VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Rio de Janeiro / 2007 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. U n3p Universidade Castelo Branco. História da Educação Brasileira. – Rio de Janeiro: UCB, 2007. 40 p. ISBN xx-xxxxx-xx-x 1. Ensino a Distância. I. Título. CDD – 371.39 Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenadora do Curso de Graduação Ana Cristina Noguerol - Pedagogia Conteudista Ana Cristina Noguerol Atualizado por Liliana Lúcia da S. Barbosa Supervisor do Centro Editorial – CEDI Joselmo Botelho Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares. As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o conteúdo de todas as Unidades Programáticas. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Não pule etapas. 6 - Faça todas as tarefas propostas. 7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 9 - Não hesite em começar de novo. SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático ............................................................................................................ 11 Contextualização da disciplina ................................................................................................................................... 12 UNIDADE I OS PRIMÓRDIOS DA ESCOLARIZAÇÃO NO BRASIL 1.1. Os jesuítas e o início da educação brasileira .............................................................................................. 1.2. O período imperial e a educação .................................................................................................................... 13 17 UNIDADE II A EDUCAÇÃO NO PERÍODO REPUBLICANO 2.1. A educação na Primeira República ................................................................................................................. 21 2.2. A educação na Segunda República ................................................................................................................ 23 UNIDADE III ESTADO NOVO X REDEMOCRATIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO 3.1. Estado Novo e educação ............................................................................................................................... 3.2. Redemocratização na educação: a Quarta República ................................................................................. 26 28 UNIDADE IV A DITADURA MILITAR E AS CONSEQÜÊNCIAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ATUAL 4.1. A Ditadura Militar ............................................................................................................................................. 30 4.2. A Nova República ............................................................................................................................................. 31 Glossário ................................................................................................................................................................... 35 Gabarito .................................................................................................................................................................... 36 Referências bibliográficas ..................................................................................................................................... 38 Quadro-síntese do conteúdo programático UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS 1. OS PRIMÓRDIOS DA ESCOLARIZAÇÃO NO BRASIL 1.1 - Os jesuítas e o início da educação brasileira - Objetivos - Métodos - As escolas de primeiras letras • Identificar os primeiros professores do Brasil e as características da educação por eles promovida; 1.2 - O período imperial e a educação - Independência e educação - O ensino primário - O ensino técnico-profissional e o ensino normal - O ensino secundário e superior • Apontar as principais características da educação no Império. 2. A EDUCAÇÃO NO PERÍODO REPUBLICANO 2.1 - A educação na Primeira República - Entusiasmo pela educação X Otimismo pedagógico - As tendências pedagógicas da Primeira República - A organização escolar • Caracterizar a organização escolar do período republicano; 2.2- A educação na Segunda República - Vargas e a educação - Confrontos ideológicos na educação: liberais, católicos, integralistas, governistas e aliancistas - O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova - Educação na Constituição de 1934 • Relacionar as conquistas adquiridas no campo educacional do primeiro período de Vargas com as idéias contidas no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova; • Analisar os movimentos de educação ocorridos na Primeira República; • Discutir criticamente as diferentes ideologias educacionais da Segunda República, observando a repercussão das mesmas na Constituição de 1934. 3. ESTADO NOVO X REDEMOCRATIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO 3.1 - Estado Novo e educação - Educação na Constituição de 1937 - As Leis Orgânicas do Ensino - Reforma Capanema • Comparar o capítulo sobre educação da Constituição de 1937 com a de 1934, observando os avanços e retrocessos; 3.2 - Redemocratização na educação: a Quarta República - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Os movimentos de educação popular - Populismo e educação • Analisar criticamente a L.D.B.E.N./61; • Analisar criticamente a Reforma Capanema; • Identificar o crescimento dos movimentos populares e suas relações com a educação. 4. A DITADURA MILITAR E AS CONSEQÜÊNCIAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ATUAL 4.1 - A Ditadura Militar - A política educacional da Ditadura Militar - As Leis 5.540/68 e 5.692/71 - Reforma Universitária e Profissionalização Precoce • Analisar a política educacional da Ditadura Militar; 4.2 - A Nova República - O problemas educacionais de hoje - A educação na nova Constituição - A nova LDBEN • Apontar os problemas educacionais mais comuns da atualidade brasileira; • Identificar as Leis 5.540/68 e 5.692/71 como frutos do autoritarismo vigente na época; • Analisar a educação de hoje, a partir das idéias contidas na Constituição de 1988 e na nova L.D.B. 11 12 Contextualização da Disciplina A História da Educação é uma das disciplinas básicas do curso de Pedagogia. Seu conteúdo se correlaciona principalmente com o de Filosofia da Educação e o de Estrutura e Funcionamento do Ensino. A importância da História da Educação é indiscutível, à medida que fundamenta a prática e fornece subsídios às discussões em torno da problemática educacional. Esta disciplina surge no final do século XIX e, a partir de 1880, iniciam-se publicações específicas e cursos em universidades e escolas normais na Europa. No Brasil, a História da Educação aparece em 1927, a partir da reorganização do ensino proposta por Francisco Campos. Tal disciplina revela-se como indispensável à análise das situações do presente, pois trata do desenvolvimento das idéias a respeito da educação nas sociedades. No entanto, a história descrita na maioria dos livros refere-se ao que podemos considerar como história oficial, visto que relata apenas a ação do Estado, a ação ou pensamento das elites educacionais e também a "ação" das reformas pedagógicas. Atualmente, podemos registrar a existência de uma incipiente tendência, presente em teses de doutorado e em dissertações de mestrado, que pretendem dar conta das experiências de educação popular no nosso país. Podemos apontar também mais um problema, ou seja, a falta de tradição dos estudos históricos sobre educação brasileira. Porém, isso não compromete o valor que a disciplina tem para o futuro pedagogo, visto que a História da Educação faz parte do alicerce da sua formação. UNIDADE I 13 OS PRIMÓRDIOS DA ESCOLARIZAÇÃO NO BRASIL Observando o programa da disciplina, percebemos que a primeira unidade trata do início da escolarização em nosso país, ou seja, refere-se ao período do BrasilColônia e do Brasil-Império. No período colonial, surgem os jesuítas como os principais professores, que se tornam responsáveis durante 210 anos pela educação brasileira. Mas como era antes da chegada dos padres jesuítas? Antes da chegada dos jesuítas, a educação não chegara a se escolarizar, ou seja, não havia necessidade de uma instituição como a escola para preparar o indivíduo para as tarefas que a sociedade lhe exigia. As crianças e os jovens indígenas aprendiam participando diretamente das atividades tribais, o que garantia praticamente a formação necessária para a vida adulta. Com a vinda dos jesuítas dá-se continuidade ao processo de imposição cultural, baseada no modelo europeu vigente, pois a escola jesuítica enfatizava, pelo menos, três grandes objetivos: catequizar os índios, propagar a fé cristã e divulgar a cultura européia. 1.1 - Os Jesuítas e o Início da Educação Brasileira Você, agora, deve estar curioso(a) para saber como era a educação oferecida pelos jesuítas, não é mesmo? Vejamos: A educação jesuítica pode ser interpretada a partir de três vertentes bibliográficas: a primeira pode ser considerada como positiva. Segundo Hilsdorf (2005), [...] destacando o jesuitismo civilizador: vai da década de 30, com a obra do padre Serafim Leite, até a de 60, englobando os que seguem esse historiador oficial da Companhia de Jesus, como Fernando de Azevedo, e os autores que se apóiam em ambos, inclusive a volumosa produção que apareceu por ocasião do IV Centenário de São Paulo nos anos 50 (HILSDORF, 2005:03). A vertente bibliográfica negativa é mais crítica, aparecendo no interior da igreja como Riolando Azzi e Eduardo Hoornaert e o antropólogo Luiz Felipe Bêta Neves. A terceira vertente é a mais equilibrada e procura ver os jesuítas como homem de seu tempo. Inicialmente vamos traçar o panorama social-histórico e político no qual emerge a educação dos jesuítas no Brasil. Como afirma Hilsdorf (2005), o mundo medieval delineia duas grandes instituições: a Igreja e o Estado unidos por interesses comuns. Segundo a autora, [...] nobreza e clero querem defender a estrutura social tripartite e hierarquizada – os que lutam, os que rezam e os que trabalham – definida pelos teólogos do século XII, e manter seus privilégios, aceitando as restrições da Igreja à acumulação de capital e à livre produção e livre contratação da força de trabalho praticadas pela burguesia (HILSDORF, 2005:03). Nesse contexto, percebemos que a educação jesuíta pode ser interpretada a partir de dois grandes objetivos: a colonização (Estado) e o missionário (Igreja). Assim, a missão jesuíta tem como projeto “manter e propagar a fé católica em uma fase em que ela é contestada pela Reforma, pelas religiões orientais e dos povos do Novo Mundo, mas também internamente” (Ibid. 04). Os jesuítas procuraram através da catequização, [...] apagar as diferenças [...] negar a alteridade, a existência do outro. Os jesuítas querem tornar o outro, o nãocristão–seja indígena, seja infiel ou herege -, em cristãos, para tornar os homens o mais possível iguais (Ibid. 04). A educação jesuíta iniciada em meados do século XVI pode ser marcada por duas fases, segundo Luís Alves de Mattos. 1– Período “heróico” (1549-70) Nesta fase, os jesuítas vivem nas aldeias com os índios, adotam seus costumes. Não reconhecem a existência de diferentes culturas indígenas e entre os brancos. 14 A catequese se fazia por contato e convencimento, através de “alianças com os chefes indígenas e a utilização de interpretes mamelucos” (Ibid. 07). Há adaptação e permeabilidade nos comportamentos de ambas as partes. No entanto, os índios são resistentes à catequização, levando os jesuítas a utilizarem novas metodologias, “passando a transformar, suprimir a cultura indígena, para depois ensinar a doutrina” (Ibid. 07). Surgem a partir daí os aldeamentos de adultos e os recolhimentos de crianças, as chamadas missões, iniciadas pelo padre Nóbrega e com o apoio da Coroa Portuguesa. Essa fase do ensino jesuíta aos índios, especificamente as “casas de meninos”, oferece atividades de aprendizado oral do português e do contar, cantar, tocar flauta e outros instrumentos musicais, catecismo e a doutrina cristã. Mais tarde, ler e escrever português e o ensino profissional artesanal e agrícola. 2– Período de Consolidação (1570-1759) Instalados nas principais vilas da colônia os colégios foram viabilizados porque, em troca dessa tarefa de educar os meninos brancos, a Coroa, já dominada pela burguesia mercantil ofereceu para o sustento da ação missionária nessas instituições, uma taxa que era arrecadada sobre 10% das dízimas que recolhia. Os estudos permitidos pelos jesuítas eram aqueles relacionados às humanidades e estavam reunidos na Ratio Studiorum (Ibid. 08). Todos os professores deveriam seguir tal plano de estudos, podendo até mesmo serem expulsos da docência caso se afastassem das orientações ali previstas. A educação promovida pelos padres jesuítas se dava de forma tradicional. O professor centralizava o processo educacional na sua pessoa, não havendo oportunidade para debates e discordâncias. Quanto à educação feminina, esta limitava-se ao aprendizado das boas maneiras e dos afazeres domésticos. Em 1759, os jesuítas são expulsos pelo Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo) e são criadas as Aulas Régias de latim, grego, retórica e filosofia. Deixam de existir dezoito estabelecimentos de ensino secundário e vinte e cinco escolas de ler e escrever. O objetivo de Pombal era substituir a escola da Companhia de Jesus porque esta servia aos interesses da fé e também era detentora de um poder econômico que deveria ser devolvido ao governo. As Aulas Régias não possuíam organização curricular, eram autônomas e isoladas; não se articulavam com outras disciplinas e não pertenciam a nenhuma escola. Os alunos matriculavam-se nas aulas que queriam, evidenciando a ausência de seqüência nos estudos. A qualidade do ensino ministrado pelas Aulas Régias ficava ainda mais comprometida devido à própria condição do pessoal docente. Professores mal pagos, vitalícios e improvisados formavam o magistério. Concluindo, o ensino brasileiro ao final do período colonial pode ser caracterizado por um retrocesso pedagógico representado pelas Aulas Régias que em nenhum momento substituiu o organizado sistema jesuítico de ensino. Exercícios de Fixação 1- Complete o quadro abaixo, representando o início da colonização do Brasil por Portugal, relacionando os fatos históricos e a educação. INÍCIO DA COLONIZAÇÃO BRASILEIRA Fatos Históricos Descobrimento do Brasil Período Heróico Vinda da Cia. de Jesus Período de Consolidação Reforma Pombalina Característica da Educação 2- Responda às questões a partir do texto de Maria Lúcia de Arruda Aranha, extraído de sua obra História da Educação, pp. 92-3. O Ensino nos Colégios Na seqüência, fazemos o resumo das práticas e conteúdos que os jesuítas desenvolveram de acordo com as regras codificadas no Ratio Studiorum. Seus cursos se agrupam em: • Studia inferiora: – Letras humanas, de grau médio, com duração de três anos e constituído por gramática, humanidades e retórica. Forma o alicerce de toda a estrutura do ensino e se baseia exclusivamente na literatura clássica greco-latina. – Filosofia e ciências (ou curso de artes), também com duração de três anos, tem por finalidade formar o filósofo e oferece as disciplinas de lógica, introdução às ciências, cosmologia, psicologia, física, metafísica e filosofia moral. • Studia superiora: – Teologia e ciências sagradas, com duração de quatro anos, coroa os estudos e visa à formação do padre. Nas classes de gramática, o latim é ensinado até o perfeito domínio da língua. Isso porque, mesmo que no dia-a-dia as pessoas fizessem uso da língua materna, ainda no Renascimento e início da Idade Moderna persistia o costume de filósofos e cientistas usarem o latim, ultrapassando as fronteiras das diversas nacionalidades e promovendo a universalização da cultura. Assim, os jesuítas tornaram obrigatório seu uso até na mais trivial conversação, de forma que os alunos pudessem assimilá-lo com a familiaridade da língua vernácula. Num colégio em Paris no século XVII, pensaríamos estar em Roma de antes de Cristo: conversação exclusiva em latim e análise de autores latinos. Os alunos estudam as principais obras greco-latinas e aperfeiçoam a capacidade de expressão e estilo, mas permanecem muitos presos aos padrões clássicos. Voltados para o melhor da formação humanística, os jesuítas tentam conciliar as obras clássicas com o espírito religioso, utilizando textos de Cícero, Sêneca, Ovídio, Virgílio, Esopo, Paluto, Píndaro e outros. Como esses autores são pagãos, procuraram adequá-los aos ideais cristãos, fazendo resumos, adaptações e até suprimindo trechos considerados "perigosos para a fé". Proíbem as obras contemporâneas, sobretudo contos e romances, por serem "instrumentos de perversão moral e dissipação intelectual". Esse programa atende ao ideal de eloqüência latina do século XVI, e segundo o jesuíta e filósofo brasileiro, padre Leonel Franca, "a gramática visa a expressão clara e correta; as humanidades, a expressão bela e elegante; a retórica, a expressão enérgica e convincente". Com a didática, os jesuítas se mostram bastantes exigentes, recomendando a repetição dos exercícios a fim de facilitar a memorização. Para praticá-la à exaustão, os mestres recebem auxílio dos melhores alunos, chamados decuriões, responsáveis por nove colegas, de quem tomam as lições de cor, recolhem os exercícios e marcam num caderno os erros e faltas diversas. Aos sábados, as classes inferiores repetem as lições da semana toda: vem daí a expressão sabatina, usada durante muito tempo para indicar formas de avaliação. Para as classes mais adiantadas, são organizados verdadeiros torneios de erudição. Outra característica do ensino jesuítico é a emulação, ou seja, o estímulo à competição entre os indivíduos e as classes. Por exemplo, os alunos recebem títulos de imperador, ditador, cônsul, tribuno, senador, cavaleiro, decurião e edil. Para incentivá-los, as classes se dividem em duas facções: os romanos e os cartagineses. Os alunos que mais se destacam são incentivados à emulação com prêmios concedidos em solenidades pomposas, para as quais são convocadas as famílias, as autoridades eclesiásticas e civis, a fim de dar-lhes brilho especial. Os melhores estudantes mostram sua produção intelectual nas academias. Montam peças de teatro, recebendo os devidos cuidados na seleção dos textos, desde simples diálogos até comédias e tragédias clássicas, sem deixar de privilegiar os dramas litúrgicos. Os jesuítas se tornam famosos pelo empenho em institucionalizar o colégio como local por excelência da formação religiosa, intelectual e moral das crianças e jovens. A fim de atingir esses objetivos instauram rígida disciplina, aplicada nos novos internatos criados para garantir proteção e vigilância. Além de controlar a admissão dos alunos, concedem férias bem curtas para evitar que o contato com a família afrouxasse os hábitos morais adquiridos. 15 16 Mesmo quando se trata de externato, o olhar dos mestres segue os alunos, exigindo o afastamento da vida mundana e recriminando as famílias que não assumem o encargo dessa vigilância. A obediência é considerada virtude não só de alunos, como também de padres, submetidos a rígida disciplina de trabalho, sem inovações personalistas. Talvez, devido à tão rigorosa organização, as sanções não se tornassem muito constantes, mas aplicadas sempre que necessário, cabendo ao mestre castigar apenas com palavras e admoestações. Quando não bastarem, ou a falta for muito grave, as punições físicas ficam a cargo de um corretor, pessoa alheia aos quadros da Companhia e contratada só para esse serviço. Para contrabalançar a disciplina, os jesuítas estimulavam as atividades recreativas, por proporcionarem ambiente mais alegre e vida mais saudável. Exercícios de Fixação a) Quais as características do ensino jesuíta? b) Como eram os incentivos dos mestres jesuítas aos melhores alunos? c) O que é o Ratio Studiorum? d) Quais são as bases do ensino jesuíta? Leitura Complementar 1- Analise o texto de Gilberto Freyre que se encontra na obra de ARANHA, M. L. de Arruda. História da educação. São Paulo: Moderna, 2002, pp. 102-3. A Educação Dos Culimins Um outro traço simpático, nas primeiras relações dos jesuítas com os culumins, para que aprecie a obra missionária, não com olhos devotos de apologeta ou sectário da Companhia, mas sob o ponto de vista brasileiro da confraternização das raças: a igualdade em que parece terem eles educado, nos seus colégios dos séculos XVI e XVII, índios e filhos de portugueses, europeus e mestiços, caboclos arrancados às tabas e meninos órfãos vindos de Lisboa. As crônicas não indicam nenhuma discriminação ou segregação inspirada por preconceito de cor ou de raça contra os índios; o regime que os padres adotaram parece ter sido o de fraternal mistura dos alunos. O colégio estabelecido por Nóbrega na Bahia dá Varnhagen como freqüentado por filhos de colonos, meninos órfãos vindos de Lisboa e píás da terra. Terá sido assim a vida nos colégios dos padres um processo de co-educação das duas raças - a conquistadora e a conquistada: um processo cultural entre os filhos da terra e meninos do reino. Terão sido os pátios de tais colégios um ponto de encontro e de amalgamamento de tradições indígenas com as européias; de intercâmbio de brinquedos; de formação de palavras, jogos e superstições mestiças. O bodoque de caçar passarinho, dos meninos índios, o papagaio de papel, dos portugueses, a bola de borracha, as danças etc. terão aí se encontrado, misturando-se. A carrapeta – forma brasileira de pião – deve ter resultado desse intercâmbio infantil. Também a gaita de canudo de mamão e talvez certos brinquedos com quenga de coco e castanha de caju. É pena que posteriormente, ou por deliberada orientação missionária, ou sob a pressão irresistível das circunstâncias, os padres tivessem adotado o processo de rigorosa agregação dos indígenas em aldeias ou missões. Justificam-no os apologetas: a segregação teria visado unicamente subtrair os indígenas "à ação desmoralizadora dos relaxados cristãos". Mas na verdade é que, segregando os missionários aos catecúmenos da vida social, o que sucedeu foi se artificializarem estes numa população à parte da colonial; estranha às suas necessidades, aos seus interesses e aspirações; paralisada em crianças grandes; homens e mulheres incapazes de vida autônoma e de desenvolvimento normal. E nem sempre conservaram-se os padres da S. J., transformados em donos de homens, fiéis aos ideais dos primeiros missionários; muitos resvalaram para o mercantilismo, em que os viria surpreender a violência do Marquês de Pombal. FREYRE Gilberto, Casa-Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003, pp. 212-213. Responda às seguintes questões: 17 a) Qual é a idéia central proposta? b) Confirme o teor do texto com a referida predominância de uma "língua geral" no início da colonização. 3- Leia os versos de Oswald de Andrade que se encontram na obra de ARANHA, M. L. de Arruda. História da educação. São Paulo: Moderna, 2002, p. 98; e responda a seguir: Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio teria despido O português. Oswald de Andrade a) Que crítica está sendo feita à interferência do colonizador (e dos catequistas) na cultura indígena? b) Em que sentido podemos considerar que a ação missionária, mesmo bem intencionada, constituiu uma forma de violência? 1.2 - O Período Imperial e a Educação No item 1.1, você pôde conhecer e analisar a educação no Brasil, constituída inicialmente pelos padres jesuítas. Observou também as conseqüências da expulsão dos mesmos e a instalação das Aulas Régias. Neste segundo item, você estudará a situação da educação com a chegada da Família Real e também após a independência do Brasil, do domínio português. Esta unidade fornecer-lhe-á conhecimentos fundamentos para a compreensão do modelo educacional elitista, instaurado no país desde os tempos coloniais. os e enorme contingente de escravos; • Segunda metade do século, queda da produção de açúcar e algodão e a expansão do cultivo do café; • Trabalho assalariado dos imigrantes; • Atuação do Barão de Mauá - produção de navios a vapor, construção de estradas de ferro e instalação de bancos e telégrafos; • Término da Guerra do Paraguai, 1870; • Abolição da escravatura em 1888; Para tanto, oferecemos para sua compreensão o contexto social-histórico que marcaram esse período: • Vinda da família real portuguesa para a colônia, sob a proteção da Inglaterra (1808); • Abertura dos portos; • Instalação da imprensa, museu, biblioteca e academias; • Alta taxação de impostos e as idéias iluministas contra o absolutismo real; • Estrutura social continua: grandes proprietários rurais, segmentos dos homens livres não proprietári- • Proclamação da República, 1889. Extraído da obra de ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo: Moderna, 2002, p. 151. Com a vinda da Família Real para o Brasil, apenas o ensino superior é impulsionado. Dom João cria diferentes cursos com a finalidade de viabilizar a vida dos nobres instalados na nova terra: - No Rio de Janeiro: Academia Militar de Marinha (1808), cursos de Anatomia e Cirurgia (1808), Academia Real Militar (1810), Laboratório de Química (1812), curso de Agricultura (1814), Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (1816); 18 - Na Bahia: curso de Cirurgia (1808), cadeira de Economia (1808), curso de Agricultura (1812), curso de Química (1817), curso de Desenho Técnico (1817). Inicialmente destinada apenas aos rapazes, somente 30 anos após sua criação, a escola normal de São Paulo é oferecida para o segmento feminino. A partir do que foi exposto acima, podemos dizer que não houve interesse na criação de uma universidade. O ensino superior no Brasil desde o seu princípio se constituiu de cursos e escolas isoladas. Quanto ao ensino secundário e elementar, são deixados ao encargo das províncias. Algumas razões pelas quais este nível de ensino mostra-se pouco difundido são os orçamentos escassos das províncias, a proibição da freqüência dos escravos à escola e a falta de exigência do curso primário para o ingresso no secundário. As medidas reforçam o caráter elitista e aristocrático da educação brasileira, a que têm acesso os nobres, os proprietários de terras e uma camada intermediária, surgida da ampliação dos quadros administrativos e burocráticos (ARANHA, 2002:153). Os ensinos secundário e primário carecem de articulações, prejudicando o sistema educacional. Os currículos dos diversos níveis não se relacionam entre si, criando disciplinas dissociadas e privilegiando um ensino propeudêutico, preparatório para a faculdade. Segundo Aranha (2002:154) "o ensino secundário é predominantemente ministrado por professores particulares, em aulas avulsas, sem fiscalização ou unidade". Em 1837 é fundado, no Rio de Janeiro, o Colégio D. Pedro II, ficando sob a jurisdição da Coroa, "sendo o único autorizado a realizar exames parcelados para conferir grau de bacharel, indispensável para o acesso aos cursos superiores" (Ibid. 154). Entre 1860 a 1890 surgem os colégios católicos pela iniciativa particular, difundindo as idéias liberais. Surgem também as escolas protestantes, trazendo os ideários da educação americana como o Colégio Mackenzie (SP-1870) e o Colégio Americano de Porto Alegre (1885) entre outros. Além disso, era tradição das elites o aprendizado das primeiras letras no interior da própria casa, incluindo a figura do preceptor. Entre as poucas iniciativas do governo referentes ao ensino primário, podemos lembrar da criação de uma escola no Rio de Janeiro que deveria utilizar o método Lancaster, ou seja, o ensino mútuo ou monitorial. O objetivo da introdução deste método seria atenuar a falta de professores. O método Lancaster previa a figura de monitores, responsáveis por dez alunos cada. Um professor por escola orientaria o trabalho dos alunos monitores. A disciplina seria obtida através da ação repressora dos inspetores e também através de prêmios e castigos. Além disso, a inclusão na Constituição de 1824 de um artigo onde a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos não garante de fato que a população se beneficie deste grau de ensino. O ensino técnico-profissional e o ensino normal também foram relegados à segundo plano. Os concluintes destas modalidades de ensino não podiam ingressar nos cursos superiores; somente os concluintes do ensino secundário possuíam tal direito. O ensino elementar não é prioridade, visto que a grande população rural analfabeta é composta, sobretudo, por escravos. As primeiras escolas normais surgem na década de 1830, nas províncias da Bahia e do Rio de Janeiro. Essas escolas apresentavam inúmeras dificuldades, pois eram noturnas, faltavam professores qualificados e não existia a prática de ensino. Os estudos podiam ser parcelados, porém a ordem das séries deveria ser respeitada. O ensino elementar, como já afirmado anteriormente, é desarticulado com o ensino secundário. Isso implica a não exigência do cumprimento dessa escolaridade para a ascensão ao ensino secundário. Antes da criação das escolas normais os professores eram selecionados tendo em vista três critérios: maioridade, moralidade e capacidade. Algumas vezes, os professores eram submetidos a concursos. Para mudar o quadro da educação, são fundadas as primeiras escolas normais em Niterói (1835), Bahia (1836), Ceará (1845) e São Paulo (1846). O ensino é precário, distanciado das questões teóricas e oferecido apenas em dois anos. Quanto ao ensino secundário, a partir da vigência do Ato Adicional de 1834, observou-se a existência de dois sistemas de ensino. Um sistema regular e seriado obtido no Colégio de Pedro II (esse mesmo que ainda hoje existe!) e um sistema irregular, propiciado pelos Apesar de toda uma influência religiosa, percebemos algumas iniciativas de inspiração positivista, criadas geralmente por médicos e engenheiros. cursos preparatórios e exames parcelados de ingresso ao ensino superior. Este último sistema era a forma mais rápida de acesso ao grau superior. O sistema do Colégio de Pedro II deveria ser o modelo para os outros estabelecimentos, porém isto não aconteceu. E os conteúdos de ensino? Os conteúdos deste nível de ensino enfatizavam as Humanidades e consistiam no ensino de latim, retórica, filosofia, geometria, francês e comércio. A tônica do ensino secundário era o ingresso no curso superior, ou seja, possuía fim eminentemente propedêutico. O Ato Adicional de 1834 instituiu uma divisão das competências educacionais muito parecida com a de hoje, pois o poder central cuidava especialmente do ensino superior e as províncias deveriam se responsabilizar pelo ensino primário e secundário. Um sistema de ensino integrado ainda estava muito longe de ser alcançado. Em relação ao acesso à escola, apenas 15% da população em idade escolar estavam inscritas. Podemos, assim, concluir que a vinda da Família Real e a independência significaram a perpetuação de um modelo educacional preocupado especialmente com a formação das elites dirigentes. Exercícios de Fixação 1- Faça uma síntese do item 1.2 e o relacione com o item 1.1. 2- Faça a leitura do texto de Raul Pompéia, O Ateneu. O Ateneu Durante o tempo da visita, não falou Aristarco senão das suas lutas, suores que lhe custava a mocidade e que não eram justamente apreciados. 'Um trabalho insano! Moderar, animar, corrigir esta massa de caracteres, onde começa a ferver o fermento das inclinações; encontrar e encaminhar a natureza na época dos violentos ímpetos; amordaçar excessivos ardores; retemperar o ânimo dos que se dão por vencidos precocemente; espreitar, adivinhar os temperamentos; prevenir a corrupção; desiludir as aparências sedutoras do mal; aproveitar os alvoroços do sangue para os nobres ensinamentos; prevenir a depravação dos inocentes; espiar os sítios obscuros; fiscalizar as amizades, desconfiar das hipocrisias; ser amoroso, ser violento, ser firme; triunfar dos sentimentos de compaixão para ser correto; proceder com segurança, para depois duvidar; punir para pedir perdão depois... Um labor ingrato, titânico, que extenua a alma, que nos deixa acabrunhados ao anoitecer de hoje, para recomeçar com o dia de amanhã ... Ah! Meus amigos, concluiu ofegante, não é o espírito que me custa, não é o estudo dos rapazes a minha preocupação... é o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a imortalidade!" Aristarco tinha para esta palavra uma entonação especial, comprimida e terrível, que nunca mais esquece quem a ouviu dos seus lábios. "A imortalidade!" E recusava tragicamente, crispando as mãos. "Ah! Mas eu sou tremendo quando esta desgraça nos escandaliza. Não! Estejam tranqüilos os pais! No Ateneu, a imoralidade não existe! Veio pela candura das crianças, como se fossem, não digo meus filhos: minhas próprias filhas! O Ateneu é um colégio moralizado! E eu aviso muito tempo... Eu tenho um código..." Neste ponto o diretor levantou-se de salto e mostrou um grande quadro à parede. "Aqui está o nosso código. Leiam! Todas as culpas são prevenidas, uma pena para cada hipótese: o caso da imoralidade não está lá. O parricídio não figurava na lei grega. Aqui não está a imoralidade. Se a desgraça ocorre, a justiça é o meu terror e a lei é o meu arbítrio! Briguem depois os senhores pais!...". Afianço-lhes que o meu tremeu por mim. Eu, encolhido, fazia em superlativo a metáfora sabida das varas verdes. Notando a minha perturbação, o diretor desvaneceu-se em afagos. "Mas para os rapazes dignos eu sou um pai!... Os maus eu conheço: não são as crianças, principalmente como você, o prazer da família, e que há de ser, estou certo, uma das glórias do Ateneu. Deixem estar ..." Eu tomei a sério a profecia e fiquei mais calmo. POMPÉIA Raul, O Ateneu, São Paulo: Moderna, 1984, pp. 27-29. 19 20 a) Faça uma análise sobre o rigor da disciplina nos internatos do século XIX? b) Compare esse rigor com o eventualmente existente nas escolas européias no mesmo período. c) Releia o conteúdo apresentado na unidade e estabeleça relações com O Ateneu. Tarefas de Recuperação a) Releia a unidade. b) Elabore esquemas dos dois itens que constituem a unidade. Atividade Complementar Assista ao filme Sociedade dos Poetas Mortos e procure identificar pontos semelhantes com a educação do período imperial que possam ainda ser encontrados. UNIDADE II 21 A EDUCAÇÃO NO PERÍODO REPUBLICANO Iniciaremos a unidade expondo o cenário sócio-histórico desse período nas palavras de Hilsdorf (2005). As transformações que ocorrem no período de 18701920 acabam por marcar significativamente o contexto educacional do Brasil. São eles: • "A remodelagem das relações de trabalho do regime escravo para o do trabalho livre e assalariado, defendida e praticada pelos cafeicultores-empresários do centro-oeste paulista. Praticando o imigrantismo, eles fazem de São Paulo o novo pólo econômico da Nação" (p.57); • "O crescimento dos setores de prestação de serviços e da pequena indústria (têxtil, por exemplo), associada ao início da urbanização, ao crescimento das camadas médias e ao aparecimento de um proletariado urbano formado pelos imigrantes que, chegados ao país, abandonam o trabalho na zona rural e passam ás cidades [...]" (p.57-8); • "A presença forte do capital estrangeiro: no início, capitais ingleses e, depois, norte-americanos, o que ajuda a entender a 'aproximação' a Washington nos campos da política e da cultura que ocorre no período [...]" (p.58); • "A intensa circulação de novas tendências de pensamento. Uma delas é o positivismo, que teve ampla aceitação na sociedade brasileira, não apenas pelo seu cientificismo, isto é, enquanto proposta de cultivo das ciências modernas como base do progresso, como ainda pela sua ética cívica de respeito à lei e ao princípio do bem comum. Outra é o industrialismo cosmopolita, do qual são exemplares as ações de Rui Barbosa no Ministério da Fazenda e a de Benjamin Constant no Ministério da Educação, os quais, já nos anos 189091, promoveram iniciativas econômicas e educacionais de interesse dos industriais, desviando a ênfase na agricultura [...]" (p.58); • “O fim da monarquia, cuja causa pode ser relacionada às disputas pelo poder político entre segmentos das classes dirigentes, com os militares compondo-se com os cafeicultores organizados nos Partidos Republicanos provinciais e com uma pequena parcela de representantes das camadas médias urbanas.[...]" (p.59). É neste cenário que irão ocorrer profundas mudanças no campo educacional do Brasil e que repercutem até os nossos dias. 2.1 - A Educação na Primeira República A primeira unidade tratou da situação da educação em nosso país até o momento da sua independência política. Vimos as inúmeras dificuldades enfrentadas principalmente pelo ensino primário, o técnico-profissional e o ensino normal. Nesta nova unidade, poderemos perceber maior movimentação em termos de idéias no campo educacional. Estas idéias, por exemplo, o direito de todos à educação, a gratuidade e obrigatoriedade do ensino de primeiro grau e a liberdade de ensino, ainda hoje são discutidas e vistas como ideais a serem alcançados. No entanto, parece-nos que teremos um longo caminho a ser percorrido até que esses ideais sejam garantidos à maioria da população brasileira. Neste período, surgem dois importantes movimentos de educação: o entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico. O primeiro movimento divulgava a idéia de que os problemas do país poderiam ser resolvidos por meio da extensão da escola elementar a todos. Já o segundo movimento, preconizava a questão da qualidade do ensino, ou seja, não bastava apenas garantir matrículas para o povo, era preciso cuidar também da qualidade do ensino oferecido. O período republicano marca a presença da preocupação, tanto de intelectuais quanto de políticos, com as taxas elevadas de analfabetismo. Segundo Ghiraldelli (2000), no ano de 1920, 75% da população eram analfabeta. A classe política possuía um grande interesse ao combater o analfabetismo, visto que os analfabetos não podiam votar. Em termos pedagógicos, três correntes representam os diferentes setores da sociedade da época: a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária. 22 Como você sabe, a Pedagogia Tradicional estava ligada às oligarquias dirigentes e à Igreja. A disciplina rígida, o cultivo da atenção e a emulação, ou seja, a competição, individual ou coletiva, entre outros, caracterizavam esta corrente, que sofreu importante influência da pedagogia dos jesuítas. No entanto, a Pedagogia Tradicional brasileira foi também influenciada pelas teorias pedagógicas modernas americanas e alemãs, fundamentadas no pensamento do filósofo alemão Johann Friedrich Herbart. Baseado nos conhecimentos da Psicologia, Herbart formulou cinco passos formais para o ensino: preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação. Esses passos organizavam o método expositivo de aulas, tão conhecido e utilizado ainda hoje. Mas, como dissemos anteriormente, outras correntes pedagógicas disputavam entre si a hegemonia na sociedade. Falta ainda comentar sobre a terceira corrente, ou seja, a Pedagogia Nova. A Pedagogia Nova, baseada nos estudos de John Dewey, enfatizou os métodos ativos de ensino-aprendizagem, a liberdade e interesse das crianças, o trabalho em equipe e a prática dos trabalhos manuais. O centro do processo ensino-aprendizagem passava a ser o aluno e não mais o professor, como na Pedagogia Tradicional. No Brasil, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho etc. representavam o ideal escolanovista. Como afirmamos, o período republicano mostra-se muito rico em idéias pedagógicas, mas como estaria a sua rede escolar de fato? Ghiraldelli (2000) nos mostra que a rede de escolas públicas era constituída por poucas instituições e que estas voltavam-se para o atendimento das classes privilegiadas economicamente. Apesar do apareci-mento de tantas idéias no campo educacional, a realidade demonstrava um sistema de ensino pouco democrático que relegava o ensino primário a segundo plano. Entre o início do século e os anos 20, a Pedagogia Libertária entra em cena, criticando a sociedade capitalista, o Estado, a Igreja e a pedagogia oficial. Sua proposta de sociedade fundava-se nos ideais anarquistas - comunistas. Quais diretrizes propunham para a educação? As elites não só enviavam seus filhos aos colégios particulares como também se utilizavam do Estado para criar uma rede de ensino público para o atendimento de seus filhos. Assim, todas as reformas da legislação do ensino provindas do governo federal priorizavam suas atenções para o ensino secundário e superior (GHIRALDELLI, 2000: 27). A Pedagogia Libertária baseava-se em: educação de base científica; dicotomia entre educação e instrução; educação moral mais prática; adaptação do ensino ao nível psicológico das crianças; co-educação; criatividade; livre expressão; contato com a natureza; produção de textos críticos etc. Concluindo, podemos afirmar que apesar da riqueza das idéias educacionais discutidas na Primeira República, o sistema educacional, na prática, pouco avançou. O ensino primário, não contribuiu para o decréscimo das elevadas taxas de analfabetismo e os outros graus de ensino continuaram a atender, como antes, a elite dominante. Exercícios de Fixação 1- Responda às questões abaixo: a) Ghiraldelli (2000: 15) afirma que: "A evolução das idéias pedagógicas na Primeira República (1889 1930) pode ser representada pela conjunção de dois movimentos ideológicos desenvolvidos pelos intelectuais das classes dominantes do país". A que movimentos o autor se refere? Caracterize-os, comentando criticamente. b) "Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um surto de nacionalismo e patriotismo conquistou boa parcela dos intelectuais para a questão do desenvolvimento do país e, principalmente, para a problemática da educação popular. Além disso, o final dos anos 10 registrou um relativo crescimento industrial e um novo patamar de urbanização da sociedade brasileira. Isso significou novas pressões em favor da escolarização" (Ghiraldelli , 2000:17). Que situação desencadeou esse surto? 2 - Faça uma análise das três correntes pedagógicas que formaram o cenário das lutas político-pedagógicas da Primeira República. 3 - Como se caracterizava a organização escolar do período estudado? 2.2 - A Educação na Segunda República A lição anterior mostrou claramente que, embora existissem muitas idéias novas a respeito da educação, a realidade pouco se transformou na Primeira República. Os índices de analfabetismo eram alarmantes e o ensino primário não se constituía em prioridade. Dando seqüência à História do Brasil, nesta lição você conhecerá as propostas de educação do primeiro governo de Vargas e o modelo educacional instituído pela Constituição de 1934. Outro fato a ser destacado refere-se à publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Este documento demarca a necessidade que os educadores da época sentiam em renovar a educação nacional. Assim como na Primeira República, as forças sociais da Segunda República se identificaram com determinadas correntes pedagógicas. O objetivo de Vargas se deu no sentido de conquistar esses vários setores sociais, em especial, as facções conservadoras e os grupos ligados às vanguardas dos educadores brasileiros. Neste sentido, o Ministro da Educação de Vargas, Francisco Campos, é nomeado, por transitar muito bem entre liberais e conservadores. A reforma promovida por Campos é imposta a todo território nacional. No entanto, não soluciona as mazelas do ensino popular e nem se preocupa com a expansão e melhoria do curso primário. A instalação da Assembléia Nacional Constituinte e a conseqüente Constituição de 1934 refletem o debate das forças sociais em questão. Tal constituição, apesar de ser a mais progressista em matéria de educação, pois não é omissa em relação a este tema, opta por uma solução de conciliação quando o assunto se mostra polêmico. Um exemplo disso refere-se ao projeto de laicidade do ensino que é substituído pela inserção do ensino religioso na escola. Quanto ao progressismo da Carta, podemos lembrar o artigo que torna o ensino primário obrigatório e gratuito e, ainda, a fixação dos recursos orçamentários destinados à educação de 10% para a União e 20% para os estados. Sem dúvida, a Segunda República apresenta avanços reais em termos educacionais. Neste período começam a ser criadas e a funcionar, de fato, as universidades no Brasil. A Universidade de São Paulo, criada em 1934, passa a ser a primeira universidade a funcionar, pois a Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920, não passava de uma junção de escolas isoladas de Medicina, Direito e Engenharia sem maior integração. Aliás, a Universidade do Rio de Janeiro foi criada devido a necessidade em outorgar o título de Doutor Honoris Causa ao Rei Alberto I, da Bélgica, ao visitar oficialmente o Brasil. O ensino secundário passa a ter como objetivo a formação geral, junto ao preparo para o ensino superior. Sua duração de sete anos é dividida em: fundamental e complementar. Este último oferecia três modalidades que atendiam aos candidatos aos estudos jurídicos, aos estudos médicos e farmacêuticos e também àqueles que se destinassem aos cursos de Engenharia e Arquitetura. O ensino primário e o normal só seriam regulamentados na próxima década. Como foi dito anteriormente, esta lição trataria também de um importante manifesto: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. O Manifesto dos Pioneiros foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado por mais de vinte e cinco educadores. Esses educadores propunham o ensino público, obrigatório, gratuito e laico (não religioso). Além disso, os currículos deveriam se adaptar aos interesses dos alunos e os professores deveriam utilizar uma metodologia ativa, privilegiando a descoberta dos conhecimentos. Tão importante quanto os princípios acima descritos, o documento faz uma proposta bastante ousada para época que, ainda hoje, não se alcançou: formação universitária para os professores, independentemente do grau em que lecionar. Porém, o clima de amplo debate educacional não resistiu ao golpe de 1937, que tinha como pretexto o combate ao comunismo e a manutenção da unidade e segurança nacional. 23 24 Sendo assim, será no período chamado de Estado Novo que o ensino primário e o ensino normal serão reorganizados. Portanto, perdendo a possibilidade de uma legislação mais democrática. 1930 - Cria-se o Ministério da Educação e Saúde que reconhece ser necessário enfrentar o problema educacional como uma questão nacional. Ocorre maior atenção à educação brasileira; 1931- Ocorrem as reformas de Francisco Campos, então Ministro da Educação e Saúde (31/32), com a primeira organização à nível nacional. A reforma fpi primeiramente implantada em Minas Gerais; 1932- O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, encabeçado por Fernando de Azevedo e mais vinte e nove educadores, é dirigido ao povo e ao governo, apontando a direção da construção de um sistema nacional de educação. O documento considera dever do Estado tornar a educação obrigatória, pública, gratuita e leiga; critica o sistema dual e reivindica uma escola básica única. Ele representa a tomada de consciência da defasagem entre a educação e as exigências do desenvolvimento; 1934- A nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos; 1934- Por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931; 1934- A Constituição coloca a exigência de fixação das diretrizes da educação nacional e a elaboração de um plano nacional de educação; 1935- O Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação. 1937- São diplomados, no Brasil, os primeiros professores licenciados para o ensino secundário; 1937- Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição. A orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido, a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional. Em síntese, podemos confirmar a importância que os debates educacionais, promovidos por intelectuais no período estudado, tiveram para a transformação da situação educacional, embora o ensino primário básico ainda ficasse no esquecimento, sendo reformado apenas no período ditatorial de Vargas. Exercícios de Fixação 4 - Responda às questões: a) Quais as principais idéias contidas no Manifesto dos Pioneiros da Educação? b) O que significava o sistema dual de ensino? Tarefas de Recuperação Leia o trecho extraído do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e responda às questões abaixo: A educação superior ou universitária, a partir dos 18 anos, inteiramente gratuita, como as demais, deve tender, de fato, não somente à formação profissional e técnica, no seu máximo desenvolvimento, como à formação de pesquisadores, em todos os ramos de conhecimentos humanos. Ela deve ser organizada de maneira que possa desempenhar a tríplice função que lhe cabe de elaboração ou criadora de ciência (investigação), docente ou transmissora de conhecimentos (ciência feita) e vulgarizadora ou popularizadora, pelas instituições de extensão universitária, das ciências e das artes. a) Qual a crítica feita pelo manifesto à educação superior? b) Explique de que forma estas idéias reaparecem na implantação da reforma da universidade ainda na década de 30. Leituras Complementares ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2002. Capítulo 12: Brasil no século XX: o desafio da educação (Contexto histórico e Pedagogia e Educação Primeira República). GHIRALDELLI JR., Paulo. História da educação. 2 ed. rev. São Paulo: Cortez, 2000. Capítulo 2: A Segunda República. HILSDORF, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação Brasileira: leituras. São Paulo: Pioneira Thomson Lerning, 2005. Capítulo 6: As Outras Escolas da Primeira República. 25 26 UNIDADE III EST ADO NO V O X REDEMOCRA TIZAÇÃO NA ESTADO NOV REDEMOCRATIZAÇÃO EDUCAÇÃO Na segunda unidade, pudemos perceber um rico clima de idéias pedagógicas. Entretanto, essas idéias não estarão em evidência a partir de 1937, quando vigora o Estado Novo. O Estado Novo é instituído a pretexto de combater as idéias comunistas. Na verdade, fora criado com a finalidade de perpetuar Getúlio Vargas no poder, suspendendo, assim, as eleições presidenciais que aconteceriam em janeiro de 1938. Até mesmo um falso plano (Plano Cohen) foi elaborado para justificar a atitude anti-democrática de Vargas. O Plano Cohen foi elaborado prevendo a instalação de um governo comunista e o assassinato de vários políticos brasileiros. Com isso, Getúlio Vargas decreta estado de guerra, podendo, então, centralizar o poder em suas mãos. Segundo Hilsdorf (2005: 99), "para construir a imagem do regime como novo, isto é, moderno e nacional, Getúlio Vargas manteve uma linha de atuação marcadamente autoritária, centralista e intervencionista [...]". O Estado Novo também procurava orientar a mentalidade da sociedade para instruir a moderna nação brasileira. Assim, a educação escolar procura promover os valores, como patriotismo, mulher-mãe, trabalhador-herói, nação eugênica; valores esses atribuídos à família, à religião, à pátria e ao trabalho. Para Hilsdorf (2005: 99), a questão que se coloca é que, servindo à nação, a educação servia ao Estado, instituidor da nação. Assim, as linhas ideológicas que definem a política educacional do período vão se orientando pelas matrizes instituintes do Estado Novo: centralização, autoritarismo, nacionalização e modernização. Com o advento do Estado Novo e a imposição da Constituição de 1937, você poderá perceber que o governo deixa de se comprometer com a educação pública assumindo, assim, papel suplementar. Tanto é assim que a Carta Magna de 1937, só garante ensino público para aqueles que demonstrassem falta ou insuficiência de recursos. Essa situação permanece até 1945. A partir daí, o país vive quase duas décadas de regime democrático. 3.1 - Estado Novo e Educação Para a educação, o Estado Novo significou um retrocesso. O direito de todos à educação passa a ser pouco explícito. Somente aqueles alunos que não possuíssem recursos para custear sua educação em instituições particulares teriam direito ao ensino em instituições públicas. Logo, podemos observar que a ênfase estava situada nas escolas particulares, o Estado eximia-se das responsabilidades quanto à educação do povo. de de ensino passa a ser destinado às classes menos favorecidas e a ser o primeiro dever do Estado. Sendo assim, o sistema dual e elitista de educação é consagrado pela Constituição. Outro aspecto a ser ressaltado, e que confirma a idéia contida no parágrafo acima, refere-se ao estabelecimento de uma contribuição – a caixa escolar – por parte daqueles que não pudessem alegar falta de recursos. Contraditoriamente, a Constituição afirma ser o ensino primário obrigatório e gratuito. O governo do Estado Novo dá continuidade às reformas da legislação educacional iniciadas com a Revolução de 1930. O ensino secundário sofre uma nova reforma e acontece a regulamentação dos diversos ramos do ensino técnico-profissional: industrial, comercial e agrícola. O ensino primário, o ensino normal e o agrícola só foram regulamentados após a queda de Getúlio. No entanto, os decretos-leis referentes a esses cursos foram elaborados no decorrer do Estado Novo, não fugindo ao espírito do modelo anti-democrático, característico do período. No entanto, o artigo mais polêmico da Constituição de 1937 refere-se ao ensino vocacional. Tal modalida- Quanto ao ensino técnico-profissional, é criado, em 1942, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), mantido pela Confederação Nacional das Indústrias.O SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) surge em 1946. Como eram mais rápidos na formação de mão-de-obra, multiplicaram-se após o término do Estado Novo. Como já afirmamos, o ensino primário e o ensino normal foram regulamentados em 1946. Em relação ao primário, trata-se da primeira regulamentação de caráter nacional, após a lei de 1827. Ou seja, a educação do povo nunca foi considerada prioridade em nosso país. Mas o que será que aconteceu com os ideais progressistas dos escolanovistas, que foram tão debatidos no período anterior ao Estado Novo? Ghiraldelli (2000), nos dá a resposta, afirmando que a política educacional do Estado Novo provocou divisões no grupo dos educadores escolanovistas: Os liberais igualitaristas, que tinham seu expoente máximo em Anísio Teixeira, se afastaram de compromissos ideológicos com o governo. Os liberais elitistas se dividiram; alguns, como Fernando de Azevedo, mantiveram uma certa distância da ditadura, outros, como Lourenço Filho, endossaram o novo regime e participaram dele (GHIRALDELLI, 2000: 42). Como ficou, então, o ensino primário? O ensino primário ficou dividido em curso primário fundamental (para crianças de 7 a 12 anos) e curso primário supletivo (destinado a jovens e adultos). Podemos ainda lembrar que o ensino primário fundamental dividia-se em dois cursos: primário elementar (quatro anos de duração) e primário complementar (um ano de duração). Sendo assim, podemos afirmar que, oficialmente, desde o ensino primário, já se fazia uma divisão discriminatória dos indivíduos e os postos sociais. Apesar disso, a corrente pedagógica denominada de Escola Nova foi a que mais cresceu no período. Podemos oferecer um panorama da educação brasileira na década de 30: Em síntese, o espírito centralizador da política educacional do Estado Novo representou um retrocesso em relação às conquistas adquiridas com a Carta de 1934. Nem mesmo os educadores progressistas fizeram algo para barrar tais acontecimentos, pois muitos foram cooptados pela política de Vargas. Exercícios de Fixação 1) Responda às questões abaixo: a) Quais as diferenças entre as Constituições de 1934 e a de 1937 no que se refere à educação? b) O que foram as Leis Orgânicas do Ensino? Caracterize-as. c) O que era o dualismo educacional da época? d) Por que o Decreto-Lei de 1946, que reformou o ensino primário, não cumpriu rigorosamente o espírito da Carta de 37? 2) Comente a respeito do sistema de ensino profissionalizante, paralelo à rede pública. 3) Explique: "O caminho escolar das classes populares, caso escapassem da evasão, ia do primário aos diversos cursos profissionalizantes. Cada curso profissionalizante só dava acesso ao curso superior da mesma área" (GHIRALDELLI, 2000: 84). 27 28 3.2 - Redemocratização na Educação: a Quarta República A lição anterior possibilitou-nos avaliar a política educacional implementada no Estado Novo. Nesta lição, você perceberá que, com o fim do período ditatorial de Vargas, o país viverá quase duas décadas de regime democrático. Os currículos, constituídos por disciplinas obrigatórias, passam a admitir certa variedade, segundo as regiões e os estabelecimentos de ensino . Neste período, equivalente à Quarta República, alguns fatos devem ser destacados: a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e os movimentos de educação popular. Como afirmamos anteriormente, a Quarta República comporta um período democrático, abrigando, assim, inúmeros movimentos de educação popular, tais como: a Campanha de Educação de Adultos, o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Programa Nacional de Alfabetização. Entre os movimentos acima mencionados, citamos o Programa Nacional de Alfabetização, onde se desenvolveu o Método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos. O Programa Nacional de Alfabetização, apesar da sua curta duração obteve sucesso, graças à utilização do Método de Paulo Freire. A Constituição de 1946 traz de volta o regime democrático ao país. No capítulo referente à educação, princípios que antes pertenciam à Constituição de 1934 passam agora a ser novamente lei. O Método Paulo Freire preconizava a alfabetização de adultos a partir das situações do cotidiano dos educandos. Utilizando palavras-geradoras, retiradas deste cotidiano, a equipe de Paulo Freire propunha o debate crítico das situações sugeridas. O método visava a conscientização dos educandos, a partir do diálogo estabelecido entre educando e educador. Todo saber era valorizado. Para Paulo Freire, não é possível que haja um ser completamente ignorante. Todas as pessoas têm sempre algo para ensinar e para aprender. São exemplos dessa afirmação: o direito de todos à educação, ao ensino primário obrigatório e gratuito na rede oficial e à assistência aos estudantes. Apesar dessas mudanças, a legislação educacional anterior vigora até 1961, quando é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A LDBEN/61 apresenta avanços, pois pela primeira vez temos uma lei que se preocupa com todos os níveis escolares, embora tenha ficado no Congresso Nacional por treze anos, tempo suficiente para grandes transformações das necessidades educacionais. Além disso, o ensino técnico-profissional consegue sua equivalência legal ao secundário. Vale lembrar que antes de 1961, os estudantes desta modalidade de ensino não podiam prestar exames vestibulares. Dois grandes debates agitam a nova lei: monopólio do Estado quanto à educação X iniciativa privada e ensino religioso obrigatório X ensino laico. Novamente, a solução a que se chega é conciliatória; a educação será oferecida nas escolas públicas e também será livre à iniciativa privada, fiscalizada pelos órgãos governamentais. O ensino religioso será obrigatório para a escola e facultativo para os alunos. A estrutura do sistema escolar brasileiro sofre modificações. Passa a se constituir de educação préprimária, ensino primário, ensino médio (ginasial e colegial) e ensino superior. Paulo Freire condenava o que denominou de educação bancária, ou seja, aquela educação onde o professor trata os seus alunos de forma a depositar conhecimentos em suas mentes. O modelo de educação proposto seria a educação libertadora, onde os alunos seriam tão importantes e participantes quanto o professor. O papel do professor, então, era entendido como o de orientador dos debates e estudos. Como o Método Paulo Freire de Alfabetização mostrava-se muito revolucionário, a partir do advento da Ditadura Militar, foi violentamente suprimido. Paulo Freire chega a ser preso e acaba indo para o exílio. O material didático utilizado é queimado e as pessoas envolvidas, proibidas de divulgarem os resultados do processo. No exílio, Paulo Freire torna-se conhecido e respeitado internacionalmente. Suas idéias sugerem a construção de uma nova sociedade. Para o Brasil, só retorna em 07 de agosto de 1979, para uma viagem de um mês. Sua volta definitiva se dá no ano seguinte. Em síntese, a Quarta República pode ser considerada um período de maior democratização da sociedade brasileira, comparando-se com o Estado Novo e a Ditadura Militar. Em termos educacionais, pode- mos ressaltar a importância dos movimentos de educação popular e as conquistas relacionadas à L.D.B. Exercícios de Fixação 1-Responda às seguintes questões: a) Como se deu o trâmite da LDBEN/61 e qual o conflito principal existente no período quanto à educação? b) Qual o caráter do substitutivo Lacerda? c) Por que a aprovação da LDBEN/61 abalou as forças progressistas? Quais foram as alternativas que essas forças lançaram? d) Qual a análise que o autor do capítulo faz do governo de Vargas quanto à educação? e) Qual a proposta do Programa de Metas do presidente JK quanto à educação? f) Em 1962, o Plano Nacional de Educação impôs ao governo a obrigação de investir no mínimo 12% dos recursos da União para a educação. Que metas tal plano previa? Tarefas de Recuperação 1) Justifique a seguinte afirmativa: "Entre 1945 e 1947, o movimento popular no Brasil cresceu. Entre a formação de partidos, as eleições para a presidência da República e a Constituinte, toda uma agitação ideológica ganhou as ruas e revigorou a sociedade brasileira" (GHIRALDELLI, 2000:105). Leituras Complementares Para esta unidade, indicamos o capítulo 2 - A educação como Ato Político: a pedagogia do oprimido, que trata das idéias de Paulo Freire, assim como as críticas que a ele foram feitas. Aconselhamos também a leitura do capítulo 3 - Educação da classe, educação popular, educação do sistema, que aborda idéias de outros autores pertencentes à corrente freqüentemente identificada como educação popular ou participante. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2002. Capítulo 12- Brasil no século XX: o desafio da educação (Contexto histórico e Pedagogia e Educação Primeira República). HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. História da educação brasileira: leituras. São Paulo: Pioneira Thomson Lerning, 2005. Capítulo 6: As Outras Escolas da Primeira República. GHIRALDELLI JR., Paulo. História da educação. 2 ed. rev. São Paulo: Cortez, 2000. Capítulo 2: A Segunda República. 29 30 UNIDADE IV A DIT ADURA MILIT AR E AS CONSEQÜÊNCIAS DITADURA MILITAR TU AL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A ATU TUAL Para descrever esse período da educação brasileira, recorremos aos fatos históricos e sociais que marcaram essa época. • “Golpe militar em 1964 optando pelo aproveitamento do capital estrangeiro e liquidação de vez do nacionaldesenvolvimentismo” (ARANHA, 2002: 211); • “Modelo concentrador de renda, que favorece uma camada restrita da população e submete os trabalhadores ao arrocho salarial” (ARANHA, 2002: 211); • “Surgem sérios problemas decorrentes da situação de empobrecimento, com graves índices de miserabilidade”. (ARANHA, 2002: 211); • “A partir de 1968, a repressão recrudesce, com torturas e mortes, além de ‘desaparecimentos’ e ‘suicídios’, tornando arriscada qualquer oposição ao regime. Mesmo assim, em 1969, começa a guerrilha urbana, violentamente reprimida” (ARANHA, 2002: 211); • “O final da ditadura militar foi apressado pela crise econômica e por alguns fatos políticos (como a impunidade dos responsáveis pela bomba do RioCentro)” (CHIRALDELLI Jr., 2000: 218); • “As várias Conferências Brasileiras de Educação cresceram rápida e vertiginosamente em número de participantes, ouvintes e em número de expositores” (GHIRALDELLI JR., 2000: 221). 4.1 - A Ditadura Militar O período de redemocratização da sociedade brasileira teve seu fim com o Golpe Militar de março de 1964.Todos os setores da sociedade foram atingidos duramente, inclusive a educação. Professores, alunos e funcionários das instituições escolares tiveram sua liberdade controlada e foram punidos quando discordavam do governo. Neste sentido, o Decreto-Lei 477, de 26 de fevereiro de 1969, torna legítimo tal controle. Ghiraldelli (2000) aponta que somente uma visão ingênua da realidade poderia avaliar positivamente as conseqüências da ditadura militar no Brasil. A universidade brasileira, participante engajada da vida política e social, foi imediatamente alvo de reforma. O vestibular classificatório e o regime de créditos foram instituídos como forma repressora de resolver os problemas. O primeiro teve como meta acabar com a figura do “excedente” e o segundo dificultou a organização dos discentes. Outras grandes transformações aconteceram na universidade brasileira. Entre elas, podemos citar: a substituição da cátedra pelos departamentos; o fim do modelo da Faculdade de Filosofia e a instituição regular dos cursos de Mestrado e Doutorado. Além dessas transformações, a ditadura militar “resolve” o problema da democratização do nível superior, a partir do incentivo à privatização deste grau de ensino. Pode-se dizer que esta privatização deu-se de maneira desordenada, prejudicando a qualidade dos estudos deste grau. Todas essas mudanças foram frutos dos acordos assinados pelo Brasil e os Estados Unidos. Estes acordos tornaram-se conhecidos como Acordos MEC - USAID. A comunidade universitária não fica satisfeita com tais reorganizações, porém seu poder de reivindicação é podado pelo aparato repressor instaurado com a Ditadura Militar. O 1º e o 2º graus também são atingidos, passando agora a oferecer ensino profissionalizante obrigatório como forma de controle do acesso ao ensino superior. Somente em 1982 o ensino profissionalizante deixa de ser obrigatório. Enfim, os resultados da política educacional da ditadura militar são os que ainda hoje vemos: alto índice de evasão e repetência, deficiência de recursos materiais e humanos, professores mal remunerados e alto índice de analfabetismo. Quanto ao combate ao analfabetismo, o governo lança, no ano de 1967, o MOBRAL, afirmando a possibilidade de reduzir o índice de analfabetos no país a partir até mesmo da utilização do Método Paulo Freire desideologizado, o que seria evidentemente impraticável. Os resultados da alfabetização do MOBRAL deixam a desejar, pois muitos alunos saem do projeto, apenas, sabendo assinar o próprio nome. Em síntese, podemos concluir que as reformas feitas na educação brasileira, no período da Ditadura Militar, não resolveram os seus problemas. De acordo com estatísticas de 1983, o Brasil contava com mais de 60 milhões de analfabetos e semiletrados. Esses dados apontam também para a tendência à privatização do ensino, especialmente do ensino superior. Além disso, esses dados demonstram a queda do nível salarial do professor, o que, sem dúvida, acaba por comprometer o bom desempenho da escola no país. Exercícios de Fixação 1) Responda às seguintes questões: a) Porque Ghiraldelli (2000:163) afirma que “[...] só uma visão otimista / ingênua poderia encontrar indícios de saldo positivo na herança deixada pela ditadura militar”? b) O que foram os Acordos MEC - USAID ? Qual o caráter dos mesmos? c) O que Ghiraldelli considera o maior equívoco da Lei n.º 5.692/71? Por quê? d) A política educacional da ditadura militar pode ser considerada falida? Explique: Tarefas de Recuperação 1- A educação brasileira ainda hoje vive as conseqüências do período pós-64, tais como uma elevada taxa de analfabetismo, a baixa remuneração dos professores, a falta de recursos nas escolas etc. Tais problemas afetam principalmente o sistema público de educação. Diante desses fatos, caracterize o período da ditadura militar, justificando suas conseqüências: 2 - Segundo o ministro Roberto Campos, o ensino médio deveria atender a massa, enquanto o ensino universitário deveria continuar reservado às elites. Acompanhando a mesma linha de pensamento, muitos intelectuais advogavam publicamente a profissionalização da escola média. Por que podemos afirmar que esses intelectuais procuravam alinhar o sistema educacional com a política e a economia da época? 3 - A Reforma Universitária transformou radicalmente o ensino superior no Brasil. Que mudanças a Lei 5.540 / 68 instituiu? Quais as suas conseqüências? 4 - Por que, de um modo geral, professores e estudantes repudiaram a Reforma Universitária e acolheram a Reforma dos 1º e 2º Graus? 4.2 - A Nova República A herança educacional deixada pela ditadura militar é composta por inúmeros problemas, que hoje lutamos para transformar. No campo econômico, o fracasso do Plano Cruzado, e das iniciativas subseqüentes, contribuiu decisivamente para reduzir a quase zero a credibilidade governamental para resolver os problemas da área. Desse modo, sob a capa da Nova República, abriga- ram-se os velhos políticos e o clientelismo e a corrupção, nossos velhos conhecidos, continuaram tão ou mais desenvoltos que antes, conspurcando de alto a baixo a política nacional e elevando os interesses particulares muito acima dos interesses globais da sociedade. Não podendo ser diferente no campo educacional, pode-se dizer que a situação nesta área prescindiu 31 32 uma transformação mais radical. No entanto, não podemos negar certas conquistas na educação básica. Citamos como exemplo, o fato da Constituição de 1988 garantir o direito ao ensino fundamental para todos os cidadãos, de forma gratuita e obrigatória, independentemente da idade. Lembre-se que, antes de 1988, o Estado previa apenas o ensino de 1.º grau, obrigatório e gratuito, para os alunos na faixa dos 07 aos 14 anos. Podemos citar também a conquista dos 200 dias letivos e a preocupação com a valorização do magistério e a qualidade do ensino, mesmo que, estes últimos, ainda não ultrapassem de fato os fundamentos legais. Tais conquistas encontram-se na recente LDB promulgada em 20 de dezembro de 1996. Quanto à LDB/96 temos a dizer que muitas entidades participaram, propondo soluções, como é o caso da ANDES (Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior). Infelizmente, as soluções propostas não foram levadas a sério e o projeto de lei inicial ficou bastante distorcido. Mais uma vez, não podemos esquecer que as soluções conciliatórias foram as vencedoras. É o caso do ensino público X particular e também do ensino laico X religioso. O primeiro será livre à iniciativa privada e o último será facultativo apenas para os alunos. A tendência à privatização da educação se mantém, especialmente a partir da implantação das políticas neoliberais na educação, pois um dos princípios básicos do neoliberalismo é a tese do Estado-Mínimo. Vale lembrar que a política neoliberal releva-se como perspectiva internacional cada dia mais difícil de ser combatida pelos meios sindicais. De acordo com Ghiraldelli (2000): [...] se as mazelas deixadas foram grandes, em contrapartida o movimento histórico produziu, no contexto da luta de classes, algumas situações novas e promissoras para as classes populares e para a viabilização da democracia.Um ponto positivo [...] foi a delimitação, no interior dos partidos progressistas, de pedagogias e de políticas educacionais cada vez mais nítidas. Um outro ponto positivo foi a remodelação do movimento sindical do professorado. [...] (p.221). O autor continua citando o papel das Conferências Brasileiras de Educação (CBEs) no sentido de fortalecer tanto o movimento sindical quanto a produção teórica do professorado brasileiro. Além disso, nos lembra também dos cursos de pós-graduação em educação e as revistas especializadas na área, que acabam cumprindo o mesmo papel das CBEs. Em síntese, o momento atual, chamado de Nova República, apresenta avanços e recuos em termos educacionais. No entanto, como está ainda por ser construído, cabe o nosso esforço e compromisso no intuito de oferecer uma educação de qualidade que privilegie àqueles que sempre foram excluídos dos bens culturais desta sociedade. Exercícios de Fixação 1) Escrever um texto sobre a situação atual da educação brasileira. Para alcançar tal objetivo, você deverá pesquisar em jornais e revistas recentes e até mesmo entrevistar pessoas da sua cidade. Tarefas de Recuperação Leia o trecho a seguir e responda às questões: Naquele momento histórico pelo qual passava a sociedade brasileira do final da década de 50, a burguesia industrial e o protelariado estariam na mesma trincheira, porque suas contradições tornavam-se secundárias quando comparadas com as que ambas tinham em relação aos latifundiários feudais e outras classes arcaicas. Assim, em pleno final dos anos 50, quando a acumulação industrial já assumira a hegemonia econômica da nação – tornando a exploração da mais-valia industrial a principal forma de valorização do capital na sociedade brasileira –, a culpa da exploração e do baixo nível de vida da sociedade brasileira recaía sobre o latifúndio atrasado e seus aliados imperialistas. (Guido Mantega) a) Localize o momento histórico a que o texto se refere. b) Apresentando, de um lado, a burguesia industrial e o proletariado na mesma trincheira, e de outro, a realidade da exploração da mais-valia industrial, faça uma análise do contexto social-histórico e educacional desse período. Leituras Complementares CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e Democracia no Brasil. São Paulo: Cortez, 1991. Para aprofundar seus conhecimentos, recomendamos a leitura do capítulo 1: Democracia Restrita, Escola Excludente. CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. Outra indicação seria o capítulo 5: Reforma universitária e realidade brasileira. http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb02.htm http://www.sbhe.org.br/novo/iodex.php?arq=arq_publicacao&titulo=Linhas+de+Publica%C3%A7%C3% A3o¶m=list%3D0&ext=php http://www.schwartzman.org.br/simon/cent_minas.htm http://www.inep.gov.br 33 34 Se você: 1) 2) 3) 4) concluiu o estudo deste guia; participou dos encontros; fez contato com seu tutor; realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns! Glossário Aula Régia - As aulas régias compreendiam o estudo das humanidades, sendo pertencentes ao Estado e não mais restritas à Igreja - foi a primeira forma do sistema de ensino público no Brasil. Apesar da novidade imposta pela Reforma de Estudos realizada pelo Marquês de Pombal, em 1759, o primeiro concurso para professor somente foi realizado em 1760 e as primeiras aulas efetivamente implantadas em 1774, de Filosofia Racional e Moral. Companhia de Jesus - A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loiola e um pequeno grupo de discípulos, na Capela de Montmartre, em Paris, em 1534, com objetivos catequéticos, em função da Reforma Protestante e da expansão do luteranismo na Europa (http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb02.htm#texto. Acesso em 13/06/2007). Ideal Escalonovista - O entendimento da educação como vida, e não como preparação para a vida, foi a base dos diversos movimentos que formaram a pedagogia escolanovista. As novas idéias em educação questionavam o enfoque pedagógico até então centrado na tradição, na cultura intelectual e abstrata, na autoridade, na obediência, no esforço e na concorrência. Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova - O “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, o texto foi assinado por 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 30, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país. Além de constatar a desorganização do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita (http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/O_Brasil_de_JK/Manifesto_dos _pioneiros_da_educacao.asp. Acesso em 30/07/2007). Método Lancaster - Segundo esse método, que esteve em voga durante mais de vinte anos, cada grupo de alunos (decúria) era dirigido por um deles (decurião), mestre da turma, por menos ignorante ou, se quiserem, por mais habilitado. Por esta forma, em que o professor explicava aos meninos e estes, divididos em turmas, mutuamente se ensinavam, bastaria um só mestre para uma escola de grande número de alunos (http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/hist07a.htm. Acesso em 30/07/2007). Método Paulo Freire - A proposta de Freire parte do estudo da realidade (fala do educando) e da organização dos dados (fala do educador). Nesse processo, surgem os temas geradores, extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. Os conteúdos de ensino são resultados de uma metodologia dialógica. Cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica dispõe em si próprio, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte. O importante não é transmitir conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida (http://www.paulofreire.org/Biblioteca/metodo.htm. Acesso em 20/07/2007). Pedagogia Libertária - Termo baseado na “pedagogia do oprimido” do educador Paulo Freire, que propõe uma educação crítica a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas para a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=476. Acesso em 15/07/2007). Pedagogia Tradicional - A tendência tradicional é marcada pela concepção do homem em sua essência. Sua finalidade de vida é dar expressão à sua própria natureza. A pedagogia tradicional preocupa-se com a universalização do conhecimento. O treino intensivo, a repetição e a memorização são as formas pelas quais o professor, elemento principal desse processo, transmite o acervo de informações aos seus alunos. Estes são agentes passivos aos quais não é permitida nenhuma forma de manifestação. Os conteúdos são verdades absolutas, dissociadas da vivência dos alunos e de sua realidade social (http://www.artenaescola.org.br/ pesquise_artigos_texto.php?id_m=23. Acesso em 20/07/2007). Ratio Studiorum - Trata-se de um detalhado manual com a indicação da responsabilidade, do desempenho, da subordinação e do relacionamento dos membros da hierarquia, dos professores e dos alunos. Além de ser também um manual de organização e administração escolar. A metodologia é bastante pormenorizada, com a sugestão de processos didáticos para a aquisição de conhecimento e incentivo pedagógico para assegurar e consolidar a formação do aluno (http://www.anpuh.uepg.br/historia-hoje/vol1n2/ratio.htm. Acesso em 20/07/2007). 35 36 Gabarito UNIDADE I 1.1 1- Complete o quadro a partir da leitura do conteúdo desse item. 2- a) Estudo das obras greco-latinas, tentam conciliar as obras clássicas com o espírito religioso, repetição dos exercícios a fim de facilitar a memorização, estímulo à competição entre os indivíduos e as classes. b) Os melhores alunos, chamados decuriões, eram responsáveis de tomarem as lições dos outros alunos, recolhem os exercícios e marcam num caderno os erros e faltas diversas. Aos sábados as classes inferiores repetem as lições da semana toda: vem daí a expressão sabatina, usada durante muito tempo para indicar formas de avaliação. Para as classes mais adiantadas são organizados verdadeiros torneios de erudição. c) O método de ensino intitulado Ratio Studiorium, elaborado pelos jesuítas no final do século XVI. d) O studio inferiora e o studio superiora. Leitura Complementar 2- a) e b) Envie ao seu tutor ou professor da disciplina; 3- Responda às questões a e b e envie ao seu tutor ou professor. 1.2 1- Procure aplicar as técnicas de leitura adquirida na disciplina de Metodologia do Trabalho Científico. 2- a) Desenvolva uma redação procurando as idéias que marcam o texto de Raul Pompéia e o conteúdo apresentado no item 1.2. Procure deixar claro as idéias principais do texto de Pompéia. b) Volte ao conteúdo desta unidade e procure relacionar a questão do rigor do ensino jesuíta. c) Aproveite a questão a e faça a relação do conteúdo com O Ateneu. Tarefas de Recuperação e Leituras Complementares da Unidade I devem ser enviadas ao tutor ou professor. UNIDADE II 2.1 As questões 1, 2 e 3 devem ser encaminhadas ao tutor ou professor. 2.2 4 - a) Defende uma educação obrigatória, pública, gratuita e leiga como um dever do estado. Critica o sistema dual. Representa a tomada de consciência da defasagem entre a educação e as exigências do desenvolvimento. b) Significava uma escola para os ricos e outra para os pobres. UNIDADE III 3.1 Responda às questões 1, 2 e 3 e encaminhe ao seu tutor ou professor. 3.2 Os Exercícios de Fixação e as Tarefas de Recuperação devem ser encaminhados ao tutor ou professor. UNIDADE IV 4.1 Os Exercícios de Fixação e as Tarefas de Recuperação devem ser encaminhados ao tutor ou professor. 4.2 Encaminhe ao tutor ou professor para correção. 37 38 Referências Bibliográficas ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2002. CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e Democracia no Brasil. São Paulo: Cortez, 1991. _____. A Universidade Crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1983. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003. GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Ática,1994. GHIRALDELLI JR., Paulo. Educação e Movimento Operário. São Paulo: Cortez, 1987. _____. História da educação. 2 ed. rev. São Paulo: Cortez, 2000. HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. História da educação brasileira: leituras. São Paulo: Pioneira Thomson Lerning, 2005. MELLO, Guiomar Namo de, (org.). Escola Nova, Tecnicismo eEducação Compensatória. São Paulo: Loyola, 1985. PILETTI, Nilson. História da Educação no Brasil. São Paulo: Ática,1991. POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Moderna, 1984. RIBEIRO, Maria Lúcia Santos. História da Educação Brasileira – a organização escolar. São Paulo: Cortez, 1995. ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1983.