UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE MEDICINA História da Medicina Prof. José Aparecido Granzotto, Md, PhD SIMBOLOGIA Aesclepius (asclépio) - deus grego da Medicina, com o cajado com uma única serpente Aesculapius (esculápio) – deus romano da Medicina Na realidade é o mesmo símbolo que usamos até hoje. Os gregos o criaram e os romanos o copiaram dando-lhe um nome romano. A história mostra que a medicina grega era muito desenvolvida e quando o império romano dominou o mundo da época eles copiaram tudo o que era bom da Grécia e atribuiu um nome romano a todos os deuses gregos, inclusive o deus da medicina. O símbolo da cobra envolta num cajado como aparece na figura de Aesclepius ou Aesculapius, originou-se da antiga mesopotâmia há cerca de 5000 anos atrás, ou seja, 3000 anos antes de cristo (aC). Nesta época, o pensamento do homem primitivo era mágico e místico. Hermes – caduceu com 2 serpentes. Hermes era filho de Zeus com Maia que era uma das sete filhas de Atlas. Hermes = merx -> mercúrio=mercadoria>> viajante. Hermes nasceu e foi colocado numa arvore sagrada, símbolo da fecundidade e fertilidade, logo revelando uma precocidade extraordinária. Já no 1º dia de vida se libertou das faixas e viajou a Tessália onde furtou parte de um rebanho de Apolo (meio-irmão). Para apagar a prova do roubo, amarrou galhos nas caudas dos animais para apagar o rastro e se dirigiu para a uma gruta onde sacrificou duas novilhas aos deuses, se promovendo ao décimo segundo deus do Olimpo. Apolo descobriu o furto e contou para Maia, mãe de Hermes, a qual negou o furto e protegeu seu filho recém-nascido como qualquer mãe. Apolo então recorreu a Zeus que constatou o fato mais disse que era mentira e o obrigou a nunca mais falar no assunto. Hermes encantou a todos com sua lira que havia comprado com a metade do rebanho roubado. A seguir inventou a flauta que causou grande inveja em Apolo que para possuí-la ofereceu um cajado de ouro – O CADUCEU que passou a ser o símbolo de Hermes. O caduceu de Hermes é comumente usado como símbolo do comercio e dos viajantes, sendo por isso utilizado com emblema de associações comerciais. O caduceu com duas cobras foi erroneamente associado à medicina porque era utilizado pelos viajantes e pela imprensa na época de Gutemberg. Foi utilizado entre todos que trabalhavam em hospitais de guerra e principalmente pelo exercito dos EEUU, mas jamais o caduceu pode ser o representante da medicina. O representante da medicina é oficialmente o bastão Asclépio (língua grega) Esculápio (língua latina), e constitui-se no grande nome da medicina antes de Hipocrates. Aesclepius viveu em 1200 aC e possuía poderes extraordinários para curar. Era filho de Apolo com a ninfa mortal Corônis. Sua tia Ártemis (irmã de Apolo) matou sua mãe com flechadas. Com a morte da mãe, Asclépio foi enviado ao centauro Quiron que lhe ensinou a arte da medicina. Chegou a ressuscitar vários mortos. Isto causou preocupação a Zeus que o matou com um raio. Entre os filhos de Asclepius cita-se de Higia (saúde) e Panacéia (que socorre a todos). Asclépio construiu vários templos em Cós, Atenas, Pergamo e Cnidos. Estes templos eram denominados de Asclepeions. Neles praticavam os sacerdotes-médicos que eram os depositários dos conhecimentos científicos transmitidos de geração a geração sendo o maior deles Hipócrates alguns séculos mais tarde. A Organização Mundial da Saúde e a Associação Médica Brasileira adotam o símbolo de Asclépio com apenas uma serpente. À medida que Roma ia entrando em contato com a civilização grega, a partir do século 5º aC., a mitologia grega e seus deuses foram naturalizados romanos e Asclépio passou a ser Esculápio. Os romanos conservadores e com medo de perder sua identidade começaram a criar seus próprios deuses. Medicina primitiva A medicina primitiva é inseparável dos modos primitivos e das crenças religiosas daquela época e é preciso compreender a atitude da mente primitiva em relação ao diagnóstico e tratamento das doenças. Precisamos entender que a medicina no sentido que aceitamos hoje era apenas uma fase de um conjunto de processos mágicos para conseguir o bem estar humano, tais como evitar a ira dos deuses raivosos ou do espírito do mal, fertilizar o solo, melhorar a potência e fecundidade sexual, evitar perdas das colheitas e também evitar as doenças. Estes poderes eram reunidos em uma única pessoa que poderia ser um herói, um deus, um bruxo, um sacerdote, um profeta ou um médico, referindo-se ao selvagem que fazia medicina. Estes povos primitivos eram panteístas, ou seja, adoravam o sol, a lua, o fogo, a serpente, os gatos e os cachorros. A enfermidade era um espírito maligno, assim sendo a doença era um objeto abstrato. “Os seres humanos foram feitos para servir aos deuses e aos governantes, venerando-os e construindo templos em louvor a eles. Os obedientes eram protegidos e os desobedientes eram acometidos de doenças. A magia era a principal terapêutica que servia também para pedir chuva e proteger colheitas”. O XAMÃ. Era um bruxo que manejava as doenças de maneira psicoterápicas que despertavam a auto-sugestão em seus pacientes. O xamã fazia o que podia para espantar os espíritos da doença, assumindo ás vezes um aspecto físico terrível (como os pajés das tribos indígenas). Para evitar os futuros ataques destes males, propunha o uso de amuletos especiais que deveriam ser usados pelas pessoas em todas as ocasiões (semelhante ao crucifixo atual). O xamã pode ser considerado também um mágico da medicina. Quando se propõe muito remédio diferente para uma mesma doença, geralmente é que sabemos muito pouco sobre esta doença. Por outro lado, quando se propaga uma droga como panacéia para todas as doenças também temos que pensar se ela serve mesmo para alguma coisa. Os antigos egípcios, chineses, astecas já cultivavam jardim botânico de onde extraiam ervas medicinas que o xamã utilizava como a ouabaína, guaco, podofilina, ópio, haxixe e também as ervas venenosas usadas em flechas como o curare etc. Da pele seca de sapo venenoso se extraia a bufagina (diurético) para tratar edema. Gênesis: E o Senhor fez cair um profundo sono sobre Adão que dormiu, e uma costela sua pôde então ser retirada (uso de droga analgésica). Então, a Bíblia já menciona o uso de drogas medicinais. FASES PREHISTÓRICAS DA MEDICINA A história da medicina atual ou cosmopolita é a história das grandes contribuições de todos os povos a esta arte e prática universal que constitui a medicina. Confunde-se, portanto com a história da civilização ocidental. Nesta perspectiva pode ser dividida em: pré história; história antiga que praticamente corresponde à antiguidade oriental e distinguindo-se a medicina na Grécia antiga e Roma e os clássicos períodos de divisão da história ocidental: Idade Média, Moderna e Contemporânea. Antiguidade oriental Civilização oriental é um conjunto de povos da Ásia e Norte da África. Os textos sobre esse tema incluem a civilização Egípcia, Chinesa, Norte-Indiana (Indo-Européia), Persa (IndoEuropéia), Norte-Paquistanesa (Indo-Européia) e dos povos semitas (Árabes e Judeus). Naturalmente que estes povos poderiam ser subdivididos em centenas de etnias e sistemas etnomédicos, contudo a relativa uniformidade lingüística, presença escrita de textos especializados e acontecimentos históricos marcantes, com especial significado para desenvolvimento da medicina cosmopolita, permitem manter tal divisão. Medicina Ayurveda Ayurveda, o conhecimento Védico de medicina se originou há 6000 anos. A saúde é vista como a harmonia entre o corpo, mente e espírito. Seus dois textos mais famosos pertencem às escolas de Charaka e Sushruta. De acordo com Charaka, a saúde e a doença não são predeterminadas e a vida pode ser prolongada pelo esforço humano. Sushruta define como finalidade da medicina curar as doenças do doente, proteger o saudável e prolongar a vida. Dentre os Vedas o Yajur Veda refere-se especialmente as questões médicas, advindo o nome até hoje utilizado de medicina Ayurvedica. O Ayurveda descreve oito ramos: medicina interna, cirurgia incluindo anatomia, doenças do olho, ouvido, nariz, e garganta, pediatria, psiquiatria, ou demonologia, toxicologia ciência do rejuvenescimento e ciência da fertilidade. Esperava-se que um estudante do ayurveda viesse, a saber, as dez artes indispensáveis à aplicação de sua medicina: destilação, habilidades cirúrgicas, cozinha, horticultura, metalurgia, manufatura de açúcar, farmácia, análise e separação dos minerais, combinar metais, e preparação dos alcalóides. O ensino de vários assuntos era realizado durante a instrução de assuntos clínicos relevantes. Por exemplo, o ensino de anatomia era uma parte do ensino da cirurgia, embriologia era uma parte de treinamento de pediatria e obstetrícia, e o conhecimento de fisiologia e patologia estavam presentes no ensino de todas as disciplinas clínicas. Na conclusão o guru dava uma aula solene aos estudantes orientando aos mesmos uma vida de castidade, honestidade. O estudante devia usar de todos seus conhecimentos para curar as doenças. Não devia enganar pacientes para obter vantagens. Devia vestir-se modestamente e evitar a bebidas fortes. Devia ser recatado e possuir autocontrole e medir as palavras. Devia aperfeiçoar constantemente seus conhecimentos e habilidades técnicas. No repouso do paciente devia ser cortês e modesto, dirigindo toda a atenção ao bem-estar do paciente. Não devia divulgar nenhum conhecimento sobre o paciente e sua família. Se o paciente fosse incurável, devia guardar isto consigo mesmo, caso pudesse prejudicar o paciente ou outros afins. A duração normal do treinamento do estudante era de sete anos. Antes da graduação, o estudante devia passar em um teste. Mas o médico (vaidya) devia continuar a aprender através dos textos, da observação direta (pratyaksha), e através da inferência (anum). Além de participar de encontros de médicos (vaidyas) onde o conhecimento era trocado. Os doutores também deviam obter conhecimento de remédios incomuns dos habitantes das montanhas, florestas e pastores. Medicina Chinesa A China também desenvolveu sólidos conhecimentos em sua medicina tradicional. Muito da medicina tradicional chinesa deriva da filosofia do taoísmo e reflete a clássica crença chinesa que as experiências humanas individuais refletem os princípios da causalidade que regem o ambiente em todas as escalas. Estes princípios causais, seja essência material ou espiritual, correspondem à expressão dos destinos decretados pelo céu (Tao). Durante a idade de ouro de seu reino entre 2696 a 2598 a.C, o Imperador Amarelo registrou seu conhecimento médico. A opinião acadêmica moderna sustenta que o referido texto tednha mais de dois mil anos.Durante a dinastia Han, Chang Chung-Ching, que era o prefeito de Chang-sha escreveu um tratado da febre tifóide. Medicina Egípcia e oriental Im-hotep (aquele que traz a paz) viveu no Egito entre 2980-2900 aC. É o Médico mais antigo que se tem notícia e pertenceu a 3ª dinastia, ou seja, antes dos faraós que pertenceram a 5ª dinastia. (2700 aC) Heródoto - Babilonia - Os guardas do Rei, traziam os doentes ao mercado público para expô-los a população. Como não havia médico, a população deveria passar ao lado do doente e perguntar o que ele sentia. As pessoas ouviam e se já tinham passado por algo semelhante recomendavam o mesmo tratamento ao enfermo. Os que se negavam em colaborar, eram castigados. Código de Hammurabi. (2250 aC). Cita que o médico gozava de grande prestigio público e que recebia honorários adequados prescritos por lei. Para tratar uma ferida ou abrir um abscesso com uma lanceta de bronze em um cavalheiro rico ganhava 10 moedas de prata. Para um criado pobre ganhava duas moedas. Se o médico causava a morte ou a perda de um membro do cavalheiro, sua mão era cortada. Se acontecesse o mesmo com o criado, teria apenas que pagar uma indenização em dinheiro. MEDICINA GREGA antes de HIPÓCRATES Apolo (alexíkako = que evita os males) ensinou medicina a sua irmã Artemisa e a seu filho Saturno e é considerado o principal deus da medicina do Panteão grego. Porém a medicina grega propriamente dita começa na época de Péricles e tem seu progresso cientifico centrado na figura de Hipócrates que viveu 83 anos. Nasceu na ilha de Cós (atual Grécia) em 460 aC Morreu em Tessalia (atual Grécia) em 377 aC Hipócrates Nunca, em tão pouco tempo apareceram tantos gênios: Contemporâneos de Hipócrates: Sófocels, Eurípides, Aristófanes, Sócrates, Platão, Heródato, Fidias entre tantos. Hipócrates recebeu sua primeira instrução médica de seu pai. Depois estudou em Atenas e adquiriu grande experiência em suas viagens e prática médica na Trácia, Tesália e Macedônia. A data de sua morte é desconhecida e sua idade é calculada entre 85 e 109 anos. Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. Sua grandeza se deve a três fatos principais: 1. Separou a medicina da filosofia; 2. Reuniu os conhecimentos das escolas de Cós e Cnido em um sistema cientifico; 3. Deu aos médicos alta inspiração moral. Antes disso os médicos eram sacerdotes nos tempos de paz e cirurgiões em tempos de guerra. Hipócrates em vez de associar as doenças aos deuses ou a outras idéias fantásticas fundou o método de estudo na cabeceira do leito e assim começa a transmissão do conhecimento médico. Ou seja, começa o ensino médico e a educação médica. Nesta época, cada médico tinha seus discípulos e a eles ensinava sua arte e contavam também com seguidores, geralmente escravos que depois de certo tempo passavam a exercer a medicina. Então estes médicos escravos tratavam os escravos usando uma medicina eminentemente empírica enquanto os médicos livres tratavam homens livres usando já a medicina mais racional. A escola médica de Cós foi exemplo e objeto de rivalidade para as escolas itálico-sicilianas e mais tarde para a Alexandria e até para o império romano. Além de textos de Hipocrates esta escola legou à civilização o famoso compêndio denominado Corpus Hippocraticum que é um conjunto de 53 escritos anônimos que aborda praticamente todos os temas da medicina (fundamentos, ética, anatomofisiologia, pediatria, dieta, patologia, terapêutica, cirurgia, gineco-obstetrícia entre outros. “Hipócrates foi a primeira e Galeno foi a última estrela da medicina antiga”. Nesta época de efervescência intelectual grega foi pela primeira vez dissecado em sessão pública um corpo humano por Herophilos (300 aC) o que foi uma verdadeira revolução no ensino de anatomia. Um século mais tarde na Alexandria incorporou-se e superou os saberes desenvolvidos nas escolas gregas com a criação da medicina cientifica baseada em experiências clínicas do corpo humano, e não em apenas especulações filosóficas. Os mestres expunham livremente seus ensinamentos manipulando cadáveres e seus ossos. Este vigoroso esforço inovador fracassou devido ao medo da liberdade intelectual e culminou com a queima da universidade pelo rei Justiniano perdendo-se desta maneira um acervo incalculável para a medicina embora seus frutos fossem exitosos no futuro. Há relatos do uso de luzes para o tratamento de tumores humanos e que já se conhecia veículos que andavam em alta velocidade sem uso de animais. Medicina Romana As escolas médicas romanas desenvolveram e diversificaram a medicina grega mantendo a formação da tradição dos grandes mestres gregos com a formação dos médicos do Império Romano no fim da Antiguidade e o início da Idade Média. A Idade Média (medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna. ESCOLA MÉDICA DE GALENO – A obra de Galeno abrange anatomia, fisiologia, patologia, terapêutica e suas aulas foram as mais concorridas do mundo romano, tornandose um mestre indiscutível da medicina universal. As suas lições eram registradas em textos onde aparecia não apenas um planejamento de estudo anatômico, mas inclusive como conseguir um cadáver humano e dissecá-lo cuidadosamente. Apesar disso, com o desaparecimento de Galeno a enorme capacidade criativa da medicina greco-romana foi soterrada pela crença mágico-religiosas do cristianismo romano. O período BIZANTINO (476-732 dC) foi pobre na medicina, mas conseguiu preservar os mais importantes textos gregos, utilizando-os no idioma original Aécio de Amida (527-565 dC), Alejandro de Tralles (525-605dC), Pablo de Egina (625690dC) PERIODO MAOMETANO (732-1096 dC) A palavra islam, significa submissão resignada à vontade de Deus. Os árabes, depois de Bizâncio, traduziram e enriqueceram os saberes clássicos e do galenismo. Em torno de 1010 dC, o persa Avicena (Ibn Sina or Abu Ali Al Hussein ibn Abdallah) publicou os fundamentos de uma medicina holística em seu CANONE DA MEDICINA (Al-Quanun) o qual foi traduzido para o latim em 1473 por Cremona e foi sucesso para os médicos e estudantes de medicina até o século XVII. Até os fins do século X (portanto ainda na idade média) a medicina da Europa Ocidental foi muito pobre, com restos dos saberes clássicos conservados principalmente em mosteiros católicos e a prática da medicina era feita pelos monges e poucos médicos laicos. PERIODO MEDIEVAL (Idade Média) -1096-1438 dC) – Grandes Universidades. A Escola Médica de Salerno (Itália) Salerno foi a primeira escola médica laica da Europa Medieval que retoma o saber Grecoárabe. Sua influencia foi decisiva para a evolução da medicina ocidental nos séculos XI e XII. O desenvolvimento da medicina grega foi barrado pelas trevas da idade média, mas sua repercussão na medicina do continente europeu continuou, embora limitado. Logo no início da Idade Média, Dioscorides descreveu em DE MATÉRIA MÉDICA mais de 600 plantas de interesse médico-terapêutico e foi o primeiro a registrar o uso da anestesia. A Escola Médica de Salerno teve sua sede original num mosteiro fundado no século IX, e alcançou o seu maior esplendor durante os séculos X e XIII. A chegada em Salerno de Constantino, em 1077, marcou o início do período clássico de Salerno conferindo-lhe o título de Hippocratica Civitas ("Cidade de Hipócrates"). Pessoas de diversas partes do mundo frequentaram a Scuola di Salerno tanto os doentes, na esperança de se recuperarem, como estudantes, para aprender as artes da medicina. Sua fama cruzou fronteiras, como provam os manuscritos salernitanos mantidos em diversas bibliotecas européias e por testemunhos históricos. Nos séculos XII e XIII, o autor do poema Regimen sanitatis Salernitanum teria colocado deliberadamente a referência à cidade em seus versos, de maneira à anunciar seu trabalho e lhe dar credibilidade. A Escola manteve a tradição cultural greco-romana, combinando-a harmoniosamente com as culturas árabe e judaica, e acolhia estudantes de todos os credos. Este encontro de diferentes culturas levou ao surgimento do conhecimento medicinal a partir da síntese e da comparação de diferentes experiências, como evidencia a lenda que credita a fundação da Escola a quatro mestres: o judeu Helino, o grego Ponto, o árabe Adela, e o latino Salerno. Os cursos variavam de três a cinco anos, depois de realizados os estudos preliminares nas faculdades de artes. As aulas consistiam na leitura de textos adequados, com os posteriores comentários, discussões e avaliação dos conhecimentos. O método de ensino baseava-se essencialmente na memorização e discussão dos textos das aulas. Destacavam-se as aulas práticas de anatomia, com as correspondentes dissecações, consideradas o estímulo mais importante para um ensino mais criterioso e mais rigoroso dos cirurgiões. O domínio da língua latina também era fundamental. A primeira titulação médica foi regulamentada em 1140 estabelecendo a obrigatoriedade de um exame oficial para o exercício da medicina, instituindo a obrigatoriedade de um curso superior em Salerno para os médicos. Ao mesmo tempo proibiu-se qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos, determinando que estes tinham de dispensar os medicamentos de acordo com as receitas médicas. No século XIII, foi regulamentada pela primeira vez no Ocidente Medieval a titulação e o ensino da medicina. Justificava a regulamentação devido aos danos irreparáveis que podem advir da imperícia médica. Para tanto a titulação seria obtida após a aprovação do aspirante a médico ante um tribunal de mestres de Salerno e representantes reais, que examinavam o conhecimento e testemunhava sobre a ética do candidato. Exigia-se que o estudante de medicina tivesse três anos de lógica, cinco anos de estudos médicos e mais um ano de prática sob a orientação de um mestre. Para a cirurgia o ensino era ainda mais rigoroso. A criação da Escola de Salerno serviu com incentivo de novas escolas: Paris- 1110 Bolonha – 1158 Oxford – 1167 Montpellier – 1181 Cambridge – 1209 Padua – 1222 Napoles – 1124 Salamanca – 1243 Siena – 1246 Sevilha – 1254 Lisboa – 1290 Roma – 1303 Coimbra – 1308 Florência – 1349 Barcelona – 1450 Praga – 1348 Viena – 1365 Glasgow - 1451 RENASCIMENTO – 1500 O renascimento da vida cultural e social européia retomou o desenvolvimento da medicina na investigação macroscópica do corpo humano, que havia sido esquecido por mais ou menos 500 anos. LEONARDO DA VINCI (1452-1519) - Firenze, Itália. Sábio artista, gênio incontestável, mesmo não sendo médico pode ser considerado como o precursor do desenvolvimento da medicina renascentista e na difusão de seus ensinamentos. Em 1485, Da Vinci demonstrou a importância das lentes de aumento para examinar objetos pequenos, foi mestre em anatomia humana. Comparou a nutrição animal como a queima de uma vela, destacando que os animais não podem sobreviver em uma atmosfera sem combustão. Infelizmente seus textos foram perdidos até o século XVIII. O renascimento foi o período da transição da humanidade civilizada medieval para a moderna e neste período aconteceram muitos fatos, mas o mais importante foi fortalecer o individualismo e a liberação do jugo da autoridade e sem dúvida a invenção da Pólvora e da Imprensa. Com a imprensa os textos médicos alcançaram uma difusão muito rápida. Andreas Vesalius 1514-1564 A anatomia foi a única disciplina que se afastou do esquema galenico anterior, abrindo espaço para a ciência moderna do corpo humano através da publicação de seu Atlas De humani corporis fabrica (1543). Publicação com interpretação moderna da estrutura anatômica, corrigindo equívocos da obra de Galeno e seus discípulos. Na clínica novas doenças foram descritas como a sífilis que com as navegações passou a se constituir uma nova peste. A cirurgia renascentista foi basicamente empírica, sendo pouco difundida nas escolas médicas com exceção da Itália e Espanha. Vesalius que havia estudado em Paris, fazia severas críticas sobre os riscos de entregar tarefas cirúrgicas a barbeiros e outros práticos e criticava a educação médica da época. Propôs um novo modelo de ensino, desenvolvendo-o na escola de Padova (Itália), na época a mais famosa escola médica do mundo, difundindo estes conhecimentos também para as escolas médicas de Bologna e Pisa. Os médicos humanistas passaram a usar a imprensa para divulgação de suas condutas e isso causou um problema sério aos que faziam os manuscritos que custavam mais que o dobro de preço e eram organizados na universidade de Paris e Bolonha. A Bíblia de Gutemberg foi impressa em 1454 Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido domo Moliere – 1622-1673 Dramaturgo e comediante não aceitava a profissão médica e debochava dos médicos. Talvez porque nutria um ódio secreto contra os médicos, em parte pela incompetência para ajudá-lo no tratamento de sua tuberculose e também porque atribuía a morte de seu único filho ao uso inadequado de antimônio pelos médicos. Entre muitas peças escreveu o Doente Imaginário que conta a história de um velho hipocondríaco, que se julga doente sem estar. Como hipocondríaco acata toda e qualquer ordem do médico que, por sua vez, se aproveita da situação. O velho hipocondriaco obriga sua filha a se casar com o filho de um médico para que ele receba tratamento médico como favor de seu genro, embora sua filha estivesse apaixonada por outro. Por ironia morreu durante a apresentação desta sua peça. HOSPITAIS AMERICANOS O primeiro hospital das Américas foi construído por Hernán Cortés no México em 1524, depois vieram o Hôtel Dieu em Quebec 1639, Montreal em 1644, Manhattan em 1663. A lepra havia desaparecido no fim do século XVI e Luiz XVI fechou os leprosários, também chamados lazaretos. A sífilis deixou de ser epidêmica e era tratada com fumegadores e fricção de mercúrio feito por cirurgiões-barbeiros A febre amarela apareceu em NY em 1668 Pandemia de Varíola em 1614 Escarlatina – 1628 Septicemia puerperal – 1660 A mortalidade infantil era alta (mais de 50% dos nascidos vivos morriam). Os bebes eram salgados e enrolados em roupas apertadas conforme preconizava a escola galênica. Em 1697 se recomendava o desmame tão logo saísse o 1º dente de leite e na época da lua cheia. Para ensinar as crianças a comer outros alimentos os mamilos maternos eram untados com substâncias repugnantes como sal e pimenta. MEDICINA BARROCA – (1600-1700) Harvey, William 1575-1657 Harvey descreve as novas bases da fisiologia sobre a circulação maior publicada em seu livro De motu cordis. Pela primeira vez descreveu corretamente os detalhes do sistema circulatório do sangue ao ser bombeado por todo o corpo pelo coração. Entre 1616 e 1628 Harvey foi o grande mestre da medicina européia. Malpighi, Marcello Leewenhoek, Antony Na anatomia iniciou-se a investigação microscópica das estruturas do corpo humano, destacando-se neste campo Marcello Malpighi (1628-1694) secundado por Antony Leeuwenhoek (1632-1723) que descreveu pela primeira vez uma bactéria. Thomas Sydenham (1624-1689) È considerado o pai da Semiologia Moderna e foi um dos mais destacados clínicos de sua época, apelidado de “Hipócrates inglês”. Este período caracterizado por grande inspiração de várias pessoas como Shakespeare, Moliere, Rembrandt, Newton, Harvey, Leeuwenhoek. O sacrifício de nobres, heróis e mártires do século anterior proporcionaram ricos frutos na ciência, com grande liberdade espiritual e intelectual. Era um a época calma e propícia para filosofar muito, até para justificar a imoralidade da época. A literatura francesa mostrava que algo de grave estava para acontecer. “o dia que nasce cheio de fogo, termina em tormenta” mesmo quando ao meio dia está lindo e calmo. Figuras importantes desta época: Rousseau, Voltaire, Mozart, Laplace, Lavoisier, Galvani (eletrofisiologia), Volta (pilhas voltaica), Fahrenheit, Celsius, Linneu. Linneu estudou medicina para conquistar a filha de um médico rico que só permitia que sua filha se casasse com um médico. Linneu deu nomes concisos às plantas e animais da época denominando-os com o nome genérico (família) e específico (reino) classificando o homem como homo sapiens. Seu 1º trabalho – Systema Naturae – 1735 com 12 páginas classifica as plantas, animais e minerais. Jean Palfyn (1649-1730) obstetra inventor do fórceps (mão de ferro) Lucas Bôer (1751-1835) foi o parteiro mais hábil de sua época em que a gravidez era considerada como uma doença de nove meses, e foi o 1º a tratá-la como um processo fisiológico. SÉCULO XIX - Processo organizado da ciência. Faraday – 1821-1854 Dalton – 1803 – teoria atômica Rudolf Virchow -1821-1902 É considerado o pai da patologia moderna e da medicina social, além de antropólogo e político liberal. René Laennec – 1781-1825 Vitima da tuberculose, inventou o estetoscópio em 1819 e foi um dos principais cientistas a relacionar o quadro clínico com os achados de necropsia e introduz definitivamente o conceito semiológico do sinal físico, dando a clínica um método verdadeiramente científico. Philippe Pinel – 1745-1826 . Notabilizou-se por ter considerado que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram doentes e que ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta Edward Jenner– 1749-1823 Edward Jenner (1749-1823 descobre a vacina antivariólica Stokes – 1804-1878 – respiração Cheyne-Stokes e doença de Stokes-Adams Addison-1793-1866- descreveu a anemia perniciosa e a doença da suprarenal Hodgkin – 1798-1866 – inglês- doença de Hodgkin Parkinson-1755-1824-Londres. Em 1817 descreveu a doença de... Schonlen—1793-1864- fundador do ensino clínico na Alemanha com introdução de exames laboratoriais, ausculta, percussão. Karl Rokitansky-1804 –1878 Estabeleceu as bases estruturais das doenças e a técnica de necrópsia com o estudo sistemático de cada órgão. Em 1866 já tinha feito mais de 30 mil necrópsias. Na sua técnica, os orgãos são examinados in situ, ou seja, dentro do cadáver, um a um. Desta forma, nesta técnica são realizados vários cortes em todos os orgãos internos, depois para serem retirados um a um. Muller-Wolff- embriologistas Pasteur- 1822-1895- fotógrafo, pescador e fundador da bacteriologia junto com Koch: Loeffler – 1852-1915- Descobridor do germe da erisipela. Paget – 1814-1899 – Cirurgião inglês da rainha Vitória. Hutchinson – 1828-1913 – Descreveu as alterações dentárias na sífilis congênita, a varicela gangrenosa. = tríade de Hutchinson (ceratite, alteração dentes e labirintite) Kussmaul – 1822-1902 – descreveu a periarterite nodosa, paralisia bulbar progressiva, coma diabético com sua respiração típica de “fome de ar” Carl Gerhardt – 1833-1902 – Primeiro a dedicar-se a pediatria. Henoch – 1820-1910- junto Scholein descreveu várias doenças infantis e a púrpura que leva seu nome. William Osler – 1849-1919 Mestre da John Hopkins University e de outras universidades americanas, foi no século XX uma das mais importantes figuras mundiais da medicina, chamando a atenção para a história clínica e relacionando-a com a semiologia. “escutem seus pacientes”. Um dos primeiros investigadores da plaqueta, complicações viscerais do eritema multiforme, cianose crônica com policitemia e aumento do baço, paralisia cerebral em crianças, coréia, angina pectoris e edema eritematoso (manchas de Osler) na endocardite maligna. Duchene -1806-1875- Foi marinheiro como o pai em depois se radicou em Paris onde dedicou sua vida a neurologia. Charcot – 1825-1893- Tese sobre artrite nodosa e depois foi um grande neurologista. Então, entre os séculos VV e XVIII a formação do médico foi um dos temas de maior destaque na medicina européia. Há uma crescente presença de médicos formados em universidades exercendo a medicina ao lado de curandeiros, charlatães e cirurgiõesbarbeiros. A MEDICINA E A EDUCAÇÃO MÉDICA. Inicio da medicina organizada A medicina primitiva com a egípcia e oriental pode ser considerada como uma fase da antropologia. A medicina grega não foi nada mais do que ciência em formação e a romana um resultado desta última. Bizâncio deve ser considerado uma planta em armazenamento e o Islã como um agente viajante. O melhor aspecto da medicina medieval foi a organização dos hospitais, o cuidado com os doentes, a legislação e educação médica. O renascimento marca a aparição da anatomia como ciência com crescimento da cirurgia como arte manual. SECULO XVIII - A medicina foi retrógrada em respeito a elaboração de sistemas mas conta com o início da patologia e aperfeiçoamento dos diagnósticos, cirurgia experimental e o interesse social da medicina. Cooperação e solidariedade entre os países em divulgar os progressos importantes para prevenir doenças e evitar sua disseminação. Os exames, assepsia e anti-sepsia, cremação, higiene alimentar, drenagem, combate as doenças venéreas, tuberculose, etc. contribuíram decisivamente para diminuição da mortalidade pelas doenças. Mendel (1822-1884) abade – trabalhou com hibridização com grande avanço na herança genética. A lei de Mendel de maneira simples se assemelha ao binômio de Newton: (a+b) = a2 + 2ab+b2, ou seja, metade dos descendentes será de acordo com os pais (2ab) enquanto a outra metade de dividirá entre os que possuem características dominantes (a) e recessivas (b) Assim, com a planta chamada 4 da tarde, teremos: Flor branca 25% branca X Flor vermelha 50% rosa 25% vermelha Karl Pearson (1857-1936) – Teoria da probabilidade – Foi aplicada primeiramente em fenômenos sociológicos pelo astrônomo e médico Adolph Quetelet ( 1796-1874), mas a geração espontânea de Galton (1889) aplicou a matemática de maneira engenhosa para a solução destes problemas criou a escola racional de iatromatematica com sua s publicações fascinantes sobre a probabilidade de morte(1887) e abriram novas vias para estatística interpretada pelas curvas algébrica, o significado das correlações. Santiago Ramon Y Cjal – mestre da anatomia neurológica (1852). Fick (1882) estudou o rendimento cardíaco. Paterson e Starling (1914) estudaram a regulação dos batimentos cardíacos. Krogh(1912) estudou o retorno venoso. Mackenzie (1853-1925) foi o primeiro a usar os gráficos para estudo das arritmias cardíacas. Ivan Pavlov - 1849-1936 Foi notável fisiologista e médico russo especialista em aparelho digestivo. Notável habilidade em usar animais de laboratório onde pode demonstrar os reflexos condicionados. Sigmund Freud (1856-1939)Estudou a sexualidade reprimida e sua relação com os estados neuróticos. Teoria dos sonhos. Postulou que existe um rígido determinismo dos efeitos psíquicos e que muitos distúrbios mentais complexos nunca alcançam a consciência e que podem ser atingidos apenas com a psicanálise no que foi assessorado por Jung. O primeiro caso exitoso de Freud foi com sua paciente Dora. Segundo seu ponto de vista, a base de todas as neuroses sexuais é a adesão inconsciente dos filhos com seus pais, algumas vezes com hostilidade para com o progenitor do mesmo sexo. Este complexo chamado de Édipo pode ser considerado como o namoro dentro da família e simboliza a luta do individuo para alcançar a confiança em si mesmo destruindo sua dependência a respeito a seus pais. Portanto é considerado como uma medida do grau de infantilismo do neurótico. As postulações de Freud a respeito dos efeitos da mente sobre o corpo (psicogêneses), a ambivalência das emoções, a localização mental do consciente, o subconsciente e seu censor crítico, a realidade, a transferência, a fixação, a repressão, as sublimações, as regressões. Sua escola tem permitido um abuso na prática médica. Na psicoanálise, Freud reinventou um instrumento que pode ser perigoso em mãos de incompetentes e sem escrúpulos. Muitos dos alunos de Freud se separaram dele e criaram suas próprias idéias com Alfred Adler (1870-1937) que defendeu que grande parte da herança mórbida deve ser atribuída ao meio ambiente doméstico desfavorável, maus tratos paternos e a submissão familiar. PARASITOSES Com o aprimoramento da técnica microscópica e bacteriológica começaram a associar os protozoários como causa de doença (giárdia, ameba, ancilostomideo etc) A pelagra havia sido inicialmente associada a um parasito transmitido pela mosca e hoje se sabe estar associada a avitaminose. Tripanosoma descoberto em 1894 por Greiby estava relacionado com doença de cavalos, camelos e gado bovino, passando a denominar-se tripanossona evansi Uma variedade brasileira de tripanosoma descrita por Carlos Chagas trypanosoma cruzi foi associada a transmissão pelo inseto Conorhinus sangue-suga. O viajante africano Levingstone fez um relato exato da doença da mosca tse-tsé no seu livro Viagens de Missioneiro. Wilhelm RONTGEN (1845-1922) Filho de um agricultor alemão,enquanto pesquisava a respeito dos raios catódicos, notou sombras acidentais dos objetos sólidos. Estes raios atravessavam as partes moles do organismo de maneira que os ossos como eram mais densos ficavam claros na placa fotográfica. Ao comunicar seu achado para a sociedade Wursburgo em 1895 chamou modestamente de Raio X mas por moção de outro médico Kolliken que previra sua grande utilidade na medicina e principalmente na cirurgia o mesmo foi chamado de Rontgen. Apesar de ter recebido o Nobel (1901) e da fama mundial continuou simples e honrado e amante da verdade. Começou a odiar a publicidade quando seu descobrimento foi atribuído a um de seus estudantes. Morreu pobre e isolado, entristecido pela guerra cujo resultado já previra. Trendelenburg (1844-1924) Introduziu a gastrostomia na estenose de esôfago e sugeriu a posição alta da pelvis para operar vísceras abdominais. Cushing (1868-1939) É o pioneiro da cirurgia neurológica especialmente do crâneo e da hipófise. DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA NA AMÉRICA E NO JAPÃO. O México teve o primeiro hospital (1524) e a 1ª Cátedra de medicina (1578) do continente e os 1º livros médicos (1570). Médicos famosos: México: Rafael Lavista, Luiz Munoz , Juan Maria Rodriguez e Juan Duque de Estrada e o estatístico Antonio Penafiel. Cuba: Carlos Finlay formulou a teoria de que a febre amarela é transmitida pelo mosquito. Brasil:Gaspar Vianna introduziu as injeções de antimônio no Kala-azar. Torres-Homem, Miguel Couto, Emilio Ribas, Osvaldo Cruz e Carlos Chagas entre outros. A parasitologia recebeu grande avanço com Osvaldo Cruz (1872-1917), diretor de Saúde Pública do Rio em 1903 que por suas reformas enérgicas foi denominado de “ Ditador sanitário do Brasil” e em 1901 fundou o Instituto Manguinhos (Rio) onde descobriu o trypanosoma cruzi. Vital Brasil fundou o instituto Butantã (SP) em 1899 que foi um dos primeiros fabricar e distribuir soro contra venenos de ofídios e serviu de exemplo para a instalação do Instituto em San Antonio(Texas). No Japão o bacilo da disenteria (shiguelose), foi descoberto por Kiyoshi Shiga(1897). Aspectos culturais e sociais da medicina do século XIX. Durante este século vemos o médico converter-se cada vez mais em um ser impessoal, cada vez mais um homem de negócios e não tanto inserido nas obrigações sociais e éticas que eram características do médico do século XVIII. O “médico da família” quase desapareceu com exceção de pequenas comunidades e passaram a predominar os médicos que adotavam medidas para não perder o “ganha pão”. Homens como Hunter, Addison, Hodgkin seguiam estes caminhos. Como jovens desconhecidos se converteram em ajudantes de autópsias nos hospitais e ficaram anos aprendendo anatomia e clinica e associaram a medicina a seus nomes. Quando se sobressaíram cientificamente, foram jogados bruscamente na prática médica e o resto da vida foram prósperos médicos de consulta que de vez enquanto iam a hospitais e ensinavam pouco nas escolas porém sem estimulo para investigação cientifica e isto repercutiu em 20 anos sem produção cientifica e não deixaram sementes. Era natural pois todos ambicionavam abrir um consultório em Harley Street (onde ficaram os consultórios dos médicos mais importantes de Londres). Na Alemanha, os médicos também foram tentados a aumentar o ganho financeiro em virtude da prosperidade industrial com aumento do custo de vida, o uso do automóvel, o consultório caro, instrumentos, estudos no exterior fez com que o médico passasse a necessitar de mais ganho. A educação médica podia ser encarada da seguinte maneira. O ensino da medicina como ciência, como algo de maior alcance, começou com a criação de muitos laboratórios e com a reunião de especialidades. Nos EEUU, na época colonial os estudantes tinham pelo menos um preceptor que facilitava a prática da medicina. Porém pela pressão financeira, este médico desapareceu e poucas escolas mantiveram este ensino de excelência. Outras escolas eram péssimas e não poderiam existir como escreveu Flexner. Na metade do século XIX os estudantes americanos ricos, estudavam em Paris e Londres. No final de XIX, Harvard, John Hopkins começaram a verdadeira educação médica no sentido de capacitar o estudante a aceitar cegamente o dogma da medicina. No iníco dezenas de estudantes competentes abandonaram as escolas ruins e aprenderam medicina praticando sozinho e conseguiram sucesso pelo próprio mérito e não pela faculdade. Em 1840, ShoLein introduziu as conferencias e a clinica era de elevada ordem cientifica. Ela entrava na enfermaria, se sentava na cabeceira do leito do doente, enquanto o estudante lia a historia clinica contando todos os detalhes de ausculta, percussão e o resultado dos exames. Então o homem se levantava e examinava o paciente e sentando-se novamente começava a elaborar o diagnostico etiológico e discutia o tratamento. Se o paciente morria, ele realizava autopsia e após discutia os possíveis erros cometidos. As escolas americanas no inicio eram eminentemente didáticas e o trabalho prático em hospital só era acessível aos que conseguiam ser internos. Esta deficiência foi sanada nas escolas pela residência médica que era essencialmente prática e que Flexner satiricamente chamou de Seminário de Reparação dos Formandos O núcleo de educação médica nos EEUU e Canadá estão associados a alguns locais brilhantes. Pensilvânia (1765) NY (1768) Harvard (1783), McGill (1829). A primeira reforma real do ensino médico nos EEUU foi em 1871 pelo reitor Charles Eliot da Harvard que introduziu requisitos básicos para a matricula e ampliou os estudos em três anos. Em 1880 foi aumentado para quatro anos e em 1901 se exigiu o grau acadêmico para ingresso na Medicina. Na Pensilvânia se exigia quatro anos de prática. Em 1909 Abraham FLEXNER fez um profundo estudo da educação médica do país e exterior e o que escreveu provocou uma verdadeira tormenta de comentários e criticas apesar dos relatos terem sido os mais corretos e sinceros. Escreveu: É melhor uma verdade desagradável que uma mentira agradável” Muitas escolas que não puderam melhorar foram fechadas. O número de médicos era de 1 para 690 nos EEUU, 1/2000 na Alemanha, 1/2.800 na Áustria.. No início do século XX se pensava que o ensino médico tinha atingido seu apogeu.. Hoje se sabe que o ensino médico deve passar por uma reformulação importante, priorizando a humanização desta ciência e dotar o médico de capacidade de voltar a ouvir o paciente. O fim da 1ª guerra (1914-1918) revelou ao mundo a grande destruição da prosperidade das nações européias e o brilhante “fin de sièle” dos franceses que haviam se recuperado rapidamente da guerra franco-prussiana. A crise social de 1919 atingiu todo o continente europeu e a medicina não foi poupada e resultou na quase extinção das investigações. Toda a América com exceção dos EEUU, Cuba e Porto Rico dependiam da formação de seus médicos do ensino europeu, principalmente da França. MEDICAMENTOS Diuréticos mercuriais: 1917 Foram descobertos ao acaso já que eram utilizados para o tratamento da sífilis. Antihistaminicos: 1919 Penicilina: Descoberta por Fleming em 1922, teve seu uso clínico em 1942 nos EEUU com resultados fantásticos para toda humanidade. Sulfas: Foi o primeiro agente antimicrobiano utilizado clinicamente. A vida de Winston Churchill, primeiro ministro britânico, foi salva pela utilização desse medicamento quando o mesmo adoeceu em Cartago, Tunísia, em 1943. Respirador artificial: Em 1957 o engenheiro aeronauta e médico americano Forrest Bird, cria o Bird Mark-7. Primeiro Ventilador Mecânico Invasivo à Pressão fabricado em larga escala. Personagens importantes e recentes na área médica: Christian Barnard-1922-2001 Cirurgião sul-africano, o primeiro a realizar um transplante de coração no mundo em 1967. Euryclides Zerbini -1912-1983 Cirurgião brasileiro o primeiro a realizar um transplante de coração no Brasil em 1985. Formou-se médico em 1935, especialista em cirurgia geral. Professor da Universidade de São Paulo, criou o Centro de Ensino de Cirurgia Cardíaca, semente do futuro Instituto do Coração. Em 1985, aos 73 anos de idade, tornou-se pioneiro ao realizar o primeiro transplante cardíaco num paciente portador do mal de Chagas.