ponta Grossa são capitais regionais C. Neste estudo, foram selecionados 75 municípios da região, sendo os 25 mais populosos de cada estado – apresentados no Quadro 1 - que juntos representam cerca de 54,25% da população regional. Quadro 1 – 25 municípios mais populosos de cada estado da região Sul do Brasil PR Curitiba Londrina Maringá Ponta Grossa Cascavel São José dos Pinhais Foz do Iguaçu Colombo Guarapuava Paranaguá Apucarana Toledo Araucária Pinhais Campo Largo Arapongas Almirante Tamandaré Umuarama Cambé Piraquara Campo Mourão Sarandi Fazenda Rio Grande Paranavaí Francisco Beltrão Fonte: IBGE, 2011. SC Joinville Florianópolis Blumenau São José Criciúma Chapecó Itajaí Lages Jaraguá do Sul Palhoça Balneário Camboriú Brusque Tubarão São Bento do Sul Caçador Concórdia Camboriú Araranguá Rio do Sul Navegantes Içara Biguaçu Gaspar Indaial Mafra RS Porto Alegre Caxias do Sul Pelotas Canoas Santa Marina Gravataí Viamão Novo Hamburgo São Leopoldo Rio Grande Alvorada Passo Fundo Sapucaia do Sul Uruguaiana Cacoheirinha Santa Cruz do Sul Bagé Bento Gonçalves Erechim Guaíba Cachoeira do Sul Santana do Livramento Esteio Ijuí Alegrete Pos. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 3 METODOLOGIA Neste estudo, foi empregada a técnica da análise estatística multivariada, em específico, a análise fatorial, de modo que foi adotada como unidade precípua de análise, o município. É possível citar vários trabalhos que já empregaram esta técnica. Hoffman (1992) estudou a dinâmica da modernização da agricultura para 157 microrregiões de oito estados do Brasil. Ferreira Júnior, Baptista e Lima (2003) estudaram a modernização agropecuária nas microrregiões do estado de Minas Gerais. Para avançar na compreensão da agricultura do Paraná, Rezende e Parré (2004), utilizaram técnicas de análise multivariada (fatorial e cluster). Com o intuito de evidenciar as discrepâncias econômicas e sociais dos municípios do Mato Grosso, Zambrano e Pinto (2004), também utilizaram a análise fatorial. Pode-se citar ainda, dentre outros, o trabalho de 10 Silva et al (2006), que analisaram o desenvolvimento dos municípios do oeste do Paraná. 3.1 A análise fatorial Conforme Melo (2006, p. 54), “a análise fatorial tem como princípio básico a redução do número original de variáveis, por meio da extração de fatores independentes, de tal forma que estes fatores possam explicar, de forma simples e reduzida, as variáveis originais”. Esta técnica condiciona a extração de um número conciso de fatores, sendo estes combinações lineares das variáveis originais. Bezerra (2011), por sua vez, discorre que a análise fatorial faz a avaliação da correlação existente entre um grande número de variáveis, identificando a possibilidade de agrupamentos em números menores de variáveis, ou seja, a análise fatorial agrupa um conjunto de variáveis em sub-conjuntos menores de fatores. De acordo com Barroso e Artes (2003, p. 71), a “análise fatorial [...] é uma técnica estatística que tem como objetivo descrever a estrutura de dependência de um conjunto de variáveis através da criação de fatores, que são variáveis que, supostamente, medem aspectos comuns”. Segundo Mingoti (2005), o principal objetivo da análise fatorial é descrever a variabilidade de um vetor aleatório em função de um menor número de variáveis aleatórias, que são chamadas de fatores comuns e que estão ligadas ao vetor original por um modelo linear. Nas palavras de Mingoti (2005, p. 99), “em linhas gerais, o que se espera é que as variáveis originais [...] estejam agrupadas em subconjuntos de novas variáveis mutuamente não correlacionadas, sendo que a análise fatorial teria como objetivo o encontro destes fatores de agrupamento”. De acordo com o autor, a análise fatorial surgiu no início do século XX com Spearman. A princípio, foram feitos estudos nas áreas da psicologia e ciências sociais. Apesar de receber críticas, passou a ser muito utilizada também em outras áreas, como química, educação e geologia. O modelo matemático, via combinação linear entre as variáveis (Xi) e K fatores comuns F, pode ser escrito da seguinte maneira: (1) Xi = Ai1F1 + Ai2F2 + ... + AikFk + Ei Onde Xi são as variáveis padronizadas, Ai são as cargas fatoriais, Fk são os fatores comuns e Ei é um fator de erro. Já os fatores, são estimados pela combinação linear das variáveis originais. Logo: Fj = Wj1X1 + Wj2X2 + . . . + WjpXp (2) Onde Fj são os fatores comuns não relacionados, Wjp são os coeficientes dos escores fatoriais e Xp são as variáveis originais do estudo (BEZERRA, 2011). Com o objetivo de facilitar a interpretação dos fatores, realiza-se uma rotação ortogonal por meio do método varimax. Consoante com Meireles e Soares (2011), a rotação varimax é a mais conhecida. Este método procura o melhor sistema de eixos para o qual o peso das variáveis seja elevado apenas a um fator, ficando próximo de zero nos demais. Em síntese, este método tem a função de minimizar o número de variáveis fortemente relacionadas com cada fator, condicionando a obtenção de fatores com interpretação mais simplória, sem que se perca a ortogonalidade entre os fatores. Na análise fatorial, há uma medida de adequação de dados. Trata-se do KMO (Kaiser-Meyer-Olkim). O KMO, de acordo com Melo (2006, p. 58), “é a razão da soma dos quadrados das correlações de todas as variáveis dividida por essa mesma soma acrescentada da soma dos quadrados das correlações parciais de todas as variáveis”. O 11 ideal é que se verifique a menor correlação possível. O KMO oscila de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1 melhor, pois menores serão as correlações parciais, indicando perfeita adequação de dados para a análise fatorial. Para a interpretação do KMO, Barroso e Artes (2003), considera que: 0,801,00, excelente; 0,70-0,80, ótimo; 0,60-0,70, bom; 0,50-0,60, regular; 0,00-0,50, insuficiente. Além do KMO, existe outro teste a ser observado a fim de se verificar as premissas da análise fatorial: é o teste de Barlett. Este teste avalia a hipótese de que a matriz de correlação seja a matriz identidade. A partir da identificação dos fatores, é possível estimar o escore fatorial, de acordo com a equação (2). Portanto, é possível criar um índice e classificar as observações (municípios), a partir da matriz dos escores fatoriais. Segundo Monteiro e Pinheiro, citado por Silva et al (2006), “os escores fatoriais de cada fator possuem distribuição normal, com média zero e variância unitária [...] podem ser utilizadas para indicar a posição relativa de cada observação”. 3.2 Seleção de variáveis e fonte de dados Com o escopo de se verificar o grau de desenvolvimento do mercado de trabalho em 75 municípios do sul do Brasil – os 25 mais populosos de cada estado foram selecionadas 15 variáveis, a partir das estatísticas disponíveis (dados secundários), sendo trabalhadas no processo de análise fatorial. As variáveis são 15 indicadores de significativa relevância na conjuntura do mercado de trabalho, com ênfase a aspectos educacionais e de geração de empregos, com base nas estatísticas do RAIS (Relação Anual de Relações Sociais), do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): X1 – analfabetos empregados em 2010 (RAIS); X2 – trabalhadores com até a 5ª série incompleta em 2010 (RAIS); X3 – trabalhadores com 5ª série completa em 2010 (RAIS); X4 – trabalhadores com escolaridade de 6ª à 9ª séries incompletas em 2010 (RAIS); X5 – trabalhadores com ensino fundamental completo em 2010 (RAIS); X6 – trabalhadores com ensino médio incompleto em 2010 (RAIS); X7 – trabalhadores com ensino médio completo em 2010 (RAIS); X8 – trabalhadores com ensino superior incompleto em 2010 (RAIS); X9 – trabalhadores com ensino superior completo em 2010 (RAIS); X10 – trabalhadores com mestrado em 2010 (RAIS); X11 – trabalhadores com doutorado em 2010 (RAIS); X12 – média de emprego gerados de 2006 à 2010 (CAGED); X13 – população total em 2010 (IBGE); X14 – densidade demográfica (IBGE); X15 – grau de urbanização (IBGE). O CAGED foi criado em 1965 e determinando o registro de contratações e demissões, sob o regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Já a RAIS, por sua vez, foi instituída em 1975 com o escopo de suprir as necessidades de controle das atividades trabalhistas, disponibilizando informações sobre o mercado de trabalho formal (MTE, 2012). 12 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise aplicada ao modelo possibilitou a extração de dois fatores com a raiz característica maior que a unidade e que sintetizam as informações contidas nas 15 variáveis originais. Após a rotação, conforme a Tabela 3, percebe-se que os dois fatores, F1 e F2, explicam respectivamente, 77,94% e 12,48% da variância total das variáveis selecionadas. Em conjunto, os dois fatores explicam 90,43% da variância total das variáveis selecionadas. Tabela 3 – Raiz característica, percentual explicado por cada fator e variância acumulada: Fator F1 F2 Raiz característica 11,69 1,67 Variância explicada pelo fator (%) 77,94 12,48 Variância acumulada (%) 77,94 90,42 Fonte: Resultados da pesquisa. O teste de Barlett mostrou-se significativo (2682,225), rejeitando-se a hipótese nula de que a matriz de correlação seja uma matriz identidade, e indicando a pertinência do modelo. Já o teste de KMO, que avalia a adequabilidade da amostra, revelou o valor de 0,931, que de acordo com os ditames previamente estabelecidos, é considerado um excelente índice, indicando que a amostra é passível de ser estudada pela análise fatorial. Na seqüência, a Tabela 4 apresenta as cargas fatoriais e as comunalidades para os fatores considerados. As comunalidades expressam a intensidade da relação das variáveis com os fatores, enquanto que as cargas fatoriais possibilitam identificar com quais fatores as variáveis estão fortemente relacionadas. Os valores encontrados pelas comunalidades revelam que todas as variáveis têm sua variabilidade captada e representada por um dos dois fatores (F1 e F2) de análise. Ficou evidente que o fator F1 (conjunto de indicadores) é positiva e fortemente relacionado com as variáveis: X1, que denota o número de trabalhadores analfabetos empregados; X2, que denota o número de trabalhadores com a 5ª série incompleta; X3, que denota a quantidade de trabalhadores com a 5ª série completa; X4, que expressa o número de trabalhares com escolaridade de 6ª à 9ª séries incompletas; X5, que denota o número de trabalhadores com ensino fundamental completo; X6, que representa a quantidade de trabalhadores com ensino médio incompleto; X7, que denota os trabalhadores com ensino médio completo; X8, relativo ao trabalhadores com ensino superior incompleto; X9, concernente aos trabalhadores com ensino superior completo; X10, que denota os trabalhadores com mestrado; X11, que representa os trabalhadores com doutorado; X12, que expressa a geração média de empregos e X13, que denota a população total dos municípios. Observou-se que as variáveis ligadas ao fator F1, estão relacionadas basicamente a aspectos quantitativos, inclusive referentes ao mercado de trabalho. 13 Tabela 4 – Cargas fatoriais e comunalidades: Variáveis X1 X2 X3 X4 X5 X6 X7 X8 X9 X10 X11 X12 X13 X14 X15 Fonte: Resultados da pesquisa. F1 0,946 0,947 0,949 0,938 0,956 0,969 0,970 0,936 0,940 0,920 0,872 0,942 0,956 0,399 0,043 F2 0,215 0,188 0,218 0,237 0,234 0,223 0,216 0,206 0,182 0,157 0,155 0,217 0,240 0,688 0,913 Comunalidades 0,941 0,932 0,949 0,936 0,969 0,988 0,987 0,918 0,916 0,871 0,784 0,934 0,971 0,633 0,836 O fator F2, por sua vez, é positiva e fortemente relacionado com as variáveis: X14, que denota a densidade demográfica e X15, concernente ao grau de urbanização. Após consideradas as cargas fatoriais e comunalidades, mostra-se pertinente ao desiderato deste trabalho, a observância dos escores fatoriais, ou seja, o valor dos fatores para cada município considerado no estudo. A análise dos fatores deve ser feita levando em conta que seus escores originais, quando todos os municípios são considerados em conjunto, são variáveis com média zero e desvio padrão igual a um. Sendo assim, interpreta-se que os escores fatoriais próximos a zero, indicam nível médio de desenvolvimento, ao passo que quanto maiores os escores, maior é o nível de desenvolvimento do mercado de trabalho dos municípios (HOFFMANN, 1992), apud Melo (2006). Sendo assim, a Tabela 5 apresenta a classificação dos municípios da análise, de acordo com o escore do fator F1 (agrupamento de variáveis), que se mostrou muito mais relevante do que o fator F2. Tabela 5 – Escores fatoriais dos 75 municípios considerados: Município Curitiba Porto Alegre Londrina Caxias do Sul Joinville Florianópolis Maringá Blumenau Piraquara São José dos Pinhais Cascavel Ponta Grossa Itajaí Chapecó Pelotas Novo Hamburgo Jaraguá do Sul Concórdia Santa Maria Escore Tot. 6,02 4,76 1,24 1,04 1,01 0,98 0,88 0,64 0,60 0,41 0,25 0,18 0,18 0,15 0,11 0,06 0,03 0,02 0,01 Pos. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Município Caçador Rio Grande Foz do Iguaçu Tubarão Erechim Ijuí Canoas Arapongas Colombo Rio do Sul Paranaguá Lages Umuarama Alegrete Uruguaiana Campo Mourão Santana do Livramento Viamão Biguaçu Escore Tot. -0,24 -0,24 -0,24 -0,25 -0,25 -0,26 -0,27 -0,27 -0,28 -0,28 -0,28 -0,29 -0,29 -0,32 -0,33 -0,37 -0,37 -0,38 -0,40 Pos. 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 14 Campo Largo 0,00 São José -0,01 Toledo -0,07 Santa Cruz do Sul -0,08 Gaspar -0,08 Mafra -0,09 Araucária -0,10 Bagé -0,10 Guarapuava -0,11 São Leopoldo -0,16 Francisco Beltrão -0,16 Brusque -0,17 Bento Gonçalves -0,19 Apucarana -0,20 Araranguá -0,21 Cachoeira do Sul -0,21 Criciúma -0,22 Passo Fundo -0,22 Gravataí -0,23 Fonte: Resultados da pesquisa. 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 São Bento do Sul Paranavaí Indaial Içara Palhoça Cambé Navegantes Fazenda Rio Grande Almirante Tamandaré Camboriú Cachoeirinha Pinhais Guaíba Balneário Camboriú Sarandi Sapucaia do Sul Alvorada Esteio -0,40 -0,41 -0,41 -0,41 -0,42 -0,47 -0,50 -0,54 -0,55 -0,55 -0,57 -0,59 -0,59 -0,66 -0,68 -0,76 -0,83 -0,87 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 Observa-se na Tabela 5, que dos 75 municípios considerados no estudo, 20 obtiveram escore positivo. Estes podem ser considerados, a partir das estatísticas utilizadas, municípios com nível de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da média em relação aos demais municípios. Os demais 55 municípios obtiveram escore negativo e, portanto, podem ser considerados com nível de desenvolvimento do mercado de trabalho abaixo da média em relação aos demais municípios. Verifica-se que dos 20 municípios com escore positivo, 8 são paranaenses (Figura 2): Curitiba, Londrina, Maringá, Piraquara, São José dos Pinhais, Cascavel, Ponta Grossa e Campo Largo; sendo que destes, 4 são do interior (Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa), cidades que exercem grande influência em suas respectivas regiões; as 4 demais são da região metropolitana de Curitiba, incluindo a capital. Isto exprime que, não obstante a geração de empregos formais e estruturados já estar fortemente concentrada nos 25 municípios mais populosos do estado no ano 2010, há uma concentração ainda maior em oito municípios (70,51%), sendo que destes oito, somente quatro situam-se no interior do estado. Figura 2 – Municípios paranaenses com escore fatorial positivo Fonte: Resultados da pesquisa. 15 Ainda no grupo dos 20 municípios com escore positivo, constatou-se que 7 são catarinenses (Figura 3): Joinville, Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Chapecó, Jaraguá do Sul e Concórdia, todas cidades pólo no estado, incluindo a capital. Estes municípios foram responsáveis por 60,87% do total da geração de empregos no conjunto das 25 principais cidades do estado, no ano de 2010. Figura 3 – Municípios catarinenses com escore fatorial positivo Fonte: Resultados da pesquisa. Do Rio Grande do Sul, cinco municípios ficaram entre os 20 primeiros lugares da classificação fatorial (Figura 4): Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Novo Hamburgo e Santa Maria. Portanto, estas cinco cidades criaram 53,42% do total de empregos gerados nos 25 municípios mais populosos do estado em 2010. Figura 4 – Municípios gaúchos com escore fatorial positivo Fonte: Resultados da pesquisa. 16 Constata-se que no caso do total de empregos gerados no grupo das 75 cidades consideradas neste estudo, 62,04% foram criados nas 20 cidades que revelaram escore fatorial positivo. Logo, pode-se corroborar a hipótese suscitada no início deste estudo, isto é, de que genericamente, as maiores cidades apresentam os maiores graus de desenvolvimento do mercado de trabalho e, portanto, com as melhores perspectivas profissionais para os trabalhadores. Observa-se ainda que, na ponta de baixo, dos 20 últimos colocados, 8 são catarinenses, 6 paranaenses e 6 gaúchos. Destes 20 municípios, 19 localizam-se em regiões metropolitanas: Viamão, Cachoeirinha, Guaíba, Sapucaia do Sul, Alvorada e Esteio, da região metropolitana de Porto Alegre; Fazenda Rio Grande, Almirante Tamandaré e Pinhais, da região metropolitana de Curitiba; Biguaçu e Palhoça, da região metropolitana de Florianópolis; São Bento do Sul, da região metropolitana do Norte/Nordeste Catarinenses; Indaial, da região metropolitana do Vale do Itajaí; Navegantes, Camboriú e Balneário Camboriú, da região metropolitana da Foz do Rio Itajaí; Içara, da região metropolitana Carbonífera; Cambé, da região metropolitana de Londrina; Sarandi, da região metropolitana de Maringá. Este achado ratifica o termo cidade dormitório, denota cidades com economias pouco pujantes, extremamente dependentes de cidade maiores (metrópoles), muitas vezes conurbadas. Nestes casos, cidades das periferias de regiões metropolitanas acabam sendo prejudicadas, justamente pela proximidade com as suas respectivas metrópoles. No grupo das 20 últimas colocadas, a única cidade que não está em nenhuma região metropolitana é Paranavaí, na mesorregião Noroeste do Paraná. Outra ilação que pode ser feita com relação ao porquê destes resultados, é a premissa de que municípios mais populosos têm seus níveis de desenvolvimento favorecido, inclusive no que tange ao mercado de trabalho, pois maiores são as oportunidades para a população estudar, se aperfeiçoar e ingressar no mercado. Ademais, quanto maior a população, maior a tendência de atração de pessoas de outras localidades, de maneira que cidades mais populosas, em tese, acabam recebendo maiores investimentos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste trabalho foi hierarquizar, de acordo com seus níveis de desenvolvimento do mercado de trabalho, 75 municípios do sul do Brasil, sendo os 25 mais populosos de cada estado, a fim de se saber quais são as cidades mais bem colocadas nessa classificação. Isto foi possível por meio da análise estatística multivariada, em específico, a análise fatorial, que agregou 15 indicadores de desenvolvimento do mercado de trabalho originais em 2 fatores (F1 e F2). Constatou-se que dos 75 municípios, 20 registraram escore positivo, isto é, níveis de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da média em relação aos demais, de modo que é possível afirmar que dos 75 municípios considerados na região, nesses 20, o mercado de trabalho é mais bem desenvolvido. Cabe ressaltar ainda, a grande vantagem de Curitiba e Porto Alegre – as duas grandes metrópoles da região em relação aos demais municípios, na medida em que o escore destas capitais foi bastante superior aos demais municípios. Ademais, a maioria dos municípios pesquisados, 55, revelaram escore negativo, ou seja, exprimindo condições de desenvolvimento do mercado de trabalho abaixo da média. Pode-se preconizar políticas públicas voltadas com maior atenção a estes municípios, no sentido de melhorar suas condições de desenvolvimento do 17 mercado de trabalho ou pelo menos mitigar suas carências, sem descuidar dos municípios mais populosos, onde as demandas são maiores. Cabe às lideranças locais estar constantemente fazendo gestões junto às autoridades competentes, a fim de que se incentivem a criação de distritos industriais em seus municípios. Este trabalho não encerra as discussões sobre o tema abordado, ao contrário, espera-se que mais pesquisadores se interessem pelo assunto, quer seja, de estudar o mercado de trabalho, por meio das técnicas de análise multivariada. 6 REFERÊNCIAS BALTAR, P. E. A et al. Trabalho no governo Lula: Uma reflexão sobre a recente experiência brasileira. In: Global Labor University Working Papers (Org.), n.9, maio, 2010. BARROSO, L. P.; ARTES, R. Análise Multivariada. Lavras, Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Exatas. 48ª Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria e 10º Simpósio de Estatística Aplicada à Experimentação Agronômica. Julho, 2003. BEZERRA, F. A. Análise Fatorial. In: CORRAR, L. J. et al (Org.). Análise Multivariada. São Paulo: Atlas, 2011. CAGED. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/caged. Acesso em 13 de nov. de 2011. CARDOSO JR., J. C. A questão do trabalho urbano e o sistema público de emprego no Brasil contemporâneo: décadas de1980 e 1990. In: JACCOUD, L. (Org.) Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo. Brasília: IPEA, 2005. CASTRO, J. A.; ARAÚJO, H. E.; CODES, A. L. M (Org.). Situação social nos estados – Paraná. In: IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Disponível em http://www.ipea.gov.br. Acesso em 02 de fev. de 2012. CHAHAD, J. P. Z; MACEDO, R. A evolução do emprego no período 1992-2001 e a ampliação do mercado formal brasileiro desde 1999. In: CHAHAD, J. P. Z; PICCHETTI, P. (Org.) Mercado de Trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2003. CLEMENTE, A. Economia Regional de Urbana. São Paulo: Atlas, 1994. EHRENGERG, R. G.; SMITH, R. S. Economia do Trabalho: Teoria e política pública. 5 ed. São Paulo: Makron Books, 2000. FERREIRA JUNIOR, S.; BAPTISTA, A. J. M. S.; LIMA, J. E. A modernização agropecuária nas microrregiões do estado de Minas Gerais. Congresso da SOBER. ANAIS. Juiz de Fora, 2003. FERRETI, C. J. Educação para o trabalho. In: FERNANDES, R. (Org.). O Trabalho no Brasil no Limiar do século XXI. São Paulo: Editora LTr, 1995. GONZALES, R; GALIZA, M; AMORIN, B; VAZ, F; PARREIRAS, L. Regulação das relações de trabalho no Brasil: O marco constitucional e a dinâmica pós constituinte. In: Políticas Sociais: Acompanhamento e Análise – Vinte Anos da Constituição Federal, v.2, n.17, 2009. HOFFMANN, R. A dinâmica da modernização da agricultura em 157 microrregiões homogêneas do Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural. Brasília, v. 30, n. 4, p. 271-290, out/dez. 1992. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em : http://www.ibge.gov.br/cidadesat/. Acesso em 13 de nov. de 2011. LIMA, R. Mercado de trabalho: O capital humano e a teoria da segmentação. Pesquisa e Planejamento Econômico. Vol. 10, n.1, abril, 1980. 18 VIANA, G.; LIMA, J. F. Capital humano e crescimento econômico: O caso da economia paranaense no início do século XXI. Revista Paranaense de Desenvolvimento. n.116. Curitiba, 2009. disponível em: http://www.ipardes.pr.gov.br. MEIRELES, A.; SOARES, J. O. Análise Factorial Aplicada à Ciência Regional. In: COSTA, J. S.; DENTINHO, T. P.; NIJKAMP, P. (Org.). Compêndio de Economia Regional: Volume II – Métodos e técnicas de análise regional. Lisboa: Principia, 2011. MELO, C.O. Caracterização do Desenvolvimento Rural dos Municípios Paranaenses: Uma análise com base na estatística multivariada. Dissertação de mestrado. Maringá. 2006.Disponível em:http://www.pce.uem.br/gerenciador/producao/3e5c477dd68b83abb98f3db278bac8a 7.pdf. Acesso em 02 de out.de 2011. MELO, C. O. Índice Relativo de Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios da Região Sudoeste Paranaense. Revista Análise Econômica (UFRGS). Porto Alegre, vol. 25, n. 48, setembro de 2007. MINGOTI, S. A. Análise de Dados Através de Métodos de Estatística Multivariada: Uma abordagem aplicada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. MTE – Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em 03 de fev. de 2012. REZENDE, L. P. PARRÉ, J. L. A Regionalização da Agricultura Paranaense na Décade de Noventa: Um estudo utilizando estatística multivariada. Congresso da SOBER. ANAIS. Cuiabá, 2004. RICHARDSON, H. W. Economia Regional. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. SILVA, G. H da; MELO, C. O de; ESPERENCINI, M. S. T. Determinantes do Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios da Região Oeste do Paraná: Hierarquização e Regionalização. Congresso da SOBER. ANAIS. Fortaleza, 2006. TAFNER, Paulo. Políticas públicas de emprego, trabalho e renda no Brasil. In: ________. Brasil: O Estado de Uma Nação. Brasília:IPEA, 2006. cap.7 THEODORO, M. As características do mercado de trabalho e a origem do informal no Brasil. In: JACCOUD, L. (Org.) Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo. Brasília: IPEA, 2005. ZAMBRANO, C. E; PINTO, W. J. Avaliação do Desenvolvimento Municipal do Estado de Mato Grosso Aplicando Análise Multivariada. Congresso da SOBER. ANAIS. Cuiabá, 2004.